Eleições na Venezuela:
Chávez pode ficar 20 anos
As eleições presidenciais deste final de semana( 07/10/12) foram
consideradas as mais disputadas dos últimos anos. Chávez foi eleito com
54,84% dos votos, contra 44% de seu adversário, o moderado Henrique
Capriles. Em comparação, nas eleições passadas, em 2006, Chávez
venceu com 62,8%.
A campanha dos candidatos dividiu o país. De um lado estava a parcela
mais pobre da população que, beneficiada com programas sociais, formou
a ala dos “chavistas”. Do outro, venezuelanos da classe média,
empresários e investidores (prejudicados pelas políticas trabalhistas e
pelas desapropriações de terras) apostavam no rival.
O resultado, porém, confirmou a longevidade política de Chávez. Ele é o
presidente há mais tempo na função em toda a América Latina. Essa
permanência, rara em regimes presidencialistas, se deve à sua alta
popularidade, conquistada por projetos sociais financiados pelo petróleo e
por mudanças na Constituição do país.
Ao ser eleito em 1999, Chávez iniciou a “revolução bolivariana”,
criando um governo populista de esquerda que nacionalizou a
economia, concentrou poderes no Estado e perseguiu adversários
políticos. Seu governo também foi marcado pelo antagonismo com
os Estados Unidos, durante o governo de George W. Bush (20012009), e alinhamento com países socialistas, como Cuba e China.
No primeiro mandato (1999-2000), Chávez fez um referendo para
convocar uma Assembléia Constituinte. As mudanças na
Constituição aumentaram os poderes do presidente e de
intervenção do Estado. Por conta dessas alterações, foram
convocadas novas eleições em 2000, nas quais Chávez foi reeleito.
O segundo mandato (2000-2006) começou com medidas
polêmicas, de estatização da economia e expropriação de
terras. Em abril de 2002, o presidente viveu o momento mais
dramático de sua vida política quando, após uma sucessão
de greves, sofreu um golpe de Estado que o afastou do
cargo por quase dois dias.
Em 2006, Chávez foi reeleito para um terceiro mandato
(2006-2013). Em 2009, ele conseguiu aprovar a emenda
constitucional que permite a reeleição ilimitada para alguns
cargos públicos, incluindo o de presidente. O limite
estabelecido pela Constituição venezuelana era de 12 anos,
ou dois mandatos consecutivos de seis anos cada.
Já em 2010, Chávez viu cair sua popularidade diante de
três medidas polêmicas:
•a desvalorização da moeda local,
•os planos de racionamento de energia
•e o cancelamento da transmissão de canais de TV a
cabo. Entre as emissoras fechadas estava a Radio Caracas
Televisión Internacional (RCTVI), que havia apoiado a
tentativa de golpe oito anos atrás.
A despeito das turbulências no governo, da pressão de
países ocidentais que o acusam de autoritarismo e da
crise econômica, o programa socialista de Chávez
garantiu melhorias nas áreas de saúde e habitação, antes
consideradas críticas.
Como resultado, a Venezuela é hoje o país com menor índice de
desigualdade na América Latina. Segundo a ONU, o índice de Gini é de
39,0. Esse índice serve de parâmetro internacional para medir a
desigualdade: quanto mais próximo de 100, maior ela é. Para efeito de
comparação, o índice de Gini do Brasil é de 51,9.
Outro dado, fornecido pelo Cepal (Comissão Econômica para a América
Latina e o Caribe, na sigla em espanhol), aponta que a taxa de pobreza no
país passou de 49% em 1999 para 29% em 2010.
Os gastos públicos do socialismo bolivariano – tendência ideológica
baseada nas ideias do líder revolucionário Simón Bolívar (1783-1830) – são
financiados pela exportação de petróleo.
Mas nem todos os problemas sociais foram sanados na Venezuela. Um dos
desafios do quarto mandato de Chávez é a criminalidade. O país possui
hoje uma das maiores taxas de homicídio da América do Sul: 48 mortes
para cada 100 mil habitantes (dados extraoficiais apontam 57 homicídios
para cada 100 mil pessoas). No Brasil, a taxa é de 26,2 por 100 mil
habitantes.
Câncer
A saúde, contudo, é o maior inimigo do presidente. Chávez, 58 anos,
teve um câncer diagnosticado em junho de 2011. Ele fez tratamento
em Cuba, mas sofreu uma recaída em fevereiro deste ano. Como as
informações sobre o estado de saúde do presidente são tratadas
com sigilo, ninguém sabe ao certo a gravidade ou se ele conseguirá
cumprir o próximo mandato.
De qualquer modo, as eleições na Venezuela e, sobretudo, seu
resultado retratam uma tendência de governos de esquerda na
América Latina que ressurgiram com Chávez. Trata-se de uma
esquerda mais radical, que destoa das modernas democracias na
medida em que flerta tanto com o populismo, presente em
programas assistencialistas, quanto com o autoritarismo, implícito
em projetos de permanência no poder.
RESUMO
• Hugo Chávez foi reeleito presidente da Venezuela em 7 de outubro com 54,84%
dos votos, contra 44% de seu adversário, Henrique Capriles. Ele está há 14 anos no
cargo e pode permanecer no poder até 2019, totalizando duas décadas. A maior
ameaça ao novo mandato é a saúde do presidente, fragilizada por um câncer
diagnosticado no ano passado.
• As eleições presidenciais deste final de semana foram consideradas as mais
disputadas dos últimos anos. A campanha dividiu o país, mas o resultado
confirmou o favoritismo de Chávez. Ele é o presidente há mais tempo na função
em toda a América Latina.
• Essa permanência, rara em regimes presidencialistas, se deve à sua alta
popularidade, conquistada por projetos sociais financiados pelo petróleo, e por
mudanças na Constituição, que possibilitaram a reeleição ilimitada para
presidente.
•Chávez promoveu a “revolução bolivariana” no país, criando um governo
populista de esquerda que nacionalizou a economia, concentrou poderes no
Estado e perseguiu adversários políticos. Seu governo também foi marcado pelo
antagonismo com os Estados Unidos, durante o governo de George W. Bush (20012009), e alinhamento com países socialistas.
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