ETEL – ESCOLA DE TEOLOGIA PARA
LEIGOS
TEIXEIRA DE FREITAS - BA
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Do livro de Marilena Chaui
Convite à Filosofia
PE. ODESIO COSTA
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Introdução
Para que Filosofia?
As evidências do cotidiano
• Em nossa vida cotidiana, afirmamos, negamos, desejamos,
aceitamos ou recusamos coisas, pessoas, situações.
Fazemos perguntas como “que horas são?”,
ou “que dia
é hoje?”. Dizemos frases como “ele está sonhando ”, ou “ela
ficou maluca”. Fazemos afirmações como “onde há fumaça,
há fogo ”, ou “não saia na chuva para não se resfriar”.
Avaliamos coisas e pessoas, dizendo, por exemplo,
“esta
casa é mais bonita do que a outra” e “Maria está mais
jovem do que Glorinha”.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Quando fazemos tais perguntas acreditamos que
o tempo existe, que ele passa, pode ser medido
em horas e dias, que o que já passou é diferente
de agora e o que virá também há de ser diferente
deste momento, que o passado pode ser
lembrado ou esquecido, e o futuro, desejado ou
temido. Assim, uma simples pergunta contém,
silenciosamente, várias crenças não questionadas
por nós.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Quando digo “ele está sonhando ”, referindome a alguém que diz ou pensa alguma coisa
que julgo impossível ou improvável, tenho
igualmente muitas crenças
silenciosas:
acredito que sonhar é diferente de estar
acordado, que, no sonho, o impossível e o
improvável se apresentam como possível e
provável, e também que o sonho se relaciona
com o irreal, enquanto a vigília se relaciona
com o que existe realmente.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Acredito, portanto, que a realidade existe fora
de mim, posso percebê-la e conhecê-la tal
como é, sei diferenciar realidade de ilusão.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A frase “ela ficou maluca” contém essas mesmas
crenças e mais uma: a de que sabemos
diferenciar razão de loucura e maluca é a pessoa
que inventa uma realidade existente só para ela.
Assim, ao acreditar que sei distinguir razão de
loucura, acredito também que a razão se refere a
uma realidade que é a mesma para todos, ainda
que não gostemos das mesmas coisas.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Quando alguém diz “onde há fumaça, há fogo” ou
“não saia na chuva para não se resfriar”, afirma
silenciosamente muitas crenças: acredita que
existem relações de causa e efeito entre as coisas,
que onde houver uma coisa certamente houve uma
causa para ela, ou que essa coisa é causa de alguma
outra (o fogo causa a fumaça como efeito, a chuva
causa o resfriado como efeito). Acreditamos, assim,
que a realidade é feita de causalidades, que as
coisas, os fatos, as situações se encadeiam em
relações causais que podemos conhecer e, até
mesmo, controlar para o uso de nossa vida.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Quando avaliamos que uma casa é mais
bonita do que a outra, ou que Maria está mais
jovem do que Glorinha, acreditamos que as
coisas, as pessoas, as situações, os fatos
podem ser comparados e avaliados, julgados
pela qualidade (bonito, feio, bom, ruim) ou
pela quantidade (mais, menos, maior, menor).
Julgamos, assim, que a qualidade e a
quantidade existem, que podemos conhecêlas e usá-las em nossa vida.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Achando óbvio que todos os seres humanos
seguem regras e normas de conduta, possuem
valores morais, religiosos, políticos, artísticos,
vivem na companhia de seus semelhantes e
procuram distanciar-se dos diferentes dos quais
discordam e com os quais entram em conflito,
acreditamos que somos seres sociais, morais e
racionais, pois regras, normas, valores,
finalidades só podem ser estabelecidos por seres
conscientes e dotados de raciocínio.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Como se pode notar, nossa vida cotidiana é toda
feita de crenças silenciosas, da aceitação tácita de
evidências que nunca questionamos porque nos
parecem naturais, óbvias. Cremos no espaço, no
tempo, na realidade, na qualidade, na
quantidade, na verdade, na diferença entre
realidade e sonho ou loucura, entre verdade e
mentira; cremos também na objetividade e na
diferença entre ela e a subjetividade, na
existência da vontade, da liberdade, do bem e do
mal, da moral, da sociedade.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A atitude filosófica
• Imaginemos, agora, alguém que tomasse uma
decisão muito estranha e começasse a fazer
perguntas inesperadas. Em vez de “que horas
são?” ou “que dia é hoje?”, perguntasse: O
que é o tempo? Em vez de dizer “está
sonhando” ou “ficou maluca”, quisesse saber:
O que é o sonho? A loucura? A razão?
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Se
essa
pessoa
fosse
substituindo
sucessivamente
suas
perguntas,
suas
afirmações por outras: “Onde há fumaça, há
fogo”, ou “não saia na chuva para não ficar
resfriado”, por: O que é causa? O que é
efeito?; “seja objetivo ”, ou “eles são muito
subjetivos”, por: O que é a objetividade? O que
é a subjetividade?; “Esta casa é mais bonita do
que a outra”, por: O que é “mais”? O que é
“menos”? O que é o belo?
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Alguém que tomasse essa decisão, estaria
tomando distância da vida cotidiana e de si
mesmo, teria passado a indagar o que são as
crenças e os sentimentos que alimentam,
silenciosamente, nossa existência.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Ao tomar essa distância, estaria interrogando
a si mesmo, desejando conhecer por que
cremos no que cremos, por que sentimos o
que sentimos e o que são nossas crenças e
nossos sentimentos. Esse alguém estaria
começando a adotar o que chamamos de
atitude filosófica.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Assim, uma primeira resposta à pergunta “O que
é Filosofia?” poderia ser: A decisão de não aceitar
como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os
fatos, as situações,
os
valores,
os
comportamentos de nossa existência cotidiana;
jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e
compreendido.
• Perguntaram, certa vez, a um filósofo: “Para que
Filosofia?”. E ele respondeu: “Para não darmos
nossa aceitação imediata às coisas, sem maiores
considerações”.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A atitude crítica
• A primeira característica da atitude
filosófica é negativa, isto é, um dizer não
ao senso comum, aos pré-conceitos, aos
pré-juízos, aos fatos e às idéias da
experiência cotidiana, ao que “todo mundo
diz e pensa”, ao estabelecido.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A segunda característica da atitude filosófica é
positiva, isto é, uma interrogação sobre o que
são as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os
comportamentos, os valores, nós mesmos. É
também uma interrogação sobre o porquê disso
tudo e de nós, e uma interrogação sobre como
tudo isso é assim e não de outra maneira. O que
é? Por que é? Como é? Essas são as indagações
fundamentais da atitude
filosófica.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos
preconceitos do senso comum e, portanto, começa
dizendo que não sabemos o que imaginávamos saber;
por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates,
afirmava que a primeira e fundamental verdade
filosófica é dizer: “Sei que nada sei”.
• Para o discípulo de
Sócrates, o filósofo grego
Platão, a Filosofia começa com a admiração; já o
discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles, acreditava
que a Filosofia começa com o espanto.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Admiração e espanto significam: tomamos distância do
nosso mundo costumeiro, através de nosso
pensamento, olhando-o como se nunca o tivéssemos
visto antes, como se não tivéssemos tido família,
amigos, professores, livros e outros meios de
comunicação que nos tivessem dito o que o mundo é;
como se estivéssemos acabando de nascer para o
mundo e para nós mesmos e precisássemos perguntar
o que é, por que é e como é o mundo, e precisássemos
perguntar também o que somos, por que somos e
como somos.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Para que Filosofia?
• Em geral, essa pergunta costuma receber uma resposta
irônica, conhecida dos estudantes de Filosofia: “A
Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o
mundo permanece tal e qual”. Ou seja, a Filosofia não
serve para nada. Por isso, se costuma chamar de
“filósofo” alguém sempre distraído, com a cabeça no
mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém
entende e que são perfeitamente inúteis.
• Essa pergunta, “Para que Filosofia?”, tem a sua razão
de ser.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Em nossa cultura e em nossa sociedade,
costumamos considerar que alguma coisa só
tem o direito de existir se tiver alguma
finalidade prática, muito visível e de utilidade
imediata.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A reflexão filosófica
Reflexão significa movimento de volta sobre
si mesmo ou movimento de retorno a si
mesmo. A reflexão é o movimento pelo qual o
pensamento volta-se para si mesmo,
interrogando a si mesmo.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A reflexão filosófica é radical porque é um
movimento de volta do pensamento
• sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo,
para indagar como é possível o próprio
pensamento.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Não somos, porém, somente seres pensantes.
Somos também seres que agem no mundo,
que se relacionam com os outros seres
humanos, com os animais, as plantas, as
coisas, os fatos e acontecimentos, e
exprimimos essas relações tanto por meio da
linguagem quanto por meio de gestos e ações.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A reflexão filosófica também se volta para
essas relações que mantemos com a realidade
circundante, para o que dizemos e para as
ações que realizamos nessas relações.
• A reflexão filosófica organiza-se em torno de
três grandes conjuntos de perguntas ou
questões:
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• 1. Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que
dizemos e fazemos o que fazemos? Isto é, quais os motivos,
as razões e as causas para pensarmos o que pensamos,
dizermos o que dizemos, fazermos o que fazemos?
2. O que queremos pensar quando pensamos, o que
queremos dizer quando falamos, o que queremos fazer
quando agimos? Isto é, qual é o conteúdo ou o sentido do
que pensamos, dizemos ou fazemos?
3. Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que
dizemos, fazemos o que fazemos? Isto é, qual é a intenção
ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos?
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Como vimos, a atitude filosófica inicia-se
indagando: O que é? Como é? Por que é?,
dirigindo-se ao mundo que nos rodeia e aos
seres humanos que nele vivem e com ele se
relacionam. São perguntas sobre a essência, a
significação ou a estrutura e a origem de
todas as coisas.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Já a reflexão filosófica indaga: Por quê?, O
quê?, Para quê?, dirigindo-se ao pensamento,
aos seres humanos no ato da reflexão. São
perguntas sobre a capacidade e a finalidade
humanas para conhecer e agir.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A origem da Filosofia
• A palavra filosofia
• A palavra filosofia é grega. É composta por duas
outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que
significa amizade, amor fraterno, respeito entre os
iguais.
• Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra
sophos, sábio.
• Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria,
amor e respeito pelo saber.
• Filósofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo
saber, deseja saber.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• O legado da Filosofia grega para o Ocidente europeu
• Desse legado, podemos destacar como principais
contribuições as seguintes:
• A idéia de que a Natureza opera obedecendo a leis e
princípios necessários e universais, isto é, os mesmos
em toda a parte e em todos os tempos. Assim, por
• exemplo, graças aos gregos, no século XVII da nossa
era, o filósofo inglês Isaac Newton estabeleceu a lei da
gravitação universal de todos os corpos da Natureza.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A lei da gravitação afirma que todo corpo, quando
sofre a ação de um outro, produz uma reação igual e
contrária, que pode ser calculada usando como
• elementos do cálculo a massa do corpo afetado, a
velocidade e o tempo com que a ação e a reação se
deram.
• Essa lei é necessária, isto é, nenhum corpo do
Universo escapa dela e pode funcionar de outra
maneira que não desta; e esta lei é universal , isto é,
válida para todos os corpos em todos os tempos e
lugares.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• É verdade que é por uma lei necessária da Natureza que os
corpos pesados caem, mas é por uma deliberação humana
e por uma escolha voluntária que fabrico uma bomba, a
coloco num avião e a faço despencar sobre Hiroshima.
• Um dos legados mais importantes da Filosofia grega é,
portanto, essa diferença entre o necessário e o
contingente, pois ela nos permite evitar o fatalismo - “tudo
é necessário, temos que nos conformar e nos resignar ” -,
mas também evitar a ilusão de que podemos tudo quanto
quisermos, se alguma força extranatural ou sobrenatural
nos ajudar, pois a Natureza segue leis necessárias que
podemos conhecer e nem tudo é possível por mais que o
queiramos.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A idéia de que os seres humanos, por
Natureza,
aspiram
ao
conhecimento
verdadeiro, à felicidade, à justiça, isto é, que
os seres humanos não vivem nem agem
cegamente, mas criam valores pelo quais dão
sentido às suas vidas e às suas ações.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A Filosofia surge, portanto, quando alguns
gregos, admirados e espantados com a realidade,
insatisfeitos com as explicações que a tradição
lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar
respostas para elas, demonstrando que o mundo
e os seres humanos, os acontecimentos e as
coisas da Natureza, os acontecimentos e as ações
humanas podem ser conhecidos pela razão
humana, e que a própria razão é capaz de
conhecer-se a si mesma.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Em suma, a Filosofia surge quando se descobriu que a
verdade do mundo e dos humanos não era algo
secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por
divindades a alguns escolhidos, mas que, ao contrário,
podia ser conhecida por todos, através da razão, que é
a mesma em todos; quando se descobriu que tal
conhecimento depende do uso correto da razão ou do
pensamento e que, além da verdade poder ser
conhecida por todos, podia, pelo mesmo motivo, ser
ensinada ou transmitida a todos.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Mito e Filosofia
• O que é um mito?
• Um mito é uma narrativa sobre a origem de
alguma coisa (origem dos astros, da Terra, dos
homens, das plantas, dos animais, do fogo, da
água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde
e da doença, da morte, dos instrumentos de
trabalho, das raças, das guerras, do poder,
etc.).
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois
verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma
coisa para outros) e do verbo mytheo (conversar,
contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos,
mito é um discurso pronunciado ou proferido para
ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa,
porque confiam naquele que narra; é uma narrativa
feita em público, baseada, portanto, na autoridade e
confiabilidade da pessoa do narrador. E essa
autoridade vem do fato de que ele ou testemunhou
diretamente o que está narrando ou recebeu a
narrativa de quem testemunhou os acontecimentos
narrados.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Como o mito narra a origem do mundo e de
tudo o que nele existe?
De três maneiras principais:
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• 1. Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres, isto é,
tudo o que existe
• decorre de relações sexuais entre forças divinas pessoais.
Essas relações geram os demais deuses: os titãs (seres
semi-humanos e semidivinos), os heróis (filhos de um deus
com uma humana ou de uma deusa com um humano), os
humanos, os metais, as plantas, os animais, as qualidades,
como quente-frio, seco-úmido, claro-escuro, bom-mau,
justo-injusto, belo-feio, certo-errado, etc.
• A narração da origem é, assim, uma genealogia, isto é,
narrativa da geração dos seres, das coisas, das qualidades,
por outros seres, que são seus pais ou antepassados.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Tomemos um exemplo da narrativa mítica.
• Observando que as pessoas apaixonadas
estão sempre cheias de ansiedade e de
plenitude, inventam mil expedientes para
estar com a pessoa amada ou para seduzi-la e
também serem amadas, o mito narra a origem
do amor, isto é, o nascimento do deus Eros
(que conhecemos mais com o nome de
Cupido):
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Houve uma grande festa entre os deuses. Todos foram
convidados, menos a deusa Penúria, sempre miserável
e faminta. Quando a festa acabou, Penúria veio, comeu
os restos e dormiu com o deus Poros (o astuto
engenhoso). Dessa relação sexual, nasceu Eros (ou
Cupido), que, como sua mãe, está sempre faminto,
sedento e miserável, mas, como seu pai, tem mil
astúcias para se satisfazer e se fazer amado. Por isso,
quando Eros fere alguém com sua flecha, esse alguém
se apaixona e logo se sente faminto e sedento de amor,
inventa astúcias para ser amado e satisfeito, ficando
ora maltrapilho e semimorto, ora rico e cheio de vida.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• 2. Encontrando uma rivalidade ou uma aliança
entre os deuses que faz surgir
• O poeta Homero, na Ilíada, que narra a guerra de
Tróia, explica por que, em certas batalhas, os
troianos eram vitoriosos e, em outras, a vitória
cabia aos gregos. Os deuses estavam divididos,
alguns a favor de um lado e outros a favor do
outro. A cada vez, o rei dos deuses, Zeus, ficava
com um dos partidos.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A causa da guerra, aliás, foi uma rivalidade
entre as deusas. Elas apareceram em sonho
para o príncipe troiano Paris, oferecendo a ele
seus dons e ele escolheu a deusa do amor,
Afrodite. As outras deusas, enciumadas, o
fizeram raptar a grega Helena, mulher do
general grego Menelau, e isso deu início à
guerra entre os humanos.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• 3. Encontrando as recompensas ou castigos que os
deuses dão a quem os desobedece ou a quem os
obedece.
Como o mito narra, por exemplo, o uso do fogo pelos
homens? Para os homens, o fogo é essencial, pois com
ele se diferenciam dos animais, porque tanto passam
a cozinhar os alimentos, a iluminar caminhos na noite,
a se aquecer no inverno quanto podem fabricar
instrumentos de metal para o trabalho e para a guerra.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Um titã, Prometeu, mais amigo dos homens
do que dos deuses, roubou uma centelha de
fogo e a trouxe de presente para os humanos.
Prometeu foi castigado (amarrado num
rochedo para que as aves de rapina,
eternamente, devorassem seu fígado) e os
homens também. Qual foi o castigo dos
homens?
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Os deuses fizeram uma mulher encantadora,
Pandora, a quem foi entregue uma caixa que
conteria coisas maravilhosas, mas nunca
deveria ser aberta. Pandora foi enviada aos
humanos e, cheia de curiosidade e querendo
dar a eles as maravilhas, abriu a caixa. Dela
saíram todas as desgraças, doenças, pestes,
guerras e, sobretudo, a morte. Explica-se,
assim, a origem dos males no mundo.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Principais períodos da história da Filosofia
Filosofia antiga (do século VI a.C. ao século VI
d.C.)
• Compreende os quatro grandes períodos da
Filosofia greco-romana, indo dos présocráticos
aos grandes sistemas do período helenístico.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Filosofia patrística (do século I ao século VII)
• Inicia-se com as Epístolas de São Paulo e o Evangelho de
São João e termina no século VIII, quando teve início a
Filosofia medieval.
• A patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos
intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros Padres da
Igreja para conciliar a nova religião – o Cristianismo - com o
pensamento filosófico dos gregos e romanos, pois somente
com tal conciliação seria possível convencer os pagãos da
nova verdade e convertê-los a ela. A Filosofia patrística ligase, portanto, à tarefa religiosa da evangelização e à defesa
da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que
recebia dos antigos.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Divide-se em patrística grega (ligada à Igreja
de Bizâncio) e patrística latina (ligada à Igreja
de Roma) e seus nomes mais importantes
foram: Justino, Tertuliano, Atenágoras,
Orígenes, Clemente, Eusébio, Santo Ambrósio,
São Gregório Nazianzo, São João Crisóstomo,
Isidoro de Sevilha, Santo Agostinho, Beda e
Boécio.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A patrística foi obrigada a introduzir idéias
como: criação do mundo, de pecado original,
de Deus como trindade una, de encarnação e
morte de Deus, de juízo final ou de fim dos
tempos e ressurreição dos mortos, etc.
• Precisou também explicar como o mal pode
existir no mundo, já que tudo foi criado por
Deus, que é pura perfeição e bondade.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Introduziu, sobretudo com Santo Agostinho a
idéia de “homem interior”, isto é, da
consciência moral e do livre-arbítrio, pelo qual
o homem se torna responsável pela existência
do mal no mundo.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Para impor as idéias cristãs, os Padres da
Igreja as transformaram em verdades
reveladas por Deus (através da Bíblia e dos
santos) que, por serem decretos divinos,
seriam dogmas, isto é, irrefutáveis e
inquestionáveis.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Dessa forma, o grande tema de toda a
Filosofia patrística é o da possibilidade de
conciliar razão e fé, e, a esse respeito, havia
três posições principais:
• 1. Os que julgavam fé e razão irreconciliáveis
e a fé superior à razão (diziam eles: “Creio
porque absurdo”).
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• 2. Os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas
subordinavam a razão à fé (diziam eles: “Creio
para compreender”).
• 3. Os que julgavam razão e fé irreconciliáveis,
mas afirmavam que cada uma delas tem seu
campo próprio de conhecimento e não devem
misturar-se (a razão se refere a tudo o que
concerne à vida temporal dos homens no mundo;
a fé, a tudo o que se refere à salvação da alma e à
vida eterna futura).
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Filosofia medieval (do século VIII ao século XIV)
• Abrange pensadores europeus, árabes e judeus. É
o período em que a Igreja Romana dominava a
Europa, ungia e coroava reis, organizava Cruzadas
à Terra Santa e criava, à volta das catedrais, as
primeiras universidades ou escolas. E, a partir do
século XII, por ter sido ensinada nas escolas, a
Filosofia medieval também é conhecida com o
nome de Escolástica.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Durante esse período surge propriamente a
Filosofia cristã, que é, na verdade, a teologia.
Influenciada pelo pensamento de Santo
Agostinho um de seus temas mais constantes
são as provas da existência de Deus e da alma,
isto é, demonstrações
racionais
da
existência do infinito criador e do espírito
humano imortal.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A diferença e separação entre infinito (Deus) e finito
(homem, mundo), a diferença entre razão e fé (a
primeira deve subordinar-se à segunda), a diferença e
separação entre corpo (matéria) e alma (espírito), O
Universo como uma hierarquia de seres, onde os
superiores dominam e governam os inferiores (Deus,
arcanjos, anjos, alma, corpo, animais, vegetais,
minerais), a subordinação do poder temporal dos reis e
barões ao poder espiritual de papas e bispos: eis os
grandes temas da Filosofia medieval.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Filosofia da Renascença (do século XIV ao século XVI)
• A Renascença ou Renascimento foi um período
histórico durante os séculos 15 e 16 em que uma
revolução ocorreu nas artes e no pensamento humano.
Novas técnicas artísticas que marcaram o início da
pintura e da escultura modernas, a redescoberta da
cultura da Grécia e da Roma antigas, o estudo científico
do corpo humano e da natureza e a substituição de
Deus pelo ser humano como tema principal foram as
principais característica da Renascença.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• É marcada pela descoberta de obras de Platão
desconhecidas na Idade Média, de novas
obras de Aristóteles, bem como pela
recuperação das obras dos grandes autores e
artistas gregos e romanos.
• São três as grandes linhas de pensamento que
predominavam na Renascença:
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• defendia os ideais republicanos Império
Romano-Germânico, isto é, contra o poderio
dos papas e dos imperadores. Na defesa do
ideal republicano, os escritores resgataram
autores políticos da Antigüidade, historiadores
e juristas, e propuseram a “imitação dos
antigos” ou o renascimento da liberdade
política, anterior ao surgimento do império
eclesiástico.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A efervescência teórica e prática foi alimentada com as
grandes descobertas marítimas, que garantiam ao
homem o conhecimento de novos mares, novos céus,
novas terras e novas gentes, permitindo-lhe ter uma
visão crítica de sua própria sociedade. Essa
efervescência cultural e política levou a críticas
profundas à Igreja Romana, culminando na Reforma
Protestante, baseada na idéia de liberdade de crença e
de pensamento. À Reforma a Igreja respondeu com
a Contra-Reforma e com o recrudescimento do poder
da Inquisição.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Os nomes mais importantes desse período
são: Dante, Leonardo da Vinci, Michelangelo e
Rafael,
Giordano
Bruno,
Maquiavel,
Montaigne, Erasmo, Tomás Morus, Jean
Bodin, Kepler e Nicolau de Cusa.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Filosofia moderna (do século XVII a meados
do século XVIII)
• Esse período, conhecido como o Grande
Racionalismo Clássico, é marcado por
três grandes mudanças intelectuais:
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
1. Aquela conhecida como o “surgimento do
sujeito do conhecimento”, isto é, a Filosofia, em
lugar de começar seu trabalho conhecendo a
Natureza e Deus, para depois referir-se ao
homem, começa indagando qual é a capacidade
do intelecto humano para conhecer e demonstrar
a verdade dos conhecimentos. Em outras
palavras, a Filosofia começa pela reflexão, isto é,
pela volta do pensamento sobre si mesmo para
conhecer sua capacidade de conhecer.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• 2. Para os modernos, as coisas exteriores (a
Natureza, a vida social e política) podem ser
conhecidas desde que sejam consideradas
representações, ou seja, idéias ou conceitos
formulados pelo sujeito do conhecimento.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• 3. A realidade, concebida como sistema
racional de mecanismos físico-matemáticos,
deu origem à ciência clássica, isto é, à
mecânica, por meio da qual são descritos,
explicados e interpretados todos os fatos da
realidade: astronomia, física, química,
psicologia, política, artes são disciplinas cujo
conhecimento é de tipo mecânico, ou seja, de
relações necessárias de causa e efeito entre
um agente e um paciente.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Nunca mais, na história da Filosofia, haverá
igual confiança nas capacidades e nos poderes
da razão humana como houve no Grande
Racionalismo Clássico (separação entre sujeito
e objeto). Os principais pensadores desse
período foram: Francis Bacon, Descartes,
Galileu, Pascal, Hobbes, Espinosa, Leibniz,
Malebranche, Locke, Berkeley, Newton.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Filosofia da Ilustração ou Iluminismo
(meados do século XVIII ao começo do século
XIX)
• Esse período também crê nos poderes da
razão, chamada de As Luzes (por isso, o nome
Iluminismo).
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Ouse conhecer! O lema proposto pelo filósofo
Immanuel Kant no século 18 resumiu o estado de
espírito que tomou conta de boa parte dos
pensadores de um movimento intelectual que
ficou conhecido como Iluminismo. Nele, a
celebração da razão significou iluminar a mente e
o futuro humano a partir da supremacia do
conhecimento sobre as crenças metafísicas.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• O Iluminismo surgiu na Europa entre os
séculos 17 e 18 e inspirou revolucionários
desenvolvimentos na filosofia, nas artes e na
política. A base do pensamento iluminista foi
considerar a lógica e a razão como as
principais formas de o homem conhecer o
universo e melhorar continuamente suas
condições de vida. Para o Iluminismo o
objetivo principal do uso da razão era dar ao
homem conhecimento, liberdade e felicidade.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• O Iluminismo representou o caminho para o
mundo ocidental emergir definitivamente das
trevas da Idade Média, período em que a
razão foi suplantada pelo misticismo religioso
e a sociedade regrediu para o isolamento
social, econômico e político do feudalismo.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• O Iluminismo é provavelmente o movimento
intelectual que mais influenciou momentos
decisivos da história da humanidade. Entre os
principais eventos históricos movidos a partir
dos ideais e pensamentos iluministas estão a
Declaração de Independência dos Estados
Unidos da América (1776), a Revolução
Francesa (1789 a 1799) e a Revolução
Industrial (1760-1830).
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• A Revolução Francesa foi feita pelo povo da França
entre 1789 e 1799. O objetivo original, que era criar
uma monarquia constitucional e reformar a estrutura
econômica e política da nação, logo se transformou em
um movimento que promoveu a queda do rei e
estabeleceu uma república. No curso da revolução, as
terras que eram amplamente controladas por parte da
Igreja Católica Romana e por senhores feudais foram
tomadas pelo governo e vendidas para a burguesia
(classe média) e para os camponeses. A Primeira
República foi estabelecida e milhares de pessoas
acusadas de se oporem à forma republicana de
governo foram mortas.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
• Os principais pensadores do período foram:
Hume,
Voltaire,
D’Alembert,
Diderot,
Rousseau, Kant, Fichte e Schelling.
• Filosofia contemporânea...
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