Semiologia gráfica:
uso das variáveis
visuais
Prof. Eduardo Paulon Girardi
Semiologia gráfica
A semiologia gráfica é um conjunto regras que permite o melhor
uso de elementos gráficos para a elaboração mais eficaz de
gráficos, diagramas e mapas;
Foi elaborada tomando como base a forma como o sistema
visual humano percebe as informações gráficas e as organiza, o
que permite, com sua utilização, melhor comunicação das
informações graficamente representadas/transcritas;
Os seus fundamentos estão presentem em todos os manuais de
cartografia geográfica, sendo alguns ampliados a partir das
proposições iniciais de Jacques Bertin;
O trabalho seminal é de Jacques Bertin “Semiologia gráfica:
gráficos, diagramas e mapas”, de 1962.
Semiologia gráfica – variáveis visuais
Um dos postulados de Jacques Bertin é que há oito variáveis visuais: as duas
dimensões do plano (X e Y) e seis variáveis retínicas (Z - elevação) (tamanho,
valor (brilho), granulação (textura), cor (matiz), orientação e forma). Os
componentes (informações) são transcritos pelas variáveis retínicas em Z).
As variáveis retínicas são implantadas (ponto, linha e área) nas localizações X
e Y. No mapa, atuam apenas as seis variáveis retínicas, pois a localização X e
Y está comprometida com a base cartográfica e localização dos objetos;
FORMA
Pode ser geométrica (círculo, quadrado, triângulo) ou irregular (caso
dos símbolos pictóricos – árvore, avião, vaca etc.). É ideal para
diferenciar múltiplos caracteres, ou seja, para dados qualitativos
(nominais) (quando aplicada pontual ou linearmente).
TAMANHO
Os sinais que marcam um ponto podem variar de tamanho (altura e
largura) ou de volume (altura, largura e profundidade – 3D). É
indicada para representar os dados quantitativos absolutos, pois é a
única que transcreve a quantidade. Sendo assim, os efetivos
(número de habitantes, renda bruta, área cultivada, quantidade
cultivada etc.) devem ser representados pelo tamanho.
ORIENTAÇÃO
Aplicada para linhas e formas alongadas considerando diferentes
direções, as quais não podem passar de quatro: horizontal, vertical e
duas inclinações de 45º. Variável utilizada para mapas qualitativos
(dados nominais).
VALOR [brilho]
Refere-se à claridade ou escuridão de um sinal, ou seja, às variações
de cinza considerando desde o preto até o branco. Aplicada a uma
a um mesmo matiz é a variação de brilho. Utilizada para representar
valores relativos (porcentagens, índices etc.) ou em mapas
ordenados, como abaixo.
GRANULAÇÃO
É uma textura padronizada obtida a partir do tamanho e espaçamento
de pontos ou linhas. São utilizadas em mapas coropléticos (valores
relativos) em substituição ao valor e saturação, sendo a variação de
tamanho ou de espaçamento (ou ambos, como abaixo) responsáveis
pela sensação de valor.
COR (MATIZ, SATURAÇÃO E BRILHO [VALOR])
A cor possui três variáveis visuais: matiz, saturação (ou croma) e
brilho.
Matiz: constitui os diferentes comprimentos de onda de luz visível do
espectro eletromagnético que geram diferentes cores (azul,
vermelho, amarelo). É uma variável visual seletiva (dados nominais)
mas também pode ser utilizada de forma ordenada se adotarmos o
círculo das cores (esta é uma opção que deve ser usada em último
caso).
Saturação (mesma função do valor/brilho): é a variação entre o
cinza (sem cor aparente) e a cor pura (sem cinza aparente). É
ordenado e deve ser utilizado como o valor.
Brilho [valor]: é o contraste de luminosidade aplicado à cor (matiz) –
que varia do preto (ausência de brilho) ao branco (brilho total). Se
subtraído o matiz, é o valor, dado pelos diversos níveis de cinza. É
ordenado.
COR (MATIZ, SATURAÇÃO E BRILHO [VALOR])
COR (MATIZ, SATURAÇÃO E BRILHO)
Visitar http://colorbrewer2.org/
Círculo das cores
• Matiz não é a melhor variável visual para expressar a
ordem, mas sim a diferença ou a semelhança.
• Contudo, quando diferentes comprimentos de onda do
espectro eletromagnético são colocados em sequência é
possível gerar a sensação de ordem. O círculo das cores
opera a partir deste princípio.
• Há duas sequências de ordem crescente partindo do
amarelo, sendo uma sequência quente e outra fria. Ambas
terminam no violeta.
Círculo das cores
(Níveis de organização ou propriedades perceptivas das variáveis)
Váriáveis visuais e níveis de organização /
propriedades perceptivas
Variáveis visuais SELETIVAS:
- permite diferenciar os elementos representados por elas;
– usada para representar dados no nível de medida NOMINAL;
- variáveis visuais seletivas adequadas para os dados nominais: (cor
[matiz], orientação e forma, que são apenas seletivas e associativas não usar tamanho, valor e granulação).
Váriáveis visuais e níveis de organização /
propriedades perceptivas
Variáveis visuais
ASSOCIATIVAS:
- permitem que os elementos representados por elas sejam percebidos
como um grupo;
– usada para representar dados no nível de medida NOMINAL;
- variáveis visuais seletivas adequadas para os dados nominais: (cor [matiz],
orientação e forma, que são apenas seletivas e associativas - não usar
tamanho, valor e granulação).
Váriáveis visuais e níveis de organização /
propriedades perceptivas
Variáveis visuais ORDENADAS:
- permite que os elementos por elas representados sejam ordenados;
- representa dados no nível de medida ordinal (mas também intervalar e
proporcional, que igualmente são ordenados)
-
variáveis visuais ordenadas adequadas para os dados ordinais (+intervalar
+proporcional): valor (brilho) [saturação] e granulação (mas também a cor
[matiz] se usada a sequência do círculo das cores).
Váriáveis visuais e níveis de organização /
propriedades perceptivas
Variável visual QUANTITATIVA:
- transcreve quantidades, dando uma aproximação da ordem fornecida
pelos dados
- são utilizadas para representar os dados no nível de medida proporcional –
apenas o tamanho é quantitativo e é reservado para dados proporcionais
que estejam em valores absolutos);
Depois de Bertin
Semiologia gráfica - monossemia
Um dos postulados de Jacques Bertin é que a construção gráfica
(imagem – mapa) é monossêmica, diferente de elaborações
gráficas como a fotografia, a pintura, a publicidade.
No sistema monossêmico o significado de cada signo é conhecido
a priori da observação do conjunto de signos, o que não permite
lacunas para interpretações dúbias sobre o que determinado signo
representa. A monossemia permite que a leitura dos signos seja
padronizada para todos os leitores. A legenda é o elemento
responsável pela padronização do significado de cada signo.
Semiologia gráfica –monossemia
A mensagem da primeira imagem (polissêmica) é ambigua; cada
um terá uma mensagem; a mensagem da segunda imagem só
retrata uma mensagem – A é quatro vezes maior que B
(monossêmica) – mapa para ver.....
Imagem polissêmica
Imagem monossêmica
Tamanho das indústrias
Semiologia gráfica - monossemia
Nem todo mapa é monossêmico; nem todo mapa é uma imagem para ver – há
mapas para ler;
De acordo com Bertin, os mapas para ver são aqueles que elaborados a partir das
variáveis da imagem (tamanho e valor), que são variáveis ordenadas e que
permitem a formação de uma imagem; os mapas feitos com essas variáveis (desde
que com apenas uma) são mapas para ver – em apenas um golpe de vista o leitor
compreende a transcrição do componente (informação) pela variável visual;
Os mapas para ler são mapas que possuem informações e variáveis visuais que não
penas a localização X e Y e uma das duas variáveis da imagem (tamanho e valor).
Semiologia gráfica - monossemia
As demais variáveis visuais (granulação, cor, orientação e forma) são
variáveis de separação da imagem – elas não formam a imagem, mas
apenas separam os elementos. O leitor não compreende de imediato o
conjunto das informações ou compreende os elementos de forma
separada/isolada.
Mapa para ver x mapa para ler
Mapa para VER
Apenas um componente;
Apenas uma variável visual
e que é ordenada.
Mapa para ver x mapa para ler
Mapa para LER
Dois componentes e duas
Variáveis visuais, sendo que
uma (cor) não é ordenada
Dois componentes e duas
variáveis visuais (mesmo que
sejam as duas ordenadas)
Representação qualitativa
Expressa a existência, localização e
extensão de ocorrência dos
fenômenos.
Variável visual deve ser seletiva ou
associativa.
Exemplo
Tipo de implantação: área
Componente: nominal (qualitativo)
Variável visual: cor (seletiva e
associativa)
Representação ordenada
Expressa fenômenos que
apresentam ordem hierárquica entre
os elementos.
Variável visual deve ser ordenada (o
tamanho, embora seja ordenado,
deve ser reservado à
proporcionalidade). A cor pode ser
explorada (clara e escura - fria e
quente).
Ex: Tipo de implantação: área
Componente: ordinal
Variável visual: valor e cor (círculo
das cores)
Representação quantitativa
Expressa relação de
proporcionalidade entre os
componentes.
Variável visual deve ser quantitativa
(somente o tamanho)
Método dos círculos proporcionais;
Raio do círculo = raiz de Q (qdade);
Ex: Tipo de implantação: ponto
Componente: quantidade
Variável visual: tamanho
(quantidade)
Referências bibliográficas/fontes
BERTIN, J. A neográfica e o tratamento gráfico da informação.
Curitiba: UFPR, 1986 [1977].
MARTINELLI, M. Curso de Cartografia Temática. São Paulo:
Contexto, 1991.
NOGUEIRA, R. E. Cartografia: representação, comunicação e
visualização de dados espaciais. Florianópolis: Editora da
UFSC, 2009.
RAMOS, C. da S. Visualização cartográfica e cartografia
multimídia: conceitos e tecnologias. São Paulo: Unesp, 2005.
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AS VARIÃ VEIS VISUAIS_2015