O papel do médico Situação da dengue no Brasil e em São Paulo. É possível erradicar a dengue no Brasil e no mundo? É possível diminuir o número de casos? É possível reduzir a letalidade (sem maquiagem)? Qual é o papel do médico enquanto profissional de saúde? Importância dos algoritmos em situações de epidemia. Fonte: Divisão Zoonoses CVE/CCD/SES-SP e SINANNET. Dados atualizados em 27.09.2010. Transmissão do Vírus dA Dengue pelo Aedes aegypti Mosquito pica / vírus Transmite Mosquito pica / Adquire vírus Período de incubação intrínseco Período de incubação extrínseco Viremia Viremia 0 5 Doença Ser humano 1 8 12 16 20 DIAS Ser humano 2 24 Doença 28 Quatro sorotipos, cada um proporciona imunidade permanente específica e imunidade cruzada em curto prazo Todos os sorotipos podem causar doenças graves e fatais Variação genética dentro de cada sorotipo Algumas variantes genéticas dentro de cada sorotipo parecem ser mais virulentas ou ter maior potencial epidêmico A circulação sucessiva de diversos sorotipos aumenta a probabilidade de casos graves. Fonte: Divisão Zoonoses CVE/CCD/SES-SP e SINANNET. Dados atualizados em 27.09.2010. Como encaramos o diagnóstico de dengue hoje? Isolamento Viral Sorologia Diagnóstico de Dengue Quadro clínico Detecção antígeno Detecção Genoma Dados epidemiológicos Marcadores importantes na infecção por dengue NS1 IgG segunda infecção IgG infecção primária IgM Viremia 0 4 6 14-21 >50 Dias FEBRE HEMORRÁGICA DENGUE – 4 critérios 1.- Febre 2.- Manifestações hemorrágicas - prova do laço positiva - petéquias ou equimose - hemorragia gastrintestinal ou algum outro sangramento 3.- Trombocitopenia (< 100 000 x mm3) 4.- Extravasamento de plasma - hemoconcentração (diferença > 20% entre hematócrito maior e menor) - derrame pleural ou ascite - hipoproteinemia Grau 1 Febre e sintomas constitucionais inespecíficos. Prova do laço positiva é a única manifestação hemorrágica Grau 2 Grau 3 Manifestações grau 1 + sangramento espontâneo Sinais de falência circulatória (pulso rápido/fraco, pressão de pulso estreita, hipotensão, pele fria/pegajosa) Grau 4 Choque profundo (pulso e PA indetectáveis) 1) Alterações neurológicas 2) Disfunção cardio-respiratória 3) Insuficiência hepática 4) Plaquetas < 50.000/mm3 5) Hemorragia digestiva 6) Derrames cavitários 7) Leucometria < 1.000/mm3 8) Não preenche critérios para FHD *Municípios de residência: São José do Rio Preto (6), Guarujá (17), Ribeirão Preto (9), Santos (12), São Vicente (9), Araçatuba (1), Ilha Bela (1), Mirassol (2), Mirassolândia (1), Panorama (1), Peruibe (1), Praia Grande (7), Campinas (1), Caraguatatuba (1); Parapuã (1);Piracicaba (1);Tanabi (1); Jaci (1); Guarulhos (1), Ilha Bela (1);Osvaldo Cruz (1);Bertioga (1) ** Municípios de residência: São Vicente (6), Santos (12), Guarujá (12), São José do Rio Preto (4), Mirassol (1), Campinas (2), Itanhaém (1), Ribeirão Preto (4) e Tabatinga (2), Olimpia (1), Orlândia (1), Praia Grande (2), Santa Barbara D’Oeste (2), Catanduva (1), Dumont (1); Taquaritinga (1); Penápolis (1); Tupã (1); Paulo de Faria (1); Piracicaba (1); Araçatuba (1);São Sebastião (1) Podem ser alteradas: Aumento do número de casos Vários sorotipos circulantes (o perigo do DEN-4) Demora na procura por atendimento médico (dificuldades durante uma epidemia) Deixar de priorizar os casos graves (organização dos serviços e identificação de sinais de alerta) Falta de pessoal e insumos básicos para atendimento Falta de orientação aos pacientes atendidos (sinais de alerta, riscos da medicação) Não podem ser alteradas: Fatores de risco individuais (extremos de faixa etária, co-morbidades, gestação) Evolução para DCC sem fator predisponente aparente AUTOMATICAMENTE: Pesquisar sinais de alerta: CLÍNICOS Dor abdominal intensa e sustentada Vômitos incoercíveis Queda brusca e acentuada da temperatura Irritabilidade, sonolência ou ambas LABORATORIAIS Elevação do hematócrito ou queda das plaquetas PA em duas posições Prova do laço (ou sangramento espontâneo) Pedir hemograma Insuflar o manguito a um ponto médio entre a pressão sistólica e diastólica por 5 minutos Prova positiva: 20 ou mais petéquias por 1 polegada2 (6,25 cm2) Organização Pan Americana de Saúde: Dengue e Febre Hemorrágica do Dengue: Diretrizes para Prevenção e Controle PAHO: Washington, D.C., 1994: 12. Aferir a PA na posição sentada/deitada Aferir a PA na posição em pé Caso seja constatada redução de 20 mmHg ou mais na PA sistólica, existe sinal de hipotensão postural, que pode ser um sinal precoce de evolução para CHOQUE. Febre (< 7 dias) e dois ou mais dos seguintes: Cefaleia ou Dor Retroorbitária Mialgia / artralgia Exantema Algum sangramento Leucopenia AUTOMATICAMENTE: Pesquisar sinais de alerta: CLÍNICOS Dor abdominal intensa e sustentada Vômitos incoercíveis Queda brusca e acentuada da temperatura Irritabilidade, sonolência ou ambas LABORATORIAIS Elevação do hematócrito ou queda das plaquetas PA em duas posições Prova do laço (ou sangramento espontâneo) Pedir hemograma Causas infecciosas: Influenza Doenças exantemáticas (sarampo, rubéola, etc.) Leptospirose Hepatite infecciosa Malária Febre maculosa brasileira Febre tifoide Meningococcemia Sepse por gram-negativos Febre amarela e outras febres hemorrágicas Hantavírus Abdômen agudo (apendicite, colecistite, etc.) Não infecciosas: PTI PTT Doenças auto-imunes Doenças malignas (linfomas, p.ex.) Reações alérgicas SÍNDROME DENGUE DO CHOQUE SÍNDROME SÍNDROME SÍNDROME FEBRIL EXANTEMÁTICA HEMORRÁGICA • MALÁRIA • RUBÉOLA • MENINGOCOCCEMIA • IVAS • SARAMPO • SEPTICEMIA • ROTAVIROSE • ESCARLATINA • • INFLUENZA • FEBRE MACULOSA S. HENOCHSHONLEIN • HEPATITE VIRAL • MONONUCLEOSE • PTI • LEPTOSPIROSE • EXANTEMA SÚBITO • FEBRE MACULOSA • MENINGITE • ENTEROVIROSES • FEBRE AMARELA • OROPOUCHE • ALERGIAS • MALÁRIA GRAVE • MAYARO • LEPTOSPIROSE • HANTAVIROSE Exantema do eritema infeccioso Exantema da rubéola Exantema da mononucleose infecciosa Exantema do sarampo Exantema da febre maculosa Meningococcemia AUTOMATICAMENTE: Pesquisar sinais de alerta: CLÍNICOS Dor abdominal intensa e sustentada Vômitos incoercíveis Queda brusca e acentuada da temperatura Irritabilidade, sonolência ou ambas LABORATORIAIS Elevação do hematócrito ou queda das plaquetas PA em duas posições Prova do laço (ou sangramento espontâneo) Pedir hemograma 10.000 pessoas são infectadas 9.000 assintomáticos 1.000 com doença 500 síndrome viral 400 dengue clássica 100 formas graves 50 DCC 50 FHD 48 FHD até Grau III 2 SCD DEN GUE FEBRE DENGUE Com ou Sem Sangramentos FEBRE HEMORRÁGICA DENGUE Com ou Sem Choque (SCD) Dengue é uma doença só SUBCLÍNICA Febre Dengue clássico FHD 6 4 VIREMIA log/ml 2 41 40 39 38 37 TEMPERAT. ( C) Choque 20480 5100 IH Anticorpos 120 20 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 21 23 25 28 Dias AUTOMATICAMENTE: Pesquisar sinais de alerta: CLÍNICOS Dor abdominal intensa e sustentada Vômitos incoercíveis Queda brusca e acentuada da temperatura Irritabilidade, sonolência ou ambas LABORATORIAIS Elevação do hematócrito ou queda das plaquetas PA em duas posições Prova do laço (ou sangramento espontâneo) Pedir hemograma QUADRO CLINICO 0 - 48 horas: Febre Cefaleia Dor “atrás dos olhos” Dor em músculos e articulações Exantema (50%) Discreta dor abdominal Diarreia (infrequente) AO FINAL DO 2° DIA OU COMEÇO DO 3oDIA: Petéquias Epistaxe Gengivorragia Vômitos com algum sangramento Sangramento por punção venosa Hematúria Prova do laço positiva Dengue Dengue em criança Dengue em criança Dengue em criança Dengue Manifestações hemorrágicas Foto: corteria da Dra. S. Zagne, Niteroi, RJ, Brasil Dengue em criança ETAPA “CRÍTICA” (3o - 5o dia, crianças) (3o – 6o dia, adultos) Queda da febre Dor abdominal Derrame pleural Ascite Vômitos (mais frequentes) Elevação do hematócrito ETAPA “CRITICA” (3o – 5o. dia) Estreitamento da pressão de pulso Hipotensão Choque Hematêmese Hemorragia pulmonar CHOQUE RECORRENTE OU PROLONGADO (> 12 - 24 HORAS) DESCONFORTO RESPIRATÓRIO Rx Tórax: Edema pulmonar intersticial ETAPAS CLÍNICAS DA DENGUE HEMORRÁGICA ETAPA FEBRIL Manifestações Gerais Sangramentos menores SINAIS DE ALERTA ETAPA CRÍTICA CHOQUE HEMATÊMESE ETAPA DE RECUPERAÇÃO Com ou sem superinfecção bacteriana Derrame Pleural, ascite Pneumonia bacteriana Sangramento Alcalose Acidose AUTOMATICAMENTE: Pesquisar sinais de alerta: CLÍNICOS Dor abdominal intensa e sustentada Vômitos incoercíveis Queda brusca e acentuada da temperatura Irritabilidade, sonolência ou ambas LABORATORIAIS Elevação do hematócrito ou queda das plaquetas PA em duas posições Prova do laço (ou sangramento espontâneo) Pedir hemograma Para classificação de risco Para embasar a organização de serviço Para determinar a conduta a ser adotada com cada paciente Para determinar necessidade de internação Somente quatro perguntas para classificar o paciente: Apenas suspeita de dengue, sem mais nada: grupo A. Suspeita de dengue com sangramento induzido (prova do laço) ou espontâneo (petéquias, p.ex.): grupo B. Suspeita de dengue com sinais de alerta: grupo C. Suspeita de dengue com sinais de hipotensão: grupo D. Resultados de laboratório clínico: pode-se notar redução do número de leucócitos, com bastonetes, e também linfócitos atípicos. Esta leucopenia é mais frequente e intensa na febre por dengue e não é constante na FHD, podendo ser encontrados leucócitos em número normal ou elevado. SOMENTE QUATRO PERGUNTAS PARA CLASSIFICAR O DOENTE DURANTE A EPIDEMIA Tem Dengue ? Tem sangramento ? No AUTOMÁTICO: Perguntar ao paciente sobre sangramento gengival após escovar os dentes, sangue na urina ou nas fezes, sangramento nasal, aumento anormal do fluxo menstrual, vômitos ou escarro com sangue. Observar presença de petéquias ou hematomas no exame físico (não esquecendo conjuntivas e mucosa oral) NA AUSÊNCIA (E SOMENTE NA AUSÊNCIA) DE SANGRAMENTO ESPONTÂNEO, VERIFICAR SANGRAMENTO INDUZIDO PELA PROVA DO LAÇO SOMENTE QUATRO PERGUNTAS PARA CLASSIFICAR O DOENTE DURANTE A EPIDEMIA Tem Dengue ? Tem sangramento ? Apresenta sinais de alerta ? . Dor abdominal intensa e sustentada. . Vômitos muito frequentes e abundantes. . Queda brusca da temperatura, até hipotermia, com abatimento excessivo, às vezes lipotímia. . Irritabilidade, sonolência ou ambos. . Hematócrito com aumento progressivo. . Plaquetas em queda progressiva. Dor abdominal intensa e sustentada ou outro sinal de alerta significa o início da piora clínica do doente com dengue. É o momento para iniciar reidratação vigorosa IV e salvar a sua vida. A presença de sinais de alerta citada pela familia foi considerada importante e os sinais mais frequentes concordam com o descrito na epidemia cubana, com grande importância dada à ocorrência de dor abdominal e à baixa frequência de manifestações hemorrágicas. 0 PREVISIVEL E 0 PREVENIVEL: MORTES POR DENGUE NA EPIDEMIA CARIOCA AZEVEDO, M. B. ET AL REVISTA SAUDE EM FOCO/INFORME EPIDEMIOLOGICO EM SAUDE COLETIVA No 24 DEZEMBRO 2002 ISSN 1519-5600 O hematócrito começa normal e vai subindo à medida radiológicos de que os tórax estudos ou a ultrassonografia abdominal apresentam ascite ou derrame pleural direito ou bilateral. A máxima elevação hematócrito coincide com o choque. do Não existe diferença estatisticamente significativa quanto à incidência de sangramentos em pacientes com dengue e trombocitopenia em relação aos que não apresentam trombocitopenia. A trombocitopenia progressiva é melhor indicador para prever choque do que Plaquetas (mil x mm3) o as hemorragias Antes Choque Depois 500 contagens plaquetárias em 200 crianças com FHD/SCD O tratamento com soluções IV deve ser iniciado no local onde forem diagnosticados os sinais de alerta. Mesmo quando se opta pelo encaminhamento do paciente a um centro hospitalar com mais condições, não se deve perder tempo hidratação IV. para a administração de SOMENTE QUATRO PARA CLASSIFICAR DURANTE A EPIDEMIA PERGUNTAS O DOENTE Tem Dengue ? Tem sangramento ? Apresenta sinais de alerta ? Está em choque ? Todo paciente internado por dengue deve ser objeto de observação e anotar seus sinais vitais (PA, freqüência respiratória, freqüência cardíaca) assim como a presença de extremidades frias, cianose e outros sinais que expressem evolução desfavorável para choque. Isto deve ser repetido de hora em hora. A principal complicação do dengue grave é o quadro de choque, que ocorre por aumento da permeabilidade vascular, com extravasamento de plasma; em sua fase inicial pode ser revertido por uma agressiva administraçäo de líquidos, porém, uma vez instalado, raramente é reversível, principalmente entre os adultos. Não é rara a ocorrência de óbito por choque sem manifestações hemorrágicas e sem critérios para classificação do caso como Febre Hemorrágica do Dengue. 0 PREVISIVEL E 0 PREVENIVEL: MORTES POR DENGUE NA EPIDEMIA CARIOCA AZEVEDO, M. B. ET AL REVISTA SAUDE EM FOCO/INFORME EPIDEMIOLOGICO EM SAUDE COLETIVA No 24 DEZEMBRO 2002 ISSN 1519-5600 No. de pacientes 70 O choque se apresenta com uma 60 frequência 4 ou 5 vezes maior no 50 momento da queda da febre ou nas 40 primeiras 30 desaparecimento 20 durante a etapa febril. 24 horas desta 10 23,5% 76,5% 0 FEBRE SEM FEBRE do do que Entre os sinais de choque, o primeiro é o pinçamento da pressão de pulso, ou seja, a pressão arterial diferencial menor do que 20 mm Hg. Este dado clínico pode preceder os outros, como extremidades frias, retardo do enchimento capilar ou cianose. Posteriormente, o quadro clínico de choque será mais fácil de diagnosticar e a hipotensão arterial, taquicardia, taquisfigmia e taquipneia estarão evidentes, mas então se terá perdido um tempo precioso para o tratamento. SÍNDROME DE CHOQUE POR DENGUE -PRESSÃO ARTERIAL 160 140 120 PA 100 80 60 40 20 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Dias Sistólica Diastólica Durante o choque podem aparecer as hematêmese, grandes a hemorragia pulmonar ou outros maiores. sangramentos Na etapa inicial do choque, o médico deverá prescrever sem medo a quantidade necessária de líquidos para recuperar o equilíbrio hemodinâmico do paciente. As soluções cristalóides são as de escolha no tratamento de choque por DENGUE. A pergunta decisiva que o médico deve responder é quando iniciar o tratamento antichoque, mais importante do que a pergunta de como fazer isso. A quantidade de líquido será de 400 ml/m² de superfície corporal ou 20 ml/Kg de peso nos primeiros 20 minutos, podendo repetir até 3 vezes; às vezes não chega a receber toda esta quantidade, porque o paciente se recupera do choque inicial antes desse tempo, o que ocorre com frequência. A utilidade da transfusão de plaquetas não foi demonstrada. A tendência atual é a de utilizar cada vez menos essas transfusões. NÃO DEVE USADA PARA CORRIGIR NÚMERO DE PLAQUETAS SER O CRITÉRIOS DE INTERNAÇÃO (QUALQUER UM): - Manifestações hemorrágicas, independentemente do número de plaquetas. - Hemoconcentração. - Vômitos frequentes. - Sudorese profusa, lipotímia, hipotensão arterial, extremidades frias. - Dor abdominal intensa ou outro sinal de alerta. - Dor torácica, dificuldade respiratória, redução do murmúrio vesicular ou qualquer sinal que indique comprometimento ventilatório. - Cianose, que sempre indica gravidade. CRITÉRIOS DE ALTA (TODOS) 1. Ausência de febre durante 48 horas. 2. Melhora evidente do quadro clínico. 3. Hematócrito estável. 4. Período de três dias depois da recuperação do choque. 5. Número crescente de plaquetas, sempre superior a 50 000/mm³. 6. Ausência de desconforto respiratório secundário a derrame pleural ou ascite. Divisão de Zoonoses do CVE Dr. Eric Martinez Dr. Luiz Menegueti Coordenação de Dengue do MS Contatos: Divisão de Zoonoses: (11) 3066-8292 (Ana Angélica, Elisa e Ruth) Ruth: [email protected]