MOMENTO CIENTIFICO Residente: Patricia Langenegger Orientador: Dr. Alexandre Busse Discutidor: Dr. Luiz E. Garcez Leme Serviço de Geriatria e Gerontologia HC FMUSP CONTEXTO Doenças cardiovasculares são responsáveis por > 81% das mortes em indivíduos acima de 65 anos Há estudos que evidenciam o benefício do uso de estatinas em pacientes não idosos com alto risco para doenças cardiovasculares Guideline ACC AHA 2013 para tratamento da Dislipidemia ampliou a indicação de tratamento para indivíduos com comorbidades (diabetes, doença arterial periférica ou difunção renal) CONTEXTO Estatina em idosos como profilaxia secundária: benefício comprovado na redução de novos eventos cardiovasculares e redução de mortalidade por todas as causas O uso de estatina como profilaxia primária em idosos não está estabelecido, pois não há estudos abrangendo indivíduos nesta faixa etária – apenas análises de subgrupos de estudos randomizados OBJETIVO Estudar o efeito do uso de estatinas em idosos sem doença cardiovascular estabelecida sobre: Mortalidade por todas as causas Mortalidade cardiovascular Infarto do miocárdio Acidente vascular cerebral Diagnóstico novo de câncer METODOLOGIA O estudo foi desenhado conforme as recomendações PRISMA Pesquisa nas bases de dados: MEDLINE Cochrane ISI Web of Science SCOPUS METODOLOGIA Artigos publicados até janeiro de 2013 contendo os termos: Inibidores da hidroximetilgluratil-CoA redutase Pravastatina, lovastatina, sinvastatina, rosuvastatina, atorvastatina, pitavastatina, mevastatina, fluvastatina ou estatina Trial controlado e randomizado Idade ou idade acima de 80anos Sem restrições de idioma de publicação METODOLOGIA Critérios de inclusão: Alocação aleatória entre grupo placebo ou estatina Avaliação dos desfechos do subgrupo dos pacientes randomizados com idade ≥ 65anos e sem doença cardiovascular estabelecida Desfecho primário sendo um evento clínico: mortalidade por todas as causas, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e novo diagnóstico de câncer METODOLOGIA Foram calculados os riscos relativos (RR) separadamente para cada estudo e agrupados após transformação logaritmica As estimativas globais de efeito foram calculados com um modelo de efeitos fixos ou com um modelo de efeitos aleatórios, conforme presença de heterogenicidade METODOLOGIA O nível de significância adotado p ≤ 0,05 e p ≤ 0,10 na presença de heterogenicidade e viés de publicação Análises de sensibilidade foram feitas para verificar a consistência dos resultados (análises de metaregressão) Para avaliar o potencial regressão linear ponderada viés de publicação foi utilizada uma RESULTADOS Identificados 24.405 estudos Duplicados 9.378 estudos Elegíveis 46 estudos Selecionados 8 estudos OS ESTUDOS OS ESTUDOS CRITÉRIOS DE INCLUSÃO AFCAPS/TexCAPS Hipercolesterolemia ALLHAT-LLT Hipercolesterolemia e HAS Bruckert Hipercolesterolemia MEGA Hipercolesterolemia ASCOT-LLA HAS e ≥ 3 fatores de risco CV CARDS DM 2 e ≥ 1 fator de risco CV JUPITER PCR > 2mg/L PROSPER Tabagismo, HAS ou DM RESULTADOS Randomizados 7 duplo cego 24.674 pacientes 8 trials 42,7% sexo feminino Idade média 73 ± 2,9 anos Seguimento 3,5 ± 1,5 anos RESULTADOS PRISMA: ausência de grandes limitações metodológicas SCORE: ausência de inconsistência de dados ou viés de publicação Resultados foram confirmados ao retirar um estudo por vez e repetir as análises Não foram identificados potenciais modificadoes de resultados (sexo, diabetes, hipertensão) pela análise de sensibilidade Ausência de viés de publicação RISCO RELATIVO DE IAM E AVC ESTATINA PLACEBO 0,60 (0,43, 0,87) NNT 24 NNT 42 RISCO RELATIVO DE MORTALIDADE ESTATINA PLACEBO NOVO DIAGNÓSTICO DE CÂNCER ESTATINA PLACEBO DISCUSSÃO Redução do risco de IAM de 39,4% e do risco de AVC de 23,8% em seguimento médio de 3,5anos com redução média de LDL de 26,6mg/dL (0,69mmol/L) Extrapolando os dados: redução do risco de IAM de 57,1% e do risco de AVC de 34,5% se redução do LDL em 38,6mg/dL (1mmol/L) DISCUSSÃO Taxa de eventos anual no grupo placebo de: 0,5% mortalidade cardiovascular 1,1% infarto agudo do miocárdio 0,8% acidente vascular cerebral Esta taxa de eventos corresponderia a pacientes de alto risco cardiovascular, nos quais a meta de LDL seria <100 mg/dL No estudo os pacientes do grupo tratamento obtiveram níveis médios de LDL >100mg/dL (142,8 ± 28,5mg/dL), podendo sugerir que maiores reduções poderiam trazer maiores benefícios DISCUSSÃO A identificação dos idosos de alto risco é um desafio No estudo foram incluídos os idosos: > 1 fator de risco maior Hipercolesterolemia apenas PCR elevada DISCUSSÃO Estudos prévios: Brugts et al.: a análise de subgrupo dos indivíduos acima de 65anos, todos IC tocaram o1 Mills et al.: metanálise que identificou redução de 23% de IAM e 12% de AVC. Redução significativa na mortalidade total de 7% e na mortalidade CV de 11% Taylor et al.: redução de 27% de eventos coronarianos fatais e não fatais e 22% de redução de AVC. Redução significativa de 14% na mortalidade por todas as causas CONCLUSÃO Em idosos com elevado risco de doença cardiovascular sem evento prévio, o uso das estatinas reduz de forma significativa a incidência de IAM e AVC em um seguimento de curto prazo. Há tendência de redução de mortalidade, entretanto não estatisticamente significativa. QUESTÕES Qual seria a validade externa dessa metanálise? Quais seriam os indivíduos considerados de alto risco (DM, HAS, tabagistas, PCR elevada, escore de Framingham, escore de cálcio, aterosclerose carotídea..) que teriam benefício do uso da estatina? O seguimento médio de 3,5 anos poderia subestimar os efeitos benéficos das estatinas? Haveriam outros efeitos colaterais das estatinas significativa nos idosos, além do novo diagnóstico de câncer, não avaliados no presente estudo? Poderia ser indicado o uso das estatinas nos idosos sem doença cardiovascular manifesta pelo fato de reduzirem eventos (IAM e AVC) e possivelmente prevenirem a perda de funcionalidade, mesmo sem evidência de redução significativa de mortalidade?