DEMOGRAFIA MÉDICA COMPARADA NO DISTRITO FEDERAL FLAVIO GOULART •Projeto iniciado em 2011, sob condução do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), denominado “Demografia Médica no Brasil”. Segundo relatório /2013: novos cenários e indicadores da distribuição de médicos no país; •O presente texto faz uma síntese dos achados da pesquisa e seu impacto na realidade atual do Distrito Federal, tendo utilidade evidente no cenário atual ( “Mais Médicos”, acúmulo de insatisfações da população com relação ao atendimento médico e sanitário etc). CONCLUSÕES GERAIS DA PESQUISA •Ocorre no Brasil um aumento persistente do número de médicos, mas isso não beneficia de forma homogênea o conjunto dos cidadãos, acumulando-se em regiões, estados e municípios habitados por população de maior renda. •Movimentação espacial dos médicos (onde nasceram, se formaram e atuam): a maioria deles se fixa nos grandes centros, não sendo a localização dos cursos de medicina fator determinante de fixação dos médicos. •O aumento na quantidade de médicos não asseguraria a disponibilidade de médicos em locais, especialidades e circunstâncias em que ocorre falta dos mesmos. •Por qualquer dos referenciais utilizados – médico registrado, contratado, cadastrado ou ocupado – quem mora nas regiões Sul e Sudeste conta em média com duas vezes mais médicos que os habitantes das demais regiões – excluindo-se o Distrito Federal. •Os brasileiros que vivem nas capitais contam, em média, com duas vezes mais médicos que os que moram no interior. •É insuficiente a presença de médicos no SUS, com migração de médicos do setor privado para o público, revelando carência de transformações substantivas do sistema de saúde (financiamento, regulação do mercado de planos de saúde, políticas de valorização dos profissionais de saúde, desprecarização e planos de carreira). •Necessária uma política eficaz de presença do Estado no desenvolvimento econômico e social das áreas desassistidas, com valorização e fixação de profissionais por meio de carreiras públicas. •A concentração dos médicos acompanha a existência de serviços de saúde e de outros profissionais, principalmente de dentistas e enfermeiros, significando que a configuração das estruturas e dos equipamentos de saúde, o atrativo das condições coletivas de exercício profissional, a oferta de emprego e renda, e a qualidade de vida acabam por favorecer a instalação dos médicos nos grandes centros. •Há um processo de rápida feminilização da medicina no país, fenômeno consistente desde 2009, que pode ser positivo para o futuro do sistema de saúde brasileiro. •Boa parte dos médicos não concluiu programa de Residência Médica ou não tem título de especialista. CATEGORIA MÉDICO OCUPADO DESCRIÇÃO O parâmetro “médico ocupado”, aqui utilizado, refere-se aos postos de trabalho médico ocupados, que compõem a base de dados da pesquisa AMS, Assistência Médico-Sanitária, do IBGE, um censo dos estabelecimentos de saúde, públicos e privados, de todo o território nacional. A AMS mensura o conjunto de postos de trabalho ocupados por médicos, sendo que um profissional pode ocupar mais de um posto. Dentre as limitações, a pesquisa deixa de contar consultórios médicos privados isolados. Além disso, traz informaçõesInconsistentes sobre carga horária e especialidades e não capta os arranjos informais entre empregadores e médicos que permitem sobreposições de vínculos e cumprimento de jornadas atípicas MÉDICO O Cadastro Nacional de Estabelecimentos deSaúde – CNES foi instituído em 2000 comoum grande banco de CADASTRADO informações sobre as condições de infraestrutura e funcionamento dosserviços de saúde públicos e privados no país.Desde abril de 2011 (Portaria MS/SAS nº 134)foram reforçadas as responsabilidades dosempregadores em alimentar o Sistema CNES,com melhoras na inserção e atualização dosdados dos profissionais de saúde em exercício nos estabelecimentos. Como o repasse derecursos públicos utiliza informações do CNES, são hoje mais confiáveis os dados sobre médicos no SUS. Mas o CNES Ainda é umafonte precária para informações sobre os médicos que trabalham no setor privado. Mesmo no setor público, podem ficar de fora doCNES parte dos médicos plantonistas, terceirizados, contratados por Organizações Sociais (OSs), dentre outros. MÉDICO Tem por base a RAIS, Relação Anual de Informações Sociais, do Ministério do Trabalho e Emprego. Trata-se de CONTRATADO declaração anual obrigatória (Decreto 76.900/75) para todos os empregadores no território nacional. As informaçõescaptadas sobre o mercado de trabalho formalreferem-se aos empregados celetistas, estatutários, avulsos, temporários, da iniciativaprivada e da administração pública direta eindireta, nas três esferas de governo, entreoutros. Por essas características, a RAIS é umtermômetro dos empregos formais de médicos empregados/contratados no país. MÉDICO REGISTRADO O Brasil tem um contingente de 388.015 médicos registrados nos CRMs/CFM e uma população de 193.867.971 habitantes(IBGE). Arazão é de 2,00 médicos registrados por 1.000habitantes. QUADRO GERAL DA DISTRIBUIÇÃO DE MÉDICOS NO BRASIL POR CATEGORIA FUNCIONAL – CRM CREMESP 2013 LOCAL CADASTRADOS (CNES) OCUPADOS (AMS/IBGE)) CONTRATADOS (RAIS/MTE) REGISTRADOS (CRM/CFM) BRASIL 1,48 3,33 1,41 2,00 CENTRO-OESTE 1,51 3,03 0,96 2,05 SUDESTE 1,91 4,29 2,07 2,67 DISTRITO FEDERAL BELÉM 2,71 5,62 2,46 2,52 1,68 5,11 2,76 3,44 BELO HTE 4,71 10,31 4,45 6,61 CURITIBA 3,24 7,78 3,01 5,71 FORTALEZA 1,89 3,35 1,57 3,16 GOIÂNIA 3,08 6,21 1,20 5,42 RAZÃO ENTRE POSTOS DE TRABALHO MÉDICO OCUPADOS EM ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE PÚBLICA/HABITANTE USUÁRIO DO SUS POR 1.000 HABITANTES UF Rio de Janeiro São Paulo Distrito Federal Minas Gerais BRASIL Paraná Rio Grande do Sul Goiás Bahia Mato Grosso Pará RAZÃO 3,63 3,04 2,79 2,14 1,95 1,63 1,57 1,41 1,25 1,18 0,89 RAZÃO ENTRE POSTOS DE TRABALHO MÉDICO OCUPADOS EM ESTABELECIMENTO PRIVADOS/HABITANTE USUÁRIO DE PLANOS E SEGUROS DE SAÚDE (1.000 HABITANTES) Bahia Distrito Federal Rio Grande do Sul Goiás Minas Gerais Pará Mato Grosso BRASIL São Paulo Rio de Janeiro Ceará 15,14 13,56 10,78 9,72 8,83 8,58 7,82 7,6 6,23 5,92 5,22 DISTRIBUIÇÃO DOS MÉDICOS E POSTOS DE TRABALHO MÉDICO NO BRASIL – CFM / CREMESP - 2013. LOCAL BRASIL CADASTR ADOS (CNES) 1,48 OCUPADOS CONTRATADOS (AMS/IBGE)) (RAIS/MTE) REGISTRADOS (CRM/CFM) 3,33 1,41 2,00 CENTRO-OESTE 1,51 3,03 0,96 2,05 SUDESTE 1,91 4,29 2,07 2,67 DISTRITO FEDERAL BELÉM 2,71 5,62 2,46 2,52 1,68 5,11 2,76 3,44 BELO HTE 4,71 10,31 4,45 6,61 CURITIBA 3,24 7,78 3,01 5,71 FORTALEZA 1,89 3,35 1,57 3,16 GOIÂNIA 3,08 6,21 1,20 5,42 DISTRIBUIÇÃO DE MÉDICOS CADASTRADOS (CNES) QUE ATUAM NO SUS, POR 1.000 HABITANTES, SEGUNDO UNIDADES DA FEDERAÇÃO – CFM / CREMESP 2013 Distrito Federal Rio de Janeiro Rio Grande do Sul São Paulo Minas Gerais BRASIL Goiás Bahia Maranhão Pará 1,72 1,58 1,40 1,34 1,20 1,11 1,09 0,81 0,52 0,50 DISTRIBUIÇÃO DE MÉDICOS CADASTRADOS (CNES) QUE ATUAM NO SUS, POR 1.000 HABITANTES, SEGUNDO UNIDADES DA FEDERAÇÃO – CFM / CREMESP 2013 Distrito Federal Rio de Janeiro Rio Grande do Sul São Paulo Minas Gerais BRASIL Goiás Bahia Maranhão Pará 1,72 1,58 1,40 1,34 1,20 1,11 1,09 0,81 0,52 0,50 EVOLUÇÃO DA RAZÃO MÉDICO/HABITANTE ENTRE 1980 E A ATUALIDADE, COM PROJEÇÃO PARA 2050, SEGUNDO UF E REGIÕES DO BRASIL. CFM / CRESMESP 2013 DF REGIÃO CO REGIÃO SE BRASIL 1,63 2,05 2,32 2,56 2,99 3,30 3,98 4,72 5,34 5,89 6,36 6,78 7,15 7,48 7,78 0,76 1,03 1,19 1,33 1,50 1,60 1,94 2,32 2,64 2,92 3,17 3,39 3,59 3,77 3,94 1,21 1,49 1,73 1,88 2,08 2,23 2,48 2,77 3,04 3,28 3,50 3,71 3,91 4,09 4,26 0,94 1,15 1,30 1,40 1,51 1,62 1,86 2,15 2,41 2,68 2,95 3,23 3,54 3,87 4,24 •INDICADOR DE DESIGUALDADE: (IDPP,) construído para lidar com as diferenças na oferta de médicos entre usuários do SUS e os clientes da saúde suplementar; •O IDPP não mostra falta ou excesso do quantitativo de médicos, nem se refere à qualidade da assistência, mas antes aponta a diferença existente entre o privado e o público, ou seja, quantos médicos estão à disposição dos planos de saúde por 1.000 clientes desses planos, versus médicos à disposição do SUS •Razão entre duas medidas de naturezas distintas: postos de trabalho médico ocupados em estabelecimentos privados e postos de trabalho médico ocupados em estabelecimentos públicos (por 1.000 habitantes). Resultado : razão entre serviços privados e públicos oferecidos à população •IDPP menor que 1,= mais postos de trabalho médico ocupados no setor público proporcionalmente a seus usuários, que no segmento privado; •IDPP próximo a 1 = relação é a mesma; •IDPP maior que 1, existem mais postos ocupados no setor privado. IDPP BRASIL E REGIÕES IDPP CAPITAIS Salvador Distrito Federal Goiânia Belém Porto Alegre Curitiba Belo Horizonte Fortaleza São Paulo Rio de Janeiro 6,77 4,63 3,98 3,80 2,87 2,53 1,55 1,31 0,93 0,59 ESPECIALISTAS X GENERALISTAS / UF SELECIONADAS UF/CAPITAL/BRASIL Região Centro-Oeste Região Sul Região Sudeste Região Nordeste Região Norte BRASIL Distrito Federal São Paulo Goiás Maranhão ESP (%) GEN (%) RAZÃO 62,43 66,12 53,35 49,10 45,39 55,09 67,8 55,9 58,1 36,6 37,57 33,88 46,65 50,90 54,61 44,91 32,2 44,1 41,9 63,4 1,66 1,95 1,16 0,96 0,83 1,23 2,11 1,27 1,39 0,58 SÍNTESE DF •Características da população médica em atividade •Número de médicos 10.300 •Masculino 5.825 (56,6%) •Feminino 4.466 (43,4%) SÍNTESE DF •Idade média (DP) 44,7 anos (14,1) •Tempo de formado (DP) 19,2 anos (13,3) •Número de generalistas 3.317 (32,2%) •Número de especialistas 6.983 (67,8%) •Número de médicos em Brasília 5.743 (55,7%) •% de médicos em relação à Região Centro-Oeste 36,90% •% de médicos em relação ao Brasil 2,77% •Indicadores do Estado •Razão médico habitante (1.000hab.) 4,02 •Razão masculino/feminino 1,30 •Razão especialista/generalista 2,11 •Razão posto de trabalho médico ocupado (1.000hab.) 5,42 •Razão posto de trabalho médico ocupado público (1.000hab.) 2,79 •Razão posto de trabalho médico ocupado privado (1.000hab.) 13,56 •IDPP 4,86 •Indicadores de Brasília •Razão médico habitante (1.000hab.) 2,33 •Razão posto de trabalho médico ocupado (1.000hab.) 5,62 •Razão posto de trabalho médico ocupado público (1.000hab.) 2,93 •Razão posto de trabalho médico ocupado privado (1.000hab.) 13,56 •IDPP 4,63 DF: PARTICULARIDADES •São inúmeras as “vantagens” da situação do DF em termos de sua força de trabalho médica, mas que devem ser consideradas apenas dentro de um contexto quantitativo, em outras palavras, de números expressivos, que não traduzem, nem de longe, o quadro da qualidade do atendimento prestado, da qualidade da formação auferida, da distribuição de profissionais onde mais se fazem necessários etc. •Apesar dos números muitas vezes pujantes, em relação à realidade dos demais estados e capitais do Brasil, é preciso admitir que muitas das distorções verificadas nas mesmas também se aplicam á realidade local, por exemplo, em relação à distribuição geográfica e garantia de um quadro de competências e especialidades profissionais adequadas às realidades epidemiológica e institucional do DF. •Entre tais números expressivos e chamativos de atenção estão, não só a taxa de médicos per capita, comparável, no DF a países e realidades onde tais cifras são das mais altas, mas também a projeção de crescimento da força de trabalho médico proporcionalmente á população, para as próximas décadas, aspecto em que, mais uma vez a distância da realidade local em relação ao que se prevê para o restante do país é bastante notável. •É preciso lembrar que, no capítulo das desigualdades, o DF também tem posição negativa, como se depreende da análise do IDPP, no qual se mostra que aqui existem muito mais médicos à disposição de usuários privados do que de usuários exclusivos do SUS. •Distorção evidente, ainda, é a razão entre especialistas e generalistas, que no DF coloca estes em franca desvantagem numérica frente àqueles, liderando um ranking entre os outros entes da Federação em tal quesito. PROPORÇÕES ENTRE PROFISSIONAIS DE SAÚDE – RAIS 2012 11 - Rondônia 12 - Acre 13 - Amazonas 14 - Roraima 15 - Pará 16 - Amapá 17 - Tocantins 21 - Maranhão 22 - Piauí 23 - Ceará 24 - Rio Grande do Norte 25 - Paraíba 26 - Pernambuco 27 - Alagoas 28 - Sergipe 29 - Bahia 31 - Minas Gerais 32 - Espírito Santo 33 - Rio de Janeiro 35 - São Paulo 41 - Paraná 42 - Santa Catarina 43 - Rio Grande do Sul 50 - Mato Grosso do Sul 51 - Mato Grosso 52 - Goiás Rel Med/Enf 1,14 0,93 1,06 0,82 1,01 0,90 0,97 0,55 1,15 0,85 0,70 0,67 1,86 0,90 1,43 0,85 1,32 1,03 1,74 1,44 0,98 0,94 1,11 1,04 0,77 1,55 Rel Med/CD 2,77 3,38 3,00 1,92 3,80 2,13 5,40 2,90 2,36 2,32 1,69 1,81 7,12 1,90 3,53 4,41 3,76 2,48 6,96 5,72 2,61 2,41 3,64 2,22 2,22 3,55 Rel Enf/TAE 0,25 0,36 0,22 0,24 0,25 0,20 0,28 0,23 0,27 0,34 0,27 0,56 0,30 0,17 0,24 0,33 0,26 0,27 0,31 0,26 0,28 0,31 0,22 0,25 0,28 0,20 53 - Distrito Federal 1,26 14,07 0,29 BRASIL 1,27 4,33 0,27 PROPORÇÕES: POPULAÇÃO E PROFISSIONAIS DE SAÚDE (DF X BRASIL) – RAIS 2012 OBS: População do DF = 1,4% da população brasileira UF / BRASIL MÉDICOS 455 ENFERMEI ROS 5.097 BRASIL 64.027 218.255 277.309 (% DF/BRASIL) 0,71% 2,34% 2,31 DF DENTISTAS 6.401 TÉC + AUX ENF 17.991 TOTAL 29.744 804.507 1.364.138 2,21% 2,18 A pergunta que não quer calar: MAIS MÉDICOS? MAIS? DO MESMO?