DAS MÚMIAS DO ATACAMA AO HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE RIBEIRÃO PRETO (UMA HISTÓRIA SINGULAR) Ulysses G. Meneghelli Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) HISTÓRIA DO MEGAESÔFAGO CHAGÁSICO FASES 1. A DOENÇA NA ANTIGUIDADE 2. A ERA DO MAL DE ENGASGO 3. O ESTABELECIMENTO DA ETIOLOGIA 4. A DEFINIÇÃO (DILATAÇÃO), DAS CARACTERÍSTICAS MICROSCÓPICA MACROSCÓPICA (DESNERVAÇÃO) FISIOPATOLÓGICAS DA DOENÇA (ACALÁSIA E APERISTALSE) 5. O DECLÍNIO DA OCORRÊNCIA E A "GERIATRIZAÇÃO" E FASES DA HISTÓRIA DO MEGAESÔFAGO CHAGÁSICO 1. A DOENÇA NA ANTIGÜIDADE Resultados da pesquisa do DNA do cinetoplasto do T. cruzi em múmias humanas encontradas no norte do Chile e sul do Peru. Aufderheide e col. Proc Natl Acad Sci 17: 2034-9, 2004. A 9,000-year record of Chagas´ disease _____________________________________________________ _____________________________________________________ Cultura Período No. de múmias % positivo Cultura Período No. de múmias % positivo _____________________________________________________ _____________________________________________________ Chinchorro primitivo 7050 - 3000 AC 18 39 Chinchorro 7050 -- 1500 3000 AC AC Chinchorro primitivo tardia 3000 Chinchorro tardia 3000 AC Alto Ramirez primitivo 1000 AC -- 1500 0 Alto Alto Ramirez Ramirez primitivo primitivo 1000 AC 0 -- 0400 Alto Ramirez primitivo 0 -- 400 Cabuza 400 1050 Cabuza 400 1050 Maitas 1000 - 1250 Maitas 1000 Chiribaia 1050 -- 1250 1250 Chiribaia 1050 Mô (Chiribaia superior) 1050 -- 1250 1250 Mô 1050 São(Chiribaia Miguel superior) 1250 -- 1250 1350 São 1250 Inca Miguel 1450 -- 1350 1550 Inca 1450 1550 Colonial 1350 - 1650 Colonial 1350 - 1650 18 53 53 16 16 20 20 27 27 25 25 70 70 16 16 9 9 26 26 3 3 39 43 43 25 25 35 35 41 41 40 40 47 47 19 19 33 33 50 50 67 67 _____________________________________________________ _____________________________________________________ Total 7050 AC - 1650 283 40,6 Total 7050 AC - 1650 283 40,6 _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ FASES DA HISTÓRIA DO MEGAESÔFAGO CHAGÁSICO 2. A ERA DO MAL DE ENGASGO MANUSCRITO DE PARACATU - 1809 REISE IN BRASILIEN (1817 - 1820) Spix JB und Martius CFP München, 1823 Januária (MG): " Sintomas de apepsia...ao que aqui se costuma chamar de engasgo, são não raro indícios de tais inflamações... quando o organismo já está gravemente prejudicado com endurecimento das glândulas ou da cárdia e dos intestinos " Oeiras (PI): " Além disso, consultaram-nos aqui... e observamos muitos casos de fraqueza gástrica, flatulência, dispepsia, cardialgia e mal de engasgo que consiste ora na irritação da cartilagem do processo xifóide, curvada para dentro, ora no endurecimento da cárdia ". Médico norte-americano que clinicou em Limeira e Campinas. Foi o informante Fletcher, em de Kidder entrevista em e seu consultório em Limeira (SP), em 1855, acerca das características clínicas de Uma nova doença, no interior do Estado de São Paulo. O nome do médico foi mantido no anonimato na publicação O Brasil e os Brasileiros, missionários. Só dos em 1998 dois foi perfeitamente identificado *. Dr. Joseph Cooper Reinhardt (1809/10 - 1873) * Meneghelli e col. Um nome que faltava na história do megaesôfago. Arq. Gastroenterol 35: 1 - 8, 1998 Relato do Bel. Alfredo D'Escragnole Taunay, no dia 3 de julho de 1867, acerca da passagem pelo rancho do Sr. Manoel Coelho, em sua volta da Retirada da Laguna, junto com alguns militares, após ter deixado a fazenda do Váo: " A filha de Manoel Coelho era uma moça que captivava os olhares de todos os passageiros e cuja formosura era o orgulho d'aquellas localidades. O pai era um pobre homem opilado, que sofria de mal de engasgo, moléstia que lavra no sertão em concurrencia com as feridas bravas e as maleitas. O mal de engasgo são sempre irritações do estomago exasperadas sem duvida pelos remédios dos curandeiros..." In: Viagem de regresso de Mato-Grosso à Corte. Revista Trimestral do Instituto Histórico, Geographico e Ethnográphico do Brasil, 3º trimestre de 1869, p. 5 - 51. FASES DA HISTÓRIA DO MEGAESÔFAGO CHAGÁSICO 3. O ESTABELECIMENTO DA ETIOLOGIA MEGAESÔFAGO ENDÊMICO DO BRASIL - A ETIOLOGIA Paranhos U (1913) - Doença de Chagas Paranhos U (1913) - Toxina na farinha de mandioca Chagas C (1916) - Doença de Chagas Barreto LP (1919) - Paludismo Vampré E - Contratura espasmódica do diafragma Etzel E (1935) - Deficiência de vitamina B1 Pedreira de Freitas JL (1947) - Doença de Chagas* Laranja F (1948) - Doença de Chagas* Köberle F (1955) - Doença de Chagas* * Provas definitivas FASES DA HISTÓRIA DO MEGAESÔFAGO CHAGÁSICO 4. A DEFINIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS MACROSCÓPICA (DILATAÇÃO), MICROSCÓPICA (DESNERVAÇÃO) E FISIOPATOLÓGICAS DA DOENÇA (ACALÁSIA E APERISTALSE) FASES DA HISTÓRIA DO MEGAESÔFAGO CHAGÁSICO 5. O DECLÍNIO DA OCORRÊNCIA E A "GERIATRIZAÇÃO" DISTRIBUIÇÃO DE CASOS DE MEGAESÔFAGO CHAGÁSICO OCORRIDOS EM DIFERENTES ÉPOCAS EM REGIÕES ENDÊMICAS DA DOENÇA NO BRASIL, SEGUNDO TRÊS FAIXAS ETÁRIAS NAS QUAIS OCORREU O DIAGNÓSTICO. _______________________________________________________________________ Idade no diagnóstico (%) Ano N < 30 anos 30 - 60 > 60 anos Autores _______________________________________________________________________ 1939 626 51,3 47,0 1,7 Etzel 1968 780 62,9 29,4 7,7 Rezende 1991* 279 2,5 69,5 28,0 Meneghelli e col. 2001** 114 5,3 35,0 59,7 Meneghelli e Rodrigues _______________________________________________________________________ * 1979 a 1990 / ** 1991 a 2000 Número de pacientes com megaesôfago chagásico atendidos no Ambulatório de Doenças Motoras do Tubo Digestivo do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (Divisão de Gastroenterologia do Departamento de Clínica Médica da FMRP) de março de 2008 a novembro de 2011, distribuídos segundo as décadas dos seus respectivos nascimentos. Décadas n 1911 – 1920 1 1921 – 1930 3 1931 – 1940 9 1941 – 1950 8 ▲ 21 pacientes 1951 – 1960 4 ▼ 9 pacientes 1961 – 1970 3 1971 – 1980 2 30 FMRP - 1952 FMRP - 2012