O Pagador de Promessas de Dias Gomes Gênero Literário: Dramático (Peça teatral). Data de Publicação: 1959. Espaço narrativo: Salvador (BA). Especificamente na praça, em frente à Igreja de Santa Bárbara. Tempo: Contemporâneo. A narrativa se dá num dia. Há também a presença do tempo psicológico (feedbacks , lembranças). Linguagem: Simples, regionalista; frases curtas. Dias Gomes inclui em seu texto palavras do linguajar popular. Além disso, há fragmentos de versos populares declamados e cantigas da capoeira. Estrutura da Obra: Escrita para teatro, é dividida em três atos, sendo que os dois primeiros ainda são subdivididos em dois quadros cada um. Os quadros sugerem imagens paradas, representando estágios, como a via-crucis realizada por Jesus e representada nas igrejas como a viasacra. Após a apresentação dos personagens, o primeiro ato mostra a chegada do protagonista Zé do Burro e sua mulher Rosa, vindos do interior, a uma igreja de Salvador e termina com a negativa do padre em permitir o cumprimento da promessa feita. O segundo ato traz o aparecimento de diversos novos personagens, todos envolvidos na questão do cumprimento ou não da promessa e vai até uma nova negativa do padre, o que ocasiona, desta vez, explosão colérica em Zé do Burro. O terceiro ato é onde as ações recrudescem, as incompreensões vão ao limite e se verifica o dramático desfecho. Alfredo de Freitas Dias Gomes •Nasceu em Salvador, Bahia, a 19/12/1922. • Residiu no RJ a partir de 1935. • Cursou várias carreiras, entre as quais Direito e Engenharia, sem concluir nenhuma delas. • Sua primeira peça – aos 15 anos: A comédia dos moralistas. • Revela preocupação em questionar a realidade brasileira. • Trabalha um tempo em emissoras de rádio e edita alguns romances. • Retorna definitivamente ao teatro, em 1960, com O Pagador de Promessas. Foi apresentada, pela primeira vez, no Teatro Brasileiro de Letras e sob a direção de Flávio Rangel. • A partir de 1969, pressionado pela censura do regime vigente a suas obras, resolve dedicar-se à televisão. • Sem trair a sua temática, levou para a tevê suas preocupações políticas e sociais, escrevendo uma série de telenovelas que deram ao gênero um alto nível artístico e uma linguagem própria. • Retorna a escrita de teatros a partir de 1978. •A obra O Pagador de Promessas conquistou diversos prêmios nacionais e internacionais elevando Dias Gomes à categoria de melhor dramaturgo . • Ele concentra a ação no espaço e no tempo, à maneira antiga, ou dividindo a peça em pequenos quadros sucessivos, à maneira moderna. Dá ritmo ao enredo e garante a hierarquia entre os personagens Conquistou diversos prêmios nacionais e internacionais: = Recebeu por “O Pagador de Promessas” os seguintes prêmios: + Prêmio Nacional do Teatro (1960); + Prêmio Governador do Estado (1960); + Prêmio Melhor Peça Brasileira (1960); + Prêmio Padre Ventura (1962); + Prêmio Melhor Autor Brasileiro (1962); + Prêmio Governador do Estado da Guanabara (1962) + Laureada no III Festival Internacional de Teatro, em Kalsz, Polônia. Além dos prêmios concedidos à versão cinematográfica: + Palma de Ouro, Festival de Cannes (1962); + 1º Prêmio do Festival de S. Francisco (EUA – 1962); + 1º Prêmio do Festival da Venezuela (1962); +Critic´s Award, do Festival de Edimburgo, Escócia (1962); + Laureada no Festival de Acapulco, México (1962); + Prêmio Saci (SP – 1962); + Prêmio Governador do Estado (SP – 1962); + Prêmio Cidade de São Paulo (1962); + Prêmio Humberto Mauro. O Pagador de Promessas, de Dias Gomes Profª Carine Retrata a história de Zé-doBurro, homem do interior, ingênuo e fiel aos valores em que crê. E são justamente as suas nobres qualidades que o levam ao desencanto e à destruição, conduzindo o leitor/espectador a uma reflexão crucial: • O que devemos privilegiar na vida? O dinheiro? A ambição desmedida? A fama? A política de interesses? Ou nossas convicções individuais, como amizade e o cumprimento da palavra empenhada? • O protagonista é um homem moço, de presumíveis 30 anos, magro, de estatura média, que transmite bondade, tolerância e uma ingenuidade. É um interessante retrato da miscigenação religiosa do povo brasileiro. “Zé-do-Burro”, um homem simples do campo trata de cumprir sua promessa (ou tentar) após ter tido Nicolau, seu burro, curado devido a promessa feita a Santa Bárbara. O que deveria ter sido um simples ato de fé toma proporções gigantescas, quando Zé é barrado pelo Padre Olavo. Os interesses locais se voltam para o pequeno caso e cada segmento social quer tomar partido da situação: O desejo inescrupuloso da imprensa em transformar Zé num herói nacional -Sensacionalismo da “Imprensa Marrom” simbolizada no Repórter, um perfeito mau-caráter, completamente desinteressado no drama do protagonista, mas muito interessado na repercussão que a história pode ter; Mães de santo o defendem como representante do Candomblé. •Os políticos vereador; tiveram interesse em •O contador de histórias se oferece imortalizar o fato do seu ponto de vista; fazê-lo para •O comerciante deseja a publicidade de sua venda que está de frente para a igreja, onde os fatos se desenrolam; •O cafetão (Bonitão) se aproveita para transar com a mulher de Zé (Rosa) em um hotel; • Zé passa a ser visto como santo e mártir e, ao mesmo tempo, é um infiel para a igreja e um criminoso arruaceiro para a polícia. • Cada instituição passa a legitimar sua presença ou condenála. Ele passa a ser um exemplo dos excluídos sociais e tem agregado a si o ideal de injustiça e liberdade desejado pelo povo, é associado à “revolução” social, à “reforma agrária” e classificado como “comunista” sem ao menos ter idéia do que são estes conceitos. Os grupos sociais passam a projetar nele suas perspectivas e crenças, transformando-o em um ícone maleável, de acordo com os interesses de quem se aproxima e defende suas teses, usando Zé como exemplo. Ele deixa de ser um homem com um propósito pessoal, pois passa a ser colocado pelo meio em que está; tornando-se o novo Cristo local. É imortalizado como ícone através de sua morte sem poder simplesmente pagar sua promessa. “Colocam-no sobre a cruz, de costas, com os braços estendidos, como um crucificado. Carregam-no assim, como numa padiola e avançam para a igreja. Bonitão segura Rosa por um braço, tentando levá-la dali. Mas Rosa o repele com um safanão e segue os capoeiras. Bonitão dá de ombros e sobe a ladeira. Intimidados, o Padre e o Sacristão recuam, a Beata foge e os capoeiras entram na igreja com a cruz, sobre ela o corpo de Zédo-Burro. O Galego, Dedé e Rosa fecham o cortejo. Só Minha Tia permanece em cena. Quando uma trovoada tremenda desaba sobre a praça”. (págs. 138 e 139) Personagens Zé-do-Burro : “Homem ainda moço, de 30 anos presumíveis, magro, de estatura média. Seu olhar é morto, contemplativo. Suas feições transmitem bondade, tolerância e há em seu rosto um 'que' de infantilidade. Seus gestos são lentos, preguiçosos, bem como sua maneira de falar. Tem baraba de dois ou três dias e traja-se decentemente, embora sia roupa seja mal talhada e esteja amarrotada e suja de poeira." Rosa : “Pouco parace ter de comum com ele (Zé-do-Burro). É uma bela mulher, embora seus traços sejam um tanto grosseiros, tal como suas maneiras. Ao contrário do marido, tem 'sangue quente'. É agressiva em seu 'sexy', revelando, logo à primeira vista, uma insatisfação sexual e uma ânsia recalcada de romper com o ambiente em que se sente sufocar. Veste-se como uma provinciana que vem à cidade, mas também como uma mulher que não deseja ocultar os encantos que possui.“ Nicolau : o burro. Segundo seu dono, tem "alma de gente". Marli: “Ela tem, na realidade, vinte e oito anos, mas aparenta mais dez. Pinta-se com algum exagero, mas mesmo assim não consegue esconder a tez amarelo-esverdeada. Possui alguns traços de uma beleza doentia, uma beleza triste e suicida. Usa um vestido muito curto e decotado, já um tanto gasto e fora de moda, mas ainda de bom efeito visual. Seus gestos e atitudes refletem o conflito da mulher que quer libertar-se de uma tirania que, no entanto, é necessária ao seu equilíbrio psíquico - a exploração de que é vítima por parte de Bonitão vem, em parte, satisfazer um instinto maternal frustrado. Há em seu amor e em seu aviltamento, em sua degradação voluntária, muito de sacrifício maternal, ao qual não falta, inclusive, um certo orgulho.“ Bonitão: “É insensível a tudo isso (a Marli e o que ela faz por ele). Ele é frio e brutal em sua profissão. Encara a exploração a que submete Marli e outras mulheres, como um direito que lhe assiste, ou melhor, um dom que a natureza lhe concedeu, juntamente com seus atributos físicos. Em seu entender, sua beleza máscula e seu vigor sexual, aliados a um direito natural de subsistir, justificam plenamente seu modo de vida. É de estatura um pouco acima da média, forte e de pele trigueira, amulatada. A ascendência negra é visível, embora os cabelos sejam lisos, reluzentes de gomalina e os traços regulares, com exceção dos lábios grossos e sensuais e das narinas um tanto dilatadas. Veste-se sempre de branco, colarinho alto, sapatos de duas cores." Beata : veste-se "toda de preto, véu na cabeça, passinho miúdo". Simboliza a figura clássica da mulher que vive para a igreja, talvez para preencher algum vazio em sua vida ou por uma fé ingênua. Sacristão : "é um homem de perto de 50 anos. Sua mentalidade, porém, anda aí pelos quatorze. Usa óculos de grossas lentes; é míope. O cabelo teima em cair-lhe na testa, acentuando a aparência de retardado mental.“ Padre Olavo : "é um padre moço ainda. Deve contar, no máximo, quarenta anos. Sua convicção religiosa aproxima-se do fanatismo. Talvez, no fundo, isto seja uma prova de falta de convicção e autodefesa. Sua intolerância - que o leva, por vezes, a chocar-se contra princípios de sua própria religião e a confundir com inimigos aqueles que estão de seu lado - não passa, talvez, de uma couraça com que se mune contra uma fraqueza consciente.“ Monsenhor: “Apesar de parecer tolerante, reproduz o discurso do Padre Olavo. Ele procura persuadir o outro de que o único caminho possível é aceitar e se submeter. A intermediação do Monsenhor se faz na perspectiva formal e dogmática manifestada pelo padre Olavo. O Monsenhor também parte do princípio de que Zé cometeu uma heresia e a igreja não pode ser condescendente. Sua proposta também se mostra inviável, pois se choca com a concepção religiosa e de mundo do Zé-do-burro. Dedé Cospe-Rima : "mulato, cabeleira de pixaim, sob o surrado chapéu de coco - um adorno necessário à sua profissão de poetacomerciante. Traz, embaixo do braço, uma enorme pilha de folhetos: abecês, romances populares em versos. E dois cartazes um no peito, outro nas costas. Num se lê: 'ABC da Mulata Esmeralda - uma obra-prima' e no outro 'Saiu agora, tá fresco-ainda! O que o cego Jeremias viu na Lua’ ”. Guarda: "é um homem que procura safar-se dos problemas que se lhe apresentam. Sua noção do dever coincide exatamente com o seu temor à responsabilidade. Seu maior desejo é que nada aconteça, a fim de que a nada ele tenha que impor sua autoridade. No fundo, essa autoridade o constrange terrivelmente e mais ainda o dever de exercê-la". Repórter: "é vivo e perspicaz". Encontra em Zé-do-Burro uma grande matéria para o seu jornal. Fotógrafo: apenas um figurante. Fotografa Zé-do-Burro que aparece na primeira página do jornal. Secreta: Policial que inspira mais receio do que respeito. Galego : Comerciante de origem estrangeira. É dono de um bar na praça da igreja de Santa Bárbara. Minha Tia : Típica comerciante de quitutes baianos. É do Candomblé . Matilde: Outra prostituta da história. Delegado : Simboliza a lei e mantenedor da ordem. Mestre Coca : Mulato alto, musculoso e ágil. Veste calças brancas ‘boca de sino’ e camisa de meia. Manuelzinho Sua-Mãe e os Capoeristas: Dançavam Capoeira e apostavam no que a história iria dar. COMENTÁRIOS O crítico e ensaísta Yan Michalski, ao analisar a obra de Dias Gomes, considera que ele "(...) conta com um excepcional dom de observação das peculiaridades do caráter nacional, quer se trate do sertanejo perdido num interior quase medieval, do favelado exposto às agruras da selva do asfalto, ou do jovem intelectual que seqüestra um embaixador nos tempos da luta armada. Por outro lado, apesar de o teatro ser rico em personagens de forte carisma pessoal, ele evita consistentemente dar destaque prioritário a problemas individuais: seus verdadeiros protagonistas são sempre, com maior ou menor nitidez, corpos coletivos, cujos comportamentos se regem muito mais por condicionamentos de caráter social, cultural e político do que por motivações de realismo psicológico. Apesar da objetividade da crítica social que é a mola mestra do seu trabalho, ele não renega, mas pelo contrário explora generosamente, elementos de fantasia, misticismo e tradição lúdica popular; da mesma forma como não hesita em misturar toques de autêntica tragédia com um humor corrosivo que é uma presença constante nas suas peças". Dias Gomes é direto e um tanto maniqueísta; pois as intenções são desmascaradas demais. Não há sutilezas nas palavras dos oportunistas. Nem os clérigos, que exigem de Zé uma “retificação” de sua promessa, vêm com meias palavras em seus discursos sobre como o evento pode alterar e afetar a estrutura interna e a visão política externa que se tem da igreja. Concentra a ação no espaço e no tempo, à maneira antiga, ou dividindo a peça em pequenos quadros sucessivos, à maneira moderna. Dá ritmo ao enredo e garante a hierarquia entre os personagens. Teatro Televisão: Pé-de-cabra. Amanhã será outro dia. Doutor Ninguém Zeca Diabo. Os fugitivos do juízo final. A invasão. A revolução dos beatos. O berço do herói. O santo Inquérito. O rei de Ramos. Campeões do mundo. O Pagador de Promessas. A ponte dos suspiros Verão Vermelho Assim na terra como no céu Bandeira 2 O Bem-Amado O Espigão Saramandaia Sinal de alerta Roque Santeiro Mandala Araponga Irmãos coragem Seriados Carga pesada O Bem Amado Minisséries O Pagador de Promessas As noivas de Copacabana Decadência O fim do mundo Dona Flor e seus dois maridos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PEREIRA, Helena Bonito. Na trama do texto: língua portuguesa. São Paulo: FTD, 2004. GOMES, Dias. O pagador de Promessas. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005. CEREJA, William Roberto. Português linguagens. (Ensino Médio) volumes 1 e 3. São Paulo: Atual, 2004.