Contracepção Hormonal e não – Hormonal II Carolina Sales Vieira Setor de Reprodução Humana – DGO – FMRP – USP Conceitos importantes • Tipos de métodos • Mecanismo de ação • Benefícios nãocontraceptivos • Efeitos adversos • Contraindicações absolutas • Lei da laqueadura • Condições clínicas x contracepção: – – – – – – – – – – Idade Obesidade Paridade HAS DM Dislipidemia Uso de antiretroviral HIV Tabagismo Puerpério De cada 2 crianças que nascem no mundo, 1 não foi planejada Mundo Gestações (milhões) Não-planejadas 208.2 49.1% Europa Estados Unidos Gestações (milhões) Não-planejadas 7,2 Gestações (milhões) 13,2 Não-planejadas 44% 48% Ásia (menos Japão) Gestações (milhões) Não-planejadas América Latina / Caribe Gestações (milhões) Não-planejadas 17 48% África Gestações (milhões) Não-planejadas Singh S et al. Stud Fam Plann. 2010;41(4):241–250. 49 39% 18 38% Hormonal Contracepção Não-Hormonal Hormonal Contracepção Não-Hormonal Contracepção Hormonal Conceito • Administração de progestagênios isolados ou associados a estrogênios, com a finalidade de impedir a concepção. Classificação - Composição Progestagênio Isolado Contracepção Hormonal Combinada: E + P Classificação - Via Oral Contracepção Hormonal Não oral Combinado Só de progestagênio Anel Implante Adesivo DIU-LNG ou SIU-LNG Injetável mensal Injetável trimestral Oral Oral Combinados Progestagênios isolados Mecanismos de ação Progestagênio • Inibição da secreção de LH • Alteração da composição do muco Inibe ovulação Muco hostil para ascensão de SPTZ • Atrofia das glândulas endometriais Impede a implantação • Alterações da peristalse e secreção das trompas Impede o transporte do oócito / embrião Mecanismos de ação Estrogênio • Inibição da secreção de FSH – Potencializa a ação progestagênio – Mantém o padrão de sangramento cíclico Inibe formação de folículo dominante Ascenção do SPTZ Fecundação Implantação Secreção de gonadotrofinas Ovulação Útero Ovário Fritz MA, Speroff L. Clinical Gynecologic Endocrinology and Infertility. 8th Edition. Os contraceptivos hormonais são eficazes? Método Chance de gravidez (uso típico) Taxa de continuidade em 1 a Nada 85 Camisinha 14 53% Pílula 3-8 68% Injeção 1-3 56% DIU com cobre 0,8 (8 em 1.000) 78% Laqueadura 0,5 (5 em 1.000) 100% DIU-LNG 0,2 (2 em 1000) 81% Implante liberador de etonogestrel 0,05 (5 em 10.000) 85% Recorrência de gravidez em um ano em adolescentes Implante Injetável trimestral COC Aconselhamento 0% 11% 25% 38% Métodos que dependem da ação diária estão associados a maior risco de esquecimento Am J Prev Med 2001;21(1). Obstetrics and Gynecology 2009, 114(6): 1434-8. EFICÁCIA BENEFÍCIOS NÃO CONTRACEPTIVOS Benefícios não-contraceptivos (comprovados): ↓Dismenorréia ↓ Volume menstrual ↓ Acne, hirsutismo ↓ TPM ↓ dor e proliferação (endometriose) ↓ Câncer de ovário (20%), endométrio (50%), cólon (20%) Human Reproduction Update, Vol.11, No.5 pp. 513–525, 2005 Benefícios não-contraceptivos: ↓DIP sintomática ↓ Anemia ferropriva ↓ gestação ectópica (o DIU e os progestagênios isolados também) ↓ Mortalidade Human Reproduction Update, Vol.11, No.5 pp. 513–525, 2005 Número de óbitos por idade em 100.000 mulheres de acordo com o uso de contraceptivo Pílula Camisinha Sem método - aborto Sem método - parto Número de mortes estimadas por ano em cada 100.000 mulheres Maguire K, Westhoff C. Am J Obstet Gynecol. 2011; 205(Suppl4): S4-8. •Mioma: não altera •Doença benigna da mama: não altera Efeitos adversos dos contraceptivos hormonais Efeitos Adversos - Gerais Etinilestradiol • Náuseas • Vômitos • Enxaqueca • Mastalgia • Irritabilidade • Edema • Cloasma Progestagênio • Aumento de apetite • Acne e oleosidade de pele • Sangramento irregular (P isolado) • Edema 450 g/ano 19 anos 44 anos O uso de anticoncepcional hormonal não influenciou o ganho de peso Lindh I, Ellström AA, Milsom I. Hum Reprod. 2011; 26(7): 1917-24. Com exceção do AMP-D (injetável trimestral), os demais métodos não há ≠ de ganho de peso em relação ao DIU de cobre. Etinilestradiol Angiotensinogênio PA Triglicérides TG Etinilestradiol TROMBOSE VENOSA Fatores de Coagulação Incidência de trombose - menacme Casos / 100.000 350 300 300 60 X 250 200 150 90 40 100 50 2-8 X 5 0 Gestação / Puerpério usuárias de COC não-usuárias de COC ROSENDAAL, 2003; POMP et al., 2008; LINDEGAARD et al., 2009; VLIEG et al., 2009 Evidências Apesar de ainda inconclusivas, o contraceptivo hormonal: *Não aumenta o risco para câncer de mama OU * Aumenta pouco. Contra-indicações Categoria Classificação Julgamento Clínico 1 Não há restrição ao uso do método Utilize o método em quaisquer circunstância contraceptivo. 2 As vantagens em utilizar-se o Utilizar de modo geral o método método superam aos riscos 3 Os riscos geralmente superam as Não é recomendado uso do método, a menos vantagens do uso do método. que, métodos mais adequados não estejam disponíveis ou, não sejam aceitáveis. 4 Condição que representa um risco Não utilizar o método de saúde inaceitável caso o método anticoncepcional seja utilizado http://www.who.int/reproductivehealth/publications/family_planning/en/index.html WHO, 2009 Contra-Indicações Absolutas (4) – Combinados • Trombose arterial ou venosa • Trombofilias • Cirurgia de grande porte com imobilização prolongada • HAS descompensada (PAD > 100 ou PAS > 160) • Doença cardíaca valvular complicada (hipertensão pulmonar, fibrilação arterial, endocardite bacteriana subaguda) • Múltiplos fatores de risco cardiovascular • Migrânia com sintoma neurológico focal • Amamentação exclusiva ( 6 semanas pós-parto ) Contra-Indicações Absolutas (4) – Combinados Idade ≥ 35 anos e tabagismo ≥15 cigarros/dia Câncer de mama Diabetes com vasculopatia Hepatite viral aguda / Cirrose descompensada / Tumores hepáticos (malignos e benigno: adenoma hepatocelular) Gravidez declarada ou suspeita Contra-Indicações Absolutas (4) – Progestagênios Câncer de Mama Gravidez Tem seu uso permitido em várias situações clínicas nas quais o EE é proibido (HAS, DM com LOA, trombose venosa ou arterial prévia, tabagismo, trombofilias) Condições Clínicas x Contracepção Idade A idade por si só, não restringe o uso de contracepção, a não ser a LT. WHO, 2009 HAS Etinilestradiol PA TG Angiotensinogênio Fatores de coagulação Triglicérides TEV WHO, 2009 Reduzir em 50% o risco de DCV em HAS só com a cessação do Mulheres com COC Orientou parar hipertensão em uso de COC com COC Lewington et al., 2002; Lubianca et al., 2005 Tabagismo Am. J. Hematol. 2008; 83:97–102. 3 4 WHO, 2009 Diabetes Mellitus WHO, 2009 Dislipidemia Etinilestradiol PA TG Angiotensinogênio Fatores de coagulação Triglicérides TEV LDL Tudo TG P isolado e não hormonal Dislipidemia WHO, 2009 HIV AIDS = CD4< 200 células/mm3 ou doenças definidoras de AIDS WHO, 2009 Antiretrovirais (inibidores da protease) Etinilestradiol e Progestagênio Isto também vale para os anticonvulsivantes ↓ ARV ↓ Etinilestradiol e Progestagênio CD4 ≤ 200 ou doença definidora de SIDA *Se uso de TARV – nada por boca e nada com estrogênio *DIU – não iniciar enquanto CD4 estiver baixo ou com doença definidora de SIDA HIV * Se uso de TARV – nada por boca e nada com estrogênio CD4 >200 e sem doença definidora de SIDA *Sem uso de TARV: todos métodos podem ser oferecidos Obesidade A obesidade por si só não contra-indica nenhum método WHO, 2009 Puerpério Método Lactação Amenorréia Eficácia = 98% • Amamentação exclusiva (dia e noite) • Amenorréia • Primeiros 6 meses após parto Conferência Bellagio, Itália, 1988 Não há necessidade de nada < 6 sem P isolado em casos especiais ou DIU ate 48h SIM Amamenta 6 sem a 6 meses Não hormonal ou P isolado ≥ 6 meses Tudo < 3 sem Não há necessidade de nada ≥ 3 sem Tudo NÃO Paridade DIU em Nulípara: Risco de DIP e Infertilidade? Infertilidade DIP Aumento de DIP nos 20 dias pós-inserção (9,7 casos de DIP em 1000 mulheres/ano) De 21 dias a 8 anos o risco é igual a população que não usa DIU: 1,4 casos de DIP em 1000 mulheres/ano) SIU-LNG tem menor risco que DIU-Cobre Não há aumento de risco de infertilidade A nuliparidade não impede o uso de DIU WHO, 2009 Pílula apenas com progestagênio Pílula combinada Contracepção de Emergência DIU Contracepção de Emergência (hormonal) • YUZPE •Até 5 dias do ato (melhor se nas primeiras 24 horas) •Redução de até de 75 a 85% do risco – 100 mcg de EE + 500 mg de LNG (12/12h, 24 horas) – 2 cp de 50 EE 12/12h ou 4 cp de 30 mcg de 12/12h • Progestagênios isolados – 0,75 mg de LNG 12/12h por 24 horas ou dose única de 1,5mg Anticoncepcional oral: < 3-8 gravidezes/100 mulheres ao ano Hipotálamo Pico de LH Ovulação 28 dias Níveis Sanguíneos de Gonadotrofinas Ovulação Hipófise Anterior •Impede ou retarda a ovulação Ovário Fase Folicular Fase Lútea Ciclo Ovariano Progesterona Estrogênio Níveis Sanguíneos de Esteróides Ovarianos Endométrio 28 dias Fase Proliferativa Fase Secretória Ciclo Uterino Retorno à Fertilidade Fertilidade (meses) Injetável trimestral Implante de etonogestrel DIU medicado com LNG 1 – 12 meses imediato imediato Oral (combinado ou não), Anel, Adesivo e Injetável mensal: imediato Hormonal Contracepção Não-Hormonal Anticoncepção Não Hormonal • • • • • • Métodos comportamentais Métodos de barreira Método químico Método da amenorréia lactacional Dispositivo intra-uterino Métodos cirúrgicos DIU’s inertes 10 anos DIU medicado com cobre 5 anos DIU medicado com levonorgestrel (5anos) Cobre interefere na motilidade do SPTZ (mecanismo pré-fertilização) •Alteração da composição do muco •Atrofia das glândulas endometriais •Alterações da peristalse e secreção das trompas •Inibe ovulação em < 50% dos casos Intrauterine device use, cervical infection with human papillomavirus, and risk of cervical cancer: a pooled analysis of 26 epidemiological studies Redução de 40 a 50% no risco de câncer de útero com uso de DIU Dispositivo Intra-uterino Cobre • Contra-indicações – Absolutas • • • • • • • Gravidez confirmada ou suspeitada Sepsis puerperal ou pós-aborto DIP atual ou nos últimos 3 meses Cervicite purulenta Sangramento vaginal sem diagnóstico etiológico Câncer cérvico-uterino,endométrio,coriocarcinoma Distorções anatômicas da cavidade uterina impedindo correta posição do DIU Combinados (oral, anel, IM e adesivo) Só de P (oral, implante e injetável trimestral) DIUs (cobre e LNG) TVP/TEP Gravidez Gravidez IAM/AVC Ca de mama DIP Diabetes com LOA / HAS com vasculopatia Ca de colo, endométrio Tabagismo ≥ 35 anos e mais de 15 cigarros/dia Sangramento sem diagnóstico Hepatopatia aguda ou cirrose severa Distorção da cavidade uterina Ca de mama Gravidez Método Cirúrgico Feminino • Laqueadura tubária ou ligadura tubária – Obstrução do lúmen tubário Método Cirúrgico Masculino • Vasectomia – Secção e/ou oclusão do canal deferente Regulamentação Esterilização Cirúrgica • Maiores de 25 anos • Ou 2 mais filhos vivos • Período de 60 dias entre manifestação da vontade e ato cirúrgico (termo de consentimento) • Acompanhamento por equipe multidisciplinar – desencorajar a esterilização precoce Regulamentação Esterilização Cirúrgica § 4º art. 10, lei 9.263/96 – Constituição Federal Portaria nº 048/99 - SAS • VEDADA: – Durante período parto – Durante período aborto – Até 42º dia pós-parto ou pós-aborto Regulamentação Esterilização Cirúrgica § 4º art. 10, lei 9.263/96 – Constituição Federal Portaria nº 048/99 - SAS • EXCEÇÕES: – Iteratividade (≥ 2 PC prévios) – Risco de vida materno em uma futura gestação – Risco de vida para o futuro neonato (isoimunização, doenças genéticas, etc) Como escolher o melhor contraceptivo? Doença? Sim Não 1.Escolher pelos critérios da OMS 2. Via conveniente 1. Discutir com as opções c/ paciente 2. Via conveniente Lembrar que quem escolhe o método é a paciente, você orienta os possíveis de serem usados Porcentagem de mulheres que param o método em 1 ano Porcentagem de mulheres que param o método anticoncepcional de acordo com quem escolhe Escolha do profissional Escolha da paciente Shulman LP. Am J Obstet Gynecol 2011; 205 (Suppl 4):9S-13S. Exames pré-início de contraceptivo • História clínica detalhada (doenças, hábitos, antecedentes pessoais) • Medir a PA • Exame pélvico (descartar DIP) OBRIGADA