ANDREWS, George Reid. Vivendo em uma democracia racial.
1900-1940. In: Negros e brancos em São Paulo. (1888-1988).
São Paulo: EDUSC, 1998.
Neste livro o autor discute a problemática da
desigualdade racial no Brasil desde a abolição em 1888
até 1988. Com ampla pesquisa documental passa em
revista, a partir das mudanças econômicas, sociais e
políticas, a crença na existência da “democracia racial”
que perdurou, por longos anos, durante o século XX.
Neste capítulo, o autor discute os fundamentos dessa
crença. O conceito de democracia racial, discutida pelo
autor no cap. 1, “estabelece que o Brasil é uma terra
inteiramente livre de impedimentos legais e institucionais
para a igualdade racial, e em grande parte também isento
de preconceito e discriminação raciais informais” (p. 203)
Os fundamentos do mito da “democracia
racial”
• A nação oferece a todos os seus cidadãos – negros,
mulatos ou brancos – uma igualdade de
oportunidades virtualmente completa em todas as
áreas da vida pública: educação, política, empregos
moradia. Por isso os afro-brasileiros desfrutam de
oportunidades para se aprimorar e da liberdade
para competir com os seus concidadãos na luta
pelos bens públicos e privados, em um grau
desconhecido em qualquer outra sociedade multiracial do mundo (p.203).
O mito da “democracia racial”
• O conceito de democracia racial recebeu sua interpretação
mais plena e mais coerente nos escritos de Gilberto Freire,
iniciados na década de 1930. Entretanto, foi tomando forma
nas primeiras décadas do século XX, e suas raízes remontam
ao século XIX com o mito da escravidão brasileira
benevolente.
• Segundo o autor, apesar da óbvia contradição com a
realidade, o mito da escravidão benevolente foi amplamente
aceita na época, e mostrou-se bastante persistente nos anos
subsequentes. Sua utilidade era visível enquanto existiu a
escravidão. Serviu para aplacar a consciência dos senhores de
escravos e também para defender a instituição contra os seus
críticos estrangeiros e brasileiros. Mas, por que permaneceu
por tanto tempo após a abolição da escravidão?
O mito da “democracia racial”
• O autor aponta que em parte foi por inércia
ideológica. A outra, decorreu de forças externas que
reforçou o mito em vez de destruí-lo. “Para reduzir
a discórdia e a luta racial que se tornou uma
realidade potencial nos anos que se seguiram à
escravidão, os ex-senhores de escravos – os brancos
brasileiros em geral- tinham de sustentar que os
danos e as injustiças da escravidão, embora
objetáveis, não eram tão ruins quanto poderiam ter
sido” (p. 205).
O mito da democracia racial
• Os argumentos de que negros e brancos viviam em paz
> em que se enxergam e dão forma as características da
democracia racial > tranquilizou os senhores de
escravos de que nada tinham a temer de seus exescravos, mas também cortou pela raiz as propostas de
alguns abolicionistas de que a nação devia aos libertos
uma reparação pela exploração e pelo sofrimento que
haviam suportado sob o regime da escravidão.
• Para o autor, a democracia racial desde o início esteve
associada ao conceito de democracia política e
supostamente fazia parte de uma ordem política liberal
e progressista.
O mito da “democracia racial”
• No capítulo seguinte, “a ascensão dos negros...” enfoca
a luta do negro para entrar na classe média urbana, a
partir do ingresso nas atividades profissionais do
chamado “colarinho branco” –setor de serviços.
• Após 1930, há maior ingresso dos negros no mercado
de trabalho formal, notadamente industrial. Porém , na
década de 1940 os negros passaram a reivindicar o
ingresso no emprego do colarinho branco, questão que
passou a provocar muitas tensões uma vez que os
patrões sob o subterfúgio de exigência de “boa
aparência” barraram as pretensões dos candidatos a
esses cargos, notadamente aqueles que envolviam o
lidar diretamente com o público.
Capítulo 6 – Ascensão dos negros, 19401988
• Outro aspecto que barrava essa ascensão era a questão
salarial, porque esse grupo sempre recebia um salário menor,
mesmo executando as mesmas tarefas que outro trabalhador
branco. Essa diferenciação não ocorria no setor de transporte,
cujos salários eram iguais, independente da cor.
• O autor observa ainda que as dificuldades do negro para o
ingresso nos serviços de “colarinho branco” foi obstaculizado
porque houve solidariedade da classe média branca que ao
impedir o ingresso dos negros em seus clubes, barrou o
acesso a rede de relações que propiciava as informações e as
indicações para empregos nesse setor do mercado de
trabalho. Essa disputa e a explicitação clara dos preconceitos
foi recorrente nessa esfera, embora o discurso camuflado
reiterasse o mito da democracia social.
O mito da “democracia racial”
• O relato de alguns negros entrevistados enfatizam os
problemas psicológicos criados, porque ficava cada vez
mais evidente que todo o esforço despendido de
preparação, não alcançava as exigências requeridas
para o posto, uma vez que o obstáculo central era a
questão do preconceito de cor.
• No capítulo seguinte, esse antagonismo fica claramente
explicitado e deu origem a Lei Afonso Arinos (1951)
para resolver atos de discriminação; porém, a lei não
foi aplicada, pois a justificativa era a convivência
pacífica entre negros e brancos. Os preconceitos e
ódios raciais, não faziam parte de nossa experiência.
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