Os Trabalhos/Abstracts mais Relevantes em Cirurgia de Câncer de Ovário Dr. José Carlos Sadalla ICESP-HCFMUSP Índice - Cirurgia inicial x QT neoadjuvante - Extensão da cirurgia primária - Cirurgia na recorrência do CA ovário - Papel da histerectomia no CA ovário Cirurgia inicial x QT neoadjuvante Cochrane Database Syst Rev. 2012 Chemotherapy versus surgery for initial treatment in advanced ovarian epithelial cancer. Background - CA ovário epitelial geralmente está em estádio avançado. - Tratamento padrão é cirurgia primeiro (PDS) seguido de QT. - Não está claro se há vantagem no uso de QT neo antes da cirurgia. - Objetivo: avaliar se há vantagem no uso de QT neo antes da cirurgia comparando com PDS em relação à obtenção de R0. Métodos - Revisão original: - Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL, Issue 3, 2006) - MEDLINE (Silver Platter, de 1966 à 1 Set 2006) - EMBASE via Ovid (de 1980 à 1 Set 2006) - CANCERLIT (de 1966 à 1 Set 2006) - PDQ and MetaRegister (Set 2006) Métodos - Para esta atualização com ensaios clínicos randomizados: - Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL, Issue 3, 2011) - Cochrane Gynaecological Cancer Specialised Register (2011) - MEDLINE (Agosto, 2011) - EMBASE (até semana 31, 2011) - PDQ e MetaRegister (Agosto 2011) Critérios de seleção - Ensaios clínicos randomizados - CA ovário epitelial estádios III/IV - 2 grupos - QT neo seguido de cirurgia (IDS) - PDS seguido de QT Resultados - 1 ensaio clínico randomizado realizado de boa qualidade - 3 outros ensaios clínicos randomizados ainda em andamento - 718 mulheres com estádio III/IV randomizadas - Sem diferença em relação à sobrevida (670 mulheres; HR 0.98; 95% CI 0.82 à 1.18) - Sem diferença em relação à tempo livre de doença (670 mulheres; HR 1.01; 95% CI 0.86 to 1.17) Resultados - Menor incidência de eventos cirúrgicos adversos no grupo de QT neo - Hemorragia (12 na QT neo vs 23 no PDS; RR 0.50; 95% CI 0.25 à 0.99) - TEV (nenhum na QT neo vs 8 no PDS; RR 0.06; 95% CI 0 à 0.98) - Infecção (5 na QT neo vs 25 no PDS; RR 0.19; 95% CI 0.07 à 0.50) - Qualidade de vida similar entre os dois grupos Take home message - QT neo é alternativa factível à PDS, principalmente para grande volume tumoral nos estádios IIIC/IV. - QT neo deve ser considerada avaliando ressecabilidade, idade, histologia, estádio e performance status da paciente. - PDS é tto padrão nos estádios IIIA e IIIB. - Conclusões podem ser alteradas dependo dos resultados dos outros 3 estudos em andamento. Extensão da cirurgia primária Cochrane Database Syst Rev. 2011 Optimal primary surgical treatment for advanced epithelial ovarian cancer. Background - CA ovário é o 6o. CA mais comum em mulheres - PDS visa R0 - Tamanho do tumor residual após PDS é importante fator prognóstico - Conceito de citorredução ótima permanece controverso em vários serviços - GOG define citorredução ótima com tumor residual de até 1cm, sendo o ideal R0 (doença microscópica) - Apesar do tamanho do tumor residual após PDS ser importante fator prognóstico, não está claro se isto é decorrente da cirurgia ou das propriedades do tumor Objetivo - Avaliar a efetividade e segurança da citorredução ótima no CA ovário avançado (III e IV). - Avaliar o impacto de vários tamanhos de tumor residual na sobrevida, indo de 0 à 2cm. Métodos - Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) (The Cochrane Library 2010, Issue 3) - Cochrane Gynaecological Cancer Review Group Trials Register - MEDLINE e EMBASE (até Agosto/2010) - Registros de ensaios clínicos, resumos de encontros científicos, lista de referência dos estudos incluídos e opinião de experts. Métodos - Estudos clínicos randomizados OU prospectivos OU estudos observacionais retrospectivos que incluíam 100 ou mais mulheres adultas com CA ovário epitelial avançado submetidas à PDS e com QT adjuvante com platina. - Incluídos apenas estudos com tumor residual de no máximo 2cm. Resultados - Nenhum ensaio clínico randomizado, nem prospectivo - 11 estudos retrospectivos que preencheram os critérios de inclusão - Todos mostraram importância de R0 na OS e PFS - Comparando sub-ótima (>1cm) com ótima (<1cm), a sobrevida não era tão boa quanto R0, mas mantinha diferença estatística - Comparando doença residual >2cm) com <2cm, não houve diferença estatística na OS, com diferença borderline na PFS (hazard ratio (HR) 1.65, 95% CI 0.82 à 3.31; e HR 1.27, 95% CI 1.00 à 1.61, P = 0.05 pra OS e PFS respectivamente) - Alto risco de viés devido à natureza retrospectiva dos estudos, principalmente viés de seleção. Take home message - Objetivo da PDS no CA epitelial de ovário é R0. - Se R0 não for possível, tentar citorredução “quase ótima” (< 1 cm). - Mudar termos: - Citorredução ótima: R0 - Citorredução “quase ótima”: <1cm - Citorredução “subótima”: >1cm Gynecol Oncol. 2011 The impact of disease distribution on survival in patients with stage III epithelial ovarian cancer cytoreduced to microscopic residual: a Gynecologic Oncology Group study. Objetivo - Avaliar o impacto na sobrevida da distribuição inicial de doença em pacientes com CA epitelial de ovário estádio III com citorredução R0. Métodos - Revisão de 417 casos estádio III ovário com R0. - Todos receberam QT adjuvante com Carbo e Taxol. - Divisão pré-operatória em 3 grupos - Grupo 1: doença mínima (MD) definida por tumor pélvico e meta retroperitoneal - Grupo 2: doença peritoneal abdominal (APD) com doença limitada à pelve, retroperitôneo, abdome inferior e omento - Grupo 3: doença em abdome superior (UAD) com doença afetando diafragma, baço, fígado ou pâncreas. Resultados - Maior sobrevida no grupo MD, comparada ao APD e UAD (p<0,05) - % de sobrevida em 5 anos - MD: 67% - APD: 63% - UAD: 45% - Na análise multivariada, o grupo UAD teve pior prognóstico (Sobrevida livre de doença (PFS) Hazards Ratio (HR) 1.44; P=0.008 e sobrevida global (OS) HR 1.77; P=0.0004 comparando com MD+APD). Take home message - Estádio III de CA ovário epitelial com doença inicial no abdome superior tem prognóstico pior, mesmo com citorredução R0. Cochrane Database Syst Rev. 2011 Ultra-radical (extensive) surgery versus standard surgery for the primary cytoreduction of advanced epithelial ovarian cancer. Background - CA ovário é o 6o. CA mais comum em mulheres - CA ovário é a principal causa de morte dos tumores ginecológicos malignos - Diferentes opiniões em relação à cirurgia ultra-radical (extensa) como PDS Objetivo - Avaliar a efetividade e morbidade da cirurgia ultra-radical (extensa) no CA ovário avançado (III e IV). Métodos - Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) (The Cochrane Library 2010, Issue 4) - Cochrane Gynaecological Cancer Review Group Trials Register - MEDLINE e EMBASE (até Novembro/2010) - Registros de ensaios clínicos, resumos de encontros científicos, lista de referência dos estudos incluídos e opinião de experts. Métodos - Estudos clínicos randomizados OU não randomizados visando comparar cirurgia ultraradical (extensa) com cirurgia padrão no CA ovário avançado (III e IV). Resultados - 1 estudo não randomizado apenas. - 194 mulheres com CA ovário epitelial IIIC - Análise multivariada, ajustada para fatores prognósticos, mostrou melhor sobrevida doença específica para o grupo de cirurgia ultra-radical, porém SEM significância estatística (Hazard ratio (HR) = 0.64, 95% CI: 0.40 à 1.04). - No subgrupo com carcinomatose (144 pacientes) houve melhor sobrevida doença específica para o grupo de cirurgia ultra-radical (HR = 0.64, 95% CI 0.41 à 0.98). - PFS e qualidade de vida não relatados - Estudo com alto risco de vieses Take home message - Há apenas evidência de baixa qualidadepodendo sugerir que a cirurgia ultraradical seja melhor que a padrão para pacientes com CA ovário avançado e carcinomatose. - Não está claro se há diferença na PFS, nem dados sobre qualidade de vida e morbidade após este procedimento. - Estudos melhores, com maior poder e randomizados são necessários para responder à esta questão. Cirurgia na recorrência do CA ovário Eur J Surg Oncol. 2011 Prognostic factors for patients treated for a recurrent FIGO stage III ovarian cancer: a retrospective study of 108 cases. Objetivo - Determinar OS de pacientes com 1a recidiva de CA ovário estádio III, fora de ensaios clínicos randomizados, com longo seguimento. - Identificar fatores prognósticos. Métodos - 108 pacientes incluídos entre Dez/1999 e Nov/2004. - Todos pacientes tratados com platina em caso de recidiva tardia (>6 meses) ou sem platina (<6 meses). - Parâmetros analisados: idade, tipo histológico, tipo de cirurgia inicial (completa ou não), PFS, local de recidiva, resposta à 2a. QT, tipo de citorredução secundária (SCS) qdo realizada. Resultados - Tempo médio de seguimento até 1a recidiva: 40 meses - Das 108 pacientes, 35 fizeram SCS. - OS média (à partir da recidiva) de 13 meses no grupo não operado ou SCS não ótima x 35 meses no SCS ótima (p = 0.006). - Análise multivariada: - Idade (jovem) PFS Apresentação clínica da recidiva (pelve ou LN) Resposta à 2a. QT SCS ótima Take home message - Fatores prognósticos de recidiva no CA ovário estão direta ou indiretamente relacionados à possibilidade de SCS ótima. - Sendo assim, a possibilidade de SCS ótima deve ser considerada como alternativa neste grupo de pacientes. Papel da histerectomia no CA ovário Int J Gynecol Cancer. 2011 Routine hysterectomy in the surgical management of ovarian cancer: a retrospective case series, physician opinion survey, and review of the literature. Objetivo - Protocolos internacionais recomendam histerectomia no tratamento cirúrgico do CA ovário epitelial - Há limitada evidência para esta recomendação. - Análise de casos operados de câncer de ovário com histerectomia. Resultados - Maioria das mulheres submetidas à histerectomia não tinham envolvimento macroscópico uterino do CA ovário. - Quase metade tinha doença macroscópica residual ao término da citorredução. - Incidência de tumor sincrônico primário de endométrio foi de 5%, com sensibilidade do USG pré-operatório de 82%. - Pesquisa com ASGO (Sociedade Australiana de Ginecologia Oncológica) – maioria acredita que histerectomia deva ser realizada, mesmo com a falta de evidência na literatura. Take home message - Histerectomia deve ser realizada no tratamento cirúrgico do CA ovário, mesmo com poucas evidências na literatura. Obrigado [email protected]