SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CENTRO DE LETRAS E ARTES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO FALAR DA CIDADE DE BRAGANÇA SIMONE NEGRÃO DE FREITAS BELÉM-PARÁ 2001 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CENTRO DE LETRAS E ARTES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO FALAR DA CIDADE DE BRAGANÇA SIMONE NEGRÃO DE FREITAS ABDELHAK RAZKY (Orientador) BELÉM-PARÁ 2001 AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO FALAR DA CIDADE DE BRAGANÇA Por SIMONE NEGRÃO DE FREITAS Dissertação de Mestrado em Lingüística, apresentada à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Pará. Orientador: Dr. Abdelhak Razky Belém, agosto de 2001. A meu filho, a minha mãe e a meu pai, dedico este estudo. Meus agradecimentos a Deus, que me deu forças para realizar essa terefa a Abdelhak Razky, meu orientador, pelo acompanhamento e pelo estímulo incansável à professora Regina Celi Mendes Pereira, da Universidade Federal da Paraíba, pela ajuda inestimável na coleta das fontes mais importantes para este trabalho aos professores Joaquim Nepomuceno e Terezinha Nina, por disponibilizarem material bibliográfico; à professora Carmem Lúcia Rodrigues, pelas conversas sobre fonética e fonologia do português; à professora Ana Sueli Arruda, por ceder gentilmente material para pesquisa de campo, no início do levantamento, a todos os amigos de Bragança, em especial, à Gorete, ao Edson e ao Mário, que muito colaboraram durante minha estadia nessa cidade e que, muitas vezes, mediaram os contatos com informantes aos informantes, que possibilitaram a coleta do material lingüístico utilizado neste estudo aos pequisadores, bolsistas e voluntários do projeto O Atlas Geosociolingüístico do Pará, que muito ajudaram nas transcrições grafemáticas à Marilúcia Oliveira, pela leitura atenta deste texto, e ao Jorge Albério, pelo paciente trabalho de formatação ao Projeto IFNOPAP e ao Campus Universitário de Bragança, pelo apoio durante a pesquisa nessa cidade à coordenação e aos funcionários do Curso de Mestrado em Letras da UFPA, pelas muitas solicitações atendidas nesses anos de curso e à CAPES, pela bolsa concedida. Meus agradecimentos muito especiais à minha família, principalmente, ao Carlinho, Gizelle e Helen aos amigos Samuel Sá, Raimundo Moraes e Ana Paula Brito, Paulo Facundes e Rosa de Moraes, Sylvia Trusen, João Carlos Santos e José Carlos Fernanades, pela disponibilidade freqüente e pelo encorajamento e apoio inestimáveis. FREITAS, Simone Negrão de. As vogais Médias Pretônicas no Falar da Cidade de Bragança. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Pará, Belém, 2001. RESUMO Este estudo, orientado pelo método da Sociolingüística Quantitativa, examina o comportamento das vogais médias pretônicas /e/ e /o/ do falar da cidade de Bragança-Pará. As estruturas silábicas básicas consideradas foram CV e CVC, em posição inicial e medial de palavra. Foram submetidos à análise quantitativa dados de 32 informantes estratificadamente distribuídos por faixa etária, sexo, escolaridade e renda. Os resultados apontaram para: a predominância das variantes médias [e] e [o], fortemente favorecidas por vogais médias; para a alta ocorrência da variantes baixas [E] e [•], favorecidas por vogais baixas; e para a menor freqüência das variantes altas [i] e [u], principalmente favorecidas pela vogal alta da sílaba seguinte. A contiguidade da vogal contextual foi considerada traço determinante nesses casos de favorecimento. SUMÁRIO 1 – INTRODUÇÃO ___________________________________________________ 11 2 – AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA _______ 14 2.1 DO PORTUGUÊS ANTIGO AO PORTUGUÊS BRASILEIRO MODERNO _________________14 2.2 ESTUDOS VARIACIONISTAS SOBRE AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS DO PORTUGUÊS DO BRASIL __________________________________________________________________20 3 – A COMUNDADE PESQUISADA ____________________________________ 26 3.1 UM POUCO DA HISTÓRIA E DA GEOGRAFIA DO MUNICÍPIO ________________________26 3.2 ASPECTOS HUMANOS E ECONÔMICOS ________________________________________28 3.3 A ÁREA URBANA DE BRAGANÇA ___________________________________________28 4 – METODOLOGIA _________________________________________________ 30 4.1 O MODELO TEÓRICO-METODOLÓGICO DA SOCIOLINGÜÍSTICA ____________________30 4.2 O SUBSÍDIO QUANTITATIVO _______________________________________________31 4.3 O PACOTE DE PROGRAMAS VARBRUL _______________________________________33 4.4 AMOSTRA E COLETA DE DADOS ____________________________________________34 4.5 PROCEDIMENTOS PARA O TRATAMENTO DOS DADOS ___________________________37 4.5.1 Material Lingüístico e Codificação ____________________________________________ 37 4.5.2 Sobre o Tratamento Computacional____________________________________________ 38 4.5.2 Rodadas Experimentais _____________________________________________________ 42 4.6 OBJETO E HIPÓTESES ____________________________________________________52 4.7 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS _______________________________________________54 4.7.1 Variáveis Dependentes______________________________________________________ 54 4.7.2 Variáveis Independentes ____________________________________________________ 55 5 – ANÁLISE DOS RESULTADOS ______________________________________ 60 5.1 CONTEXTO VOCÁLICO DA REGRA __________________________________________61 5.2 CONTEXTO CONSONANTAL DA REGRA ______________________________________77 5.3 CONTEXTO DA REGRA EM DOIS EIXOS PARADIGMÁTICOS _______________________87 5.4 O CONTEXTO SOCIAL DA REGRA ___________________________________________98 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS _______________________________________ 107 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ___________________________________ 111 ANEXOS __________________________________________________________ 114 LISTA DE QUADROS E TABELAS QUADRO 1: PLANO DA AMOSTRA 34 TABELA 1: VOGAL TÔNICA CONTÍGUA 62 TABELA 2: VOGAL ÁTONA CONTÍGUA 63 TABELA 3: VOGAL TÔNICA NÃO-CONTÍGUA 72 TABELA 4: CONSOANTE ANTECEDENTE 78 TABELA 5: CONSOANTE SEGUINTE 79 TABELA 6: CARÁTER ÁTONO DA PRETÔNICA NO PARADIGMA 89 TABELA 7: CLASSE MORFOLÓGICA 95 TABELA 8: ESCOLARIDADE 100 TABELA 9: TIPO DE ATIVIDADE 104 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: SISTEMA VOCÁLICO DO PORTUGUÊS – TÔNICAS 17 FIGURA 2: SISTEMA VOCÁLICO DO PORTUGUÊS – ÁTONAS 17 FIGURA 3: LITORAL PARAENSE 27 FIGURA 4: ZONA URBANA DE BRAGANÇA – BAIRROS CENTRAIS 29 FIGURA 5: LOCALIZAÇÃO DOS INFORMANTES 36 1 – INTRODUÇÃO A diversidade lingüística no Brasil compreende a pluralidade de usos do português brasileiro, a existência de cerca de 180 línguas indígenas, a presença de várias línguas de imigrantes, além dos dialetos fronteiriços decorrentes do contato lingüístico português-espanhol. Longe desta diversidade incluir também complexas questões étnicas, como ocorre em muitos países africanos, ainda assim é preciso que o reconhecimento deste caráter multidialetal brasileiro tenha conseqüência políticolingüística e lingüístico-cultural. Neste sentido, as políticas para a educação, particularmente em relação à língua portuguesa e às línguas indígenas, necessitam incorporar o conhecimento das pesquisas dialetológicas e sociolingüísticas brasileiras (Cardoso, 1996). Em relação ao português brasileiro, os estudos da dialetologia e da sociolingüística têm dado significativa colaboração nas últimas décadas. O esforço na produção do Atlas Lingüístico do Brasil, através da geolingüística, iniciou-se na década de 50, cuja primeira proposta – a de realizar o atlas de uma só vez – logo foi substituída, mais sensatamente, pela proposta de buscar-se a construção do atlas geral através de atlas regionais. Desta forma, os resultados já alcançados contam com: o Atlas Prévio dos Falares Baianos (1963), o Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais (1977), o Atlas Lingüístico da Paraíba (1985), o Atlas Lingüístico de Sergipe (1987) e o Atlas Lingüístico do Paraná (1995). Além desses trabalhos, há outros em diferentes etapas de realização, como: o atlas lingüístico dos pescadores do Rio de Janeiro, o atlas lingüístico do Ceará, o atlas lingüístico da Região Sul, o atlas de São Paulo, o atlas do Acre, o do Mato Grosso do Sul, o do Pará, o do Amazonas e o atlas do Maranhão. Respeitante à descrição do português falado no Pará, passos significativos já haviam sido dados em trabalhos desenvolvidos a partir de dissertações de mestrado e teses de doutorado. Dentre estes trabalhos, “Aspectos do Falar Paraense: fonética, fonologia, semântica” (Vieira, 1983) e “Aspectos da Variação Fonéticofonológica na Fala de Belém”(Nina, 1991) destacam-se especialmente, o primeiro como pesquisa dialetológica pioneira em nosso estado, e o segundo como referência 12 indispensável neste estudo por ser pesquisa variacionista sobre as vogais médias pretônicas do falar de Belém. Atualmente, a descrição do português falado no território paraense é tarefa a que se propôs o projeto “O Atlas Geo-sociolingüístico do Pará”, da Universidade Federal do Pará, cuja proposta é baseada no ponto de vista sociolingüístico, considerado “de máxima importância para determinar as condições e os contextos intra e extra-lingüísticos onde ocorrem a variação e a mudança lingüísticas”(Razky, 1998). A pesquisa geo-sociolingüística desenvolvida pelo projeto quer explicar a variação no tempo e no espaço, observando os indivíduos em interação e as comunidades de falantes, focalizando a variação fonética e a lexical regionais e as zonas de flutuação e atrito lingüístico das variedades estudadas. Desta forma, o banco de dados que está sendo construído apresentará uma realidade histórica que, em função das variações em andamento, poderá indicar as modificações futuras ou, posteriormente, vir a explicá-las (Razky, 1998). É dentro deste projeto, que visa ao estudo sociolingüístico e dialetológico da fala no estado, que se localiza o trabalho agora apresentado – “Vogais médias pretônicas no falar da cidade de Bragança”, cujo objeto de estudo é a variação das vogais médias /e/ e /o/ em posição pretônica, na fala da comunidade urbana de Bragança, examinadas através da Teoria da Variação ou Sociolingüística Quantitativa. Parte do tempo dedicado a este estudo foi usado no trabalho de campo, cujos dados lingüísticos recolhidos também compõem a amostra urbana desse município no corpus do Atlas Geo-sociolingüístico do Pará. O presente estudo tem objetivo puramente descritivo. Portanto, pretende observar exploratoriamente o comportamento dos fatores envolvidos na análise, focalizando seu efeito provável nas regras variáveis em questão, sem intentar a construção formal dessas regras. Os capítulos que compõem esta dissertação apresentam-se, quanto à distribuição do conteúdo, da seguinte maneira: 13 O capítulo I faz um breve levantamento do percurso histórico das vogais médias pretônicas na língua portuguesa, do medievo até o estado atual da língua falada no Brasil, segundo a visão de Silva Neto e Camara Júnior, passando em seguida a considerações sobre cinco estudos variacionistas, cujas descrições abordaram o comportamento dessas mesmas vogais em variedades do dialeto gaúcho, do nordestino e do nortista – concomitante a essa revisão da literatura, já destaco os primeiros elementos para a proposição das hipóteses. O capítulo II apresenta a região em que se localiza o espaço urbano que serviu de campo para esta pesquisa – trata-se de uma curta descrição de aspectos históricos, geográficos, humanos e econômicos do município de Bragança. O capítulo III trata da metodologia e se subdivide em: item 3.1, que descreve o modelo teórico-metodológico adotado; item 3.2, que descreve o subsídio quantitativo que viabilizou este estudo; item 3.3, que apresenta o instrumento para a análise estatística – o pacote de programas VARBRUL; item 3.4, que relata a atividade de campo realizada para levantamento dos dados, bem como informa as técnicas aí utilizadas; item 3.5, que relata os procedimentos do tratamento lingüístico e computacional dos dados, inclusive as rodadas experimentais, imprescindíveis para a análise final; item 3.6, no qual é elaborado o problema, descrito o objeto e propostas as hipóteses; e item 3.7, que define as variáveis consideradas nesse estudo. O capítulo IV apresenta a discussão dos resultados, apresentados em forma de tabelas. Nesse capítulo são verificadas as hipóteses e, concomitantemente, comentados os resultados de outros estudos . Por último, a conclusão, em que se destacam os principais achados, seguida das referências bibliográficas e dos anexos. 2 – AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 2.1 DO PORTUGUÊS ANTIGO AO PORTUGUÊS BRASILEIRO MODERNO “Ante u e o pequeno há tanta vezinhança que quasi nos confundimos dizendo uns somir e outros sumir e dormir ou durmir e bolir ou bulir e outras muitas partes semelhantes. E outro tanto entre i e e pequeno como memória ou memórea e gloria ou glorea.”1 Os textos medievais portugueses, quinhentistas e seiscentistas, refletiam a variação que as vogais médias pretônicas incorporavam na fala desse período. De outra forma, como ilustra a citação acima, evidenciam esse comportamento variável das vogais médias pretônicas, as gramáticas e listas ortográficas do século XVI ao início do século XVIII2, nas quais era censurada a pronúncia de o e e pretônicos como u e i, que se generalizava em muitos dialetos portugueses. Todavia, é possível relacionar esse fato a uma tendência bem mais antiga na língua – observa Silva Neto (1986) que desde o latim vulgar as vogais átonas tendiam para o fechamento, e exemplifica: fugere>fogir>fugir, muliere>molher>mulher, fo&ratu>furadu(arc.), fora“re>furar; furaco(arc.)(>buraco); virtute>vertude>virtude, carpeàteiro>carpinteiro, laetitia>lediça>lidiça(arc.). Mas, ao que a maioria dos testemunhos indica, essa tendência era de natureza popular e não era a favor dela que argumetava a erudição. O gramático 1 Sobre este trecho de Fernão de Oliveira, Nina (1991, p. 35), como também fez Silva (1989), assinala o fato de o referido autor, na primeira metade do século XVI, referir-se em contexto pretônico apenas à alternância o::u; a alternância e::i é citada mas em contexto depois da tônica. 2 Silva (1989, p. 41) comenta que nas gramáticas e ortografias dessa época eram escassas as referências às vogais antes do acento. Tratavam principalmente da vogal em posição tônica, uma vez que o objetivo desses trabalhos era quase sempre fixar a norma para a escrita portuguesa, ainda que alguns poucos autores dessem alguma atenção à descrição da língua falada em comentários secundários, restritos a alguma variedade do português ou decorrentes das listas de erros. 15 lisboeta D. Jerônimo Contador de Argote3 documentou que, em Lisboa, no início do século XVIII, o e medial era pronunciado pelas pessoas que “falavam bem” como e fechado, pedaço, e que em certos lugares do Algarve o e fechado era pronunciado como i, pidaço, assim como dizer era pronunciado dezer. Dessas três situações de pronúncia do e e do i no século XVIII, como em pedaço , pidaço e dezer, muito provavelmente sem se distorcerem as palavras do autor, será possível situar a primeira numa alternância relacionada a estratos sociais, e a segunda e a terceira numa alternância relacionada a dialetos regionais. Quanto à ocorrência das médias pretônicas abertas /E/ e /•/, a maioria dos gramáticos do português antigo sobre elas não fez menção, possivelmente, em função de uma certa preferência dialetal, segundo a opinião de alguns pesquisadores. Mas Fernão de Oliveira, Caetano de Lima, João de Barros, Monte Carmelo e Feijó, ortógrafos estudados por Silva (1989, p. 45-9), dão notícia direta ou indiretamente da ocorrência dessas vogais e, portanto, confirmam a variação E::e e::i i e •::o o::u u no português antigo. Numa síntese das informações deixadas por esses ortógrafos e gramáticos, mais exatamente por João de Barros, Feijó e Monte Carmelo, Silva (1989) afirma que os contextos das vogais médias pretônicas abertas, nas palavras de uma ou outra dessas listas ortográficas, eram basicamente os mesmos: /•/ aparecia normalmente antecedendo grupos consonantais do tipo ct, pç, pt, como em nóctivaga, nóctiluz, adópção, adóptivo; ou precedendo /r/, como em mórtecôr, mórdomo, córagem; ou em contextos em que incide acento secundário, como em estópada, sótavento; quanto a /E/, /E/ aparecia como vogal em que incide acento secundário seguida de grupos consonantais do tipo cç4, ct, pç, pt, gm, gn, como em objécçãm, conjéctura, percépçâm, concéptível, esmégmática, régnânte. A autora diz ainda que muitas das ocorrências de /E/ posicionavam-se antes de /l/, como em Bélgrádo, Bélmonte, délgado, o que atualmente ainda ocorre no português europeu; assim como também cita casos em que, em palavras derivadas, a vogal média anterior aberta conserva a 3 4 Em comentário do gramático brasileiro Filipe Franco de Sá, citado por Silva Neto (1986, p. 608). Em Silva (1989), está grafado cc, que eu creio deveria ter sido grafado cç, muito embora também tenha encontrado cc em Nina (1991). 16 qualidade da vogal tônica da palavra primitiva, como em séttáda, sélvática5, processo ainda muito produtivo modernamente em Portugal e no Brasil. Silva (1989) conclui, a partir das afirmações de Teyssier quando este estuda João de Barros, que no século XVI era freqüente a ocorrência das pretônicas abertas, principalmente /E/, /E/ ou decorrentes de crases antigas6, ou fonologicamente motivadas em função da presença de certas consoantes, ou morfologicamente motivadas quando mantinham a qualidade da tônica primitiva na tônica secundária de palavra derivada, como foi dito linhas acima. Tal motivação fonológica bem como a motivação morfológica, a que se refere a autora, são ainda hoje consideradas como variáveis para a verificação do comportamento aparentemente assistemático das vogais médias pretônicas, como poderá ser visto linhas adiante quando forem apresentados os trabalhos variacionistas tomados como referência. A respeito da pronúncia moderna das vogais médias pretônicas no Brasil, tomando por base a fala carioca, Silva Neto (1986) descreve-a como oscilante entre a harmonização vocálica e a pronúncia padrão da língua escrita. Segundo esse autor, o /e/ pretônico submete-se a dois tipos de harmonização vocálica - passa a [i] quando seguido de sílaba com vogal [i], [i] como passa a [i] quando seguido de sílaba com vogal [u]: [u] feliz>filiz, medida> midida, avenida>avinida; veludo>viludo, seguro>siguro, peludo>piludo. Considera, no entanto, que o segundo caso, hamonização de /e/ em [i] seguido de sílaba com vogal [u], é menos comum, acrescentando o exemplo da palavra verdura como um caso em que a oscilação não ocorre. O /o/ pretônico, ainda segundo Silva Neto (1986), apresenta-se pela variação •::o o::u u, como em mócótó, côlôsso, côronel, curuja, buneca, sutaque, havendo exemplos em que a pronúncia é sempre fechada: porseiro, correcto, professor, coração, coragem, morar - ao contrário da lisboeta que é sempre [u]. Também por 5 Não mais em relação aos contextos de ocorrência, mas em relação às origens da pretônica aberta, Cardoso (1999, p. 95) comenta o seguinte: “(...) Teyssier (1959, p. 191) apresenta três origens para a pretônica média aberta documentada (em obra de João de Barros), duas das quais são de caráter etimológico e uma de natureza morfológica. No primeiro caso estão as formas procedentes do ditongo latino ae e do hiato ee, já no português; no segundo se incluem os derivados que costumam conservar em sílaba pretônica a vogal aberta, primitivamente tônica (adverbial, de advérbio).” 17 harmonização, /o/ passará a [u] quando seguido de sílaba com vogal [i]: [i] ortiga>urtiga, cobiça>cubiça, moringa>muringa; e ainda quando seguido de sílaba com vogal [u]: [u] gordura>gurdura, fortuna>furtuna, cortume>curtume. O referido autor, entretanto, não comentou as condições para a ocorrência de [•], como também nem mesmo citou a ocorrência de [E] no dialeto carioca, aí tomado como base para a pronúncia moderna do Brasil. Camara Júnior (1991, p. 44), diferentemente de Silva Neto (1986)7, afirma que essa tendência à harmonização ocorre na presença de uma vogal tônica alta. Considerada fenômeno não categórico na língua, Camara Júnior(1991) trata da harmonização quando explica o sistema vocálico do português brasileiro que, segundo ele, compreende sete vogais em posição tônica, como mostra abaixo a figura 1. FIGURA 1: SISTEMA VOCÁLICO DO PORTUGUÊS – TÔNICAS Não-arredondadas Altas Arredondadas /u/ /i/ /o/ Médias /e/ /• / Médias /E/ 2º grau 1º grau /a/ Baixa Posteriores Central Anteriores Nas posições átonas, continua Camara Júnior, não se mantém esse sistema de sete vogais: suprimem-se duas, ocorrendo apenas cinco vogais (figura 2) na pauta pretônica. FIGURA 2: SISTEMA VOCÁLICO DO PORTUGUÊS – ÁTONAS 6 7 Este é o único argumento para a ocorrência das pretônicas abertas, segundo Silva Neto (1986). Também Houaiss (apud. Nina , 1991), em data bem anterior, quando se refere ao comportamento das vogais médias pretônicas, explica o alteamento por processo semelhante a este exposto por Silva Neto, como se pode ver nas palavras de Nina: “Esse autor (refere-se a Houaiss) atribui a variação [e]::[i], [o]::[u] do falar carioca a “certa harmonização vocálica” que a vogal alta da sílaba seguinte ocasiona e à regularização morfológica que mantém a vogal média. No primeiro caso considera um processo popular e, no segundo, uma influência da escrita.” 18 Altas Médias Baixa /u/ /i/ /o/ /e/ /a/ Tal supressão foi assim interpretada: em posição pretônica neutralizamse as médias de 1º e 2º graus8, conservando-se as médias de 2º grau /e/ e /o/, /o/ como em caf[E] - caf[e]teira, b[E]lo - b[e]leza, s[•]l - s[o]laço, portanto, estando fora da pauta pretônica as médias de 1º grau /E/ e /•/. Além da neutralização, o referido fenômeno de harmonização9 também atua sobre as médias pretônicas, elevando-as por assimilação à vogal alta tônica (Camara Júnior, 1991), surgindo variantes como p[e]pino ~ p[i]pino, c[o]ruja ~ c[u]ruja, m[e]nino ~ m[i]nino, conh[e]cido ~ conh[i]cido. A harmonização vocálica, portanto, é fenômeno produtivo na língua falada do Brasil, como mostra a exemplificação dada por ambos autores, Silva Neto (1986) e Camara Júnior (1991) que, entretanto, divergem quando o primeiro se refere a uma vogal alta da sílaba seguinte, e o segundo a uma vogal alta tônica como elemento assimilador. Ainda em relação a essa questão, desperta curiosidade o fato de terem estes estudiosos relacionado ao fenômeno da harmonização apenas o alteamento das médias pretônicas, sem considerarem como efeito de algum tipo de assimilação também a manutenção /e/, /o/ ou o abaixamento /E/, /•/. Portanto, a motivação fonológica a que se referiu Silva (1989), comentada páginas atrás, possivelmente resulta não apenas da vizinhança de consoantes mas também da vizinhança de vogais, estas especialmente em posição seguinte e, hipoteticamente, influentes pela altura e pela tonicidade, ao que as opiniões referidas até aqui sugerem. Além disso, a motivação morfológica referente à retenção da altura da 8 9 Segundo o próprio Camara Júnior (1991), neutralização define-se como fenômeno através do qual há perda de um traço distintivo, reduzindo-se dois fonemas a uma só unidade fonológica. A harmonização vocálica das médias pretônicas, segundo Bisol (1996, p. 167), não possui caráter sistemático e categórico como a neutralização e, portanto, constitui-se numa das variáveis que 19 tônica de palavra primitiva em subtônica de palavra derivada, geralmente tem sido verificada, mas atualmente considerando-se o traço de altura da tônica de qualquer item do paradigma, e não apenas da palavra primitiva, como mostrará o subtópico 2.2. Das abordagens mais antigas às mais recentes, comentadas neste item, destacou-se ainda a hipótese de haver uma variável extralingüística muito influente no comportamento das médias pretônicas. Silva Neto (1986) fez supor um fator de natureza social ou regional, ao reproduzir as palavras de outros autores sobre o português antigo; mas também Houaiss (apud. Nina, 1991) propõe claramente, para o português moderno, a interferência da língua escrita para a manutenção das médias, em concorrência com a atuação da harmonização vocálica no sentido de alteamento dessas vogais. Portanto, em autores não-variacionistas referidos acima, algum fator extralingüístico é indicado, além dos intralingüísticos, como influente no comportamento variável das vogais médias pretônicas. Entretanto, em pesquisas variacionistas, estes fatores de ordem diversa, intralingüísticos e extralingüísticos, são pressupostos no próprio modelo da análise, que privilegia as relações desses fatores na estrutura lingüística (Labov, 1972, p. 120-1). È esse aspecto, bem como a natureza desses fatores, que se quer destacar nos trabalhos sumariamente comentados a seguir. modernamente têm-se tornado objeto de estudos variacionistas, segundo o modelo proposto por Labov em 1966. 20 2.2 ESTUDOS VARIACIONISTAS SOBRE AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS DO PORTUGUÊS DO BRASIL Segundo Nascentes (1953), na sua proposta de divisão para os subfalares brasileiros, pode-se inicialmente identificar dois grandes grupos – o falar do norte e o falar do sul – que se distinguem, segundo o autor, pela cadência e pela existência de vogais médias pretônicas abertas, considerando que os contrastes entre /o/ e /• / e entre /e/ e /E/ seriam neutralizados em /•/ e /E/ para os falares do Norte, e em /o/ e /e/ para os falares do Sul10. Essa diferença de realização das vogais médias pretônicas tornou-se, desde então, um critério importante na caracterização das áreas dialetais brasileiras. Neste sentido, vários trabalhos têm sido desenvolvidos a respeito das vogais médias pretônicas nas últimas décadas, em diversos dialetos, ainda que – é importante destacar – não tenham se utilizado sempre da mesma metodologia, ou dos mesmos critérios para definição das amostras, ou dos mesmos parâmetros na definição do objeto. Boa parte desses trabalhos são de natureza variacionista e, com certas restrições, esses estudos confirmam a tese de Nascentes a respeito da divisão entre falares do sul e falares do norte, os primeiros caracterizados pela ocorrência das médias pretônicas fechadas, e os segundos pela ocorrência das médias pretônicas abertas. Dentre os estudos variacionistas sobre as vogais médias pretônicas, passam a ser comentados, destacando-se as variáveis selecionadas nos resultados 10 Nascentes (1953) expõe da seguinte maneira sua proposta para a divisão dos dialetos brasileiros, sempre referida por estudos sociolingüísticos e dialetológicos: “Dividi o falar brasileiro em seis subfalares que reuni em dois grupos a que chamei do norte e do sul. O que caracteriza estes dois grupos é a cadência e a existência de protônicas abertas em vocábulos que não sejam diminutivos nem advérbios pertencentes a cada um desses grupos. Eles estão separados por uma zona que ocupa uma posição mais ou menos equidistante dos extremos setentrional e meridional do país. Os subfalares do norte são dois: o amazonense, que abrange o Acre, O Amazonas, o Pará, e parte de Góias(...) e o nordestino, que compreende os Estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e parte de Goiás que vai da Serra do Estrondo à nascente do Paraíba. Os subfalares do sul são quatro: o baiano, intermediário entre os dois grupos, abrangendo Sergipe, Bahia, Minas (norte, nordeste e noroeste), Goias(...); o fluminense, abrangendo o Espírito Santo, o Estado do Rio, o Distrito Federal, Minas (Mata e parte do Leste de Minas Gerais); o sulista, compreendendo São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas (Sul e Triângulo), Goiás (Sul) e Mato Grosso.” 21 alcançados: o estudo de Bisol (1981) e o de Battisti (1993), com dados do dialeto gaúcho; o de Silva (1989) e o de Pereira (1997), com dados de dialetos do nordeste brasileiro; e o estudo de Nina (1991), com dados da fala de Belém – um dialeto do norte do Brasil . Bisol (1981) estudou a harmonização vocálica que atua sobre as médias pretônicas do dialeto gaúcho, em posição interna do tipo CVC. A amostra utilizada foi representativa da fala popular e da fala culta, cujos 44 indivíduos eram de cinco grupos sociolingüisticamente distintos – monolíngües metropolitanos (representantes da fala popular e da fala culta, estes últimos com nível superior); bilíngües de uma área de colonização alemã (fala popular); bilíngües de uma área de colonização italiana (fala popular); e monolíngües de uma área de fronteira com o Uruguai (fala popular). A análise quantitativa realizada por Bisol revelou o uso moderado da regra de elevação nesse dialeto, confirmando a predominância da realização fechada das vogais médias pretônicas. As variáveis lingüísticas que se mostraram relevantes nesse estudo foram: a vogal alta da sílaba seguinte (como em perdição~pirdição, procissão~prucissão); a nasalidade, que foi favorável ao alteamento da média anterior /e/ mas desfavorável ao da média posterior /o/ (acendido~acindido, contido e mais raramente cuntido); as consoantes palatais, labiais e velares, cujos efeitos se apresentaram da seguinte maneira – as palatais favoreceram o alteamento de /e/ e /o/ na posição seguinte (melhor~milhor, sonhar~sunhar), as labiais favoreceram a elevação da média posterior /o/, /o/ principalmente em posição precedente (boneca~buneca, política~pulítica), e as velares favoreceram a elevação da média anterior /e/ tanto em posição precedente quanto seguinte (querido~quirido, segunda~sigunda) ; outra variável relevante foi o caráter átono permanente da média pretônica no paradigma derivacional, que se mostrou fator favorável à elevação das médias (menino, meninice~mininu, mininice; formiga, formigueiro~furmiga, furmigueiro); e a presença de sufixos, especialmente –inho, –zinho e –íssimo que funcionaram como inibidores da regra de harmonização vocálica (molinha, pezinho, belíssimo). Além dessas variáveis, os resultados de Leda Bisol também apontaram como relevante o fator social etnia, identificando os metropolitanos como o grupo que mais eleva as vogais médias, ainda que num índice moderado. 22 Battisti (1993) também examinou a harmonização vocálica das médias pretônicas no dialeto gaúcho, mas em posição inicial de vocábulo. Sua amostra constou de 35 indivíduos distribuídos em cinco grupos étnicos, representantes da fala popular e da fala culta (com nível superior), nos moldes da amostra de Bisol(1981). Os resultados de Battisti apontam para os descendentes de italianos e para os metropolitanos de fala popular como os grupos detentores dos maiores índices de elevação das médias pretônicas. A pesquisadora concluiu, entretanto, que no dialeto gaúcho há tendência a preservar as médias pretônicas em sílaba inicial, comportamento também evidenciado em posições internas de acordo com os resultados de Bisol (1981). Dos contextos analisados por Battisti, destacam-se pelos altos níveis de elevação: o da vogal /e/ seguida de /s/ e /N/ e o de /e/ e /o/ seguidas por vogal alta na sílaba seguinte. A respeito de /e/ seguida de /s/ e /N/, a autora comenta que esta vogal está em vias de perder o caráter variável por nesse contexto a elevação apresentar-se de forma praticamente categórica; a respeito de /e/ e /o/ seguidas por vogal alta na sílaba seguinte, em tal contexto ocorre o desencadeamento de um processo assimilatório da alta sobre a média, o qual se torna, segundo Battisti, evidência de que não há princípios especiais regendo a harmonia vocálica das médias em posição inicial, mas que ou nesta posição ou em posição interna estes princípios são os mesmos. A partir dessa evidência a que se refere Battisti (1993), pode-se dizer que o exame da pauta pretônica, respeitante à harmonia vocálica, prescinde da restrição quanto à posição inicial ou medial da sílaba, em função do comportamento semelhante entre as vogais médias pretônicas de sílabas em cada uma dessas posições. O estudo de Myrian Barbosa da Silva, que antecedeu o de Battisti (1993), já não fez restrições a respeito da posição inicial ou medial da sílaba para examinar a vogal em questão, mas sua análise considerou principalmente a posição interconsonântica, por ser a mais freqüente (Silva, 1989, p. 77). Esta autora examinou as médias pretônicas na variedade culta de Salvador, onde detectou a predominância das vogais baixas. A amostra examinada por Silva (1989) constituiu-se de um segmento de 24 informantes do corpus do Projeto de Norma Urbana Culta de Salvador (Nurc-SA), distribuídos por sexo e por três faixas-etárias, todos com nível superior. Dentre os achados dessa pesquisa, temos que na variedade culta de Salvador, nos contextos 23 CVC11, predominam as vogais baixas, como em n[•]vela e n[E]cessário, exceto em dois contextos: 1) antes de vogal média não-nasal, como em c[o]rreio e c[e]rveja e; 2) antes de vogal alta, onde, na maioria dos casos, ocorrem vogais da mesma altura, como em p[u]lítica e p[i]rigo. A média pode variar entre alta, média e baixa, geralmente em posição que antecede vogal alta da sílaba seguinte, como em n[i]c[i]ssita, n[e]c[e]ssita e n[E]c[E]ssita; em todos os outros contextos, médias e baixas estão em distribuição complementar. Também nos resultados de Regina Celi Pereira, destacou-se o efeito da vogal subseqüente sobre o comportamento da média pretônica que, assim como no estudo de Silva (1989), incluiu não apenas a manutenção /e/, /o/ e o alteamento /i/, /u/ mas principalmente o abaixamento /E/, /•/. Pereira (1997) descreveu o comportamento variável das médias pretônicas no dialeto de João Pessoa, examinando uma amostra de 60 informantes estratificados por sexo, três faixas-etárias e anos de escolarização. A pesquisadora constatou que nesse dialeto, nos contextos CV e CVC de sílaba inicial predominam as vogais médias abertas (s[E]leção, pr[•]jeto, m[E]rcearia, g[•]stosona); as variantes elevadas [i] e [u] e fechadas [e] e [o] têm sua ocorrência fortemente favorecida pela vogal da sílaba seguinte (m[i]nina, c[u]zinha, s[e]tor, m[o]torista) podendo apresentar-se, entretanto, na variação i::E E::e e e u::• •::o o diante de vogais altas orais (pr[i]cisa, pr[E]cisa, pr[e]cisa; p[u]rtuguês, p[•]rtuguês, p[o]rtuguês), como os dados de Silva (1989) também evidenciaram. Em relação ao efeito das consoantes precedentes e seguintes, Pereira (1997) concluiu que as labiais favorecem a elevação de /o/ mais que a de /e/, enquanto as sibilantes seguintes favorecem a elevação de /e/; a vibrante posterior, tanto em posição precedente quanto seguinte, é favorável à abertura de /e/, enquanto as alveolares e as palatais precedentes favorecem a abertura de /o/; as palatais precedentes favorecem o fechamento de /e/, enquanto que a vibrante posterior, em posição precedente e seguinte, assim como a palatal, em posição seguinte, favorecem o fechamento de /o/. Quanto aos fatores sociais, os resultados de Pereira (1997) sugerem que o sexo feminino favorece as variantes não-padrão no dialeto pessoense – [i], [u], [e], [o]. 11 Silva (1989, p. 77) trabalhou dados em contexto do tipo CVC, vogal entre duas ou mais consoantes, das quais a que segue pode não fazer parte da mesma sílaba. 24 É de se notar que, até onde os estudos acima comentados podem apontar, a tese de Nascentes para os subfalares brasileiros tem se confirmado: no dialeto riograndense – do sul do país: Bisol (1981) e Battistti (1993) demonstraram a predominância de [e] e [o]; e nos dialetos de Salvador e de João Pessoa – do nordeste do país: Silva (1989) e Pereira (1997) apontaram para [E] e [•] como predominantes. Entretanto, no dialeto paraense, da região norte do país, não se tem confirmado o predomínio das média abertas [E] e [•] 12. Nina (1991) estudou o abaixamento e o alteamento das médias pretônicas /e/ e /o/ em contextos CVC, numa amostra estratificada com 30 belenenses. Os resultados da análise quantitativa apontaram para a tendência à manutenção de /e/ e /o/ como médias e para a realização do abaixamento dessas vogais numa frequência que supera o alteamento; assim como também levaram à conclusão de que a regra de alteamento atinge mais /o/ que /e/. /e/ Os grupos de fatores sempre selecionados na análise estatística, tanto para o alteamento quanto para o abaixamento de /e/ e /o/, /o/ foram: vogal da sílaba seguinte, ponto e modo de articulação da consoante precedente, ponto e modo de articulação da consoante seguinte e escolaridade. A autora afirma, a partir de seus resultados, que /e/ e /o/ pretônicos tendem ao abaixamento preferencialmente diante de vogal baixa ; bem como tendem a se elevarem, principalmente, em contexto de vogal alta da sílaba seguinte e, secundariamente, em outros contextos. Quanto aos fatores de ordem social, a análise de Nina revela que a regra de alteamento como a de abaixamento não constituem, nas palavras da própria autora, “estigma social”, uma vez que se realizam tanto na fala de informantes com nível superior quanto na de informantes com primeiro grau; em relação à idade, a pesquisadora destaca que os informantes mais velhos, das duas últimas faixas-etárias, são os que mais usam a regra de alteamente de /e/; e que os homens são os que mais aplicam a regra de abaixamento de /o/. Além da análise dos fatores estruturais e sociais interferentes no comportamento das médias, Nina sugeriu 12 Vieira (1983) apresenta resultados de um estudo fonológico, que embora não tendo como objeto a variação das vogais médias pretônicas, apresenta um glossário cujo rápido exame aponta o predomínio das variantes médias [e], [o] em posições pretônicas, no falar de um área paraense que incluiu o Médio-amazonas e o Tapajós, no oeste do estado. Nas palavras de Silva (1989, p. 75), se esses registros representam o falar paraense, é possível levantar-se a hipótese de que o Pará, nesse aspecto, constitui uma ilha dialetal no falar do Norte do Brasil. 25 que um processo de restrição lexical agiria sobre a aplicação das regras de alteamento e abaixamento. Até aqui, os trabalhos comentados vinham usando para definição da consoante antecedente e seguinte, o critério ponto de articulação. Na análise de Nina (1991), como se pôde ver, também se utilizou o critério modo de articulação, cujo efeito não pareceu apontar informação estatisticamente diferente do que se obteve com o critério ponto de articulação. Já o efeito da variável vogal da sílaba seguinte foi destacado em todos os estudos aqui comentados, desde os que tratam apenas da harmonização vocálica, no sentido de elevação (Bisol, 1981 e Battisti, 1993), até os que examinam o comportamento das médias também em termos de abaixamento (Silva, 1989; Pereira, 1997 e Nina, 1991). Tal variável, a vogal da sílaba seguinte, quando combinada com a informação sobre a vogal tônica deve indicar evidências mais seguras das condições que favorecem ou desfavorecem quaisquer das variantes concorrentes: Silva (1989) para o dialeto de Salvador, fez contrastar o efeito da átona contígua ao da tônica contígua e da não-contígua; Bisol (1981) e Battisti (1993), para o dialeto riograndense, contrastaram o efeito da vogal alta em sílaba seguinte ao da seqüência de altas e ao de outras seqüências, portanto, identificando as vogais seguintes pelo tipo de seqüência que constituíam. Outra variável que mostrou relevância foi o comportamento da média no paradigma derivacional – como verificaram Bisol (1981) e Silva (1989), a maneira casual ou permanente de a átona pretônica apresentar-se na família de palavras a que pertence o item lexical da ocorrência, pode favorecer ou não uma das variantes em questão. Desses estudos revisitados, as informações colhidas em torno das variáveis utilizadas, da relevância que adquiriram no processo de análise, orientaram, na presente análise, a elaboração das hipóteses, a seleção, inserção ou apagamento de variáveis consideradas desde o início do tratamento dos dados. O capítulo seguinte desenvolve tais tópicos da metodologia. 3 – A COMUNDADE PESQUISADA 3.1 UM POUCO DA HISTÓRIA E DA GEOGRAFIA DO MUNICÍPIO Fundada a 08 de julho de 1613, a freguesia de Nossa Senhora do Rosário passou a chamar-se Bragança somente após 1735, quando elevada à categoria de vila. Em 1854 foi elevada à categoria de cidade. Em 1908, concluiu-se a estrada de ferro Belém-Bragança, após 25 anos do início de sua construção13. Esta estrada foi vital para o crescimento do município, que se tornou uma economia importante no estado do Pará.14. Este município, localizado no nordeste paraense, na micro-região bragantina, tem uma área de 2.344.100 km². Sua sede, a 200 Km de Belém, está à margem esquerda do rio Caeté, a 16 Km do oceano Atlântico. Pelo curso do rio, a cidade pode ser alcançada por pequenas embarcações, que vão além deste porto com a alta da maré. O rio forma, com outros rios da região, a bacia do Caeté. Os limites do município são, a norte, o oceano Atlântico, a sul, Santa Luzia do Pará e Viseu, a leste, Augusto Corrêa e, a oeste, Tracuateua (veja-se o mapa do litoral paraense). 13 14 “A Província do Pará”, Belém, 28 mar. 1994. Caderno: História dos Municípios do Pará, p. 135-6. Em 1965, a estrada foi desativada sob o argumento de representar prejuízo ao estado (Hébette, 1989) 27 FIGURA 3: LITORAL PARAENSE FONTE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (Sem edição). 28 3.2 ASPECTOS HUMANOS E ECONÔMICOS Com uma população urbana de 56.524 habitantes, sendo cerca de 49% masculina e 51% feminina15, o homem bragantino é ,principalmente, o caboclo amazônico em cuja cultura estão presentes os traços europeu, índio e negro. Mas, faz-se notável também a presença de imigrantes nordestinos, principalmente maranhenses. Em 1994, o município bragantino possuía 240 escolas do pré-escolar ao 2º grau, além dos cursos de interiorização da UFPA em Letras e Matemática; 292 casas comerciais; 28 indústrias; 01 agência bancária; 01 posto de serviço dos Correios; mais de 700 terminais telefônicos instalados e 03 postos de serviço da companhia telefônica. Ainda em 1994, os meios de transporte incluíam rodoviário, fluvial e aéreo (pequenos aviões); a pecuária apresentava 25.600 cabeças de rebanho vacum; 4.300 cabeças de rebanho eqüino; e 9.500 cabeças de rebanho suíno. Na agricultura destaca-se a produção de arroz, coco, feijão, laranja, milho, pimenta do reino e mandioca, esta última empregada principalmente na fabricação da farinha de mandioca. A principal atividade do município, entretanto, é a pesqueira, destinada em boa parte à exportação16. Destacando-se também o potencial turístico, pelas praias e festas populares-religiosas, como a de São Benedito (Silva, 1997), comemorada no mês de dezembro. 3.3 A ÁREA URBANA DE BRAGANÇA A área urbana de Bragança é de 1.610 Km², divididos oficialmente em doze bairros: Aldeia, Alegre, Centro, Cereja, Morro, Padre Luíz, Perpétuo Socorro, Riozinho, Samaumapara, Taíra, Vila Nova e Vila Sinhá. Fora esses bairros, há áreas de invasão em terrenos no derredor (veja-se figura 5, à página 37). 15 16 IBGE, Sinopse preliminar do Senso Demográfico 2000, Pará. “A Província do Pará”, Belém, 28 mar. 1994. Caderno: História dos Municípios do Pará, p. 135-6 29 As atividades econômicas urbanas principais são o comércio de produtos agrícolas e de pesca da região, de bens e de alimentos industrializados importados de outras cidades do estado ou do país. Além disso, há presença de pequenas indústrias como padarias e movelarias, assim como parte considerável dos recursos humanos é empregado nos departamentos públicos, principalmente nos educacionais. O sistema de transportes urbanos apresenta uma pequena frota de taxis e ônibus, que saem do centro da cidade para os bairros do entorno (vejam-se figura 4, figura 5 e fotos anexas de 1 a 6). O transporte fluvial, em razão de a cidade estar à margem do rio Caeté, é feito por pequenas embarcações, principalmente para o transporte de produtos agrícolas vindos de vários distritos do próprio município ou de outros municípios – como Augusto Corrêa, ou de outros estados – como Maranhão. FIGURA 4: ZONA URBANA DE BRAGANÇA – BAIRROS CENTRAIS FONTE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (Sem edição). 30 4 – METODOLOGIA 4.1 O MODELO TEÓRICO-METODOLÓGICO DA SOCIOLINGÜÍSTICA Todas as línguas naturais, nos eventos de fala, apresentam um dinamismo inerente que, freqüentemente, faz surgirem formas diferentes equivalentes ao mesmo significado. Essa variação, que ao nível da fonético-fonologia, da morfossintaxe ou do vocabulário contrapõe usos de regiões do território nacional e de grupos sociais distintos, é o que constitui o objeto de estudo da Dialetologia e da Sociolingüística. Encarada como uma subárea da Lingüística que estuda as línguas no seio da comunidade de fala, a Sociolingüística realiza em sua investigação uma correlação entre aspectos do sistema lingüístico e aspectos do sistema social, focalizando a variação, entendida “como um princípio geral e universal das línguas, passível de ser descrita e analisada” (Mollica, 1994). Isto significa dizer que, do ponto de vista sociolingüístico, a heterogeneidade da língua é passível de sistematização e, portanto, é previsível em lugar de aleatória. A investigação deve buscar o grau de estabilidade ou de mutabilidade da variação, diagnosticando as variáveis que contextualizam as variantes e descrevendo seu comportamento preditivo. As variantes, ou formas variantes, podem ser entendidas como equivalentes semânticos que co-ocorrem num dado estado de tempo na língua; as variáveis constituem-se de parâmetros reguladores que condicionam positiva ou negativamente o emprego de formas variantes. Em casos de variação, as variantes podem manter-se estáveis no sistema durante um período ou até por séculos; em casos de mudança em processo, uma das formas variantes tende a desaparecer e é substituída por outra ou outras ao longo do tempo. Dois eixos definem a variação: o eixo diatópico e o eixo diastrático. O primeiro define as alternâncias regionais e os limites são físico-geográficos; o segundo define as alternâncias de acordo com os estratos sociais e os limites são sociais. Nessas 31 duas perspectivas, horizontal e vertical, a variação é contínua, sem demarcações geográficas ou sociais exatas, a não ser que definidas em termos de tendências a empregos de certas formas as quais são motivadas por condicionamentos diversos. Mollica (1994) defende que esses fatores de condicionamento que concorrem para o emprego de formas variantes são em geral em grande número, agem simultaneamente e emergem de dentro ou de fora dos sistemas lingüísticos. Portanto, é possível identificar variáveis internas e externas à língua, sendo que as primeiras incluem os fatores fono-morfo-sintáticos, os semânticos, os discursivos e os lexicais; e as segundas incluem: os fatores inerentes ao indivíduo, como sexo, idade e etnia; os fatores sócio-geográficos, como região, escolaridade, nível de renda, profissão e classe social; e os fatores contextuais, como grau de formalidade e tensão discursiva. A Sociolingüística oferece diferentes modelos teórico-motodológicos para a análise da variação e mudança. Dentre estes modelos está o da Teoria Quantitativa da Variação ou Sociolingüística Quantitativa, proposto por Labov desde 1966. 4.2 O SUBSÍDIO QUANTITATIVO O pressuposto básico do estudo da variação é o princípio de que a heterogeneidade lingüística não é aleatória, mas é regulada por um conjunto de regras, as quais são variáveis e funcionam para favorecer ou desfavorecer, variavelmente e com pesos específicos, o uso de uma ou de outra das formas variáveis em cada contexto (Labov, 1994). Quanto à natureza, essas regras variáveis podem ser internas ao sistema lingüístico ou externas a ele. No primeiro caso estão as regras que envolvem fatores de natureza estrutural, internos ao sistema; no segundo caso estão as regras que envolvem os fatores sociais, externos ao sistema. 32 O problema central da Teoria Variacionista, no dimensionamento quantitativo do seu objeto, consiste em como isolar e medir separadamente o efeito de um fator, quando tal fator nunca se apresenta isoladamente nos dados, uma vez que na fala real as categorias se apresentam conjuntamente. Na prática, a operação de uma regra variável é sempre o efeito da atuação simultânea de vários fatores. Portanto, o cálculo da incidência desses fatores precisa levar em conta as inter-relações existentes entre eles, ou seja, precisa definir a força de atuação conjunta de categorias presentes num dado contexto (Naro, 1994). O subsídio estatístico da Sociolingüística Quantitativa teve seus fundamentos teóricos lançados em 1974, por Henrieta Cedergren e David SanKoff. Este modelo substitui freqüências por probabilidades, e considera como função básica de atuação conjunta de fatores o modelo de efeito simultâneo de fatores independentes, em que “O efeito de cada fator na regra variável é avaliado em um intervalo de 0 a 1, através de uma função matemática aperfeiçoada por Rousseau e Sankoff (...) mais conhecida como Função Logística. Esse modelo de análise quantitativa propõe que, se o resultado for um número superior a 0.5, há probabilidade de a regra ser aplicada quando ocorrer no contexto aquele determinado fator. Um resultado inferior a 0.5 demonstrará que a presença daquele fator no contexto não favorece a aplicação da regra. Já valores próximos a 0.5 indicam que o fator não desempenha papel condicionante na aplicação da regra. Dessa forma, fica definitivamente descartado o caráter opcional da regra, provando, então, a sistematicidade e previsibilidade da regra variável.”(Pereira, 1997, p. 22) 33 4.3 O PACOTE DE PROGRAMAS VARBRUL Como instrumento para a análise quantitativa utilizou-se o pacote de programas Varbrul, criado para análise de fenômenos variáveis, constituído basicamente dos programas Checktok, Readtok, Makecell e Ivarb. Após a codificação dos dados, o primeiro dos programas a ser rodado é o Checktok. Este programa necessita ter como entrada, ou input, além do arquivo de dados, um arquivo de especificação de fatores. Sua finalidade é comparar os símbolos constantes na cadeia de codificação do arquivo de dados com os símbolos determinados no arquivo de especificação, na ordem em que foram especificados. Esse programa gera um arquivo de saída, ou output, que alimentará o segundo programa, o Readtok. O Readtok é o segundo programa a ser rodado e sua finalidade é ler todas as ocorrências do arquivo de saída do Checktok, com as devidas correções, e escrever essas ocorrências corrigidas num arquivo de ocorrências, input para o Makecell. Este terceiro programa, que já fornece porcentagens, prepara a partir do arquivo de ocorrências, um arquivo de células, que servirá como input para os programas de regra variável: o Ivarb, Tvarb ou Mvarb17. Na presente análise foram utilizados o Ivarb e o Tvarb, respectivamente, para as rodadas binárias e para as ternárias. 17 Ivarb, Tvarb ou Mvarb, programas de regra variável que fornecerão os pesos relativos, têm pois a mesma função, distinguindo-se em razão de o primeiro executar os cálculos para análise binária, ou seja, com duas variantes no grupo da variável dependente; enquanto o segundo – Tvarb, executa cálculos para a análise eneária de até três variantes; e o terceiro – Mvarb, executa cálculos para a análise eneária de quatro até cinco variantes (Pintzuk, 1988) 34 4.4 AMOSTRA E COLETA DE DADOS A amostra inicialmente proposta para este estudo previa 42 informantes estratificadamente distribuídos, como estabelecido para a pesquisa urbana do projeto “O Atlas Geo-sociolingüístico do Pará”. O trabalho de campo realizado em Bragança, resultou em dados de 48 informantes, dos quais 36 foram selecionados para este estudo, por corresponderem a todos os critérios da seleção. Posteriormente, a análise computacional impôs restrições quantitativas que obrigaram um corte mais ou menos arbitrário na amostra, reduzida de 36 para 32 informantes estratificadamente distribuídos por sexo, faixa etária, escolaridade e renda, como mostra o quadro abaixo. QUADRO 1 PLANO DA AMOSTRA FAIXA ETÁRIA SEXO ESC. S/ ESC. (2) MASC. (7) 1º GRAU (3) 2º GRAU (2) S/ ESC. (2) 15 –25 (14) FEM. (7) 1º GRAU (3) 2º GRAU (2) S/ ESC. (2) MASC. (7) 1º GRAU (2) 26 – 45 (14) 2º GRAU (3) FEM. (7) S/ ESC. (2) 1º GRAU (2) 2º GRAU (3) S/ ESC. (3) MASC. (7) + DE 45 (14) 1º GRAU (2) 2º GRAU (2) S/ ESC. (3) FEM. (7) 1º GRAU (2) 2º GRAU (2) BAIXA AM0b AM1b AM1b AM2b AF0b AF1b AF1b AF2b BM0b BM1b BM1b BM2b BM2b BF0b BF1b BF2b BF2b CM0b CM0b CM1b CM2b CF0b CF0b CF1b CF2b RENDA MÉDIA / ALTA AM1m AM2m AF1m AF2m BM1m BM1m BM2m BF1m BF2m CM0m CM1m CM2m CF0m CF1m CF2m 35 Como se pôde notar, as quatro células não preenchidas foram aquelas correspondentes às faixas etárias de 15 a 25 e de 26 a 45 anos, com renda média e baixa escolaridade. Os critérios de seleção, os mesmos da pesquisa para o Atlas Geosociolingüístico do Pará, exigem informantes naturais da comunidade pesquisada ou residentes aí desde a infância; de pais também naturais dessa comunidade; e que não tenham se ausentado da comunidade por período superior a um ano, principalmente na fase da infância ou adolescência. Esses informantes foram selecionados e os dados coletados no período de junho de 1998 a maio de 1999, na área urbana de Bragança, numa série de cinco viagens a campo. Na primeira dessas viagens, foram contactadas a coordenação do Campus Universitário de Bragança e as unidades das secretarias estadual e municipal de educação, através das quais obteve-se encaminhamento a escolas de ensino fundamental e médio, onde iniciou-se a seleção de informantes. Além desse meio, foram muito importantes os contatos com pessoas comuns da cidade18, que muitas vezes ou serviram de mediadores ou foram os próprios informantes. As entrevistas foram, na maioria das vezes, marcadas com antecedência, havendo dessa forma um contato prévio; ou foram realizadas no primeiro contato, quando este se dava de forma amistosa e o informante concordava, ou mesmo sugeria, a realização da entrevista naquele momento. Foi aplicada uma ficha de informante19, para controle dos dados sociais, e realizada a entrevista, cujo assunto girava sempre em torno da história pessoal, da história e da vida atual da cidade e das suas opiniões pessoais sobre assuntos diversos. Para obter material lingüístico onde predominasse principalmente a espontaneidade do falante, as interferências da entrevistadora geralmente só ocorreram para estimular a continuação da fala, em gravações de 25 a 30 minutos, realizadas nas residências dos informantes, nos locais de trabalho ou nas escolas. A figura 5 apresenta a distribuição de residência dos informantes por bairros. 18 A respeito dos procedimentos em campo, principalmente em localidades em que o pesquisador iniciante não possua vínculos pessoais ou institucionais diretos, há uma série de dificuldades que lhe devem ser avisadas. Dentre elas a necessidade de encontrar mediadores membros da própria comunidade que facilitem a tarefa, porque atuam como moderadores da reação de estranhamento ou rejeição que o contato direto pesquisador-informante pode produzir. Em se tratando de pesquisa que exija amostra extensa e seleção criteriosa, essas dificuldades somadas ao limite de tempo podem tornarse grandes obstáculos . 19 Ver nos anexos, modelo da ficha de informante. 36 FIGURA 5: LOCALIZAÇÃO DOS INFORMANTES © ∆ ¥ ∇ ♣ ¯ Ï \ µ v ♠ % g › V r Ä p Ù Y J . ³ M … [ ~ q £ Í u Ö FONTE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estaística – IBGE (Sem edição). INFORMANTES Ù AM0b ∇ AF0b Ä BM0b u BF0b Ï CM0b ~ CM2m M CF2b ¥ AM1b v AF1b › BM1b J BF1b ³ CM0m % CF0b V CF2m Ö AM1m £ AF1m g BM1m [ BF1m ¯ CM1b . CF0m ♣ AM2b © AF2b r BM2b p BF2b Y CM1m \ CF1b ♠ AM2m ∆ AF2m µ BM2m q BF2m … CM2b Í CF1m 37 Nas entrevistas foi utilizado gravador Sony TCM-453V; fitas Sony ZX e Basf FE I, ambas de 60 minutos; microfone unidirecional Aiwa DM-H15; e pilhas alcalinas Duracell. Os ambientes em que foram realizadas as entrevistas não possuiam tratamento especial, mas eram áreas reservadas ou livres em que se buscou, dentro do possível, evitar ruídos interferentes. 4.5 PROCEDIMENTOS PARA O TRATAMENTO DOS DADOS 4.5.1 Material Lingüístico e Codificação Os dados lingüísticos constituíram- se de 4.094 ocorrências, do tipo pre'siza, dE'zeàbru, si'guàda, ko'mEhsiw, f•h'maàdu, kus'tura, em que a realização das vogais médias pretônicas apresentou a alternância e::E E::i i e o::• •::u u, retiradas de entrevistas que totalizaram aproximadamente 10 horas de gravação Inicialmente foi feita a transcrição grafemática dessas entrevistas, depois, a transcrição fonética dos itens lexicais selecionados para o corpus da análise. A transcrição fonética20 foi utilizada em função de manter as informações fonéticas inerentes a cada realização, ainda que nem todas essas informações constituam as variáveis codificadas para a análise. A transcrição grafemática foi mantida para as cadeias de ocorrências nos arquivos de dados fornecidos ao Varbrul, que não reconhece as fontes do alfabeto fonético geralmente usadas nas transcrições fonéticas. Antes da cadeia de ocorrências em cada arquivo de dados, a cadeia de codificação incluiu informações codificadas nessa ordem: a variável dependente, as variáveis independentes lingüísticas e as variáveis independentes sociais. Para uma 20 A transcrição fonética dos itens lexicais, realizada para o corpus desta análise, explicita os aspectos condicionados foneticamente ou particulares do dialeto em questão, somente quando eles dizem respeito a segmentos que contextualizam a vogal média pretônica analisada e, por isso, constituirão informação de uma das variáveis. Particularidades articulatórias geralmente não foram registradas, à maneira de transcrição fonética restrita ( Silva, 1999, p. 36). 38 ocorrência como pre'siza, pre'siza nas rodadas experimentais, a cadeia de codificação agrupou nessa ordem: e r43wDs* AF2m variável dependente variáveis lingüísticas variáveis sociais Essa cadeia de códigos colocada à esquerda e a ocorrência ou item lexical à direita, ordenaram duas colunas que deram esta estrutura ao arquivo de dados21: (er43gDs&BF2m de’zoytu (er43hLs*BF2m cume’ço (er43gDs&BF2m de’zoytu (iR65wPp#BF2m diSli’gadu (Er63tSx*BF2m consér’ta (iR65wPp#BF2m diSli’gadu (er43gDs&BF2m de’zoytu (er45zXl*BF2m repe’tiw 4.5.2 Sobre o Tratamento Computacional Como as primeiras rodadas foram organizadas a partir de regras binárias, para examinar a série de anteriores como a de posteriores, foram utilizados seis arquivos. Para a série das anteriores: 21 O arquivo de dados, bem como os demais necessários para a utilização do Pacote Varbrul, o arquivo de especificação de fatores e o arquivo de condições, exigem a utilização de formatações específicas, sem as quais os programas acusam erro e não podem ser rodados. Por exemplo, o abre-parêntesis que inicia a cadeia de codificação e os espaços desta até o item lexical, ou ocorência, são exigências de formatação, como outras documentadas em Pintzuk (1989). 39 arquivo da regra de [e] (que opunha as ocorrências de [e] às de [E] e de [i]) arquivo da regra de [E] (que opunha as ocorrências de [E] às de [e] e de [i]) arquivo da regra de [i] (que opunha as ocorrências de [i] às de [e] e de [E]); E para a série das posteriores: arquivo da regra de [o](que [o] opunha as ocorrências de [o] às de [•] e de [u]) arquivo da regra de [•](que opunha as ocorrências de [•] às de [o] e de [u]) arquivo da regra de [u](que [u] opunha as ocorrências de [u] às de [o] e de [•]) Estes seis arquivos das rodadas binárias eram na realidade dois arquivos, um para as ocorrências da pretônica anterior /e/ e outro para as da posterior /o/, que de acordo com a variante em questão – manutenção, abaixamento ou alteamento, tinham alterados na cadeia de codificação os valores de aplicação e não-aplicação da regra. Essas rodadas binárias foram levadas a efeito principalmente em função de fornecerem como saída do programa de regra variável, não apenas os pesos relativos, mas principalmente a informação sobre os grupos de fatores selecionados, ou estatisticamente relevantes. Por essa razão, rodadas binárias foram realizadas tanto na fase experimental como na fase final. As rodadas ternárias, por sua vez, só puderam ser realizadas depois de um corte considerável nos dados. A amostra inicial com de 36 informantes, utilizada nas rodadas experimentais, foi reduzida a 32 informantes nas rodadas definitivas, mudando a estratificação para apenas um indivíduo em cada célula, exceto naquelas não preenchidas na coleta em campo, como mostra o quadro à página 31. Ainda assim as rodadas ternárias finais só foram viáveis mediante amalgamações e apagamentos 40 causados pelo excedente de células à capacidade do programa, e pela inserção de novas hipóteses ou por novos knockouts criados depois do corte de dados22. Quanto à solução dos knockouts, várias vezes foram resolvidos pela utilização de dado fictício, introduzido na análise para evitar o apagamento de fatores: como exemplo, para a variável vogal da sílaba tônica nas rodadas finais, os fatores /u/, /e/ e /o/ contíguos apresentaram knockout para a variante [•], ou seja, não foi documentada ocorrência de [•] seguida de vogal tônica contígua /u/, /e/ e /o/. Para ilustração, desses fatores em knockout apresentam-se ocorrências documentadas no corpus e as ocorrências possíveis, não documentadas, marcadas com asterisco à direita: /u/ /e/ /o/ pro o'kura pr• •'kura* pru u'kuru opo oh'tunu op• •h'tunu* opu uhtuøi'dadZi no o'tuhna n• •'tuhna* nu u'tuhna* ko oS'tura k• •S'tura* ku uS'tura ko o'me k• •'me ku u'me * go o'vehnu g• •'vehnu* gu u'vehnu ko o'øesu k• •'øesu* ku u'øesu bo o'to b• •'to* to o'mo t• •'mo* vEhgo o'øozu vEhg• •'øozu* bu u'to tu u'mo vEhgu u'øozu* Diante do knockout, ou não ocorrência do abaixamento nos contextos acima exemplificados, como se vê com a presença apenas de formas possíveis indicadas com asteriscos na segunda coluna, foi necessário adotar uma das alternativas, para continuar o tratamento computacional: – ou amalgamar os fatores com outros lingüísticamente afins, e nesse caso poder-se-ia juntar o fator /u/ ao fator /i/, como o fator /e/ ao fator /o/ para termos amalgamadas vogais altas e vogais médias; 22 Detalhes desses procedimentos – amalgamações e apagamentos nos dados da análise quantitativa, serão referidos páginas à frente, no capítulo III. 41 – ou eliminar tais fatores da análise, como ocorreu com o fator /uà/, eliminado da análise nas rodadas para a série das posteriores23 – ou inserir um dado fictício, permitindo a continuação das rodadas, sem amalgamar ou eliminar fatores. A primeira dessas alternativas não resolveria todo o problema uma vez que, por exemplo, para a vogal da sílaba tônica, ao amalgamar os fatores /e/ e /o/ contíguos, o knockout permaneceria porque ambos os fatores não apresentaram na amostra utilizada a ocorrência [•] da média pretônica posterior. Outro contra-ponto para essa solução consiste no fato de se ter observado em rodadas experimentais, resultados que apontaram comportamentos bem diferentes em função do traço de anterioridade/posterioridade da vogal contextual, bem como em função da nasalidade desta vogal, como se pode observar nas tabelas 1 e 2, nas páginas 47 e 48. A segunda dessas alternativas – eliminar da análise os fatores em knockout, muitas vezes significaria perder informações importantes em função da natureza ternária do fenômeno, que subentende duas outras possibilidades de ocorrência além daquela não encontrada na amostra. Estas duas outras possibilidades poderiam, como se vê em pro'kura e pru'kuru, go'vehnu e gu'vehnu, bo'to e bu'to24, implicar comportamento variável, passível de ser observado nos resultados estatísticos uma vez resolvido o knockout. Além disso, outra razão a favor de não se eliminarem tais fatores consistiu em que o próprio fato de o knockout acontecer, já poderia ser utilizado na análise como índice de um comportamento que, de alguma maneira, constitui o funcionamento desta forma particular do sistema, ou do próprio sistema. Finalmente, a terceira alternativa – inserção de dados fictícios, utilizada para preencher uma célula nas rodadas de /e/, /e/ e sete células nas rodadas de /o/, /o/ foi a 23 24 Como se pode ver na ausência de resultados para este fator na tabela 1, à página 63. Citam-se neste ponto apenas casos entre as ditas formas mínimas, mas a análise subentende categorias fonético-fonológicas previamente selecionadas e codificadas, que reunem os dados em células definidas por tais categorias e não por unidades lexicais. Assim, por exemplo, pode-se dizer que a variação o::•::u da média posterior pretônica foi constatada na amostra, diante de vogal tônica contígua /E/, pela ocorrência de formas como ko'lEZu, k•'lEZu e mu'lEki. 42 que pareceu recurso capaz de manter na ánalise esses fatores cuja ausência de ocorrências, em apenas uma das três variantes, comprometia a continuação do tratamento computacional, além de evitar nova busca de dados, uma vez que em parte dos casos o knockout foi causado pela não documentação de uma realização provável, mas que demandaria mais tempo para ser encontrada25. Após as primeiras rodadas, que implicaram a reelaboração das hipóteses, a cadeia de códigos que, por exemplo, apresentava-se como er43wDs*AF2m passou a apresentar-se como e4w/DsP*2U, e procedimentos como os descritos acima foram utilizados principalmente na fase final, tanto em rodadas binárias como em ternárias. Como se tem apontado nas últimas linhas, a análise computacional desses dados tem dois momentos: o das rodadas experimentais, em que foi considerado um leque de hipóteses maior com o objetivo de teste; e o momento das rodadas definitivas, em que as primeiras hipóteses testadas foram reelaboradas, em função dos primeiros resultados do tratamento computacional e dos achados da literatura, a qual foi revizada no capítulo II desta dissertação. 4.5.2 Rodadas Experimentais Essas primeiras rodadas foram feitas, como já foi dito, com uma quantidade maior de dados, cerca de 6.500 ocorrências, posteriormente reduzida em função da capacidade do programa de regra variável utilizado na análise ternária. 25 Ao que indica a prática dos pesquisadores brasileiros, o recurso ao dado fictício não costuma ser utilizado. Mas, a propósito desse uso para solução de knockouts, comenta John Paolillo (1999, cap. 4, p. 5): “The underlying process ( refere-se à inserção de dados fictícios) is still considered to be variable, but in spite of this one factor shows up with a categorical appearance(...) An alternative means of dealing with such problems is to add a fictional token to the data containing the appropriate factor and the appropriate value of the dependent variable(...) It is important to recognize that the created token in actuality is a fiction, and so the “observations” about variation in this context are similarly fictional. It is thus only advisable to adopt this strategy when the researcher has good reason to believe that there is variation in the context of the knockout, and that the observations are somehow at fault”. 43 Também o número de variáveis consideradas nesse primeiro momento era maior, uma vez que as hipótese iniciais, mais amplas e menos definidas, exigiam verificar o comportamento de um bom número de fatores em face da variação e::E E::i i e o::• •::u u no dialeto bragantino. O tratamento quantitativo de teste foi necessário para a decisão sobre a relevância e a validade das variáveis consideradas na análise final. Prova disso pode ser apontada na diferença do conjunto de variáveis utilizadas nos dois momentos da análise, e na conseqüente necessidade e se desenvolver o presente subtópico. Portanto, descreve-se aqui o conjunto de variáveis submetidas às rodadas experimentais, a seleção feita a partir delas, bem como informam-se as reelaborações feitas a partir das primeiras hipóteses. 4.5.2.1 Variáveis Experimentais Retomada a cadeia de codificação referida linhas acima, teremos em cada caracter a posição de uma variável: er43wDs*AF2m A variável dependente definiu-se pela alternância e::E E::i i, na série de anteriores, e o::• •::u u, na série de posteriores. Portanto, realizadas nas seguintes variantes: [e] e [o], manutenção das médias; [E] e [•], abaixamento; [i] e [u], alteamento. As variáveis independentes linguísticas compreenderam: Prefixação Controlou-se com essa variável a presença ou ausência de prefixos. Portanto, os fatores definem-se como: 44 Ocorrência em prefixo, com a realização da pretônica nesse segmento; Não ocorrência em prefixo, com a realização da pretônica fora de tal segmento, caso o item fosse prefixado. Tipo silábico A variável tipo silábico definiu-se pela oposição aberto/travado,. Assim, os fatores foram definidos da seguinte forma: Tipo aberto, se estrutura CV; Tipo travado, se estrutura CVC. Distância da sílaba tônica A influência da sílaba tônica sobre a regra de variação foi testada pelo critério distância entre esta sílaba e a sílaba da média pretônica. Os fatores foram classificados da seguinte forma: Contíguas; Distantes uma sílaba; Distantes duas sílabas; Distantes três ou mais sílabas. Vogal da sílaba seguinte A influência da variável vogal da sílaba seguinte sobre as regras em questão, foi verificada a partir dos seguintes fatores: Vogais Orais vogal alta anterior [i]; 45 vogal alta posterior oral [u]; vogal média anterior oral [e] vogal média posterior oral [o] vogal média anterior aberta [E] vogal média posterior aberta [•] vogal baixa central [a] ditongo oral [ay aw Ey ey iw •y oy •w ow uy] Vogais Nasais alta anterior [ià] média anterior [eà] média posterior [oà] alta posterior [uà] baixa central [aà] ditongo [aày aàw eày iàw oày oàw uày] Consoante Precedente A variável consoante precedente, na análise das regras variáveis de e::E E::i i e de o::• •::u u, foi definida, principalmente, pelo critério ponto de articulação, nos fatores seguintes: Bilabiais [p, b, m] Labiodentais [f, v] Alveolares [t, d, n, l, r] Sibilantes [s, z] Palatais [S, Z, tS, dZ, ø, ´] Velares [k, g] 46 Fricativa Glotal ou Posterior [h] Consoante Seguinte Os fatores para consoante seguinte foram classificados da mesma forma como os fatores para consoante precedente, de acordo com os pontos de articulação já expostos acima. Classes de palavras O comportamento variável das pretônicas, nessas primeiras rodadas, verificou a variável classe de palavras, pelos seguintes fatores: Substantivos Verbos Adjetivos Pronomes Numerais Advérbios Conjunções Faixa etária Por acreditar-se que os falantes mais velhos tendem a preservar as formas antigas, que alternam com as formas modernas mais usadas pelos jovens, a variável faixa etária foi introduzida na análise experimental. Foram definidas três faixas, da seguinte forma: 47 A, de 15 a 25 anos Faixa etária B, de 26 a 45 anos C, de 46 anos em diante Sexo Quanto à categoria sexo, a hipótese que a sustenta está na possibilidade de falantes de sexos diferentes terem propensão ao uso de uma ou de outra forma lingüística. Portanto, os fatores foram: masculino Sexo feminino Escolaridade Através desta variável pretendeu-se testar a hipótese de que os falantes escolarizados preferem determinadas formas da língua, as ditas de prestígio. Levando-se em conta a última série escolar freqüentada pelo informante, os fatores foram definidos da seguinte forma: baixa escolaridade, até o 4º ano primário Escolaridade escolaridade fundamental, do 5º ao 8º ano ginasial escolaridade média, do 1º ao 3º ano científico Renda 48 Com esta variável, pretendeu-se fixar índices do poder aquisitivo do informante, e completar com este dado o caráter estratificado da amostra. A categoria renda foi definida a partir do valor aproximado de provento mensal de cada entrevistado, resultando nos fatores abaixo: Baixa, até R$ 400,00 mensais Renda Média e média-alta, acima de R$ 400,00 mensais As variáveis descritas acima, utilizadas nas rodadas experimentais, produziram resultados estatísticos que não serão efetivamente discutidos. Entretanto, no tópico a seguir os efeitos desses resultados são citados, na medida em que implicaram ou não, a confirmação da variável como válida ou relevante. 4.5.2.2 Como se reelaboraram as hipóteses iniciais Do conjunto de variáveis lingüísticas e sociais descritas acima, ao conjunto que será descrito daqui algumas páginas como variáveis das rodadas definitivas, há uma relativa semelhança, em função mesmo da manutenção de determinadas variáveis; enquanto outras sofreram alterações – umas foram mantidas fora das rodadas finais, e para isso tiradas da cadeia de codificação; outras foram reelaboradas; uma única foi considerada inválida; e outras, novas, foram inseridas. O presente sub-tópico discorrerá sumariamente sobre esse momento da análise, principalmente no que concerne às modificações. Os casos são expostos abaixo em forma de itens numerados. 1) As variáveis das rodadas experimentais que foram mantidas, são aquelas geralmente selecionadas como estatisticamente relevantes pelo programa de regra variável, TVARB. São elas: 49 Tipo silábico Consoante Antecedente Consoante Seguinte Classe Morfológica Escolaridade 2) Foram excluídas das rodadas finais aquelas que nunca, ou raramente, foram selecionadas como estatísticamente relevantes, e cujos resultados experimentais, eventualmente, serão comentados no capítulo final, na análise dos resultados. Essas variáveis foram: Faixa Etária Sexo Renda 3) As variáveis reelaboradas foram aquelas cujos resultados não foram suficientes para responder a questões das hipóteses, em razão mesmo de carecerem melhor definição. Essas variáveis foram: Distância da sílaba tônica Vogal da Sílaba Seguinte Essas variáveis foram, inicialmente, consideradas dessa forma porque acreditou-se poder cruzá-las entre si, para verificar as duas hipóteses, aparentemente opositivas, sobre a vogal subseqüente que determinaria fortemente a regra de variação da média pretônica: a hipótese da influência da vogal imeditamente seguinte à média (Silva Neto, 1986) e a hipótese da influência da vogal da sílaba tônica (Camara Júnior, 1991). Entretanto, após as primeiras rodadas, a observação dos resultados preliminares, levou a conclusão de que, sobre a vogal da sílaba tônica, necessitar-se-ia codificar também a informação de sua natureza além da informação da distância em relação à média pretônica. Isso levou à tarefa de recodificação e redefinição das variáveis para Vogal da Sílaba Tônica e Vogal da Sílaba Átona Contígua, que serão melhor definidas nos tópicos seguintes, 4.5 e 4.6. 50 4) A única variável abandonada a partir dos resultados das rodadas experimentais foi a variável Prefixação, inicialmente considerada em razão da hipótese de que a fronteira de morfema seria fator que influenciasse na manutenção de traços fonológicos de certos afixos, fazendo-os resistir mais à variação. Ou seja, numa ocorrência do tipo pr[E]medi’tado, a vogal do prefixo manter-se-ia baixa, resistindo à regra de manutenção ou fechamento das pretônicas, que prediria a forma pr[e]medi’tado, assim como em caf[e]teira e s[o]laço. Por outro lado, quando provavelmente o falante já houvesse perdido de vista o processo pelo qual se formou a palavra, não reconhecendo ali o afixo, mais facilmente atuaria a regra de fechamento que, por hipótese, é a mais produtiva nesse dialeto. Entretanto, ao final das primeiras rodadas, observou-se o seguinte: a) os resultados para a variável Prefixação apresentaram baixíssimo percentual de aplicação, principalmente para /o/, que se realiza num menor número de prefixos da língua26. Este déficit se deu porque o padrão silábico CVC, em que se encaixam os dados do corpus, elimina ocorrências de prefixos do tipo ex-, em-; bem como, não fizeram parte do corpus as variantes nasais, o que elimina ocorrências como contra- e con-; b) a manutenção dessa variável exigiria: ou o reagrupamento dos dados; ou uma recodificação que, além dos códigos de ocorrência e não-ocorrência de prefixo, atribuiria valor de não-aplicação para variantes em posições não iniciais, portanto, demandando mais tempo no tratamento dos dados, além de estender os limites do objeto em estudo. Portanto, optou-se por eliminar da análise atual a variável Prefixação, adiando seu exame para um estudo futuro 5) Finalmente, as variáveis inseridas, por conta de novas hipóteses, e que serão devidamente descritas no próximo tópico,são: 26 Battisti (1993, p. 44) faz uma enumeração dos prefixos encontrados no corpus de sua análise: apresenta dez tipos com /e/(des-, de-, re-, pre-, meno-, ex-, penta-, em-, es-, per-), e apenas cinco tipos com /o/(contra-, con-, co-, por-, sobre-). 51 Caráter Átono da Pretônica Natureza da Atividade do Informante Em conclusão até aqui, foram esses procedimentos essenciais para a definição das hipótes e das variáveis válidas na análise definitiva, descritas nos tópicos seguintes. 52 4.6 OBJETO E HIPÓTESES Examinei, neste estudo, o comportamento das vogais médias pretônicas do falar da área urbana de Bragança, considerando que /e/ e /o/ realizam-se, respectivamente, pela variação e::E E::i i e o::• •::u u, caracterizada por manutenção, abaixamento e alteamento, em contextos silábicos CVC, onde a consoante que segue pode pertencer à mesma sílaba ou à subseqüente. Constituíram o corpus da pesquisa as realizações em sílaba inicial ou medial, sendo excluídas aquelas em posição inicial absoluta, como em escola ou ordenado; as que constituem hiato ou ditongo, como em peixada ou moeda; e as variantes nasais27, como em lembrança ou montar. Também foram excluídas as ocorrências em substantivos próprios e siglas (Bisol, 1981, p. 33), como em Benedito ou Bordalo, e como em Cosanpa. A principal razão para esse recorte , e que o torna menos arbitrário, é o fato de geralmente haver número escasso de dados num ou noutro desses contextos eliminados, o que demandaria mais tempo na busca de soluções, além do pressuposto de que apresentam comportamento diverso em função de sua natureza diversa. Também foram retirados da amostra os casos de radicais sufixados por –zinho, -inho, -ão, -ona, -íssimo e –mente, nos quais acredita-se a regra de harmonização seja interceptada pela presença desses sufixos (Bisol, 1981), fato já observado em mais de um dialeto. Bem como eliminaram-se as ocorrências da conjunção porque e do pronome você os quais, embora indicassem certa variação, apresentaram-se em número de ocorrências muito grande, inflacionando o percentual de determinados fatores. O recorte do problema aqui abordado deixa de fora estes casos acima citados, passíveis de exame com mais aprofundamento em pesquisa futura. Orientam a análise, hipóteses definidas com base na observação dos dados e nas informações da literatura, bem como no conhecimento assistemático da autora como falante do dialeto típico da região Norte, estado do Pará. 27 Consideram-se neste estudo, vogais nasais distintas de nasaladas, como define Silva (1999, p. 91). 53 A hipótese inicial, portanto, reside em considerar a variação e::E E::i i e o::• •::u u no dialeto examinado, regida por regras variáveis que agem sistematicamente. Mostram isso principalmente dados como me´ me´ora'ria, ora'ria mE´ mE´ora'ria, ora'ria mi´ mi´ora'ria; ora'ria ou sosye'dadZi, sosye'dadZi s•sye'dadZi, sye'dadZi susye'dadZi; susye'dadZi pedago'Zia, pedago'Zia pEdago'Zia mas nunca pidago'Zia*; pidago'Zia koø koøesi'meà esi'metu, àtu kuø kuøesi'meà esi'metu àtu mas nunca k•øesi'meà esi'metu*. à tu Considerou-se que a regra variável tivesse seu funcionamento fortemente determinado pelo contexto da vogal seguinte, como em feve'reru, feve'reru pEska'do e piri'gozu; piri'gozu foh'mo, foh'mo pr• pr•'grEsu e kuø kuøisi'meà isi'metu. àtu Mas suspeitou-se também que, favorecendo ou inibindo a variação da vogal média pretônica, outras variáveis estivessem em jogo, dentre elas, principalmente, as consoantes das margens silábicas, a classe morfológica do item em que ocorre a pretônica, e até mesmo um fator que supostamente atuaria in absentia, definido pela relação da pretônica com uma vogal tônica em algum outro item do paradigma. Inicialmente, ocorreu a hipótese de que na fala de Bragança predominassem as variantes médias resultadas da manutenção, em detrimento das altas, e que as baixas ocorreriam com menor freqüência ainda. Essa hipótese nasceu principalmente de uma intuição a respeito da variedade paraense que, de certa forma, foi confirmada pelas conclusões de Nina (1991) e pelas evidências apresentadas no glossário resultado da pesquisa de Vieira (1983); ainda reforçavam essa hipótese o fato conhecido de que a ocorrência de altas se dá em qualquer dialeto e na fala de qualquer segmento social e que, diferentemente, a variante baixa soa estranha na fala de nossa região, mas é característica marcante dos falares nordestinos. Por fim, considerou-se possível que concorresse para essa variação, além da escolaridade, um fator de ordem social caracterizado pelo envolvimento do informante com atividade relacionada à terra, admitindo-se a interferência de traços do dialeto rural no dialeto da área urbana. Em síntese, o objeto deste estudo é a variação das vogais médias /e/ e /o/ em posição pretônica, definida pela alternância entre manutenção [e, o], 54 abaixamento [E, •] e alteamento [i, u] no padrão silábico CVC, examinado na perspectiva da Teoria da Variação ou Sociolingüística Quantitativa; tendo como hipóteses principais a influência das variáveis estruturais vogal da sílaba seguinte e consoantes contextuais, e das variáveis sociais escolaridade e tipo de atividade. 4.7 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS 4.7.1 Variáveis Dependentes As variáveis dependentes constituem-se das vogais médias pretônicas /e/ e /o/. O comportamento variável verificado nessas vogais definiu como variantes: as formas [e] e [o] identificadas como manutenção da média ou médias; [E] e [•] identificadas como abaixamento ou baixas; [i] e [u] identificadas como alteamento ou altas. Desta forma, temos: na série de anteriores, como variantes de /e/ [e] he´iZi'aàw [E] vE´a'ria [i] pri'gisa na série de posteriores, como variantes de /o/ [o] profi'saàw [•] m•'rava [u]pude'rozu 55 4.7.2 Variáveis Independentes 4.7.2.1 Fatores Linguísticos Tipo silábico A verificação da relevância do tipo silábico, no comportamento da regra variável em questão, foi feita a partir da oposição aberto/travado. Assim, as estruturas CV e CVC, ambas permitindo uma segunda consoante à esquerda, caracterizam respectivamente o tipo silábico aberto e o tipo silábico travado, em posição inicial ou medial de palavra. Essa variável manteve-se desde as primeiras codificações. Vogal da sílaba tônica Essa variável foi reelaborada com a finalidade de verificar o efeito da tonicidade sobre o comportamento da média pretônica.. A variável vogal da sílaba tônica, complexa por codificar a natureza da tônica e sua distância em relação à pretônica, constituiu-se dos seguintes fatores: ⇒ vogal alta anterior oral contígua e a não-contígua [i] ⇒ vogal alta posterior oral contígua e a não-contígua [u] ⇒ vogal média ant. oral contígua e a não-contígua [e] ⇒ vogal média post. oral contígua e a não-contígua [o] ⇒ vogais baixas contíguas e as não-contíguas [ E ], [ • ], [ a ] ⇒ ditongos orais cont. e os não-contíguos [ay, aw, Ey, ey, iw, •y, oy, •w, ow, uy] 56 ⇒ vogal alta anterior nasal contígua e a não-contígua [ ià ] ⇒ vogal alta posterior nasal contígua e a não-contígua [ uà ] ⇒ vogais não altas nasais contíguas e as não-contíguas [ eà ], [ oà ], [ aà ] ⇒ ditongos nasais cont. e os não-contíguos [aày, aàw, eày, iàw, oày, oàw, uày] Vogal átona da sílaba seguinte A variável vogal átona da sílaba seguinte foi definida pelos seguintes fatores: vogal alta anterior oral [i] vogal alta anterior nasal [ ià ] vogal alta posterior oral [u] vogal alta posterior nasal [ uà ] vogal média ant. oral [e] vogal média post. oral [o] vogais não altas nasais [ eà ], [ oà ], [ aà ] vogais baixas [ E ], [ • ], [ a ] ditongos orais [ay, aw, Ey, ey, iw, •y, oy, •w, ow, uy] ditongos nasais [aày, aàw, eày, iàw, oày, oàw, uày] Consoante antecedente 57 A consoante antecedente à vogal examinada considerada, principalmente, pelo ponto de articulação, definiu-se pelos seguintes fatores ⇒ bilabiais [p, b, m] ⇒ labiodentais [f, v] ⇒ alveodentais [t, d, n, l, r] ⇒ sibilantes [s, z] ⇒ palatais [S, Z, tS, dZ, ø, ´] ⇒ velares [k, g] ⇒ fricativa glotal ou posterior [h] Consoante seguinte A consoante do contexto seguinte à vogal pretônica foi definida pelos mesmos critérios e com os mesmos fatores da consoante antecedente. Caráter átono da pretônica no paradigma A fim de verificar na variação a interferência do caráter átono da pretônica, levando em consideração a família de palavras a que pertença o item lexical da ocorrência, a variável dependente foi classificada como átona permanente e átona casual no paradigma, tendo a átona casual se subclassificado em três tipos. Portanto os fatores são: Vogal Átona Permanente Vogal átona casual relacionada à vogal tônica de altura variável, inclusive alta; 58 Vogal átona casual relacionada à vogal tônica de altura variável, de média a baixa; Vogal átona casual relacionada à vogal tônica baixa; Vogal átona casual relacionada à vogal tônica média. Classe morfológica Na perspectiva de examinar, de forma ampla, o efeito do componente morfológico sobre o comportamento das vogais médias pretônicas, definiram-se os seguintes fatores para essa variável: Substantivo Verbo Adjetivo Pronome Numeral Advérbio Conjunção 59 4.7.2.2 Fatores Sociais Escolaridade Quanto à escolaridade, as classes consideradas equivalem aos níveis atuais do primeiro ciclo do ensino fundamental, do segundo ciclo do fundamental e do ensino médio , definidas, respectivamente, nos seguintes fatores: Escolaridade baixa – informantes com o equivalente ao primeiro ciclo concluído ou incompleto; Escolaridade fundamental – informantes com o equivalente ao segundo ciclo concluído ou incompleto; Escolaridade média – informantes com o equivalente ao ensino médio concluído ou incompleto. Tipo de atividade Essa variável implica um controle a respeito do tipo de atividade passada ou atual do ou da informante, relacionada à terra. Portanto, são dois os fatores: Atividade rural – já realizada, sistemática ou eventualmente; Atividade urbana – sempre realizada pelo ou pela informante. Terminada aqui a definição das variáveis, passa-se agora à análise dos resultados. 5 – ANÁLISE DOS RESULTADOS Partindo-se da hipótese da variação o::•::u e e::E::i, como em ku'mEsiw ~ ko'mEsiw ~ k•'mEsiw, confrontada a ocorrências como kuøesi'meàtu ~ koøesi'meàtu, mas nunca k•øesi'meàtu*, ou ko'lEzu ~ k•'lEzu, mas nunca ku'lEzu*, na amostra examinada, percebe-se que a regra variável aí implicada relaciona-se a fatores vários e que, possivelmente, ainda estejam, muitas das vezes, por definir seu modo de atuação. Dentre eles, os fatores examinados neste estudo: a vogal contextual, as consoantes antecedente e seguinte, o caráter átono da pretônica no paradigma, a classe morfológica e as variáveis sociais, escolaridade e tipo de atividade. A variável tipo silábico foi retirada da análise, no momento em que se necessitou reduzir o número de células para o TVARB, por não ter sido selecionada como relevante,. Apresenta-se, nas páginas seguintes, a discussão dos resultados gerados como valores absolutos e índices probabilísticos, organizados em tabelas. O exame desses valores foi orientado por questões introduzidas no texto, a partir das hipóteses principais. E a exemplificação, quando utilizada foi transcrita foneticamente sem os colchetes da notação, para simplificar a elaboração e a leitura do texto, como aliás vem sendo feito desde o capítulo 4. A transcrição grafemática dos itens do corpus encontrase nos anexos. 5.1 CONTEXTO VOCÁLICO DA REGRA Inicialmente, chamou a atenção nas tabelas 1, 2, e 3, as quantidades de ocorrência das variantes. Se tomarmos o percentual, também fornecido pelo programa de regra variável, teremos o seguinte: as variantes médias [e, o] ocorreram em respectivos 45% e 39% da amostra; as baixas [E, •] ocorreram em 41% e 36% da amostra; e as altas [i, u] ocorreram em 14% e 26% da amostra. Portanto, as variantes médias confirmaram a hipótese de sua predominância, ainda que guardem pouca diferença das quantidades de ocorrência das baixas; as variantes baixas , por sua vez, apresentaram freqüências maiores do que se supunha encontrar; bem como as altas que, de forma inversa, apresentaram freqüências menores que as esperadas. A análise do contexto vocálico da regra variável das médias pretônicas, na variedade de Bragança, parte da hipótese de que a vogal da sílaba seguinte é fator altamente influente no processo de assimilação que determina esse comportamento, como foi apontado para outros dialetos (Bisol, 1981; Silva, 1989; Battisti, 1993; Nina, 1991; Pereira, 1997). Pretende-se aqui , também, testar essa hipótese e as extensões dela, sobre a relevância da contigüidade da vogal contextual (Silva Neto, 1986), ou da tonicidade (Camara Jr., 1991). Portanto, a discussão dos resultados foi feita em sessões, definidas a partir das já referidas questões. A seguir as tabelas 1 e 2 , com resultados dos contextos de vogal tônica contígua e vogal átona contígua. TABELA 1 VOGAL TÔNICA CONTÍGUA demago'Zia, f•h'ma, Se'gasi, dZiS'kazu [o] [•] [u] [e] [E] [i] Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P [i] 57/174 .178 3/174 .014 114/174 .808 155/265 .351 16/265 .027 94/265 .623 [u] 18/24 .478 1/24* .068 5/24 .455 5/17 .117 6/17 .243 6/17 .640 [e] 66/106 .521 1/106 .036 39/106 .443 169/177 .871 1/177 .010 7/177 .119 [o] 53/60 .757 1/60 .020 6/60 .223 110/125 .714 1/125* .018 14/125 .267 [a] [E] [•] 51/492 .019 356/492 .921 85/492 .060 56/388 .047 317/388 .925 15/388 .029 Dit. Oral 57/90 .451 27/90 .382 6/90 .168 134/184 .514 23/184 .143 27/184 .344 [ ià ] 3/33 .018 1/33* .024 29/33 .958 11/37 .159 1/37 .010 25/37 .830 [ uà ] ----- ----- ----- ----- ----- ----- 2/32 .081 5/32 .353 25/32 .566 [ aà ] [ oà ] [ eà ] 23/157 .022 116/157 .957 18/157 .021 44/255 .066 204/255 .896 7/255 .038 Dit. Nasal 3/14 .047 7/14 .903 4/14 .050 ----- ----- ------ ----- ----- ----- TOTAL 331/1150 513/1150 306/1150 686/1480 574/1480 220/1480 * Dados fictícios 62 TABELA 2 VOGAL ÁTONA CONTÍGUA profi'saàw, pudero'zu, tEhmi'no, miSi'´aàw [o] [•] [u] [e] [E] [i] Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P [i] 100/154 .336 16/154 .181 38/154 .482 175/259 .539 57/259 .063 27/259 .398 [u] 86/114 .389 2/114 .031 26/114 .580 36/64 .566 14/64 .201 14/64 .233 [e] 99/149 .409 6/149 .248 44/149 .342 72/89 .719 2/89 .019 15/89 .262 [o] 28/31 .846 2/31 .061 1/31* .093 22/28 .758 3/28 .153 3/28 .089 [a] [E] [•] 28/138 .024 89/138 .929 21/138 .047 19/213 .089 174/213 .802 20/213 .109 Dit. Oral ----- ----- ----- ------ ------ ----- 16/23 .636 6/23 .349 1/23 .015 [ ià ] ----- ----- ----- ----- ----- ----- 1/28 .000 6/28 .036 21/28 .964 [ aà ] [ oà ] [ eà ] 6/29 .059 8/29 .792 15/29 .150 12/73 .180 56/73 .737 5/73 .084 TOTAL 347/615 123/615 145/615 356/777 318/777 106/777 * Dado fictício 63 64 A primeira questão que se deseja responder é esta: quais são os contextos vocálicos contíguos mais favorecedores e de quais variantes das médias pretônicas? Por hipótese, a vogal da sílaba imediatamente seguinte influencia grandemente o comportamento da média pretônica, na medida em que esta assimila a altura daquela vogal, mas como age sobre isso a tonicidade? Para responder essas questões e examinar esta hipótese, inicialmente, serão verificados os resultados dos contextos contíguos tônico e átono, confrontando-se os pesos relativos das tabelas 1 e 2. Comparem-se, primeiro, os resultados de contextos de vogais altas. Tônica Cont.(Tabela 1) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [i] .178 .014 .808 .351 .027 .623 [u] .478 .068* .455 .117 .243 .640 Átona da síl. Seguinte (Tabela 2) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [i] .336 .181 .482 .539 .063 .398 [u] .389 .031 .580 .566 .201 .233 As vogais altas em posição contígua, sejam tônicas ou átonas, geralmente apresentam-se como favoráveis ao alteamento, exceto quanto ao alteamento da anterior quando seguida de [u] átono, cuja probabilidade de .233 é desfavorecedora. Em contextos átonos, aliás, para a anterior, é a manutenção a variante favorecida pelas vogais altas, como se vê acima com os pesos .539 e .566; para as posteriores, nesses mesmos contextos, a manutenção, além do alteamento, também é favorecida, mas com pesos próximos da irrelevância. 65 Os contextos de vogais médias contíguas, tônicas ou átonas, sempre favorecem a manutenção das médias pretônicas com índices de probabilidade de médio para alto. Além disso, observa-se um comportamento relativamente favorável dos contextos de [e] sobre o alteamento da posterior, com pesos .443 e .342, como se pode observar nos quadros abaixo. Tônico contíguo (Tabela 1) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [e] .521 .036 .443 .871 .010 .119 [o] .757 .020 .223 .714 .018 .267 Átono da síl. Seguinte (Tabela2) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [e] .409 .248 .342 .719 .019 .262 [o] .846 .061 .093* .758 .153 .089 O contexto de vogais baixas orais contíguas, tônicas ou átonas, favorece unicamente a ocorrência das variantes baixas, com probabilidadedes próximas do índice de aplicação categórica, .921 e .925, como se vê abaixo. Tônico contíguo (Tabela 1) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [a] [E] [•] .019 .921 .060 .047 .925 .029 Dit. oral .451 .382 .168 .514 .143 .344 Átono da síl. Seguinte (Tabela 2) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [a] [E] [•] .024 .929 .047 .089 .802 .109 Dit. oral ----- ----- ----- .636 .349 .015 66 Ainda nesses quadros, observa-se que ditongo oral contíguo, tônico ou átono, sempre é favorável à manutenção das médias, exceto quando átono para a série das posteriores, onde não foram gerados resultados probabilísticos; ainda no contexto de ditongo oral, o favorecimento da variante baixa posterior , com .382 quando ditongo tônico, e da variante baixa anterior, com .349 quando ditongo átono, é apontado por pesos relativos não significantes, ou próximos do valor de irrelevância. De qualquer forma, tem-se no ditongo oral contíguo o único contexto vocálico que, concomitantemente, propicia outra variante ao lado do abaixamento. Isso faz lembrar que, linhas acima, os contextos de vogais altas e de médias contíguas, especialmente os contextos da anterior [e], apresentaram probabilidades que geralmente fazem supor uma espécie de cumplicidade entre as variantes altas e médias em oposição às baixas, estas que só adquiriram probabilidade favorável quando aquelas foram inibidas simultaneamente em contextos de [a, E, •]. Um re-exame desses valores pode verificar a suposta concorrência altas e médias versus baixas. Para tanto, observem-se no conjunto de resultados vistos até agora, os índices de probabilidade mais baixos, destacados em azul, principalmente aqueles tendentes à não aplicação – assim considerados aqueles menores que .100 destacados em azul-claro: Tônicas Cont. (Tabela 1) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [i] .178 .014 .808 .351 .027 .623 [u] .478 .068* .455 .117 .243 .640 Átonas da síl. Seguinte (Tabela 2) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [i] .336 .181 .482 .539 .063 .398 [u] .389 .031 .580 .566 .201 .233 Tônico contíguo (Tabela 1) 67 [o] [•] [u] [e] [E] [i] [e] .521 .036 .443 .871 .010 .119 [o] .757 .020 .223 .714 .018 .267 Átono da síl. Seguinte (Tabela2) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [e] .409 .248 .342 .719 .019 .262 [o] .846 .061 .093* .758 .153 .089 Tônico contíguo (Tabela 1) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [a] [E] [•] .019 .921 .060 .047 .925 .029 Dit. oral .451 .382 .168 .514 .143 .344 Átono da Síl. Seguinte (Tabela 2) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [a] [E] [•] .024 .929 .047 .089 .802 .109 Dit. oral ----- ----- ----- .636 .349 .015 Geralmente com índices de probabilidade próximos da não aplicação, como se vê no destaque em azul-claro, os contextos de médias e altas contíguas sempre desfavoreceram as variantes baixas, enquanto favorecem as duas outras variantes na maioria das vezes. Assim, talvez se possa referir uma provável tendência a um efeito negativo do contexto de altas e de médias contíguas sobre o abaixamento das médias pretônicas, fato que parece reforçado quando, no contexto de [u] tônico contíguo, para a variante baixa posterior, a análise não gerou resultado pela inexistência de ocorrências. Por outro lado, observados os resultados dos contextos de [a, E, •], a situação se inverte: as variantes baixas são favorecidas, enquanto as variantes médias e altas são desfavorecidas, estas com probabilidades próximas à não aplicação. 68 Quanto ao contexto de ditongo oral, apesar de ser observável o favorecimento das variantes fechadas, não se pode seguramente afirmar aí tal tendência, pois não há resultados gerados em posição átona para as posteriores. Portanto, até este ponto o que se pode afirmar, com certa segurança, é que: – os contextos de vogais médias favorecem principalmente a manutenção, com probabilidades médias; os contextos de vogais altas geralmente favorecem o alteamento, também com probabilidades médias; e os contextos de vogais baixas favorecem exclusivamente o abaixamento, sempre com probabilidades muito altas; – as tendências evidenciadas são comuns entre contextos tônicos e átonos, entretanto, possivelmente há um comportamento de probabilidades mais altas quando os contextos favorecedores são tônicos. Com a segunda dessas duas conclusões preliminares, surge a questão sobre a diferença entre o efeito dos contextos tônicos e átonos, que será verificada daqui algumas páginas. Agora, passa-se a examinar os contextos vocálicos classificados como nasais, ainda opondo posição tônica à átona. Inicialmente não foi levantada nenhuma hipótese que sugerisse tratar o traço nasalidade da vogal contextual como um fator cujo efeito pudesse se destacar. Entretanto, os contextos vocálicos considerados nasais mostraram resultados singulares, ainda que o número insuficiente de dados não permitisse gerarem-se probabilidades para todos esses contextos, como se pode ver abaixo. Tônico contíguo (Tabela 1) [ ià ] [ uà] [o] [•] [u] [e] [E] [i] .018 .024* .958 .159 .010 .830 .081 .353 .566 69 [aà] [eà] [oà] .022 .957 .021 .066 .896 .038 Dit. nasal .047 .903 .050 ----- ------ ------ Átono da síl. seguinte (Tabela 2) [o] [•] [u] [e] [E] [i] ---- ---- ---- .000 .036 .964 [aà] [eà] [oà] .059 .792 .150 .180 .737 .084 Dit. nasal ---- ---- ----- ----- ----- ----- [ ià ] [ uà] Esses vazios, porém, não impedem encontrarem-se elementos para algumas inferências. Por exemplo, o contexto de / ià / em posição tônica ou átona favorece o alteamento das médias pretônicas com índices de probabilidade sempre maiores que os do contexto oral da mesma vogal: enquanto / ià / favorece o alteamento com índices entre .830 e .964, /i/ favorece com índices entre .398 e .808. Já o efeito do contexto de / uà/ só pôde ser observado em posição tônica, para a média anterior, em que o alteamento foi favorecido. Para a média posterior em contexto de / uà/ tônico não se geraram resultados, bem como não se geraram resultados para ambas as séries em contexto de / uà/ átono. Quanto aos contextos de [aà, eà, oà], cujo efeito lembra o do contexto das baixas [a, E, •], sempre favorecem o abaixamento, com índices muito altos em posição tônica e menos altos em posição átona. No contexto de ditongo nasal, por sua vez, geraram-se resultados apenas em posição tônica, e para a série das posteriores: o efeito aí, assemelhado ao das vogais baixas e das nasais [aà, eà, oà], é o favorecimento da variante baixa com probabilidade muito alta. Dentre os contextos nasais acima, [aà, eà, oà] são os únicos que autorizam alguma conclusão por terem registrado ocorrências em todas as posições e para ambas as séries, das posteriores e das anteriores. Portanto, pode-se dizer que os 70 contextos nasais [aà, eà, oà] favorecem com grande probabilidade o abaixamento e que, por hipótese, já que os resultados desta análise não autorizam uma conclusão mais segura, os contextos nasais em geral comportam-se semelhantemente aos seus correspondentes orais em relação à variação das vogais médias pretônicas . Passa-se agora à questão elaborada linhas atrás: terá o contexto tônico contíguo maior probabilidade de ser assimilado pela pretônica que o contexto átono contíguo? Noutras palavras, o que se quer saber é qual o papel da tonicidade na regra de assimilação das vogais médias pretônicas. Para isso, será necessária ainda uma verificação em torno dos valores probabilísticos geralmente mais altos, opondo-se contextos tônicos a átonos, para medir a relevância do traço tonicidade na referida regra. Contexto tônico contíguo [u] [i] [i] .808 .623 [u] .455 .640 Contexto átono contíguo [u] [i] [i] .482 .398 [u] .580 .233 Contexto tônico contíguo [o] [e] [e] .521 .871 [o] .757 .714 Contexto átono contíguo [o] [e] [e] .409 .719 [o] .846 .758 71 Contexto tônico contíguo [a] [E] [ •] [•] [E] .921 .925 Contexto átono contíguo [a] [E] [ •] [•] [E] .929 .802 Tônico contíguo (Tabela 1) /aà/ /eà/ /oà/ [•] [E] .940 .896 Átono da síl. seguinte (Tabela 2) [aà] [eà] [oà] [•] [E] .792 .737 Comparativamente, os pesos relativos dos contextos tônicos não apresentam frequentemente os índices mais altos. Comportam-se dessa maneira apenas os contextos das anteriores [i] e [e] e das nasais [aà, eà, oà], em que os índices favorecedores sempre foram maiores em posição tônica. Entretanto, somente uma amostra mais ampla autorizaria conclusões a esse respeito. Ainda como parte dessa mesma questão sobre o papel da tonicidade nas regras em questão, é valido verificar o comportamento dos contextos tônicos não contíguos, cujos resultados apresentam-se a seguir na tabela 3. TABELA 3 VOGAL TÔNICA NÃO-CONTÍGUA loku'saàw, progaàma'saàw, iàtEri'o, piri'gozu [o] [•] [u] [e] [E] [i] Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P [i] 42/85 .272 26/85 .580 17/85 .148 54/97 .303 35/97 .508 8/97 .189 [e] 33/49 .421 1/49* .317 15/49 .262 22/43 .239 12/43 .456 9/43 .305 [o] 39/68 .260 10/68 .326 19/68 .414 40/72 .215 30/72 .687 2/72 .098 [a] [E] [•] 103/194 .388 35/194 .383 56/194 .229 102/287 .165 142/287 .654 43/287 .181 [aà] [eà] [oà] 47/82 .425 24/82 .402 11/82 .173 57/119 .248 48/119 .655 14/119 .097 Dit. Oral 45/72 .342 3/72 .384 24/72 .274 34/80 .188 25/80 .463 21/80 .350 Dit. Nasa 48/78 .607 24/78 .305 6/78 .088 35/83 .179 44/83 .678 4/83 .144 TOTAL 357/628 123/628 148/628 344/781 336/781 101/781 *Dado Fictício 72 73 A verificação dos resultados dos contextos tônicos não contíguos será orientada pela hipótese seguinte: é o contexto vocálico contíguo que desencadeia o processo de assimilação, enquanto a tonicidade é fator apenas cooperante. Em conseqüência disso, as questões que se colocam são: o contexto tônico não contíguo sempre terá seu efeito interceptado pelo efeito dos contextos átonos contíguos? Ou será possível descobrir um comportamento previsível como ocorreu na análise dos contextos contíguos? Para responder a essas perguntas, serão confrontados os resultados das tabelas 3 e 1, opondo-se, portanto, contexto tônico não contíguo a tônico contíguo. Vejam-se abaixo os resultados em contextos de vogais altas. Tônico contíguo (Tabela. 1) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [i] .178 .014 .808 .351 .027 .623 [u] .478 .068* .455 .117 .243 .640 Tônico não-contíguo (Tabela. 3) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [i] .272 .580 .148 .303 .508 .189 [u] ---- ---- ---- ---- ---- ---- Como se pode notar de imediato, para o contexto de [u] não contíguo não se geraram resultados. Mas o contexto de [i] não contígua, para o qual foram gerados resultados, não apresenta o efeito de favorecimento do alteamento que naturalmente se poderia esperar, ao contrário do que ocorre nas posições contíguas. O fato de não se haverem gerado resultados para o contexto de [u] não contíguo, à parte a possível limitação da amostra, por si mesmo pode estar indicando a ineficiência do contexto não contíguo para avaliar o comportamento variável das vogais 74 médias pretônicas, especialmente porque a vizinhança de altas, naturalmente favoreceria fortemente a ocorrência de variantes altas. Abaixo, comparem-se os resultados dos contextos de [e] e [o] não conítiguos e . [e] e [o] contíguos. Tônico contíguo (Tabela 1) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [e] .521 .036 .443 .871 .010 .119 [o] .757 .020 .223 .714 .018 .267 Tônico não-contíguo (Tabela 3) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [e] .421 .317 .262 .239 .456 .305 [o] .260 .326 .414 .215 .687 .098 Face aos resultados dos contextos contíguos de [e] e [o], como se pode ver acima, os resultados dos contextos não contíguos não apontam a mesma tendência de favorecimento à manutenção das médias pretônicas. Quanto aos contextos de vogais baixas, como se pode ver nos quadros que seguem, a posição tônica não contígua favorece o abaixamento das médias, mas não de forma exclusiva e com probabilidades mais baixas que aquelas apresentadas pelos mesmos contextos em posição contígua. Vejam-se abaixo os resultados para essas duas posições: Tônico não-contíguo – Tabela 3 [a] [E] [ •] [o] [•] [u] [e] [E] [i] .388 .383 .229 .165 .654 .181 Tônico contíguo – Tabela 1 75 [a] [E] [ •] [o] [•] [u] [e] [E] [i] .019 .921 .060 .047 .925 .029 Para os contextos de nasais [aà, eà, oà], confrontando-se as posições contíguas e não contíguas , o que se apresenta não é muito diferente do contexto acima. Observem-se os resultados nos dois quadros: Tônico não-contíguo – Tabela 3 [aà] [eà] [ oà] [o] [•] [u] [e] [E] [i] .425 .402 .173 .248 .655 .097 Tônico contíguo – Tabela 1 [aà] [eà] [ oà] [o] [•] [u] [e] [E] [i] .022 .957 .021 .066 .896 .038 A tendência ao favorecimento das variantes baixas em contextos contíguos de nasais [aà, eà, oà] não se repete da mesma forma, no mesmo contexto, em posição não contígua, ou seja, a tendência bem definida no primeiro caso se desfaz quando essas vogais contextuais se afastam uma ou mais sílabas da média pretônica. Em síntese, todos os casos comparados acima levam ao mesmo fato: os contextos de favorecimento, em posição contígua, são geralmente desfeitos ao serem observados em posição não contígua. Da mesma forma, a maioria dos contextos de desfavorecimento em posição contígua, passam a contextos de favorecimento em posição não contígua. Sobre os contextos vocálicos da variação da vogal média pretônica, é possível apresentar algumas conclusões válidas para o dialeto da zona urbana de Bragança, baseadas na amostra analisada. Para isso, apresentam-se nas Considerações Finais os principais achados desta seção da análise. 76 Mas antes de finalizar esta seção, pretende-se verificar outra questão. Em relação à maneira como se chegou a essas conclusões preliminares, através dos pesos relativos ou probabilidades, há duas perguntas que se podem fazer: o que indicam os valores absolutos, também fornecidos nas tabelas apresentadas? Esses valores, assim como as porcentagens que o programa forneceu, podem sustentar as mesmas interpretações feitas a partir das probabilidades? Para responder a essas perguntas, tomem-se como exemplos os valores absolutos fornecidos pelas tabelas 1 e 2, para os contextos de altas contíguas tônicas e átonas, destacados em vermelho os valores que apontam maior número de ocorrências. Tônicas contíguas (Tabela 1) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [i] 57/174 3/174 114/174 155/265 16/265 94/265 [u] 18/24 1/24* 5/24 5/17 6/17 6/17 Átona da síl. seguinte (Tabela 2) [o] [•] [u] [e] [E] [i] [i] 100/154 16/154 38/154 175/259 57/259 27/259 [u] 86/114 2/114 26/114 36/64 14/64 14/64 A falta de simetria, imediatamente percebida no contraste de cores, já aponta a não confirmação daquelas conclusões a que se chegou pelas probabilidades. Se estes valores absolutos forem vistos no detalhe, teremos que a freqüência pode se opor às evidências dos pesos relativos. Embora noutros contextos, isso não ocorra sempre assim, o fato é que valores absolutos ou porcentagens são índices de outra natureza bem distintos das probabilidades. A realidade percentual, bem como o valor absoluto, considera a ocorrência de um fator pelo conjunto no qual ele se insere, apresentando um dado onde na verdade estão cruzadas as ocorrências de vários outros fatores além daquele que se quer examinar. Quanto aos pesos relativos, o que se tem é a avaliação isolada do fator a 77 partir de suas chances de ocorrência, calculadas pela razão entre o total dos eventos em que este fator poderia ocorrer e aqueles em que ele realmente ocorreu28. Por essa razão, são os pesos relativos os principais índices dessa análise estatística, e não as freqüências 5.2 CONTEXTO CONSONANTAL DA REGRA É a vogal seguinte o elemento desencadeador da assimilação, mas ao lado dela outros elementos estruturais também interferem nesse processo. O contexto fonológico da vogal média pretônica, hipoteticamente, influencia na manutenção, abaixamento ou alteamento dessa vogal em função do ponto onde se dá a obstrução na realização da consoante que antecede ou da que segue. É essa hipótese, e como ela de dá, que se pretendeu verificar com os resultados das tabelas 3 e 4, a seguir . Antes de se passar a discussão desses resultados, é preciso dizer que inicialmente considerou-se, principalmente pelo ponto de articulação, a classificação das consoantes vizinhas como bilabiais, labiodentais, alveodentais, sibilantes, palatais, velares e fricativa glotal ou posterior. Após a primeira rodada, feita com um universo maior de dados, quando se excedeu o limite de células permitido pelo programa de regra variável e se necessitou amalgamar fatores, optou-se por unir bilabiais e labiodentais como um mesmo fator – as labiais. Portanto os resultados que se apresentam nas tabelas a seguir, referem-se a labiais, alveodentais, sibilantes, palatais, velares e fricativa glotal ou simplesmente posterior. 28 Vieira (1981, p. 113) apresenta a definição clássica de probabilidade da seguinte forma: “se são possíveis n eventos mutuamente exclusivos e igualmente prováveis, se m desses eventos têm o atributo A, então a probabilidade de que ocorra um evento com atributo A é dada pela razão m/n.” TABELA 4 CONSOANTE ANTECEDENTE [o] [•] [u] [e] [E] [i] Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P LABIAIS 178/608 .179 256/608 .102 174/608 .719 306/681 .433 308/681 .334 67/681 .233 ALVEOD. 217/443 .260 149/443 .581 77/443 .159 413/792 .445 359/792 .498 20/792 .058 SIBILANTES 45/76 .373 7/76 .193 24/76 .435 120/306 .350 99/306 .226 87/306 .424 PALATAIS 14/61 .226 46/61 .590 1/61 .184 79/240 .032 42/240 .014 119/240 .954 VELARES 225/559 .249 155/559 .220 179/559 .531 28/73 .132 18/73 .459 27/73 .409 14/35 .538 19/35 .354 2/35 .108 98/214 .440 110/214 .503 6/214 .056 POSTERIOR TOTAL 693/1782 632/1782 457/1782 1044/2306 936/2306 326/2306 78 TABELA 5 CONSOANTE SEGUINTE [o] [•] [u] [e] [E] [i] Aplic/total P Aplic/total P Aplic/total P Aplic/total P Aplic/total P Aplic/total P LABIAIS 234/503 .448 88/503 .103 181/503 .449 204/402 .405 166/402 .252 32/402 .342 ALVEOD. 136/481 .249 270/481 .557 75/481 .194 172/410 .383 193/410 .273 45/410 .344 SIBILANTE 44/116 .186 14/116 .030 58/116 .784 323/606 .349 204/606 .310 79/606 .340 PALATAL 124/275 .336 49/275 .322 102/275 .342 148/312 .195 68/312 .086 96/312 .719 VELAR 64/157 .218 76/157 .545 17/157 .237 119/341 .164 151/341 .210 71/341 .626 POSTERIOR 91/249 .157 135/249 .800 23/249 .043 78/235 .179 154/235 .804 3/235 .017 TOTAL 693/1781 632/1781 456/1781 1044/2306 936/2306 326/2306 79 80 Tomando-se os pesos relativos atribuídos a cada fator nas duas tabelas, temos o seguinte Posição antecedente (Tabela 3) [o] [•] [u] [e] [E] [i] Labiais .179 .102 .719 .433 .334 .233 Alveodentais .260 .581 .159 .445 .498 .058 Sibilantes .373 .193 .435 .350 .226 .424 Palatais .226 .590 .184 .032 .014 .954 Velares .249 .220 .531 .132 .459 .409 Posterior .538 .354 .108 .440 .503 .056 Em posição antecedente, favorecem a manutenção das médias pretônicas, a fricativa glotal com probabilidade significante, e as sibilantes com probabilidade tendente à irrelevância; as alveodentais favorecem apanas a manutenção da média anterior. O abaixamento das médias pretônicas é favorecido, em posição antecedente, pelas alveodentais, e pela fricativa glotal ou posterior, esta que não oferece tão boa probabilidade de abaixamento para a média posterior quanto oferece para a anterior; já as palatais propiciam apenas o abaixamento das posteriores, com boa probabilidade. O alteamento é favorecido, em posição antecedente, pelas sibilantes e pelas velares com probabilidade razoável; as labiais favorecem apenas o alteamento da posterior, com boa probabilidade Posição seguinte (Tabela 4) [o] [•] [u] [e] [E] [i] Labiais .448 .103 .449 .401 .425 .354 Alveodentais .249 .557 .194 .383 .273 .344 Sibilantes .186 .030 .784 .349 .310 .340 Palatal .336 .322 .342 .195 .086 .719 Velar .218 .545 .237 .164 .210 .626 Posterior .157 .800 .043 .179 .804 .017 81 Quanto as consoantes em posição seguinte, a manutenção da pretônica é favorecida pelas labiais com bons índices de probabilidade; as alveodentais e as sibilantes favorecem apenas a manutenção da anterior, com índices próximos da irrelevância. O abaixamento é favorecido pela fricativa glotal; as labiais favorecem apenas o abaixamento da vogal anterior; enquanto as alveodentais e velares favorecem apenas o abaixamento da vogal posterior. O alteamento da vogal posterior é favorecido pelas palatais, com índice próximo da irrelevância; o alteamento da vogal anterior é favorecido com bons índices de probabilidade pelas palatais e pelas velares, mas com índices quase irrelevantes pelas labiais, alveodentais e sibilantes em posição seguinte. Agora, a discussão passará a verificar cada um dos fatores, e para isso tomará em sessões os resultados probabilísticos acima. Tomaram-se inicialmente os resultados das labiais em contexto antecedente e seguinte [o] [•] [u] [e] [E] [i] Antecedente .179 .102 .719 .433 .334 .233 Seguinte .448 .103 .449 .405 .252 .342 O efeito favorável das labiais, simultaneamente em posição antecedente e seguinte, incide sobre: a aplicação do alteamento da vogal média posterior; e sobre a aplicação da manutenção da média anterior. Já o efeito desfavorável das labiais, simultaneamente nas duas posições, incide sobre o abaixamento da vogal média posterior. Se partirmos da hipótese de que as labiais seriam contexto desfavorecedor das vogais mais altas, em virtude de não incluírem em sua produção a elevação da língua, por outro lado, podemos justificar, ao menos, o favorecimento da 82 variante [e]. Um outro traço das labiais que deve estar atuando é a labialidade ou arredondamento, que também caracteriza, em graus diferentes, os segmentos [o] e [u], formas das variantes favorecidas, a primeira quando a labial em posição seguinte; e a segunda quando a labial ou numa ou noutra posição. Já as variantes [•] [E], ou abaixamento, sempre desfavorecidas pelas labiais, implicam diminuição do arredondamento dos lábios e posicionamento mais baixo da língua; bem como a variante [i] implica distenção dos lábios e posicionamento mais alto da língua. Portanto, a produção das variantes [•], [E], [i] afasta-se mais da articulação das labiais, contrariamente ao que ocorre com as variantes [o],[u],[e] As alveodentais em posição antecedente e seguinte, cujos resultados estão abaixo, sempre favorecem o abaixamento, e desfavorecem as outras variantes. [o] [•] [u] [e] [E] [i] Antecedente .260 .581 .159 .445 .498 .058 Seguinte .249 .557 .194 .383 .273 .344 Como se trata de articulação que subentende elevação da ponta da língua, supôs-se que as alveodentais propiciassem a ocorrência das variantes mais altas. Contrariamente, em ambas as posições não é o alteamento, ou mesmo a manutenção a realização favorecida. Isso leva à consideração de mais um aspecto da produção das alveodentais: trata-se de um tipo de articulação em que se eleva a ponta da língua, mas se mantém a maior parte do corpo desse órgão abaixado. Consideradas desse modo, parece mais natural que as alveodentais propiciem variantes mais baixas que médias ou altas Quanto às sibilantes, o que se apresenta com índices mais bem definidos é o alteamento da vogal média posterior; o alteamento da média anterior possui bom índice de favorecimento com sibilantes apenas em posição antecedente. [o] [•] [u] [e] [E] [i] 83 Antecedentes .373 .193 .435 .350 .226 .424 Seguintes .186 .030 .784 .349 .310 .340 A classe das sibilantes foi, na verdade, definida pelo modo de articulação – critério que, na classe das alveodentais, também destaca as laterais e as oclusivas. A razão porque as sibilantes foram isoladas do grupo das alveodentais, neste estudo, reside no fato de a literatura já haver considerado as sibilantes fator atuante na variação da vogal média pretônica, além de o contato com os dados haver provocado algumas questões. As palatais apresentam um resultado interessante, na medida em que não favorecem o alteamento da média posterior, mas favorecem o alteamento da média anterior. Ainda nesses resultados, surpreende que as palatais em posição antecedente favoreçam o abaixamento da média posterior, uma vez sendo consoante alta. Esse comportamento que, de certa forma, podemos chamar dissimilador, já foi verificado em outros estudos. [o] [•] [u] [e] [E] [i] Antecedentes .226 .590 .184 .032 .014 .954 Seguintes .336 .322 .342 .195 .086 .719 É preciso observar, entretanto, que ao menos em relação à anterioridade é a variante alta anterior, e não a posterior, a que mais se aproxima do ponto de articulação das palatais Quanto às velares, em ambas as posições favorecem apenas o alteamento da média anterior; outras variantes são favorecidas mas numa ou noutra posição. [o] [•] [u] [e] [E] [i] Antecedentes .249 .220 .531 .132 .459 .409 Seguintes .218 .545 .237 .164 .210 .626 Esse resultado é apenas em parte o esperado, uma vez que sendo as velares consoantes altas, supôs-se que propiciassem o alteamento nas duas séries das 84 médias pretônicas. O resultado, entretanto, confirmou isso para a média anterior; para a posterior, a variante [u] é favorecida apenas quando há consoante velar em posição antecedente, velares em posição seguinte desfavorecem essa variante. A fricativa glotal, em ambas as posições, favorece apenas a manutenção da média anterior. Em posição antecedente, essa consoante favorece com bons índices de probabilidade as variantes [o] e [e]; em posição seguinte favorece com alto índice de probabilidadea variante [•]. [o] [•] [u] [e] [E] [i] Antecedente .538 .354 .108 .440 .503 .056 Seguinte .157 .800 .043 .179 .804 .017 Em relação à posição seguinte, esses resultados confirmam uma tendência já observada desde o português arcaico quanto à ocorrência de [•] seguido de fricativa glotal, como em mórtecor, mórdomo, córagem., exemplos citados à página 15 do presente estudo. Os fatores desfavorecedores para qualquer das variantes raras vezes chegam a níveis próximos da não aplicação, bem como raras vezes são apresentados índices próximos da aplicação categórica. Apresenta-se, no contraste de cores no quadro abaixo, a distribuição desses índices para os fatores da consoante antecedente: fatores desfavorecedores próximos da não aplicação categórica, aqueles abaixo de .100, são indicados com marcas vermelhas; fatores favorecedores próximos da aplicação categórica, aqueles maiores que .900, são indicados com marcas azuis; indicaram-se também fatores com índices médios de favorecimento, índicados com marcas verdes; aqueles com índices médios de desfavorecimento, com marcas pretas; e aqueles com índices na faixa considerada muito próxima da irrelevância, de .273 a .383, com marcas amarelas. [o] [•] [u] [e] [E] [i] Labiais X X X X X X Alveodentais X X X X X X Sibilantes X X X X X X 85 Palatais X X X X X X Velares X X X X X X Posterior X X X X X X Como se observa, quanto ao efeito das consoantes antecedentes, apenas as palatais apresentam índice próximo da aplicação categórica, quando favorece a ocorrência da variante [i]; enquanto que índices próximos à não-aplicação categórica são resultados do efeito das alveodentais sobre a aplicação de [i], das palatais sobre [e] e [E], e da fricativa glotal sobre [i]. Dentre esses casos, o efeito das palatais sobre a série das anteriores, favorecendo grandemente o alteamento e desfavorecendo grandemente as duas outras variantes, toma a forma bem definida do que podemos chamar distribuição complementar, também manifestada, mas de forma menos definida, para os casos em que se opõem índices favoráveis a índices desfavoráveis dentro de uma série, para os efeitos de um determinado fator: como exemplo, o efeito desfavorável das labiais em posição antecedente sobre a aplicação de [e] e de [E], oposto ao efeito favorável das mesmas consoantes sobre a aplicação de [i]. Ainda no quadro acima, é possível observar quais consoantes em posição antecedente atuam favorecendo as mesmas variantes em ambas as séries. Assim, vemos que a manutenção é favorecida nas duas séries, posterior e anterior, apenas pela fricativa glotal; o abaixamento é favorecido nas duas séries apenas pelas alveodentais; e o alteamento é favorecido nas duas séries pelas sibilantes e pelas velares. Se criarmos um quadro semelhante para consoante seguinte, teremos o que se apresenta abaixo: [o] [•] [u] [e] [E] [i] Labiais X X X X X X Alveodentais X X X X X X Sibilantes X X X X X X Palatais X X X X X X Velares X X X X X X Posterior X X X X X X 86 X Fator favorável/ X Próximo da irrelevância/ X Desfavorável/ X Próximo da não-aplicação Pelo contraste de cores, pode-se observar que: o fator consoante seguinte não produz índices próximos da aplicação categórica; já os índices próximos da nãoaplicação categórica resultam dos efeitos das sibilantes sobre a aplicação de [•], da fricativa glotal sobre [u] e [i], e das palatais sobre [E]. Na situação aí apresentada, o que se propôs como distribuição complementar manifesta-se na maioria dos casos onde, por exemplo, opõe-se um efeito favorável à dois outros desfavoráveis. Ainda no quadro acima, as consoantes em posição seguinte que atuam favorecendo as mesmas variantes em ambas as séries, são: as labiais, que favorecem a manutenção; e a fricativa glotal, que favorece o abaixamento. Portanto, juntando a isso o que se pôde ver no quadro dos efeitos da consoante antecedente, é possível concluir que não há um comportamento favorecedor de uma das variantes, que possa ser generalizado para as duas séries de vogais médias pretônicas; de outro modo, é possível encontrar, tanto em posição antecedente quanto seguinte, índices próximos da irrelevância no efeito da fricativa glotal sobre [i], e no efeito das palatais sobre [E]. 87 5.3 CONTEXTO DA REGRA EM DOIS EIXOS PARADIGMÁTICOS Caráter Átono da Pretônica no Paradigma O exame dessa variável apóia-se na hipótese de que a vogal média pretônica tenderia a manter a natureza da vogal tônica com que estivesse relacionada em palavra primitiva, como em popula'saàw cuja primitiva é p[o]vo, ou sE'teàbru cuja primitiva é s[E]te, em função de o falante guardar na lembrança a natureza da vogal acentuada (Bisol, 1981). Silva (1989), ao referir as listas ortográficas de gramáticos do português antigo como Fernão de Oliveira e Caetano de Lima, explica através do mecanismo exposto acima a ocorrência das formas abertas [E] e [•] documentadas e prescritas por esses gramáticos, como em estópada, sótavento, séttáda, sélvática, em que a forma vocálica tônica primitiva determina a natureza aberta da átona derivada, na qual inside o acento secundário29. Dentre os estudos sobre o comportamento de vogais pretônicas aqui considerados, aqueles que lançaram mão do exame da pretônica relacionada à tônica primitiva em um determinado paradigma derivacional (Bisol, 1981 e Silva, 1989), utilizaram o pressuposto de que a vogal tônica pode ocorrer em qualquer palavra do paradigma e não necessariamente na palavra primitiva, bem como admitiram a busca daquela relação dentro do paradigma flexional, além do derivacional30. Portanto, a hipótese que orienta a verificação dessa variável em questão na presente análise, consiste em supor que o comportamento variável da vogal média 29 O acento secundário ou dito subtônico, de menor intensidade que o tônico, pode ocorrer, em português, sobretudo em derivados de três ou mais sílabas (Lima: 1992, p. 20), ou em certos compostos e derivados (Coutinho: 1976, p. 82). 30 Isso é atestado muitas vezes na exemplificação das autoras, como em “créscente ~ crêsço e crésce (Silva, 1989, p. 184). 88 pretônica no falar da cidade de Bragança, também receba essa interferência, a partir de qualquer palavra do paradigma derivacional ou flexional. Para fazer referência aos fatores dessa variável31 de forma mais prática, simplificaram-se as definições da seguinte maneira: Átona casual relacionda à tônica de altura variável, incluindo alta, passou a definir-se por Parentes inclusive alto; Átona casual relacionada à tônica de altura variável entre média e baixa, passou a definir-se por Parentes médio e baixo; Átona casual relacionada à tônica baixa, passou a definir-se por Parente baixo; Átona casual relacionada à tônica média, passou a definir-se por Parente médio; Átona permanente manteve esta mesma definição. A seguir são apresentados os resultados gerados para essa variável 31 Silva (1989, p. 81) introduziu a seguinte classificação de fatores para a variável em questão: o fator átona casual relacionada à tônica de altura variável apresenta-se em dois subtipos – o fator átona casual relacionada à tônica ora baixa ora média, e o fator átona casual relacionada à tônica ora alta ora média; Bisol (1981) manteve apenas um fator relacionado à tônica de altura variável. – aquele que inclui átona relacionada também à tônica alta. É a divisão proposta por Silva (1989) o modelo aqui adotado. TABELA 6 CARÁTER ÁTONO DA PRETÔNICA NO PARADIGMA [o] Apli/total Parentes inc. [•] P Apli/total [u] P Apli/total [e] P Apli/total [E] P Apli/total [i] P Apli/total P 19/69 .197 2/69 .113 48/69 .690 84/195 .094 34/195 .324 77/195 .581 120/257 .255 127/257 .715 10/257 .030 188/299 .440 99/299 .341 12/299 .219 Parente Baixo 99/444 .132 296/444 .772 49/444 .096 113/424 .102 270/424 .468 41/424 .430 Parente Médio 49/114 .277 6/114 .028 59/114 .695 117/148 .890 28/148 .100 3/148 .010 406/897 .293 201/897 .314 290/897 .393 542/1240 .116 505/1240 .085 193/1240 .799 Alto Parentes Médio e Baixo Átona Permanente TOTAL 693/1781 632/1781 456/1781 1044/2306 936/2306 326/2306 89 90 Em linhas gerais, a questão que inicialmente deve orientar o exame desses fatores, é a seguinte: a partir dessa variável, haverá alguma tendência que se generalize no corpus examinado, à maneira da assimilação das vogais contextuais, como já foi visto no subtópico 5.1? Para verificar essa questão, tomem-se os pesos relativos: [o] [•] [u] [e] [E] [i] Parentes inc. alto .197 .113 .690 .094 .324 .581 Parentes médio e baixo .255 .715 .030 .440 .341 .219 Parente baixo .132 .772 .096 .102 .468 .430 Parente médio .277 .028 .695 .890 .100 .010 Átona Permanente .293 .314 .393 .116 .085 .799 Favorecem a manutenção, apenas da anterior, o fator parentes médio e baixo e o fator parente médio. Favorece o abaixamento, de ambas as séries, o fator parente baixo; favorece o abaixamento, apenas da posterior, o fator parentes médio e baixo. Favorecem o alteamento, de ambas as séries, os fatores parentes inclusive alto e átona permanente; favorece o alteamento, apenas da posterior, o fator parente médio; bem como, favorece o alteamento, apenas da anterior, o fator parente baixo. Num aspecto, os resultados não diferem dos achados de Silva (1989), sobre o dialeto da cidade de Salvador, e dos achados de Bisol (1981), sobre o dialeto gaúcho: nesses estudos também propiciaram o alteamento a átona permanente e a átona relacionada à tônica de altura variável, aqui chamada parentes inclusive alto. Além dessas autoras, Pereira (1997), que também verificou o efeito dessa variável no dialeto pessoense, interpretou-a como irrelevante para o comportamento variável das vogais médias pretônicas. Já para o falar da cidade de Belém, o problema foi considerado em termos de difusão lexical e tratado de forma diferente (Nina, 1991). 91 Quanto à semelhança entre estes resultados alcançados para o dialeto de Bragança e os alcançados, por exemplo, por Bisol (1981), para o dialeto gaúcho, devese relativizá-la, ao menos quanto ao comportamento variável tomado a exame: no falar de Bragança, como no falar de Salvador ( Silva 1989), subentende-se a variação o::•::u, e::E::i das médias pretônicas; enquanto que no falar gaúcho, essa variação apresenta-se como o::u, e::i32. A variante abaixada das vogais médias pretônicas, não documentada no falar gaúcho (Bisol, 1981 e Battisti, 1993), é a segunda em freqüência no falar da cidade Bragança, bem como no falar da capital do estado – Belém (Nina, 1991); como também, é a que predomina nos falares nordestinos de Salvador (Silva, 1989) e de João Pessoa (Pereira, 1997). Sobre os pesos probabilísticos apresentados a partir dos dados de Bragança, pode-se considerar algumas questões. Quanto ao fator átona com parentes médio e baixo, o favorecimento da variante baixa, na série de posteriores, e da média ou manutenção, na série de anteriores, pediria a observação do conjunto de dados com esse fator isoladamente em cada série, no sentido de se verificar mais de perto essa diferença de efeito. Tal verificação só será possível noutro momento, em razão do tempo que irá exigir. Chamam atenção também os poucos fatores para os quais se geraram probabilidade próxima do índice de irrelevância: o fator átona permanente, para [o] e [•]; o fator átona com parente alto, para [E]; e átona com parente médio e baixo, para [E]. Esses valores sempre foram concomitantes, ao menos, a um caso de favorecimento: no primeiro caso a átona permanente favoreceu o alteamento, [u]; no segundo caso, a átona com parentes inclusive alto favoreceu o alteamento [i]; e no terceiro, a átona com parente médio e baixo favoreceu a manutenção [e]. Esses poucos índices de irrelevância ou neutralidade produzidos, sempre opostos a um efeito favorecedor, lembra o comportamento da vogal contextual, tomada nesta análise como o 32 Bisol (1981) apontou a dominância da manutenção das vogais médias pretônicas no dialeto gaúcho, fato confirmado por Callou, Leite & Moraes (1996) ao detectarem a não aplicação categórica do abaixamento das médias pretônicas nesse mesmo dialeto. Foi este fato que levou Bisol (1981) a interpretar a tendência de as pretônicas conservarem a altura média das tônicas a elas relacionadas, como interceptação da regra de elevação. Nos falares em que se documenta a variação o::•::u, e::E::i, tal interpretação talvez não se possa aplicar. 92 fator desencadeador da assimilação sobre a pretônica. Portanto, parece provocar uma questão que não poderá ser respondida agora: até que ponto a relação da vogal média pretônica com uma tônica primitiva pode ser considerada apenas fator interferente, e não desencadeador, como o é a vogal contextual, nas regras em questão? Passando-se, agora, a outro aspecto, vale a pena observar as freqüências produzidas para os fatores da variável caráter átono da pretônica. Parentes inc. Alto Parentes Médio e Baixo Parente Baixo Parente Médio Átona Permanente Total Absoluto [o] [•] [u] [e] [E] [i] 28% 3% 70% 43% 17% 39% 47% 49% 4% 63% 33% 4% 22% 67% 11% 27% 64% 10% 43% 5% 52% 79% 19% 2% 45% 22% 32% 44% 41% 16% 639/1781 632/1781 456/1781 1044/2306 936/2306 326/2306 Sobressai-se o grande universo de dados em que se conta a átona de caráter permanente, 897 ocorrências de /o/ e 1240 de /e/, superando em muito até o total imediatamente menor, o da átona relacionada à tônica baixa. Esse grande universo de dados, que conta cerca de 32% de ocorrências de alteamento da posterior e 16% de alteamento da anterior, produziu probabilidades favoráveis a essa variante, o alteamento, nas duas séries da média pretônica. Da mesma forma, apresentou-se o efeito do fator vogal pretônica com parentes inclusive alto: favoreceu o alteamento nas duas séries de vogais, mas a partir de um universo de dados bem menor. Por hipótese, como extensão da idéia que está no centro da questão proposta linhas acima, a respeito do efeito da presente variável como semelhante ao efeito da variável vogal contextual, poder-se-ia examinar, de forma isolada, os dados relativos ao fator átona permanente, para neles observar a atuação dos outros fatores, em especial, da vogal contígua ou contextual. O propósito seria verificar, nesses casos, se o processo de assimilação da vogal contextual sobre a pretônica torna-se uma tendência mais geral do que já se mostrou ser e, caso isso se confirmasse, propor que haja uma 93 ordem para a atuação de fatores nas regras de aplicação dessa ou daquela forma da vogal média pretônica. Ou seja, hipoteticamente, a vogal média pretônica quando casual sofreria o efeito da tônica subjacente ou, alternativamente, de outros fatores, dentre os quais também a vogal contextual; quando a pretônica átona permanente sofreria o efeito da vogal contextual ou, alternativamente, de outros fatores. Em síntese, esse procedimento do exame das átonas permanentes isoladas das átonas casuais pretenderia encontrar uma forma de investigação que mais claramente definisse os contextos de regras categóricas e variáveis como se pode supor que ocorram no comportamento das vogais médias pretônicas. A conclusão que se pode tomar com menos incerteza aqui, é a de que o eixo paradigmático, considerando-se a variável caráter átono da pretônica, pode ser tão atuante quanto o sintagmático, na aplicação das regras variáveis que regem o comportamento da pretônica. Entretanto, até aqui, o tratamento dado a essa variável deixará mais perguntas que respostas. Estas, na verdade, serão motivo para continuação dessa pesquisa. 94 Classe Morfológica O exame da atuação dessa variável no comportamento da média pretônica, é orientado pela hipótese de que certas classes de palavras, em função da presença de determinados componentes morfológicos, propiciariam ou não a aplicação de uma ou de outra das regras em questão. Para medir através de fatores relativos às classes gramaticais, o efeito que, porventura, o componente morfológico possa exercer no comportamento das médias pretônicas, admitiu-se a seguinte classificação: verbos, substantivos, adjetivos, pronomes, numerais, advérbios e conjunções. Entretanto, em razão da redução da amostra utilizada33, o surgimento de knockouts levou à necessidade de amalgamar a maioria desses fatores. A partir disso, os fatores finalmente considerados foram: nomes, em que se amalgamaram substantivos aos adjetivos; pronomes, em que se amalgamaram os próprio pronomes aos numerais; advérbios, em que se amalgamaram os próprios advérbios às conjunções; e verbos, que permaneceram sem amalgamação. Esse reagrupamento manteve juntas classes que obedecem ao mesmo paradigma flexional, ou que sejam consideradas invariáveis. Para as rodadas da vogal média anterior, /e/, entretanto, o fator numeral permaneceu isolado depois do apagamento do fator pronome, que apresentou apenas 6 ocorrências, todas dos itens si'øo, si'ø•ra nos quais foi categórica a realização do alteamento. Deve-se atentar para tal fato ao observar a tabela que segue, onde, por razão de simetria, alinhou-se esse resultado ao resultado referente a pronomes e numerais, produzido para a série das posteriores. 33 Esse procedimento e as causas que levaram a ele já foram explicados a partir da página 40, no subtópico 4.5.2. TABELA 7 CLASSE MORFOLÓGICA [o] [•] [u] [e] [E] [i] Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P VERBOS 343/896 .577 331/896 .082 222/896 .341 503/1073 .326 415/1073 .362 155/1073 .312 NOMES 344/824 .541 281/824 .246 199/824 .213 459/1051 .338 490/1051 .506 102/1051 .155 3/7 .532 1/7 .207 3/7 .261 39/64 .346 7/64 .210 18/64 .443 3/54 .020 19/54 .802 32/54 .178 43/118 .265 24/118 .263 51/118 .472 ADVÉRBIOS PRONOMES * TOTAL 693/1781 632/1781 456/1781 1044/2306 936/2306 326/2306 * Para os resultados de /e/, esse fator corresponde à classe de numerais apenas. 95 96 A questão inicial quer saber como se apresenta o efeito da classe morfológica sobre o comportamento das regras aqui examinadas. Para isso, observem-se os pesos relativos abaixo. [o] [•] [u] [e] [E] [i] Verbos .577 .082 .341 .326 .362 .312 Nomes .541 .246 .213 .338 .506 .155 Advérbios .532 .207 .261 .346 .210 .443 Pronomes .020 .802 .178 .265 .263 .472 * Para os resultados de /e/, esse fator corresponde à classe de numerais apenas A manutenção da posterior é favorecida pelos verbos, pelos nomes e advérbios, sempre com boa probabilidade. O abaixamento da posterior é favorecido pelos pronomes com grande probabilidade; enquanto o abaixamento da anterior é favorecido pelos nomes com boa probabilidade. O alteamento da anterior é favorecido pelos advérbios e pelos pronomes com probabilidade razoável. Considerando-se agora os índices mais baixos, temos os verbos inibindo o abaixamento da posterior com probabilidade próxima da não-aplicação; também próximo da não-aplicação está o desfavorecimento dos pronomes sobre a manutenção da posterior. Portanto, o que se percebe é que os casos próximos da não-aplicação são bem raros – apenas dois, num conjunto bem maior de casos de desfavorecimento. Ao lado disso, são poucos os casos próximos da irrelevância, produzidos quase todos pelo efeito dos verbos sobre a variação da posterior; bem como, são poucos os casos de favorecimento, dentre os quais se conta um único caso de alto índice de probabilidade, no efeito dos pronomes sobre o abaixamento da posterior. Na tabela abaixo em que estão isoladas as freqüências, percebe-se a predominância de verbos e nomes, as classes ditas abertas do léxico da língua; e, comparativamente, as menores quantidades de advébios e pronomes, as classes ditas fechadas do léxico. 97 [o] [•] [u] [e] [E] [i] Verbo 344/896 330/896 222/896 504/1072 414/1072 154/1072 Nome 346/828 283/828 199/828 459/1055 492/1055 104/1055 74/134 11/134 49/134 42/71 10/71 19/71 27/79 19/79 33/79 42/111 24/111 45/111 791/1937 643/1937 503/1937 1047/2309 940/2309 322/2309 Advérbio e Conjunção Pronome e Numeral* TOTAL * Para os resultados de /e/, esse fator corresponde apenas à classe de numeral. Pelas quantidades de ocorrências apresentadas a cada classe, pode-se considerar confiáveis os resultados alcançados, principalmente para verbos e nomes. Entretanto não se pode esperar que o corte simplesmente a partir das classes morfológicas, da forma como se adotou aqui, dê conta do efeito do componente morfológico sobre as regras variáveis que definem o comportamento das médias pretônicas. Silva (1989), por exemplo, partiu de uma hipótese a respeito desse componente que a levou a um corte diferente – ela examinou radicais prefixados e sufixados que, conseqüentemente, levou a evidências a respeito de certas classes, mas principalmente permitiu uma aproximação mais rigorosa ao problema. Dentre as autoras já citadas, Pereira (1997) foi a única que examinou classe de palavras, observando efeito irrelevante dessa variável na atuação das regras, exceto em relação à realização de [ u ] e [ o ]. Nos resultados de Pereira, para o dialeto de João Pessoa, a classe dos nomes favorece o alteamento e desfavorece a manutenção da média posterior; a classe dos verbos, por sua vez, inibe o alteamento e favorece a manutenção. Tais resultados são bastante diferentes dos encontrados aqui, para a amostra de Bragança. 98 5.4 O CONTEXTO SOCIAL DA REGRA Quando as primeiras aproximações aos dados foram realizadas, propôs-se examinar neste estudo as variáveis sociais clássicas, geralmente introduzidas nas análises sociolingüísticas: sexo, faixa etária, escolaridade e classe social, esta última redefinida simplesmente como renda. Entretanto, após as primeiras rodadas a maioria dessas variáveis sociais foram desprezadas pelo programa de regra variável por serem estatisticamente irrelevantes. Dentre elas, em todas as rodadas prévias, a variável escolaridade sempre foi selecionada como relevante. No presente tópico, ao lado dessa variável examinaremos os resultados da variável tipo de atividade que, diferentemente, não foi considerada relevante pelo programa, mas que se manteve na análise por razão que será explicada linhas adiante. Escolaridade A razão que sustenta a variável escolaridade, nessa análise, consiste na hipótese que a considera um fator condicionador da atitude lingüística do falante, fato que, por sua vez, deve ter forte influência nas escolhas entre as formas ditas de prestígio e as estigmatizadas. No português antigo, a preferência da pronúncia das pretônicas, estabelecida pelos eruditos gramáticos, apontou muitas vezes para a variante média, e assim fixou um padrão normalmente ensinado pela escola e divulgado como o dialeto de prestígio. Traduz-se nessa realidade, por exemplo, o testemunho de Dom Jerônimo contador de Argote (apud Silva Neto, 1986) quando se refere a “pessoas que falavam bem”. Mais modernamente, Antônio Houaiss (apud Nina, 1991) refere-se a uma certa regularidade morfológica, desencadeada por influência da escrita e, portanto, levada a efeito na fala de pessoas iniciadas na língua padrão. Tal regularidade morfológica 99 define-se pela preferência pela manutenção no comportamento variável das vogais médias pretônicas, oposta ao alteamento, considerado característico da fala popular. Além dessa sugestão da literatura, o próprio contato com os dados fez supor uma relação entre o nível de escolaridade do ou da informante com determinadas variantes, levando a considerar seu efeito sobre a variação das pretônicas, uma das principais hipóteses desse estudo sobre a variedade falada na cidade de Bragança. TABELA 8 ESCOLARIDADE [o] [•] [u] [e] [E] [i] Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P Apli/total P BAIXA 140/410 .294 129/410 .232 141/410 .474 216/514 .288 198/514 .334 100/514 .378 FUNDAMENTAL 267/703 .298 256/703 .345 180/703 .357 350/864 .301 403/864 .424 111/864 .276 MÉDIA 286/668 .383 247/668 .418 135/668 .199 478/928 .409 335/928 .250 115/928 .340 TOTAL 693/1781 632/1781 456/1781 1044/2306 936/2306 326/2306 100 101 Inicialmente, tomem-se os pesos relativos produzidos para a variável escolaridade. [o] [•] [u] [e] [E] [i] Esc. Baixa .294 .232 .474 .288 .334 .378 Esc. Fundam. .298 .345 .357 .301 .424 .276 Esc. Média .383 .418 .199 .409 .250 .340 A manutenção foi favorecida por escolaridade média com índices próximos da faixa de irrelevância. O abaixamento da posterior também foi favorecido por escolaridade média com índice razoável; e o abaixamento da anterior foi favorecido por escolaridade fundamental, também com índice razoável. O alteamento da posterior, por sua vez, foi favorecido por escolaridade baixa, esta que gerou para o alteamento da anterior índice de irrelevância. Desses resultados, dois aspectos sobressaem: em primeiro, pode-se considerar que a manutenção foi relacionada ao fator escolaridade média, mas com pequena probabilidade; em segundo, o alteamento foi relacionado ao fator escolaridade baixa, mas só na série de posteriores e com pequena probabilidade. Tais resultados, ao que parece, não podem confirmar a hipótese exposta no início desta seção e, tampouco, poderão ser tomados como prova exatamente contrária, resultando num impasse. Portanto, passemos às freqüências na busca de alguma outra informação. Esc. Baixa Esc. Fundam. Esc. Média TOTAL [o] [•] [u] [e] [E] [i] 34% 31% 34% 42% 39% 19% 38% 36% 26% 41% 47% 13% 43% 37% 20% 52% 36% 12% 693/1781 632/1781 456/1781 1044/2306 936/2306 326/2306 102 Em primeiro, os totais parciais de cada fator apontam que, na medida em que aumenta o nível de escolaridade, aumenta o percentual de ocorrências da variante média. Quanto à variante baixa, a distribuição percentual pelos fatores não se apresenta unifome nas duas séries: para as posteriores, o percentual aumenta quanto maior o grau de escolaridade, mantendo pequena a diferença entre os dois maiores valores, 36% e 37%; para as anteriores, o menor percentual de abaixamento relaciona-se à escolaridade média, e o maior, à escolaridade fundamental. Quanto à variante alta, a distribuição percentual volta a ser uniforme: quanto menor o grau de escolaridade, maior o percentual de ocorrência do alteamento. Observados desse modo, os valores acabam por apontar na direção do que se supôs com a hipótese que relaciona escolaridade com o favorecimento de formas mais próximas do padrão, opostas a formas tidas como não-padrão, neste caso, o alteamento e, naquele, a manutenção. Tipo de atividade No decorrer do tratamento dos dados, chamou atenção um comportamento que não se podia definir claramente e que parecia aproximar o falar de alguns informantes aos falares tipicamente rurais. A partir daí, foi-se construindo pouco a pouco uma hipótese que verificasse a relação do problema em questão com alguma influência da área rural, ainda que os informantes se caracterizassem como urbanos. A suposição baseou-se principalmente na realidade de cada informante e na realidade dessa comunidade: primeiro, as fichas preenchidas com dados sociais dos informantes, apresentaram a informação sobre a profissão do pai ou da mãe, que por vezes caracterizava-se como atividade ligada à terra – agricultor, coletor, caseiro em sítio, etc; segundo, a cidade de Bragança se define sócio-economicamente como uma comunidade urbana com fortes traços rurais, pela própria aproximação geográfica entre cidade e campo que, de certa forma define a aptidão econômica e os traços sócioculturais dessa comunidade. 103 Daí supôr-se que, por influência geralmente dos pais, certos falantes bragantinos urbanos, absorveriam traços lingüísticos caracteristicamente rurais. Completou essa hipótese, a suspeita de que a variedade rural desse município afastar-seia, de alguma forma, quanto ao comportamento das médias pretônicas, da variedade urbana. A partir disso, definiu-se como variável o tipo de atividade com que estivesse envolvido o falante, geralmente por relação paterna ou materna, distinguindose o tipo rural, como atividade relacionada à terra; e o tipo urbano, como atividade tipicamente urbana, relacionada à educação, à administração pública, ao comércio, à indústria, ou à prestação de serviços. Deve-se ainda destacar que, na análise realizada pelo programa, esta variável foi a única não selecionada como estatisticamente relevante, dentre as demais até aqui examinadas. Entretanto ela foi mantida, por se acreditar haver alguma espécie de efeito sobre a variação das pretônicas, desencadeado pela oposição rural /urbano. A seguir, os resultados gerados para essa variável. TABELA 9 TIPO DE ATIVIDADE [o] [•] [u] [e] P Apli/total URBANA 561/1426 .354 521/1426 .311 344/1426 .336 873/1860 .368 736/1860 .303 251/1860 .329 RURAL 132/355 .313 111/355 .357 112/355 .330 171/446 .300 200/446 .364 75/446 .336 TOTAL 693/1781 456/1781 Apli/total [i] Apli/total 632/1781 Apli/total [E] 1044/2306 Apli/total 936/2306 Apli/total 326/2306 104 105 Pelo tabela abaixo, verifica-se nos índices probabilísticos uma relativa estabilidade: todos estão os índices encontram-se numa mesma faixa. [o] [•] [u] [e] [E] [i] Urbano .338 .336 .326 .370 .301 .329 Rural .328 .331 .341 .298 .366 .336 Ao que se pode observar, dentro dos parâmetros aqui estabelecidos, essa faixa para a qual convergem todos os índices acima, é aquela considerada de irrelevância. A isso é inevitável relacionar o fato de que no conjunto de variáveis consideradas na análise principal34, tipo de atividade foi a única não selecionada como estatisticamente relevante pelo TVARB. Diante desses resultados, poder-se-ia concluir pela não-relevância da variável tipo de atividade para as regras que definem o comportamento da média pretônica. Entretanto, antes dessa conclusão, as freqüências merecem um exame. [o] [•] [u] [e] [E] [i] URBANA 39% 37% 24% 47% 40% 13% RURAL 37% 31% 32% 38% 45% 17% TOTAL 693/1781 632/1781 456/1781 1044/2306 936/2306 326/2306 Pelo que as freqüências podem apontar, temos para a variável tipo de atividade, o seguinte: quanto à manutenção, a atividade urbana concentrou as maiores freqüências, principalmente na manutenção da anterior em que a freqüência desse fator superou em muito a freqüência do tipo rural. Quanto ao abaixamento, na série das posteriores, a atividade urbana concentrou a maior freqüência; enquanto na série das anteriores, foi a atividade rural que mais concentrou freqüências. Quanto ao alteamento, em ambas as séries foi a atividade rural que concentrou as maiores freqüências. 106 Em síntese, se puderem ser considerados válidos esses resultados a partir das freqüências, sem nos referirmos a fatores favoráveis ou desfavoráveis, mas sim a fatores diante dos quais essa ou aquela variante ocorreu em maior ou menor número, poderemos afirmar que, na variedade da cidade de Bragança, toda vez que não há influência rural, ocorrem mais casos de [e] e [o]; e toda vez que há influência rural, ocorrem mais casos de [i] e [u], bem como, menos casos de [•] e mais casos de [E]. 34 Considere-se como análise principal esta, proporcionada pelos resultados das rodadas finais dos programas de regra variável, opostas às rodadas experimentais comentadas à página 44 deste volume. 107 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Dar como finalizado o presente estudo, neste ponto, implica impor um limite que ainda não permitiu explorar todos os aspectos considerados importantes em relação aos resultados estatísticos alcansados. Por isso, faz-se necessário nessas considerações finais, antes de elencar os principais achados, apresentar as limitações do trabalho. Primeiramente, a amostra utilizada, que conta 1781 dados da média posterior e 2306 da média anterior, mostrou-se insuficiente para gerar resultados para determinados fatores, ou ao menos resultados mais confiáveis a partir de número razoável de dados: é, por exemplo, o caso do fator /ià/ átono contíguo que, para a série das posteriores, não gerou resultados por número insuficente de dados e que, para a série das anteriores, apresentou um conjunto pequeno de 28 dados para um total de 777. Em casos como esse, a amalgamação não foi realizada em função de o efeito do fator em questão ser distinto do efeito daquele com que poderia ter sido amalgamado. Quanto à utilização dos recursos que os programas do Pacote VARBRUL dispõem, dois procedimentos importantes não se realizaram por limitação de tempo: primeiro, não se realizou, através do CROSSTAB, o cruzamento dos resultados de determinados fatores como, por exemplo, consoante da sílaba seguinte e tipo silábico, este que, aliás, não foi mantido nas rodadas finais, mas para o qual uma rodada específica poderia ter sido feita; segundo, não se realizou, através do TEXTSORT, a contagem das ocorrências ou itens lexicais do arquivo de dados, mas procedeu-se a uma simples arrumação através de ordenação alfabética e contagem manual, portanto, sendo esta a forma como o corpus está apresentado em anexo. Quanto aos objetivos fixados para este trabalho, a descrição do comportamento variável das pretônicas ainda mereceria a discussão, mesmo que rápida, dos resultados gerados para as variáveis sociais sexo, faixa etária e renda, retiradas das rodadas finais, mas tratadas nas rodadas experimentais. Nesse sentido a verificação das variáveis sociais, desde as originalmente estabelecidas, ainda precisaria ser retomada. 108 A última das limitações aqui apontadas, e que talvez mereça mais atenção na oportunidade de se rever este trabalho, reside no fato de a análise ter se concentrado principalmente nos aspectos quantitativos e, portanto, não haver estendido as observações aos dados reais de forma mais detida. Essa etapa ainda deve ser concluída, mas com a exigência de menos tempo do que já se gastou para a análise quantitativa, que se tornou mais demorada por constituir-se, o próprio trabalho, em iniciação da autora no domínio dos programas VARBRUL. Essa, aliás, é uma das grandes tarefas dos pesquisadores, bolsistas e voluntários do projeto “O Atlas Geosociolingüístico do Pará”, dominar instrumentos e técnicas da pesquisa sociolingüística e dialetológica, numa região do Brasil onde não há tradição de pesquisa nessas áreas. A partir de agora, para finalizar essas considerações finais, passa-se a destacar, sumariamente, os achados dessa pesquisa, que não se pretendem definitivos. Portanto, sobre a variação das vogais médias pretônicas /e/ e /o/, em contexto silábico CV e CVC de posição inicial ou medial de palavra, na variedade falada da área urbana de Bragança – Pará, destacam-se estes achados: 1) A variação o::•::u e e::E::i das vogais médias pretônicas – tratada em termos de manutenção ou fechamento, abaixamento e alteamento, é desencadeada pelos contextos vocálicos imediatamente seguintes, independente da tonicidade, por processo de assimilação. 2) Em posição antecedente, favorecem a manutenção da média, a fricativa glotal, com probabilidade significante, e as sibilantes mas com probabilidade tendente à irrelevância. O abaixamento da média é favorecido pelas alveodentais, pelas palatais, como também pela fricativa glotal, neste último caso com índice de probabilidade muito próximo da irrelevância. O maior índice de favorecimento calculado é das labiais em relação ao alteamento, favorecido também pelas sibilantes e pelas velares. 3) Quanto à relação da pretônica com tônica de item lexical do mesmo paradigma, tende à manutenção a pretônica /e/ relacionada à tônica média e à tônica de altura variável entre média e baixa. Tende ao abaixamento a pretônica relacionada a 109 tônica de altura baixa, bem como a pretônica /o/ relacionada à tônica de altura variável entre média e baixa. Tende ao alteamento a pretônica considerada átona permanente, bem como aquela relacionada à tônica de altura variável incluindo alta; também tende ao alteamento a pretônica /o/ relacionada à tônica média, e a pretônica /e/ relacionada à tônica baixa. 4) Quanto às classes morfológicas, a categoria dos verbos favorece a manutenção com índice próximo da faixa de irrelevância, e com índice significativo o alteamento. Os nomes favorecem a manutenção, como desfavorecem o abaixamento e o alteamento, sempre com índices próximos da faixa de irrelevância. Os advérbios, por sua vez, favorecem o alteamento e desfavorecem, com índice próximo da faixa de irrelevância, a manutenção. Finalmente, os pronomes favorecem o abaixamento com alto índice. 5) Quanto ao fatores sociais, a distribuição dos índices de probabilidade deixa ver, de certa forma, a confirmação da hipótese de que a escolaridade atua como condicionador do comportamento variável das vogais médias pretônicas. O que temos é a escolaridade baixa propiciando o alteamento, e desfavorecendo a manutenção e o abaixamento. A escolaridade fundamental produzindo índices na faixa de irrelevância para todas as variantes, exceto quando favorece o abaixamento da anterior. E a escolaridade média produzindo índices favorecedores tanto para a manutenção quanto para o abaixamento. 6) Por último, o tipo de atividade mostrou-se estatisticamente irrelevante: seus fatores produziram probabilidades na faixa de irrelevância, próximas de .333, para todas as variantes em questão. Por fim, destaca-se a predominância das variantes médias no dialeto estudado, em detrimento das baixas e altas, estas últimas que se apresentaram com menos freqüência. Este quadro assemelha-se, em linhas gerais, às conclusões de Nina (1991) sobre a variedade de Belém, e aos índícios apontados por Viera (1983) no seu glossário sobre as variedades do Médio Amazônas e do Tapajós, compondo, junto a 110 esses trabalhos, mais um elementos para as razões que levaram Silva (1989, p. 75) a supor que o Pará, em relação aos falares do norte, constitui-se numa ilha dialetal. 111 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUILERA, Vanderci de Andrade (org.). 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Nesses sentido, as alterações usadas para manter as informações fonéticas foram: y, w foram usados para indicar as semi-vogais em ditongos ó, é foram usados para indicar as ocorrências das vogais médias abertas [•], [E] awn, eyn foram usados para indicar formas nasais ditongadas n, m travando sílaba indicam nasalidade da vogal do centro silábico ~ (til), usado sobre a vogal, indica nasalização por efeito de consoante nasal vizinha ‘ (apóstrofe), usado à esquerda da sílaba dita tônica, para indicar intensidade. Outras alterações foram utilizadas, mas apenas para manter a informação fonética relevante, como por exemplo, em co’léju, convé’ssa, dirres’peyto, que não correspondem exatamente à ortografia; ou em palavras como amuli’ci, buà’nitu, adivó’gadu, em que as alveodentais sempre devem ser interpretadas como palatalizadas diante de vogal alta anterior. Deve-se ainda avisar que, geralmente, na ocorrência de várias formas do mesmo substantivo, foi anotada a forma masculina singular, desde que as outras não implicassem diferença na informação fonética relevante para a análise. abando'narãw abando'naru abandõ'no abór'ta abór'tadu abor'tey abor'to aborre'cew aborre'ciãw aburre'cidu aburri'ci aco'lhe acó'móda acomo'dey acór'dada acór'dadu acór'dava acor'dey acoStu'mey acu'la acuS'tumu acuStu'ma acuStu'madu acuStu'mey adivó'gadu adó'çassi adó'ra adó'rava (2) (2) (2) (3) (4) ado'tivu ado'to adólé'cença adólé'cencya adólé'centi adórme'ci afó'gava afór'çandu afu'gadu aguni'adu amoS'tro amuli'ci apaxõ'nadu apóS'tandu aposen'tandu apró'vadu apro'veytu apró'xima aprovey'tandu aprovey'tey aproxi'madu aproxi'mey apruvey'tey apusen'tada apusen'taduz apusentadu'ria associa'çãw associa'çõyS (3) (2) (2) (3) (2) (2) (9) (3) autori'dadi awgu'dãw awmu'ça awtori'dadi awtori'tariw awtufa'lanti awturi'dadi awvo'rada bo'bagim bo'bera bo'lo bo'ta bó'ta bó'tadu bó'tãmu bó'tarãw bó'taru bo'to bo'viànu bór'déw brafu'lia buà'nitu bu'cadu bu'lhandu bu'néca bu'nita bu'nitu bu'ta (2) (3) (3) (5) (2) (3) (8) (2) (5) (10) (8) 115 bu'tadu bu'tandu bu'tarãw bu'taru bu'tassi bu'tava bu'tavu bu'tey bu'to católi'cismu chó'rá chó'radu chó'randu chó'rava cho'rey cho'ro choro'ro có'bra có'brança có'brandu có'bravãw co'luàna có'la có'laru có'léga có'légiw có'léju co'lhe co'lheta co'lheyta co'lo có'lóca có'lócãwm có'lõnha có'lõnhu cõ'manda co'méça có'méciw co'méçu cõ'meçu cõ'méçum cõ'méciw co'médya co'mentãw co'mérçu có'mérciw co'migu co'nhécem co'nhéci cõ'nhéci cõ'nheçu co'noScu có'ragem có'ragi có'raw co'rre có'rrendu co'rreru có'rréta co'rrew co'rri (2) (3) (5) (5) (2) (5) (5) (2) (2) (2) (14) (4) (16) (2) (2) (5) (4) (2) (6) (4) (3) (2) (4) (7) (2) (2) co'rria co'rrida co'rridu cobi'çadu cóbra'doriS cóchó'néti cóla'çãw cólé'gagi cole'toris cóló'ca cóló'cada cóló'cadu cóló'cãmuS cóló'caru cóló'cassi colo'co cóló'quey colo'ridas cóloniza'çãw comé'ça cõmé'ça cómé'çadu cõmé'çadu comé'çãmus cõmé'çãmuz comé'çandu cõmé'çaru cõmé'çava cõmé'cemu come'cey cõme'cey come'ço cõme'ço coméci'anti comen'tandu cõmen'tariw comen'tava cómérci'a comérci'aw cõmi'ssãw comi'ssãw como'diSmu compro'missu compró'vanti compru'missu cõmuàni'dadi cõmuni'dadi cõmuàni'taryaz cõmuànica'çãw comuni'cadu comuni'táriwS cõmunica'çãw concó'rreàmu concó'rrencya concó'rrendu conhe'ce cõnhe'ce cõnhé'ceàmuz cõnhe'cessi conhe'cew cõnhe'cew (2) (9) (3) (4) (3) (4) (2) (2) (7) (6) (2) (4) (4) (3) (2) (3) (2) (2) (10) (2) cõnhe'ci cõnhe'cia cõnhe'ciãw cõnhe'cida conhe'cidu cõnhe'ci conheci'mentu conheci'mentuS cõnhi'ci conhi'cia contró'la contró'ladu cópéra'tivaS cór'ta cór'tada cór'tava cor'tey cor'to cora'ção córa'çãw córdeà'nandu córdeàna'dora córdena'dora cró'ché cuà'me cuà'mida cuà'migu cuàme'cey cuàme'te cuànhe'cew cuànhe'ci cu'bérta cu'bri cu'lhé cu'lheta cu'me cu'meànu cu'méça cumé’çamu cu'méciw cu'méçu cu'mendu cu'mérciw cu'mia cu'mida cu'midaS cu'migu cu'nhéci cu'nheçu cu'ziànha cu'zinha cuman'dandu cumé'ça cume'çãmu cumé'çamus cumé'çaru cume'cey cumé'cey cume'ço cumé'savu cuméci'anti (2) (3) (2) (2) (4) (3) (2) (2) (3) (2) (6) (2) (2) (4) (2) (11) (4) (2) (7) (4) (2) (8) (23) (4) (4) (3) (4) (5) (3) (11) (8) (2) 116 cumi'dia cumunica'çãw cunhe'ce cunhé'cendu cunhe'se cunhi'ceru cunhi'ci cunhi'cia cunhi'cidu cuS'tuàmu cuS'tura cuS'turu cuStu'mada cuStu'mava cuStu'ra cuStu'randu cuStu'rassi cuStu'rava cuStu'rera cuStu'rey cuzià'nha cuzi'nheru deàmo'ro décó'ra décó'rava deco'rre demago'gia démó'rava demo'ro depusi'tava dévó'çãw dévó'raru dimu'li direto'ria diScó'téca diScu'brindu disocu'pada disorgãniza'çãw disposi'çãw dizgoS'tey dizórgãni'zaduS dizvalori'zada dó'brada dó'centi dó'méStica dõ'méSticu docu'mentu documenta'çãw dólé'cencya dolo'ridu dõmi'na dõmini'caw dor'mindu dró'ga dró'gadu dró'gava du'mingu dumi'nó dur'mi dur'mindu dur'miw (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (3) (2) (3) (2) (14) (8) (4) eco'nõmica eco'nomicu ecolo'giSta eleyto'raw emo'çãw emocyo'now érõ'nawtica ero'sãw evolu'çãw evolu'i evolu'indu expló'ra favó'raviw favore'ce filoso'fia flore'ce fó'fóca fo'mo-si fo'quey foli'adas fór'ça fór'ma fór'mada fór'madu fór'maduS fór'maàmu fór'mandu fór'maru fór'massi fór'mava for'mey for'mo for'mow fór'nalha fór'néci fór'sandu fór'tãw fórça'ria fórma'çãw fórma'tura forne'ce fórné'cendu forne'cew forneci'mentu fótógra'fias fur'nidu globaliza'çãw go'vernu góS'ta góS'tãmuS góS'tandu goS'tava góS'tavu goS'tey goS'to goS'tósa góS'tósa goS'tosu góSta'ria góSta'riãmuS góSta'riãw (2) (3) (2) (2) (15) (5) (6) (2) (3) (5) (2) (2) (2) (5) (9) (5) (4) (2) (5) (10) góver'na gu'vernu guvér'na guvérna'do ideolo'gia ignó'rança imbó'lada imbó'lava imórra'gia impór'ta impór'tadu impór'tancya impór'tanti impórta'dora impórta'ria improvi'sadu impu'ssivéw incõ'menda inco'móda incõmen'do incóS'tadu indu'riànha infór'ma infór'mada infór'mandu infór'matica infór'maw infórma'çãw ingnó'rança ingnó'ranti inrró'ladu inrró'landu intérróga'çãw intró'sa inu'cença inu'centi iscó'la isco'lhe isco'lhew iSco'lhidu iscó'rrendu isco'teru iscó'va iscólari'dadi iscólari'zada iscroti'ey iSfó'çada iSfór'çava isóla'mentu isplóra'çãw iSpó'candu ispó'radicas ispór'tadu iSpórta'çãw iSposi'çãw iSposi'çõyz iSpusi'çãw iStu'pim jó'ga jó'gandu jó'gassi (3) (2) (2) (7) (2) (2) (2) (2) (3) (6) (2) (2) (10) 117 jó'gava jó'gavu jo'go jo'guey jóga'doriz jór'naw jórna'liSmu lo'caw ló'caw ló'cays lo'giSticu ló'kaw lócali'dadi lócali'za lócali'zaru locu'çãw maco'nhadu macõ'nheru maçona'ria mélhó'ra mélhó'rãmu mélhó'randu mélhó'raru melho'ro mércadu'ria micró'fõni mó'dérna mó'déSta mó'déStya mo'leza mó'lha mo'mentu mó'ra mó'rãmuz mó'randu mó'rava mó'ravamu mó'ravu mó'ravum mó'reànu mo'rey mo'ro mo'rre mó'rrendu mo'rreri mo'rreru mo'rrew mo'rria mo'to moci'dadi módérni'dadi moderni'zarãw modifi'co mor'dew mor'didu móra'do móra'doriz moro'ada mórtan'dadi móS'trá móS'trandu (2) (3) (4) (6) (2) (8) (3) (5) (3) (2) (2) (9) (16) (16) (23) (2) (2) (3) (2) (6) (2) (8) (2) (12) (2) (2) (2) (10) (2) moto'riSta móvi'mentu movi'mentus movimen'ta movimen'tada movimen'tadaS movimen'tadu movimen'tandu mu'dérna mu'léqui mu'queàyn mu'rava mu'rrendu mu'tivu muci'dadi mulé'cagi muqui'a muqui'adu muqui'ava muvi'mentu muvimen'tadu namó'rá namó'radu namó'randu namó'rari namó'rava nãwgovernamen'taw negoci'ava nó'çãw nó'ta no'tiça no'to no'turna nó'véla nó'vembru nó'venta nór'maw notifi'cadu nóvi'centu novi'dadi nu'ticya ocó'rrendu ócó'rrendu oco'rridu omosequissu'aw opor'tunu opurtuni'dadi oytu'centuS padroni'zadu paroqui'aànu paróqui'aw paStó'raw patro'cinhu pédago'gia pó'bleàma pó'breàma po'breza po'de po'deàmuz pó'deàym pó'deàmu (4) (11) (2) (3) (4) (3) (9) (2) (3) (3) (3) (10) (6) (9) (2) (2) (10) (3) (2) (5) (6) (2) (3) (8) po'der po'dia pó'gréssu pó'leàmica po'litica po'liticu po'rissu pó'rrada po'ssivew pode'ria pode'rosu popu'lar popula'çãw pórta'ria portu'gaw portu'gueS pórtu'gueys portuni'dadi posi'çãw posi'çõys possibili'dadi pótenciali'dadi prédo'mina pró'bleàma pro'bleàmaz pró'céssu pro'cura pro'curu pro'duS pro'dutu pró'géssu pró'grãma pró'gréssu pró'jétus pro'méssa prõ'méssa pro'metu pró'móveàym pro'móvi pró'móvi prõ'móvi pró'pósitu pró'póSta pro'poStu pró'va proci'ssãw procu'ra procu'radu procu'rãmuS procu'randu procu'rarum procu'rassi procu'rava procu'rey procu'ro procura'ria produ'çãw produ'zi produ'ziduz profe'sso profi'ssãw (2) (2) (2) (3) (2) (2) (6) (2) (4) (2) (2) (2) (11) (8) (4) (3) (2) (2) (2) (2) (2) (4) (10) (2) (3) (5) (2) (4) (2) (5) (4) (20) (9) 118 profissonali'zadu profissyo'naw (3) profissyonali'zanti prógãma'çãw progre'diw prójé'tarãw prõmó'çãw promo'çõys proprye'dadi próspé'randu proSti'tuta proStitui'çãw prótéS'tanti prótéStan'tismu provi'dencya (2) proxima'çãw pru'curu pruci'ssãw (2) prucu'ra (3) prufe'sso (4) prufi'ssãw prumi'ti pu'çãw pu'de (9) pu'dé (5) pu'deàmu pu'déssi pu'déssimus pu'dia (13) pu'liça (2) pu'licya (2) pu'litica (5) pu'liticu (4) pu'rissu pu'ssívew (3) pude'ria (3) pude'roso pufe'sso (5) pulici'aw (4) pulicia'mentu puliti'cagim pume'teru purtu'gues purtu'gueS purtuni'dadi (2) putuni'dadi qwatu'centuz (2) réco'nhéci reco're reconhe'ce (2) reconheci'mentu récór'da récórda'çãw récu'nhéci recunhe'ce rédó'bra refor'madu réfór'mãmu rénó'va rénóva'çãw répór'tagi répró'vadu reprodu'çãw réStó'ranti rétó'ma revolu'çãw ró'çadu ró'da ró'dada ró'dagi ró'dandu ro'deyu ró'ga ró'gava ró'landu ro'manticu ro'teru ro'tiàna ro'tina rodo'via ródó'via rodovi'aria rodovi'ariw rótari'aànu ru'liçu ru'zariw sintoni'zada só'brassi só'brava so'bro só'fa so'fre so'frew so'fri sõ'nha sõ'nhava so'nhey sobre'vivi sobrevi've sobrevi'vença sobrevi'via sobri'tudo sobri'vivu sobrivi'vença soce'dadi soci'aw soco'rre-la socye'dadi socyé'dadi (2) (3) (2) (3) (2) (4) (2) (3) (2) (3) (2) (3) (2) (7) (3) sofri'mentu soli'tarya sor'teru su'briànhu su'brinhu su'ssegu su'taqui subran'celha subrivi've suce'dadi sucié'dadi sucya'dadi sucye'dadi sucyé'dadi sufri'mentu sussé'gadu tó'ca tõ'ma to'mãmuz to'mandu to'mara tõ'mati tõ'mey to'mo tõ'mo tó'taw tõné'ladaS tór'na tór'nandu tór'nava tor'nera tor'ney tor'neyu tornozo'lera (3) (3) (2) (5) (2) (4) (4) (2) (4) (2) 119 tranSfór'ma transfór'mãmu transfor'mo transfórma'çõyz transpór'tadu transpór'tavu tró'cadu tró'cava tró'cavu tro'co tro'quey tuà'ma tu'ma (9) tu'maru tu'massi tu'mava tu'mavum tu'mey tu'mo tur'ney valo'riza valori'zada vérgo'nhôsu vitóri'ósa vó'ta vó'tandu (3) (2) vó'tantiz vo'tey vo'vo vó'vó vóca'çãw vóta'çãw vumi'ta xéró'ca xéró'cada (5) (2) Ocorrências de /e/ uànivesi'dadi abaSte'ce abaSteci'mentu aborre'sew aborresi'ãw acér'tava aconce'lha aconse'lharum aconse'lho aconte'ce aconté'cendu aconte'ceri aconte'cew aconte'cia acontece'ria aconteci'mentu acre'dita acredi'tar acredi'tava acredi'to acri'ditu adólé'senti adórme'si agrade'ce agrade'ci agradeci'mentu alé'gravu ale'gria amãnhé'cendu apare'ce aparé'cendu apare'cia apare'se apare'sew apari'cia ape'rreya ape'sa apé'sa apé'za aperri'adu aperri'ãdu apérri'adu apré'senta (4) (3) (3) (2) (2) (5) (5) (3) (2) (2) (2) (2) (2) apreci'a aprésen'ta aprésen'tava aprésen'tey aprésen'to aprésenta'çãw aprésenta'do aprézen'to apri'ciu aque'se arré'benti arré'pendu arrécada'çãw arrépen'dida arripindi'mentu artesã'naw até'rrandu atravé'ssandu atravéssa'do atreve'ria aveà'nida ave'nidas awfabétiza'sãw awveàna'ria awvena'ria baté'lãw be'be be'bendu be'beri be'bew be'bia be'bidu be'ju be'lissimu bebe'dera bene'ficiw bene'fiçu benefi'centi benefi'sia benefisi'adu bér'muda beS'tera bi'bida (2) (3) (2) (2) (2) (6) bi'bidu cuàme'te cuànhe'cew cuànhe'ci cabé'çada cansé'lãmu canse'lo carré'ga carré'gada carré'gandu caté'draw cate'quézi ce'veja cér'ca cer'teza cer'veja ché'geàmu che'ga ché'ga che'gada ché'gadu che'gãmu che'gandu che'garu che'gassi ché'gava che'gavu che'gey che'go ché'gueàmu che'guey cimi'téru códeàna'do cõmé'ça cõmé'ceàmu cõme'cey cõmé'sandu cõmé'sava cõme'ço coméci'anti compare'ceram compe'tindu complé'ta (3) (2) (2) (6) (2) (6) (5) (3) (2) (4) (5) (5) (2) (4) (2) 120 comple'to confé'rença congé'la:du cõnhe'ce cõnhé'ceàmuz cõnhe'ce cõnhe'ci cõnhe'cia cõnhe'cida cõnheci'mentu conhi'cia conhi'ci conse'gui consé'gui consér'ta consi'gui consi'guia consi'guimu consi'guimuS consi'guindu consi'guiru consi'guissi consi'guiw considé'radu considé'rava considéra'çãw conStér'nadu convé'ça conve'saàmu convé'sãmuz convé'sandu convé'sar conve'ce conve'cey conve'ço convér'sandu convér'seàmu cópé'rassi cópéra'çãw cópéra'tivas córdeà'nandu consérva'do cre'ce cré'cendu cre'cew cre'cidu cré'cendu cre'ci creci'mentu cumé'ça cumé'çaru cume'cey cume'ço cumé'ça cumé'çamus cumé'çavu cume'cey cume'ço cuméci'anti cunhe'ce cunhé'cendu (2) (2) (2) (9) (3) (2) (5) (3) (2) (6) (3) (2) (2) (2) (2) (3) (2) (2) cunhi'ci cunhi'cia cunhi'cidu cunvé'ssadu cunvé'ssandu cunvé'ssavu cunvé'ssa cunvér'sandu cuveàni'ada deàmi'ti deàmo'ro dansete'ria dé'cendu de'ceru de'ci de'clinhu de'dicu de'fiànu de'feytu dé'móri dé'pendi dé'pendu de'po dé'poàmuS de'poS de'poyS dé'pózitu dé'rróba dé'seànhu de'ce de'seja de'seju dé'centi de'ci de'So de'sórdeàyn dé'vendu de'via de'vidu de'viu dé'vótu dé'zembru de'zoytu dé'zoytu debu'tantiS deca'indu déca'indu déca'iw décépi'çãw deci'di décó'ra deco'rre dedi'ca dedi'cada dedi'candu dedi'co dedi'quey défa'sageàym defici'encya defici'enti délé'gadu (2) (2) (3) (7) (15) (16) (2) (3) (2) (3) (5) (7) (7) (3) (2) (2) déléga'cia demago'gia demi'tiw demo'ro demonStra'çãw dépa'ro départa'mentu dépen'de dépen'dendu dépen'denti deposi'ta depu'tadu dépu'tadu dérra'deru dérró'ba dérro'to dérru'bo dérru'ba deS'tinu dese'jo desempe'nha deci'di desiS'tença desiS'tiru deStru'indu détérmi'nadu deve'ria dévó'çãw dévó'raru dese'ja desenvowvi'mentu desiS'ti desiS'tia di'dicá di'maS di'mays di'novu di'pos di'via di'vidu di'viu di'zoytu didi'quey difé'rença difé'renti inté'rra dir'munta diré'çãw dire'to dirres'peytu direto'ria diS'casu diS'cóbri dis'pesa diS'pesaz diS'via disaba'fandu disapa'réci disapare'cerãw disca'ma diScan'sa (2) (3) (3) (2) (2) (3) (2) (2) (2) (5) (5) (2) (2) (2) (6) (11) (7) (3) (3) 121 diScan'sey discar'tey diScaracteri'zada diSconfi'andu diScu'brindu discu'briw diScu'pandu diScur'pandu disevolu'idu disim'pregu disimpe'nhava disimpré'gadu disimpré'gandu disinpaci'enti disinvovi'mentu disinvow'vendu disinvow'vew diSle'chada diSli'gadu disocu'pada dispa'chadu dispa'charu dispen'sadu disper'diçu diSpi'dindu diSpré'zada diSqwa'rada diSti'naru diStru'ida diStru'indu diSvan'tagin diva'ga divé'gencya divé'ssãw diver'sãw diver'ti diver'tia diver'tidu diver'tindu divér'tiri divérti'mentu diveS'ti divéSti'çãw divir'ti dizeà'nóvi diz'mancha dize'nóvi dizé'sséti dize'sseys dizgoS'tey dizim'pregu dizimpré'gada dizimpré'gadu dizinten'deru dizintéré'ssadu dizinvow've dizinvow'vew diziz'peru dizmay'ey disórgaàni'zaduS dizvalori'zada (2) (2) (2) (2) (2) (3) (4) (2) (2) (2) (2) (12) (2) (2) dólé'cencya dré'gaw élé'mentu élé'vadu eletre'cista ene'gia ener'gia entré'ga eredi'tariw ece'sãw especi'aw esque'ce 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intéré'ssava intere'sso interi'o intéri'or intérnacyo'naw intérróga'çãw intérven'çãw intré'ga intré'gandu intré'garu intre'viSta intreviS'tandu intriSte'cew inveS'ti inveS'tissi inxér'gassi inxer'guey isclare'ce iScre've iscré'vendu (3) (2) (2) (2) (13) (2) (3) (2) 122 iscurre'gey ispé'ra ispé'randu iSpé'rava ispé'ravun ispe'rey iSpeci'aw iSpedi'enti isperi'encya iSpérta'lhãw iSpesi'aw isque'sew iSque'si isqui'si isque'cidu iStabeli'cidu iStér'natu iStereli'zadu iStré'sada ixpré'ssãw gé'raw géla'dera late'rays lé'garum lé'gaw lé'genda le'gitimuS lé'va lé'vandu lé'varu lé'vava lé'vavu le'vey le'vo lecyo'na lesyõ'na lévan'ta lévan'tandu lévan'taru lévan'tava libé'raw libér'dadi meà'nó meà'nóriz mià'niànu mange'zayz maànhe'ce maniféSta'çãw marre'teru mateà'matica mate'matica matéri'aw matéri'az mé'cãnica mé'dõnhu mé'lhó mé'lhóra me'mórya me'nó me'reçu mé'renda (2) (3) (2) (2) (4) (5) (4) (8) (3) (5) (2) (2) (2) (2) (2) (4) (2) (3) (15) (2) mé'Seàmu me'xe me'xew mé'tadi me'te me'teru me'tia me'tidu medi'cina medita'çãw mélhó'ra mélhó'rãmu mélhó'randu mélhó'raru melho'ro mélhóra'ria mér'cadu mér'cadu mer'ce mércadu'ria méren'dandu méren'davu mi'niànu milhóra'ria mimpre'guey miné'raw miSi'lhãw módérni'dadi neà'neà né'góçu nécé'ssariw nécessi'dadi necessi'tey néga'tivaS néga'tivu négóci'a negoci'ava nér'vósa necessi'dadi necessi'tada nicissi'dadi nivéssi'dadi obe'deçam obede'ce obije'tivu obisé'va obisér'va obisér'vandu ófé'rési óféré'cendu ofere'se ome'nagi omenagi'ada omosequissu'aw onéSti'dadi ópé'ra ópé'rada ópe'ro ópéra'çãw órde'nadu pacé'ladu (3) (3) (4) (6) (2) (5) (9) (2) (6) (13) (2) (6) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) paqué'rava pare'ceru pare'cew parce'ria pé'cadu pé'daçu pé'daçu pé'déSti pe'drera pé'f~umi pé'ga pé'gandu pé'garãw pé'garra pé'garu pé'gava pe'gey pe'go pe'guey pe'nera pe'queàna pe'ranti pe'riwdu pe'ru pe'rua pe'ssoa pé'sswaw pé'zadu peca'do pece'be péda'gógica pédago'gia pedi'atra pégun'ta péla'deru peni'tencya pér'deàmu per'de pér'demus 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