Manuel Antonio de Almeida
BIOGRAFIA
Manuel Antônio de Almeida, jornalista, cronista, romancista,
crítico literário, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 17 de novembro
de 1830, e faleceu em Macaé, RJ, em 28 de novembro de 1861. É o
patrono da Cadeira n. 28, por escolha do fundador Inglês de
Sousa.
Era filho do tenente Antônio de Almeida e de Josefina Maria de
Almeida. Órfão de pai aos 11 anos, pouco se sabe dos seus estudos
elementares e preparatórios; aprovado em 1848 nas matérias
necessárias ao ingresso na Faculdade de Medicina, cursou o 1 ano
em 49 e só concluiu o curso em 1855. As dificuldades financeiras o
levaram ao jornalismo e às letras.
Em 1858 foi nomeado Administrador da Tipografia Nacional,
quando encontrou Machado de Assis, que lá trabalhava como
aprendiz de tipógrafo. Em 59, foi nomeado 2o oficial da
Secretaria da Fazenda e, em 1861, desejou candidatar-se à
Assembléia Provincial do Rio de Janeiro. Dirigia-se a Campos,
para iniciar as consultas eleitorais, quando morreu no
naufrágio do navio Hermes, próximo a Macaé.
Além do romance, publicou a tese de doutoramento em
Medicina e um libreto de ópera. A sua produção jornalística crônicas, críticas literárias - permanece dispersa. O seu livro
teve grande êxito de público, embora a crítica só mais tarde
viesse a compreendê-lo devidamente, reservando-lhe um lugar
de relevo na literatura, como o primeiro romance urbano
brasileiro.
 As Memórias de um Sargento de Milícias são um dos
livros mais singulares da literatura brasileira.
 Trata-se, basicamente, de um romance de humor
popular, fundado nas aventuras de tipos da sociedade
carioca do começo do século passado.
 O pequeno romance, desataviadamente construído,
sem os adornos e truques do Romantismo ainda em
voga, constituía uma realização feliz, que lhe
asseguraria existência duradora e lugar definitivo na
história da ficção brasileira.
 O humor explorado por Manuel Antonio de Almeida é
semelhante ao das peças de Martins Pena, autor de O
Noviço (encenada em 1845, sete anos antes do início
das Memórias).
 Destinadas às páginas de um jornal, as Memórias
apresentam capítulos unitários, quase todos um
episódio completo.
 O conjunto
desses episódios
reconstitui a
vida de
Leonardo Pataca
e de seu filho
Leonardo, em
meio a um vivo
retrato das
camadas baixas
do Rio de Janeiro
de D. João VI.
 O romance dá muita atenção às festas, encontros,
instituições e profissões populares da cidade, cujas ruas
são descritas com a animação de uma verdadeira
narrativa de costumes.
 É um romance muito agitado e festivo, não há
praticamente nenhuma página sem um incidente ou
surpresa espantosa.
 Sua principal característica consubstanciava-se na
impressão de verdade objetiva que saltava de suas
páginas. Nos seus quadros, nas suas figuras, nos seus
diálogos, no seu entrecho, havia um contraste flagrante
de realidade cotidiana com o idealismo das construções
literárias então aclamadas pela sociedade do tempo do
Império.
 As Memórias de um Sargento de Milícias foram
publicadas em folhetins anônimos entre 27/06/1852
a31/07/1853, no suplemento dominical do Correio
Mercantil, a Pacotilha.
 Em livro, a obra saiu nos anos de 1854 e 1855, em dois
volumes.
 Cada volume correspondia a uma das partes da obra.
 O autor usa na folha de rosto do livrinho
― Um brasileiro.
 No final do século XIX, o crítico José Veríssimo
interpretou as Memórias de um Sargento de Milícias
como um romance pré-realista.
 Mário de Andrade aproximou-as do romance picaresco
espanhol.
 Antonio Candido demonstrou que se trata de um
romance
propriamente
romântico,
particularidade, excentricidade.
com
 As Memórias distanciam-se da média da sensibilidade
romântica pelas seguintes razões:
 A história não envolve personagens da classe dominante,
mas sim pessoas de baixa renda.
 A personagem central não é herói nem vilão, trata-se de
um anti-herói malandro, de natureza picaresca, isto é,
próximo do pícaro espanhol.
 As cenas não são idealizadas, mas reais, e apresentam
aspectos pouco poéticos da existência.
 Numa época em que era de bom tom falsear a realidade
para embelezá-la, Manuel Antônio de Almeida pinta os
seus tipos sem as deformações do Romantismo ainda em
moda em nossa literatura.
 Ausência de moralismo e recusa da ideia de que as ações
humanas se dividem necessariamente entre boas e más.
 Troca do sentimentalismo pelo humorismo, do estilo
elevado e poético pelo estilo tosco e direto, sem torneios
embelezadores.
 O estilo é oral e descontraído, diretamente derivado da
conversa ou do estilo jornalístico do tempo.
 Apresenta o estilo
descontraído do jornal ao
romance.
 Todas as suas
personagens pertencem
às camadas populares.
 É simples, direta,
praticamente sem
metáforas ou
refinamentos retóricos.
 As descrições da obra apontam para duas direções:
 ora para um retrato vivo da indumentária, costumes,
logradouros públicos e instituições do velho Rio;
 ora para a exageração dos traços físicos das pessoas e das
situações.
 O exagero configura as caricaturas, que tornam o
romance popular.
 As
Memórias de um
Sargento de Milícias têm
foco narrativo em terceira
pessoa.
 O romance possui algumas
propriedades de romance
histórico: se detém na
captação de cenas e
costumes do passado.
 Trata-se também de um
romance de costumes com
propriedades picarescas.
 Sua ação é episódica,
parcelada.
 O romance picaresco, expressão derivada do termo
pícaro, espécie de personagem marginal que vive ao
sabor do acaso.
 Manuel Antônio de Almeida dá preferência ao antiherói , que se defende das hostilidades do mundo com
improviso e embustes e ardis, ou seja: semelhante ao
pícaro, da velha tradição literária espanhola.
 As personagens são tipos sociais: várias não possuem
nome no livro, designam-se pela profissão ou condição
social que possuem: o barbeiro, a cigana, a parteira, o
fidalgo, o mestre-de-cerimônias, etc.
 Toda vez que o narrador das
Memórias apresenta um
episódio da vida de Leonardo
ou de outra personagem, ele
traça, antes, o painel social
do cenário em que se
desenvolverá a peripécia.
 Há, no livro, constantes alusões a instrumentos,
danças e modinhas da época retratada. Chega mesmo
a transcrever três trechos de modinhas populares no
tempo: uma cantada por Leonardo, durante a festa do
batizado do filho; duas outras cantadas por Vidinha,
numa de suas patuscadas com os primos e amigos.
 Em mais de uma passagem, fornece detalhes sobre o
fado, apresentado como dança típica de Brasil.
 Os namorados das Memórias tratam-se por senhor e
senhora.
"– A senhora... sabe... uma coisa?
E riu-se com uma risada forçada, pálida e tola.
Luisinha não respondeu. Ele repetiu no mesmo tom:
– Então... a senhora... sabe ou... não sabe?
E tornou a rir-se do mesmo modo. Luisinha conservou-se muda.
– A senhora bem sabe... é porque não quer dizer... Nada de resposta.
– Se a senhora não ficasse zangada... eu dizia... Silêncio.
– Está bom... eu digo sempre... mas a
senhora fica ou não fica zangada?
Luisinha fez um gesto de quem estava impacientada.
– Pois então eu digo... a senhora não sabe... eu... eu lhe quero... muito
bem."
 A mãe de Vidinha, no capítulo 8 da segunda parte,
dirige-se informalmente à filha na segunda pessoa do
plural, dizendo: “Ai, criatura, quereis que vos reze um
responso para cantardes uma modinha?”
 Leonardo age mais do que fala.
 Um dos importantes traços estilísticos de Memórias é a
constante referência do narrador ao leitor. Isso
certamente tem a ver com o propósito de estabelecer
um suposto diálogo amigável com o público do jornal,
isto é, esse traço revela o interesse de facilitar a
recepção da obra, como deixa ver o seguinte
fragmento:
 “Dadas as explicações do capítulo precedente,
voltemos ao nosso memorando, de quem por um pouco
nos esquecemos. Apressemo-nos a dar ao leitor uma
boa notícia: o menino desempacara do F, e já se achava
no P, onde por uma infelicidade empacou de novo.”
 Essa
é a razão de suas constantes referências
metalinguísticas, chamando a atenção do leitor para
acontecimentos apresentados anteriormente ou para
os que está prestes a apresentar.
 Manuel Antônio faz questão
de manter o equilíbrio
emocional, primando pela
clareza e ridicularizando
todo e qualquer
transbordamento emotivo
em suas personagens.
 Nascimento de Leonardo
“Quando saltaram
em terra começou a Maria a sentir certos enjôos;
foram os dois morar juntos; e daí a um mês manifestaram-se claramente
os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um
filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e
vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que
nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peio. E este
nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos
interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.”
 Aos sete anos, a mãe é pega em adultério
 Fuga da mãe com o Capitão do navio para Portugal
 Abandonado pelo pai, é acolhido pelo barbeiro
“O pequeno quando se achou novato em casa do padrinho,
portou-se com toda a sisudez e gravidade; apenas porém foi
tomando mais familiaridade, começou a pôr as manguinhas de
fora. Apesar disto porém captou do padrinho maior afeição,
que se foi aumentando de dia em dia, e que em breve chegou
ao extremo da amizade cega e apaixonada. Até nas próprias
travessuras do menino, as mais das vezes malignas, achava o
bom do homem muita graça; não havia para ele em todo o
bairro rapazinho mais bonito, e não se fartava de contar à
vizinhança tudo o que ele dizia e fazia; à vezes eram
verdadeiras ações de menino malcriado, que ele achava cheias
de espírito e de viveza; outras eram ditos que denotavam já
muita velhacaria para aquela idade, e que ele julgava os mais
ingênuos do mundo.”
• Leonardo - pai procura um feiticeiro para salvar sua relação
com Cigana
• Prisão de Leonardo – pai / Proteção da comadre / Soltura
• Padrinho desconhece sua própria origem/ África / Retorno ao
Brasil
• Capitão do navio confiou-lhe sua fortuna / Problemas com
vizinha
• Primeiras letras com o Padrinho / Escola (02 anos)
• Saída da escola e torna-se sacristão da Igreja
• Vingança da vizinha e depois do Padre (Horário do Sermão)
• Armação de Leonardo Pataca contra Padre / Vida com a
Cigana
SEGUNDA PARTE
“Os leitores devem já estar fatigados de histórias de travessuras
de criança; já conhecem suficientemente o que foi o nosso
memorando em sua meninice, as esperanças que deu, e o futuro
que prometeu. Agora vamos saltar por cima de alguns anos, e
vamos ver realizadas algumas dessas esperanças. Agora
começam histórias, senão mais importantes, pelo menos um
pouco mais sisudas.”
• Leonardo conhece Luisinha, através do padrinho.
• Presença de José Manuel / Histórias contrárias da Comadre
• Leonardo Pataca une-se à Chiquinha / Morte do Padrinho /
Herança
• Todos passam a morar juntos, inclusive a Comadre
• Exclusão de Leonardo/ Surge Vidinha / Casa da rua d’Vala
“Leonardo passava vida completa de vadio, metido em casa todo
o santo o dia, sem lhe dar o menor abalo o que se passava lá fora
pelo mundo. O seu mundo consistia unicamente nos olhos, nos
sorrisos e nos requebros de Vidinha.”
• Prisão e fuga do herói / Emprego na ucharia ( Despensa do rei)
• Caso com mulher do Toma-largura / Prisão
• Romance do Toma-largura com Vidinha (Vingança)
• Festa na casa de Vidinha / Toma Largura bebeu demais
• Major Vidigal e seus granadeiros, inclusive Leonardinho
• Diabruras na polícia / Surra e perdão / Proteção ao bicheiro
Teotônio
• Prisão com promessas de chibatadas
• Comissão de mulheres para proteger Leonardo: D Maria,
Comadre e Maria Regalada
• Promessa de Promoção a Sargento
• José Manuel, casado com Luisinha, morre de derrame
• Enterro sem choro, pois ele maltratava a esposa e preocupava-se
somente com o dinheiro dela.
• Reencontro no velório
• Soldados na Ativa não podiam casar, Major Vidigal transfere-o
para a Milícia (guarda civil)
“ Depois disto entraram todos em conferência. O major desta
vez achou o pedido muito justo, em conseqüência do fim que se
tinha em vista. Com a sua influência tudo alcançou; e em uma
semana entregou ao Leonardo dois papéis: um era a sua baixa
da tropa de linha; outro, sua nomeação de Sargento de Milícias.
Além disto recebeu o Leonardo ao mesmo tempo carta
de seu pai, na qual o chamava para fazer-lhe entrega do que lhe
deixara seu padrinho, que se achava religiosamente intacto.
Passado o tempo indispensável do luto, o Leonardo, em
uniforme de Sargento de Milícias, recebeu-se na Sé com
Luisinha, assistindo à cerimônia a família em peso.
Daqui em diante aparece o reverso da medalha. Segui-se
a morte de Dona Maria, a do Leonardo-Pataca, e uma enfiada
de acontecimentos tristes que pouparemos aos leitores, fazendo
aqui o ponto final.”
VII. Comentário Final
• Trata-se de um romance muito agitado e festivo, em que não há
nenhuma página sem um incidente ou surpresa espantosa.
• “Dialética da malandragem”(A. Cândido)
• Movimento de convivência de opostos que tornam-se o
elemento estrutural do romance: jogo de oposições e
conciliações entre ordem e desordem.
• Leonardo Pataca – (oficial de justiça) desce aos mais escuros
porões da desordem por causa das paixões.
• Leonardo – malandro premiado e integrado numa posição
social respeitável.
• Padrinho – homem bom, mas tem a base de sua situação
decente num episódio condenável.
• Major Vidigal – Representante máximo da ordem no final
entrega-se a um delicioso compromisso com a desordem
• Os namorados da Memórias tratam-se por Senhor e Senhora
• A linguagem do narrador é descontraída , mas o seu registro
lingüístico não deixa de obedecer a norma culta do idioma.
•“Ai, criatura, quereis que vos reze um responso para cantardes
uma modinha?“ (Mãe de Vidinha)
• Quando as personagens se expressam, elas o fazem pelo padrão
popular
• Leonardo faz pouco uso do diálogo, valorizando mais a ação do
que a fala. ( Mário de Andrade – adaptado)
• As Memórias apresentam capítulos unitários, contendo quase
todos um episódio completo.
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