Mediações e
linguagens
Capítulo 25
1. Narcisismo e mediação
O Narciso era um jovem de imensa beleza e de invejável
O
O
O
O
poder de sedução.
Era alvo de paixão mas se mantinha distante aos
apelos amorosos.
Certo dia, vendo sua própria imagem refletida nas
águas de um lado, apaixonou-se por seu reflexo.
Buscando aproximar-se do ente amado, precipitou-se,
desaparecendo nas águas.
O mito de Narciso é usado, por alguns autores, como
referência para falar da paixão por si mesmo que
recebeu o nome de narcisismo.
O Outros autores evocam o mito grego para mostrar
como as imagens podem ser enganosas, iludindo
nossos sentidos.
O O sociólogo canadense Marshall McLuhan interpretou
o mito de forma diferente: sustentou que Narciso não
pensava ser de outra pessoa a imagem que avistou no
lago, mas, ao contrário, apaixonou-se pelo seu reflexo
justamente por considerá-lo uma extensão de si
mesmo.
O O mito contém esta ambiguidade: por quem Narciso
apaixonado se precipitou nas águas? Por si mesmo ou
por outra pessoa de quem acreditava ser o reflexo?
O Essa dúvida revela que a função mais importante da
imagem é a de ser um meio.
O A imagem é um veículo que tanto pode dirigir a
percepção humana para o interior de si mesmo, para
sua subjetividade, como pode dirigi-la para fora de si,
para a realidade ou em direção ao outro.
O O fato de as duas interpretações serem possíveis
revela esse duplo sentido da imagem e a forma pela
qual ela atua como um veículo, uma mediação entre o
ser humano e a construção de seus sentidos, emoções
e identidade.
2. O ser das ciências humanas
O Como a imagem da criança diante do espelho,
estudada por Jacques Lacan, o reflexo de Narciso
nas águas do lago é um meio pelo qual podemos
vivenciar processos emocionais e cognitivos.
O A imagem da criança e o reflexo do belo jovem são
signos pelos quais nos comunicamos com nossa
própria interioridade ou com o outro, com quem nos
relacionamos.
O A vida do ser humano envolve esse contínuo
movimento – em direção ao interior e ao exterior –
mediado por signos, que por um lado, nos
aproximam daquilo que querem representar
(referente), tornando-o presente. Mas por outro, nos
afastam de seu referente, substituindo-o.
O A cultura correspondente àquilo que nos separa de
um estado de natureza animal e que se constitui em
formas de pensar, sentir e produzir criadas pelo
grupo social em substituição a um comportamento
instintivo, genético e intuitivo para o qual fomos
inicialmente dotados.
O Comunicação – experiência vivida por meio de signos
criados na vida coletiva, num determinado espaço e
tempo.
O O ser humano que interessa à sociologia não é
apenas o ser que age em função daquilo que pensa,
sente e expressa sobre sua ação.
O Do mesmo modo, os signos com os quais expressa
seus anseios, desejos e pensamentos não
interessam à sociologia como um sistema em si
mesmo, mas como forma de mediação entre os
seres humanos e entre eles e o mundo.
3. Contatos e mediações
O Os signos funcionam como afastamento de condições
naturais e respostas espontâneas e inatas (desde
quando nascemos) para determinados estímulos.
O Como no mito de Narciso, eles se interpõem como
mediações em nossa relação com o outro e com as
coisas do mundo.
O Os signos representam certo distanciamento que, por
sua vez, facilitam o trânsito entre seres e coisas.
O A imagem refletida no lago tanto afasta quanto
precipita Narciso em direção ao objeto de sua paixão
e desejo.
O A imagem é um signo e uma mediação entre ele e o
O
O
O
O
ser amado.
As relações humanas são importantes para a
sociologia pois há o contato, cujo interesse está em
ele ser um pressuposto do processo associativo.
Os contatos contínuos, geralmente, levam os
interagentes a estabelecer relações, associações e
vínculos.
Os contatos podem ser divididos em primários e
secundários.
Primários são aqueles que dependem dos sentidos
humanos – há proximidade física e contato face a
face.
O Já os secundários envolvem distanciamento e
mediação dos meios de comunicação, como
telegramas e telefones.
O mito de Babel e a
globalização
O A importância da linguagem no desenvolvimento da
sociedade humana está expressa em uma das mais
famosas passagens bíblicas: o mito de Babel.
O Apesar da variedade de dialetos e idiomas, de
jargões e sotaques, linguistas sustentam que as
línguas humanas são estruturalmente muito
semelhantes.
O A diversidade linguística não é suficiente para
impedir uma coesão grupal intensa, que se
manifesta sob a forma de identidade étnica e
regional entre os falantes.
O A diversidade linguística resultou das variações
morfológicas e fonéticas, da hereditariedade, que nos
faz assimilar a língua de nossos pais, e do isolamento
geográfico dos grupos.
O Se é possível compreender como as diferentes línguas
foram se diferenciando ao longo da história da
migração dos povos, também se pode entender por
que, na atualidade, passamos por um fenômeno
inverso ao do mito de Babel.
O Com o desenvolvimento dos meios de comunicação
de massa e com a globalização homogeneizou-se a
linguagem.
O Aparecimento de um idioma derivado do inglês que é
falado no mundo todo.
O A linguagem é um fenômeno vivo e está em constante
movimento, apresentando mudanças internas, de
caráter formal, assim como históricas, resultantes da
dinâmica das sociedades.
O Todas as línguas são igualmente ricas e complexas e
desempenham com pleno êxito sua função de construir
simbolicamente a realidade, tornando-a comunicável.
O Se a língua falada foi uma forma de mediação criada
para estabelecer relações de um ser humano com
outro, a escrita estendeu essa função no tempo e no
espaço. Assim, o signo passou a ser uma extensão do
ser humano, perpetuando-o. Do mesmo modo, a escrita
se tornou uma extensão da língua falada.
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