Max Scheler e a ética
cristã, a crítica de
Karol Wojtila
José Mauricio de Carvalho
Universidade Federal de São João
del-Rei - UFSJ
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I. Considerações
iniciais
I. Considerações iniciais
A ética é disciplina filosófica e sua origem histórica remonta à antiga
Grécia, sendo a Ética a Nicômaco, de Aristóteles, o livro fundamental.
Aristóteles fez uma análise racional dos costumes das cidades estados
e assim, a ética consolidou-se na tradição ocidental como reflexão
racional sobre os costumes aceitos, considerados adequados e justos
para promover a felicidade.
I. Considerações iniciais
A tradição ética herdada dos gregos estabeleceu um diálogo com a
moral judaico-cristã, que no início da Idade Média já se tornara
referência para o homem europeu. A moralidade judaica nasceu
associada à religião e foi delineada no Pentateuco, no Velho
Testamento.
I. Considerações iniciais
Em nossa cultura distinguimos, portanto, duas tradições, a grega e a
judaico-cristã, cada qual com seu propósito, mas que se
entrecruzaram na formação da cultura ocidental. O cristianismo foi
quem primeiro aproximou a herança grega da tradição judaica e
abriu espaço para um diálogo entre a moral religiosa e filosófica.
Contudo, não podemos entender que, enquanto disciplina filosófica,
a Ética esteja na dependência da religião.
I. Considerações iniciais
A ética filosófica possui tradição própria e tem objetivos diversos da
ética judaico-cristã.
II. Scheler e a ética
cristã
II. Scheler e a ética cristã
Ao examinar os desafios da Ética no início do século passado, o
filósofo alemão Max Scheler (1874-1928) deparou-se com o
formalismo kantiano e com a crítica que Nietzsche fez à moral cristã,
que ele sintetiza no nome moral dos ressentidos. Esses eram os dois
modelos éticos em vigor na Alemanha quando Scheler viveu.
II. Scheler e a ética cristã
Scheler examina o ressentimento de que fala Niestzsche no livro O
ressentimento na moral e o apresenta (1933) "como a reação emocional
frente ao outro, reação que sobrevive e revive repetidamente" (p. 10).
Trata-se, explica, de "uma descarga sistemática de certas emoções e
afetos" (idem, p. 14) que reprime o impulso de vingança, o ódio, a
maldade, a inveja, a maldade, etc. É uma moral de fracos, acreditava
Nietzsche, daqueles que esperam que Deus lhes vingue as
humilhações sofridas.
II. Scheler e a ética cristã
O assunto foi retomado em Da reviravolta dos valores onde o pensador
faz extensa análise da noção de amor encontrada no pensamento
antigo e mostra que o amor cristão representa uma novidade em
relação ao que ensinavam os antigos. Para os gregos, por exemplo,
havia continuidade entre o amor carnal e o amor desinteressado no
bem do outro, o que não ocorre na ética cristã. Explica Scheler a
diferença entre ambas (1994): "ao contrário desta concepção (grega), o
amor cristão é uma intenção espiritual supranatural, que rompe toda
a regularidade da força vital posta, como por exemplo, o ódio ao
inimigo, a vingança, e a promessa de desforra" (p. 91).
II. Scheler e a ética cristã
O sacrifício cristão não é feito, comenta Scheler, por menosprezo à
força vital como julgara Nietzsche, mas é um impulso a favor da vida
no sentido pleno. O não se angustiar pelo dia de amanhã, por
exemplo, não é uma rejeição dos bens e da vida cômoda, mas uma
confiança na força da vida para solucionar os problemas vindouros,
para o que a preocupação e a angústia de hoje nada contribuem. E a
confiança na vida promove valores positivos. Assim, ao examinar a
moral evangélica do amor ao próximo como síntese da judaica,
Scheler avalia, contra a interpretação de Nietzsche, que "tudo isso não
me determina a acreditar em ressentimento" (p. 105).
II. Scheler e a ética cristã
E ao considerar o amor do evangelho como o amor ético por
excelência (e não um tipo de ressentimento), Scheler atrai os melhores
intérpretes da ética cristã para examinarem suas teses. Sua
contribuição mais relevante para a Ética está no livro O formalismo da
ética e a ética material dos valores (1921), onde trata o legado e os limites
do modelo ético kantiano.
II. Scheler e a ética cristã
Em 1953, na Universidade da Gracóvia, Karol Józef Wojtyla (19202005) defendeu tese em filosofia intitulada Max Scheler e a ética cristã.
A tese avaliava a aproximação entre a ética filosófica de Scheler e a
moral cristã no mundo contemporâneo. O essencial da tese de
Wojtyla está no fato de que, mesmo formado no tomismo
conservador de seu professor, o monge dominicano Reginald Marie
Garrigou-Lagrange (1877-1964), uma das referências contemporâneas
do tomismo, ele adquiriu bom conhecimento da filosofia
fenomenológica e dialoga com ela.
III. Aprofundando a
posição de Scheler e
as marcas da
diferença
III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
Na tese de doutoramento mencionada no item anterior, Karol
Wojtyla toma como exemplo da ética contemporânea a axiologia de
Max Scheler. Wojtyla percebeu que ao colocar o tema dos valores no
âmbito da experiência, Scheler apontava uma nova direção para a
Ética. Ele explica que a ética fenomenológica do alemão se baseia na
experiência e esclarece que (1993): "a experiência em que a ética se
baseia difere daquela em que se fundam as chamadas ciências exatas"
(p. 17).
III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
Por isso, esclarece Wojtyla, na crítica de Scheler ao modelo ético
kantiano, ele afirma que não faz sentido o apriorismo ou o caráter
formal que Kant transportou da razão teórica para a razão prática.
III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
E como superar o caráter formal do modelo ético kantiano? Ele
contorna o problema kantiano não separando a experiência vivida do
valor experimentado. É o que observa Wojtyla no texto que se segue:
"são objetos da experiência aqueles conteúdos que fundam a essência
da experiência ética vivida, isto é, os valores" (idem, p. 19). Wojtyla
ainda diz que Scheler não define o que são os valores. No entanto,
como percebeu Antônio Paim, Scheler tem claro entendimento do
que eles sejam os valores e comenta o fato em A problemática do
culturalismo como se segue (1995): "os valores correspondem a
qualidades que todos conhecemos: agradável, bom, mau, valente,
trágico, etc. e formam uma esfera de objetos com conexões e relações
especiais" (p. 23).
III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
No parágrafo acima indica-se que na fenomenologia não se considera
o valor em si, ou objeto em si, mas como objeto da experiência, isto é,
quando tratamos de algo pensado não podemos separá-lo do ato de
pensar. A experiência dos valores tem, para Scheler, caráter
emocional, não como estado afetivo, mas como sentimento puro de
significado intencional. Intencional no sentido fenomenológico de
consciência de.
III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
Pois bem, para Scheler, a percepção afetiva dos valores se dá em atos
que também têm caráter cognitivo, além do aspecto emocional. É esse
ato de consciência que é captado de forma intencional. Portanto, a
investigação ética para Scheler devia se manter nos limites da
experiência fenomenológica. Entre as experiências que o homem
pode ter do mundo, as de caráter emocional estão entre as mais
profundas e é nelas que residem os valores.
III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
“Cada bem corresponde a uma constelação de valores, fundada num
valor central. Nos bens, os valores se realizam, razão pela qual são
objetivos e reais. Mas, prossegue Scheler, os valores como tais são
objetos ideais. Graças a isso, conclui-se que nenhuma teoria dos
valores pode pressupor bens ou coisas, mas também que é possível
encontrar uma série material de valores e uma ordem completamente
independente e a priori frente aos bens” (Paim, Tratado de Ética, 2003,
p. 328).
III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
A noção de bem associada a valor é o que distancia a ética
fenomenológica de Scheler do modelo ético kantiano. Para Kant, o
que é bom ou mal varia segundo a conformidade com imperativo
categórico, o que está de acordo com ele é bom e o que não está é mal;
para Scheler, os valores morais são concordes com os valores
objetivos e são eles próprios valores.
III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
A experiência dos valores pode ser divida em bem e mal. Isto é, além
dos valores éticos, os valores de bem e mal, que são secundários,
também aparecem nas escolhas. Bem é o que está junto com um valor
superior e realiza algo positivo, negativo é o valor que resulta de uma
ação que realiza um mal. Essa distinção significa que há uma
hierarquia nos valores, conforme sejam melhores ou piores os valores
procurados.
III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
Como os valores morais se organizam na vida da pessoa? Para
responder esta questão Scheler desenvolve o conceito de ethos. Uma
hierarquia de valores objetivos formam o ethos, Scheler estabelece
uma tipologia que organiza os valores em modelos como os abaixo:
“O fruidor, tocado pelos valores sensoriais, alegria, tristeza, prazer; o
técnico, que vive em função do que é útil ou danoso; o herói,
estimulado pelos valores vitais; o gênio, guiado pelos culturais; o
artista, pelos estéticos; o legislador, pelos ético-jurídicos; o sábio, pelos
especulativos; e o santo, pelos religiosos.”
III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
Sobre a qualidade dos valores e sua organização escreveu Scheler em
Le formalisme en éthique (1955):
“Existem qualidades axiológicas autênticas e verdadeiras, que
constituem domínio próprio de objetos, que entretêm entre si certas
relações e correlações determinadas, e que, enquanto qualidades
axiológicas, podem situar-se em níveis diferentes. Deve, pois, ser
possível estabelecer entre esses valores uma ordem e uma hierarquia
totalmente independentes de um mundo de bens através dos qual se
manifestam, independentes também das modificações históricas
deste mundo” (p. 39-40).
III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
Enquanto Kant enfatiza o dever de cumprir o imperativo, sendo a
ação moral a obediência ao dever, Scheler situa a ação moral na
experiência do valor. Isto permite separar o bem do valor.
III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
Além do contraponto à ética formal de Kant, o outro aspecto que
identifica a ética material dos valores de Scheler é seu vínculo à
tradição cristã, o que atraiu o interesse de Wojtyla. Scheler reconhece
que a ética ocidental depende da tradição cristã e, no seu caso, o
avizinhamento se faz pela noção de pessoa.
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III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
A noção de pessoa acima mencionada encontra na vivência do amor
um aspecto essencial. Esse amor é primeiro a si mesmo e depois ao
outro. O amor a si tem um substrato moral porque coloca a pessoa
diante de seu mundo individual e lhe permite identificar sua
vocação, conforme a preferência pelos valores ou pela tipologia
listada anteriormente.
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III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
O amor que o indivíduo sente por outra pessoa orienta sua atenção para os
valores dela e permite-lhe compartilhá-los. Assim, ele a segue e o amor que
sente pelo modelo que adota é capaz de transformar seu ordenamento
axiológico. Scheler não assume como modelo ideal a pessoa de Jesus Cristo
como faz a ética cristã, mas se refere a qualquer modelo. Esse assunto
comentamos em Experiência moral e valores no pensamento ético de Max Scheler
como se segue (2004):
“O amor ao outro decorre do amor primitivo ou fundamental a si porque
depende dele e se constrói sobre ele. Justamente por isso, o amor ao outro
não tem o mesmo peso ou significado que as éticas religiosas e metafísicas
ensinam; para Scheler, é um sentimento que se abre ao conjunto de valores
da pessoa amada. O amor permite que quem o vivencia co-experimente a
hierarquia de valores que o amado estruturou e participe dela. Ao
enriquecer com a hierarquia do amado o próprio ethos, a pessoa se torna
mais rica e fecunda” (idem, p. 55).
III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
O amor é um movimento interno, íntimo, que não pode se tornar um
dever exterior. Isto significa que o amor é um ato espontâneo do
sujeito diante do valor. No que se refere às sanções, Scheler considera
que os estados emocionais de felicidade pela escolha certa, ou de
infelicidade pela opção errada, são as sanções que a ética
proporciona, não fazendo sentido falar em outro tipo de punição na
ética. O problema da consciência moral aparece pouco na ética de
Scheler. Parece-lhe que ela não é fonte dos valores porque
frequentemente pode se enganar a respeito deles, mas é sujeito dos
valores, uma vez que recomenda sua escolha.
III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
Um aspecto importante do valor é que ele transporta o homem para a
dimensão divina, o que o eleva acima da condição natural. Neste
caso, Scheler se aproxima da tradição kantiana que encontra na
liberdade moral o elemento de sobrenatureza capaz de diferenciar os
homens dos animais, porque ele é capaz de vencer os impulsos
naturais. Scheler trata dessa sobrenatureza com o conceito de espírito
que é o conceito mais significativo de sua antropologia filosófica.
III. Aprofundando a posição de Scheler
e as marcas da diferença
A especificidade do personalismo de Scheler é que o elemento pelo
qual o homem se apresenta como ser superior aos demais é a
experiência dos valores, assim como distanciar-se do mundo é o que
lhe permite o espírito. O espírito é camada da condição humana que
fica acima da vida e da alma, e não propriamente uma espécie de
liberdade de se colocar acima da natureza pelo cumprimento da lei
moral como diziam intérpretes de Kant.
IV. Avaliação de
Wojtyla
IV. Avaliação de Wojtyla
Para Wojtyla a ética de Scheler não é uma tentativa bem sucedida de
elaborar uma ética cristã, mas uma ética filosófica contemporânea
vinculada à tradição fenomenológica. Scheler se refere à ética cristã e
seus valores para ratificar a confiança no seu sistema filosófico.
IV. Avaliação de Wojtyla
A ética cristã é diferente da formulação de Scheler, pois deve se
basear essencialmente nas fontes canônicas, reconhecidas como
revelação de Deus. Eis como o diz Wojtyla: "a ética cristã toma as
verdades éticas reveladas por Deus e propostas pela Igreja como
princípios de comportamento moral. Tais verdades estão contidas nas
fontes de revelação, isto é, na Sagrada Escritura e na Tradição" (idem,
p. 42).
IV. Avaliação de Wojtyla
Neste sentido, a ética cristã não depende de nenhum sistema
filosófico, embora possam seus princípios ser clareados por eles. O
princípio do seguimento, por exemplo, de um ideal de perfeição é
característico da ética cristã. Scheler o adotou no seu sistema como
indicamos atrás. Outro ponto fundamental da ética cristã que ele
adota é a ideia de pessoa. Contudo, a noção scheleriana de
seguimento não é a mesma que a enunciada na ética cristã, pois neste
caso exige humildade, renúncia de si e disposição para o sacrifício. A
ética cristã também é uma ética personalista, como propõe Scheler,
mas "que põe a perfeição da pessoa como fim do agir" (idem, p. 53).
IV. Avaliação de Wojtyla
Para Scheler, apesar da correta observação de Wojtyla, sua noção de
pessoa foi retirada da ética cristã e se baseia no ideal de seguimento
contido no Evangelho. Para o filósofo alemão, a pessoa está em
continua mudança porque segue um ideal ético que experimenta em
si e observa nas outras pessoas. E trata-se de ideal porque o valor é
vivido pela pessoa que traça suas escolhas pela força emocional do
amor. O modelo, já explicamos atrás, não é a pessoa real de Cristo,
como propõe a ética cristã, mas os ideais que o modelo adota.
IV. Avaliação de Wojtyla
Na ética cristã o ideal superior é religioso, enquanto que na ética de
Scheler isso só é assim para o homem religioso, mas não para todos
os homens. Cada pessoa encontra no seu ideal ético o caminho de sua
vocação que é pessoal e nasce na experiência fenomenológica. Na
ética cristã o ideal de perfeição pessoal proposto no evangelho é o
propósito de Deus para todos.
IV. Avaliação de Wojtyla
O que foi comentado mostra que não se pode aceitar o sistema ético
de Scheler como intérprete da ética cristã. E entre as razões estão
outras diferenças como a ética de Scheler não ir além da experiência
fenomenológica dos valores. A diferença mais importante entre a
ética de Scheler e a cristã está na recompensa. Ao preconizar que o
que temos é a experiência do valor e a vivência emocional dele, sem
referência a sua realidade, a ética material dos valores reconhece um
prêmio emocional e se afasta do caráter sobrenatural da ética cristã.
IV. Avaliação de Wojtyla
A ética de Scheler não segue Kant neste ponto, já que admite uma
recompensa interior e emocional vinculada à prática da ação boa.
Porém Scheler recusa um prêmio externo ao indivíduo como é aceito
pela ética cristã e acredita, em razão disso, não ser alcançado pela
crítica kantiana. Wojtyla, em contrapartida, admite que a ética cristã é
uma ética de fins e bens, mas que não se torna um farisaísmo. Para
Wojtyla se o prêmio é sobrenatural não se pode falar de farisaísmo e
nem em barganha.
IV. Avaliação de Wojtyla
Considerando que a consciência tem um papel menos significativo no
sistema de Scheler que na ética cristã, Wojtyla entende que ela trata
mal o assunto. A consciência, para a ética cristã, funciona como
exercício da lei natural, onde todo homem descobre o caminho para a
ação em complemento ao que ensinam os textos revelados.
IV. Avaliação de Wojtyla
Eis a diferença identificada por Wojtyla, enquanto na ética cristã a
ordem da consciência tem valor imperativo e prevalente, na
segunda não tem, o ordenamento interno e o externo possuem o
mesmo peso. O fato repercute diferentemente no papel do dever nos
dois modelos éticos, pois só na ética cristã o mandato íntimo é
responsável diretamente pela escolha entre o bem e o mal.
V. Considerações
finais
V. Considerações finais
Na sua tese, Wojtyla chega a duas conclusões: a primeira é que apesar
da axiologia de Scheler aproximar-se da ética cristã, sua formulação,
devido aos fundamentos fenomenológicos e emocionais, não é
suficiente para traduzi-la. A segunda conclusão é que apesar de a
ética material dos valores não poder ser uma expressão filosófica da
ética cristã, pode "servir-nos como auxiliar no seu estudo científico.
Concretamente, facilita-nos a análise dos fatos éticos no plano
fenomenológico e experimental" (p. 171).
V. Considerações finais
Essas duas conclusões são importantes porque precisam bem como é
o diálogo entre a ética cristã e outra filosófica. Indica que se tratam
de propostas diferentes, mas mostra espaços de diálogo. No caso de
uma ética de raiz fenomenológica o caminho para o diálogo com a
ética cristã é a experiência fenomenológica e a constância axiológica,
tomada como fator de estabilidade da sociedade humana. Para
Wojtyla, o problema maior da ética de Scheler consistia em não
distinguir adequadamente a experiência e a ação moral, deixando
próximos os valores morais de outros valores como: estéticos,
materiais, econômicos, etc. Essa proximidade não caracteriza
adequadamente os valores morais.
V. Considerações finais
Da ótica em que tratou a questão, Wojtyla não observou que a
proposta de Scheler, elaborada no âmbito da escola culturalista, se
propunha a superar o neokantismo de Hermann Cohen, sem
abandonar a herança kantiana. O respeito a certas posições do
kantismo representa um ponto fundamental da ética material dos
valores, pois o kantismo é o ponto de chegada da ética moderna. E
Scheler fez isso dizendo que a experiência dos valores é objeto da
ética, inaugurando um caminho novo para a filosofia contemporânea:
o da experiência moral.
V. Considerações finais
Como os demais modelos da ética filosófica do ocidente, o de Scheler
possui elementos da ética cristã, o que reconhece Wojtyla.
Referências
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Paulo: Grijalbo, 1977.
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HESSEN, Johannes. Teoria dos valores.Coimbra: Armênio Amado, 1974.
HUSSERL, Edmund. Meditaciones Cartesianas. Madrid: Tecnos, 1986.
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______. Le formalisme en éthique et l´ethique matériale des valeurs; essai
nouveau pour fonder un personnalisme éthique. Traduction de Maurice de
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______. Da reviravolta dos valores. Petrópolis: Vozes, 1994.
WOTYLA, Karol. Max Scheler e a ética cristã. Curitiba: Champagnat, 1993.
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ilustração da conferência