Alexandro Cabral Rabelo
1. FAMULUS (latim): conjunto de servos e
dependentes de um chefe ou senhor.
Entre os chamados dependentes inclui-se
a esposa e os filhos. Assim, a família
greco-romana compunha-se de um
patriarca e seus fâmulos: esposa, filhos,
servos livres e escravos.
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2. Conceito de FAMÍLIA: eis o desafio!
a. Áreas de estudo:
* economistas: consumo doméstico.
* juristas: leis ligadas à família.
* sociólogos: funcionamento social.
* psicólogos: efeitos sobre os indivíduos das
relações inter e intrafamiliar.
F. Engels: 1º grande estudioso da família –
“Origem da Família, da propriedade privada
e do Estado”.
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b. Cuidados ao conceituar FAMÍLIA:
Devido ao seu caráter dinâmico e
histórico e com a diversidade dos padrões
familiares encontrados em diferentes
sociedades e culturas.
Existem múltiplos modelos de família.
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Perigos em conceituar FAMÍLIA:
1) Tomar o modelo da família vigente na
própria sociedade (ou ideal) e considerar
outros tipos como patológicos ou de menor
importância.
2) Uma mesma família pode tomar diversas
formas ao longo de sua existência, dado às
interferências do Estado, guerras, imigrações,
etc.
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Qual o padrão da FAMÍLIA OCIDENTAL?
Família nuclear:
pai, mãe e filhos morando juntos na mesma
casa.
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c. O que FAMÍLIA não é: (características
distintivas)
* Sistema de parentesco: modo mais amplo
de ordenar as relações de afinidades,
descendência
e
consanguinidade,
regulando as relações entre família.
* Grupos domésticos e residenciais: podem
ou não construir famílias, tornando-se
unidades de reprodução; como podem
agregar membros não sanguíneos, como é
o caso de amigos e colegas que moram
juntos.
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ARRISCANDO UM CONCEITO:
São grupos sociais estruturados por meio
de relações de afinidade, descendência e
consaguinidade e se constituem em unidade de
reprodução humana. (Silva: 2005, p. 137)
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a. Mesopotâmia:
* Família nuclear: garantia a coesão da
sociedade babilônica, sendo a família a
peça-chave.
* Monógamo: a mulher recebia o título de
esposa, mas o marido poderia ter várias
concubinas e caso tivesse filhos com elas,
poderia torná-los legítimos. As concubinas
geralmente eram escravas.
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b. Roma:
* Totalmente definida pelo poder do pater
familias sobre as pessoas livres e escravas.
* Família = a palavra designava ao mesmo
tempo, o conjunto da domesticidade servil
(famulus, o 1º nome do escravo, gerou o
coletivo família, que é “os servidores que
vivem em um mesmo lar) e o patrimônio
transmitido ao herdeiro ou repartido entre
seus descendentes.
* O poder do pater determina os limites da
família: sobre a mulher, filhos e escravos.
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c. Sociedade Pré-Industrial:
Até então, a educação dos filhos era
repassada pelo convívio com os adultos. Com
o advento da escola, a criança deixou de ser
misturada aos adultos e de aprender a vida
diretamente com o contato com eles.
Começou então, um longo período de
enclausuramento da criança, que se estende
até nossos dias, e ao qual se dá o nome de
escolarização. Essa separação da família
tornou-se o lugar de uma afeição necessária
entre cônjuges e entre pais e filhos, algo que
ela não era antes.
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d. Brasil:
d.1. Período Colonial: Patriarcalismo.
O conceito de família esta ligado à
economia. Assim, ligar-se a uma família
“bem-sucedida”, conferiria status à
pessoa. Como isso, muitos forjavam
parentescos fictícios, como os famosos
compadrios.
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d.2. Brasil Contemporâneo: diversidade de
tipos de família.
* Extensa.
* Nuclear.
* Conjugal.
* Extensa nuclear.
* Natural (matrifocal).
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a. Revolução Cultural:
Até meados do séc. XX: família nuclear,
patriarcal, sexo privilegiado para os cônjuges.
Mudanças significativas:
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* Mudanças na família: divórcio, solteiros,
retração da família nuclear.
* Anos 1960 e 1970: extraordinária liberação
sexual tanto para os heterossexuais (mais
sentida pelas mulheres) como para
homossexuais. Exemplos:


Illinois, EUA, 1961: 1º Estado a tornar a
sodomia legal;
Itália: legalizou o divórcio em 1970 e
referendou em 1974. O aborto tornou-se
legal em 1978 e referendado em 1981.
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Fatores que contribuíram:
* Anticoncepcional.
* Informações sobre o controle de natalidade.
“A lei mais reconhecia do que criava o novo
clima do relaxamento sexual. O fato de que na
década de 1950 só 1% das britânicas coabitasse,
por qualquer período de tempo, com o futuro
marido antes do casamento não se devia à
legislação, como não se devia a ela o fato de que
no início da década de 1980 21% delas o fizessem.
Tornaram-se agora permissíveis coisas até então
proibidas, não só pela lei e a religião, mas também
pela moral consuetudinária, a convenção e a
opinião da vizinhança. (HOBSBAWN: 1994, p. 317)
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b. Conflito de gerações:
* Grupo com consciência própria que se
estende da puberdade até cerca de 25
anos.
* Nova imagem do herói: “herói que morre
jovem”.
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JANIS JOPLIN
BOB MARLEY
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JIM MORRINSON
JIMI HENDRIX
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O que era novo na cultura juvenil:
1) Era vista como preparatório para a vida
adulta e, paralelamente, como estágio final
do pleno desenvolvimento humano (vigor
físico). Daí suas identidades com Che
Guevara e Fidel Castro.
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2) Tornou-se dominante nas economias de
mercado desenvolvidos: a espantosa rapidez
da mudança tecnológica na verdade dava à
juventude uma vantagem mensurável sobre
grupos etários mais conservadores, ou pelo
menos inadaptáveis.
Os pais passaram a aprender com os filhos,
invertendo os papéis.
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3) Internacionalismo: blue jeans e o rock
tornaram-se
marcas
da
juventude
moderna. A cultura jovem americana
tornou-se hegemônica por meio da
distribuição mundial de imagem, rede
mundial de universidade.
Cultura jovem global.
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Poderia ter surgido antes de 1950? NÃO.
O potencial de consumo, dado ao fato que
os jovens começaram a trabalhar cada vez mais
cedo e tendo poder aquisitivo cada vez maior,
só veio com a Era de Ouro (1950-1970).
Como surgiu o “abismo de gerações”?
O jovem da Era de Ouro não podia
entender sua geração anterior: desemprego?
Campesinato? Serviço braçal? O passado era
sem relação com o “novo” jovem.
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c. A explosão da juventude: Maio de 1968:
Eram anúncios públicos de sentimentos e
desejos privados. Como diziam os slogans de
maio de 1968:
“É proibido proibir”
“Tomo meus desejos por realidade, pois
acredito na realidade de meus desejos”
“Quando penso em revolução quero fazer
amor”
“Fazia sexo com outras coisas em mente”
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Liberação pessoal e liberação social,
assim, davam-se as mãos, sendo sexo e drogas
as maneiras mais óbvias de despedaçar as
cadeias do Estado, dos pais e do poder dos
vizinhos, da lei e da convenção. (Hobsbawn,
1995: 326)
A síntese da época era:
“sexo, droga e rock and roll”
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MAIO DE 1968, DE PARIS PARA
O MUNDO
MOVIMENTO HIPPIE
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d. A herança da Revolução Cultural:
A Revolução Cultural do final do séc. XX,
pode ser vista como o triunfo do indivíduo
sobre a sociedade.
“Não há sociedade, apenas indivíduos”
(Margareth Thatcher).
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As instituições mais afetadas pelo novo
individualismo moral foram:
a FAMÍLIA TRADICIONAL
e a IGREJAS TRADICIONAIS.
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e. A velocidade das mudanças (e o futuro chegou):
“Os defensores da união livre crêem que
este será o modelo do futuro, única forma de
salvar
o
casamento
monogâmico,
adaptando-o à época atual.”
“Uma família homossexual (...) vem se
tornando possível nos países onde tal opção
deixou de ser obstáculo legal à convivência
com crianças”
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“A família hoje em dia está arriscada a se
tornar uma engrenagem funcional cada vez mais
dependente do Estado”.
“A família caminha em três diferentes direções:
1) À ruptura definitiva dos laços que uniam as
velhas gerações às mais novas;
2) A maior instabilidade dos jovens casais;
3) À destruição sistemática, através da ‘liberação’
da mulher, do conceito ‘lar/ninho’ em torno
do qual foi construída a vida familiar nuclear”.
(Danda Prado, 1985)
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“Um casal de 24 anos na Suécia (...) se recusa a
dizer o sexo de sua criança que já tem dois anos e
meio de idade. ‘Queremos que Pop cresça com
maior liberdade e que não seja forçado a um
gênero que o/a moldará’, disse a mãe. Pop (um
nome fictício para proteção da criança) usa
vestidos e também calças masculinas e seu cabelo
muda do estilo feminino para o masculino a cada
manhã”.
Revista Época, 02/07/2009
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Assim, a FAMÍLIA pode apresentar aspectos
positivos e negativos:
NEGATIVOS: sem intervenções externas, a
família pode transmitir e reforçar
preconceitos raciais, sociais,
religiosos entre outros.
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POSITIVOS: é uma instituição formadora de
futuras gerações e mediadora
entre a estrutura social e o futuro
dessa estrutura.
FAMÍLA
é um espaço paradoxal, tanto pode ser o lugar
do afeto e da intimidade, como pode ser o
lugar da violência muda e silenciosa.
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Ao olharmos a evolução histórica da
FAMÍLIA enquanto instituição, constatamos que
grande número de comportamentos vistos
como exceções se tornaram regras, e viceversa: regras rigorosas passaram a ser vistas
com exceções.
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“Podemos preferir um futuro a
outro, mas não podemos
perpetuar o passado”
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ARIÈS, Philipe. História Social da Criança e da Família. Rio
de Janeiro: LTC. 1981.
HOBSBAUM, Eric J. Revolução social e Revolução cultural,
In: Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
SAMARA, Eni Mesquita. A família brasileira. São Paulo:
Brasiliense, 1981.
SILVA, Kalina V. SILVA, Maciel Henrique. Família, in:
Dicionário de Conceitos Históricos. São Paulo:
Contexto, 2005.
PRADO, Danda. O que é família. São Paulo: Abril
Cultual / Brasiliense, 1985.
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FAMÍLIA: PERSCURSO HISTÓRICO E REALIDADE ATUAL