Desafios Docentes: Pesquisa, Formação e Atuação. Seminários do Conselho Municipal de Educação de São Paulo Perfil de licenciandos e a atratividade da carreira docente: contribuições de estudo com ingressantes da Universidade de São Paulo Palestra proferida no Conselho Municipal de Educação de São Paulo Maio de 2014 Profa. Ms. Luciana França Leme Apresentação pessoal • Luciana França Leme • Doutoranda em Educação pela USP (Área: Estado, Sociedade e Educação). • Mestra em Educação pela USP. • Pedagoga pela USP. • Professora Adjunta da Unip-RP no curso de pedagogia. • Bolsista da Fundação Carlos Chagas: profissionalidade docente e uso de resultados de avaliações externas. • Educadora do Programa de Estágio da Feusp. • Assistente e pesquisadora da ASP2 (Ação Social e Políticas Públicas). • Assistente e coordenadora de Projetos Educativos Não Formais (Pé na Estrada Atividade Educativa). Apresentação pessoal Dissertação LEME, L.F. Atratividade do magistério para a educação básica: estudo com ingressantes de cursos superiores da Universidade de São Paulo. Dissertação. Faculdade de Educação da USP, 2012. Link: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48 134/tde-03092012-151346/pt-br.php Caminho da apresentação 1. O que é atratividade da carreira docente? Aportes teóricos. 2. Perfil de licenciandos x atratividade da carreira. 3. Desafios Atratividade: aportes teóricos • Objetivo apresentação: olhar para o perfil de licenciandos pela atratividade da carreira docente. • Atratividade da carreira docente: “capacidade dessa profissão ser almejada e assumida como carreira. Estudar a atratividade do magistério requer considerar as características peculiares da profissão docente, que tem o Estado como principal empregador” (Leme, 2012). Atratividade: aportes teóricos • Por que estudar atratividade? Recentes estudos reiteram: • pouco desejo dos jovens em assumirem a docência como carreira (Gatti et al, 2009); • preocupação com o perfil de quem é atraído para a docência da educação básica (Louzano, 2010); • discussão sobre políticas de atração, formação e retenção de professores no âmbito das políticas educacionais (Alves; Pinto, 2011). • Iniciativas do MEC: PNE, Programas: “Quero ser professor, quero ser cientista”, Estudo sobre “apagão do Ensino Médio” (Brasil, 2007). Atratividade: aportes teóricos Por que atratividade está em pautas atuais de discussão? • Relevância dada à qualidade: ainda que entendida como resultados de avaliações externas de alunos. • Professor cada vez mais visto principal responsável pela qualidade. • Dos fatores internos da escola, pesquisas evidenciam que o trabalho docente é o que mais tem efeito na aprendizagem do aluno. (Sousa, 2008) Atratividade: aportes teóricos • Atratividade: movimento global, fruto, também, de influências de relatórios internacionais que exploram políticas docentes a partir de resultados de avaliações internacionais como o PISA. • Influência relatórios: • Exemplo: • Professores são importantes (Ocde, 2006). • How the world´s best performing school systems come out on top. (Mckinsey & Company, 2007). • Políticas EUA e Reino Unido: relatórios que enfatizam fatores (isolados). • Utilização de conceituação da economia do trabalho. Atratividade: aportes teóricos • Desafio: tratar a atratividade da carreira considerando diferentes fatores que agem de forma articulada. • Economia do trabalho dá conta? Quais outros aportes teóricos? Processos de “escolha” e ingresso em dada carreira profissional com focos diferenciados. Atratividade: aportes teóricos • Economia do trabalho: • Mercado de trabalho docente: oferta (força de trabalho disponível) demanda (empregadores). • Especificidade: Estado maior empregador. • Caráter menos competitivo. • Dificuldades de elaborar medidas de produtividade e autorregulação do mercado. • “Escolha” da carreira docente: analisada por custos de oportunidade. “Ganhos gerais” da profissão a tornam mais ou menos atrativas. • “Alavancas” políticas, que podem ser alteradas por políticas. Atratividade: aportes teóricos • Cálculos para avaliar atratividade da profissão e explicar escolhas profissionais. • Vantagens: • foco no macro, políticas, efeitos ou impactos, comparar gerações. • Limites: • Captam a complexidade da escolha profissional que não é deliberada? • Podem isolar fatores e tem sido recorrentemente usadas para tanto. Atratividade: aportes teóricos • Sociologia: • “Bagagem” dos sujeitos. • Habitus, capital social e cultural. • “Escolha” entre aspas: decisões imprecisas e de difícil captação do o que influenciou. • Vantagem: estudos tentam abarcar a complexidade do processo. Buscam contexto dos sujeitos. Atratividade: aportes teóricos • Estado avaliador: qual foco para “escolha” carreira? • Perigo: redução das pesquisas ao que é mensurável (Lessard, 2011). Perfil de licenciandos x atratividade da carreira • Estudo de caráter exploratório com ingressantes de cursos superiores da USP – – – – – Pedagogia Licenciatura em física Licenciatura em matemática Medicina (teoricamente podem escolher qualquer carreira) N (512). • Aplicação questionário no dia da matrícula com alta adesão. (mais de 90% em todos os cursos) • Questionário que buscou considerar: produções científicas da área da economia do trabalho e sociologia (fatores relativos à atratividade de carreira docente). • Análise: tratamentos estatístico. Buscou articulação entre fatores. Perfil de licenciandos x atratividade da carreira “Escolha” da carreira Escolha do curso superior • Perfil de ingressantes no curso pode sofrer alterações no decorrer do curso. • Razões de escolha do curso nem sempre são razões de escolha da carreira. USP é viés de pesquisa. • Em relação à carreira docente -“Máxima” (que não pode ser determinista): no Brasil e em diversos países, se há algum tipo de concorrência que envolva a carreira docente, normalmente ocorre o seguinte: Perfil de licenciandos x atratividade da carreira • No Brasil, carreira docente está entre as menos atrativas no mercado de trabalho em geral; • Atrai as pessoas em condições de maior vulnerabilidade quando comparadas a de outras carreiras/cursos; • Ascensão social do sujeito e em sua família. • Assim, em relação a outros profissionais, carreira docente e cursos de licenciaturas atraem em maior quantidade: – – – – Pessoas mais velhas; Com menor renda familiar; Com piores desempenhos escolares; Mulheres. Perfil de licenciandos x atratividade da carreira Descrição de dados dos ingressantes Perfil de licenciandos x atratividade da carreira A) Desempenho no exame Vestibular da Fuvest Perfil de licenciandos x atratividade da carreira Ranking dos cursos conforme média dos matriculados em carreiras da USP (São Paulo) na Fuvest - 2010 Total de carreiras: 86 (USP capital) Pontuação do exame: De zero a 100. Perfil de licenciandos x atratividade da carreira • Média da Pedagogia: daria acesso a 34 dos 86 cursos da USP. • Média da Licenciatura em física: somente 12 cursos dos 86 da USP. Perfil de licenciandos x atratividade da carreira B) Escolarização anterior ao curso universitário Perfil de licenciandos x atratividade da carreira Perfil de licenciandos x atratividade da carreira c) Idade e d) situação econômica Perfil de licenciandos x atratividade da carreira •Pedagogia: grupo maior poder de compra: A2 e B1. • Também há na pedagogia um “subgrupo” com alta pontuação na Fuvest. Perfil de licenciandos x atratividade da carreira • Praticamente metade dos alunos das licenciaturas assinalaram exercer atividade profissional ao ingressar no curso. Perfil de licenciandos x atratividade da carreira Razões de escolha do curso Perfil de licenciandos x atratividade da carreira • “Quais razões o/a levou a optar pelo curso de licenciatura na inscrição da Fuvest?” (Escala likert de um a cinco) – Ser professor e/ou “usufruir” de um curso da USP? “Para ser professor” não foi a razão que esteve entre as cinco mais pontuadas nos três cursos. Perfil de licenciandos x atratividade da carreira A (não) opção pela carreira docente “Você quer ser professor”? 40 80 (58,8%) 35 30 25 28 (20,6%) 20 5 (3,7%) 15 10 21 (15,4% 5 2 (1,5%) 0 Quer ser professor Não quer ser professor Depende Já é professor Não respondeu Respostas alunos Pedagogia Não quer ser + depende: 30% “Você quer ser professor”? 70 62 (49,2%) 60 50 40 37 (29,4%) 30 20 (15,9%) 20 10 7 (5,6%) 0 Quer ser professor Não quer ser professor Depende Não respondeu Respostas alunos Licenciatura em Matemática Não quer ser + depende: 45,3% “Você quer ser professor”? 40 38 (46,3%) 35 30 25 22 (26,8%) 20 17 (20,7%) 15 10 4 (4,9 %) 5 1 (1,2 %) 0 Quer ser professor Não quer ser professor Depende Já é professor Não respondeu Respostas alunos Licenciatura em Física Não quer ser + depende: 47,5% Detalhes em relação aos grupos 3. Desafios • • • • • • • • • Atratividade para: a) buscar os “melhores”? ou b) compreender os motivos de atração da carreira, diagnosticar e intervir para oferecer necessidades?. É possível “medir” o conhecimento ou outros atributos que um professor deva ter para ingresso na carreira? Bom professor? Concurso seria suficiente para isso? (“Um aluno com bom desempenho em provas de “lápis e papel” seria um bom professor”?) Dados do concurso podem oferecer discriminação dos professores ingressantes? Que outros dados têm a SME? Poderiam discriminar para avaliar perfil e oferecer formação adequada (de acordo com as necessidades diagnosticadas)? Quem são os professores que ingressam no município de São Paulo? E onde são formados? Há “desenhos” de perfis quanto à movimentação dos professores ingressantes? Quanto a DREs? E escolas? Quem faz o acolhimento do docente e a “continuação” da formação dos professores? Conhecem os professores? Querem ser professores? Querem continuar na carreira? Que ascensão querem? De que forma o “desenho” da carreira influencia esse “desejo” dos professores? Trabalhamos com a realidade do perfil atual de professores ou “desejamos” outros professores? Referências AFONSO, A. J. Nem tudo o que conta em educação é mensurável ou comparável. Crítica à accountability baseada em testes estandardizados e rankings escolares. Revista Lusófona de educação, v. 13, p. 13-29, 2009a. ALMEIDA, A. M. F. O Assalto à educação pelos economistas. Tempo social, Revista de sociologia da USP, v. 20, n. 1, p. 163-178, 2008. ALVES, T.; PINTO, J. M. de R. Remuneração e características do trabalho docente no Brasil: um aporte. Cadernos de pesquisa. São Paulo, v. 41, n.143, mai./jun. 2011. BRASIL. Escassez de professores no ensino médio: propostas estruturais e emergenciais. Relatório produzido pela Comissão Especial instituída para estudar medidas que visem superar o déficit docente no Ensino Médio (CNE/CEB), maio 2007. BRESSOUX, P. 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