Romantismo
Advertência!
“A atenção aos estilos históricos não deve induzir à negligência
dos elementos transepocais da literatura. Assim, a história,
positiva e fecunda, dos estilos não tem por que ignorar a lição da
história, por exemplo, dos tópoi ou dos gêneros, a que eruditos
do porte de E. R. Curtius e H. R. Jauss deram contribuições do
mais alto valor. A história do estilo se superpõe, e não se
substitui, à da tópica e do gênero. E principalmente, não deve
ela, caindo presa de qualquer mística historicista, esquecer o
que um poeta como T. S. Eliot ou um crítico como N. Frye não
esqueceram: que a literatura é quase sempre, a cada instante da
sua história, o sistema total das obras literárias de todos os
tempos, ou, pelo menos, de uma determinada cultura e de suas
relações com outras. Literatura é, profundamente, tradição – e
tradição é o que ultrapassa, sem anular, a singularidade de cada
momento histórico.” (PORTELLA, Eduardo et al. Teoria Literária.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.)
Romantismo
 Contexto Histórico
Sob o impacto da Revolução Industrial e da
Revolução Francesa, de fins do século XVIII, o
romantismo surgiu no início do século XIX, naquela
que futuramente seria a Alemanha (onde teria,
inclusive, fundamental importância na unificação
germânica com o movimento Sturm und Drang –
tempestade e ímpeto: emoção acima da razão),
França e Inglaterra, num momento histórico, em que
as classes sociais, como as conhecemos hoje, se
definiam. Na ocasião, a sociedade se reorganizava
e as classes sociais criavam ou redefiniam suas
visões da existência e do mundo.
Das classes sociais desse período, a nobreza e a
pequena burguesia são as que vão atuar
essencialmente no movimento romântico. Assim, o
romantismo expressa, nas palavras de Karl
Mannheim, os sentimentos dos descontentes com a
nova ordem socioeconômica, isto é, com o capitalismo
industrial.
Recém-afastada do poder pelas revoluções, a nobreza
só podia amargar uma nostalgia do Antigo regime. Ao
mesmo tempo, a pequena burguesia expressava
espanto e insegurança, vendo barrados pela grande
burguesia, pelos verdadeiros capitalistas, seus
projetos de ascensão social, desenvolvidos durante a
luta contra a nobreza.
 O ambiente intelectual era de grande rebeldia. Na política, caíam os
sistemas de governo despóticos e surgia o liberalismo político (não
confundir com o liberalismo econômico do Século XX). No campo
social imperava o inconformismo. No campo artístico, o repúdio às
regras. A Revolução Francesa é o clímax desse século de oposição.
 No Brasil, o romantismo coincidiu com a independência política em
1822, com o Segundo reinado, com a guerra do Paraguai e com a
campanha abolicionista.
 Alguns autores neoclássicos já nutriam um sentimento mais tarde dito
romântico antes de seu surgimento de fato, sendo assim chamados
pré-românticos. Nesta classificação encaixam-se Francisco Goya e
Bocage.
 O Romantismo viria a se manifestar de formas bastante variadas nas
diferentes artes e marcaria, sobretudo, a literatura e a música (embora
ele só venha a se manifestar realmente aqui mais tarde do que em
outras artes). À medida que a escola foi sendo explorada, foram
surgindo críticos à sua demasiada idealização da realidade. Destes
críticos surgiu o movimento que daria forma ao Realismo.
 Em comum, essas duas classes sociais têm a insatisfação e o
inconformismo com a realidade, o que permite compreender muitos traços
subjacentes ao movimento romântico. É o caso do escapismo ou
evasionismo, a necessidade de escapar ao mundo objetivo, à sociedade,
ao tempo presente, em busca de refúgio no mundo subjetivo, no
indivíduo, no tempo passado.
A visão de mundo que privilegia o sujeito ou o subjetivismo, elemento
essencial ao pensamento romântico, é uma manifestação de amor à
liberdade do próprio romantismo, na medida em que constitui uma
afirmação dos valores individuais em oposição às normas sociais. É
também uma forma de oposição aos valores neoclássicos dos séculos
anteriores, cujo racionalismo artístico passou a ser desprezado em favor
de um emocionalismo e de um misticismo (este último, por sua vez,
ostenta a religião cristã em oposição à mitolologia clássica, que tinha sido
revalorizada durante século XVIII).
Nacionalismo e Inovação
 Quanto ao subjetivismo, merece ênfase a supervalorização do indivíduo,
que tem como contrapartida um certo desprezo pela sociedade.
Entretanto, uma ideia de coletividade pode inspirar o Romantismo e ser
por ele valorizada: a da união compacta de todos os indivíduos, a da
grande coletividade superior às divisões sociais, isto é, a ideia de Pátria,
de Nação. Assim, sem trombar com o individualismo, o nacionalismo
será outra característica essencial do movimento romântico.
Entranhados nesses fatores de fundo ou conteúdo, vamos encontrar os
elementos formais do Romantismo que, devido à liberdade inerente ao
subjetivismo, contrapõem-se à contenção formal do Classicismo do
século XVIII. Desse modo, os gêneros tradicionais da literatura
passaram a ser questionados e substituídos pela liberdade inventiva e
criativa da escola romântica.
No teatro, tornam-se vagos os limites entre a tragédia e a comédia, que
se mesclam para originar o drama. Na poesia, formas fixas como o
soneto e a ode cedem lugar a composições mais livres, como a balada
e a canção e a imensa maioria dos poemas sem forma definida.
Finalmente, na prosa, a epopeia entrega o bastão ao romance
(particularmente ao romance histórico), gênero cujas origens são
polêmicas.
Amores e Aventuras
 De qualquer modo, é ponto pacífico que a forma romance se
propaga e se consolida no século XIX, tendo se tornado o
grande veículo de difusão de ideias, sentimentos e emoções, e
inclusive crítica social da época. Dando vazão ao registro dos
costumes, à ficção histórica, à narrativa de amores e de
aventuras, o romance foi a forma que melhor se adaptou às
necessidades expressivas dos autores daquela época.
Da mesma maneira, foi a que melhor serviu ao entretenimento
do público leitor de então. Nos centros urbanos, que
conheciam um período de franca expansão com a implantação
da indústria e dos serviços, a classe média crescia e se
consolidava, descobrindo na leitura uma acessível forma de
lazer (hoje encontrado na televisão).
Assim, eram os jovens e as mulheres das cidades, com alguns
recursos e instrução, que compunham basicamente o público
leitor de romances, onde encontravam, em forma narrativa,
uma projeção de suas próprias emoções, expectativas, busca
de amor e felicidade, e ainda identificava suas desilusões.
O Papel da Mídia
 Além disso, o desenvolvimento do jornalismo no
século XIX, com o surgimento de jornais e revistas
regulares (diários e semanários) gerou um suporte
material que, além de barato e de fácil acesso ao
público em geral, se revelou intrinsecamente
propício ao romance. Afinal, por apresentar uma
narrativa longa, o romance se subdivide em
unidades menores, os capítulos.
 Assim, o romance romântico do século XIX era
publicado, capítulo por capítulo, numa parte dos
jornais, no chamado folhetim, espaço cuja função
era amenizar o peso e a gravidade das leituras
políticas, econômicas, do noticiário em geral,
caracterizando-se pela diversão e o entretenimento.
Características
 o lirismo
 o subjetivismo
 o sonho de um lado, o exagero, a busca pelo
exótico e pelo inóspito de outro
 o nacionalismo
 a idealização do mundo e da mulher
 a fuga da realidade e o escapismo
 eventualmente: o pessimismo e um certo gosto
pela morte.
 Subjetivismo
O romancista trata dos assuntos de forma pessoal, de acordo com
sua opinião sobre o mundo. O subjetivismo pode ser notado através
do uso de verbos na primeira pessoa.
Com plena liberdade de criar, o artista romântico não se acanha em
expor suas emoções pessoais, em fazer delas a temática sempre
retomada em sua obra. O eu é o foco principal do subjetivismo, o eu
é egoísta, forma de expressar seus sentimentos.
 Idealização
Empolgado pela imaginação, o autor idealiza temas, exagerando
em algumas de suas características. Dessa forma, a mulher é uma
virgem frágil, o índio é um herói nacional, e a pátria sempre perfeita.
Essa característica é marcada por descrições minuciosas e muitos
adjetivos.
 Egocentrismo
Como o nome já diz, é a colocação do ego no centro de tudo.
Vários artistas românticos colocam, em seus poemas e textos, os
seus sentimentos acima de tudo, destacando-os no texto. Pode-se
dizer, talvez, que o egocentrismo é um subjetivismo exagerado.
 Sentimentalismo
Praticamente todos os poemas românticos apresentam
sentimentalismo já que essa escola literária é movida através da
emoção, sendo as mais comuns a saudade, a tristeza e a desilusão.
Os poemas expressam o sentimento do poeta, suas emoções, e são
como o relato sobre uma vida.
O romântico analisa e expressa a realidade por meio dos
sentimentos. E acredita que só sentimentalmente se consegue
traduzir aquilo que ocorre no interior do indivíduo.
 Natureza interagindo com o eu lírico
A natureza, no Romantismo, expressa aquilo que o eu-lírico está
sentindo no momento narrado. A natureza pode estar presente desde
as estações do ano, como formas de passagens, à tempestades, ou
dias de muito sol.
 Grotesco e sublime
Há a fusão do belo e do feio, diferentemente do arcadismo que visa
a idealização do personagem principal, tornando-o a imagem da
perfeição.
 Medievalismo
Alguns românticos se interessavam pela origem de seu povo, de sua
língua e de seu próprio país. Na Europa, eles acharam no cavaleiro fiel
à pátria um ótimo modo de retratar as culturas de seu país. Esses
poemas se passam em eras medievais e retratavam grandes guerras e
batalhas.
 Indianismo
É o medievalismo "adaptado" ao Brasil. Como os brasileiros não
tinham um cavaleiro para idealizar, os escritores adotaram o índio
como o ícone para a origem nacional e o colocam como um herói. O
indianismo resgatava o ideal do "bom selvagem" (Jean-Jacques
Rousseau), segundo o qual a sociedade corrompe o homem e o
homem perfeito seria o índio, que não tinha nenhum contato com a
sociedade europeia.
 Byronismo
Inspirado na vida e na obra de Lord Byron, poeta inglês. Estilo de vida
boêmio, voltado para vícios, bebida, fumo e sexo, podendo estar
representado no personagem ou na própria vida do autor romântico. O
byronismo é caracterizado pelo narcisismo, pelo egocentrismo, pelo
pessimismo, pela angústia.
 Romantismo nas belas artes
 Segundo Giulio Carlo Argan, na sua obra Arte moderna, o
Romantismo e o Neoclassicismo são simplesmente duas
faces de uma mesma moeda. Enquanto o neoclássico busca
um ideal sublime, objetivando o mundo, o romântico faz o
mesmo, embora tenda a subjetivar o mundo exterior. Os dois
movimentos estão interligados, portanto, pela idealização da
realidade (mesmo que com resultados diversos).
 As primeiras manifestações românticas na pintura ocorreram
quando Francisco Goya passou a pintar depois de começar a
perder a audição. Um quadro de temática neoclássica, como
Saturno Devorando Seus Filhos, por exemplo, apresenta uma
série de emoções para o espectador que o fazem se sentir
inseguro e angustiado. Goya cria um jogo de luz-e-sombra,
linhas de composição diagonais e pinceladas "grosseiras“, de
forma a acentuar a situação dramática representada. Apesar
de Goya ter sido um acadêmico, o Romantismo somente
chegaria à Academia mais tarde.
 O francês Eugène Delacroix é considerado um pintor romântico
por excelência. Sua tela A Liberdade Guiando o Povo reúne o
vigor e o ideal românticos em uma obra que estrutura-se em um
turbilhão de formas. O tema são os revolucionários de 1830
guiados pelo espírito da Liberdade (retratados aqui por uma
mulher carregando a bandeira da França). O artista coloca-se
metaforicamente como um revolucionário ao se retratar em um
personagem da turba, apesar de olhar com uma certa reserva
para os acontecimentos (refletindo a influência burguesa no
romantismo). Esta é provavelmente a obra romântica mais
conhecida.
 A busca pelo exótico, pelo inóspito e pelo selvagem
formaria outra característica fundamental do
Romantismo. Exaltavam-se as sensações extremas,
os paraísos artificiais, a natureza em seu aspecto
mais bruto. Lançar-se em "aventuras" ao embarcar
em navios com destino aos pólos, por exemplo,
tornou-se uma forma de inspiração para alguns
artistas. O pintor inglês William Turner refletiu esse
espírito em obras como Mar em Tempestade, em que
o retrato de um fenômeno da natureza é usado como
forma de atingir os sentimentos supracitados.
Romantismo na Literatura
 O Romantismo surge na literatura quando os
escritores trocam o mecenato aristocrático pelo
editor, precisando assim cativar um público
leitor. Esse público estará entre os pequenos
burgueses, que não estavam ligados aos
valores literários clássicos e, por isso,
apreciariam mais a emoção do que a sutileza
das formas do período anterior. A história do
Romantismo literário é bastante controversa.
 Em primeiro lugar, as manifestações em poesia e prosa
popular na Inglaterra são os primeiros antecedentes, embora
sejam consideradas "pré-românticas" em sentido lato.
 Os autores ingleses mais conhecidos desse pré-Romantismo
"extra-oficial" são William Blake (cujo misticismo latente em
The Marriage of Heaven and Hell - O Casamento do Céu e
Inferno, 1793, atravessará o Romantismo até o Simbolismo)
e Edward Young (cujos Night Thoughts - Pensamentos
Noturnos, 1742, re-editados por Blake em 1795,
influenciarão o Ultra-Romantismo), ao lado de James
Thomson, William Cowper e Robert Burns.
 O Romantismo "oficial" é reconhecido nas figuras de
Coleridge e Wordsworth (Lyrical Ballads - Baladas Líricas,
1798), fundadores; Byron (Childe Harold's Pilgrimage,
Peregrinação de Childe Harold, 1818), Shelley (Hymn to
Intellectual Beauty - Hino à Beleza Intelectual, 1817) e Keats
(Endymion, 1817), após o Romantismo de Jena.
 Em segundo lugar, os alemães procuraram renovar sua
literatura pelo retorno à natureza e à essência humana, com
assídua recorrência ao "pré-Romantismo extra-oficial" da
Inglaterra. Esses escritores alemães formaram o movimento
Sturm und Drang (tempestade e ímpeto), donde surge então,
mergulhado no sentimentalismo, o pré-Romantismo "oficial",
isto é, conforme as convenções historiográficas.
 Goethe (Die Leiden des Jungen Werther - O Sofrimento do
Jovem Werther, 1774), Schiller (An die Freude - Ode à
Alegria, 1785) e Herder (Auszug aus einem Briefwechsel
über Ossian und die Lieder alter Völker - Extrato da
correspondência sobre Ossian e as canções dos povos
antigos, 1773) formam a Tríade.
 Alguns jovens alemães, como Schegel e Novalis, com novos
ideais artísticos, afirmam que a literatura, no sentido de arte
literária, precisa expressar não só o sentimento como
também o pensamento, fundidos na ironia e na autorreflexão.
Era o Romantismo de Jena, o único Romantismo autêntico
em âmbito internacional.
 Em terceiro lugar, a difusão europeia do
Romantismo tomou como românticas as formas
pré-românticas da Inglaterra e da Alemanha,
privilegiando, portanto, apenas o
sentimentalismo em detrimento da complicada
reflexão do Romantismo de Jena.
 Por isso, mundialmente, o Romantismo é uma
extensão do pré-Romantismo. Assim, na França,
destacam-se Stendhal, Hugo e Musset; na Itália,
Leopardi e Manzoni; em Portugal, Garrett e
Herculano; na Espanha, Espronceda e Zorilla.
 Tendo o liberalismo como referência ideológica, o
Romantismo renega as formas rígidas da literatura, como
versos de métrica exata.
 O romance se torna o gênero narrativo preferencial, em
oposição à epopeia. É a superação da retórica, tão
valorizada pelos clássicos.
 O romantismo é um movimento que vai contra o avanço
da modernidade em termos da intensa racionalização e
mecanização. É uma crítica à perda das perspectivas
que fogem àquelas correlacionadas à razão.
 Os aspectos fundamentais da temática romântica são o
historicismo e o individualismo.
 O historicismo está representado nas obras de Walter
Scott (Inglaterra), Vitor Hugo (França), Almeida Garrett
(Portugal), José de Alencar (Brasil), entre tantos outros.
São resgates históricos apaixonados e saudosos ou
observações sobre o momento histórico que se
atravessava, como no caso de Balzac ou Stendhal
(ambos franceses).
 O individualismo, traz consigo o culto do egocentrismo,
vazado de melancolia e pessimismo (mal-do-século). Pelo
apego ao intimismo e a valores extremados, os poetas
dessa vertente foram chamados de ultra-românticos.
Esses escritores, como Byron, Alfred de Musset e Álvares
de Azevedo, beberam do Sturm und Drang alemão,
perpetuando as fontes sentimentais.
Romantismo na Música
 As primeiras evidências do romantismo na música
aparecem com Beethoven. Suas sinfonias, a partir da
terceira, revelam uma música com temática
profundamente pessoal e interiorizada, assim como
algumas de suas sonatas para piano também, entre as
quais é possível citar a Sonata Patética.
 Outros compositores, como Chopin, Tchaikovsky, Felix
Mendelssohn, Liszt, Grieg e Brahms, levaram ainda mais
adiante o ideal romântico de Beethoven, deixando o rigor
formal do Classicismo para escreverem músicas mais de
acordo com suas emoções.
 Na ópera, os compositores mais notáveis foram Verdi e
Wagner.
 O primeiro procurou escrever óperas, em sua maioria, com
conteúdo épico ou patriótico – entre as quais as óperas
Nabucco, I Vespri Sicilianni, I Lombardi nella Prima Crociata –,
embora tenha escrito também algumas óperas baseadas em
histórias de amor, como La Traviata.
 O segundo enfocava histórias mitológicas germânicas, caso da
Tetralogia do Anel dos Nibelungos e outras óperas, como
Tristão e Isolda e O Holandês Voador, ou sagas medievais,
como Tannhäuser, Lohengrin e Parsifal.
 Posteriormente, na Itália, o romantismo na ópera se
desenvolveria ainda mais com Puccini.
Romantismo em Portugal
 Teve como marco inicial a publicação do poema "Camões", de
Almeida Garrett, em 1825, e durou cerca de 40 anos, terminando
por volta de 1865, com a Questão Coimbrã.
 A Primeira Geração do Romantismo em Portugal vai de 1825 a
1840. Seus principais autores são Almeida Garrett, Alexandre
Herculano e Antônio Feliciano de Castilho.
 A Segunda Geração, ultrarromântica, de 1840 a 1860, tem como
principais autores Camilo Castelo Branco e Soares de Passos.
 A Terceira Geração, pré-realista, de 1860 a 1870,
aproximadamente, teve como principais autores Júlio Dinis e
João de Deus.
Romantismo no Brasil
 De acordo com o tema principal, os romances românticos
no Brasil podem ser classificados como indianistas,
urbanos ou regionalistas.
 No romance indianista, o índio era o foco da literatura,
pois era considerado uma autêntica expressão da
nacionalidade, e era altamente idealizado. Como um
símbolo da pureza e da inocência, representava o
homem não corrompido pela sociedade, o não capitalista,
além de assemelhar-se aos heróis medievais, fortes e
éticos. Junto com tudo isso, o indianismo expressava os
costumes e a linguagem indígenas, cujo retrato fez de
certos romances excelentes documentos históricos.
 Os romances urbanos tratam da vida na capital e relatam as
particularidades da vida cotidiana da burguesia, cujos
membros se identificavam com os personagens. Os
romances faziam sempre uma crítica à sociedade, por meio
de situações corriqueiras, como o casamento por interesse
ou a ascensão social a qualquer preço.
 Por fim, o romance regionalista propunha uma construção de
texto que valorizasse as diferenças étnicas, linguísticas,
sociais e culturais, que afastavam o povo brasileiro da
Europa e caracterizava-os como uma nação. Os romances
regionalistas criavam um vasto panorama do Brasil,
representando a forma de vida e a individualidade da
população de cada parte do país. A preferência dos autores
era por regiões afastadas de centros urbanos, pois estes
estavam sempre em contato com a Europa, além de o
espaço físico afetar suas condições de vida.
 O romantismo no Brasil, no que se refere à poesia, teve três
gerações de grandes poetas. O crítico literário Valentim
Facioli, professor da Universidade de São Paulo (USP),
explica o que foi e como se desenvolveu a poesia romântica
na literatura brasileira:
A poesia, o romance e o teatro procuraram "revelar" os
vários e diferentes aspectos do país e do homem brasileiro:
os sentimentos de amor à pátria, de grandeza do território
brasileiro, de beleza e majestade da natureza, de igualdade
de todos os habitantes do país, da benevolência e
hospitalidade do povo, das grandes virtudes dos nossos
costumes patriarcais, das incomuns qualidades afetivas e
morais da mulher brasileira, do alto padrão da nossa
civilização e da nossa privilegiada paz social.
 Essa imagem romântica do país não correspondia à
realidade. Por volta de 1850, a população do país era
de pouco mais de 8 milhões de habitantes: 5,5 milhões
dos quais eram homens livres, e 2,5 milhões,
escravos. Do total de habitantes, os alfabetizados
eram apenas 15 a 20%. A economia do país era quase
exclusivamente rural, agrícola, à custa do trabalho
escravo. Os homens livres, não-proprietários, viviam
em estreita dependência econômica, pessoal e moral
dos grandes proprietários rurais, mediante relações de
favor e proteção.
 A literatura, então, tinha um público restrito. Era feita
especialmente no Rio de Janeiro,, a Corte, sede do Império. Ali
floresceu um comércio mais intenso de mercadorias e de
ideias; surgiram os teatros, os bailes; as ruas movimentaramse; a burocracia civil e militar conseguiu certa autonomia em
relação aos proprietários e políticos conservadores. E o
surgimento de algumas escolas médias e superiores, não só no
Rio, mas também em Pernambuco, Bahia e São Paulo,
favoreceu o crescimento de um bom número de jovens mais
liberados dos rígidos controles patriarcais. As próprias
mulheres puderam sair da reclusão em que eram mantidas. Na
verdade, os jovens estudantes, a burocracia e as mulheres
mais liberadas constituíram o pequeno público que lia e
consumia a literatura romântica, tanto aquela produzida aqui,
quanto a importada da Europa, especialmente da França.
 Não existe um caráter único, uma semelhança
de estilo nos poetas românticos brasileiros como
um todo, pois como o Romantismo durou quase
meio século, foram muitos os autores que
escreveram sob sua influência. Por isso, com
base principalmente nas diferenças, podemos
agrupá-los em gerações, isto é, em grupos de
autores que se assemelham e viveram mais ou
menos no mesmo período, mas, ao mesmo
tempo, se diferenciam de outros. Podemos dizer
que há três gerações de românticos brasileiros.
 Na primeira geração romântica predominam o nacionalismo
e o patriotismo, por meio da "descoberta" de aspectos
característicos da paisagem local, nacional tropical, em que
se realça o típico, o exótico e a beleza natural, exuberante,
em oposição à paisagem e à natureza europeias. O índio é
encarado como elemento formador do povo brasileiro,
como nas obras de Gonçalves Dias e Gonçalves de
Magalhães.
 Há também forte religiosidade (oficialmente católica), que
identifica as possibilidades da poesia romântica com o
sentimento cristão, em oposição ao "paganismo" da poesia
neoclássica ligada à tradição greco-latina. Poesia amorosa,
idealizante e fortemente sentimental, marcada por certa
influência da lírica portuguesa, a medieval, a camoniana, e
a dos românticos, de Garrett, principalmente.
 A Segunda Geração mantém a maioria das
características da geração anterior. Mas os poetas
assumem agora um extremo subjetivismo, passando à
imitação de outros poetas europeus (Lord Byron, inglês;
Alfred Musset, francês, especialmente), centrando-se
numa temática de amor e morte, dúvida e ironia,
entusiasmo e tédio.
 A evasão e o sonho caracterizam o egotismo dessa
geração, isto é, o culto do eu, da subjetividade, através
da tendência para o devaneio, o erotismo difuso ou
obsessivo, a melancolia, o tédio, o namoro com a
imagem da morte, a depressão, a autoironia
masoquista.
 Essa geração traduz também uma certa rebeldia juvenil, um
pendor à transgressão, segundo o modelo criado pelo inglês
Lord Byron.
 O byronismo aparece através da figura do homem fatal, de
faces pálidas, olhar sem piedade, marcado pela melancolia
incurável, desespero e revolta, conjuntamente com a imagem
do poeta genial, mas desgraçado e perseguido pela
sociedade, condenado à solidão, incompreendido por todos,
desafiando o horror do próprio destino.
 O mal do século, uma doença indefinível, entedia e faz
desejar a morte como a única via de libertação. Na verdade,
trata-se da imagem de uma contradição insolúvel entre o
excesso de energia interior, do eu, a procura do absoluto, e os
limites das condições reais dos homens e da sociedade.
 São dessa geração Casimiro de Abreu, Laurindo Rabelo,
Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Fagundes Varela e
Bernardo Guimarães.
Os poetas da Terceira Geração guardam enormes diferenças entre
si, especialmente Castro Alves e Sousândrade. Essa é a geração
mais heterogênea do Romantismo no Brasil.
Castro Alves, escrevendo em fins da década de 60, já expressa a
crise do Brasil puramente rural e o lento, mas firme crescimento
da cultura urbana, dos ideais democráticos e, portanto, o
despontar de uma repulsa pela moral do senhor-servo, que poluía
as fontes da vida familiar e social no Brasil Império.
Os ideais abolicionistas e o culto do progresso são o fundo
ideológico da poesia de Castro Alves, que se faz eloquente,
grandiloquente, em sua oratória, repassada de imagens e
metáforas de grandeza. Marcada de forte indignação, a poesia de
Castro Alves faz-se também liberal, renovando o tema amoroso,
liberando-o das noções de pecado e culpa, cultivando um
erotismo sensual, de prazer, e denunciando a escravidão.
Castro Alves abre, portanto, "baterias poéticas" contra o
conservadorismo e o atraso mental, a moral do Império e
as injustiças da ordem social. Isso se convencionou
chamar de condoreirismo.
Sousândrade, que começa como poeta próximo da
Segunda Geração, torna-se uma voz destoante do nosso
Romantismo, entrando na Terceira Geração apenas por
cronologia.
Esquecida durante meio século, sua poesia, embora
marcada também pelo abolicionismo e republicanismo,
realiza-se diferentemente dos românticos, porque
repassada de grandes novidades temáticas e formais.
O processo de composição poética de Sousândrade
volta-se para inesperados arranjos sonoros, pelo
uso de diversas línguas integrativamente, com
ousados "conjuntos verbais“, que quebram a
estrutura sintática da língua portuguesa.
A par com isso, por ter vivido anos nos Estados
Unidos, Sousândrade foi capaz de captar os novos
modos de vida do capitalismo industrial e urbano,
em o "inferno de Wall Street", trecho do poema "O
Guesa", fundindo-os com certas tradições míticas e
culturais dos índios, especialmente os da América
espanhola, os quíchuas.
O Romantismo questionou, desmoralizou e destruiu o velho
princípio clássico da imitação dos modelos antigos. Para os
românticos, a expressão artística única, irrepetível, correspondia à
expressão do indivíduo e suas inumeráveis emoções, iluminação
súbita e inspirada. Daí o surgimento de uma poética da "invenção" e
da "novidade" como busca permanente da expressão de cada
indivíduo, de cada momento, de cada sentimento, de cada paixão,
como algo único e irrepetível.
Essa necessidade se impõe à estrutura do poema, ao ritmo, à rima,
à dicção, à métrica, à alternância de versos longos e curtos, às
metáforas ousadas, às hipérboles, ao aproveitamento da linguagem
poética em todas as suas potencialidades musicais e expressivas.
Por isso, a simples observação ligeira mostra-nos diferenças
notáveis entre os poetas românticos, ao passo que os neoclássicos,
por exemplo, mais se assemelham por seguirem com certo rigor os
modelos tradicionais.
Ao equilíbrio neoclássico, o Romantismo contrapõe o
desequilíbrio inovador e experimental. A linguagem é
vista como impotente, incapaz de expressar toda a
emoção e o sentimento.
Diante da carga nova da sensibilidade e da intuição é
necessário que as regras do código (isto é, a gramática
da língua) sejam questionadas, que as categorias da
razão sejam descartadas e sobressaia a palavra,
carregada de sentimentos, do coração do poeta para o
coração do leitor. Isso faz com que o poeta romântico
privilegie o emissor (o eu, a função emotiva da
linguagem, isto é, aquele que fala), comportando-se,
diante da palavr,a com a desconfiança que, por assim
dizer, ele inaugura na literatura ocidental moderna.
O Romantismo no Brasil significa a diferenciação da
nossa literatura com a portuguesa, mediante a
diferenciação temática e de linguagem.
O romantismo quebrou a estreita dependência linguística
que nos prendia à tradição literária portuguesa, pela
incorporação de peculiaridades vocabulares e sintáticas e
por procurar um ponto de vista nacional brasileiro.
Ao mesmo tempo, pelas contradições inerentes ao nosso
país e pelas profundas diferenças entre o império
brasileiro e a Europa burguesa, o romantismo impregnouse de contradições que bem expressam a situação global
de adaptação de uma profunda corrente cultural e
artística, nascida no exterior, às condições do Brasil, país
atrasado, dependente e preso à órbita da Europa.
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