• Ao contrário do que parece à primeira vista, a Bíblia não é um livro único e
independente, mas uma coleção de 73 livros, uma mini biblioteca que destaca o a aliança
e plano de salvação de Deus para com a humanidade. É interessante observar que alguns
livros possuem poucas ou até mesmo uma única página escrita, mas mesmo assim são
considerados como livros.
• A própria palavra Bíblia provém do grego biblos e significa livros, o que bem demonstra
não ser a Bíblia um livro único. Assim, quando usamos hoje a palavra "Bíblia" nos
referimos a esse conjunto de 73 livros.
• O CÂNON Sagrado compreende 46 Livros no ANTIGO TESTAMENTO e 27 Livros no NOVO
TESTAMENTO.
O Dicionário define "único", como:
1º Que é um só;
2º De cuja espécie não existe outro;
3º Exclusivo; Excepcional;
4º A que nada é comparável;
5º Superior a todos os demais.
• A Bíblia é muito antiga: sua redação começou por volta do séc. XV A.C. e somente se
encerrou no final do séc. I D.C.. Esse é, aliás, o motivo pelo qual muitas passagens são
difíceis de serem compreendidas, obrigando-nos, às vezes, a recorrer a cursos bíblicos ou
outros livros de apoio.
• Escrito por cerca de 40 autores, das mais diferentes atividades, tais como: reis,
camponeses, filósofos, pescadores, poetas, estadistas, estudiosos, etc.: Moisés, um líder
político, que estudou nas universidades do Egito; Pedro, um pescador; Amós, um
boiadeiro; Josué, um general; Neemias um copeiro; Daniel, um diplomata; Lucas, um
médico; Salomão e Davi (reis e poetas); Mateus (cobrador de impostos); Paulo (rabino);
Esdras (escriba e sacerdote).
"Na redação dos livros sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os
usar suas próprias faculdades e capacidades a fim de que, agindo Ele próprio neles e por
eles, escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que Ele próprio quisesse"
(Dei Verbum, 11).
• Escrito em diferentes lugares: no deserto; numa masmorra; nas prisões; em viagens;
numa ilha, exilado;
• Escrito em diferentes condições e circunstâncias: em tempos de paz e em tempos de
guerra; em tempos de alegria, e em tempos de profunda tristeza; em tempos de
liberdade, e sob o cativeiro;
• Escrito em três continentes: Ásia, África e Europa.
Escrita em três idiomas:
• Hebraico (a língua do Antigo Testamento) Em 2Reis 18:26-28 essa língua é chamada de
"judaica"; Em Is. 19:18 é chamada de "língua de Canaã");
• Aramaico (a língua "franca" do Oriente Próximo até à época de Alexandre, o grande
(século VI ao século IV a.C., tendo permanecido em uso, paralelamente ao grego, por
judeus e palestinos até à época de Cristo);
• Grego, a língua do Novo Testamento. Era o idioma de uso internacional à época de Cristo.
• Livros da Lei: também chamados de Pentateuco, isto é, os "cinco livros" de Moisés, que
abrem a Bíblia, e falam da Criação de Deus e da formação de seu Povo Eleito: Israel.
• Livros Históricos: são os livros que descrevem as guerras de Israel, bem como a história
de seus reinos.
• Livros Didáticos: ou sapienciais, apresentam a sabedoria e poesia dos hebreus.
• Livros Proféticos: foram escritos por profetas que pregavam o arrependimento e
preparavam o povo eleito para a chegada do Messias Salvador.
• Livros do Evangelho: narram a vida, os ensinamentos, os milagres e a obras do Messias
Jesus Cristo.
• Livro Histórico: apresenta a instituição e expansão da Igreja Cristã, primeiro na Palestina
e, a seguir, no mundo até então conhecido.
• Epístolas: são as doutrinas e exortações escritas por alguns Apóstolos de Cristo e
encaminhadas a comunidades ou fiéis cristãos.
• Livro Profético: traz a vitória de Cristo e sua Igreja sobre as forças do mal e o juízo final.
"Toda escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, redarguir, corrigir e instruir na
justiça (2 Timóteo 3:16)"
A base teológica da crença é, em forma simples, que Deus é perfeito, a Bíblia, como palavra
de Deus, deve também ser perfeita, assim, livre de erros. É o que pode ser visto na seguinte
passagem:
Primeiro do Antigo Testamento:
"A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma, o testemunho do Senhor é fiel, e dá
sabedoria aos símplices. Os preceitos do Senhor são retos, e alegram o coração; o
mandamento do Senhor é puro, e alumia os olhos. O temor do senhor é limpo, e
permanece eternamente; os juízos do Senhor são verdadeiros e também justos" (Salmos
19:7-9).
Do Novo Testamento:
"Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (João 17:17)
Isto deve ser visto como uma evidência que a verdade é o que é, e mentiras ou inverdades
consistem do que não é. Pode-se ver ainda mais claramente que a palavra de Deus é
soberana sobre todos através da seguinte passagem:
"...que Deus seja verdadeiro e todo homem mentiroso..." (Romanos 3:4)
• Antigo Testamento: Gênese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute,
1Samuel, 2Samuel, 1Reis, 2Reis, 1Crônicas, 2Crônicas, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester,
1Macabeus, 2Macabeus, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes (ou Coélet), Cântico dos
Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico (ou Sirácida), Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc,
Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias,
Ageu, Zacarias e Malaquias.
• Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos dos Apóstolos, Romanos, 1Coríntios,
2Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1Tessalonicenses, 2Tessalonicenses,
1Timóteo, 2Timóteo, Tito, Filêmon, Hebreus, Tiago, 1Pedro, 2Pedro, 1João, 2João, 3João,
Judas e Apocalipse.
• Quanto ao Antigo Testamento, a Bíblia protestante possui sete livros a menos que a
Bíblia Católica. Ocorre que a Igreja Católica, desde o início, utilizou a tradução grega da
Bíblia chamada Septuaginta ou Versão dos Setenta (LXX). Essa tradução para o grego foi
feita no séc. III aC, em Alexandria (Egito), por setenta e dois sábios em virtude da existência
de uma grande comunidade judaica nessa cidade que já não mais compreendia a língua
hebraica. Na época em que foi feita essa tradução, a lista (cânon) dos livros sagrados ainda
não estava concluída, de forma que essa versão acabou abrigando outros livros, ficando
mais extensa. Essa foi a Bíblia adotada pelos Apóstolos de Jesus em suas pregações e
textos: das 350 citações que o Novo Testamento faz dos livros do Antigo Testamento, 300
concordam perfeitamente com a versão dos Setenta, inclusive quanto às diferenças com o
hebraico.
• No Ano 100 D.C. os judeus definem seu cânon bíblico com os
seguintes critérios:
1º - O livro não poderia ter sido escrito fora do território de Israel.
2º - O livro não poderia conter passagens ou textos em aramaico ou grego, mas
apenas em hebraico.
3º- O livro não poderia ter sido redigido após a época de Esdras (458-428 aC).
4º- O livro não poderia contradizer a Lei de Moisés (Pentateuco).
Os livros não reconhecidos pelo sínodo da Jâmnia e que aparecem na tradução dos
Setenta. São tecnicamente chamados de Deuterocanônicos, em virtude de não terem sido
unanimemente aceitos. São, portanto, Deuterocanônicos no Antigo Testamento os
seguintes livros:
• Tobias
• Judite
• Baruc
•Eclesiástico
• Sabedoria
• 1Macabeus e 2Macabeus
• Além das seções gregas de Ester(10,4 a 16) e Daniel( 3, 24-90).
Para os católicos basta saber que quem define o cânon das Escrituras é a Igreja. É
importante lembrar também que foi esta mesma Igreja quem definiu os outros 27 livros do
Novo Testamento, sobre os quais não há discussão. Portanto, uma pergunta que não pode
deixar de ser feita é: por que os protestantes aceitam a autoridade da Igreja Católica que
definiu os 27 livros do Novo Testamento e não aceitam a autoridade dessa mesma Igreja
quanto aos 46 livros do Antigo Testamento?
Da mesma forma como existem livros Deuterocanônicos no Antigo Testamento, também o
Novo Testamento contém livros e extratos que causaram dúvidas até o séc. IV, quando a
Igreja definiu, de uma vez por todas, o cânon do Novo Testamento. São Deuterocanônicos
no Novo Testamento os livros de Hebreus, Tiago, 2Pedro, Judas, 2João, 3João e Apocalipse,
além de alguns trechos dos evangelhos de Marcos, Lucas e João.
Além da Igreja Católica Apostólica Romana, outras igrejas utilizam-se dos livros
Deuterocanônicos em suas Bíblias, como:
• Igreja Anglicana
• Igrejas Ortodoxas: Copta, Siríaca, Grega e Russa
• Igreja Maronita
O Cânon das Escrituras, Antigo e Novo Testamento, foi fixado definitivamente no Concílio de
Roma em 382, sob a autoridade do Papa Damaso I. E foi logo reconhecido por sucessivos
Concílios, tanto regionais como gerais. O mesmo cânon foi firmado no Concílio de Hipona
em 393 e no de Cartago em 397. O fato destes Concílios não serem "ecumênicos" não
rejeita o fato de suas decisões não serem aceitos como baseadas em verdade de fé. Em 405
o Papa Inocêncio I reafirmou o cânon em uma carta ao bispo Exuperius de Toulouse. Outro
Concílio de Cartago, este no ano de 419, reafirmou o cânon como os seus predecessores e
pediu ao papa Bonifácio que "confirme este cânon, pois estas são as que recebemos de
nossos pais para serem lidos na Igreja". Todos estes Cânon formavam a mesma Bíblia
Católica atual, todos eles incluindo os Deuterocanônicos.
Este mesmo Cânon foi implicitamente confirmado no Sétimo Concílio Ecumênico, o de
Nicéia II (787), que aprovou os resultados do Concílio de Cartago de 419, e explicitamente
reafirmou nos Concílios Ecumênicos de Florença (1442), Trento (1546), Vaticano I (1870) e
Vaticano II (1965).
O Protestantismo nega tanto a Tradição quanto o Magistério legitimamente instituído por
Jesus Cristo. Para eles, a única regra é a Sola Scriptura (ou seja somente a Bíblia e nada mais
do que ela é regra de fé e de moral) interpretada livremente por qualquer pessoa ( método
do livre exame ). Eis Martinho Lutero a dizê-lo sem rodeios: "a todos os cristãos e a cada um
em particular pertence conhecer e julgar a doutrina. Anátema a quem lhe tocar um fio deste
direito" ( Conforme D. M. Luthers, Werke, Kritische Gesamtausgabe. Weimar, X. 2 Abt., p.
217, 1883 ss). Como se dissesse a cada um de seus seguidores: Eia pois, valoroso cristão!
Tu és mestre de ti mesmo. Despreza tudo o que os primeiros cristãos, os Bispos e os
Concílios definiram como verdade. Toma tu a bíblia, senta em tua saleta e defina tu
mesmo o teu cristianismo!
Mas o próprio Lutero que saiu-se no mundo com esta novidade da sola scriptura viveu o
suficiente para testemunhar e confessar os malefícios que estas doutrinas iriam causar pelos
séculos afora: "Este não quer o batismo, aquele nega os sacramentos; há quem admita outro
mundo entre este e o juízo final, quem ensina que Cristo não é Deus; uns dizem isto, outros
aquilo, em breve serão tantas as seitas e tantas as religiões quantas são as
cabeças" ( Luthers M. In. Weimar, XVIII, 547 ; De Wett III, 6l ). Um outro trecho selecionado,
prova que o Patriarca da Reforma tinha também de quando em quando uns momentos de
bom senso: "Se o mundo durar mais tempo, será necessário receber de novo os decretos
dos concílios (católicos) a fim de conservar a unidade da fé contra as diversas
interpretações da Escritura que por aí correm" (Carta de Lutero à Zwinglio In Bougard, Le
Christianisme et les).
Gostaríamos de terminar por aqui para não sermos enfadonhos. Quando o Pai do
Protestantismo, diante da dissolução das seitas, já há quinhentos anos atrás, confessa ao
outro "reformador" que seria necessário receber de novo o Sagrado Magistério ( Concílios )
para manter a unidade, a regra do livre exame e da sola scriptura já está julgada por si
mesma.
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efp – escola de formação permanente – aulas 1 e 2