A década de 60 Marcada por diversas transformações políticas, sociais, culturais, econômicas que mudariam para sempre o pensamento ocidental. Da revolução sexual desencadeada pela pílula anticoncepcional, passando pela guerra do Vietnã, as passeatas dos estudantes franceses, a chegada do homem a lua, o Concorde que viaja a uma velocidade superior a do som. Mudanças que demonstram o grande desenvolvimento que modernizava a sociedade. O Brasil vivia o auge da modernização. Brasília era a capital moderna e arrojada, a industrialização crescia, vivia-se o “milagre econômico” idealizado por Delfim Netto, ainda que tenha aumentado a desigualdade social. Na política instaurava-se o Golpe Militar que inicialmente foi apoiado por vários setores da sociedade civil, pela imprensa e pelos principais partidos políticos. Mas o paraíso dura pouco. A imprensa solicita o restabelecimento da democracia e diante do corte de orçamento para a educação e a falta de vagas no ensino público iniciam-se as passeatas e os choques entre os estudantes e o poder. Em 1968, por fim, é decretado o AI-5. Ato que dissolveu o Congresso Nacional, instituiu a censura absoluta e acabou com a liberdade individual. CONTRACULTURA • Ideia de contestação dos valores centrais da sociedade – questionamento dos costumes. • Antagonismo à realidade conservadora. • Crítica às ideias e hábitos das classes dominantes. • literalmente CONTRA a cultura dominante e conservadora. • Estava nas margens/periferia da cultura dominante e legítima • Pra entender o movimento da contracultura, precisamos entender a sociedade. • Guerra do Vietnã – paz e amor • Patriotismo? Política? Regras? > tudo isso era questionado e “ignorado” pela contracultura. • na Guerra do Vietnã, não havia um sentimento de honra em servir as forças armadas como havia na Segunda Guerra Mundial. Auto-exclusão/negação a se adaptar às visões aceitas pela sociedade vigente. Liberdade – proximidade à natureza “Sem Destino”(1969) – Dennis Hooper Drogas • Prática máxima da ideia de provocar a elite conservadora. • LSD – símbolo da busca pelo prazer intenso – sensações diferentes das oferecidas pelo mundo – fuga de uma rotina medíocre. Woodstock • O Woodstock foi o símbolo da contracultura e também o oposto do conservadorismo, violência e da rotina rígida americana. • Principal objetivo: protestar contra a Guerra do Vietnã. X Aparência Essência Contracultura no Brasil • Tropicalismo • Contra o imperialismo americano • Mistura de estilos musicais brasileiros e estrangeiros. • Havia nitidamente duas posições, ou se aderia ao tropicalismo (questionamento e busca incessante do prazer) ou à jovem guarda (alienação e comodidade). • A ditadura militar evidentemente era fundamental na formação cultural da juventude na época. Contracultura no Brasil “meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder” “Ideologia, eu quero uma pra viver!!” Contracultura no Brasil Viva a sociedade alternativa!!! Faça o que tu queres pois é tudo da lei A obra Tropicália, de Hélio Oiticica, que inspirou o nome da música de Caetano Veloso “O monumento é de papel crepom e prata Os olhos verdes da mulata A cabeleira esconde atrás da verde mata o luar do sertão O monumento não tem porta, entrada é uma rua antiga estreita e torta” O contexto brasileiro Pós-64 O golpe militar de 64: um “balde de água fria” na vanguarda Crise na esquerda O movimento estudantil na luta contra a ditadura Produção artística “entre pares” Artistas de mãos dadas em passeata "Contra a censura pela Cultura". Da esquerda para a direita: Tônia Carrero, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Benghe e Cacilda Becker 1968 – Ato Institucional nº5: o “segundo golpe” A televisão e a integração nacional A “Censura seletiva” e o investimento estatal na indústria cultural Estudantes protestam conta a ditadura militar Cid Moreira apresentando o Jornal Nacional Capa do disco do show “Opinião”, com Zé Keti, Nara Leão e João do Vale “a ideia era criar uma situação em que imagens tropicais, nostálgicas e lúdicas convivessem com o futuro planejado, industrial e tecnológico representado pela TV”. O Tropicalismo foi um movimento de ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira entre 1967 e 1968. Seus participantes formaram um grande coletivo, cujos destaques foram os cantores-compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, além das participações da cantora Gal Costa e do cantor-compositor Tom Zé, da banda Mutantes, e do maestro Rogério Duprat. A cantora Nara Leão e os letristas José Carlos Capinan e Torquato Neto completaram o grupo, que teve também o artista gráfico, compositor e poeta Rogério Duarte como um de seus principais mentores intelectuais. Os tropicalistas deram um histórico passo à frente no meio musical brasileiro. A música brasileira pós-Bossa Nova e a definição da “qualidade musical” no País estavam cada vez mais dominadas pelas posições tradicionais ou nacionalistas de movimentos ligados à esquerda. Contra essas tendências, o grupo baiano e seus colaboradores procuram universalizar a linguagem da MPB, incorporando elementos da cultura jovem mundial, como o rock, a psicodelia e a guitarra elétrica. Ao mesmo tempo, sintonizaram a eletricidade com as informações da vanguarda erudita por meio dos inovadores arranjos Ao unir o popular, o pop e o experimentalismo estético, as ideias tropicalistas acabaram impulsionando a modernização não só da música, mas da própria cultura nacional. Os diálogos com obras literárias como as de Oswald de Andrade ou dos poetas concretistas elevaram algumas composições tropicalistas ao status de poesia. Suas canções compunham um quadro crítico e complexo do País – uma conjunção do Brasil arcaico e suas tradições, do Brasil moderno e sua cultura de massa e até de um Brasil futurista, com astronautas e discos voadores. Elas sofisticaram o repertório de nossa música popular, instaurando em discos comerciais procedimentos e questões até então associados apenas ao campo das vanguardas conceituais. Sincrético e inovador, aberto e incorporador, o Tropicalismo misturou rock mais bossa nova, mais samba, mais rumba, mais bolero, mais baião. Sua atuação quebrou as rígidas barreiras que permaneciam no País. Pop x folclore. Alta cultura x cultura de massas. Tradição x vanguarda. Essa ruptura estratégica aprofundou o contato com formas populares ao mesmo tempo em que assumiu atitudes experimentais para a época. A eclosão do movimento deu-se com as ruidosas apresentações, em arranjos eletrificados, da marcha “Alegria, alegria”, de Caetano, e da cantiga de capoeira “Domingo no parque”, de Gilberto Gil, no III Festival de MPB da TV Record, em 1967. Irreverente, a Tropicália transformou os critérios de gosto vigentes, não só quanto à música e à política, mas também à moral e ao comportamento, ao corpo, ao sexo e ao vestuário. A contracultura hippie foi assimilada, com a adoção da moda dos cabelos longos encaracolados e das roupas escandalosamente coloridas. O movimento, libertário por excelência, durou pouco mais de um ano e acabou reprimido pelo governo militar. Seu fim começou com a prisão de Gil e Caetano, em dezembro de 1968. A cultura do País, porém, já estava marcada para sempre pela descoberta da modernidade e dos trópicos. TROPICÁLIA Caetano Veloso Quando Pero Vaz Caminha Descobriu que as terras brasileiras Eram férteis e verdejantes, Escreveu uma carta ao rei: Tudo que nela se planta, Tudo cresce e floresce. E o Gauss da época gravou". Sobre a cabeça os aviões Sob os meus pés os caminhões Aponta contra os chapadões Meu nariz Eu organizo o movimento Eu oriento o carnaval Eu inauguro o monumento No planalto central do país Viva a Bossa, sa, sa Viva a Palhoça, ça, ça, ça, ça Viva a Bossa, sa, sa Viva a Palhoça, ça, ça, ça, ça O monumento É de papel crepom e prata Os olhos verdes da mulata A cabeleira esconde Atrás da verde mata O luar do sertão O monumento não tem porta A entrada é uma rua antiga Estreita e torta E no joelho uma criança Sorridente, feia e morta Estende a mão Viva a mata, ta, ta Viva a mulata, ta, ta, ta, ta Viva a mata, ta, ta Viva a mulata, ta, ta, ta, ta No pátio interno há uma piscina Com água azul de Amaralina Coqueiro, brisa e fala nordestina E faróis Na mão direita tem uma roseira Autenticando eterna primavera E no jardim os urubus passeiam A tarde inteira entre os girassóis Viva Maria, ia, ia Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia Viva Maria, ia, ia Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia No pulso esquerdo o bang-bang Em suas veias corre Muito pouco sangue Mas seu coração Balança um samba de tamborim Emite acordes dissonantes Pelos cinco mil alto-falantes Senhoras e senhores Ele põe os olhos grandes Sobre mim Viva Iracema, ma, ma Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma Viva Iracema, ma, ma Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma Domingo é o fino-da-bossa Segunda-feira está na fossa Terça-feira vai à roça Porém... ANÁLISE DE ALGUNS FRAGMENTOS DA MÚSICA TROPICÁLIA Sobre a cabeça os aviões Sob os meus pés os caminhões Aponta contra os chapadões Meu nariz Modernização – arcaísmo Sujeito autor: dono de suas atitudes. Metáfora da sociedade brasileira, pisada, humilhada. Eu organizo o movimento Eu oriento o carnaval Eu inauguro o monumento No planalto central do país Crítica à política brasileira. Brasília é uma festa anárquica Viva a Bossa, sa, sa Viva a Palhoça, ça, ça, ça, ça Viva a Bossa, sa, sa Viva a Palhoça, ça, ça, ça, ça Associação fonética entre “palhoça” e “palhaço” – povo brasileiro feito de bobo. Palhoça disfarça a crítica e remete à gargalhada irônica de quem está por cima. Palhoça – o Brasil ainda rural O monumento não tem porta A entrada é uma rua antiga Estreita e torta E no joelho uma criança Sorridente, feia e morta Estende a mão O Nordeste brasileiro. No pátio interno há uma piscina Com água azul de Amaralina Coqueiro, brisa e fala nordestina E faróis Na mão direita tem uma roseira Autenticando eterna primavera E no jardim os urubus passeiam A tarde inteira entre os girassóis Crítica ao governo federal. Praça dos três poderes. Onde há uma piscina, mas não se pode tomar banho “urubus” políticos Viva Maria, ia, ia Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia Viva Maria, ia, ia Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia Maria e Bahia – povo sofrido. Jogo sonoro – grito de dor AI – por oposição Domingo é o fino-da-bossa Segunda-feira está na fossa Terça-feira vai à roça Porém... Metáforas do povo: alegrias e tristezas – o trabalhador. Monumento – metáfora do poder/ do governo. Intertextos (Roberto Carlos, O monumento é bem moderno Não disse nada do modelo Ronnie Von, Carmem Do meu terno Miranda) – não está Que tudo mais vá pro inferno sozinho na luta contra a Meu bem opressão. (...) Pode-se gritar e clamar por Viva a banda, da, da Carmem Miranda, da, da, da, da justiça – jogo sonoro final. Viva a banda, da, da Carmem Miranda, da, da, da, da Em 60 Hoje Conflito ideológico polarizado entre “capitalismo” e “socialismo” Referências híbridas: não predominância de um único modelo cultural hegemônico Forte mobilização política e social Desencantamento com as instituições representativas (movimento estudantil, Estado, sindicalismos) “Inimigo” definido em lutas específicas regionais e difícil articulação entre as iniciativas locais (ex: países da América Latina na luta contra a ditadura) Busca por uma identidade nacional através da cultura Falta de liberdade de expressão em função da censura exercida pelo regime Iniciativas da população civil articulada em redes com um objetivo comum supranacional (ex: luta contra o aquecimento global) Produção individual de subjetividades como garantia de preservação da identidade coletiva, frente a multiplicidade cultural Busca de uma função social da arte e do posicionamento político do artista Meios de comunicação de massa monopolizados em função da “livre concorrência” neoliberal Antropofagia (assimilação das referências externas) Uso de NTCI em função da democratização da comunicação e do direito à significação Hibridismo (coexistência de diversas referências)