Discurso do Dia Nacional da Universidade Católica Portuguesa
31 de janeiro de 2014
Celebra-se hoje o Dia Nacional da Universidade Católica Portuguesa, que
oficialmente corresponde ao primeiro domingo do mês de Fevereiro.
É, pois, um momento de alegria, reforçada pela presença, pela primeira vez
como Magno Chanceler da Universidade, do Senhor D. Manuel Clemente.
Não admira que neste dia se reafirme a identidade católica da universidade,
«nascida no coração da Igreja», uma instituição que se diferencia das demais, onde
seguramente também trabalham e se formam membros da Igreja Católica,
pela proposta de investigação, ensino e serviço à comunidade que a sustenta.
A força da Universidade está na identidade católica, marca da sua cultura.
No último Natal, uma docente mostrou-me, com natural contentamento, um
cartão de Boas Festas que recebera de um ex-aluno de Macau. Comunicavalhe do seu longínquo país, no continente asiático, ter concluído com êxito a
licenciatura em Direito, acrescentando: «mas os seus ensinamentos… e o espírito da
Católica ficam sempre comigo». Assim o sentiu e expressou. Um sentimento que
partilho convosco, segura de que os ensinamentos e o espírito da Católica irão
ser transmitidos a quem conviver, social e profissionalmente, com o nosso
licenciado, e de que, como António Sampaio da Nóvoa escreveu, «a distinção
maior de uma universidade está sempre nas histórias pessoais dos seus estudantes».
A recente Carta Encíclica Luz da Fé lembra que «os jovens têm o desejo de uma vida
grande» e o espírito que se vive e cada dia se reconstrói na Católica – e de novo
cito a Carta Encíclica – «alarga o horizonte da existência, dá-lhe uma esperança firme
que não desilude».
Não causa surpresa que a Faculdade de Teologia seja a unidade nuclear da
Católica, aquela que permite a síntese, cara a Santo Agostinho, entre
«compreender» e «subsistir». E tão-pouco causa surpresa que o ofertório das
missas a realizar no próximo domingo, Dia Nacional da Universidade Católica
que aqui celebramos, vá integralmente para bolsas de estudo da Faculdade de
Teologia.
II
A comemoração este ano reveste-se de grande significado.
Com efeito, a cerimónia integra a atribuição a três individualidades de
prestígio do doutoramento honoris causa – Arménio Miranda, Fernando
Guedes e Roberto Carneiro –, com o que, por seu intermédio, se sente a
Universidade Católica, que aqui represento, honrada. O respectivo elogio
competirá aos padrinhos – respectivamente Francisco Carvalho Guerra,
Senhor D. Manuel Clemente, Manuel Braga da Cruz – tarefas aceites com
júbilo mas que, porque exigentes, se revestem de responsabilidade, que a
Universidade Católica reconhece de modo especial.
Receberão nesta cerimónia o diploma de doutoramento 27 dos 77 doutores
aprovados na Católica. A todos e cada um renovo as felicitações e dirijo votos
de felicidade.
Também serão distinguidos os funcionários que perfizeram 25 anos de
trabalho na Católica, tendo ajudado, no quarto de século das suas vidas, a
realizar este projecto universitário, recebendo particular distinção a
funcionária Berta Monteiro, cuja dedicação ao projecto já ultrapassou os 40
anos de trabalho.
A todos, um muito obrigado, em nome pessoal e institucional.
III
«Inspirar o futuro» é o lema que a Universidade Católica Portuguesa escolheu
para viver de modo particular, neste ano de 2014. Mais do que uma afirmação,
«inspirar o futuro» entusiasma, transmite força, convoca todos para a acção,
desdobrando-se em ondas de energia, ao mesmo tempo que interpela e
responsabiliza.
Local de produção de ciência, espaço privilegiado de criação de conhecimento
e de reinvenção permanente de uma cultura de vida, a Universidade Católica
tem, na sua essência, essa capacidade imensa de ser mais do que é, esse poder
de estar para além do que faz, essa faculdade de produzir ideias, de se volver
em fonte de inspiração, de se transcender no futuro que não conhece e deseja
compreender através dos que a procuram.
Na nossa semana cultural de 2013, António Spadaro, jesuíta e universitário
italiano, reflectiu connosco sobre a actual sociedade e, nela, sobre os jovens
nascidos na era digital, lembrando que o aprofundamento da missão
universitária tinha de começar por colocar esta interrogação: «Como é que o
homem se compreende hoje?». Para logo acrescentar que a resposta deve nascer de
uma empatia criada entre gerações e, além disso, deve acentuar uma aliança
forte entre as humanidades e as tecnologias.
O que move, pois, a Católica é o futuro ou, porventura melhor, o futuro
desdobrado em futuros. É o tempo que há-de vir para os que nela se formam,
o tempo que irá emergir para quem nela procura um espaço de pensamento e
crescimento interior, o tempo que surgirá para todos quantos pretendem nela
adquirir novas capacidades, obter mais conhecimentos, aperfeiçoar as suas
«energias», desenvolver os seus dons. É o tempo da aprendizagem que fica para
a vida e dá confiança à sociedade e ao seu percurso, um tempo que, para
quem trabalha na universidade, é acelerado, porque marcado pelas sucessivas
gerações que surgem em cada ano lectivo, a demandar renovadas
interrogações, exigências, inovação e rigor.
IV
Os indicadores internacionais que permitem estabelecer comparabilidades
entre países colocam o ensino superior português em níveis que nos animam a
ir mais além. Não pode haver aqui desinvestimento, e seguramente, de forma
criteriosa e sólida, não haverá da parte da Católica.
A presença de cursos seus e da investigação que produz em rankings
internacionais de qualidade é razão para acreditar que, com estratégias bem
delineadas e trabalho constante de acompanhamento criativo de execução,
essa presença se pode ampliar a outros cursos e investigações, bem como a
unidades de ensino e à própria instituição no seu todo.
Apesar da conjuntura de crise prolongada, a elevada postura ética dos
presidentes dos centros, directores de faculdades, escolas e institutos da
Universidade Católica, bem como dos dirigentes dos serviços administrativos,
a instalação de uma cultura de gastos controlados e sem complacência para
com desperdícios, a abnegação e a enorme dedicação dos funcionários, aliada
à maior responsabilização de todos pela decisão, seja na sede, seja nos Centros
Regionais do Porto, de Braga e das Beiras, tem permitido à Universidade
atingir bons resultados. Mas isso não nos descansa.
A alteração do peso relativo dos estudantes nos três ciclos de estudo,
concretizada numa maior expressão dos estudantes do 2º e 3º ciclos, implica
uma ainda maior amplitude e rigor da investigação, inserida em linhas abertas
e em rede, com investigadores de outras universidades ou centros de estudo.
Mas investir fortemente na qualidade da investigação demanda muito
trabalho, tenacidade e tempo para conseguir resultados, para além de enorme
esforço financeiro. Ciente disso, a Católica delineou uma estratégia na qual
conta com a energia dos seus docentes e investigadores. O registo para
avaliação, na Fundação para a Ciência e Tecnologia, de 14 centros de
investigação integra essa estratégia, mas há um longo caminho a percorrer, em
que a candidatura a financiamentos, internos e externos, é decisiva. O
programa europeu Horizon 2020 é uma das propostas externas, mas o
compromisso da universidade com a comunidade abre espaço para a
criatividade de propostas, projectos e apoios, que passem por pontes com o
tecido social e empresarial, estreitando uma cultura de colaboração, desafiando
pressupostos e encorajando o risco.
Por outro lado, a referida alteração da distribuição dos estudantes pelos três
ciclos de estudo é acompanhada por um consistente processo de
internacionalização que leva a que, hoje, 10% dos estudantes da Católica sejam
estrangeiros, provenientes de mais de 60 países (sendo interessante referir que
os estudantes alemães são, em número, o 3º grupo) e 6 % dos seus docentes
sejam também estrangeiros. Ademais, a Católica espraia os seus cursos e
formações a países dos continentes africano, asiático, americano,
privilegiando, de um lado, parcerias com universidades católicas e, de outro,
com universidades e instituições de países de língua portuguesa; desenvolve
actividades de cooperação com 185 universidades, no âmbito do Programa
Erasmus, bem como tem protocolos com mais de 70 universidades
estrangeiras para as mais distintas actividades, desde mobilidade de docentes e
discentes a redes temáticas de investigação e ensino, desenvolvimentos de
graus conjuntos e duplos graus, estágios internacionais, desenvolvimento de
boas práticas. E promoveu um curriculum estruturado em inglês para
estudantes de intercâmbio, denominado «liberal arts curriculum», a iniciar já no
próximo ano lectivo, que lhes permite levar da Católica uma formação
universitária diversificada.
A assinatura, em 10 de Janeiro, a par das demais universidades do CRUP, de
um protocolo com a AICEP, permitirá, estou certa, ir ainda mais longe no
processo de internacionalização.
Mas há outras áreas a merecer reflexão e investimento.
Num estudo recente sobre «Literacia Social: os valores como fundamento de
competência», apoiado pela União Europeia e elaborado pela Universidade
Católica, através do CEPCEP, e pelo Instituto Luso-Ilírio para o
Desenvolvimento Humano, o investigador Lourenço Xavier de Carvalho,
retirou várias conclusões que merecem reflexão junto de quem tem
responsabilidades no ensino e um compromisso com a comunidade, como é o
caso da Católica. A conclusão de que quem possui mais habilitações e
rendimentos dá menos importância à solidariedade e à justiça, se desinteressa
da construção do bem comum e é mais individualista, mostra desequilíbrios
na formação, evidenciando não serem as competências técnicas
acompanhadas por competências humanas. Os licenciados podem ser
tecnicamente bons profissionais mas não serão bons líderes. Muito pode a
Católica fazer neste campo, já que interfere com a sua missão, e não deixará
de dar esse contributo, após ponderação sobre a melhor forma de o
concretizar.
Em suma, qualquer que seja o quadrante sob o qual se analisa a sua acção
universitária, a Católica irá sempre procurando a forma de se posicionar
idealmente, em razão do ambiente, nem sempre fácil, em que se inscreve. Mas,
tal como na poesia de Sophia de Mello Breyner, a sua alma, «…dispersa nos
sentidos,» irá subindo «…os degraus do ar…».
V
Num percurso, necessariamente breve, sobre a actividade da Católica no
último ano, saliento que, no campo da investigação,
- dos 25 programas de doutoramento financiados em 2013 pela Fundação
para a Ciência e Tecnologia, dois foram para a Católica, um em história, em
conjunto com outras universidades, e o outro em direito, o Global PhD Law
Programm, pioneiro em Portugal;
- o repositório institucional VERITATE, reflexo da qualidade da investigação,
ronda os 5.000 documentos científicos
- e no ranking Scimago, que distingue os artigos científicos publicados em
revistas internacionais de topo, a Católica ocupa o 2º lugar das universidades
portuguesas;
No que respeita a iniciativas,
- docentes e estudantes de arquitectura do Centro Regional das Beiras deram
corpo ao projecto «Terra Amada», com que se tem vindo a reabilitar aldeias da
região de Viseu,
- e, no mesmo Centro Regional, foram celebrados dois protocolos, um com a
Casa de Saúde de São Mateus e outro com a Cruz Vermelha, na área da saúde
dentária, através dos quais foi disponibilizado um serviço diferenciado de
medicina dentária à comunidade local, uma área científica que tem beneficiado
do decisivo apoio do Estado através de contrato-programa.
- A Faculdade de Teologia recebeu, no Centro Regional de Braga, seminaristas
de mais 4 dioceses, reforçando a sua presença no Norte
- E no mesmo Centro Regional de Braga foi assinado um Protocolo com o
Portocanal para, em colaboração com o Curso de Ciências da Comunicação,
abrir uma delegação na Faculdade de Filosofia
- Por outro lado, 34 estudantes do Centro Regional do Porto, apoiados por
professores, criaram uma consultadoria a pequenas e médias empresas, a start
ups e a empreendedores.
- Também da iniciativa de estudantes do Centro Regional do Porto, foi criado
um programa de mentoring, com o apoio da Google, que põe em contacto
empresários e especialistas de todo o mundo no quadro de uma nova
estratégia de aprendizagem.
-A Escola Superior de Biotecnologia recebeu financiamento europeu para
desenvolver, durante 3 anos, uma investigação que visa incrementar o
aproveitamento dos resíduos alimentares vitais para mais de 700 milhões de
habitantes dos países em desenvolvimento, incluindo alguns de expressão
portuguesa; além disso, é uma das coordenadoras do programa «AFTER», que
visa melhorar a competitividade dos produtos alimentares tradicionais
africanos e fomentar a sua distribuição em empresas alimentares.
- Num outro quadrante, a aplicação móvel My Católica tornou a Católica na
primeira universidade portuguesa a disponibilizar gratuitamente aos seus
estudantes, docentes e funcionários um conjunto de funcionalidades acessíveis
por telemóvel, resultado de uma parceria com a Universia. No telemóvel
podem consultar-se dados sobre inscrições, horários, programas de
disciplinas, processo de avaliação, classificações, informações sobre livros
disponíveis na biblioteca, lotação dos parques de estacionamento, ementa do
dia, seminários a realizar, etc, o que torna a Católica mais dinâmica e eficiente.
Quanto a prémios,
- Jorge Fazenda Lourenço, professor da Faculdade de Ciências Humanas, foi
agraciado com o prémio Jorge de Sena de literatura portuguesa;
- Ilídio Barreto, Professor da FCEE, ganhou o prémio de melhor artigo da sua
área científica, publicado numa revista internacional de topo;
- Marta Pinto docente da Escola Superior de Biotecnologia, foi a vencedora
do prémio «Terre des Femmes» da Fundação Yves Rocher, pela iniciativa
«FUTURO – Projecto de 100.000 árvores na Área Metropolitana do Porto.
- o projecto “Caixa de Música” do docente da Escola das Artes José Vasco
Carvalho, foi um dos três finalistas do prémio nacional multimédia 2013 na
categoria Arte e Cultura, que distingue o talento e a audácia, a inovação
tecnológica e a iniciativa empresarial dos profissionais do sector.
- Uma start up da área do som e imagem da Escola das Artes intitulada Jump
Willy venceu o “Golfinho de prata” no 4º Cannes Corporate Media & TV Awards,
realizado em outubro último.
- O grande prémio Europa Nostra, o mais prestigiado prémio europeu na área
da cultura, foi atribuído, pela 1ª vez a Portugal ao projecto SOS Azulejo,
desenvolvido por uma doutoranda do Consórcio de Lisboa da Faculdade de
Ciências Humanas.
- Quatro alumni de Direito foram distinguidos com o prémio “40 under 40”
pela publicação ibérica “Iberian Lawyer”.
No que toca a rankings,
- em Setembro ultimo, a Católica foi distinguida pelo Financial Times por
oferecer o melhor mestrado em gestão em Portugal, e pelo facto de a FCEE
ter colocado no mercado de trabalho 99% dos graduados em 3 meses. E a
mesma FCEE entrou no top 25 das melhores Business Schools da Europa, de
acordo com o referido Financial Times, alcançando este objectivo em apenas
cinco anos, metade do tempo a que se propusera.
- Quanto aos LLM´s da Catolica Global School of Law, foram incluídos pelo
Financial Times, e pelo 4º ano consecutivo, no prestigiado grupo das 15 escolas
de direito mais inovadoras da Europa Ocidental.
Por último, a Católica foi distinguida, pelo segundo ano consecutivo, como a
“Marca que Marca” na categoria de universidades e outros institutos de ensino
superior, no âmbito do estudo nacional de notoriedade espontânea da QSP –
Consultoria de Marketing do Diário Económico.
É com estas e outras mostras, que a Católica quer continuar a ser fonte de
inspiração.
Finalizo com palavras sábias do Padre António Vieira: «Se fizermos, somos, se não
fizermos, duramos». A Universidade Católica não quer simplesmente durar. Quer
ser. Essa a sua vocação. Mas, para ser, precisa fazer, em permanência, com
entusiasmo, contagiando. Essa a sua (nossa) responsabilidade.
Vamos juntos «inspirar o futuro»!
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discurso da senhora reitora - Universidade Católica Portuguesa