????? Memórias de um sargento de milícias Aula do livro Cursinho Vitoriano Profa Bárbara O correio mercantil e a “Pacotilha” • 1848-1868: jornal ligado ao Partido Liberal • Início do anos 1950 no Brasil foi politicamente agitado (disputa entre o partido liberal (luzias) e o conservador (saquaremas). Este último no poder. • O país era uma monarquia parlamentar, em que Dom Pedro II fazia o papel de chefe de estado e também de “Poder moderador”. • O Imperador invocou o “Poder moderador” em 1844, tirando os liberais do poder. Estes não ficaram quietos, e utilizavam outros jornais da época para criticar violentamente qualquer ato dos conservadores. • Entre outras denúncias , acusavam os conservadores de se aliarem aos portugueses contra os brasileiros dentro e fora do país. • Ideia do “regressismo”. • O Correio Mercantil era um dos jornais aliados aos liberais (com cerca de 2000 assinantes). • Aos domingos havia uma seção humorística chamada “Pacotilha” de tom galhofeiro e humorístico. Esse caderno também não perdia a oportunidade de ironizar os portugueses, considerados os grandes responsáveis pelo atraso do Brasil. • Apesar de humorística, a “Pacotilha” era por todos considerada um “órgão partidário – isto é, ligado ao Partido Liberal. • Na verdade, toda essa rivalidade não passava de uma disputa de poder entre luzias e saquaremas, pois, no fim, as ideias e opiniões de ambos partidos eram as mesmas. Sendo assim, ao perderem as eleições de 1952, os liberais fizeram um acordo com os conservadores e ambos chegaram ao poder. Tal fato troxe estagnação política e econômica ao Brasil por mais de uma década. As Memórias: Folhetim ou algo mais? • Foi dentro da “Pacotilha” que o livro Memórias de um Sargento de Mílicias foi escrito pela primeira vez (entre 27 de junho de 1852 e 31 de julho de 1853) Folhetim: texto ficcional (“romance-folhetim”) que se publicava em capítulos semanais ou diários num jornal, e cuja duração, indeterminada, poderia ser de semanas ou anos. Ou ainda: texto em tom de crônica, não necessariamente ficcional, que abordava assuntos diversos e não continuava necessariamente no número seguinte; era uma seção mais ou menos independente em relação ao jornal. Se assemelhava com o que hoje são nossas telenovelas. • As MSM incorporam elementos típicos do folhetim seriado: eram capítulos publicados semanalmente, interligados e elaborados de forma a fazer o leitor ficar curioso. Por outro lado, as MSM forma publicadas em um período de campanha eleitoral e dentro de um órgão que era a favor dos liberais. Será que a publicação, na época, era uma espécie de panfleto disfarçado? • Indiretamente, pode-se dizer, que muito de seu conteúdo – as críticas ao sistema judiciário e educacional, á polícia, ao clero, aos imigrantes portugueses, além do próprio comportamento “solto” das personagens – pode ter sido como uma alegoria da situação presente no Brasil. Alegoria porque o texto, escrito em 1852-53, enfoca o Brasil da época de Dom João VI (1808-21). O que o autor pretendeu dizer? Talvez, de forma irônica, ele estivesse insinuando que o Brasil de seu tempo não seria lá muito diferente do Brasil da época de Dom João VI. Nesse sentido, MSM poderiam constituir uma espécie de sátira social. • As Memórias contêm, sim, personagens espertas (“malandras”)humoristicamente construídas como possuidoras de uma forma negativa de inteligência. E, na época, era comum dizer que o “povo brasileiro” tinha aptidão para o bom uso da inteligência. De acordo com José Bonifácio “os brasileiros eram ignorantes por falta de instrução, mas cheios de talentos por natureza”. Faltava apenas um governos que lhes proporcionasse o direcionamento correto. • As Memórias evocavam mazelas e problemas do passado. O autor • • • • • • • Quando a obra MSM foi publicada pela primeira vez na “Pacotilha” não se apontou nenhuma autoria. A primeira vez que foi publicado em livro (dois volumes, um em 1854, outro em 1855) também não houve autoria, apenas um pseudônimo: Um brasileiro. O livro só foi atribuído a Manoel Antônio de Almeida numa edição de 1863, publicada após sua morte. O autor nasceu em 1831, no bairro da Gamboa, Rio de Janeiro, numa família de classe média baixa. Os pais eram portugueses e não se sabe quantos irmão teve ao certo. Como o pai morreu cedo, começou a trabalhar ainda muito novo para manter a casa. Foi estudante de medicina (profissão dos mais pobres) e , nessa época, começou a escrever em jornais. Em 1852 efetivou-se no Correio Mercantil. Saiu do jornal em 1856 após ter se formado em medicina para ocupar o cargo de diretor da Tipografia Nacional. Trabalhou sobre proteção política na Secretaria do Ministério da Fazenda. Almeida morreu em 1861 no naufrágio do vapor Hermes, quando viajava a fim de conseguir apoio político para sua candidatura a deputado. Mais tarde ocorreu um boato, jamais confirmado, de que seu corpo foi encontrado numa das praias do Rio, parcialmente devorado pelos peixes. • O livro MSM é diferente do folhetim. O autor operou algumas modificações antes de publicar o livro. • O diferencial para época com relação ao livro MSM e que lhe confere seu caráter único reside na incorporação da linguagem cômica empregada na “Pacotilha” caucada na linguagem falada (coloquial) da época. Hoje é uma das obras mais interessantes do Romantismo brasileiro; sua leitura é indispensável para quem quer conhecer a “outra face” daquele período. A obra • As Memórias constituem um dos pouco romances cômicos do romantismo nacional, afastando-se dos traços idealizantes que caracterizam boa parte das obras “sérias” dos autores de então, tais como José de Alencar, Joaquim Manoel de Macedo, etc. • MSM é pioneiro entre outro aspecto: foi um dos primeiros romances brasileiro publicado quando o gênero ainda era “novo”. Em que consiste a obra Memórias de um Sargento de Milícias? • Trata-se de um Romance de costumes brasileiros escrito na primeira metade da década de 1850 e que referia a acontecimentos do “tempo do rei” (quando o Brasil foi sede da monarquia portuguesa). • Embora não seja um romance histórico, decorre igualmente em um tempo muito anterior ao da narração, que situa em seu próprio tempo presente. • Foco em terceira pessoa, o texto se debruça sobre as aventuras e desventuras de um meirinho daquela época, Leonardo Pataca, e seu filho, também chamado Leonardo. • O narrador , de 3ª pessoa, é onisciente (sabe mais do que os próprios personagens). Isso lhe permite fazer juízo de valor acerca das ações das personagens no plano social. • As Memórias foram lidas como um “romance de costumes” no qual se fazia a representação da sociedade, mas não era ainda o Realismo. • Costuma-se dizer que as aventuras e andanças de ambos os Leonardos oferecem um vivo painel da vida da sociedade carioca do século XIX. • Nas Memórias a descrição sempre se subordina à narração. A ação não para. • Na primeira parte do livro, o autor se dedica mais em pintar cenas da vida carioca. É o que se costuma chamar de aspecto “documenário”, baseado em estereótipos, por esse motivo os capítulos parecem ser mais independentes. Já no segundo tomo a amarração entre os capítulos se torna mais consequente, e os episódios passam a obedecer uma ordem de causa e efeito mais elaborada. • Sendo assim, a primeira parte do livro é mais descritiva (romance documentário). Já a segunda, é onde a história de Leonardo passa a ser contada. 1. Romance picaresco? 2. Romance malandro? 3. Romance documentário? 4. Romance representativo? 5. O mundo sem culpa? Segundo Antonio Candido, as Memórias seriam um “romance representativo”, cujo eixo estrutural estaria nas oscilações entre os polos da ordem e da desordem. Ou seja, o fato de suas principais personagens, os Leonardos (especialmente o filho), circularem com tanta bossa e naturalidade entre os opostos universos da legalidade (ordem) e da ilegalidade (desordem) impediria o leitor de discernir onde, com efeito, está a ordem, onde a desordem – daí seu caráter “malandro”. Soma-se a isso outro fato: todas as personagens carregam na consciência “um sofrível par de pecados” – todas erram, e essa banalização do erro, na opinião de Antonio Candido, transforma as MSM em um “mundo sem culpa”. Questões • (FUVEST) Indique a alternativa que se refere corretamente ao protagonista de Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida: a) Nele, como também em personagens menores, há o contínuo e divertido esforço de driblar o acaso das condições adversas e a avidez de gozar os intervalos da boa sorte. b) Este herói de folhetim se dá a conhecer sobretudo nos diálogos, nos quais revela ao mesmo tempo a malícia aprendida nas ruas e o idealismo romântico que busca ocultar. c) A personalidade assumida de sátiro é a máscara de seu fundo lírico, genuinamente puro, a ilustrar a tese da "bondade natural", adotada pelo autor. d) Enquanto cínico, calcula friamente o carreirismo matrimonial; mas o sujeito moral sempre emerge, condenado o prõprio cinismo ao inferno da culpa, do remorso e da expiação. e) Ele é uma espécie de barro vital, ainda amorfo, a que o prazer e o medo vão mostrando os caminhos a seguir, até sua transformação final em símbolo sublimado. (FUVEST) Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe¹ em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, o que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria de hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia² rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão³. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremando beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença d serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos. (Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias) Glossário: 1algibebe: mascate, vendedor ambulante. saloia: aldeã das imediações de Lisboa. 3maganão: brincalhão, jovial, divertido. 2 Neste excerto, o modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre Leonardo e Maria a) manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos portugueses em oposição ao refinamento dos brasileiros. b) revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as classes populares, mas de maneiras respeitosa a aristocracia e o clero. c) reduz as relações amorosas a seus aspetos sexuais e fisiológicos, conforme os ditames do Naturalismo. d) opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas, dominante do Romantismo. e) evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colonial escravista. • (UFRS-RS) Leia o texto abaixo, extraído do romance Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida. “Desta vez porém Luizinha e Leonardo, não é dizer que vieram de braço, como este último tinha querido quando foram para o Campo, foram mais adiante do que isso, vieram de mãos dadas muito familiar e ingenuamente. E ingenuamente não sabemos se se poderá aplicar com razão ao Leonardo.” Considere as afirmações abaixo sobre o comentário feito em relação à palavra ingenuamente na última frase do texto: I. O narrador aponta para a ingenuidade da personagem frente à vida e às experiências desconhecidas do primeiro amor. II. O narrador, por saber quem é Leonardo, põe em dúvida o caráter da personagem e as suas intenções. III. O narrador acentua o tom irônico que caracteriza o romance. Quais estão corretas? a) Apenas I b) Apenas II c) Apenas III d) Apenas II e III e) I, II e III