DESENVOLVIMENTO HUMANO I
MÉTODOS DE PESQUISA EM
PSICOLOGIA DO
DESENVOLVIMENTO
Importância do estudo das metodologias de
pesquisa
 Leitura crítica dos relatos de pesquisa.
 Elaboração de projetos de pesquisa.
ESTRATÉGIAS BÁSICAS DE COLETA DE
DADOS
Metodologias de auto-relato:
Entrevistas, questionários, testes psicológicos e método
clínico
Metodologias observacionais:
Observação naturalista e observação estruturada
Estudo de caso
Etnografia
Estudos psicofisiológicos
(Shaffer, 2009, p. 12-17)
Entrevistas, questionários, testes
 Série
de questões
desenvolvimento.
sobre
algum
aspecto
do
 São respondidas oralmente (entrevistas) ou por
escrito.
 Nas entrevistas e questionários estruturados, as
pessoas respondem às mesmas
apresentadas na mesma ordem.
perguntas
Entrevistas, questionários, testes
 Requerem compreensão do que está sendo solicitado e
habilidades verbais.
 Os participantes podem ocultar ou distorcer suas
respostas.
 Dificuldades de comparação nas entrevistas abertas.
Nos questionários, esses problemas são minimizados,
mas perde-se um pouco da individualidade e riqueza
das respostas.
 Em caso de respostas diferentes entre crianças e outros
informantes, é difícil determinar as respostas mais
acuradas.
Entrevistas, questionários, testes
 Estes métodos podem ser bastante úteis e proporcionar
muitas informações em um período relativamente
curto.
 Entrevistas abertas trazem ricas informações sobre
pensamentos e sentimentos.
 Se o procedimento tem o formato estruturado ou
padronizado, pode haver comparação direta entre as
respostas dos diferentes participantes.
 Testes controlados permitem excelente controle sobre a
situação.
Entrevistas, questionários, testes
 Exemplos:
- Pesquisa (1975) sobre estereótipos de gênero:
várias histórias contendo adjetivos estereotipados
foram
contadas
a
crianças
para
que
respondessem se o personagem em questão era
um homem ou uma mulher.
- Pesquisa com crianças: características atribuídas
às bonecas brancas e negras (vídeo).
Método clínico
 Semelhante à técnica de entrevista.
 Usualmente, todos os participantes começam com a
mesma pergunta/tarefa e as demais
conforme as respostas oferecidas.
variam
Método clínico
 Considera-se a singularidade de cada participante.
A
flexibilidade do método pode proporcionar
entendimento mais amplo e rico das respostas.
 Liberdade para garantir que o participante entendeu
o significado das perguntas.
 Muitas informações são coletadas em relativamente
pouco tempo.
Método clínico
 Dificuldades de comparação das respostas. Os
participantes não são tratados da mesma maneira.
 As
perguntas e as interpretações podem ser
tendenciosas, afetadas pelas concepções teóricas
do pesquisador.
 O pesquisador deve ter habilidade para formular
questões que sejam proveitosas.
 Requer domínio da atividade verbal.
Método clínico
 Exemplo:
pesquisa
de
Piaget
sobre
o
desenvolvimento moral das crianças. Questão
inicial: “Você sabe o que é mentira?”.
Jean Piaget (1896-1980)
Metodologias observacionais
 A observação do comportamento é uma alternativa
(normalmente, preferível) aos relatos, questionários
e similares.
 Questões básicas:
a) o que observar?
b) onde?
c) como registrar?
Observação naturalista
 Realizada no ambiente natural dos participantes
(ex.: lar, escola).
 Em geral, o pesquisador focaliza e registra apenas
determinados comportamentos que se relacionam
com sua hipótese.
Observação naturalista
 Não restringe a participação daqueles que não
tenham habilidades verbais (bebês e crianças
pequenas).
observadores “captam”, supostamente, o
comportamento dos participantes tais como
ocorrem no dia-a-dia.
 Os
Observação naturalista
 Ocorrências
raras
e
comportamentos
socialmente
indesejados
são
dificilmente
presenciados em ambiente natural.
 No
ambiente natural, há muitos eventos
simultâneos, tornando-se mais difícil isolar as
variáveis que estão causando o comportamento.
 A própria presença do observador pode ser uma
variável interveniente.
Observação naturalista
 Exemplo:
observação, em uma creche, das
tentativas de socialização de crianças que foram
abusadas fisicamente e de outro grupo de crianças
que não passaram pela mesma experiência.
Observação estruturada
 Realizada em laboratório por meio de câmera ou
espelho.
 É apresentada aos participantes uma situação que
pode induzir o comportamento de interesse.
 Indicada
para
observar
indesejáveis ou incomuns.
comportamentos
 Os estímulos são mais homogêneos; ambiente
padrão. As informações são comparáveis.
Observação estruturada
 Os
comportamentos observados no laboratório
podem não ser os mesmos que o participante
apresentaria no seu ambiente natural.
 Perde-se alguma validade ecológica.
Observação estruturada
 Exemplos
- crianças são induzidas a oferecer ajuda ao
pesquisador numa tarefa enfadonha e, então,
deixadas em uma sala com vários brinquedos
interessantes.
-Teste do marshmallow com crianças (vídeo).
Estudos de caso
 Vários
métodos (entrevistas, observações, testes
psicológicos etc) são empregados a fim de se obter um
quadro detalhado do desenvolvimento de um indivíduo.
 É difícil fazer comparações diretas devido à falta de
padronização dos métodos.
 Pode haver um “vazio em generalizações”, pois os
resultados obtidos em estudos de caso podem não ser
condizentes com a população geral.
 As
conclusões devem ser verificadas por outras
técnicas.
Estudos de caso
 Exemplos:
- Biografias de bebês (séc. XIX e XX). Ex.: Darwin
(1809-1882).
- Estudos de caso de Sigmund Freud (1856-1939).
Etnografia
 Método de estudo da cultura de uma determinada
comunidade e do
desenvolvimento.
seu
impacto
sobre
o
 É uma forma de observação participante muito
comum na antropologia.
 Há uma rica e extensa coleta de dados sobre
crenças, costumes etc, que dificilmente apareceriam
em entrevistas ou observações curtas.
Etnografia
A
interpretação
dos
dados
pode
ser
consideravelmente influenciada pela referência
cultural do pesquisador e por suas crenças
teóricas.
 Os resultados não são generalizáveis para outros
grupos culturais.
Etnografia
 Exemplo:
Bronislaw Malinowski (antrópologo
polonês, 1884-1942) realizou intenso estudo
etnográfico entre os nativos das ilhas Trobriand
(Nova Guiné) entre1915 e 1918.
Estudos psicofisiológicos
 Estudo
das relações entre comportamentos e
respostas fisiológicas (ex.: ritmo cardíaco, atividade
cerebral).
 Dão
indicações de experiências sensoriais,
emocionais e cognitivas, o que é especialmente útil
diante da impossibilidade de que sejam verbalizadas
(estudo de bebês, por exemplo).
Estudos psicofisiológicos
 Os resultados podem ser alterados por irritabilidade
e cansaço, por exemplo.
 As
respostas fisiológicas não são indicadores
perfeitos dos estados psicológicos. Não indica com
certeza o que o participante pensa ou sente.
Estudos psicofisiológicos
 Exemplos:
 - Estudos sobre os ciclos do sono. Padrões de
atividade no EEG caracterizam diferentes estados
de consciência.
-
MODELOS DE PESQUISA
 Modelo correlacional
 Modelo experimental
 Experimento em laboratório
 Pesquisa de campo
 Experimento natural (ou quase)
 Modelo transversal
 Modelo longitudinal
 Modelo sequencial
 Comparações interculturais
(Shaffer, 2009, p. 18-27)
Ponto de partida: um exemplo
 Problema: a exposição à violência televisionada
induz ao comportamento violento?
 Hipótese:
quanto mais as crianças observam
personagens violentos na TV, mais inclinadas
estarão a se comportar com violência com outras
crianças.
Ponto de partida: um exemplo
 Definir a amostra de crianças.
 Definir como medir as duas variáveis do estudo.
 Estratégias de coleta de dados:
- Quantos atos violentos as crianças observam na TV?
↓
Entrevista com pais
- Com que frequência as crianças agem violentamente
com seus pares?
↓
Observação natural (creche, parque etc)
MODELO CORRELACIONAL
 Coeficiente de correlação:
A presença (ou ausência) de uma relação entre as
variáveis pode ser determinada por um procedimento
estatístico que determina um coeficiente de
correlação. Este fornece uma estimativa numérica
(entre -1 e +1) da força e direção da relação entre as
variáveis.
-1...-0,8...-0,6...-0,3...0...+0,3...+0,6...+0,8...+1
MODELO CORRELACIONAL
 Coeficiente de correlação:
 O valor absoluto (sem considerar o sinal) indica a
força da relação.
 O sinal indica a direção da relação:
- sinal positivo indica que as variáveis seguem a
mesma direção. Ex.: notas escolares e auto estima.
- sinal negativo indica uma relação inversa entre as
variáveis. Ex.: violência e popularidade.
MODELO CORRELACIONAL
Retornando ao exemplo inicial:
 Muitos estudos similares a esta situação hipotética
encontraram resultados que sugerem uma correlação
moderadamente positiva entre as variáveis estudadas
(entre +0,3 e 0,5).
-1...-0,9..-0,8...-0,5...-0,3...0...+0,3...+0,5...+0,8...+0,9...+1
 Em outros termos, crianças que assistiam a muitos
programas violentos na TV agiam mais violentamente
com seus pares do que as crianças que assistiam a
poucos programas violentos.
MODELO CORRELACIONAL
 Um estudo de correlação como este é capaz de
determinar se a exposição à violência televisionada
(A) induz as crianças ao comportamento violento
(B)?
MODELO CORRELACIONAL
 A resposta é NÃO!
 Possibilidades:
A
B
B
A
C
AeB
MODELO CORRELACIONAL
Características:
 Busca
determinar se duas ou mais variáveis se
relacionam de maneira significativa em um ambiente
natural. Estima a força e a direção dessa relação
(coeficiente de correlação).
 Não determina se há relação de causa e efeito entre as
variáveis.
 Não há tentativa de manipulação do ambiente. Os
participantes da pesquisa já foram “manipulados” pelas
experiências de vida.
 Como o pesquisador pode proceder se pretende
responder se há relação causal entre exposição à
violência televisionada e comportamento violento?
MODELO EXPERIMENTAL
Características:
 Permite a determinação de uma relação causal
entre as variáveis.
 O pesquisador altera (manipula) algum aspecto do
ambiente e mede o efeito desta alteração no
comportamento dos participantes.
MODELO EXPERIMENTAL




Exemplo:
As crianças que participaram da pesquisa foram
divididas em 2 grupos.
Metade das crianças assistiu a uma cena de um
filme violento e a outra metade assistiu a uma cena
de filme não violento.
Depois, cada criança foi levada a uma sala onde
tinha 20 oportunidades de ajudar ou machucar outra
criança que supostamente estava na sala ao lado.
Resultado: crianças que assistiram à cena violenta
tenderam a escolher a opção de machucar.
(Liebert e Baron, 1972, citados por Shaffer, 2009, p. 20)
MODELO EXPERIMENTAL
 Tipos de cenas assistidas (com violência e sem violência) é a
variável independente desta pesquisa.
 A reação das crianças (ajudar ou machucar) é a variável
dependente.

-
VI:
É o aspecto do ambiente que foi manipulado.
São os procedimentos a que os participantes são expostos.
É o suposto elemento causal.
 VD:
- É o comportamento ou aspecto do desenvolvimento que
presumivelmente depende da VI.
MODELO EXPERIMENTAL
 Esta pesquisa permite determinar que a exposição a
cenas de violência na TV induz as crianças ao
comportamento violento?
 Outras variáveis poderiam ser as responsáveis pelo
resultado encontrado?
MODELO EXPERIMENTAL
 Variáveis aleatórias são todas os fatores (que não
a VI) que podem afetar a VD se não forem
devidamente controladas pelo pesquisador.
 Ex.:
violência presenciada no lar, níveis
preexistentes de violência, residir em bairro com alto
índice de violência.
MODELO EXPERIMENTAL
 O
controle experimental destina-se a tornar as
variáveis aleatórias equivalentes em cada condição
experimental.
 Uma técnica de controle experimental muito importante
é a escolha aleatória dos participantes de cada grupo.
 Grupo
experimental: recebe um determinado
tratamento que o pesquisador acredita que produzirá um
efeito específico. Ex.: grupo que assistiu ao filme
violento.
 Grupo controle: recebe um tratamento neutro ou
nenhum tratamento especial. Ex.: grupo que assistiu ao
filme neutro.
MODELO EXPERIMENTAL
 Por razões éticas, é contra-indicado quando se
pretende conhecer os efeitos de experiências que
podem trazer prejuízos físicos ou psicológicos.
O
ambiente do laboratório, por ser restrito e
controlado, pode ser artificial. Logo, as conclusões
podem não ser válidas para o mundo real.
↓
 O experimento natural e a pesquisa de campo
são alternativas frente as estas limitações do
experimento em laboratório.
PESQUISA DE CAMPO
 Um experimento pode ser realizado no ambiente
natural dos participantes (de modo similar à
pesquisa conduzida em laboratório). Assim sendo, é
denominado pesquisa de campo.
 O pesquisador manipula algum aspecto do ambiente
(VI) e mede seu impacto na VD.
 Combina as vantagens da observação naturalista
com o rigor da experimentação.
PESQUISA DE CAMPO
 Exemplo:
Uma pesquisa que pretendia averiguar se a
violência televisionada pode tornar os expectadores
mais violentos foi conduzida em abrigos belgas para
jovens delinquentes.
Inicialmente, os pesquisadores observaram e
mediram o nível de agressividade típico de cada
participante (estabelecendo uma linha de base que
serviria de comparação).
PESQUISA DE CAMPO
Dois subgrupos foram formados: um de jovens muito
agressivos e outro de jovens pouco agressivos.
Durante uma semana, filmes violentos foram
exibidos para alguns jovens pouco agressivos e
alguns muito agressivos. Filmes neutros foram
exibidos para outros jovens dos dois subgrupos.
A interação entre jovens nos abrigos após a exibição
dos filmes foi observada.
PESQUISA DE CAMPO
Resultado: a pesquisa sugere que exposição à
violência televisionada instiga comportamentos
agressivos, sobretudo naqueles jovens que
previamente apresentavam níveis mais elevados de
agressividade.
(Leyens et al., 1975, citado por Shaffer, 2009, . 21)
EXPERIMENTO NATURAL (ou quase)
 Se os pesquisadores querem conhecer os efeitos de
experiências como privação social, negligência, abuso
sexual, uso de drogas etc, não podem conduzir uma
pesquisa manipulando estas variáveis.
 Exemplo: em uma pesquisa sobre o desenvolvimento
intelectual de crianças que experimentaram privação social
precoce, teríamos:
VI: privação social precoce;
VD: desenvolvimento intelectual
Gr experimental: crianças institucionalizadas no início da
vida
Gr controle: crianças que viveram com suas famílias.
EXPERIMENTO NATURAL (ou quase)
 São observadas as consequências de acontecimentos
naturais.
 A VI é a experiência vivida. O pesquisador não tem
controle sobre a VI.
 Não é possível escolher aleatoriamente os participantes
de cada grupo.
 Pela falta de controle experimental, é mais difícil
determinar relações causais. Por isto, considera-se que,
a rigor, é um método correlacional (Papalia, 2000).
Estudando mudanças ou continuidades com
a idade
 Crianças de 4, 6 e 8 anos são igualmente influenciadas
pela violência televisionada?
 As crianças que, numa pesquisa sobre violência
televisionada, apresentaram níveis mais elevados de
agressividade têm mais chances de se tornarem
adolescentes e adultos mais agressivos?
↓
 Quando
se
pretende
estudar
mudanças
ou
continuidades no desenvolvimento no decorrer do
tempo, alguns modelos de pesquisa podem ser
especialmente importantes: transversal, longitudinal e
sequencial.
MODELO TRANSVERSAL
 Pessoas de idades diferentes (por exemplo, um
grupo de crianças de 4 anos, um grupo de crianças
de 6 anos e outro de crianças de 8 anos) são
estudadas ao mesmo tempo.
 Cada participante é testado uma vez.
 É relativamente rápido.
MODELO TRANSVERSAL
 Problema de coorte
Uma coorte é um grupo de pessoas que nasceram num
intervalo reduzido de anos e compartilharam as
mesmas experiências culturais/históricas.
As diferenças entre grupos de idades diferentes podem
decorrer de mudanças culturais.
 Este modelo não traz informações suficientes sobre
consistência ao longo do tempo e possíveis
sequências típicas no desenvolvimento.
MODELO LONGITUDINAL
 As mesmas pessoas são estudadas ao longo do
tempo (até mesmo por décadas).
 Fornece dados sobre:
- sequências de mudanças
- consistência/inconsistência individual
- origem
MODELO LONGITUDINAL
É
mais demorado
financeiros.
e
requer
mais
recursos
 Os sujeitos podem abandonar o estudo a qualquer
momento e, se as amostras são pequenas, torna-se
difícil generalizar os resultados.
 Não há problema de coorte.
MODELO SEQUENCIAL
 Há alguma combinação dos modelos transversal e
longitudinal.
 Exemplo 1:
2014: grupo A (8 anos) e grupo B (10 anos)
2016: grupo C (8 anos) e grupo D (10 anos)
2018: grupo E (8 anos) e grupo F (10 anos)
 Exemplo 2:
2014: grupo A (8 anos) e grupo B (10 anos)
2016: grupo A (10 anos) e grupo B (12 anos)
2018: grupo A (12 anos) e grupo B (14 anos)
Referências bibliográficas
 Básica:
SHAFFER, David. Introdução à Psicologia do desenvolvimento e
suas estratégias de pesquisa. In Psicologia do desenvolvimento:
infância e adolescência (pp. 11-32). . São Paulo: Pioneira
Thomson, 2005.
 Complementares:
BEE, Helen. Perguntas básicas. In A
desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 2003.
criança
em
PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; & FELDMAN, R. D. (2009).
Desenvolvimento Humano. (10a. ed). São Paulo: McGraw-Hill.
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