INTRODUÇÃO (Mt. 13,1-3a) As Parábolas do reino (Mt. 13) Os 5 “discursos” do Evangelho de Mateus As 7 Parábolas do Reino Discurso da Montanha (Mt. 5-7) Parábola do semeador Discurso Missionário (Mt. 10) Parábola do joio Discurso das Parábolas (Mt. 13) Parábola do grão de mostarda Discurso Comunitário (Mt. 18) Discurso Escatológico (Mt. 24-25) Parábola do fermento Parábola do tesouro escondido Parábola do fermento Parábola da rede Explicação da parábola O capítulo é colocado num contexto de contraste e de quebra com o ambiente judaico. Jesus dedica-se a falar do Reino, tema delicado, com o ensinamento em parábolas, de forma velada, evitando chocar-se frontalmente com a mentalidade popular. A palavra “parábola” significa “jogar ao lado”. Afirma-se uma coisa falando-se de outra e é um meio para provocar a conversão de quem escuta. 1 INTRODUÇÃO (Mt. 13,1-3a) Introdução ao discurso em parábolas (Mt. 13,1-3a) [1] Naquele dia, Jesus saiu de casa, e foi sentar-se às margens do mar da Galileia. [2] Numerosas multidões se reuniram em volta dele. Por isso, Jesus entrou numa barca e sentouse, enquanto a multidão ficava de pé na praia.. [3a] E Jesus falou para eles muita coisa com parábolas. 2 A PARÁBOLA DO SEMEADOR (Mt. 13,3a-9.18-23) Introdução ao discurso em parábolas (Mt. 13,1-3a) “Naquele dia: “À beira mar”: Mateus situa o discurso das parábolas no mesmo dia em que Jesus tive uma forte polêmica com os fariseus e os familiares. É o mesmo dia em que se declarou sua condenação à morte. No mesmo dia inicia o ensinamento à multidão para tentar libertá-la do jugo da instituição religiosa. “Sair da casa”: A casa representa a comunidade; Jesus sai e vai para todos, ninguém fica excluído. O “mar”, na verdade, é o lago de Tiberíades e é a fronteira entre Israel e os pagãos. Simbolicamente, o mar indicava o lugar para a passagem da escravidão à liberdade, com referencia à travessia do Mar Vermelho. Mateus afirma que o ensinamento de Jesus é aquele que conduz à verdadeira liberdade. O verdadeiro êxodo é da esfera da instituição religiosa que sufoca as pessoas, em direção da esfera do amor de Deus. “entrar no barco”: Jesus “senta-se” no barco, atitude típica do mestre. “E começou a se juntar”: Para continuar o processo de O verbo utilizado para libertação, é necessário tomar “o indicar o “juntar-se” da multidão, tem a mesma raiz barco” e ir ao mar, isto é ir em direção daqueles que a religião da palavra “sinagoga”. A “multidão” é exclusivamente despreza. A “multidão” fica na praia, símbolo de hebraica. 3 hostilidade e dificuldade. PORQUE JESUS FALAVA EM PARÁBOLAS? (Mt. 13,10-17.34-35) Porque Jesus falava em Parábolas? (1) Em duas ocasiões, no capítulo 13, Mateus coloca alguns versículos que esclarecem o porque Jesus fala em parábolas. A primeira ocasião (Mt. 13,10-17) è entre a parábola do semeador (Mt. 13,1-9) e sua explicação (Mt. 13,18-23). A segunda ocasião (Mt. 13,34-35) è após a parábola do fermento (Mt. 13,33). (Mt. 13,34-35) 34 Tudo isso Jesus falava em parábolas às multidões. Nada lhes falava sem usar parábolas, 35 para se cumprir o que foi dito pelo profeta: «Abrirei a boca para usar parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo.» (Mt. 13,10-17) 10 Os discípulos aproximaram-se, e perguntaram a Jesus: «Por que usas parábolas para falar com eles?» 11 Jesus respondeu: «Porque a vocês foi dado conhecer os mistérios do Reino do Céu, mas a eles não. 12 Pois, a quem tem, será dado ainda mais, será dado em abundância; mas daquele que não tem, será tirado até o pouco que tem. 13 É por isso que eu uso parábolas para falar com eles: assim eles olham e não veem, ouvem e não escutam nem compreendem. 14 Desse modo se cumpre para eles a profecia de Isaías: ‘É certo que vocês ouvirão, porém nada compreenderão. É certo que vocês enxergarão, porém nada verão. 15 Porque o coração desse povo se tornou insensível. Eles são duros de ouvido e fecharam os olhos, para não ver com os olhos, e não ouvir com os ouvidos, não compreender com o coração e não se converter. Assim eles não podem ser curados’. 16 Vocês, porém, são felizes, porque seus olhos veem e seus ouvidos ouvem. 17 Eu garanto a vocês: muitos profetas e justos desejaram ver o que vocês estão vendo, e não puderam ver; desejaram ouvir o que vocês estão ouvindo, e não puderam 4 ouvir.» PORQUE JESUS FALAVA EM PARÁBOLAS? (Mt. 13,10-17.34-35) Porque Jesus falava em parábolas? (2) (Mt. 13,11) 11 Jesus respondeu: «Porque a vocês foi dado conhecer os mistérios do Reino do Céu, mas a eles não. Jesus não discrimina entre os discípulos e o povo, mas, a diferente situação em relação a ele, faz com que o conhecimento e a experiência do Reino de Deus sejam diferentes entre os dois. As multidões se grudam ao seu espírito nacionalista segundo a tradição dos escribas; mesmo ouvindo e admirando Jesus, não aderem a ele e, por isso, não compreendem. A palavra “mistério” significa “segredo”. Jesus não entende falar de maneira cifrada para um grupo de eleitos; o “mistério” é algo que pode ser conhecido, mas que ainda não o é. Consiste no amor universal de Deus, o seu projeto de vida para o homem. (Mt. 13,12) [12 Pois, a quem tem, será dado ainda mais, será dado em abundância; mas daquele que não tem, será tirado até o pouco que tem. O ter é a consequência de ter produzido algo. Podemos traduzir: “A que produz vida será dada outra vida, o que não produzir aquele pouco que tinha, o perderá”. 5 PORQUE JESUS FALAVA EM PARÁBOLAS? (Mt. 13,10-17.34-35) Porque Jesus falava em parábolas? (3) (Mt 13,13-15) 13 É por isso que eu uso parábolas para falar com eles: assim eles olham e não veem, ouvem e não escutam nem compreendem. 14 Desse modo se cumpre para eles a profecia de Isaías: ‘É certo que vocês ouvirão, porém nada compreenderão. É certo que vocês enxergarão, porém nada verão. 15 Porque o coração desse povo se tornou insensível. Eles são duros de ouvido e fecharam os olhos, para não ver com os olhos, e não ouvir com os ouvidos, não compreender com o coração e não se converter. Assim eles não podem ser curados’. Neste texto do profeta Isaías, a palavra “compreender” encontra-se mais vezes. Não basta ver e ouvir, é preciso compreender, isto é, é necessário estar disponíveis a quanto vem proposto. Jesus oferece uma esperança: se é verdade que “veem e não enxergam, que ouvem mas não compreendem” é também verdade que se houver conversão, uma mudança de mentalidade, tudo isso será possível. Antes de tudo Jesus requer uma adequada disposição interior para compreender a mensagem. Não propõe a fácil mensagem da rebeldia contra as instituições, mas aquela da renovação profunda do homem, única base e garantia de uma sociedade verdadeiramente humana. 6 PORQUE JESUS FALAVA EM PARÁBOLAS? (Mt. 13,10-17.34-35) Porque Jesus falava em parábolas? (4) (Mt. 13,34-35) 34 Tudo isso Jesus falava em parábolas às multidões. Nada lhes falava sem usar parábolas, 35 para se cumprir o que foi dito pelo profeta: «Abrirei a boca para usar parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo.» Jesus fala em parábolas porque está dizendo exatamente o contrário daquilo que as multidões esperavam. Se Jesus tivesse falado às claras, com a facilidade da lapidação que havia naquele tempo, provavelmente, após o primeiro discurso não teria feito o segundo. As multidões não conseguem receber claramente a mensagem, por causa de sua ideologia messiânica nacionalista, que aguarda a restauração gloriosa do reino de Israel. As parábolas revelam um ideia de Deus, muito diferente da que aparece no Antigo Testamento; não é o Deus triunfador, mas o Deus humilde. Quem è totalmente “impermeável” à verdade que Jesus propõe, houve a historinha e não compreende nada; para alguns, esta verdade pode ser a “pulga no ouvido” que ajuda a fazer pensar. As “coisas escondidas”, segundo a tradição judaica, eram as que Deus tinha escondido para o momento da vinda do Messias. 7 A PARÁBOLA DO SEMEADOR (Mt. 13,3a-9.18-23) [3a] «O semeador saiu para semear. [4] Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, e os passarinhos foram e as comeram. [5] Outras sementes caíram em terreno pedregoso, onde não havia muita terra. As sementes logo brotaram, porque a terra não era profunda. [6] Porém, o sol saiu, queimou as plantas, e elas secaram, porque não tinham raiz. [7]Outras sementes caíram no meio dos espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram as plantas. [8] Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e renderam cem, sessenta e trinta frutos por um. [9] Quem tem ouvidos, ouça!» [18] «Ouçam, portanto, o que a parábola do semeador quer dizer: [19] Todo aquele que ouve a Palavra do Reino e não a compreende, é como a semente que caiu à beira do caminho: vem o Maligno e rouba o que foi semeado no coração dele. [20] A semente que caiu em terreno pedregoso é aquele que ouve a Palavra, e logo a recebe com alegria. [21] Mas ele não tem raiz em si mesmo, é inconstante: quando chega uma tribulação ou perseguição por causa da Palavra, ele desiste logo. [22] A semente que caiu no meio dos espinhos é aquele que ouve a Palavra, mas a preocupação do mundo e a ilusão da riqueza sufocam a Palavra, e ela fica sem dar fruto. [23] A semente que caiu em terra boa é aquele que ouve a Palavra e a compreende. Esse com certeza produz fruto. Um dá cem, outro sessenta e outro trinta por um.» 8 A PARÁBOLA DO SEMEADOR (Mt. 13,3a-9.18-23) Introdução à parábola A parábola, mais conhecida como “do semeador”, deveria mais apropriadamente ser chamada dos “quatro terrenos”. O centro da narração está no desenvolvimento da semente segundo a qualidade dos terrenos em que cai. A figura do semeador desaparece logo ter cumprido sua tarefa. Ele semeia a mesma semente, mas no campo há quatro terrenos diferentes, que vão em progressão: daquele totalmente inapropriado àquele totalmente idôneo. Jesus entende tornar claro o aparente falimento de sua atividade messiânica Contrariamente a toda espera, sua vinda não foi clamorosa, não teve grande ressonância. Jesus sumiu na terra como um apequena semente, fraca, insignificante, mas, apesar das contradições e dos obstáculos, lenta e progressivamente, a semente começa a brotar.. A parábola, não quer apresentar o conteúdo do Reino, mas seu caminho de difusão entre os homens, os sucessos e os fracasso que registra, segundo as disposições de cada um. 9 A PARÁBOLA DO SEMEADOR (Mt. 13,3a-9.18-23) Os elementos da parábola O semeador: Sua única ação é sair de casa e plantar. Não quer desperdiçar a semente, mas não quer excluir nenhum terreno para o plantio. Quem tem ouvido ouça: Mateus afirma a necessidade de sermos despertados, pessoas que, ouvindo a mensagem, a acolhem para fazer desenvolver a vida que contém. Os 4 terrenos: A “estrada” : não è a da cidade mas a dos trilhos de chão batido que atravessam os campos. A “estrada” : Os pássaros são referencia a um dos satãs da tradição judaica, o príncipe Mastema, cuja tarefa era a de destruir os trabalhos dos agricultores. As “pedras ” e os “espinhos”: as duas situações são apresentadas em tons ainda mais dramáticos, pois a semente que começou a crescer, não tem possibilidade de desenvolver e dar fruto. A “terra boa”: literalmente “bonita”; ao evangelista interessa o “dar fruto” e o faz falando do rendimento da semente tão abundante. A “terra boa”: A expressão “dar fruto” é usada por Mateus sempre para falar dos efeitos da adesão à mensagem de Jesus. 10 A PARÁBOLA DO SEMEADOR (Mt. 13,3a-9.18-23) Explicação da parábola Para os exegetas a explicação da parábola não pode ser atribuída a Jesus, por causa do diferente vocabulário utilizado. A catequese das primeiras comunidades, não se limitava à simples repetição de palavra por palavra daquilo que Jesus tinha dito, mas se esforçava de tornar compreensível sua mensagem e aplicá-la às situações concretas em que se encontravam. O texto reflete a situação da igreja primitiva que, após a existência terrena de Jesus, conheceu perseguições, provas e tentações. Particularmente, na explicação da parábola são apresentadas as dificuldades de aceitação da Palavra de Deus. Mediante quatro breves narrações o texto interpreta o significado dos quatros terrenos, que não representam categorias de pessoas, mas atitudes que se encontram em cada indivíduo, diante da Palavra. Não existem indivíduos predestinados nem predisposições que determinam a acolhida ou a recusa do Evangelho. A penetração falha do Evangelho no coração das pessoas e a escassez de frutos, não depende da semente, nem do semeador, mas do tipo de terreno. A explicação se detém sobre os obstáculos que a mensagem encontra. Deste modo afirma o paradoxo: o sucesso nasce do insucesso. 11 A PARÁBOLA DO SEMEADOR (Mt. 13,3a-9.18-23) Explicação da parábola: a “estrada” A “semente” é identificada com a Palavra do reino, contida nas bem-aventuranças. Não compreendendo e não partilhando o que a Palavra propõe, já que somos agarrados à própria ideia pré constituída, estamos expostos à ação do maligno, que é a de roubar a Palavra. O “maligno”, Satanás, é a figura do sucesso, da ambição e de quem deseja o poder. Não dá para compreender a mensagem se a gente não mudar a mentalidade baseada na ambição do poder, porque endurece o homem e faz com que a mensagem de amor e de igualdade não penetre, escorregue e não deixe traços na pessoa pois somo impermeáveis. O terreno duro representa aqueles que fizeram do arrivismo o próprio estilo de vida. A pessoas quer vencer na vida a todo custo. A Palavra precisa ser compreendida e partilhada tornando-se serviço e generosidade e não somente compreendida. São aqueles que acolheram o cristianismo, mas não entenderam seu significado, sua importância, nem sua responsabilidade. São os batizados não convertidos, os cristãos de nome e por tradição, analfabetos na fé. 12 A PARÁBOLA DO SEMEADOR (Mt. 13,3a-9.18-23) Explicação da parábola: as “pedras” Trata-se de pessoas entusiastas da mensagem, mas que não se comprometem seriamente em seguir a Jesus, são “inconstantes”, “provisórios”. Duram até que a mensagem coincida com suas expectativas e seus anseios. Aceitam a mensagem de Jesus, mas não suas consequências: essa não penetra neles modificando a concepção da vida, nem a escada dos valores. No momento das dificuldades, quando estão em perigo sua segurança, comodidade, prestigio, posição social , fama, esses recuam. A “tribulação” e a “perseguição” são inevitáveis na comunidade cristã, e têm o mesmo efeito positivo que o sol tem sobre a planta, isto é, a fortalece e a faz crescer. Se a planta queimar, é culpa dela não do sol. A Palavra e o homem são chamados a se unir e tornar-se uma só coisa: o homem precisa da Palavra para se realizar e a Palavra precisa do homem para se manifestar. Se precisamos nos apelar a Cristo como uma autoridade exterior à pessoa humana, como regra de comportamento, significa que a Palavra não fincou suas raízes. Amamos, perdoamos, servimos não porque Jesus o disse, mas porque sua Palavra é conatural às pessoas; amar, perdoar, servir é indispensável para a existência. Identifica pessoas de fáceis entusiasmos, ocupados em mil iniciativas e cheios de fáceis febres espirituais, mas passada o febre momentânea, diante do cansaço e da primeira crise largam tudo, queimando a possibilidade de crescer. 13 A PARÁBOLA DO SEMEADOR (Mt. 13,3a-9.18-23) Explicação da parábola: “os espinhos” Em comparação às “pedras” que denotam uma situação triste porque havia alguma possibilidade de fruto, a situação dos “espinhos” é dramática porque a terra é boa. A planta está crescendo e pode dar fruto, mas os obstáculos devagar a sufocam. Mateus identifica os obstáculos com as riquezas; “as preocupações do mundo” são as preocupações e as dificuldades econômicas. As preocupações do acúmulo inicia uma espiral na qual o mais que se conseguiu não é nunca mais suficiente, porque as exigências aumentaram. Esta preocupação constante não permite à Palavra que produza frutos e devagar fica sufocada. Fixarse em seus próprios interesses, sem se abrir à generosidade e à partilha comporta a morte da Palavra. Identifica aqueles que descuidam da fé porque escravos do trabalho e da ganância do lucro. 14 A PARÁBOLA DO SEMEADOR (Mt. 13,3a-9.18-23) Explicação da Parábola: a “terra boa” (Is. 55,10-11) 10 Da mesma forma como a chuva e a neve, que caem do céu e para lá não voltam sem antes molhar a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, a fim de produzir semente para o semeador e alimento para quem precisa comer, 11 assim acontece com a minha palavra que sai de minha boca: ela não volta para mim sem efeito, sem ter realizado o que eu quero e sem ter cumprido com sucesso a missão para a qual eu a mandei. È necessário que a Palavra encontre a terra; se houver, libera uma vitalidade e uma energia que Mateus identifica logo com o máximo, o “cem”. Se uma semente rendia dez grãos, já era um bom resultado, trinta mais do que ótimo, cem significa a total transformação da semente. (Gen. 26,12) 12 Uma colheita de trinta grãos, já extraordinária, para Jesus é Isaac semeou somente o ponto de partida. aquela terra e, nesse ano, colheu o Quem acolhe a mensagem é chamado a desenvolver todas suas cêntuplo. Javé o capacidades, a se realizar em plenitude, até se tornar uma bênção abençoou para os outros. O número “cem”, no livro do Gênesis, na plantação de Isaac, representa a Bênção de Deus. Esta é a tarefa daqueles que querem seguir Jesus: ser uma bênção para quantos o encontrarem. A Palavra pode dar um crescimento máximo e um limitado. Todo limite não depende da Palavra, mas da pessoa. 15 A PARÁBOLA DO SEMEADOR (Mt. 13,3a-9.18-23) Aprofundamento e reflexão(1) (Mt. 7,17-20) 17 Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda Mateus insiste na necessidade de que árvore má produz maus frutos. 18 Uma árvore boa não pode dar os cristãos produzam frutos. Os frutos maus, e uma árvore má não pode dar bons frutos. 19 Toda árvore que não der bons frutos, será cortada e jogada no fogo. 20 fatos é que contam, não palavras e Pelos frutos deles é que vocês os conhecerão.» belas intuições. A parábola afirma que Jesus não é um O semeador é um grande otimista: idealista, um sonhador. Sabe que há um espera que as pedras amoleçam, que os grande desperdício por traz de todo boa espinhos deixem espaço para as colheita. espigas, que da estrada brotem O convite é para a confiança, para continuar plantas de trigo. na proclamação do Reino que Jesus iniciou, Somente Deus aceita todo tipo de independentemente dos fracassos que a pessoa. gente vai encontrar. Não estamos autorizados a nos fechar Semear requer um ato de fé na semente e na numa roda de amigos e de “bem terra. Precisa ter confiança e respeito para o pensantes”, mas precisamos ficar terreno onde ela vai cair, isto é: para com abertos para qualquer pessoa. aqueles que acolhem a palavra do Evangelho. Jesus avisa a comunidade: vocês são chamados a transmitir a mensagem, mas não se façam ilusões; entre quatro terrenos, somente sobre um a Palavra fincará raízes e 16 dará fruto. A PARÁBOLA DO SEMEADOR (Mt. 13,3a-9.18-23) Aprofundamento e reflexão (2) A parábola afirma que a relação entre semente e campo é igual àquela entre Palavra e escuta. Como a semente é feita para a terra, assim a Palavra é dita para a inteligência e a liberdade do homem. Ela não entende pisar na cabeça de ninguém, mas atravessar o coração de todos. Podemos supor que se trata de quatro plantios sucessivos; três sem fruto e um com fruto. Após “três” “fracassos”, isto é, fracasso “completo”, a parábola convida a tentar novamente. A proposta de Jesus alcança os crentes do todos os tempos e aguarda sua resposta. O evangelho não está acabado, ninguém conhece a última página, mas cada um precisa conhecer aquela a que é chamado escrever com sua própria vida. E o convite é iniciar a escrever já; não precisa esperar que a mensagem seja assimilada de modo completo. A resposta de Deus, seu dom de vida, recebe-se a cada momento do desenvolvimento. O fruto final, não nasce somente da atividade do homem, nem somente daquela de Deus. 17 A PARÁBOLA DO JOIO (Mt. 13,24-30.34-43) 24 Jesus contou outra parábola à multidão: «O Reino do Céu é como um homem que semeou boa semente no seu campo. 25 Uma noite, quando todos dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo, e foi embora. 26 Quando o trigo cresceu, e as espigas começaram a se formar, apareceu também o joio. 27 Os empregados foram procurar o dono, e lhe disseram: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?’ 28 O dono respondeu: ‘Foi algum inimigo que fez isso’. Os empregados lhe perguntaram: ‘Queres que arranquemos o joio?’ 29 O dono respondeu: ‘Não. Pode acontecer que, arrancando o joio, vocês arranquem também o trigo. 30 Deixem crescer um e outro até à colheita. E no tempo da colheita direi aos ceifadores: arranquem primeiro o joio, e o amarrem em feixes para ser queimado. Depois recolham o trigo no meu celeiro!’ » 36 Então Jesus deixou as multidões, e foi para casa. Os discípulos se aproximaram dele, e disseram: «Explica-nos a parábola do joio.» 37 Jesus respondeu: «Quem semeia a boa semente é o Filho do Homem. 38 O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. 39 O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifadores são os anjos. 40 Assim como o joio é recolhido e queimado no fogo, o mesmo também acontecerá no fim dos tempos: 41 o Filho do Homem enviará os seus anjos, e eles recolherão todos os que levam os outros a pecar e os que praticam o mal, 42 e depois os lançarão na fornalha de fogo. Aí eles vão chorar e ranger os dentes. 43 Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça.» 18 A PARÁBOLA DO JOIO (Mt. 13,24-30.34-43) Três parábolas para três tentações Com uma série de três parábolas, Mateus alerta as comunidades cristãs de todos os tempos, diante das tentações sempre à espreita. Parábola do joio Tentação da superioridade e do direito de “extirpar” os males de agora. Parábola do grão de mostarda Tentação da grandeza e do uso dos instrumentos do poder. Parábola do fermento Tentação do desânimo 19 A PARÁBOLA DO JOIO (Mt. 13,24-30.34-43) Os elementos da parábola A semente: Literalmente é “a boa semente”, “a melhor possível”. O inimigo: É “o” inimigo, então, bem conhecido. Ele também faz um plantio, uma “parodia” do semeador. Enquanto todos dormiam: Os únicos que aparecem dormindo no Evangelho de Mateus são Pedro, Tiago e João no Getsêmani. O dormir é símbolo da não compreensão da mensagem de Jesus. O “inimigo” atua especialmente quando a comunidade “dorme”, isto é, se desinteressa ou vive sem o necessário compromisso com a mensagem de Jesus. O joio: É uma caricatura do trigo, lhe assemelha e não se distingue até o crescimento. Seus grãos são tóxicos e narcotizantes: envenenam e dão sono. Seu plantio acontece após o do trigo e então não é um mal preexistente, mas sucessivo à vinda do Reino de Deus. Representa as deviações presentes na comunidade cristã.. 20 A PARÁBOLA DO JOIO (Mt. 13,24-30.34-43) O critério dos servos O critério dos servos indica uma antiga aspiração dos homens de Deus: a eliminação imediata dos “pecadores”. A ação dos servos é sempre atual na história. A presença destes servos é mais perigosa do que o próprio joio. O perigo é extirpar o trigo junto ao joio, impedindo-lhe de madurecer. Isto já aconteceu na história da Igreja, aliás, em alguns casos foi extirpado o trigo e deixado o joio. O joio tem raízes fortes e misturadas com as do trigo. Fica impossível eliminar o mal sem danificar o bem. Desenraizar significa violentar o curso normal da existência. Atrás da pergunta dos servo está o questionamento escandalizado do crente de todos os tempos. Será que o mal tem a última palavra? 21 A PARÁBOLA DO JOIO (Mt. 13,24-30.34-43) O critério do dono O dono responde de modo imperativo: “Não!”. Fica tranquilo, e não se deixa tomar pelo susto. É tarefa dele estabelecer o momento da separação: os servos não podem se apoderar deste direito. A colheita A “colheita” corre o perigo de evocar terríveis imagens de julgamento; na realidade é um evento alegre, porque é o momento da colheita dos frutos. O “julgamento” e a escolha acontecem no fim, quando o tempo do crescimento estará maduro para cada um. Durante a fase terrena do Reino “bons” e “maus” devem conviver. O julgamento é a conclusão lógica da evolução da colheita. Os servos só separam o joio do trigo, agora incompatíveis. Mais do que julgamento é uma opção que cada um opera com sua própria conduta. A parábola responde à tentação de ser uma comunidade de eleitos. A comunidade é feita por todos, e todos precisam ter a mesma paciência de Deus em acompanhar o processo de crescimento que, como para a semente, é diferente para cada pessoa. 22 A PARÁBOLA DO JOIO (Mt. 13,24-30.34-43) A explicação da parábola: o pedido dos discípulos Na parábola do semeador é Jesus que dá a explicação; agora são os discípulos que a exigem, de maneira imperativa, quase brutal: “Explica para nós!” Se os discípulos pedem a explicação da parábola não é porque não a compreenderam, mas porque a compreenderam muito bem e não concordam no que ela propõe. Custam em aceitar o conteúdo, porque dentro deles continua emergindo a tentação da superioridade. A explicação da parábola: os elementos (1) Jesus não explica a parábola tim-tim por tim-tim mas oferece chaves de leitura. O semeador é o filho do homem: Jesus se identifica com aquele que lança a semente. A boa semente são os filhos do Reino: Jesus é o bom semeador que lança no mundo comunidades animadas pelo Espírito. São aqueles que aceitaram as bem-aventuranças. O campo é o mundo: O termo grego traduzido com “mundo” indica o “cosmo”. 23 A PARÁBOLA DO JOIO (Mt. 13,24-30.34-43) A explicação da parábola: os elementos (2) O joio são os filhos do maligno: São aqueles que seguem o programa oposto às bem-aventuranças, sintetizado nas tentações de Jesus no deserto. O inimigo é o diabo: É a encarnação do poder em todas suas manifestações. A colheita é o fim da época: O termo traduzido com “mundo” é Os ceifeiros são os anjos: Indica os enviados do Senhor. “idade”, “época” (diferente daquele referido ao campo). No evangelho não há mensagens de fim do mundo; este é obra de Deus e continua evoluindo. A colheita é o fim de uma época: individualmente é a morte, socialmente è uma época histórica que parece eterna mas inevitavelmente se dissolve. 24 A PARÁBOLA DO JOIO (Mt. 13,24-30.34-43) A explicação da parábola: o “julgamento” Mateus continua confrontando Jesus com Moisés: Moisés quis eliminar o “daninho” do povo e o resultado foi um massacre. (Mt. 3,10) 10 O machado já está posto na raiz das árvores. E toda árvore que não der bom fruto, será cortada e jogada no fogo. Com imagens do AT Jesus se distancia de João Batista: Ele afirma que não há um julgamento iminente, mas um processo de crescimento na história e na vida do homem. Ele não veio para julgar, ainda menos para condenar: Após três anos, um tempo completo, precisa capinar, adubar e esperar. Jesus transmite vida ao que parece morto. (Mt. 23,13) 13 «Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês fecham o Reino do Céu para os homens. Nem vocês entram, nem deixam entrar aqueles que desejam. (Êx. 32,26-28) 26 Então Moisés ficou de pé no meio do acampamento, e gritou: «Quem estiver do lado de Javé, venha até mim». E todos os filhos de Levi se reuniram em torno dele. 27 Moisés então lhes disse: «Assim diz Javé, o Deus de Israel: ‘Cada um coloque a espada na cintura. Passem e repassem o acampamento, de porta em porta, matando até mesmo o seu irmão, companheiro e parente’.» 28 Os filhos de Levi fizeram o que Moisés havia mandado. E nesse dia morreram uns três mil homens do povo. (Lc. 13,6-9) 6 Então Jesus contou esta parábola: «Certo homem tinha uma figueira plantada no meio da vinha. Foi até ela procurar figos, e não encontrou. 7 Então disse ao agricultor: ‘Olhe! Hoje faz três anos que venho buscar figos nesta figueira, e não encontro nada! Corte-a. Ela só fica aí esgotando a terra’. 8 Mas o agricultor respondeu: ‘Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e pôr adubo. 9 Quem sabe, no futuro ela dará fruto! Se não der, então a cortarás’.» (Mt. 21,31b) «Pois eu garanto a vocês: os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no Reino do Céu. Para aqueles que os escribas e fariseus julgavam de joio, prostitutas e publicanos, Jesus 25 afirma: A PARÁBOLA DO JOIO (Mt. 13,24-30.34-43) A explicação da parábola: o fim do joio e do trigo (1) Os “escândalos”, que indicam as pedras que causam tropeço já apareceram no discurso da montanha: (Mt. 5,29-30) 29 Se o olho direito leva você a pecar, arranque-o e jogue-o fora! É melhor perder um membro, do que o seu corpo todo ser jogado no inferno. 30 Se a mão direita leva você a pecar, corte-a e jogue-a fora! É melhor perder um membro do que o seu corpo todo ir para o inferno. (Mt. 16,23) 23 Jesus, porém, voltou-se para Pedro, e disse: «Fique longe de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, porque não pensa as coisas de Deus, mas as coisas dos homens!» No Evangelho de Mateus, o “escândalo” é Pedro: Os “escândalos”! São produzidos pela ambição do poder daqueles que, como Pedro, não querem que o Messias doe a vida, mas que reine pelo uso do poder, traindo as expectativas de igualdade e fraternidade dos crentes: (Mt. 7,22-23) 22 Naquele dia muitos me dirão: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos tantos milagres?’ 23 Então, eu vou declarar a eles: Jamais conheci vocês. Afastem-se de mim, malfeitores!» (Mt. 18,6-7) 6 «Quem escandalizar um desses pequeninos que acreditam em mim, melhor seria para ele pendurar uma pedra de moinho no pescoço, e ser jogado no fundo do mar. 7 Ai do mundo por causa dos escândalos! É inevitável que aconteçam escândalos, mas ai do homem que causa escândalo! Também os “malfeitores” já apareceram no discurso da montanha: São aqueles que escutam a mensagem de Jesus, mas não a praticam. Se fazem porta-voz da mensagem, mas, tão preocupados pela conversão dos outros, esquecem a própria. 26 A PARÀBOLA DO JOIO (Mt. 13,24-30.34-43) A explicação da parábola: o fim do joio e do trigo (2) “Fornalha de fogo” A imagem pertence à escatologia judaica e é tirada do livro de Daniel (Dn. 3,6.11). Equivale à imagem da Geena utilizado por Mateus. Não é descrito um “juízo universal”, mas é um “juízo” interno da comunidade cristã. O “juízo” é sempre uma imagem utilizada pelos evangelistas para sublinhar a responsabilidade do homem em construir seu próprio destino. “Choro e ranger de dentes” A imagem é tipicamente oriental: equivale às mais modernas: “arrancar” os cabelos””, “desesperar-se”. Expressa o fracasso da própria existência. Na hora da morte, os espera, segundo a imagem do Apocalipse, “a morte segunda”. “Os justos brilharão como o sol” Também esta imagem vem do livro de Daniel (Dn. 12,3). A comunhão com Deus é significada pela tradicional imagem da luz. Jesus mesmo, na transfiguração “brilha como o sol” (Mt. 17,2). 27 A PARÁBOLA DO JOIO (Mt. 13,24-30.34-43) Aprofundamento e reflexão (1) A insistência de Jesus e de Mateus com esta parábola, é motivada pelo fato que é aquela que mais cria problemas à comunidade cristã de todos os tempos. O trecho nos apresenta uma descrição realista e não idealista da comunidade cristã. Na comunidade de Jesus não há lugar para a pressa e a impaciência puritanas, a intolerância e a marginalização. A única possível radicalidade na comunidade é a do respeito total. O tempo entre o plantio e a colheita é o tempo do ouvinte de Jesus; é o tempo do crescimento que não precisa de escolhas particulares. Mas os servos, de fato, existem sempre. Em todos os momentos da vida da Igreja, há os “puros”, os “zelosos”, as “elites”. Nunca faltam crentes que se queixam de um Deus “tolerante” demais. O primeiro campo onde encontramos bom trigo e joio somos nós. Como o joio, as tensões egoísticas que notamos em nós, não vêm de Deus. E na pretensão de sermos perfeitos a todo custo, acabamos amputando, tirando de nós todo o positivo que está misturado com as tensões negativas. 28 A PARÁBOLA DO JOIO (Mt. 13,24-30.34-43) Aprofundamento e reflexão (2) Às vezes nos queixamos da sociedade, da pouca incidência da palavra de Deus, das comunidades cristãs que não dão testemunho. Esta visão que às vezes nos pega não é uma imagem certa do Reino de Deus. O reino é uma realidade de conflito, de luta, na qual continuam convivendo o bem e o mal. Mas este é o Reino de Deus na fase terrena e quem não o recebe e não o aceita assim, erra, se entrega a sonhos. Na parábola há referência a outro passo do discurso da montanha: (Mt. 5,45) 45 Assim vocês se tornarão filhos do Pai que está no céu, porque ele faz o sol nascer sobre maus e bons, e a chuva cair sobre justos e injustos. É o que acontece no campo. Tanto o trigo quanto o joio aproveitam do sol e da chuva, crescem porque há estas duas condições vitais. O Pai, para manifestar sua generosidade não põe condições; mesmo se continuamos a ser joio, Ele continua fazendo surgir o sol e enviando a chuva. 29 AS PARÁBOLAS DO TESOURO, DA PÉROLA E DA REDE (Mt. 13,44-53) 44 «O Reino do Céu é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra, e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens, e compra esse campo. 45 O Reino do Céu é também como um comprador que procura pérolas preciosas. 46 Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens, e compra essa pérola.» 47 «O Reino do Céu é ainda como uma rede lançada ao mar. Ela apanha peixes de todo o tipo. 48 Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e escolhem: os peixes bons vão para os cestos, os que não prestam são jogados fora. 49 Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são bons. 50 E lançarão os maus na fornalha de fogo. Aí eles vão chorar e ranger os dentes.» 30 AS PARÁBOLAS DO TESOURO, DA PÉROLA E DA REDE (Mt. 13,44-53) Parábolas do tesouro e da pérola: contos parecidos As parábolas do tesouro e da pérola se encontram também no evangelho Apócrifo de Tomé: [n. 109] Jesus disse: "O Reino é como o homem que tinha um tesouro [escondido] em seu campo sem saber. Após sua morte, deixou o campo para seu [filho]. O filho não sabia [a respeito do tesouro]. Ele herdou o campo e o vendeu. O comprador ao arar o campo encontrou o tesouro. Começou então a emprestar dinheiro a juros a quem queria. [n. 76] O Reino do pai é semelhante ao comerciante que tinha uma consignação de mercadorias e nelas descobriu uma pérola. Esse comerciante era astuto. Ele vendeu as mercadorias e adquiriu a pérola maravilhosa para si. Vós também deveis buscar esse tesouro indestrutível e duradouro, que nenhuma traça pode devorar nem o verme destruir." A primeira parábola foi enriquecida com muitos pormenores que fazem perder o centro do anúncio. Por exemplo, o trabalhador tornou-se proprietário e aparece um filho que não consta no texto canônico. Perde-se a ideia central da alegria em adquirir o tesouro e a perola, e só fica a ostentação da riqueza. As parábolas foram utilizadas em sentido "gnóstico", isto é, como suporte de uma filosofia que se baseava no “conhecimento”. Também o Talmude retoma o assunto do tesouro reencontrado: “Após alguns dias, rabi Judá foi lavrar a outra metade do campo, enquanto lavrava a terra afundou diante dele e seu boi caiu dentro causando uma fratura. Ele desceu no buraco para socorrer o boi, mas Deus lhe abriu os olhos e aí encontrou um tesouro. Então exclamou: o boi quebrou uma pata para o meu bem”. 31 AS PARÁBOLAS DO TESOURO, DA PÉROLA E DA REDE (Mt. 13,44-53) Parábolas do tesouro e da pérola: a técnica do “paralelismo” Os dois trechos são construídos com a técnica literária do “paralelismo sinonímico”, muito usado na literatura bíblica e rabínica do tempo, manifestado na sequência dos verbos: Achar Ir Vender Comprar Apesar do paralelismo as duas parábolas têm uma diferença fundamental: Parábola do tesouro O primeiro homem, provavelmente um braceiro, não procura nada e a sorte lhe vem por acaso. Trata-se de “um golpe da sorte”. O “tesouro” é encontrado “de repente”. Parábola da pérola O segundo é um profissional pesquisador de pérolas, rico, que de repente, encontra a sorte sempre procurada. É mais fruto de um “cálculo”. A pérola é fruito da “procura”. Os verdadeiros protagonistas desta história não são o braceiro e o comerciante, mas o tesouro e a pérola, porque são aqueles que agarram, pegam de repente e fazem com que a gente largue tudo porque encontrou a 32 oportunidade da vida. AS PARÁBOLAS DO TESOURO, DA PÉROLA E DA REDE (Mt. 13,44-53) Parábolas do tesouro e da pérola: aprofundamento e reflexão A necessidade de vender tudo: Não se age com base num sacrifício: As parábola afirmam que precisa ser feito com alegria. O que se ganha não é proporcional ao que se deixa. O compromisso que o Reino exige não se realiza com um esforço de vontade, mas sob o impulso da alegria de ter descoberto um valor imprevisto. A renuncia a tudo o que a gente possui não é então um ato ascético, mas espontâneo. A alternativa irrenunciável: Ou o Reino, ou as outras posses. Os “filhos do Reino” adquiriram um bem de valor inestimável, mas por fora parecem iludidos e falidos. Sua riqueza é desmedida, mas escondida. O Reino de Deus é uma realidade bonita, um “bom negócio” e a gente não o escolhe sob pressão ou como um grande peso a suportar. O Reino de Deus não é fruto do sacrifício e do esforço humanos. Muitas vezes nós salientamos os esforços que fazemos para procurar, vivendo o evangelho, mas nada disso se encontra em todas as parábolas do Reino. A abertura aos pagãos: No braceiro sortudo é possível ver os cristãos provenientes do paganismo: encontram sem ter esperado e procurado. No rico comerciante os cristão vindos do judaísmo: encontram após longa busca. 33 AS PARÁBOLAS DO TESOURO, DA PÉROLA E DA REDE (Mt. 13,44-53) Parábolas do tesouro e da pérola: evocação das bem-aventuranças (Mt. 5,3) 3 «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. Vai, cheio de alegria e vende seus bens Acha o tesouro….. Acha a pérola…. A total disponibilidade a Deus exclui toda idolatria das riquezas. Vender o que se tem não está finalizado a uma perda, mas a permitir a aquisição de um tesouro precioso que causa plenitude de alegria. No Evangelho de Mateus por sete vezes, então na plenitude, encontra-se a alegria. No Reino de Deus não se entra, quem sabe por quais esforços, mas porque encontra-se um tesouro precioso. O perigo, que é tragédia também, é que pode acontecer de deixar tudo e não encontrar nada e é o fracasso da vida. A experiência de Paulo, fariseu de estrita observância, é iluminante: (Fil. 3,7-8) [7] Por causa de Cristo, porém, tudo o que eu considerava como lucro, agora considero como perda. 8 E mais ainda: considero tudo uma perda, diante do bem superior que é o conhecimento do meu Senhor Jesus Cristo. Por causa dele perdi tudo, e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo, (Mt. 19,27) 27 Então Pedro tomou a palavra, e disse: Vê! Nós deixamos tudo e te seguimos. O que vamos receber?» 34 AS PARÁBOLAS DO TESOURO, DA PÉROLA E DA REDE (Mt. 13,44-53) Parábola da rede: o conteúdo A parábola está em paralelo com a do joio. Em comum têm os dois momentos finais: a colheita e a seleção. Agora é o tempo da pescaria e a rede de Deus está lançada, para apanhar, se possível, todos os homens. A seleção será depois. Como o pescador não pode escolher o conteúdo enquanto arrasta a rede ao mar, assim Deus não opera nenhuma predestinação ou seleção antes do tempo final. Seu desejo é que a rede esteja cheia. O termo “mau”, literalmente é “podre”, sem vida. Não depende da birra de Deus condenar ou salvar, como a seleção do peixe não depende dos gostos do pescador. Ele se limita a constatar, recolher e separar o bom do podre. Sob a superfície da água não dá para julgar quanto e qual peixe a rede está apanhando. Só Deus conhece o segredo dos corações e o caminho tortuoso que cada um deve seguir para sair penosamente do seu mal pessoal. Os peixes na rede não são todos iguais, mas o diferente não é necessariamente o ruim. 35 AS PARÁBOLAS DO TESOURO, DA PÉROLA E DA REDE (Mt. 13,44-53) Parábola da rede: a conclusão A parábola, apesar de sua conclusão um pouco ameaçadora, é uma mensagem de amor e de esperança. A imagem da “fornalha ardente” e a expressão “choro e ranger de dentes”, já estavam presentes na parábola do joio para indicar uma grande frustração por ter falhado o oportunidade da vida. Quem recusa amar e se fecha à vida, apodrece. Não se apodrece porque se comete pecados, culpas, se apodrece quando não se arrisca a própria vida. O tempo da colheita ou da pesca abundante são tempos de alegria e não de terror. O papel dos crentes é a pesca não a seleção. Se a pesca será feita sob a palavra de Jesus e como Jesus, será abundante. Como a parábola do joio, também a da rede nos convida a ser realistas e a não sonhar comunidades perfeitas feitas de puros e santos, mas acolher a comunidade feita de homens com todos seus impulsos e heroísmos, mas também com todos seus defeitos, covardias e mesquinharias. 36 AS PARÁBOLAS DO GRÃO DE MOSTARDA E DO FERMENTO (Mt. 13,31-33) 31 E Jesus contou outra parábola: «O Reino do Céu é como uma semente de mostarda que um homem pega e semeia no seu campo. 32 Embora ela seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior do que as outras plantas. E se torna uma árvore, de modo que os pássaros do céu vêm e fazem ninhos em seus ramos.» 33 Jesus contou-lhes ainda outra parábola: «O Reino do Céu é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado.» 37 AS PARÁBOLAS DO GRÃO DE MOSTARDA E DO FERMENTO (Mt. 13,31-33) Parábolas do grão de mostarda e do fermento: Introdução “Falei muito de Deus, porém sei que está além de todos nossos conceitos, formulas, dissertações" (Karl Rahner) As duas parábolas afirmam que Deus está além; mas não no sentido que nós entendemos. Ele está além porque é mais pequeno do que pensamos, mais humilde do que imaginamos, mais simples do que cremos e mais perto de nós do que esperamos. Deus é tão além, tão grande de puder se mostrar pequeno e pobre. Este é o escândalo do Reino de todos os tempos. As parábolas evidenciam o contraste entre os começos modestos, uma semente ou um punhado de fermento, e o resultado final do processo do Reino, uma árvore ou um bocado de massa fermentada. A parábola do grão de mostarda responde à tentação de usar os instrumentos do poder para ser uma potência. A parábola do fermento responde à tentação de desânimo. Os sujeitos das duas parábolas são um homem e uma mulher. As imagens que Jesus nos dá de Deus e de seu agir, são sempre imagens que correspondem à realidade masculina e feminina. Por trás do grão de mostarda e da farinha, que expressam a realidade do Reino, há sempre um Deus que manifesta seu carinho materno e paterno. 38 AS PARÁBOLAS DO GRÃO DE MOSTARDA E DO FERMENTO (Mt. 13,31-33) Parábola do grão de mostarda : a árvore imagem do reino (Jz. 9,8-15) 8 Certo dia, as árvores se puseram a caminho para ungir um rei que reinasse sobre elas. Disseram à oliveira: ‘Reine sobre nós’. 9 A oliveira respondeu: ‘Vocês acham que vou deixar o meu azeite, que honra deuses e homens, para ficar balançando sobre as árvores?’ 10 Então as árvores disseram à figueira: ‘Venha você, e reine sobre nós’. 11 A figueira respondeu: ‘Vocês acham que vou deixar o meu doce fruto saboroso, para ficar balançando sobre as árvores?’ 12 Então as árvores disseram à videira: ‘Venha você, e reine sobre nós’. 13 A videira respondeu: ‘Vocês acham que vou deixar meu vinho novo, que alegra deuses e homens, para ficar balançando sobre as árvores?’ 14 Então todas as árvores disseram ao espinheiro: ‘Venha você, e reine sobre nós’. 15 Então o espinheiro respondeu às árvores: ‘Se vocês querem mesmo me ungir para reinar sobre vocês, venham e se abriguem debaixo da minha sombra. Senão, sairá fogo do espinheiro e devorará os cedros do Líbano’. (Dn. 4,16b-19) «Meu senhor, que o sonho valha para os seus inimigos, que o seu significado seja para os seus adversários. 17 Vossa Majestade viu uma árvore muito grande e forte; sua copa atingia o céu e podia ser vista do mundo inteiro; 18 sua folhagem era bonita e tinha frutos abundantes para alimentar o mundo todo; à sombra dela viviam as feras do campo e nos seus galhos se aninhavam as aves do céu. 19 Pois bem! Essa árvore é Vossa Majestade, tão grandioso e magnífico. O domínio de Vossa Majestade alcança até o céu e o seu império chega até os confins do mundo. Não é verdade que a mostarda “se torna uma árvore”, porque é um arbusto. Jesus a compara a uma árvore para evocar uma imagem presente no AT, que utiliza a árvore para falar de um reino. (Ez. 31,2-3.5-6.10-12) «Criatura humana, diga ao Faraó, rei do Egito, e a todo o seu exército: Com quem você se parece na sua grandeza? 3 Você é como um cedro do Líbano, com bela ramagem, sombra espaçosa, de tronco alto, com a ponta entre as nuvens 5 Por isso, ele superou em altura todas as árvores do campo. Seus galhos se multiplicaram e seus ramos se estenderam, por causa das águas que lhe deram crescimento. 6 Entre seus ramos, as aves do céu fizeram seus ninhos; debaixo de seus galhos, as feras do campo tinham suas crias, e à sua sombra se assentaram as grandes nações. 10 Por isso, assim diz o Senhor Javé: Ele se tornou tão alto, colocou sua ponta entre as nuvens e se encheu de soberba, por causa da sua grandeza. 11 Pois bem! Vou entregálo a uma nação mais poderosa, para que o trate de acordo com a injustiça dele. 12 Os bárbaros mais ferozes o cortaram e o jogaram barranco abaixo: seus ramos caíram pelos vales, sua copa se desgalhou pelas correntezas do país. Os povos da terra fugiram de sua sombra e o deixaram abandonado. 39 AS PARÁBOLAS DO GRÃO DE MOSTARDA E DO FERMENTO (Mt. 13,31-33) Parábola do grão de mostarda: o reino de Israel e o Reino de Deus A árvore, imagem dos reinos humanos, tornou-se sucessivamente uma imagem clássica para indicar o Reino de Deus, que deveria substituir estes reinos que se tornaram prepotentes e arrogantes O reino de Israel segundo Ezequiel (Ez. 17,22-23) [Assim diz o Senhor Javé: Eu mesmo vou tirar da copa daquele cedro um broto; da ponta cortarei um ramo bem viçoso, e eu mesmo vou plantá-lo no alto de um monte elevado. 23 É nas alturas da montanha de Israel que vou plantá-lo. Vai soltar ramos e produzir frutos, e se transformará num cedro gigante. Os passarinhos farão nele seus ninhos, e os pássaros se abrigarão à sombra de seus ramos. O Reino de Deus segundo Jesus Não é plantado sobre um “monte”, mas “no campo”, na terra, na horta de casa. No fim não será um “cedro”, mas um “arbusto” Não nascerá da um “galho” tirado do cedro, ma è uma “semente”. Não prolonga o passado mas é completamente novo. Os “pássaros”, símbolo dos pagãos, não estarão “em baixo”, mas se “aninharão”; será seu habitat natural. (Mt. 13,31-32) 31 E Jesus contou outra parábola: «O Reino do Céu é como uma semente de mostarda que um homem pega e semeia no seu campo. 32 Embora ela seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior do que as outras plantas. E se torna uma árvore, de modo que os pássaros do céu vêm e fazem ninhos em seus ramos.» 40 AS PARÁBOLAS DO GRÃO DE MOSTARDA E DO FERMENTO (Mt. 13,31-33) Parábola do grão de mostarda : a nova lógica do Reino de Deus (1) O Reino de Deus não pode ser comparado aos reinos da terra que, mesmo poderosos e vistosos, estão sujeitos a ruinar. O Reino de Deus não cativa a atenção pela sua magnificência, se o fizer, significa que de alguém outro, mas não de Deus. A comunidade do Reino será ativa e eficaz; tem como modelo uma planta infestante. Como a planta infestante, o Reino chegará em toda parte, mas mesmo no máximo desenvolvimento será uma realidade modesta. O modo de intender o Reino pelos Judeus, era para Jesus, uma forma de idolatria. Se o Reino tivesse sido como Israel o esperava, não haveria tido diferença alguma com os impérios que o precederam e que depois seguirão na história. Jesus se opõe à mania de grandeza: uma tentação constante dentro da comunidade, por ele já recusada no deserto. (Mt. 4,8-9) 8 O diabo tornou a levar Jesus, agora para um monte muito alto. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e suas riquezas. 9 E lhe disse: «Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar.» O “diabo” se coloca a disposição do Messias para que exerça seu reino através do triunfo e do sucesso. Quem utiliza os instrumentos do poder e do dinheiro pelos quais se compra praticamente tudo e todos, para difundir a mensagem de Jesus, são os adoradores de Satanás. 41 AS PARÁBOLAS DO GRÃO DE MOSTARDA E DO FERMENTO (Mt. 13,31-33) Parábola do grão de mostarda : a nova lógica do Reino de Deus(2) Com as armas do poder, do sucesso e do dinheiro a estrada é muito mais fácil e rápida. Com o fascínio que exerce o poder, seria mais fácil tocar pra frente o Reino de Deus, mas seria um Reino de pessoas compradas e Jesus quer um Reino de pessoas livres. Todas as parábolas têm em comum um fato: sempre está presente um processo de crescimento. Quem tenta acelerar este processo de crescimento corre para o fracasso. Não ver o fruto imediato, não deve levar ao desânimo. (1Jo. 3,2) 2 Amados, desde agora já somos filhos de Deus, embora ainda não se tenha tornado claro o que vamos ser. Sabemos que quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque nós o veremos como ele é. (Mt. 7,13-14) 13 «Entrem pela porta estreita, porque é larga a porta e espaçoso o caminho que levam para a perdição, e são muitos os que entram por ela! 14 Como é estreita a porta e apertado o caminho que levam para a vida, e são poucos os que a encontram!» A recusa do poder torna a difusão da comunidade mais lenta, porque não obriga as pessoas e não as compra. Jesus recusa esta lógica e sabe que precisa muita paciência para ver os frutos. Este pequeno broto de vida divina, procura abrir caminho lentamente, rompendo os torrões do egoísmo, com todos os perigos que enfrenta uma plantinha que quer se tornar árvore. 42 AS PARÁBOLAS DO GRÃO DE MOSTARDA E DO FERMENTO (Mt. 13,31-33) Parábola do fermento : a simbologia do fermento (1) O “fermento” era uma imagem proverbial: na Páscoa, por exemplo, se utilizava pão não fermentado porque era o “pão da aflição”, sinal da “pressa” com que o povo saiu do Egito. A imagem contrasta com a cena familiar descrita na parábola, porque a mulher tem todo o tempo para fazer fermentar a massa. O pão fermentado era sinal dos homens livres. A caraterística proverbial do fermento era a de fermentar, isto é invadir a massa de maneira escondida e silenciosa. (Mt. 16,6.11-12) [6 Então Jesus disse: «Prestem atenção, e tomem cuidado com o fermento dos fariseus e dos saduceus.» 11 Como é que não compreendem que eu não estava falando de pão com vocês? Tomem cuidado com o fermento dos fariseus e saduceus.» 12 Então eles perceberam que Jesus não tinha falado para tomar cuidado com o fermento de pão, mas com o ensinamento dos fariseus e saduceus. (1Cor. 5,6-8) 6 O motivo do orgulho que vocês têm não é coisa digna! Vocês não sabem que um pouco de fermento leveda a massa toda? 7 Purifiquem-se do velho fermento, para serem massa nova, já que vocês são sem fermento. De fato, Cristo, nossa páscoa, foi imolado. 8 Portanto, celebremos a festa, não com o velho fermento, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com pães sem fermento, isto é, na sinceridade e na verdade. O fermento é considerado um elemento impuro e era um sinal para indicar o poder de contaminação do mal. (Gal. 5,7-10) 7 Vocês estavam correndo bem. Quem foi que colocou obstáculo para que vocês não obedeçam mais à verdade? 8 Tal influência não vem daquele que chama vocês. 9 Um pouco de fermento basta para levedar toda a massa! 10 Confio no Senhor que vocês estão de acordo com isso. Aquele, porém, que os perturba sofrerá condenação, seja quem for. 43 AS PARÁBOLAS DO GRÃO DE MOSTARDA E DO FERMENTO (Mt. 13,31-33) Parábola do fermento : a simbologia do fermento(2) A parábola revira a imagem popular do negativo para o positivo. O fermento não é mais imagem devastadora do mal, mas do poder salvífico, penetrante e transformador do Reino dos Céus, que se opõe ao “fermento dos fariseus”. Este reviramento indica que o bem é mais forte do mal. O Reino do céus tem uma força que não se pode conter, como a do fermento, capaz de mudar o mundo. Os cristãos não devem temer em “desaparecer”, em “ficar escondidos”, no meio das realidades deste mundo, porque é mesmo por meio deles que estas realidades podem crescer no amor. Este aspecto é manifestado através da desproporção de outro elemento da parábola, a farinha, que constitui outra chave de leitura do texto. 44 AS PARÁBOLAS DO GRÃO DE MOSTARDA E DO FERMENTO (Mt. 13,31-33) Parábola do fermento : “Quarenta quilos de farinha??!!” O termo “medida”, literalmente é “staia”, uma unidade de peso que equivale a pouco mais de 13 kg. A mulher amassa o fermento com quarenta quilos de farinha. È uma quantia enorme para um pouquinho de fermento, que não é suficiente a fazê-la fermentar. Jesus usa intencionalmente esta expressão porque se encontra na história de Israel todas as vezes que, num momento de desânimo, Deus intervêm para garantir que sua promessa será cumprida. (Gên. 18,6.10) 6 Abraão entrou correndo na tenda onde estava Sara, e disse a ela: «Depressa! Tome vinte e um litros de flor de farinha, amasse-os e faça um pão grande». O hóspede disse: «No próximo ano eu voltarei a você. Então sua mulher já terá um filho». Sara estava na entrada da tenda, atrás de Abraão, e ouviu isso. (1Sam. 1,19-20.24) Levantaram-se de madrugada, adoraram a Javé e voltaram para casa. Chegando a Ramá, Elcana se uniu à sua mulher Ana, e Javé se lembrou dela. 20 Ana ficou grávida e, no tempo certo, deu à luz um filho, e lhe deu o nome de Samuel, dizendo: «Eu o pedi a Javé». 24 Logo que o desmamou, o levou até o santuário de Javé em Silo, com um bezerro de três anos, quarenta e cinco quilos de farinha e quarenta e cinco litros de vinho. O menino era ainda muito pequeno. (Jz. 6,15-19) 15 Gedeão replicou: «Meu Senhor, como posso salvar Israel? Meu clã é o mais fraco da tribo de Manassés, e eu sou o caçula da casa de meu pai!» 16 Javé lhe disse: «Eu estarei com você, e você derrotará os madianitas como se fossem um só homem». 17 Gedeão insistiu: «Se alcancei teu favor, dá-me um sinal de que és tu quem fala comigo. 18 Não vás embora antes que eu volte e te faça uma oferta». Javé respondeu: «Ficarei aqui até você voltar». 19 Gedeão foi preparar um cabrito e fez pães sem fermento com uma medida de farinha. Colocou a carne numa cesta e o caldo na panela. Trouxe tudo e ofereceu a Javé, debaixo do carvalho 45 AS PARÁBOLAS DO GRÃO DE MOSTARDA E DO FERMENTO (Mt. 13,31-33) Parábola do fermento : Aprofundamento (1) Estas indicações de trechos bíblicos faziam compreender aos ouvintes que Deus estava preparando um banquete extraordinariamente abundante, imagem tradicional sobretudo nos profetas, para indicar o Reino de Deus, e que agora estava colocando fermento na massa. A parábola para com a farinha misturada ao fermento e pronta para fazer o pão. A abundância da massa é só anunciada e garantida, mas ainda estamos no tempo do preparo. Teremos o pão no fim: agora o fermento é fermento e a massa é massa e nenhum dos dois é pão. (Lc. 17,20-21) 20 Os fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Jesus respondeu: «O Reino de Deus não vem ostensivamente. 21 Nem se poderá dizer: ‘Está aqui’ ou: ‘está ali’, porque o Reino de Deus está no meio de vocês.» O Reino de Deus age por dentro da humanidade mesma. Jesus garante à sua comunidade que será como o fermento, uma pequena coisa, mas capaz de fazer fermentar uma massa enorme. Os crentes não devem perder a força agressiva do fermento, em outras palavras, não diluir a mensagem de Jesus. Os crentes não podem ficar segregados da humanidade. As tal ditas “fortalezas” da espiritualidade correm mesmo este perigo. Jesus não olhou o homem do alto, não se colocou fora da sociedade a quem se dirigia, mas procurou fermentá-la por dentro. 46 AS PARÁBOLAS DO GRÃO DE MOSTARDA E DO FERMENTO (Mt. 13,31-33) Parábola do fermento : Aprofundamento(2) Do relato emerge a extraordinária potência do Reino. Ao mesmo tempo emerge a “lei” do Reino: Deus se serve de coisas pequenas e insignificantes para fazer coisas grandes e extraordinárias. (1Cor. 1,21-24) 21 De fato, quando Deus mostrou a sua sabedoria, o mundo não reconheceu a Deus através da sabedoria. Por isso através da loucura que pregamos, Deus quis salvar os que acreditam. 22 Os judeus pedem sinais e os gregos procuram a sabedoria; 23 nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. 24 Mas, para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, ele é o Messias, poder de Deus e sabedoria de Deus O Reino já está presente mas não em modo espectacular. Deus escolheu o caminho cumprido e não vistoso do desenvolvimento interior que passa pelos corações. Ele não renova as estruturas sem antes renovar o homem, porque são os homens novos que criam estruturas novas. Nos primeiros séculos da Igreja, os Padres tinham bem compreendido esta mensagem. (A Diogneto V,1-2.4-10) [1] Os cristãos nem por país, nem por voz, nem pelos costumes se distinguem dos outros homens. [2] De fato não habitam cidades próprias, ou usam um jargão que é diferente, nem levar uma vida especial. [4] Viver em cidades gregas e bárbaras , como a cada um aconteceu, e se adequando aos costumes locais em alimentação, vestuário e outras coisas, testemunham um método de vida social admirável e certamente paradoxal. [5] Eles vivem em sua terra natal, mas como estrangeiros, participam de tudo como cidadãos e de tudo se desapegam como estrangeiros. Toda terra estrangeira é sua pátria, e cada pátria é estrangeira [6] Casam-se como todos e geram filhos, mas não jogam fora os bebês. [7] Eles põem a mesa em comum, mas não a cama. [8] Estão na carne, mas não vivem segundo a carne. [9] Eles habitam na terra, mas têm sua cidadania no céu. [10] obedecem às leis estabelecidas, e com sua vida superam as leis. 47 AS PARÁBOLAS DO GRÃO DE MOSTARDA E DO FERMENTO (Mt. 13,31-33) Parábolas do grão de mostarda e do fermento: reflexão A parábola do fermento ilustra também um método pastoral para quem anuncia o Evangelho: é necessário não se afastar das pessoas, mas se misturar com elas até se esconder com elas. Há um convite para inverter as caraterísticas da Igreja que devem causar interesse. Não são as caraterísticas externas que devem causar interesse (a torre mais alta, a construção mais bonita, a capacidade de cativar as multidões, a presença maciça dos meios de comunicação). Mas são as caraterísticas internas (a presença quotidiana, a capacidade de transformação, a penetração nas estruturas humanas, a força do Espirito de Deus). Se o Reino se tornar uma instituição autossuficiente e parar de ser um grão de mostarda, falta a condição para o crescimento. A fraqueza dos homens do Reino é a sua força, porque somente então encontram em Deus toda a confiança e todo apoio necessário. Então, é necessário que os crentes abandonem os apoios terrenos, se tornem pobres, humildes, fracos, para que a Igreja adquira os traços que Jesus quis. Quem sonha ver o Reino de Deus, ou a Igreja, majestoso e excelso, se impor com a força das instituições, com a eloquência das estatísticas e a eficiência de seus membros, errou de época: ainda vive no Antigo Testamento. 48