SIMONAL E TORNADO: RESISTÊNCIA DO POVO NEGRO ATRAVÉS DA MÚSICA SIMPÓSIO TEMÁTICO: ROCK E COMPORTAMENTO LINHARES, Kleiton UNIOESTE [email protected] PARIZOTTO, Rosangela UNIOESTE [email protected] Introdução A intenção desta pesquisa é de analisar se as músicas “Tributo à Martin Luther King e Sou Negro”, datadas no período da ditadura militar1, tiveram influência na formação identitária e de luta para o povo negro. Para tal, no decorrer de nosso trabalho, analisaremos as letras das músicas, cantadas por Wilson Simonal e Toni Tornado, que trazem em seu contexto elementos pertinentes a cultura negra, com o intuito de averiguarmos, se tais elementos possibilitaram ou impulsionaram para o processo de luta em relação a este grupo étnico. Assim, pretendemos a partir das letras das músicas escolhidas para análise, perceber se estas trazem à tona o debate em torno da liberdade e dos direitos dos cidadãos negros. A escolha das músicas e de seus interpretes é cravejada de intenções, pois, por se tratar de cantores negros, a análise das músicas possibilitarão perceber se, para a época houve o debate sobre a realidade do povo negro, sendo que a realidade histórica é permeada e reforçada pela inferiorização dos mesmos. Visamos ainda com esta pesquisa, perceber se os elementos presentes nas músicas e a representação social dos cantores possibilitou de alguma forma, avanços em 1 A artigo não tem como objetivo debater, discutir ou abordar a respeito da ditadura militar, mas sim analisar se a musicalidade presente durante este período, contribuíram para a luta do povo negro, pois as músicas escolhidas retratam tais questões e abordam elementos que se referem a identidade do povo negro. 1 relação à luta deste grupo étnico, servindo de referencial afirmativo e identitário para a luta dos mesmos. Inicialmente, iremos realizar um resgate histórico a respeito da trajetória do povo negro no Brasil. Logo após abordaremos a questão do negro durante a ditadura militar. Na sequência, faremos uma análise das letras das músicas, levando em consideração o objeto de nosso estudo, que se refere ao processo de luta e identidade do povo negro em relação aos diretos dos mesmos. Concluiremos, discutindo se a análise das músicas atenderam ou não ao objetivo proposto em nossa pesquisa. Um pouco de história Há que se considerar que, a luta do povo negro por seus direitos começa no processo de escravização, porém, historicamente estes, embora lutassem, não tiveram nem vez nem voz em relação aos seus direitos enquanto cidadãos. Mas, não se pode negar a luta deste povo, conforme (PINSKI, 1994, p. 54) o povo negro sempre resistiu “[...] mesmo sabendo serem poucas as chances de permanecerem muito tempo em liberdade, lutavam até o fim contra o cativeiro”. Os negros nunca foram submissos, utilizaram-se de inúmeras formas de protesto e resistência. As formas de resistências aparecem historicamente como “fugas, revoltas, formação de quilombos” (VALENTE, 1994, p. 18) Em contrapartida a tal observação, Pinsky enfatiza que: Na verdade ele (o negro), nunca deixou de lutar, na medida de suas possiblidades, contra a opressão. Acontece que a historiografia oficial, procura vender a ideia, de um escravismo brando, de um negro amorfo, para demonstrar que a História do Brasil, se desenvolveu sem conflitos; uma história sem oprimidos e opressores; uma história de paz social é um mito que as classes dominantes querem impor (PINSKY, 1994, p. 10. Grifo nosso). A luta deste povo faz parte de um processo histórico, pois em momentos de rebelião dos negros nas senzalas, os senhores ficavam acuados e sentindo medo, possibilitando abrir uma brecha para a libertação dos escravizados, como afirma Valente 2 Quando se rebelavam, os negros não subordinavam o branco a uma nova ordem, propondo a transformação da sociedade escravagista. Os negros tinham por objetivo destruir essa sociedade. Por isso muitos brancos passaram a ter medo [...] E o pipocar de rebeliões negras pelas fazendas, fez com que muitos senhores passassem a pensar na libertação dos escravos (VALENTE, 1994, p. 19-20). Durante o processo de escravização houveram várias intervenções que auxiliavam no processo de luta do povo negro. Nem todas eram bem intencionadas, mas de certa forma, contribuíram para este processo, como é o caso da Lei2 de Extinção do Trafego Negreiro (1850), Lei do ventre Livre (1871), Lei do Sexagenário (1885) e a Lei Aurea (1888) (VALENTE, 1994, p. 20-21). Quando apontamos que nem todas as intervenções tiveram boas intenções, nos referimos especialmente à Lei Aurea, que numa perspectiva superficial, trouxe a liberdade aos negros escravizados, porém, de acordo com Valente, “Foi nesse contexto que os negros, a partir do 13 de maio de 1888, passaram de escravos a homens livres. Passaram a viver uma nova situação: o desemprego, o subemprego e a marginalidade. Das senzalas, grande parte dos negros foram morar em lugares onde as condições de vida eram desumanas” (VALENTE, 1994, p. 22-23). É de suma importância perceber que o povo negro continuou seu processo de resistência. Os negros não permaneceram passivos às atrocidades aos quais foram e ainda são submetidos. E aproximadamente 40 anos após a abolição da escravatura, como forma de resistência foram surgindo vários movimentos “de grupos e associações reivindicando um espaço para o negro dentro de uma sociedade que o discriminava (e discrimina)” (VALENTE, 1994, p. 46) Na década de 1930, momento em que o país passava por uma inquietação política, é fundada no Brasil, a Frente Negra Brasileira, que tinha como objetivo 2 Neste artigo não temos a intenção de debater as leis, mais, traçar, numa perspectiva histórica, a luta dos negros desde o processo escravatório até os dias atuais, marcando a trajetória de enfrentamento e de luta por direito deste grupo étnico na sociedade brasileira. 3 [...] integrar o negro à estrutura de classes. Sua proposta era, portanto, de assimilação. Não pretendia alterar nada, apenas garantir que o negro fosse bem aceito na sociedade. E o negro, então, deveria incorporar as regras sociais (VALENTE, 1994, p. 46). Embora a luta e a resistência estejam presente no processo histórico dos negros no Brasil, não há como desconsiderar que estes sempre tiveram que se esforçar para se “adequarem” às regras da sociedade brasileira. A mesma que dizimou a cultura africana e indígena em detrimento da cultura europeia aqui imposta pelo advento do processo de exploração das terras brasileiras. Haja visto o que está citado acima. Posterior a Frente Negra Brasileira, surgiram outras manifestações em prol da luta e resistência do povo negro, porém não tiveram tanta relevância e nem mesmo tanta duração. Tal postura causou enfraquecimento no processo de resistência, conforme elucida Valente (VALENTE, 1994, p. 46) que “Embora a luta dos negros contra a discriminação tenha sido constante, ela saiu de cena [...]. Foi para a clandestinidade”. Na década de 1970, aparecem vários movimentos no Brasil, por conta da ditadura militar, a repressão tinha atingido momentos extremos. Os movimentos, surgem com “a finalidade de defender e reivindicar a liberdade de organizações e de expressão” (VALENTE, 1994, p. 47). Tais movimentos atingiram também o segmento negro. Assim, em 1978 surge propriamente dito o MNU – Movimento Negro Unificado, que iremos discorrer em seguida. Movimento Negro e a Ditadura Militar A trajetória histórica de nosso país foi permeada pelo processo de miscigenação, num primeiro momento com a chegada, ocupação e exploração por parte dos portugueses, das terras e dos nativos aqui presentes, num segundo momento, pelo processo escravizatório de povos africanos. Este segundo momento, perdurou até o final do século XIX, com o processo da abolição da escravatura, porém, a exploração não parou com a abolição. Fato que não se pode ignorar e questionar é o que o povo negro, africano, fez parte da construção de nossa nação. 4 Como visto no decorrer da explanação deste artigo, este grupo étnico, não pode e nem mesmo deve ser visto como um grupo submisso. Pelo contrário, é um povo de resistência, que sempre lutou para mudar sua realidade, mesmo sem condições para tal. Quando nos debruçamos na história, podemos confirmar essa realidade, que se arrasta e permeia até hoje. Quando falamos de resistência, vemos esta palavra como luta do povo diante das circunstâncias as quais foram subjugados, pela exploração da mão de obra trabalho pelo processo de escravização, pelo processo de perda de sua cultura, língua e religiosidade, sendo estas substituídas por formas de preconceito e pelo imaginário de que a cultura africana não fez parte de nosso realidade histórica, justificada por Ferreira, quando ele afirma que “o homem de origem africana e seus valores foram sistematicamente associados a qualidades negativas pelo europeu (FERREIRA, 2004, p. 40)”. Reforçando essa ideia o autor disserta que O processo de negação da importância dos elementos da cosmovisão africana determina aos afro-descendentes uma desvalorização pessoal e desenvolve a “perspectiva do direito de dominar para os grupos humanos que se consideram mais adiantados que outros” (...) O afro-descendente enfrenta, no presente, a constante discriminação racial, de forma aberta ou encoberta e, mesmo sob tais circunstâncias, tem a tarefa de construir um futuro promissor. A cor da pele e as características fenótipas acabam operando como referências que associam de forma inseparável raça e condição social, o que leva ao afro-descendente a introjeção de um julgamento de inferioridade, não somente quanto ao aspecto racial, mas também em relações às condições socioeconômicas, implicando o favorecimento de uma concentração racial de renda, de prestigio social e de poder por parte de um grupo dominante (FERREIRA, 2004, p. 41-42). Perante a tal realidade apresentada, é necessário compreender que embora isso tem sido real em nossa sociedade, há um movimento que vem na contramão de tudo isso, um movimento de resistência, onde se percebe uma luta atuante em relação à causa do povo negro. Neste caso, temos o Movimento Negro que é definido por Domingues Movimento negro é a luta dos negros na perspectiva de resolver seus problemas na sociedade abrangente, em particular os provenientes dos preconceitos e das discriminações raciais, que os marginalizam no mercado de trabalho, no sistema educacional, político, social e 5 cultural. Para o movimento negro, a “raça”, e, por conseguinte, a identidade racial, é utilizada não só como elemento de mobilização, mas também de mediação das reivindicações políticas. Em outras palavras, para o movimento negro, a “raça” é o fator determinante de organização dos negros em torno de um projeto comum de ação (DOMINGUES, 2007, p. 101). Já para Joel Rufino dos Santos, o conceito de Movimento Negro é (...) todas as entidades, de qualquer natureza, e todas as ações, de qualquer tempo [aí compreendidas mesmo aquelas que visavam à autodefesa física e cultural do negro], fundadas e promovidas por pretos e negros (...). Entidades religiosas [como terreiros de candomblé, por exemplo], assistenciais [como as confrarias coloniais], recreativas [como “clubes de negros”], artísticas [como os inúmeros grupos de dança, capoeira, teatro, poesia], culturais [como os diversos “centros de pesquisa”] e políticas [como o Movimento Negro Unificado]; e ações de mobilização política, de protesto anti-discriminatório, de aquilombamento, de rebeldia armada, de movimentos artísticos, literários e ‘folclóricos’ – toda essa complexa dinâmica, ostensiva ou encoberta, extemporânea ou cotidiana, constitui movimento negro (SANTOS,1994, p.157). Diante dessa descrição sobre o que é Movimento Negro, dissertaremos sobre o mesmo a partir da década de 1970. Mas para reforço da ideia da resistência e luta do povo negro, retomaremos o que para Joel Rufino dos Santos, foi o movimento negro e suas várias fases. A primeira fase foi organizada na Primeira república ao Estado Novo (1889-1937), a segunda fase, da Segunda República à Ditadura Militar (1945-1964) e a terceira fase, do Início do Processo de Redemocratização à República Nova (19782000) (DOMINGUES, 2007, p. 102). Como já pontuado anteriormente, neste artigo, ocorreu da segunda para a terceira fase há um enfraquecimento do Movimento Negro, onde O golpe militar de 1964 representou uma derrota, ainda que temporária, para a luta política dos negros. Ele desarticulou uma coalizão de forças que palmilhava no enfrentamento do “preconceito de cor” no país. Como conseqüência, o Movimento Negro organizado entrou em refluxo. Seus militantes eram estigmatizados e acusados pelos militares de criar um problema que supostamente não existia, o racismo no Brasil. De acordo com Domingues apud Gonzalez, a repressão “desmobilizou as lideranças negras, lançando-as numa espécie de semiclandestinidade” (DOMINGUES, 2007, p 111). 6 Reforçando o que já foi citado, percebemos que a discussão pública da questão racial foi praticamente banida durante a ditadura militar. (CUNHA JR,1992, p. 65) aponta as dificuldades que havia para superar o desmantelamento do movimento negro, dizendo que naquela época haviam “três tipos de problemas, o isolamento político, ditadura militar e o esvaziamento dos movimentos passados. Posso dizer que em 1970 era difícil reunir mais de meia dúzia de militantes do movimento negro.” Mediante a isso, iremos nos ater à terceira fase do Movimento Negro, a partir da década de 1970, pois é o período que sinaliza a ditadura milita e onde é possível perceber que Embora várias entidades negras surgidas durante o regime militar enfatizassem ações na área artística, a cultura não se tornou um instrumento de transformação, como assinalaram alguns teóricos do movimento negro. O tema não foi politizado nem se ligou a questões como violência e pobreza. Isso reduziu a eficácia do discurso dos ativistas, ao mesmo tempo em que reforçou a tradicional associação da identidade negra com visões estereotipadas advindas do folclore. Em 1978, foi fundado o Movimento Negro Unificado (MNU), que representou uma ruptura com o tipo de organização e de discurso antirracista até então vigente. Como articulador de entidades negras, inaugurou uma postura explicitamente política, voltada à contestação e ao enfrentamento da discriminação, da desigualdade racial e do próprio regime militar. Organizada em centros de luta, a entidade estabeleceu-se em praticamente todo o país, embora não tenha, ao longo do tempo, atingido o objetivo a que se propôs: a unificação do movimento (RELATÒRIO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO, 2005, p. 105) Vários fatos ao longo da história colaboraram para o surgimento do Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial (MUCDR), onde mais tarde intitula-se como Movimento Negro Unificado (MNU). Sua criação do MNU, se dá em 1978, sendo um marco tanto do surgimento do movimento negro, como organização, e também em relação a aproximação dos militantes negros ao pensamento da esquerda. Vale ressaltar que no Brasil, as primeiras organizações da população negra tivessem um caráter político de direita, como foi o caso da Frente Negra Brasileira, durante a ditadura militar, porém as discussões raciais eram inibidas por serem consideradas antipatriotas ao apontarem a questão do racismo, considerado um 7 problema inexistente no Brasil. Por tal motivo, o MVU acabou se aproximando do pensamento de esquerda e permitiu que muitos ativistas que “fizeram parte da criação do movimento negro tivessem também uma ligação com a esquerda e os movimentos de resistência no país, entre eles o Partido Comunista, a Liga dos Camponeses, o PCdoB e a UNE (ALBERTI, 2007, p. 105)”. Ao se aproximar do pensamento de esquerda, o Movimento Negro passa a ganhar mais voz e vez. Isso pode ser percebido nos cenários externos e internos, onde conforme Domingues No plano externo, o protesto negro contemporâneo se inspirou, de um lado, na luta a favor dos direitos civis dos negros estadunidenses, onde se projetaram lideranças como Martin Luther King, Malcon X e organizações negras marxistas, como os Panteras Negras, e, de outro, nos movimentos de libertação dos países africanos, sobretudo de língua portuguesa, como Guiné Bissau, Moçambique e Angola. Tais influências externas contribuíram para o Movimento Negro Unificado ter assumido um discurso radicalizado contra a discriminação racial. No plano interno, o embrião do Movimento Negro Unificado foi a organização marxista, de orientação trotskista, Convergência Socialista. Ela foi a escola de formação política e ideológica de várias lideranças importantes dessa nova fase do movimento negro. Havia, na Convergência Socialista, um grupo de militantes negros que entendia que a luta anti-racista tinha que ser combinada com a luta revolucionária anticapitalista. Na concepção desses militantes, o capitalismo era o sistema que alimentava e se beneficiava do racismo; assim, só com a derrubada desse sistema e a conseqüente construção de uma sociedade igualitária era possível superar o racismo. A política que conjugava raça e classe atraiu aqueles ativistas que cumpriram um papel decisivo na fundação do Movimento Negro Unificado (...) (DOMINGUES, 2007, p. 111-112). O nascimento do MNU significou um marco na história do protesto negro do país, porque, entre outros motivos, desenvolveu-se a proposta de unificar a luta de todos os grupos e organizações anti-racistas em escala nacional. O objetivo era fortalecer o poder político do movimento negro. Nesta nova fase, a mobilização negra que acabou resultando na criação dessas e de outras entidades e organizações do movimento negro contemporâneo, em geral, foram determinadas pela percepção das desigualdades e as situações de racismo a que toda a população negra está exposta em nossa sociedade, pautando-se em uma luta articulado aos movimentos de esquerda. 8 O negro e a luta por direitos em meio à ditadura militar O golpe militar veio a desarticular uma coalizão de forças que palmilhava no enfrentamento do preconceito de cor no país. Como consequência, o Movimento Negro organizado entrou em refluxo. Seus militantes eram estigmatizados e acusados pelos militares de criar um problema que supostamente não existia: o racismo no Brasil. O Movimento Negro não escapou da perseguição da ditadura, por conta das suas manifestações de cunho racial. Os militares conseguiram distorcer o mito da democracia racial a seu favor e tacharam os militantes de impatrióticos e racistas Para o jornalista e escritor Thaelman Carlos M. de Almeida a questão do movimento negro, praticamente, permeia quase toda nossa história. Sob o AI-5, a questão raça não entrou diretamente. Havia negros dos dois lados da luta. À direita, alguns famosos e muito combatidos como o Pelé, o caso do Wilson Simonal, maestro Erlon Chaves, muito influente nos festivais da Globo, que eliminavam sem qualquer critério, que não fosse o dos interesses da ditadura. E à esquerda também, o próprio Carlos Marighella, o inimigo público da ditadura era negro, sua mãe negra e seu pai italiano. De acordo com Gonzalez (GONZALEZ,1982, p. 30), a repressão “desmobilizou as lideranças negras, lançando-as numa espécie de semiclandestinidade”. A discussão pública da questão racial foi praticamente banida. Os governos militares, na sua busca por homogeneidade social visando uma população coesa, sem conflitos e sem contestações ao poder vigente e ao seu projeto social, desconsideravam a possibilidade da afirmação de uma identidade afrobrasileira. Ao contrário, o protesto negro nesse contexto político-social trazia à tona a desigualdade racial, pondo em xeque a massificação presente nos projetos políticos dos órgãos governamentais. Assim, a denúncia do racismo, a articulação de gestos, músicas, visuais, comportamentos, religiosidades, enfim, o cultivo de formas de representações próprias ligadas à ascendência africana, levou à formulação de uma cultura de resistência fundada em signos e símbolos identitários afrobrasileiros que ganhou ares subversivos para as autoridades policiais e militares. 9 Na luta contra o regime militar, os militantes negros observaram que era por meio da organização e conscientização junto com outros movimentos populares, associações e sindicatos, que seria possível um posicionamento de resistência à política autoritária, e assim, buscou apoio de várias outras entidades democráticas da sociedade brasileira, como Movimento Custo de Vida, União Municipal dos Estudantes Secundaristas, Associação das Empregadas Domésticas de São Paulo, entre outros, que organizaram atos contra o racismo. Segundo Pereira (PEREIRA, 2010, p. 36), “a tradição de luta contra o racismo”, que contou com diferentes tipos de organizações políticas e culturais em vários setores da população negra brasileira desde o final do Século XIX, foi importante para o surgimento, em meio a um período de ditadura militar, do movimento negro contemporâneo no Brasil, no início da década de 1970. A partir de 1970 se confirmou um cenário político-militar com a pregação da ideologia do mito da democracia racial, perspectiva que fora combatida ferrenhamente pelas organizações dos Movimentos Negros no auge da ditadura militar e em pleno regime de exceção. Ao que complementa Santos, sobre a relação entre a constituição do movimento negro e a denúncia do mito da democracia racial, afirmando: O movimento negro, no sentido estrito, foi, na sua infância (1931-45) uma resposta canhestra à construção desse mito. Canhestra porque sua percepção das relações raciais, da sociedade global e das estratégias a serem adotadas, permanecem no ventre do mito, como se fosse impossível olhá-lo de fora – e, de fato, historicamente, provavelmente o era. Para as lideranças do movimento negro, catalisadas pela imprensa negra que desembocou na FNB, o preconceito anti-negro era, com efeito, residual tendendo para zero à medida em que o negro vencesse o seu “complexo de inferioridade”; e através do estudo e da auto-disciplina, neutralizasse o atraso causado pela escravidão. Na sua visão – comprovando a eficácia do mito – o preconceito era “estranho à índole brasileira”; e, enfim, a miscigenação (que marcou o quadro brasileiro) nos livraria da segregação e do conflito (que assinalavam o quadro norteamericano), sendo pequeno aqui, portanto, o caminho a percorrer. [...] Foi só nos anos 1970 que o movimento negro brasileiro decolou para atingir a densidade e amplitude atuais. (SANTOS, 1985, p.289). 10 Diante do exposto, é possível perceber que a trajetória do povo negro é marcada pela resistência em busca do reconhecimento e valorização de seu patrimônio cultural e de suas reivindicações. Assim, percebemos que as trajetórias dos movimentos sociais negros brasileiros têm sido marcadas por um processo histórico de resistências e de lutas em defesa do direito à diferença étnica e, ainda, pela implementação de políticas públicas voltadas à garantia dos princípios da reparação, do reconhecimento e da valorização do povo negro. No período da ditadura militar não foi diferente. Portanto, desde o início, nosso objetivo é perceber se através de canções, as letras das músicas entoadas por cantores negros possibilitam a militância pelo povo negro através da arte. Para isso propomos a seguir a análise das letras propostas para este trabalho. Entre canções e Resistências Como já discutido anteriormente, durante o processo da ditadura militar, vemos presente nesse período, mais especificamente, meados dos anos 1970 é identificado o aparecimento de artistas negros como porta-vozes de um discurso reivindicatório, presente no cenário nacional. Para identificar o possível processo de luta e de resistência do povo negro, propomos para este artigo a análise de duas letras de músicas. Primeiramente, traremos a música “Sou Negro”, interpretada por Toni Tornado. E posteriormente a música “Tributo à Martin Luther King”, interpretada por Wilson Simonal. Entendemos que não há como não explicitar a importância destes artistas3 para o cenário da música brasileira, senão a partir de sua obra. Tornado, artista negro, passa a ser um referencial no meio artístico, ganhando notoriedade nacional como um cantor influenciado pelo orgulho negro, “[...] que preocupava os dirigentes militares por apresentar em performances o punho cerrado 3 Não traremos neste artigo uma discussão a respeito da vida deste artista, apontaremos a relevância de sua música e se a mesma faz relação com o objetivo proposto, que é a resistência através da letra da música. 11 visto como símbolo do grupo paramilitar estadunidense Partido dos Panteras Negras” (MORAES, 2014, p. 8). Toni Tornado, teve uma carreira fonográfica curta. Dedicou-se mais à carreira de ator, porém em sua carreira como cantor foi bem marcada com músicas diversas, como uma das mais conhecidas, que é BR 3, em pequena produção fonográfica, ele gravou músicas que trazem à tona a questão racial, conforme propõe Moraes: Apesar de uma curta carreira fonográfica, iniciada após o sucesso da canção “BR-3” apresentada no V FIC em 1970, na qual foram lançados apenas dois LPs, entre 1971 e 1972, e mais alguns compactos, antes do artista se enveredar definitivamente na carreira de ator. Nesta pequena produção a denúncia do preconceito racial é evidente em canções como “Juízo final”, “Se Jesus fosse um homem de cor”, “Sou negro”, “Uma idéia” [...] tanto pela sonoridade black quanto pelo uso das temáticas relacionadas ao Orgulho Negro aqui discutido” (MORAES, 2014, p. 8). Como já citada por Moraes, em sua discografia, Tornado traz à tona a temática africana, sempre no intuito da resistência e da luta desse povo. A música “Sou Negro” traz em si essa resistência do povo negro. "Dessa vida nada se leva Não sei porque você tem tanto orgulho assim Você sempre me despreza Sei que sou negro mas ninguém vai rir de mim Vê se entende, vê se ajuda O meu caráter não está na minha cor O que eu quero, não se iluda Por Deus eu juro, é conseguir o teu amor Sou negro sim Sou negro sim Sou negro sim Mas ninguém vai rir de mim!" A letra da música começa colocando todos as pessoas em pé de igualdade, e faz uma referência à morte, pois diz que “dessa vida nada se leva”. A letra ainda propõe que 12 por ser negro, a pessoa, no caso o cantor, é tratado de maneira diferenciada, com desprezo e que o olhar para com o negro é um olhar de orgulho. O motivo pelo qual há essa atitude é justificada na frase: “sei que sou negro” e na sequência, a frase enfatiza, que ele sabe que é negro, porém, o caráter não está na cor da sua pele. Aqui é levado em consideração a construção histórica que demarca a inferiorização do negro pela cor de sua pele, conforma justifica Munanga, que referenda sobre a questão da pele como: um fator relativamente superficial, pois menos de 1% de nossos genes são responsáveis pela cor da pele. Critérios como este, somado a forma do nariz, dos lábios e do queixo, foram considerados, no decorrer do século XIX, como indicadores de classificação racial. O estudioso assevera que “raça” é um grupo social que pode ser identificado pelos traços culturais, linguísticos, religiosos, mas nunca exclusivamente pelos traços físicos (MUNANGA, 1990, p. 52). A letra ainda propõe um desejo por parte de seu interlocutor, que é jurando em nome de Deus, conseguir o amor, a quem ele se refere na música. Aliás, a utilização do termo “Deus” nas músicas de Tornado são frequentes, como sugerem Alves e Pelegrini sobre a “invocação a Deus acontece como se fosse lamento, inclusive, as palavras “Deus”, “Senhor”, “Pai” e “Amém” são recorrentes nas músicas gravadas por ele e estão presentes também em “Uma Canção pra Arla” e “Eu Disse Amém” (ALVES e PELEGRINI, 2014, p. 12). Na leitura da música e ao refletirmos sobre o nosso objeto de pesquisa que é a resistência do povo negro, identificamos como o momento de resistência da música o trecho que é enfatizada por três vezes “sou negro sim” e termina dizendo: “e ninguém vai rir de mim”. A repetição da frase eu sou negro, reforça a ideia da afirmação em relação a sua identidade étnica, pois brada em alto e bom som que é negro e isso é motivo de orgulho, devido ao enfoque. Quanto a frase “e ninguém vai rir de mim”, sinaliza que sabe que o riso em relação ao negro é um riso cravejado de preconceito. Portanto, não irá permitir que ninguém manifeste-se dessa maneira. 13 A resistência expressa na letra desta música é notada como a imposição do sujeito em detrimento do tratamento social que este recebe em relação à sua etnia e a cor de sua pele. Podemos dizer que, o processo de luto do povo negro se deu pela resistência e também pela tomada de consciência de si mesmo. O reconhecimento de quem se é, é o ponto de partida para a continuidade de sua luta. A segunda letra de música que analisaremos é “Tributo à Martin Luther King”, escrita por Wilson Simonal4 em parceria com Ronaldo Bôscoli. Da mesma forma que Tornado, Simonal foi um artista negro que teve seu auge e seu declínio nas décadas de 1960 e 1970. Não apontaremos aqui sua vida e obra, mas de acordo com Almeida Filho, Wilson Simonal foi um artista de superlativos. Mais do que ninguém, ele soube o que é sair da miséria, alcançar o estrelato e encerrar a vida completamente apagado da memória musical brasileira. De grande artista que fez 30 mil pessoas cantarem juntas no Maracanãzinho a “dedo-duro da ditadura (FILHO, 2009). A música, em seu título, já faz referência ao ativista negro, que dá o nome à música e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, e o cantor, em um programa de TV, fez um discurso expressivo e contundente, onde diz: “Eu compus uma música em parceria com meu amigo Ronaldo Bôscoli e intitulei Tributo a Martin Luther King. Martin Luther King é um negro norte-americano. O mérito maior de Martin Luther King é lutar, cada vez mais, pela igualdade de direitos das raças5”. A letra da música diz o seguinte: Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! 4 A dissertação de mestrado “Quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga: Wilson Simonal e os limites de uma memória tropical” de Gustavo Alves Alonso Ferreira, traz uma explanação muito bem elaborada acerca da vida de Wilson Simonal. Disponível em http://www.historia.uff.br/stricto/teses/Dissert-2007_FERREIRA_Gustavo_Alves_Alonso-S.pdf. O documentário sobre a vida de Simonal também é um material importante para conhecer a obra desse artista. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=wSS2_gi0tuY. 5 O excerto foi extraído do vídeo disponível em https://www.youtube.com/watch?v=FH0Ws4Sw0ZE. 14 Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Sim, sou um negro de cor Meu irmão de minha cor O que te peço é luta sim Luta mais! Que a luta está no fim... Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Oh! Oh! Oh! Oh! Cada negro que for Mais um negro virá Para lutar Com sangue ou não Com uma canção Também se luta irmão Ouvir minha voz Oh Yes! Lutar por nós... Luta negra demais (Luta negra demais!) É lutar pela paz (É Lutar pela paz!) Luta negra demais Para sermos iguais Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Para sermos iguais Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Ah! Ah! Ah! Ah! Sim, sou um negro de cor Meu irmão de minha cor O que te peço é luta sim Luta mais! Que a luta está no fim... Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Oh! Oh! Oh! Oh! Cada negro que for Mais um negro virá 15 Para lutar Com sangue ou não Com uma canção Também se luta irmão Ouvir minha voz Oh Yes! Lutar por nós... Luta negra demais (Luta negra demais!) É lutar pela paz (É Lutar pela paz!) Luta negra demais Para sermos iguais Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Para sermos iguais Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Oh! Oh! Oh! Oh! Já na primeira frase da música, o cantor, compositor e interprete afirma, em forma de resistência, que “sim”, ele é um negro de cor, demarcando seu espaço e sua identidade étnica, como defende Campos Simonal emenda o discurso de abertura a outro discurso, dessa vez cantando. A afirmação de sua identidade negra já é proclamada no primeiro verso: “Sim, sou um negro de cor”. É enfático ao afirmar “sim”! (CAMPOS, 2010, p. 27). O movimento de resistência continua no momento em convoca os “seus irmãos” a lutarem e lutarem mais, seja com sangue ou através da canção, acreditando que a luta está no fim. Consideramos que o auge da resistência presente na música é quando enfatiza que “cada negro que for, outro negro virá”, deixando claro que há sim uma luta. A luta e a resistência é presente na canção é por igualdade de direitos, neste sentido Boaventura de Souza Santos deixa bem entendido o que é essa igualdade quando diz: “...temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade 16 que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades”. (SANTOS, 2003, p. 56). Considerações Como pudemos verificar, o conteúdo expresso nas letras das canções oferecem visibilidade para a problemática social e colocam em destaque a questão da discriminação racial. Gostaríamos de salientar, também, a profunda influência da figura dos artistas, pois além da música, havia presente a imagem, que criava uma identidade em relação ao povo negro no processo de resistência da luta do negro. É importante lembrar que a resistência e a luta não pararam com o Movimento Negro, nem com as canções e nem com a representação identitária dos artistas. Após o trágico período da ditadura militar, houveram conquistas importantes para a população negra no Brasil, tais como a Constituição Federal de 1988, a Lei de 7.716/1989 de Criminalização6 do Racismo, as Leis 10.639/2003 e 11.645/20087 e a LDB. Avanços foram alcançados, porém, há muito que avançar ainda, até que possamos presenciar em nossa sociedade o povo negro ser tratado com respeito e dignidade, pois, a cor da pele de n ninguém é fator de inferioridade, nem de superioridade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALMEIDA FILHO, Luciano. Ano Wilson Simonal. Vida & Arte, O Povo, Fortaleza. 7/12/2009, p. 6. ALVES. Amanda Palomo e PELEGRINI, Sandra C. A. “Eu sei que a sombra das mãos joga no chão a mesma cor”: A força e a mensagem da musicalidade de Tony Tornado. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais Janeiro - Junho de 2014 Vol. 11 Ano XI nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br. 6 Vale enfatizar que toda a legislação presente da Constituição ainda não foi suficiente para garantir os direitos do povo negro. Foi necessária a criação de uma lei que faz do racismo crime. 7 Essas duas leis alteram a LDB em seu artigo 26 “A”, tornando obrigatória o Ensino da Cultura Africana, Afrobrasileira e Indígena nas escolas de todo país e em todos os níveis. 17 ALVES, Amanda Palomo. Do Blues ao movimento pelos direitos civis: o surgimento da “black music” nos Estados Unidos. In: Revista de História, 3, 1 (2011). P. 50-70. Captado em: http://www.revistahistoria.ufba.br/2011_1/a04pdf Acesso em 15/06/2013, 14h30. _____________________. O Poder Negro na Pátria Verde e Amarela: Musicalidade, Política e Identidade em Tony Tornado (1970). In: Diversidade Cultural AfroBrasileira: Ensaios e Reflexões. Fundação Cultural Palmares, Brasília-DF, 2012, P. 1328. ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Cia. das Letras, 1989, p. 32. CAMPOS, Ana Lúcia Lapolli. Com uma canção também se luta: O negro nas letras da canção brasileira nos anos de 60 e 70. 2010. 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