ARTIGO DE MONOGRAFIA APRESENTADO AO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA EM PEDIATRIA DO HOSPITAL MATERNO INFANTIL DE BRASÍLIA HMIB/SES/DF Meningite Bacteriana em Crianças Perfil Epidemiológico, Clínico e Prognóstico Isadora de Carvalho Trevizoli Orientador: Dr. Felipe Teixeira de Mello Freitas www.paulomargoto.com.br Brasília, 25 de novembro de 2014 INTRODUÇÃO Importância Definição Inflamação das meninges, afetando a pia, aracnóide e espaço subaracnóideo. INTRODUÇÃO Alta Etiologia Faixa Etária morbimortalidade Bacteriana Pediátrica OBJETIVOS Avaliar Identificar • perfil epidemiológico, • manifestações clínicas, • tratamento, • complicações, • fatores que se associam com maior chance de óbito. • taxa de letalidade. No Hospital Materno Infantil de Brasília. MÉTODOS Delineamento do Estudo: Estudo de série de casos, transversal, analítico. População: Crianças com diagnóstico de meningite bacteriana internadas no Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), entre janeiro de 2011 e julho de 2014. MÉTODOS Critérios de Inclusão: Crianças internadas com meningite bacteriana, confirmada por análise bioquímica, da citologia e cultura do líquor. Critérios de Exclusão: Pacientes com prontuários não localizados ou com análise bioquímica e citológica do líquor normal. RESULTADOS LACEN: 71 culturas de líquor positivas 04 prontuários não localizados 67 culturas positivas (65 pacientes) 29 Pacientes - cultura positiva - líquor alterado 36 Pacientes - cultura positiva - líquor normal RESULTADOS: Faixa Etária Crianças menores de 5 anos: mais vulneráveis (2) Crianças menores de 1 ano: mais suscetíveis (2) 40% 35% 30% 25% 38% n 11 Mais comum no período neonatal (3) 27% 20% 21% n 8 15% 10% • Maior permeabilidade da barreira hemato-encefálica • Deficiência relativa do sistema imune n 6 14% n 4 5% 0% 0% < 1 mês 1 a 3 meses 3 meses a 1 ano 1 a 2 anos > 2 anos Neonatos (até 30 dias): mediana 17 dias (7 dias a 28 dias) Crianças (> 30 dias): mediana 47 dias (41 dias a 8 anos) RESULTADOS: Faixa Etária - Neonatal Termo Prematuro n=3 (27%) Prematuro Extremo n=1 (9%) n=4 (37%) n=6 (55%) n=3 (27%) n =1 (9%) n=4 (36%) > 2500g 1500 a 2500g 1000 a 1500g Prematuridade e baixo peso ao nascer são fatores de risco para meningite neonatal (17). <1000g RESULTADOS: Gênero Geral - 1,07 : 1,00 16 14 15 14 12 Neonatos – 1,75 : 1,00 Crianças – 1,00 : 1,25 10 10 8 8 6 7 Masculino 4 4 Feminino 2 0 Neonatos Crianças Total Predomínio no sexo masculino nos dois grupos etários (5, 6). RESULTADOS: Local e tempo prévio de internação 16 14 15 12 10 8 6 9 4 2 2 2 1 0 UTIN PS Neonatal UTIP Pós Neonatal Neonatos: Crianças: • 82% internados há mais de 48 • 17% internados há mais de 48 horas; • Mediana: 5 dias (0 a 23 dias). horas; • Mediana: 63 (45 a 150 dias). RESULTADOS: Uso de Dispositivos e Comorbidades 72% 80% 70% 60% 50% 36% 40% 22% 30% Neonatos 22% 9% 20% 17% Crianças 10% 0% Acesso Venoso Central Ventilação Mecânica Neonatos (27%): Hidrocefalia (1); Mielomeningocele + hidrocefalia (1); Cardiopatia (1). Derivação Ventrículo Peritoneal Crianças (38%): Hidrocefalia (3); Megacólon congênito (3); Astrocitoma pilocítico de fossa posterior (1). RESULTADOS: Etiologia nos Neonatos Agentes Etiológicos Pacientes (n) Enterococcus faecalis 2 Staphylococcus epidermidis 2 Sensíveis à ampicilina e à vancomicina. Staphylococcus aureus 1 Resistentes à oxacilina, sensíveis à vancomicina. Proteus mirabilis Sensíveis à oxacilina e à vancomicina.1 Klebsiella pneumoniae 1 Enterobacter cloacae 1 Pseudomonas luteola 1 Pseudomonas aeruginosa 1 Serratia marcescens 1 Gram Negativo: Sensíveis à cefepime e ao meropenem. DISCUSSÃO: Etiologia nos Neonatos Instalação precoce (até 7 dias) Streptococcus do Grupo B, E. Coli, Listeria monocytogenes. Instalação tardia (> 7 dias) Gram negativos, Estafilococos (7). Relacionada a assistência hospitalar (9): Pseudomonas spp., Acinetobacter spp., Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus aureus e coagulase negativos. RESULTADOS: Etiologia - 1 a 3 meses Agentes Etiológicos Pacientes (n) Klebsiella pneumoniae 2 Acinetobacter baumannii 2 Streptococcus agalactiae (Grupo B) 1 Neisseria meningitidis C 1 Morganella morganii 1 Staphylococcus aureus 1 Streptococcus do Grupo B, Bacilos gram negativos, Streptococcus pneumoniae, Neisseria meningitidis. RESULTADOS: Etiologia > 3 meses Agentes Etiológicos Pacientes (n) 3 meses a 3 anos: - Streptococcus Streptococcus pneumoniae 1 Neisseria meningitidis C 1 Pseudomonas aeruginosa 1 Klebsiella pneumoniae 1 Acinetobacter baumannii 1 Streptococcus bovis 1 Proteus mirabilis + Enterococcus raffinosus 1 Staphylococcus warneri 1 > 3 anos: Staphylococcus epidermidis 1 - Streptococcus Staphylococcus hominis 1 pneumoniae, pneumoniae, - N. Meningitidis, - Streptococcus do grupo B, - gram negativos - N. Meningitidis. DISCUSSÃO: Etiologia em crianças S. aureus ou 1999: coagulase Anti-Haemophilus negativo; Gram negativos como E. coli, Klebsiella (10). DVP: 4 Agentes típicos: 4 Infecção Hospitalar 3 Mudança no perfil epidemiológico? Contaminação? do tipo B 2010: antipneumocócica e meningo C RESULTADOS: Etiologia em crianças 7 sensíveis ao cefepime e ao meropenem Gram negativos (9) 1 resistente ao cefepime, sensível ao meropenem 1 resistente a ambos S. coagulase negativos (3): 2 resistentes a oxacilina e sensíveis a vancomicina 1 resistente a ambos S. pneumoniae: resistente à penicilina e intermediário para ceftriaxona S. agalactiae e bovis: sensíveis à penicilina S. aureus: sensível a oxacilina e à vancomicina Enterococcus raffinosus: resistente a ampicilina e sensível a vancomicina RESULTADOS: Manifestações Clínicas em Neonatos Febre 5 (54%) Inapetência Febre - 60% Irritabilidade - 60% 3 (27%) Vômitos e Inapetência Irritabilidade ou Hipoatividade 3 (27%) Insuficiência Respiratória 3 (27%) Má Perfusão 50% Desconforto respiratório - 30 a 50% 2 (18%) Crises convulsivas - 20 a Vômitos 2 (18%) Outros 2 (18%) 0 1 2 3 Um (9%) apresentava fontanela abaulada. 50% (7, 11). 4 5 6 Sinal tardio e raro (4). Sinais e sintomas inespecíficos Quadro indistinguível de sepse Importância da punção lombar! RESULTADOS: Manifestações Clínicas em Crianças Febre Vômitos Crise convulsiva Inapetência ou Aumento do RG Irritabiliade ou Hipoatividade Cefaléia Redução do Nível de Consciência Insuficiência Respiratória Má Perfusão Petéquias 17 (94%) 6 (33%) 4 (22%) 3 (17%) 3 (17%) 2 (11%) 2 (11%) 2 (11%) 2 (11%) 1 (5,5%) 0 2 4 6 8 Rigidez de nuca ou sinais meníngeos: 17% 75% em maiores de 2 anos 10 Crise convulsiva 20% (12) 12 14 16 18 60 a 80% (13) Caso suspeito: febre, cefaleia, vômitos, rigidez de nuca, sinais de irritação meníngea (sinais de Kerning ou Brudzinski), convulsões ou petéquias (2). RESULTADOS: Tratamento em Neonatos Antibiótico Vancomicina Cefepime Amicacina Meropenem Ampicilina Gentamicina Oxacilina Piperacilina-Tazobactam Polimixina Anfotericina B Pacientes (n) 9 7 5 3 3 3 2 1 1 1 DISCUSSÃO: Tratamento em Neonatos Comunitária Ampicilina + aminoglicosídeo e cefotaxima Sepse tardia Hospitalar Vancomicina + amicacina Punção lombar: Cefotaxima RESULTADOS: Tratamento em Neonatos Antibiótico Vancomicina Cefepime Amicacina Meropenem Ampicilina Gentamicina Oxacilina Piperacilina-Tazobactam Polimixina Anfotericina B Pacientes (n) 9 7 5 3 3 3 2 1 1 1 Duração Média (dias) 8 7 1,5 14 3 3 17,5 2 14 5 RESULTADOS: Tratamento em Crianças Antibiótico Ceftriaxona Vancomicina Cefepime Meropenem Ampicilina Gentamicina Polimixina Amicacina Anfotericina B Ceftazidima Penicilina Pacientes (n) 10 6 5 5 4 2 2 2 1 1 1 Duração Média (dias) 7 9,5 9,5 19 5 4,5 14,5 1,5 38 29 1 Monoterapia n=4 Ceftriaxona ou n=1 cefotaxima 1 a 3 meses: associar ampicilina. DVP: associar vancomicina(10). RESULTADOS: Intervalo entre início dos sintomas e o tratamento Neonatos Crianças Início dos sintomas até a 50% dos pacientes levaram mais antibioticoterapia: 6 horas (30 de 48 horas para iniciar a minutos a 30 horas). antibioticoterapia. Boa assistência hospitalar Início dos sintomas até a procura ao hospital: 2 dias (1 a 7 dias). Admissão hospitalar e inicio da Dificuldade no acesso à saúde? antibioticoterapia: 3 horas (30 minutos e 29 horas). RESULTADOS: Evolução Neonatos Crianças Tempo de Internação: 25 dias (1 Tempo de Internação: 18 dias (1 a 153 dias) a 137 dias) 100% com necessidade de UTI 55% com necessidade de UTI 72% precisaram de ventilação 33% precisaram de ventilação mecânica mecânica 36% precisaram de drogas 16% precisaram de drogas vasoativas vasoativas RESULTADOS: Complicações Precoces Neonatos Crianças Crise Convulsiva – 27% Hidrocefalia – 5% Hidrocefalia – 9% Crise Convulsiva – 5% Artrite reativa, pneumonia, derrame pleural e derrame pericárdico – 5% RESULTADOS: Letalidade 8 pacientes foram a óbito – 27,5% Países desenvolvidos: 10% (4) 4 neonatos – 36% < 72h de antibioticoterapia 4 crianças – 22% 50% < 72h de antibioticoterapia Letalidade 15% (16) 50% > 21 dias de uso de ATB Países em desenvolvimento: 40 a 58% RESULTADOS: Fatores de risco para o óbito neonatal Óbito Vivo Total n (%) n (%) n (%) Sim 3 (43%) 4 (57%) 7 (100%) Não 1 (25%) 3 (75%) 4 (100% Óbito Vivo Total n (%) n (%) n (%) Sim 2 (67%) 1 (33%) 3 (100%) Não 2 (25%) 6 (75%) 8 (100%) Prematuros e Baixo Peso Convulsão Neonatos RESULTADOS: Fatores de risco para o óbito neonatal Uso de Drogas Vasoativas em Neonatos Óbito Vivo Total n (%) n (%) n (%) Sim 4 (100%) 0 (0%) 4 (100%) Não 0 (0%) 7 (100%) 7 (100%) Óbito Vivo Total n (%) n (%) n (%) Sim 3 (33%) 6 (67%) 9 (100%) Não 1 (50%) 1 (50%) 2 (100%) Infecção Hospitalar Neonatos RESULTADOS: Fatores de risco para o óbito em crianças Infecção Hospitalar Crianças Óbito Vivo Total n (%) n (%) n (%) Sim 2 (67%) 1 (33%) 3 (100%) Não 2 (13%) 13 (87%) 15 (100%) Óbito Vivo Total n (%) n (%) n (%) Sim 3 (42%) 4 (58%) 7 (100%) Não 1 (9%) 10 (91%) 11 (100%) Comorbidades RESULTADOS: Fatores de risco para o óbito em crianças Má Perfusão Periférica em Crianças Óbito Vivo Total n (%) n (%) n (%) Sim 1 (50%) 1 (50%) 2 (100%) Não 3 (23%) 13 (77%) 16 (100%) Óbito Vivo Total n (%) n (%) n (%) Sim 1 (50%) 1 (50%) 2 (100%) Não 3 (23%) 13 (77%) 16 (100%) Redução do Nível de Consciência RESULTADOS: Fatores de risco para o óbito em crianças Óbito Vivo Total n (%) n (%) n (%) Sim 1 (20%) 4 (80%) 5 (100%) Não 3 (23%) 10 (77%) 13 (100%) Convulsão Óbito Vivo Total n (%) n (%) n (%) Sim 3 (22%) 11 (78%) 14 (100%) Não 1 (25%) 3 (75%) 4 (100%) Idade < 1 ano RESULTADOS: Fatores de risco para o óbito em crianças Total: 18 Início Precoce de Antibióticos: 9 Infecção adquirida na comunidade: 6 Óbitos n=0 Início Tardio de Antibióticos: 9 Comorbidades e Infecção Hospitalar: 3 Óbitos n=2 Óbitos n=2 LIMITAÇÕES n da pesquisa X análise estatística Uso prévio de antibióticos Técnica de coleta e qualidade do serviço de microbiologia da SES CONCLUSÕES Atenção especial deve ser voltada para os casos de meningite neonatal pela maior morbimortalidade e pela inespecificidade dos sintomas; Importância da meningite como uma infecção relacionada a assistência à saúde no período neonatal; À despeito dos avanços na medicina, persiste uma doença com elevada morbimortalidade. Por isso, é necessário a identificação de fatores de risco para complicações e óbito. BIBLIOGRAFIA 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. Kim, K. S. (2010). "Acute bacterial meningitis in infants and children." Lancet Infect Dis 10(1): 32-42. BRASIL; Ministério da Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica: Normas e Manuais Técnicos. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 7ª edição, 2009. Wenger, J. D., et al. (1990). "Bacterial meningitis in the United States, 1986: report of a multistate surveillance study. The Bacterial Meningitis Study Group." J Infect Dis 162(6): 1316-1323. Furyk, J. S., et al. (2011). "Systematic review: neonatal meningitis in the developing world." Trop Med Int Health 16(6): 672-679 Antoniuk, S. A., et al. (2011). "Childhood acute bacterial meningitis: risk factors for acute neurological complications and neurological sequelae." J Pediatr (Rio J) 87(6): 535-540. Kavuncuoglu, S., et al. (2013). 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