História dos Portugueses no Mundo (2012/2013) Aula n. o 21 Os Portugueses no Extremo Oriente I China Os Portugueses na China As primeiras informações recolhidas pelos portugueses na China foram trazidas, tanto quanto se sabe, pelo padre José de Cranganor, em 1501. Em 1508, o rei D. Manuel I alargou os seus interesses à Insulíndia, enviando uma frota para descobrir Malaca sob o comando de Diogo Lopes de Sequeira. Esta expedição marca a entrada do Império Chinês no horizonte político da Coroa portuguesa. No regimento entregue ao capitão, o monarca pedia-lhe que se informasse sobre os «chins». Interessava ao rei saber qual era a religião desse povo, assim como o seu poderio e o tipo de relações que mantinham com os muçulmanos. Quando os navios de Diogo Lopes de Sequeira chegaram a Malaca deu-se o primeiro encontro entre portugueses e chineses. No porto malaio há muito que se estabelecera uma comunidade de mercadores chineses e o seu chefe tinha autoridade sobre os restantes comerciantes vindos do Extremo Oriente. No início do século XVI, o sultão de Malaca continuava a ser vassalo do «Filho do Céu»: a China mantinha então um grande prestígio entre os reinos do Sudeste asiático, embora já não dispusesse da mesma capacidade de mobilização militar dos séculos anteriores. Em 1511, quando Afonso de Albuquerque conquistou Malaca e estendeu a presença portuguesa até à Insulíndia: ficava assim aberto o acesso ao Império do Meio e a outras áreas da Ásia Oriental. Quando os portugueses atacaram Malaca, estava fundeada no seu porto uma frota de comerciantes «chinas» que se ofereceram ao governador português para colaborar no ataque à cidade. Logo na monção de 1512, o capitão de Malaca tentou enviar um junco a Cantão, mas a viagem gorou-se. Em 1513, porém, consumou-se a chegada dos primeiros portugueses à China. Aumentou, então, o interesse pelo comércio do Extremo Oriente, zona distante dos centros onde se encontrava, as autoridades portuguesas, começou aí a desenvolver-se um comércio indisciplinado. Remonta a este período a primeira descrição pormenorizada dos chineses feita por um português: Tomé Pires, escrivão da feitoria, contador e vedor das drogas de Maca, contactou com os chineses na cidade malaia e descreveu-os na sua Suma Oriental. Encontramos aí informações inéditas para os europeus, tais como a de os chineses comerem com pauzinhos. D. Manuel I parece ter mantido sempre um interesse especial pela China. Em 1515, encarregou Fernão Peres de Andrade de comandar a armada que deveria conduzir a primeira embaixada portuguesa ao Império do Meio. Na Índia, Tomé Pires foi escolhido para o cargo de embaixador e a armada chegou a Cantão em 1517. Fernão Peres desempenhou com mestria o seu papel e deixou o embaixador instalado em Cantão, aguardando autorização para seguir viagem até Pequim: tudo parecia bem encaminhado. Dois anos depois, as relações luso-chinesas começaram a perturbar-se com a chegada da armada de Simão de Andrade a Cantão. Avisado dos perigos da pirataria, resolveu fortificar-se em terra. Seguindo uma prática comum dos portugueses em águas orientais, mas que ia contra as concepções do poder império chinês. Ao enforcar um dos seus marinheiros e ao impedir mercadores estrangeiros de comerciarem antes de ele concluir o seu próprio negócio, Simão de Andrade fez crescer a indignação entre os oficiais chineses, pois o capitão exerceu poderes que só pertenciam ao Imperador. Simão de Andrade deixou a China em 1520, sem ter conseguido contactar com a embaixada, que ainda não regressara de Pequim. Pouco depois morreu o imperador Wu-tsung e os mercadores portugueses não respeitaram a ordem dos mandarins para que se suspendesse toda a actividade comercial. Esgotou-se então a paciência dos chineses e os portugueses que estavam em Cantão foram atacados, conseguindo apenas alguns escapar para Malaca e perdeu-se o contacto com Tomé Pires e seus companheiros, cujo verdadeiro destino nunca se chegou a conhecer. Enquanto decorriam estes acontecimentos no Extremo Oriente, em Portugal D. Manuel I, que já recebera Fernão Peres de Andrade em Évora, estaria convencido de que a sua autoridade se estendia até a mar da China. Concebeu um plano de fixação, semelhante ao que estava a ser aplicado no Índico. Ordenou a construção de uma fortaleza no litoral chinês, o estabelecimento de uma armada para o mar da China e de outra para ligar Samatra (ilha produtora de pimenta) a Cantão. Martim Afonso de Melo, nomeado pelo rei, primeiro capitão da China, chegou ao Celeste Império em 1522, mas só esteve aí duas semanas. Uma numerosa frota chinesa atacou-o, obrigando-o a retirar. A partir deste momento cessaram as tentativas da Coroa portuguesa para o estabelecimento de relações oficiais com a China. Em 1527 reapareceram juncos chineses em Malaca. Não eram, contudo originários do Kuang tung, a região de Cantão, mas do Fuquiem, província costeira situada mais a norte. Os portugueses começaram então a frequentar clandestinamente essa região. Continuaram a não existir relações oficiais, mas o litoral chinês tornou-se no paraíso dos aventureiros portugueses. Homens como Fernão Mendes Pinto e os seus companheiros de Peregrinação criaram laços cada vez mais apertados com as populações costeiras, até que em 1542 conseguiram fixarse num porto, Liampó. Pela primeira vez os portugueses tinham uma base permanente, ainda que precária, na costa chinesa e logo no ano seguinte (1543) os portugueses chegaram ao Japão. A turbulência dos aventureiros portugueses geraram diversos conflitos com as autoridades chinesas e os comerciantes portugueses acabaram por ser expulsos de Liampó em 1545 e de Chinchéu, um outro estabelecimento, em 1548. Nessa altura já não se deu uma interrupção como a de 1522 _ o comércio sino-nipónico reactivado pelos portugueses era demasiado lucrativo para que os portugueses o abandonassem. Em 1550, o governo em Goa decretou o monopólio da viagem ao Japão. A criação desta linha comercial entre a Índia e o Império nipónico permitiu o restabelecimento de uma ligação directa entre a Índia e a China, após um interregno de 117 anos. Em 1554 chegou ao mar da China Leonel de Sousa, que através de uma acção militar e diplomática conseguiu o que se afigurava impossível: uma base permanente na costa chinesa, o porto de Macau, cedido no ano de 1557. Este capitão soube negociar habilmente com as autoridades fiscais chinesas, disciplinar os aventureiros portugueses e expulsar a pirataria das águas de Cantão. A turbulência dos aventureiros portugueses geraram diversos conflitos com as autoridades chinesas e os comerciantes portugueses acabaram por ser expulsos de Liampó em 1545 e de Chinchéu, um outro estabelecimento, em 1548. Nessa altura já não se deu ima interrupção como a de 1522 _ o comércio sino-nipónico reactivado pelos portugueses era demasiado lucrativo para que os portugueses o abandonassem. Em 1550, o governo em Goa decretou o monopólio da viagem ao Japão. A criação desta linha comercial entre a Índia e o Império nipónico permitiu o restabelecimento de uma ligação directa entre a Índia e a China, após um interregno de 117 anos. Em 1554 chegou ao mar da China Leonel de Sousa, que através de uma acção militar e diplomática conseguiu o que se afigurava impossível: uma base permanente na costa chinesa, o porto de Macau, cedido no ano de 1557. Este capitão soube negociar habilmente com as autoridades fiscais chinesas, disciplinar os aventureiros portugueses e expulsar a pirataria das águas de Cantão. Macau era a ponte de ligação entre os portugueses e os chineses, mas a penetração dos portugueses n interior do país era quase impossível, pelo que as relações de Portugal com a China depois de 1557 resumem-se quase só à história deste porto. Fora das relações comerciais, deve realçar-se a actividade evangelizadora: os missionários do Padroado Português do Oriente chegaram a ocupar um lugar de alguma importância na corte imperial em Pequim. A primeira tentativa de cristianizar o Celeste Império foi empreendida por S. Francisco Xavier, que morreu antes de poder iniciar a sua pregação. Em 1563, os jesuítas estabeleceram-se em Macau, a cidade que foi erigida em sede de bispado a 10 de Fevereiro de 1575. Em 1594, os jesuítas fundaram o Colégio de S. Paulo, onde se preparava, os futuros evangelizadores do Império do Meio. A acção missionário dentro do território chinês foi iniciada pelo jesuíta Matteo Ricci (chegado a Macau a 7 de Agosto de 1582), que fundou a primeira casa de jesuítas em Shiuhing, cidade próxima de Cantão. Ao contrário do que se passava então no Japão, a propagação do cristianismo no Império chinês não foi tão bem sucedida, nem foi acompanhada de uma difusão significativa de valores ocidentais e ainda menos de valores especificamente portugueses. Os jesuítas preocuparam-se sobretudo com conversão dos oficiais do Império chinês: mandarins. Esperavam que a sua adesão cristianismo facilitasse depois a propagação religião cristã pelo Celeste Império. a os ao da Ricci preocupou-se, sobretudo, em realçar as semelhanças entre a sua religião e a dos chineses, procurou também adaptar o vocabulário cristão a expressões já existentes na língua chinesa, como se nota logo no seu primeiro catecismo em chinês, intitulado Verdadeira Explicação do Senhor do Céu, concluído em 1584. Vestindo-se como um mandarim, Ricci conseguiu ser admitido na corte imperial como um divulgador da cultura europeia. Esperava interessar os chineses com trabalhos científicos para mais tarde os conseguir cativar à «Palavra do Evangelho». Em 1633, terminou o monopólio dos jesuítas na China: as outras ordens religiosas instaladas em Manila (nas Filipinas) conseguiram, finalmente, penetra no país a partir do Fuquiem. A missão evangelizadora por parte dos portugueses não deu quase nenhuns frutos. Os portugueses conseguiram, porém, influenciar as autoridades chinesas no sentido de não proporcionarem facilidades comerciais a outras nações europeias. Nos livros dos séculos XVI e XVII, a China foi apresentada como um modelo de organização social. A sua administração hierarquizada e centralizada impressionou vivamente os seus primeiros visitantes europeus. Deu mesmo azo à criação de uma utopia – o Império Chinês como possuindo um governo de organização perfeita.