“Conceitualização é o refinamento e especificação de conceitos abstratos, e operacionalização é o desenvolvimento de procedimentos (operações) de pesquisa específicos que resultarão em observações empíricas que representam aqueles conceitos no mundo real” (BABBIE, 1991, p. 137). Grande parte dos objetos de pesquisa na área de ciências humanas, embora se relacionem com aspectos da realidade, não têm necessariamente uma existência concreta e real, não são objetos que se possam tocar ou ver. São oriundos de construções sociais abstratas, termos usados vagamente pelo senso comum sem uma definição precisa e estrita, como por exemplo: › Crenças › Doutrinas › Aprendizado › Ideologia Não conseguimos medi-los ou observálos diretamente, já que não têm uma existência concreta. Contudo, podemos observar a ocorrência de fatos reais relacionados com a nossa concepção desses termos. Ex: › Como medir preconceito? › Fita métrica? › Balança? › Não é possível medir preconceito diretamente. Mas podemos observar que, numa determinada categoria de trabalhadores, em média as mulheres recebem menos que os homens e que negros recebem menos que brancos. Nesse caso, estaríamos definindo preconceito no mercado de trabalho em termos de diferenciais salariais por grupos de trabalhadores. Basear o ofício de pesquisa em nossas concepções acerca de termos usados no cotidiano pode ser problemático. Cada indivíduo tem sua concepção subjetiva acerca do uso e do significado de termos – a comunicação cotidiana não obedece a uma lógica de exatidão, ela procura manter apenas um nível de entendimento mínimo entre os interlocutores. Planejar e executar um trabalho de pesquisa requer clareza no uso de termos. Por esse motivo, no processo de pesquisa uma etapa fundamental é a conceitualização. Essa é a etapa através da qual definimos precisamente o que nós queremos dizer ao usar determinados termos. A conceitualização compreende a definição nominal e a definição operacional de um termo. › A definição nominal é aquela atribuída pelo pesquisador › Ela não é necessariamente inclusiva e universal, não precisa abarcar todos os possíveis significados do termo. › Ela se presta somente a atender os objetivos de pesquisa e permitir que trabalhemos com o conceito. A definição operacional especifica exatamente como um conceito será mensurado, ou quais operações serão realizadas para mensurá-lo. › Mesmo que outros pesquisadores discordem com nossa conceitualização e operacionalização, a definição adotada será específica e não ambígua, permitindo que todos tenham uma boa idéia de como interpretar os resultados da pesquisa. O diagrama a seguir, proposto por Earl Babbie (1991, p.122) mostra a progressão das etapas de mensuração desde uma noção vaga do que um termo significa até à mensuração específica em um estudo científico: Conceitualização Definição Nominal Definição Operacional Mensurações no mundo real O resultado do processo de conceitualização é a especificação de um conjunto de indicadores que demonstrem a ocorrência ou a nãoocorrência do conceito que estamos estudando. No exemplo que demos sobre preconceito, os diferenciais salariais seriam um indicador de sua ocorrência no mercado de trabalho. Poderíamos observar também a proporção de mulheres e de negros em postos de direção de grandes empresas e tomar essas observações como outro indicador. Para analisar os resultados da pesquisa, podem-se combinar vários indicadores. Havendo definido as unidades de análise, observaríamos, por exemplo, a presença ou ausência de cada indicador para cada unidade pesquisada. Poderíamos então somar os indicadores de um mesmo conceito e comparar os resultados entre as unidades ou entre grupos de unidades. Ao refletir sobre um determinado conceito, na etapa de conceitualização, podemos concluir que ele possui vários aspectos que precisam ser considerados separadamente. Esses diferentes aspectos de um conceito são chamados de dimensões de abordagem. No exemplo do preconceito, além de preconceito no mercado de trabalho, poderíamos considerar dimensões como preconceito nas relações interpessoais, preconceito na política, preconceito de gênero, preconceito racial, etc. É importante deixar sempre claro exatamente quais dimensões de um conceito são de interesse da pesquisa. Caso contrário, corre-se o risco de medir algo que não era necessário ou de não medir algo necessário. No exemplo do preconceito, a falta de clareza a respeito das dimensões estudadas poderia levar o pesquisador a formular medidas de como as pessoas se sentem acerca do preconceito, quando, na verdade, o objetivo era saber se as pessoas crêem que ele existe.