Fenômeno Religioso - Budismo
BUDISMO
Bruno Glaab
Introdução
No presente estudo veremos a origem do Budismo, sua história, sua doutrina e suas características, bem como sua situação atual no mundo e no Brasil.
Estudar um fenômeno religioso da importância do Budismo é certamente uma
tarefa gigantesca e difícil, mas mesmo assim, pretende-se, aqui dar uma visão
panorâmica deste fenômeno religioso que se faz presente em todo mundo.
Origem
O Budismo nasceu na Índia, em meio ao Hinduísmo no século
VI a.C. como uma reforma dentro do Hinduísmo. Mas no século
XI d.C. quase desapareceu na Índia devido aos conflitos com o
Hinduísmo e com o Islã. Hoje na Índia o Budismo chega apenas
a 1% da população (COOGAN, 2007, p172). Atualmente o Budismo está arraigado na China, no Japão, na Coréia, no Tibete,
etc.(DELUMEAU, 2000, p. 313).
Buda viveu entre 566-486 a.C. Oriundo do Nepal (Índia). Viveu
vida de luxo entre os prazeres da vida, mas cedo percebeu que a
felicidade terrena é efêmera. Descobriu, também, o sofrimento.
Aos 20 anos, saindo furtivamente do palácio real, se depara com um ancião, com um
doente e com um cadáver. Diante disto refletiu sobre a mísera condição humana. Encontrou, também, um asceta que parecia feliz. Já com 29 anos abandonou a esposa e o filho,
bem como a vida de palácio e foi viver como pobre, fazendo rigorosa ascese em contínua itinerância.
Siddhartha Gautama fez uma primeira tentativa, experimentando a ascética e quase morreu de
fome ao longo do processo1. Mas, depois de aceitar leite e arroz de uma menina da vila, ele mudou sua abordagem. Concluiu que as práticas ascéticas extremas, como o jejum prolongado, respiração sem pressa e a exposição à dor trouxeram poucos benefícios, espiritualmente falando.
Deduziu então que as práticas eram prejudiciais aos praticantes. Ele abandonou o ascetismo,
concentrando-se na meditação anapanasati, através da qual descobriu o que hoje os budistas
chamam de caminho do meio: um caminho que não passa pela luxúria e pelos prazeres sensuais,
mas que também não passa pelas práticas de mortificação do corpo (Wikipédia).
Buda sentou-se debaixo de uma árvore, prometendo não
sair dali até descobrir a verdade. Debaixo desta árvore,
Buda foi tentado por Mara (demônio) sob a forma de uma
cobra Naja que queria leva-lo direto para o nirvana (céu).
Buda percebeu que desta forma resolveria seu problema,
mas não passaria sua mensagem para os demais seres
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Conta a lenda que por um longo período se alimentava comendo um grão de arroz por dia.
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humanos (SHs). Preferiu ficar surdo diante de Mara2. Numa noite enluarada ele despertou do sono e foi iluminado. “Experimentou a suprema verdade como suprema alegria, e
encontrou o caminho para sair do sofrimento” (SCHERER, 2005, p.18). Assim, aos 40
anos ele fundou uma ordem monástica. Foi no mosteiro que ele se tornou Buda, que
quer dizer, desperto, ou iluminado. Neste mosteiro elaborou sua doutrina e depois saiu
em peregrinação entre os povoados para divulgar a mesma. Sua doutrina se espalhou
por toda a Índia, apesar da resistência dos Hindus. Morreu aos 80 anos. Depois de sua
morte surgiram outros Budas (iluminados), mas ele é o Buda por excelência.
Após sua morte, seus discípulos compilaram seus ensinamentos, num concílio,
em Tradição Oral que era memorizada e recitada, e somente cinco séculos mais tarde
resultou em alguns livros, formando assim três partes do cânon budista.
Seu nome era Gaudama e apelidado de Siddharta (bem sucedido). Sua biografia
é confusa. Nada deixou escrito. O que hoje forma seu legado bibliográfico foi escrito
uns cinco séculos após a sua morte (DELUMEAU, 2000, p.41), o que nos faz entender
que nem tudo o que se diz dele é real, mas antes, tradição de séculos. Buda não é considerado um deus, nem um sobrenatural, mas apenas um SH que encontrou o verdadeiro
caminho para todos os demais SH.
Buda, como é conhecido, seria fruto de diversas reencarnações anteriores, onde
ele teria se preparado, aprendendo com outros budas (iluminados). Assim, ele seria uma
síntese de vidas anteriores, bem como síntese de muitos outros budas. Aprendeu com
suas próprias experiências anteriores, como também, com os ensinos dos demais mestres (COOGAN, 2007, p.168). Buda seria a última encarnação de um longo processo.
Foi para o nirvana e não precisou mais reencarnar.
Um século após a morte de Buda já começaram as divisões entre seus seguidores. Um monge convocou um Concílio para preservar os ensinamentos de Buda. Neste
concílio tentou-se formar um corpo de doutrina e práticas que orientariam as comunidades budistas. Assim se formou o que hoje é o cerne do Budismo (COOGAN, 2007,
p.172). Outros concílios vieram nos séculos seguintes. Formaram-se 18 escolas. Destas
sobrevive ainda uma, chamada Teravada dominante no sudeste da Ásia. No século III
a.C até o séc. II d.C. o Budismo teve grande expansão no mundo oriental, atingindo a
China, o Japão, a Coréia, etc. No Tibete se tornou forte a partir do séc.VII d.C. Hoje o
Budismo do Tibete é muito conhecido devido ao Dalai Lama, que é interpretado como a
14ª reencarnação3.
Budismo
O budismo pode ser dividido em dois grandes ramos: Theravada
("Doutrina dos Anciões") e Mahayana ("O Grande Veículo"). A tradição Theravada, [...], é o mais antigo ramo do budismo. É bastante
fundido nas regiões do Sri Lanka e sudeste da Ásia, já a segunda,
Mahayana, é encontrada em toda a Ásia Oriental e inclui, dentro de si,
as tradições e escolas Terra Pura, Zen, Budismo de Nitiren, Budismo
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Mara é o rei dos demônios (COOGAN, 2007, p.170). Poderia haver um certo paralelo com a
serpente que seduziu Eva (Gn 3,1ss)?
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Acredita-se que o Dalai Lama seja a reencarnação de uma longa linha de tulkus, que optaram pela reencarnação, a fim de esclarecer a humanidade. O Dalai Lama é muitas vezes considerado o chefe da Escola Gelug, mas
esta posição oficialmente pertence ao Ganden Tripa, que é uma posição temporária nomeada pelo Dalai Lama (que,
na prática, exerce mais influência). Dalai significa "Oceano" em mongol e "Lama" é a palavra tibetana para mestre,
guru, e várias vezes referido por "Oceano de Sabedoria", um título dado pelo regime mongoliano a Altan Khan (o
terceiro Dalai Lama) e agora aplicado a cada encarnação na sua linhagem. Os dalai lamas são mostrados como sendo
a manifestação de Avalokiteshvara, o Bodhisattva da Compaixão, cujo o nome é Chenrezig em tibetano. Após a morte do Dalai Lama, uma pesquisa é instituída pelos seus monges para descobrir o seu renascimento, ou tulku (Wikipedia).
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Tibetano, Tendai e Shingon. Em algumas classificações, a Vajrayana aparece como subcategoria
de Mahayana, entretanto é reconhecida como um terceiro (Wikipedia).
No Budismo Teravada não se imagina perdão por uma ato, uma vez que o carma
é um processo impessoal de ecausa e efeito. As consequências são o efeito lógico. Ao
mal se retribuirá com o mal, ao bem, com o bem. Como a pedra de dominó, ao cair,
provoca seu efeito na pedra seguinte, assim nossos atos provocam seu efeito. Já na tradição Mahayana se conhece a purificação através de exercícios de piedade como pela
récita de textos sagrados e de mantras. Assim sendo, encontra-se uma grande discrepância entre os dois ramos
Renascimento
O Budismo conhece uma sequência de reencarnações, que
são entendidas como rotação de uma vida para a outra. Entende-se que o SH nasce, envelhece, morre e renasce em outro corpo e repete o mesmo ciclo:
O renascimento pode se dar sob a forma humana, divina, animal ou de identidade; ou se pode também renascer para ser punido no inferno.
A natureza da reencarnação depende do carma, ou lei moral de retribuição. Quanto maior o mérito
acumulado ao longo da vida, mais alto é o patamar do renascimento, e o inverso se aplica àqueles que
acumularam mais pecados que méritos (COOGAN, 2007, p.192).
Antes de reencarnar os maus ficam em um inferno, onde se purificam. Os que mais
são punidos são os parricidas e aqueles que mataram seus mestres. Tanto os que ardem
nos infernos como aqueles que já chegaram ao nirvana podem mudar sua sorte. Os condenados podem reencarnar e pagar seus pecados, assim também os que chegaram à divindade podem gastar seus méritos e voltar ao mundo humano. Nenhum estado é definitivo.
Só pessoas muito puras, com grande espiritualidade podem renascer diretamente nos
céus, sem a necessidade de retornar a outras reencarnações. Para isto, os budistas se esmeram na meditação. O próprio Buda é entendido como um SH que chegou ao Nirvana
e nunca mais precisa reencarnar COOGAN, 2007, p.176).
Alguns Budas iluminados deixaram poder em seus nomes. Por exemplo, quem ao
morrer, pronunciar seu nome, renasceria na Terra Pura.
Escritos
B
Buda não considera seu ensino como doutrina revelada, mas antes,
como resultado lógico de sua iluminação. Ele não tem a pretensão de
ensinar verdades absolutas, ele apenas quer ensinar o melhor caminho, nunca negando que outros caminhos possam existir. Uma vez
que o SH tenha chegado ao nirvana, não precisa mais da doutrina.
Não ensinava verdades absolutas, ou dogmáticas. Dizia a seus interlocutores: “Vem e
experimenta tu mesmo”. Seus ensinamentos são ofertas, não mandamentos. Revelação
seria, então, a luz que ilumina Buda e seus grandes cooperadores, mestres que realçaram
os ensinamentos de Buda. Ele nada escreveu. Seus discípulos compilaram seus ensinamentos, depois de sua morte. Mas ao longo de 45 anos de missão, anunciou 84.000 ins-
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truções de seu caminho de salvação4. Tudo era Tradição
Oral, só 500 anos mais tarde se escreve os ensinamentos de
Buda (COOGAN, 2007, p.172). Antes de serem livros, seus
ensinamentos eram recitado de cor pelos monges. O primeiro
escrito vem do Pali (Índia Central). Este escrito é também
chamado de Cânon Páli (três cestos). Existem ainda fragmentos de assembleias de outras escolas antigas, sobretudo chinesas, bem como o Cânon Tibetano (108 volumes).
Textos budistas são frequentemente recitados e copiados como ato de devoção, e é comum, especialmente na tradição maaiana, colocar textos em altares como objetos de adoração, junto com
imagens de Buda, ou no lugar delas” (COOGAN, 2007, p.180).
Doutrina
Buda não se apresenta como um Deus, nem sequer um enviado de
Deus. Os fiéis fazem oferendas para as imagens de Buda. Isto, no
entanto, não significa adoração. Antes, quer significar comunhão
com os méritos de Buda. Na realidade, o Budismo não se entende
apenas como uma religião, mas também como um sistema filosófico
e ético que busca trazer o equilíbrio e superar o sofrimento. Para o
Budismo os deuses não desempenham nenhum papel. Os deuses são
seres que estão no topo dos ciclos das reencarnações. Ou seja, Buda
deu pouco valor aos deuses. “ocupar-se com deuses e forças sobrenaturais apenas iria
afastar do objetivo, que é iluminação” (SCHERER, 2005, p.44). Os deuses, segundo
Buda, nada têm a ver com a situação humana, nem podem ajudar ao SH, uma vez que
eles apenas estão cumprindo um ciclo. Buda nunca negou deuses e anjos, mas eles próprios estão dentro do jogo das reencarnações e por isto, podem sofrer e invejar o SH,
mas para quem segue o caminho de Buda, os deuses e demônios não são nenhum perigo. Alguns demônios são também deuses. Os SHs que avançam muito na virtude, tornam-se bodisatvas (futuros budas) adquirem poderes celestes. Já poderiam ser budas e ir
para o Nirvana, mas, por opção livre e por amor, adiam tal estado para poder guiar os
humanos por mais tempo (COOGAN, 2007, p.172). Assim, entre os Mahayanos conservam um panteão de semidivindades, ou seja, bodisatvas.
Sua doutrina, o dharma, não é entendida como uma revelação divina, mas como
um meio de superar o sofrimento, ou seja, este é seu caminho de salvação. Por isto
mesmo, as diversas escolas budistas se relacionam com parcimônia, pois nenhuma escola encara seus ensinamentos como absolutos. O próprio Buda via suas instruções como
meios apropriados e não como verdades absolutas (SCHERER, 2005, p.25).
A primeira das profundas percepções de Buda foi o conhecimento sobre seus nascimentos passados. Ela foi seguida pelo conhecimento do nascimento de todos os outros seres e, finalmente, pela compreensão das Quatro Nobres Verdades: a verdade do sofrimento, a verdade da origem do
sofrimento, a verdade da cessação do sofrimento e a verdade do Caminho” (COOGAN, 2007,
p.171).
O Budismo herdou do Hinduísmo a crença na Reencarnação, ou seja, o SH está
num ciclo de reencarnações onde ele vai evoluindo, ou mesmo regredindo em vista de
atos realizados em reencarnações anteriores, até chegar ao nível perfeito. O objetivo é
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Embora haja, hoje, muitas escolas ou tendências budistas, todas as escolas se valem destas
84.000 instruções.
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romper este ciclo de reencarnações e chegar ao Nirvana, que quer
dizer extinção, ou ainda, repouso indescritível. Não acredita num Ser
Supremo, que premia os bons ou castiga os maus. Não sacrifica
animais, nem aceita as castas. Ensinou quatro verdades: 1) tudo é
dor, 2) a dor vem do desejo, 3) é preciso mitigar o desejo, 4) existe
um caminho correto e justo para chegar à indiferença frente felicidade e à infelicidade, o que leva ao verdadeiro sentido da vida (DELUMEAU, 2000, p.313).
Os princípios de sua doutrina podem ser assim descritos:
1) O Budismo é via média entre o luxo excessivo e a ascese excessiva;
2) A vida é sofrimento: tudo é passageiro;
3) A causa do sofrimento é o desejo: a ilusão;
4) Desfazendo a ilusão, o sofrimento é desfeito;
5) Há um caminho óctuplo para superação do desejo/sofrimento:
5.1 – Atitude interior: 1) reta contemplação e 2) reta decisão
5.2 – Agir moral: 3) reto falar, 4) reto agir, 5) reto ganhar a vida
5.3 – Meditação: 6) reto esforço, 7) reta atenção, 8) reto aprofundamento
(COOGAN, 2007, p.185).
O desejo último do Budismo é acabar com o sofrimento e chegar à iluminação.
Para isto o SH precisa penetrar na doutrina para assim se libertar da ilusão do eu. Em
seguida vem a iluminação (experiência da alegria atemporal). Assim já se terá o nirvana
antes da morte, apenas cumprindo o carma. Com a morte se chega ao nirvana absoluto.
O SH está numa posição privilegiada sobre todas as demais criaturas, pois é o
único que pode buscar a iluminação e interferir no ciclo das reencarnações, mudando a
sorte. Pelos seus atos, o SH planta seu futuro de acordo com a lei da causa e efeito
(karma).
O Absoluto não é divino, é apenas o estado último das coisas,
assim como as coisas são. O deuses fazem parte deste todo, ou
seja, são também limitados dentro do todo. Ou ainda, o Absoluto está acima dos deuses.
As diversas reencarnações são entendidas como consequência
dos atos de cada pessoa. Os atos de cada indivíduo estão debaixo do carma (causa e efeito). Ou seja, algumas consequências dos atos são sentidos ainda nesta vida. Outras consequências só se farão sentir em
próximas reencarnações. “Após a morte, a lei da causa e efeito nos obriga a continuar
uma nova existência. Não há nenhuma instância superior que nos julgue, recompense ou
perdoe: são nossas próprias decisões que nos julgam” (SCHERER, 2005, p.61). O que
hoje eu faço, será colhido no futuro, talvez em outras reencarnações.
Para Buda não existe alma, nem eu. Existem estados mutantes que voltam a se
condicionar, como a pedra de dominó que produza na próxima pedra o que com ela
aconteceu. A reencarnação, diferente do Hinduísmo, não é transmigração de almas, mas
simplesmente a continuação de causa e efeito.
A morte é a dissolução de uma pretensa pessoa, mas a lei da causa e efeito (carma) gera nova existência. Não é a alma que migra, mas a lei da causa e efeito que provoca isto. Existem sempre novos renascimentos, assim o sofrimento, a dor e a morte se
perpetuam. Pode-se renascer como um ser infernal, animal ou mesmo deus. No fim do
ciclo da reencarnação virá a plena iluminação, chega-se então ao nirvana (extinção), ou
seja, lugar sem sofrimento, onde já não há mais desejo. O indivíduo é absorvido pelo
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vazio. Com esta extinção, extingue-se também o carma. Logo, o sofrimento acaba. Mas
tudo isto não está fora do mundo.
Pode-se sintetizar assim:
“Os ensinamentos do budismo têm como estrutura a ideia de que o ser humano está condenado a
reencarnar infinitamente após a morte e passar sempre pelos sofrimentos do mundo material. O
que a pessoa fez durante a vida será considerado na próxima vida e assim sucessivamente. Esta
idéia é conhecida como carma. Ao enfrentar os sofrimentos da vida, o espírito pode atingir o estado de nirvana (pureza espiritual) e chegar ao fim das reencarnações.
Para os seguidores, ocorre também a reencarnação em animais. Desta forma, muitos seguidores
adotam uma dieta vegetariana.
A filosofia é baseada em verdades: a existência está relacionada à dor, a origem da dor é a falta
de conhecimentos e os desejos materiais. Portanto, para superar a dor deve-se antes livrar-se da
dor e da ignorância. Para livrar-se da dor, o homem tem oito caminhos a percorrer: compreensão
correta, pensamento correto, palavra, ação, modo de vida, esforço, atenção e meditação. De todos os caminhos apresentados, a meditação é considerada o mais importante para atingir o estado de nirvana.
A filosofia budista também define cinco comportamentos morais a seguir: não maltratar os seres
vivos, pois eles são reencarnações do espírito, não roubar, ter uma conduta sexual respeitosa,
não mentir, não caluniar ou difamar, evitar qualquer tipo de drogas ou estimulantes. Seguindo
estes preceitos básicos, o ser humano conseguirá evoluir e melhorará o carma de uma vida seguinte” (http://www.suapesquisa.com/budismo/).
Reformas
N
o Budismo as reformas são vistas apenas como deslocamento de enfoque
das doutrinas de Buda. Por isto elas não representam maiores conflitos. O
Budismo tem grande capacidade de adaptação às culturas e também às novas épocas.
Nos primeiros séculos da era crsitã, o Busdismo se expande sob duas formas: Mahaiana
(veículo maior), e o Hinaiana (veículo menor).
Existe um Budismo no Nepal, outro no Japão, no Sri Lanka, bem como na China
e na Coréia, etc. Em cada país, ou cultura, o Budismo assume características próprias, às
vezes distantes das demais. Inclusive as festas e liturgias variam muito de um país ao
outro.
Ética
Para os Mahayanas o ideal ético é: cultivar a compaixão e a sabedoria. Todo Bodisatva (candidato a Buda – iluminado) faz profissão pública de assumi-los: “Que eu me
torne um Buda para o bem de todos os seres” (COOGAN, 2007, p.184). Pela compaixão
o candidato a Buda busca aliviar o sofrimento alheio. Quer ajudar os outros a atingir o
Nirvana, ainda que, para isto, deve adiar a própria entrada nele. Pela sabedoria o fiel assume a contemplação em vista de desfazer as ilusões para se livrar dos sofrimentos.
Tudo a que Buda se propõe, é em vista de superar os problemas
da dor, o que ultrapassa a isto, é desnecessário. Um discípulo de
Buda, chamado Malunkyaputta questionou o mestre: “De que
forma foi criado o mundo?” e “Buda existirá após a morte?”. O
discípulo ainda afirmou: “não vou escutar seus ensinamentos anBruno Glaab
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tes de me responder estas questões”. Buda responde ao curioso: Malunkyaputta é como
um homem ferido por uma flexa envenenada. Só deixa o médico tirar a flexa se este lhe
explicar qual o veneno da mesma e quem a lançou. Assim, a especulação só é válida se
ajuda a tirar a flexa, se não ajudar, perde completamente o sentido. Tudo o que o budista
deve questionar, é como tiriar a flexa envenenada e como chegar ao Nirvana. O resto
não importa. É especulação desnecessária que não leva a nada e só faz perder tempo.
Por isto Buda só reflete o que possa resolver o problema do sofrimento.
O Budismo se expressa em três princípios:
1) Conduta ética – evitar o mal – evitar punição
2) Disciplina mental – concentração – eliminam os desejos: sofrimentos.
3) Conhecimento do eu e do mundo – destrói o falso senso do eu.
Nestes princípios se desenrola a lei do Karma. Ou seja, aqui está a retribuição do
bem e do mal que rege os diversos ciclos de reencarnação.
O Budismo tem como ética cinco preceitoss:
1) Não matar
2) Não roubar,
3) Não ter má conduta sexual
4) Não mentir
5) Não ingerir álcool
Para os monges existem mais cinco preceitos:
1) Não comer após o meio dia
2) Não usar ornamentos - luxo
3) Não participar de entretenimentos ou shows
4) Não usar dinheiro
5) Não usar camas macias
Quanto maior a generosidade nas esmolas para com os monges, tanto maior será
a recompensa para a próxima reencarnação. Assim, os monges perseguem o ideal de
Buda como monge e os leigos perseguem o Buda em suas encarnações anteriores,
quando se preparava para sua reencarnação final em Buda.
Locais sagrados e festas
Buda pediu a seus seguidores que cremassem seu corpo e espalhassem as cinzas
em estupas (altares). Estes locais são considerados santos e o fiel pode fazer oferenda.
Os mais antigos locais sagrados eram cavernas. Havia, sempre, estátuas de Buda ou estupas para fazer oferendas. Mas nem sempre os locais sagrados são templos ou imagens.
Em certos locais até marcas nas rochas, ou vales abruptos são venerados como locais
por onde Buda teria passado e deixado seus sinais.
Templo de Borobudur, um lugar sagrado
do budismo, consutruído em uma colina no
século IX: tem uma base de 122 metros
quadrados e 35 metros de altura e ainda,
cinco quilômetros de baixo-relevos e 500
estátuas
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de
Buda,
tudo
apoiado
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a
Fenômeno Religioso - Budismo
1.600.000 blocos de pedras. A partir do século XI, uma série de cataclismas naturais e erupções
vulcânicas cobriram a construção de detritos e a zona ficou abandonada até o início de 1800,
quando casualmente foram localizadas as ruínas. Apenas em 1855 a imensa construção voltou à
luz.
O templo-montanha é composto por 10 terraços, um para cada fase do caminho espiritual verso à
perfeição, divididos em três níveis, correspondentes às três esferas budistas: isso representa a estrutura do universo e influenciou as escolhas dos arquitetos que realizaram o templo de Angkor,
na Comboja (http://www.viajandoblog.com/post/2791/borobudur-o-maior-templo-budista-domundo).
Os templos Budistas têm uma estrutura cósmica. Geralmente a
parte central lembra o monte Meru (centro do mundo), os guardasóis lembram os níveis dos céus onde ficam os deuses, acima um
lugar vazio onde moram os Budas (que se dedicaram à meditação)
e os Bodisatvas (candidatos a Budas). Os fiéis circundam estes locais para reverenciar Buda e estar em comunhão com o centro do
cosmos.
O lugar mais sagrado, ou centro sagrado é o Bodhimanda, em
Bodh Gaya. Julgam que ali se deu o despertar de Buda e alguns
creem que todos os budas despertam neste
local. Este local é visto como o topo do trono de diamante que descia até o centro do
mundo. Mas também existem outros montes vistos como trono de Buda, ou assentos
de iluminação: Kailasa, no Tibete; Wutai,
na China (COOGAN, 2007, p.188).
No Sri Lanka e em outros países teravadas do sudeste da Ásia, a festa budista mais importante é o Dia de Buda, ou Vishakha Puja, que cai no dia da
lua cheia no mês lunar de vishakha (abril/maio), O festival comemora o nascimento, a iluminação e a morte de Buda. Nessa ocasião, os devotos visitam os mosteiros, veneram altares ou imagens de Buda e ouvem sermões tradicionais sobre sua vida (COOGAN, 2007, p.191).
Mas nem todos os Budistas celebram as mesmas festas. No Tibete as festas não
coincidem com o Sri Lanka. Inclusive os acontecimentos celebrados são outros. Uns celebram a concepção de Buda, outros algum de seus ensinamentos, outros ainda, alguma
relíquia, etc.
Em Mianmar há um conjunto especial de ritos infantis que inclui as cerimônias da gravidez, do
nascimento, da lavagem da cabeça, da escolha do nome, do furo da orelha das meninas e da raspagem dos cabelos dos meninos (COOGAN, 2007, p.190).
Muitos ritos perdem seu sentido Budista, uma vez
que há grande mescla de elementos xintoístas,
confucionistas, etc. não obstante isto, na maioria
destes ritos se fazem presente os monges que são,
por assim dizer, o símbolo do Budismo.
Os funerais são bastante típicos. Geralmente os
monges são chamados para estes momentos. Celebram atos anuais pelos mortos com oferendas,
ou pela memória dos mortos. Os funerais duram
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Fenômeno Religioso - Budismo
diversos dias. Com os ritos fúnebres pretende-se aumentar os méritos dos falecidos para
ajuda-los numa próxima reencarnação.
Hoje
A comunidade Budista tem quatro divisões: Monges, Monjas, leigos e leigas. Os monges vivem vida radical e não se guiam
pelos caminhos dos leigos. Aos leigos cabe viver a vida cotidiana:
família, trabalhos, mantém a ordem, etc. Inicialmente os monges
viviam como caminhantes, hoje são mais fixos. Criaram assim mosteiros que são sustentados pelos reis e pelos ricos que com isto lucram méritos nas reencarnações. Seus mosteiros tornaram-se centros de cultura: filosofia, artes, literatura, etc. Hoje, o grande monge, conhecido em todo mundo, é o Dalai Lama.
Mais de 500 milhões de SH professam o Budismo. Ele é forte na China, onde
chegou no século I da era cristã e é, hoje, um dos grandes credos. Lá o Budismo sofreu
grande assimilação, incorporando elementos locais de religiões locais anteriores. Da
China foi para o Tibet, Japão, Coréia, etc. onde conseguiu grande adesão do povo.
No ocidente o Budismo só se torna conhecido a partir de 1850. Um coronel americano, Henry Olcott e a uma mística russa, Helena Blavatski 5 que o divulgaram na
América e na Europa. Hoje tem raízes em quase todo mundo (COOGAN, 2007, p.175).
No século XX os templos budistas começaram a surgir, também na Europa e nos EUA.
No Brasil chegam a 215.000 pessoas, oriundos da imigração japonesa. Hoje existem mais de 100 templos budistas no Brasil. O mais próximo a nós é o Templo Budista de Três Coroas – RS
Em 1991, S.Em.ª Chagdud Tulku Rinpoche visitou o Brasil pela
primeira vez. Em 1994, foi convidado para vir ao Rio Grande do
Sul. Encantado com a beleza da serra gaúcha e com o interesse dos
praticantes pelo budismo, Rinpoche procurou terrenos na região
para estabelecer um centro. Em 1995, Rinpoche mudou-se para onde hoje está o Khadro Ling. O
centro contava apenas com poucas construções.
Em 2000, doze praticantes entraram em retiro em uma casa especialmente feita para retiros. Cinco deles fizeram o primeiro retiro de três anos no Brasil sem contato com o mundo externo. Essa
é uma prática comum no Tibete, mas, até então, ainda nova no Ocidente, em especial na América
Latina.
Em 2001, um novo prédio começou a ganhar vida: a Casa Amitaba, parte integrante de um programa educacional dedicado a diversas ações que lidam com cuidados paliativos, apoio ao luto e
prevenção ao suicídio entre jovens.
Mudança de rumos
Em novembro de 2002, durante um retiro com a presença de 250 praticantes de todo o país, Rinpoche morreu após dois dias de ensinamentos e intensa prática espiritual. Incansável, ele ensinou
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Mentora da Nova Era.
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até tarde da noite de sábado, 16 de novembro. Sua morte aconteceu na madrugada do dia 17 de
forma extraordinária. Por seis dias, ele permaneceu em um estado de profunda meditação antes
de a consciência deixar seu corpo.
A presença física de Rinpoche foi uma grande inspiração, porém sua morte não comprometeu a
continuidade de suas atividades. Se o corpo partiu, sua energia se manteve impulsionando lamas
e praticantes. Sua esposa, Chagdud Khadro, assumiu a direção espiritual do centro: ensinando,
inspirando e realizando projetos (http://kl.chagdud.org/historia/).
Conclusão
O Budismo é um fenômeno religioso presente em todo mundo, inclusive entre
nós brasileiros. Mesmo que seus números não sejam assim tão significantes, a influência de sua prática religiosa se faz sentir de forma bastante forte, tanto nas práticas de
meditação como nas doutrinas reencarnacionistas, entre outras.
Conhecer este universo religioso é, acima de tudo, estar preparado para o grande
espírito ecumênico que hoje somos convidados a viver.
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