Administração da Produção e Gestão da Qualidade em Escritórios de Arquitetura, Design de Interiores e Iluminação Julho/2015 1 Administração da Produção e Gestão da Qualidade em Escritórios de Arquitetura, Design de Interiores e Iluminação Daniele Porto Almeida – [email protected] Iluminação e Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação - IPOG Curitiba, PR, 16 de outubro de 2014 Resumo Esta pesquisa refere-se a gestão da qualidade e administração da produção em escritórios de arquitetura, design de interiores e light design no estado do Paraná. O problema considerado é referente à como os escritórios gerenciam internamente seus projetos, se existe a busca pela qualidade dessa gestão e se são utilizados métodos específicos para essa gestão. Tomando como hipótese o não estabelecimento prioritário pela busca de gestão da qualidade por parte dos profissionais, propõe-se como objetivo a identificação do perfil dos escritórios bem como apontar a existência de modelos e ferramentas empregados na gestão e processo de projeto, assim como a disponibilidade dos profissionais em implantar um sistema de gestão da qualidade. Para essa pesquisa foi adotado o método de questionário com perguntas fechadas enviadas por email a profissionais da área. No total 22 profissionais responderam à pesquisa, e a análise dos dados foi baseada no referencial teórico aqui apresentado. Os resultados encontrados indicam que a busca pela gestão de qualidade não é unânime entre os profissionais, revelando um longo caminho de conscientização a ser trilhado. Conclui-se que a boa gestão da qualidade leva os profissionais que por ela optam a novos patamares de qualificação. Palavras-chave: Administração da produção. Gestão da qualidade. Arquitetura. Design de interiores. Lighting Design. 1. Introdução Este estudo se insere na área de conhecimento de arquitetura, design de interiores e lighting design. Embora esses três segmentos da arquitetura apresentem aspectos distintos em sua produção final, o desenvolvimento de projetos em todos os casos ocorre de maneira semelhante. Assim entendemos que a dinâmica da realidade de trabalho dos profissionais que atuam nessas áreas tem muito em comum. Da mesma forma todos são afetados pelas transformações tanto tecnológicas quanto mercadológicas deste início do século XXI. O tema proposto procura entender mais dessa realidade de trabalho de arquitetos, designers de interiores e lighting designers no que se refere à maneira como estes profissionais administram sua produção e gerem a qualidade de seus resultados. O ponto em questão busca apreender o modo pelo qual os profissionais têm desenvolvido seus trabalhos, se existe a aplicação de algum conhecimento adquirido para a implementação da administração da produção e gestão da qualidade, ou se os profissionais têm desenvolvidos suas atividades de maneira empírica no que se refere à qualidade e produção projetual. A relevância do tema se faz presente de muitas formas, dentre elas podemos citar a competição entre os profissionais ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015 Administração da Produção e Gestão da Qualidade em Escritórios de Arquitetura, Design de Interiores e Iluminação Julho/2015 2 por fatias do mercado; a forma como os profissionais desenvolvem seus trabalhos e, portanto seus produtos e a qualidade desses produtos oferecida aos clientes, que afeta diretamente a percepção que o mercado tem dos profissionais que atuam nas áreas de arquitetura e design. Portanto, o objetivo geral da pesquisa é identificar o perfil dos escritórios em relação à existência de gestão da qualidade e administração da produção em escritórios de arquitetura, lighting design e design de interiores. Como objetivos específicos propomos apontar a existência de modelos, ferramentas, sistemas empregados na gestão do processo de projeto bem como avaliar a disponibilidade que os profissionais têm em implantar um sistema de gestão da qualidade em seus escritórios. A hipótese apresentada é a de que os escritórios de arquitetura e design não priorizam qualidade de gestão ou não se conscientizaram de sua importância. Muitos escritórios não estabelecem um padrão de qualidade interna, não organizam seu processo de gestão de projeto esquecendo-se que organização leva a um melhor desempenho. Segundo Gasnier (2012) o “Gerenciamento de Projetos é a aplicação do conhecimento, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades de projeto, de forma a atingir e exceder as expectativas dos interessados no projeto.” Pode-se observar que de um modo geral a ação de gerir engloba um conjunto de competências que vão além dos conhecimentos técnicos aprendidos na faculdade, uma vez que estas só podem ser adquiridas através da experiência e interesse pelo conhecimento. Muitos profissionais estão estagnados em suas carreiras devido à falta de interesse em progredir, acostumam-se a desenvolver seus trabalhos de uma determinada maneira e não buscam novos conhecimentos que os tornem mais competitivos e qualificados. Entretanto existe uma parcela de profissionais que, visando o crescimento de seus negócios, tem buscado a implantação da gestão de qualidade. Muitos são os benefícios que tal gestão pode trazer, mas certificações como ISO 9001 podem ter custo proibitivo para escritórios de pequeno porte. Ainda assim é possível considerar o alcance da qualidade almejada através de sistematizações internas estabelecidas. No que se refere à administração da produção, Padilha (2013) “afirma definir um escritório de arquitetura como uma usina de processamento de informações. O autor esclarece que a informação é a principal matéria-prima para o profissional de arquitetura, uma vez que ela deverá ser absorvida, preparada, processada e transformada em outras informações e, portanto, no produto final Projeto”. Padilha (2013) alega ainda que “quanto maior e mais bem organizado for o estoque de informações do escritório, maior será seu patrimônio e melhor qualificado ele estará para fazer frente às suas demandas de produtividade”. Observa-se então que questões subjetivas como a gestão de informações são de suma importância para o desenvolvimento e crescimento profissional dos escritórios de arquitetura e design. 2. O Projeto Segundo Gasnier (2012:11) existem diversas definições que se propõe a explicar o que é um projeto. Em PMI (PMI, 2009 apud GASNIER 2012:12) vamos encontrar a seguinte definição: “Projeto é um empreendimento temporário conduzido para criar um produto ou serviço único.” Gasnier (2012:11) explica que nesta definição o termo empreendimento indica que o projeto objetiva um resultado, usualmente financeiro, mas não necessariamente. Este empreendimento também envolve objetivos, desafios e incertezas. A palavra temporário ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015 Administração da Produção e Gestão da Qualidade em Escritórios de Arquitetura, Design de Interiores e Iluminação Julho/2015 3 indica um ciclo de vida que tem início, meio e fim, deixando evidente que não se trata de processos rotineiros. Por fim o termo único faz referência ao fato de que cada projeto é singular, exclusivo, diferente de qualquer outro projeto anterior em suas particularidades. Outra definição citada pelo mesmo autor é a que pode ser encontrada na norma ISO 10006 que trata das Diretrizes para Qualidade no Gerenciamento de Projetos: Projeto é todo processo único, consistente com um conjunto coordenado e controlado de atividades com data de início e término, conduzidas para atingir um objetivo com requisitos especificados, incluindo restrições de tempo, custo e recursos (GASNIER, 2012:11 apud ISSO 10006, 1998). Embora as definições acima apresentadas se apliquem em sua essência aos projetos que são elaborados em escritórios de arquitetura, design de interiores e light design, por si só não são suficientes para definir exatamente o que é um projeto característico dessas atividades. Conforme aponta Padilha (2013:63): Um projeto técnico de arquitetura é um conjunto de informações organizadas sob a forma de imagens, desenhos, cálculos, gráficos, tabelas, diagramas, textos, etc. e que tem por finalidade descrever antecipadamente todo o processo de transformação de recursos do cliente em uma obra ou equipamento planejado para determinada finalidade. Em essência, quando um profissional de arquitetura ou design refere-se a projeto, na verdade ele está remetendo-se a um conjunto de documentos em forma gráfica, no caso desenho técnico e perspectivas, que são necessários a comunicação de ideias concebidas pelo profissional e que precisam ser transmitidas ao cliente e colaboradores do projeto para sua execução. Dessa maneira, o conceito profissional de projeto encaixa-se perfeitamente as definições apresentadas acima, uma vez que projetos de arquitetura e design estão intrinsicamente ligados a tempo de execução, recursos disponíveis, objetivando um fim com caráter único. 2.1 O Conteúdo do Projeto Embora a essência do conceito de projeto seja igual para as diversas áreas do conhecimento de arquitetura, o conteúdo do projeto, ou seja, que conjunto de documentos fará parte do referido projeto, difere de especialidade para especialidade. Considerando o design de interiores, Gurgel (2005:102) menciona um grupo de recursos de desenho que o profissional de design utiliza para explicar um determinado resultado projetual, são eles: - Planta Baixa; - Corte; - Vista; - Detalhamentos; - Perspectivas; ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015 Administração da Produção e Gestão da Qualidade em Escritórios de Arquitetura, Design de Interiores e Iluminação Julho/2015 4 - Maquete Geralmente são estes os documentos que compõe o projeto, apresentando-se de modo mais perceptível ao cliente. Entretanto o processo de elaboração de um projeto de design de interiores pode apresenta-se de maneira mais abrangente, conforme nos mostra Jenny Gibbs: Um projeto de design de interiores possui quatro fases principais. Na primeira são realizadas a elaboração do programa de necessidades, a proposta de trabalho e a aprovação por parte do cliente. A segunda fase envolve a reunião de informações que servirão de base para as soluções de projeto e a apresentação do projeto ao cliente. Após a aprovação do cliente e a assinatura das plantas e desenhos, é desenvolvido o detalhamento do projeto na terceira fase, além de todas as revisões necessárias. A quarta fase é constituída pela execução da obra e, após a sua finalização, a entrega formal ao cliente. A descrição de cada fase do trabalho, os honorários e a forma de pagamento devem ser definidos e apresentados com clareza ao cliente na proposta inicial (GIBBS, 2009:146). O trabalho do projetista de iluminação acontece de modo semelhante ao do designer de interiores, embora o projeto de iluminação apresente suas peculiaridades. Segundo Brandston (2010:81) “o processo de Design da Iluminação pode ser separado em três etapas principais: Pré Projeto, Estudo Preliminar e Projeto Executivo”. Estas três etapas abrangem os documentos de projeto que permitem ao profissional de iluminação a comunicação de ideias com o cliente. O mesmo autor nos apresenta um outro aspecto do processo de projeto que o lighting designer deverá seguir afim de elaborar o projeto e executar a obra. Este processo foi esquematizado nos seguintes passos : - Reveja o programa de necessidades do cliente; - Visite locais previamente selecionados e, depois, o ambiente atualmente ocupado pelo cliente, para estabelecer um vocabulário de design e objetivos do projeto, inclusive seu orçamento; - Componha uma hierarquia visual para todos os espaços e um itinerário através deles; - Ilumine cada espaço adequadamente, de modo a valorizá-lo visualmente; - Providencie iluminação complementar de tarefa; - Avalie o design como um todo; - Prepare o orçamento; - Prepare os documentos para tomada de preço ou licitação; - Verifique cuidadosamente os desenhos, memoriais e instalações; - Envolva e instrua os responsáveis pela operação e manutenção dos sistemas de iluminação; - Faça uma avaliação Pós-Ocupação. Como podemos observar, o projeto de design de interiores e de lighting design apresentam entre si semelhanças e particularidades próprias. Suas semelhanças se devem ao fato de manifestarem aspectos de concepção criativa e da necessidade de apresentação organizada de ideias. Suas particularidades são resultado da natureza intrísceca de seus aspectos, ou seja, um projeto de interiores gerará documentos gráficos diferentes dos documentos gráficos de um projeto de iluminação. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015 Administração da Produção e Gestão da Qualidade em Escritórios de Arquitetura, Design de Interiores e Iluminação Julho/2015 5 2.2 Considerações sobre a atividade projetual e a qualidade no processo de projeto As ideias pesquisadas e que serão apresentadas a seguir referem-se principalmente a escritórios de arquitetura que trabalham elaborando projetos para a construção civil. Da mesma maneira as referências feitas ao chamado sistema de gestão da qualidade são principalmente feitas a implantação do sistema ISO 9001. Embora esta pesquisa se proponha a falar sobre escritórios de design de interiores e lighting design não foi possível encontrar material de pesquisa relacionado à gestão de qualidade exclusiva a estas especialidades. Contudo, acreditamos que o processo criativo, assim como a dinâmica de gestão de qualidade de produção de projetos, tanto do designer de interiores quanto do lighting designer em muito se assemelha ao do arquiteto, uma vez que estas áreas também fazem parte da realidade da arquitetura. Desse modo, entendemos que a busca pela qualidade dentro dos escritórios de design deve ser realizada independente da possibilidade de implantação de um sistema de qualidade certificado, sendo assim, nos parece apropriada a aplicabilidade das informações pesquisadas para a realidade profissional dos escritórios de design de interiores e light design. O processo de projeto é de vital importância para a obtenção do resultado almejado pelo cliente. Para Jardim (2007:16) “a atividade de projeto deve ter seus objetivos bem definidos e seu desenvolvimento deve estar permanentemente orientado à busca do equilibrio de interesses entre os envolvidos no processo e da valorização de seus pontos em comum”. Podemos dizer que a atividade projetual é uma constante busca de soluções visando o bem comum das partes envolvidas. Na visão de Jardim (2007 apud MELHADO, 2004): O projeto não pode ser entendido como entrega de desenhos e memoriais; ele é mais do que isso, antes de tudo espera-se que o projetista esteja comprometido com a busca de soluções para os problemas de seu cliente. Esse tipo de prestação de serviço, de natureza intelectual, deve estar orientado não apenas ao clientecontratante, mas também aos clientes usuários. Diante disso podemos dizer que do projetista espera-se comprometimento não só pela busca de soluções, mas também deverá garantir a qualidade de projeto. Um fator que determinou o processo de valorização da qualidade foi a promulgação do Código de Defesa do Consumidor (1991), que ampliou os direitos dos consumidores e a responsabilidade de produtores, comerciantes e fornecedores de serviços. Esse código, bem como a crescente competição no mercado, valorizou o papel do cliente na economia nacional o que levou muitas empresas de prestação de serviços de projeto a implantar inovações técnicas e organizacionais em seus projetos (BAÍA et al., 2000). Mas para alcançar a almejada qualidade é preciso estabelecer procedimentos e controles internos sobre os serviços que o escritório oferece. A isso chamamos de gestão da qualidade. O problema é que os escritórios que são prestadores desse tipo de serviço carecem de controle de qualidade, uma vez que este precisa ser aplicado de forma restrita e sistemática, com a formalização do escopo de serviço bem definido assim como deve ser bem definida a forma de apresentação do trabalho (FILIPI et al., 2003 apud BAÍA, 1998). “Os projetistas raramente estabelecem mecanismos formais de garantia da qualidade e, dentro das pressões das entregas e orçamentos, tendem a minimizar ou ignorar os procedimentos (FILIPPI et al., 2003 apud BIRNBERG, 1998)." ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015 Administração da Produção e Gestão da Qualidade em Escritórios de Arquitetura, Design de Interiores e Iluminação Julho/2015 6 As dificuldades para a melhoria na qualidade dos projetos são diversas, dentre as quais podemos destacar: A ausência de mecanismos para a captura das necessidades dos clientes, o excesso de retrabalho resultante de alterações de projeto, a falta de coordenação entre projetistas [...], a carência de procedimentos de controle de qualidade e a ausência de representante da produção durante o processo de projeto (FILIPI et al., 2003 apud BAÍA, 1998). Conforme aponta Jardim (2007) cada empresa de projeto possui processos técnicos muito particulares. Isso acontece em função do tipo de cliente para quem a empresa trabalha, do porte e características das obras que projeta ou de sua especialidade. Ainda assim devemos considerar que existe uma estrutura organizacional e processos administrativos que podem seguir um modelo de gestão “universal”, que privilegie a utilização de instrumentos simplificados e de fácil aplicação. O ponto de vista de Baía (et al., 2000) sobre a prática da produção de projetos e sua gestão de qualidade na realidade do mercado brasileiro é exposto com muita propriedade, a saber: Em relação à gestão da qualidade propriamente, a principal vantagem destacada pelas empresas é a padronização de procedimentos e o consequente aumento do domínio sobre o processo da empresa. Essa percepção se justifica na medida em que as práticas tradicionais de projeto nas empresas brasileiras são pautadas pelo conhecimento técnico dos profissionais, com pouca sistematização formal das atividades desenvolvidas na empresa. As empresas de projeto típicas desenvolvem seus trabalhos de forma artesanal e extremamente dependente do conhecimento individual do projetista, sendo o padrão de projeto da empresa definido pelo padrão de seus profissionais. Assim, a padronização de procedimentos de projeto contribui para a criação de um padrão próprio a empresa, facilitando o controle de qualidde e permitindo estabelecer compromissos mais objetivos e factíveis com os cliente. Conforme aponta Filippi (et al., 2003 apud CORNICK, 1991) muitos projetistas tem uma impressão equivocada sobre os sistemas de gestão de qualidade, acreditando que tais sistemas implicam em rotinas de trabalho adicionais. Esta sensação acontece pela necessidade de mudanças básicas no processo de projeto ser necessárias quando se implanta tal sistema. É interessante perceber que muitas empresas, mas particularmente as de arquitetura, têm dificuldades em conciliar padronização de procedimentos e atividade criativa. O que acontece é um aparente conflito entre as lógicas e sequências individuais de cada projetista, limitando o desenvolvimento da criatividade nos projetos. Nas primeiras vezes que o projetista segue os novos padrões de procedimento de gestão, essa limitação criativa é particularmente verdadeira e se acentua quando o projetista não participou da discussão e elaboração dos procedimentos que é obrigado a seguir (BAÍA et al., 2000). Essa pode ser a razão de muitos escritórios resistirem à implantação de um sistema de gestão de qualidade. Em Jardim (2007) vamos encontrar o seguinte esclarecimento: a conscientização por parte das empresas de projeto em relação às potencialidades que um sistema de gestão da qualidade bem estruturado pode proporcionar ainda é um grande desafio. O fato é que existe alta dependência dessas empresas do estilo de gestão e do grau de ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015 Administração da Produção e Gestão da Qualidade em Escritórios de Arquitetura, Design de Interiores e Iluminação Julho/2015 7 empreendedorismo de seus proprietários, geralmente o projetista titular, o que acrescenta certo nível de dificuldade para a reestruturação e melhoria de seus processos. Muitos são os benefícios que um sistema de gestão da qualidade pode proporcionar. A tão almejada diminuição de custos vigora entre eles, bem como a redução de riscos e de incompatibilidades. Também podemos mencionar o ganho de tempo de produção, a diminuição de solicitação administrativa sobre os titulares; aumento da eficiência, dos lucros e da penetração no mercado (FILIPPI et al., 2003 apud CORNICK, 1991, MELHADO, HENRY, 2000). Na pesquisa apresentada por Filippi (et al., 2003 apud MELHADO, HENRY, 2000) as empresas estudadas apresentaram motivações distintas para a implantação do sistema de gestão da qualidade (no caso ISO 9001). Tais motivações foram resumidas em quatro pontos chave: - Organização interna: a gestão de qualidade foi vista pelas empresas como uma alternativa para solucionar deficiências na organização interna; - Eficiência produtiva: com a organização interna já estabelecida, as empresas buscavam a redução de retrabalhos e desperdícios, aumentando a produtividade e a qualidade dos produtos e serviços; - Tendência do mercado: necessidade de acompanhar o movimento pela qualidade, assegurando competitividade no mercado; - Estratégia de diferenciação: a implantação de um sistema de gestão de qualidade poderia proporcionar a diferenciação no mercado e a obtenção de vantagens competitivas sustentadas frente aos concorrentes. É interessante perceber que o esforço realizado pelas empresas ao programar um sistema de gestão de qualidade gera diversas melhorias para seus respectivos negócios. Na pesquisa de Filippi (et al., 2003) é mencionado que “ocorreram mudanças consideráveis no que concerne à adoção de mecanismos para identificação das necessidades do cliente e aumento da confiabilidade do processo”. A mesma pesquisa afirma que as empresas apontaram melhorias na sua organização interna, havendo definição clara de responsabilidades, registro da documentação e mudanças no estilo gerencial dos titulares do escritório. Diante do que foi até aqui apresentado, podemos ver que a implantação de um sistema de gestão de qualidade exige esforço e mudança de velhos hábitos projetuais por parte das empresas prestadoras de serviços. Contudo, também podemos verificar que tal esforço não é em vão, uma vez que experiências de outros constatam resultados benéficos para seus respectivos negócios. 3. Administração, planejamento e gestão Os profissionais que atuam na área de arquitetura e design estão diariamente envolvidos no desenvolvimento de projetos de clientes em suas empresas e escritórios, vivenciando, mesmo sem ter consciência, atividades de administração. Para Gasnier (2012) “administrar consiste em planejar, organizar e controlar recursos humanos, materiais, financeiros e informações, alguns escassos, visando atingir objetivos determinados, quantificados quando possível, tendo em vista as necessidades atuais e futuras do cliente”. O mesmo autor acrescenta que “administrar é a arte e a ciência de obter ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015 Administração da Produção e Gestão da Qualidade em Escritórios de Arquitetura, Design de Interiores e Iluminação Julho/2015 8 resultados através das pessoas, em grupos formalmente organizados e produtivos, trazendo uma visão – a concepção de uma solução – à realidade”. Conforme aponta Gasnier (2012:3) a administração possui duas atividades: o planejamento e o gerenciamento. Essas atividades podem ser vistas de maneira muito didática no conhecido ciclo P.D.C.A., onde cada uma das letras corresponde a uma parte do processo de administração. P D C A Plan Do Check Act Planejamento Definir atividades e metas Execução Treinar e executar as atividades Verificação Medir os resultados das atividades Correção Corrigir, aprender e melhorar Figura 1 – Cilco PDCA Fonte: Ganier (2012) Segundo Gasnier (2012:3) este conceito é enfatizado pelos modernos princípios de gestão da qualidade, implementando-o na prática através do gerenciamento de processos. O autor ressalta que processos diferentes exigem diferentes esforços em cada uma destas fases. O ciclo PDCA nos mostra quais as fazes que normalmente um projeto, pertencendo à área de arquitetura ou não, segue ou deveria seguir. É interessante observar que muitos escritórios de arquitetura e design ao iniciarem o projeto de um novo cliente efetuam naturalmente os dois primeiros passos do ciclo (planejar e fazer), mas deixam de realizar os dois seguintes (verificar e corrigir). Muitos profissionais planejam o projeto e realizam sua execução, mas não verificam os resultados junto ao cliente, o que os impede de realizar possíveis correções. A verificação dos resultados não se refere apenas à qualidade estética final do projeto que foi planejado, mas também a questões subjetivas como atendimento, bom relacionamento e satisfação do cliente. Embora tais questões possam passar despercebidas, elas se apresentam como fundamentais para a percepção positiva por parte do cliente da qualidade do profissional por ele contratado. Independente disso, o fato é que todo o processo de projeto se inicia com o planejamento. Mas o que é planejamento? Em seu livro Gasnier (2012:6) nos fornece a seguinte definição: A atividade de planejamento é um esforço sistemático e formal que visa estabelecer direção para aumentar a probabilidade da ocorrência dos resultados desejados. Esforço porque implica razoável trabalho. Sistemático porque exige uma metodologia universal. Formal porque pressupõe que registramos, preto no branco, ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015 Administração da Produção e Gestão da Qualidade em Escritórios de Arquitetura, Design de Interiores e Iluminação Julho/2015 9 o que deverá ser realizado, de forma que haja uma referência para verificação posterior, bem como um oportuno processo de comunicação. Finalmente, o termo Probabilidade pretende ressaltar que o empreendimento não tem sucesso cem por cento garantido. De fato, o risco do fracasso é inerente, porque incertezas existem. Acreditamos que o autor colocou a definição de projeto com muita propriedade. Fica evidente a importância de um bom planejamento. De acordo com Silva (2011:30 apud FABRICIO et al., 2005) o planejamento do processo de projeto envolve: - Estabelecimento de objetivos e parâmetros para o desenvolvimento de projetos; - Definição de escopos de projeto (especialidades e etapas); - Planejamento de custos; - Planejamento de etapas e prazos no todo e por especialidades para o desenvolvimento de cronogramas. Como podemos notar, a visão de Silva de planejamento é própria para o processo de projeto de arquitetura, enquanto que a definição de planejamento de Gasnier engloba projetos de qualquer natureza, e não só da área a que esta pesquisa se propõe. Entretanto, é interessante observar que o planejamento do processo de projeto apresentado por Silva encaixa-se perfeitamente na definição de planejamento apresentada por Gasnier, uma vez que todo projeto de arquitetura ou design tem por objetivo atender os resultados desejados pelo cliente. Como vimos anteriormente o planejamento é uma das atividades da administração, agora trataremos da segunda atividade: o gerenciamento. Vamos procurar entender o que envolve a atividade de gerenciamento de projetos. Vejamos mais uma importante definição dada por Gasnier (2012:13): “gerenciamento de projetos é a aplicação do conhecimento, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades do projeto, de forma a atingir e exceder as expectativas dos interessados pelo projeto”. O autor ressalta que o exercício de gerenciamento de projetos envolve a aplicação prática de diversos aspectos, tais como (GASNIER, 2012:13): - Conhecimento: competências específicas do contexto dos projetos; - Habilidades: adquiridas em nossa experiência de vida; - Técnicas: métodos usados para atingir o objetivo; - Ferramentas: possibilitam praticar os aspectos acima com qualidade e produtividade. Outro aspecto que a definição de gerenciamento de projetos dada pelo autor apresenta é a filosofia da qualidade total, “segundo a qual o profissional deve buscar alcançar e ultrapassar as necessidades e expectativas explícitas ou implícitas, de nossos clientes”. O autor destaca que o termo exceder, no que se refere a projetos, não significar fazer mais atividades do que aquelas combinadas no escopo do projeto, mas sim realizar as atividades estipuladas com o maior cuidado possível de modo a encantar o cliente com pontualidade e rigor nos custos e especificações (GASNIER, 2012:13). Diante destas explanações podemos perceber que a ação de administrar (planejar e gerenciar) é de vital importância para os profissionais de arquitetura e design que objetivam o sucesso de seus negócios. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015 Administração da Produção e Gestão da Qualidade em Escritórios de Arquitetura, Design de Interiores e Iluminação Julho/2015 10 3.1 Administração da Produção Como vimos anteriormente, todo escritório de arquitetura, design de interiores ou lighting design exerce a prática da administração em seu dia a dia. Mas devido à natureza de seus produtos e serviços oferecidos ao mercado estes escritórios também exercem outro tipo e administração: Administração da Produção. Segundo Padilha (2013:62) “administração da produção consiste em organizar e controlar o processo produtivo, desde o acesso às matérias primas até a entrega ao cliente. É o conjunto de processos que transformam recursos em bens e serviços que serão disponibilizados pela empresa para comercialização”. Como podemos observar, é de extrema relevância que o escritório de arquitetura/design tenha claramente estabelecido o que exatamente deverá ser administrado para que haja a produção de seus produtos e serviços. Conforme aponta Padilha (2013:65) para o profissional arquiteto realizar o seu trabalho em seu escritório ele necessitará dos seguintes insumos: - Instalações; - Equipamentos; - Materiais de consumo; - Mão de obra; - Tempo; - Informações. Nesta pesquisa vamos nos ater a este último insumo, pois entendemos que ele se apresenta como a principal matéria prima para a produção tanto da arquitetura como do design (de interiores e light design). Na visão de Padilha (2013) a informação também se apresenta como principal matéria prima para a produção de escritórios de arquitetura. O mesmo autor entende que “quanto maior e mais bem organizado for o estoque de informações do escritório, maior será seu patrimônio e melhor qualificado ele estará para fazer frente às suas demandas de produtividade” Padilha (2013). Entendemos então que além de obter uma grande quantidade de informações pertinentes ao processo de projeto é muito importante que elas estejam organizadas e estocadas da maneira correta, pois uma vez mal empregadas perderão o seu valor no processo. Acreditamos ainda que o sucesso do emprego das informações dentro de um escritório baseiase sobre tudo na qualidade da comunicação entre os envolvidos no processo de projeto. De acordo com Matoski (et al., 2002 apud JACQUES, 2000) o trabalho dos projetistas sofre grande influência do processo de definição e transmissão de informações técnicas referentes ao projeto. Ele nos explica que: A gestão da comunicação técnica da equipe envolve a determinação, dentro do fluxo do processo de projeto, das atividades de discussão das alternativas tecnológicas, definição do conteúdo e da forma de organização das informações técnicas, o desenvolvimento de ferramentas que auxiliem as decisões de projeto e a comunicação entre os projetistas e a empresa (MATOSKI et al., 2002 apud JACQUES, 2000). O sucesso do projeto dependerá destes elementos: quantidade e qualidade de informações e capacidade de comunicação entre os envolvidos no processo de projeto. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015 Administração da Produção e Gestão da Qualidade em Escritórios de Arquitetura, Design de Interiores e Iluminação Julho/2015 11 A organização também está inserida nesta questão, já que é preciso saber quem necessita de qual informação, quando necessitarão dela e como isso será fornecido a quem necessita dela (MATOSKI et al., 2002 apud PMI, 2000). “Para tanto é necessário que se conheça bem todos os envolvidos e o que cabe a cada um deles. Seu papel no processo de produção, suas responsabilidades e principalmente seu poder de decisão” (MATOSKI et al., 2002 apud PMI, 2000). De acordo com Padilha (2013:67) o administrador da produção poderá obter informações das seguintes fontes: - do Cliente; - do Campo; - das normas; - dos manuais; - da ciência e da tecnologia. Sabemos que o cliente além de ser uma fonte de informação para o projetista, também se apresenta como um dos principais envolvidos no processo de projeto, já que a existência do projeto bem como a palavra final de aprovação do mesmo procede dele. É interessante notar que: Caberá ao Administrador da produção tomar todos os cuidados e providências no sentido de garantir que os insumos disponíveis sejam utilizados de maneira mais eficaz possível no sentido de transformar as informações disponíveis [...] em informações que possam ser disponibilizadas ao cliente [...], satisfazendo assim as necessidades que deram origem à relação comercial entre a empresa e o mercado (PADILHA, 2013). Diante do que foi apresentado até aqui, conseguimos entender a importância da obtenção de informação e o valor da capacidade de comunicação entre os envolvidos para a produção de projetos dentro dos escritórios de arquitetura e design. Agora falaremos um pouco sobre sistematização de procedimentos. Como já foi visto o processo de projeto abrange várias etapas e tem como resultado uma série de documentos gráficos que são expostos ao cliente. Este é o resultado visível do processo de projeto, mas em seu andamento existe uma série de procedimentos que não são aparentes ao cliente, embora sejam inerentes ao processo. É preciso entender que dentro de um escritório de arquitetura/design o processo de produção de um projeto abrange diversas etapas que podem, ou devem, ser realizadas por diferentes pessoas. Salvo quando o escritório resume-se a um único indivíduo, que realiza o projeto do começo ao fim, as etapas de projeto serão expostas a diversos profissionais em diferentes estágios do processo. Segundo Padilha (2013:69) a lista dessas partes do trabalho, bem como a descrição de como cada uma das tarefas devem ser realizadas, é o que chamamos de algoritmo. “Um algoritmo é uma importante ferramenta que deve ser utilizada pelo administrador da produção para garantir que todas as tarefas que fazem parte do processo sejam realizadas [...] da maneira correta e no tempo certo” (PADILHA, 2013). O algoritmo se apresenta como um documento no qual são descritas, passo a passo, todas as etapas do trabalho, uma vez completadas todas as etapas, o trabalho está finalizado. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015 Administração da Produção e Gestão da Qualidade em Escritórios de Arquitetura, Design de Interiores e Iluminação Julho/2015 12 Muitos são os benefícios que um algoritmo traz para o escritório em seu processo produtivo dentre os quais podemos destacar (PADILHA, 2013:73): - Dá ao escritório (e não às pessoas) o controle da situação. Qualquer pessoa, do mesmo nível técnico ou hierárquico conseguirá seguir o algoritmo e dar conta da tarefa; - Permite que uma tarefa que se realiza de forma esporádica [...] possa ser sempre realizada da mesma forma; - Estabelece parâmetros para definição do tempo a ser consumido em cada tarefa bem como o custo do trabalho; - Permite, a qualquer momento, ter uma noção mais adequada do andamento do trabalho. A elaboração de um algoritmo exige conhecimento refinado do trabalho, capacidade de organização e entendimento do que pode ser subdividido como tarefa individual e realizado por pessoas diferentes, de maneira independente (PADILHA, 2013:73). O algoritmo é um excelente modo de gerir o processo de produção do escritório já que apresenta a possibilidade do controle de tempo, qualidade e organização do trabalho. Mas talvez o seu maior benefício seja a possibilidade de efetivar um sistema de controle interno (relativo à qualidade) sem que, necessariamente, a pequena empresa seja obrigada a implantar um sistema de gestão de qualidade certificado (que geralmente é de alto custo). Por fim, pode-se observar que a qualidade do trabalho ofertado pelos profissionais de arquitetura e design está intrinsicamente ligada ao comprometimento que estes profissionais têm consigo próprios e com seu trabalho, já que a oferta de um trabalho de qualidade é uma decisão profissional. 4. Método adotado Para essa pesquisa foi adotado o método de questionário com perguntas fechadas. As perguntas foram enviadas por e-mail à profissionais das áreas de arquitetura, design de interiores e iluminação que trabalham em escritórios dessas áreas de atuação. O Estado do Paraná é a região geográfica na qual a pesquisa foi realizada. O período de tempo para a coleta de dados foi do dia primeiro de setembro de 2014 ao dia trinta de setembro de 2014 e no total 22 profissionais responderam a pesquisa. O questionário foi elaborado da seguinte maneira: as três primeiras perguntas referem-se ao porte dos escritórios (quantos titulares, quantos funcionários, etc.). As demais questões relacionam-se sobre administração da produção e gestão da qualidade. 5. Resultados Primeiramente a pesquisa realizada procurou identificar o porte e o perfil dos escritórios questionados. A razão disso é que as características desses escritórios estão diretamente ligadas aos produtos por eles oferecidos. Inicialmente verificou-se que a maioria dos profissionais pesquisados, aproximadamente 36%, trabalha em escritórios de pequeno porte, com cerca de 2 a 4 funcionários apenas. Os escritórios que possuem entre 5 a 10 funcionários correspondem a 4,55%, enquanto os locais com mais de 10 funcionários são 9%. Da mesma maneira constatou-se que 50% dos escritórios têm de 2 a 4 profissionais que são os titulares desses locais, e, portanto, a produção reside totalmente sobre eles. Também é interessante perceber que 27% dos profissionais ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015 Administração da Produção e Gestão da Qualidade em Escritórios de Arquitetura, Design de Interiores e Iluminação Julho/2015 13 pesquisados trabalham sozinhos, isto é, não contam com sócios ou funcionários para desenvolver projetos. Quando perguntados sobre quantos projetos em andamento o escritório possuía por mês, 54% responderam que tem em média de 4 a 6 projetos, enquanto 31% disseram ter de 1 a 3 projetos mensais. Apenas 13% afirmaram ter mais que 6 projetos em andamento mensalmente. Outra questão colocada aos pesquisados foi sobre a definição de papéis dos envolvidos no processo de projeto. Cerca de 50% dos profissionais responderam que participam de todo o processo de produção de projetos, ao passo que 40% responderam que podem ser responsáveis por mais de uma etapa e apenas 9% disseram que cada envolvido é responsável por uma etapa específica do processo de produção de projetos. Esses números se mostram intrinsicamente ligados ao porte dos escritórios, pode-se observar que a definição de diferentes papéis e cargos, ou seja, a atribuição de atividades específicas a indivíduos específicos só pode ser feita quando se atinge um determinado tamanho de estrutura, sendo essa divisão de tarefas fruto da opção consciente pela busca de padronização e organização por parte dos titulares. Seguindo a mesma linha de pensamento a maioria dos pesquisados, cerca de 77%, disseram não ter a figura de Gerente de Projeto oficialmente estipulada dentro da estrutura organizacional, enquanto aproximadamente 23% afirmaram ter esse cargo bem definido dentro da estrutura do escritório. Para Jardim (2007) cada empresa de projeto possui processos técnicos muito particulares ligados diretamente ao porte da empresa, podemos dizer que a estipulação da figura do Gerente de Projeto é uma expressão desses processos particulares nos escritórios. No que se refere à tomada de decisão o tamanho da estrutura dos escritórios continua pesando. Aproximadamente 59% dos pesquisados disseram pertencer ao titular do escritório o poder de tomar as decisões sobre os projetos, enquanto apenas 18% afirmam dividir as decisões entre o titular e gerente de projeto. Vemos então o reflexo do que nos diz Baía (et al., 2000) quando este menciona em sua pesquisa que as típicas empresas de projeto no Brasil desenvolvem seus trabalhos de forma artesanal e extremamente dependente do conhecimento individual do projetista, sendo o padrão de projeto da empresa definido pelo padrão de seus profissionais. Quanto à implantação de um sistema de gestão da qualidade, 54,5% dos entrevistados afirmam não possuir um sistema de gestão tipo ISO 9001. Entretanto uma parte considerável dos pesquisados, 31% alegam que não possuem a certificação mas pretendem implanta-la no futuro. Apenas 4,5% dizem não ter interesse em implantar nenhum tipo de certificação. Os pesquisados que já possuem certificação correspondem a 9%. A porcentagem dos que responderam que gostariam de implantar a certificação no futuro é uma evidência da consciência que os escritórios têm adquirido sobre a importância de uma gestão de qualidade bem estruturada. Muitos profissionais reconhecem os benefícios que a gestão de qualidade pode oferecer e almejam um crescimento na demanda através da qualidade por eles oferecida. A última questão apresentada aos pesquisados referia-se ao desenvolvimento de uma sistematização de procedimentos internos, entendendo que este conceito reporta-se a um conjunto de documentos elaborados com a finalidade de garantir a qualidade em cada etapa no desenrolar do processo de projeto. Neste caso 54,5% dos pesquisados afirmam ter essa ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015 Administração da Produção e Gestão da Qualidade em Escritórios de Arquitetura, Design de Interiores e Iluminação Julho/2015 14 sistematização de procedimentos internos implantado, contra 9% que afirmam não dispor dessa prática. É relevante mencionar que aproximadamente 36,5% dos pesquisados afirmam não ter a sistematização de procedimentos implantada, mas estão com tais procedimentos em desenvolvimento. Se somarmos o percentual dos que afirmam não ter os procedimentos implantados com aqueles que afirmam estarem com a sistematização de procedimentos em desenvolvimento, obteremos um percentual de 45,5%, um número alto se considerarmos que esses escritórios não organizam seus documentos de gestão de projeto. Para Baía (et al., 2007) a padronização de procedimentos gera consequentemente o aumento do domínio sobre o processo da empresa, o que facilita o controle de qualidade e permite estabelecer compromissos mais objetivos e factíveis com os clientes. 6. Conclusão A pesquisa elaborada revelou que a realidade profissional de grande parte dos pesquisados envolve escritórios pequenos nos quais os profissionais estão envolvidos em boa parte de todo o processo de projeto. Constatou-se que a divisão de tarefas só acontece quando o porte da empresa aumenta, mas mesmo quando há a divisão de tarefas o poder de decisão é de responsabilidade do titular, independente do tamanho que o escritório possa vir a ter. Quanto ao sistema de gestão da qualidade é compreensível que a maioria dos escritórios pesquisados não a possua, uma vez que tal sistema é de alto custo de implantação mesmo para empresas grandes, quanto mais para pequenos escritórios de arquitetura. É interessante identificar que existe a percepção dos profissionais sobre a importância do sistema de gestão de qualidade e sobre os benefícios que ela pode trazer para os negócios, pois uma porcentagem considerável dos pesquisados apresenta interesse em implantá-la, sendo que alguns já a possuem. Contudo, parece haver uma contradição no comportamento dos profissionais quando o assunto é a sistematização de procedimentos internos nos escritórios. Consideramos como hipótese para esta pesquisa que muitos escritórios não priorizam a qualidade de gestão ou não tem consciencia de sua importância. Tais profissionais não estabelecem um padrão de qualidade interna, não organizam seu processo de gestão de projeto esquecendo-se que organização leva a um melhor desempenho. Acreditando que a sistematização é uma forma de gestão da qualidade, principalmente para aqueles que não têm condição financeira de implantar um sistema tipo ISO 9001, uma parte considerável dos entrevistados afirmaram não possuir a sistematização de procedimentos implantada, embora muitos tenham a intenção de fazê-lo. Isso mostra certa inércia diante das realidades que o mercado exige para o bom desenvolvimento profissional dos serviços por eles oferecidos. A consequência pode ser a estagnação do crescimento para esses profissionais, uma vez que a sistematização demostra que existe organização e permite que erros e virtudes sejam identificados com maior rapidez e clareza. Quanto às limitações da pesquisa houve grande dificuldade em encontrar autores sobre gestão da qualidade e administração da produção que se referissem ao design de interiores e ao lighting design. Geralmente os autores escrevem sobre gestão da qualidade e administração da produção referentes à arquitetura e construção civil, mas raramente sobre design. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015 Administração da Produção e Gestão da Qualidade em Escritórios de Arquitetura, Design de Interiores e Iluminação Julho/2015 15 Referências BAÍA, Josaphat L., FABRICIO, Márcio M., MELHADO, Silvio B. Formalização e Implementação de Procedimentos de Projeto e a Gestão da Qualidade nos Escritórios. NUTAU 2000. BIRNBERG, H.G. Project Management for building designers and owners. 2nd. Ed. Boca Raton: CRC, 1998. 256 f. BRANDSTON, Howard M. Aprender a ver: A Essência do Design de Iluminação. São Paulo: De Maio Comunicação e Editora. 2010. CORNICK, T. Quality Management for Building Design. Guildford: ButterworthHeinemann,1991. 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