A ECONOMIA DO PAU-BRASIL
*Corante roxo-avermelhado usado na tapeçaria e
tecelagem européia
Profa. Valeria da Vinha
Instituto de Economia / UFRJ
Movimento Pau-Brasil
“O primitivismo que na França aparecia como
exotismo era para nós, no Brasil,
primitivismo mesmo. Pensei, então, em
fazer uma poesia de exportação e não de
importação, baseada em nossa ambiência
geográfica, histórica e social. Como o paubrasil foi a primeira riqueza brasileira
exportada, denominei o movimento de PauBrasil.” Oswald de Andrade
Poesia Pau-Brasil
A poesia existe nos fatos
A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério
A Poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança
A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica
A síntese.
O equilíbrio.
A invenção.
Qualquer esforço natural nesse sentido será bom. Poesia Pau-Brasil.
Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos
livres.
Temos a base dupla e presente – a floresta e a escola. (...) Um misto de “dorme
nenê que o bicho vem pegá” e de equações.
Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas elétricas, nas
usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder de vista o Museu
Nacional. Pau-Brasil.
Oswald de Andrade. “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” (fragmentos) In: Gilberto Mendonça Teles. Vanguarda Européia e
Modernismo Brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1973, pp. 203-208.
O
Território
Brasileiro
Há 80 milhões de anos predominava na Terra o clima típico dos trópicos, e a
vegetação no Brasil já existia.
O meio ambiente sofreu alterações pela ocorrência de cataclismas geológicos e
períodos de frio intenso (períodos glaciais) causando modificações na
topografia e no clima da biosfera terrestre.
Com o resfriamento dos pólos, a vegetação, que era adaptada a um clima quente
e úmido, passou a ocupar apenas uma estreita faixa da Terra, a região
tropical situada entre os trópicos de Câncer e Capricórnio.
A presença de luz, calor e umidade o ano inteiro fez com que o Brasil possuísse
ecossistemas únicos como a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica, que se
mantiveram originais até a chegada dos portugueses.
Compreendendo uma área de aproximadamente 5,2 milhões de quilômetros
quadrados, o País era ocupado apenas pelos índios.
Mata Atlântica
É considerada um dos maiores repositórios de biodiversidade do
planeta e também um dos mais ameaçados.
Nos últimos 500 anos, a floresta foi reduzida de 1,3 milhão de km2
para 91 mil km2 (menos de 8% da sua extensão original), em
áreas dispersas e fragmentadas.
A Mata Atlântica é um mosaico de vegetação, ostenta os dois
maiores recordes mundiais de diversidade de árvores: 454
espécies em um único hectare do sul da Bahia e 476 espécies em
1 hectare na região serrana do Espírito Santo.
Possui cerca de 20.000 espécies vegetais, metade das quais são
endêmicas. Mais de 2/3 dos primatas são espécies endêmicas e
ameaçadas de extinção.
Arabutan
"Devo começar pela descrição de uma das árvores
mais notáveis e apreciadas entre nós por causa da
tinta que dela se extrai: o pau-brasil, que deu nome
a essa região. Esta árvore, a que os selvagens
chamam de arabutan, engalha como o carvalho de
nossas florestas, e algumas há tão grossas, que três
homens não bastam para abraçar-lhes o tronco".
Jean de Lery, descrevendo a exuberância do Pau-Brasil
Os índios e o Pau-Brasil
Em 1500, Pero Vaz Caminha descreveu assim o Pau-Brasil:
"mataria [mato] que é tanta, e tão grande, tão densa
e de tão variada folhagem, que ninguém pode
imaginar".
Os índios utilizavam a madeira para a confecção de arcos,
flechas, e a seiva para pintura de enfeites. A técnica foi
ensinada aos portugueses pelos índios, encarregados de
cortar, aparar e arrastar as árvores até o litoral, onde
carregavam os navios a serem enviados para a Europa.
Origem do nome Brasil
Com a intensa exploração em pouco tempo
Pindorama (denominação tupi que significa Terra
das Palmeiras), oscilou entre os nomes oficiais
Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Terra
do Brasil e logo em seguida apenas por Brasil
Nome científico do Pau-brasil: Brasileína (composto
químico com propriedades corantes e que é responsável
por sua pigmentação vermelha)
O “ciclo” do Pau-Brasil
1530 – início da extração intensiva que durou 30 anos. Foram
exploradas, em média, 300 toneladas de madeira por ano.
A madeira era enviada para Portugal e de lá ia para Antuérpia,
na Bélgica, de onde seguia para os principais consumidores
(Inglaterra, Alemanha e Itália).
A exploração era monopólio da Coroa portuguesa. Os donos
das capitanias não podiam explorar e comercializar, nem
impedir que representantes da Coroa o fizessem.
O monopólio teve existência curta: a França, Inglaterra,
Holanda e Espanha passaram a participar das atividades
extrativistas ajudados pelos índios (em troca de
quinquilharias) e com a descoberta do corante artificial que o
substituiu, a cobiça sobre a árvore desapareceu.
Leis de “Proteção”
1542 - devido à dificuldade de controlar o contrabando, a
Coroa criou a 1ª Carta-Régia estabelecendo normas para o
corte e punição ao desperdício de madeira.
1605 - Regimento fixa a exploração em 600 toneladas por
ano, visando limitar a oferta de madeira na Europa e,
assim, manter os preços elevados
Muitas outras proibições surgiram sem resultado, entre elas a
Carta de Lei de outubro de 1827, onde poderes foram
delegados aos juizes de paz das províncias na fiscalização
das matas e na interdição de corte das madeiras de
construção em geral. Surge, então o termo popular
madeiras de lei
Função histórica do desmatamento
“O algodão [nativo] e as especiarias só figuravam nos
carregamentos a título de curiosidade, mas o mesmo não se
pode dizer quanto às madeiras preciosas, principalmente as
de tinturarias, que formavam o carregamento essencial de
nossos navios” (Jean de Lery)
O Pau-Brasil sofreu o mais intenso processo de exploração
contínua da história do Brasil
Foram 375 anos de exploração. Restou a quase extinção da
espécie com capoeiras de florestas secundárias e terras que
passaram a ser utilizadas na plantação da cana do açúcar.
Contudo, sem o extermínio do Pau-Brasil não seria possível
plantar a cana. São etapas do mesmo processo
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Aula Pau-Brasil - Instituto de Economia da UFRJ