Realismo em Portugal • O Realismo é a tendência literária que procura representar, acima de tudo, a verdade, isto é, a vida tal como é, utilizando-se para isso da técnica da documentação e da observação, contrariamente à invenção romântica. Interessado na análise dos caracteres, encara o homem e o mundo objetivamente, para interpretar a vida . A estética realista procura atingir a beleza sob os disfarces do comum e do familiar, no ambiente local e na cena contemporânea. Questão Coimbrã • António Feliciano de Castilho • Antero de Quental • Em 1865, foi um dos principais envolvidos na polêmica conhecida por Questão Coimbrã, em que humilhou António Feliciano de Castilho, seu antigo professor e renomado crítico literário que se tinha por cânone para os escritores nacionais: • ao livro Odes modernas de Antero, Castilho respondeu com críticas duras sobre o aventureirismo de um jovem tolo que escrevia de forma assaz estranha e de gosto muito duvidoso. • Antero respondeu com o opúsculo Bom senso e bom gosto, a que definia a sua literatura por oposição à instituída: ao Ultra-Romantismo decadente, torpe, beato, estupidificante e moralmente degradado, • Antero opunha o Realismo, a exposição da vida tal como ela era, das chagas da sociedade, da pobreza, da exploração: estas preocupações sociais levaram-no a co-fundar o Partido Socialista Português: • Antero defendia a poesia como Voz da Revolução, como forma de alertar as consciências para as desigualdades sociais e para os problemas da humanidade. REALISMO / NATURALISMO AUTORES PORTUGUESES José Maria Eça de Queirós Eça de Queirós (1845 – 1900) • Nascimento 25 de novembro de 1845 em Póvoa de Varzim , Portugal • Falecimento 16 de agosto de 1900 - Paris, França • Nacionalidade Português • Ocupação Romancista, contista • Escola/tradição: Romantismo, Realismo • Era filho do Dr. José Maria Teixeira de Queirós, juiz do Supremo Tribunal de Justiça, e de sua mulher, D. Carolina de Eça. • Matriculou-se na faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, completando a sua formatura em 1866. • Era amigo íntimo de Antero de Quental, com quem viveu fraternalmente, e com ele e outros formou uma ligação seleta e verdadeira agremiação literária para controvérsias humorísticas e instrutivas. • Nessas assembléias entraram Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Salomão Saraga e Lobo de Moura. • Estabeleceram-se então, em 1871, as notáveis Conferências Democráticas no Casino Lisbonense (V. Conferência), e Eça de Queirós, na que lhe competiu, discursou acerca do "O Realismo como nova Expressão de Arte", em que obteve ruidoso triunfo. • Decidindo-se a seguir a carreira diplomática, foi a um concurso em 21 de Julho de 1870, sagrando-se o primeiro colocado e, em 1872, obteve a nomeação de cônsul geral de Havana, para onde partiu. • Permaneceu poucos anos em Cuba, no meio das terríveis repressões do governo espanhol. • Eça de Queirós era casado com a Sr.ª D. Emília de Castro Pamplona, irmã do conde de Resende. • Colaborou na Gazeta de Portugal, Revolução de Setembro, Renascença, Diário Ilustrado, Diário de Notícias, Ocidente, Correspondência de Portugal, e em outras publicações. • Eça de Queirós, quando faleceu, estava trabalhando em romances inspirados nas lendas de S. Cristóvão e de S. Frei Gil, o celebrado bruxo português. • Devido à iniciativa de amigos dedicados do falecido escritor, elevou-se uma estátua em mármore para perpetuar a sua memória, a qual está situada no Largo de Quintela. • É uma verdadeira obra artística do escultor Teixeira Lopes. • Figura Eça de Queirós curvado sobre a Verdade, lendo-se no pedaço de mármore tosco, que serve de pedestal à Estátua da Verdade, estas palavras, que foram ali esculpidas. «Sobre a nudez forte da Verdade, o manto diáfano da fantasia». • Eça de Queirós e o representante maior da prosa realista em Portugal. • Grande renovador do romance , abandonou a linha romântica , e estabeleceu uma visão critica da realidade. • Afastou-se do estilo clássico , que pendurou por muito tempo na obra de diversos autores românticos , deu a frase uma maior simplicidade , mudando a sintaxe e inovando na combinação das palavras. • Evitou a retórica tradicional e os lugares comuns , criou novas formas de dizer , introduziu neologismos e, principalmente utilizou o adjetivo de maneira inédita e expressiva. • Este novo estilo só teve antecessor em Almeida Garrett e valeu a Eça a acusação de galicismo e estabeleceu os fundamentos da prosa moderna da Língua Portuguesa. Características • • • • • • Cenas “grotescas” com linguagem “polida”; Conteúdo “dolorido” e forma “sofisticada”; Estoicismo / Ironia fina; Descritivismo e detalhismo; Determinismo. A crítica literária costuma identificar três fases distintas na obra de Eça de Queirós . 1ª. fase • A primeira fase compreende , basicamente , crônicas jornalísticas reunidas posteriormente em volume , sob o título de Prosas bárbaras . • Escreveu um romance , O mistério da estrada de Sintra , em parceria com Ramalho Ortigão . • Um realismo ainda incipiente convive com heranças românticas mal disfarçadas . • O próprio escritor tentou fazer com que esse início de carreira fosse esquecido . • Trata-se da parte menos significativa da sua produção literária . 2ª. fase • A segunda fase tem início com a publicação do romance , O crime do padre Amaro , em 1875 . • Três anos depois , o autor daria continuidade a ela com O primo Basílio . • Em 1880 , escreve Os Maias , contando uma história incestuosa , bem ao gosto naturalista . • Trata-se da fase mais caracteristicamente realista-naturalista do autor . • Seus romances estão impregnados de elementos próprios do estilo , principalmente porque esboçam um panorama de crítica social e cultura da vida portuguesa , notadamente do ambiente burguês . • A ironia utilizada nesses romances desmascara o comportamento hipócrita e ocioso da burguesia lisboeta . • Destaque-se , contudo , a originalidade do estilo de Eça de Queiroz, que dotou a língua portuguesa de um novo ritmo de fase , com uma adjetivação surpreendente . 3ª. fase • Escapando da rigidez das normas realistas- naturalistas , confere lugar de destaque à fantasia , sem abandonar o registro crítico realista . • Em romances como A relíquia ( 1887 ) , A ilustre de Ramires ( 1897 ) e A cidade e as serras ( 1901 ) , o escritor se permite alguns vôos de imaginação . • Acrescente-se a nota saudosista das tradições portuguesas Eça , ainda e sempre um crítico do convencionalismo lusitano , agora , de longe ( por força de suas missões diplomáticas ) , observa a pátria com mais complacência . • Sua linguagem vai assumindo um registro cada vez mais pessoal , terminando por ser marcadamente impressionista , muito distante da objetividade exigida ao romance realista-naturalista típico . Principais obras • O Crime do Padre Amaro , 1876. Segunda edição refundida , 1880. O Primo Basílio , 1878. O Mandarim , 1880. A Relíquia , 1887. Os Maias , 1888. A Ilustre Casa de Ramires , 1900. Correspondência de Fradique Mendes , 1900. A Cidade e as Serras , 1901. Prosas Bárbaras , 1903. ANTERO DE QUENTAL Antero de Quental (1842 – 1891) • “Por mim penso, que, em Antero de Quental, me foi dado conhecer,neste mundo de pecado e de escuridade, alguém, filho querido de Deus,que muito padeceu porque muito pensou, que muito amou porque muito compreendeu, e que, simples entre os simples, pondo a sua vasta alma em curtos versos – era um Génio e era um Santo!” Eça de Queirós, “Antero de Quental” in Memoriam Antero Tarquínio de Quental • Nasceu na ilha de S. Miguel, Açores e desde de jovem destacou-se pelas suas opiniões revolucionárias e pela forma de estar na vida. Lutador e muito congruente com os seus ideais socialistas. • Antero espalhou saber pela poesia, filosofia e política. • Estudou direito em Coimbra, onde brilhou como líder estudantil. • Foi o guia espiritual da geração de 70, um agitador político a “full-time”, que se afirmou pelo desejo de intervenção e renovação da vida política e cultural portuguesa. • Tinha uma personalidade complexa, que oscilava entre a euforia e a mais profunda depressão, acabando em suicídio. Análise da obra A poesia de Antero de Quental apresenta três faces distintas: • A das experiências juvenis, em que coexistem diversas tendências • A da poesia militante, empenhada em agir como “voz da revolução” • E a da poesia de tom metafísico, voltada para a expressão da angustia de quem busca um sentido para a existência. A oscilação entre uma poesia de combate, dedicada ao elogio da ação e da capacidade humana, e uma poesia intimista, direcionada para a análise de uma individualidade angustiada, parece ter sido constante na obra madura de Antero, abandonando a posição que costumava enxergar uma seqüência cronológica de três fases. Antero atinge um maior grau de elaboração em seus sonetos, considerados dos melhores da língua e comparados aos de Camões e aos de Bocage. Obra • • • • Sonetos de Antero, 1861, Raios de extinta luz 1892 Primaveras românticas, 1872 Odes modernas, 1865 (na origem da polemica Questão Coimbrã) • Sonetos, 1886. • Prosas CESÁRIO VERDE José Joaquim Cesário Verde (1855-1886) • Filho do lavrador e comerciante José Anastácio Verde e de Maria da Piedade dos Santos Verde, Cesário matriculou-se no Curso Superior de Letras em 1873, frequentando por apenas alguns meses o curso de Letras. Ali conheceu Silva Pinto, grande amigo pelo resto da vida. Dividia-se entre a produção de poesias (publicadas em jornais) e as atividades de comerciante, herdadas do pai. • Em 1877 lhe começou a dar sinais a tuberculose, doença que já lhe tirara o irmão e a irmã. Estas mortes servem de inspiração a um de seus principais poemas, Nós (1884). • Tenta curar-se da tuberculose, sem sucesso; vem a falecer no dia 19 de Julho de 1886. No ano seguinte Silva Pinto organiza O Livro de Cesário Verde (disponível ao público em 1901), compilação de sua poesia. • De poesia delicada, Cesário empregou técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar a Cidade e o Campo, seus cenários prediletos. Evitou o lirismo tradicional, expressando da forma mais natural possível. Casa de Cesário Verde Características realistas: • Supremacia do mundo externo, da materialidade dos objetos; impõe o real concreto à sua poesia. • Predomínio do cenário urbano (o favorito dos escritores realistas e naturalistas). • Situa espaço-temporalmente as cenas apresentadas (ex: «Num Bairro Moderno» - «dez horas da manhã»). • Atenção ao pormenor, ao detalhe. • A seleção temática: a dureza do trabalho («Cristalizações» e «Num Bairro Moderno»); a doença e a injustiça social («Contrariedades»); a imoralidade das «impuras», a desonestidade do «ratoneiro» e a «miséria do velho professor» em «O Sentimento dum Ocidental». • A presença do real histórico: a referência a Camões e o contexto sócio-políticos em «O Sentimento dum Ocidental». • A linguagem burguesa, popular, coloquial, rica em termos concretos. • Pelo fato da sua poesia ser estimulada pelo real, que inspira o poeta, que se deixa absorver pelas formas materiais e concretas. Características modernistas: • A realidade é mediatizada pelo olhar do poeta, que recria, a partir do concreto, uma superrealidade através da imaginação transfiguradora, metamorfoseando o real num processo de reinvenção ou recontextualização precursora da estética surrealista. • Abre à poesia as portas da vida e assim traz o inestético, o vulgar, o feio, a realidade trivial e quotidiana. Forte componente sinestésica (cruzamento de várias sensações na apreensão do real), de pendor impressionista, que valoriza a sensação em detrimento do objeto real. • Um certo interseccionismo entre planos diferentes, visualismo e memória, real e imaginário, etc. Características estilísticas: • A exploração do espaço é feita através de sucessivas deambulações, numa perspectiva de câmara de filmar, em que se vão fixando vários planos • É uma espécie de olhar itinerante e fragmentário, que reflete o passeio obsessivo pela cidade (e também no campo em alguns poemas); uma poesia transeunte, errante. • O olhar seletivo: a descrição/evocação do espaço é filtrada por um juízo de valor transfigurador, profundamente sinestésico. • O poeta é como um espelho em que vem repercutir-se a diversidade do mundo citadino. • Automatismo psíquico: associações desconexas de idéias, visível nas frases curtas, na seqüência de orações coordenadas assindéticas, que sugerem uma acumulação, uma concatenação aleatória de idéias. • Adjetivação particularmente abundante e expressiva, com dupla e tripla adjetivação, ao serviço de um impressionismo pictórico. • Os substantivos presentificadores da realidade convocada, frequentemente em enumeração, que sugere uma acumulação, um compósito de elementos, característicos da construção pictórica. • • • • • • Características temáticas: A questão da inviabilidade do Amor na cidade. A humilhação (sentimental, estética, social). A preocupação com as injustiças sociais. O sentimento anti-burguês. O perpétuo fluir do tempo, que só trará esperança para as gerações futuras. Presença obsessiva da figura feminina. Obra • O Livro de Cesário Verde é a edição póstuma da coletânea dos poemas do poeta portugues Cesário Verde, feita por seu amigo Silva Pinto em 1887, reunindo os poemas editados em periódicos Levado pela fraternal amizade pelo poeta, e ao mesmo tempo pelo desejo de estudar-lhe criticamente o escasso legado poético, Silva Pinto organizou o livro segundo um critériio inteiramente pessoal, visto Cesário não haver deixado nem mesmo um esboço dele. Outros autores • Júlio Dinis, pseudónimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho (1839 – 1871) foi um médico e escritor português.. É por muitos considerado como um escritor de transição entre o fim do Romantismo e o princípio do Realismo. Embora tenha escrito poesia e teatro, notabilizou-se principalmente como romancista. • Principal Obra: • As Pupilas Do Senhor Reitor (1867) Outros autores • Abílio Manuel Guerra Junqueiro ( 1850 – 1923 ) • Foi o poeta mais popular da sua época e o mais típico representante da chamada “Escola Nova”. Poeta panfletário, a sua poesia ajudou criar o ambiente revolucionário que conduziu à implantação da República. É importante ressaltar que: • • • • O Realismo é um movimento artístico surgido na França, e cuja influência se estendeu a numerosos países europeus. Esta corrente aparece no momento em que ocorrem as primeiras lutas sociais, sendo também objeto de ação contra o capitalismo progressivamente mais dominador. Das influências intelectuais que mais ajudaram no sucesso do Realismo denota-se a reação contra as excentricidades românticas e contra as suas falsas idealizações da paixão amorosa, bem como um crescente respeito pelo fato empiricamente averiguado, pelas ciências exatas e experimentais e pelo progresso técnico. A passagem do Romantismo para o Realismo, corresponde uma mudança do belo e ideal para o real e objetivo. Até a próxima aula!