Aprendizados com
Grupos Reflexivos de Gênero com Homens
em situação de violência intrafamiliar
Adriano Beiras
André Rego
Carlos Eduardo Zuma
Jorge Bergallo
José Guilherme Couto de Oliveira
Rafael Jucá de Mello
Apresentação: José Guilherme Couto de Oliveira
Instituto Noos
 O Instituto Noos de Pesquisas Sistêmicas e Desenvolvimento de
Redes Sociais é uma organização da sociedade civil, sem fins
lucrativos, fundada em 1994, na cidade do Rio de Janeiro.
Desde 2001 é considerada de Utilidade Pública Federal.
 A motivação para sua constituição foi a de criar e oferecer serviços, voltados
para a promoção da saúde e a melhoria da qualidade de vida das pessoas,
famílias, instituições e comunidades, que fossem acessíveis ao maior número possível
de pessoas.
 Sua missão é contribuir para a promoção da saúde de famílias, comunidades e
instituições através da prevenção da violência intrafamiliar e da articulação de
redes sociais e comunitárias, desenvolvendo, executando e difundindo práticas
sociais participativas.
 Sua visão é ser reconhecida como instituição promotora e multiplicadora de práticas
sociais participativas na prevenção da violência.
 Seu foco é a melhoria das relações entre pessoas, famílias, instituições e comunidades,
através das práticas participativas de prevenção da violência intrafamiliar e de gênero.
Instituto Noos
 O Grupo Reflexivo de Gênero com Homens,
que atende homens em situação de violência
intrafamiliar é uma das atividades do
Programa de Prevenção à Violência
Intrafamiliar e de Gênero.
 Um trabalho em construção.
 Baseado no construcionismo social.
 Além do atendimento ao grupo, envolve:
o a participação em um projeto de pesquisa sobre a
violência intrafamiliar;
o avaliações do processo grupal, com o grupo.
 Trabalho voluntário - novas parcerias.
Perfil dos inscritos
Total de homens pesquisados
Faixa etária hegemônica
Naturalidade hegemônica
Cor
Religião hegemônica
Estado conjugal hegemônico
Paternidade/maternidade
Instrução
Atividade profissional no período do atendimento
Renda média pessoal bruta
no mês anterior ao primeiro atendimento
Renda média familiar bruta
no mês anterior ao primeiro atendimento
Pessoa com quem teve uso de violência
138
Adultos de 25 a 59 anos (92%)
Rio de Janeiro (97,1%)
Brancos (57%)
Católica (69,4%)
Legalmente casado (41,5%)
Com filhos (88%)
Segundo grau
(completo ou incompleto) (45%)
Com atividade remunerada (86%)
R$ 800,00
R$ 1.831,42
Esposa (70%)
Violência: Contextualização teórica

Complexidade
 Fatores individuais, relacionais, comunitários, sociais (OMS,2002).

Violência intrafamiliar
 A violência intrafamiliar é uma das duas subcategorias da violência interpessoal e está
definida como aquela que “ocorre em grande parte entre os membros da família e
parceiros íntimos, normalmente, mas não exclusivamente, dentro de casa” e inclui,
além da violência entre os parceiros íntimos, os abusos contra crianças,
adolescentes e idosos (OMS, 2002).

Contexto de interação (Pakman)
 “Por poder entendo um contexto de interação que permite que certos membros de um
sistema social dado definam o que é que vai ser validado como real para outros membros do
sistema. Essa definição, que pode ou não ser expressa lingüisticamente, estará sempre
encarnada em práticas cotidianas que geram, mantêm ou reforçam essa “realidade” assim
criada. Esse poder pode ser eventualmente instrumentalizado através da violência,
entendida como aquele contexto de interação em que alguns membros
de um sistema social dado são negados ou invalidados como sujeitos
sociais, emissores únicos e originais de linguagem e atores de uma história intransferível.”
[Pakman, 1993]
Nossas crenças:
 A violência é a pior solução.
 Tanto a violência quanto a não-violência
se reproduzem.
 A não-violência demanda um compromisso
permanente com a busca e utilização de outras
linguagens.
 Construções colaborativas:
 Transformar “inimigos“ em colaboradores.
Violência
 Recursos para se lidar com a violência.
 Para além da mera punição do autor:
o A punição muitas vezes reproduz a
linguagem da violência, e
o tende a provocar um deslocamento de
responsabilidades (não implicação).
 Atribuições de gênero:
o Desconstrução da rigidez das características
hegemônicas aprendidas.
Desconstrução da rigidez das
características herdadas
De
Para
Provisão
Idéia de ter que ser
o único responsável
Compartilhamento da
responsabilidade e das informações
Trânsito pelo espaço privado
Isso não é comigo
(Delegação e
desautorização)
Não compartilhados,
onipotência,
vergonha, isolamento
Autoritário, isolado
Cuidado de si e dos seus, diálogo,
compartilhamento de tarefas
Fracassos e erros
Poder de decisão
Possessividade
Formas de proteção
“A pior forma de amar é
ter...
Limites autoritários
herdados,
descontextualizados
Compartilhado,
passível de reflexão e reparação
Compartilhado, atento ao processo
e aos resultados
a melhor forma de ter é amar.”
(Saramago)
Limites refletidos,
inseridos no diálogo e
na observação dos resultados
Aprendizados com o
Grupo Reflexivo de Homens
1. Formas de estruturação dos grupos
2. O sofrimento do autor da agressão
3. A não-linearidade do processo
em direção à não-violência
4. Principais fatores de risco observados
5. Formas de avaliação e pesquisa
6. Cuidados na triagem
1) Formas de estruturação dos grupos
 Grupo Fechado
 Total de 20 encontros.
 Espera para o atendimento
gerando diminuição da
motivação para participar.
 Diminuição do grupo ao
longo do tempo (evasão).
 Ganhos muitas vezes propiciam
uma evasão.
 Encontros com temas pré-
estabelecidos com o grupo.
 Avaliação ao final com um
grupo focal.
 Grupo Aberto
 Atendimento imediato.
 Problemas com a assiduidade.
 Problemas na construção da
intimidade do grupo.
 Avaliação com um grupo
focal.
 Grupo “Entreaberto”
 Contrato construído com o
grupo relativo à assiduidade.
 Troca entre membros mais
antigos e recentes.
 Avaliação periódica.
2) O sofrimento do homem
autor de violência




A violência como reflexo de uma impotência.
O receio da perda de controle.
O remorso pelo dano causado.
O autor de violência hoje foi, em sua maioria,
a vítima da violência de outrora:
 São freqüentes os casos em que
a violência é alimentada pelo ódio ressoante de uma antiga ferida;
 dos candidatos ao grupo entrevistados,
em relação à sua infância ou adolescência:
o
o
o
o
72% se lembram de terem sido vítima ou testemunha de violência;
55% se lembram de ter sofrido algum tipo de violência física;
14% se lembram de ter sofrido tentativa de abuso sexual;
59% dos candidatos que moraram com ambos os pais se lembram de ter
presenciado violência entre eles.
 É comum a busca de ajuda espontânea, sem coerção:

É comum a busca de ajuda
espontânea, sem coerção
O
p
ç
ã
o
1. Percebeu a necessidade
e buscou onde ser
ajudado
Motivação para Inscrição
(90 casos com informação conhecida)
2. Teve conhecimento e
fez sua inscrição
8%
17%
8%
8%
4%
8%
3. Foi inscrito por terceiros
1
C
o
e
r
ç
ã
o
4. Inscrito com pedido
informal de
acompanhamento do
órgão governamental
que o encaminhou
5. Inscrito com indicação
formal da justiça
2
3
4
5
Inscritos
20%
39%
41%
47%
Atendidos
A não–linearidade do processo
em direção à não-violência
 Refletindo sobre a vivência do companheiro
de grupo.
 Potência da intervenção e do relato de
experiências análogas dos pares.
 Incorporação de novos recursos:
 na visão de mundo (novos significados, idéias, relatos);
 na vivência (gradativa).
 A questão da reincidência:
 nosso objetivo é acabar com as reincidências, mas
elas são utilizadas para novos aprendizados
quando ocorrem.
4) Principais fatores de risco para a
violência observados
 Os sentimentos de








desqualificação,
de não reconhecimento e de
baixa auto-estima
Abuso de drogas
Ciúmes (possessividade)
Negligência com a própria
saúde e outros cuidados
Desconsideração dos próprios
sinais de desconforto
Migração
Vizinhança de risco
Gestão financeira
Crenças rígidas
 Problemas como provedor


Salário inferior ao da mulher
Desemprego,
sub-emprego, ...
 Divergências nas atribuições de
gênero

Formas conflitantes de proteção
aos filhos
 Divisão de tarefas domésticas
 Modificações intergeracionais
 Mídia e autoridade parental
Referendo do grupo
para esta apresentação
 Comentário de um participante:
 “Durante toda essa apresentação fui repassando a
minha história no grupo, me senti contribuindo
com um tijolinho a cada momento.”
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