CRONISTAS DO DESCOBRIMENTO HTTPS://WWW.TRABALHOSFEITOS.COM/ASSINE?REDIRECTURL=%2FENSAIOS%2FCRONISTAS-DODESCOBRIMENTO%2F894022.HTML&FROM=ESSAY&REDIRECTURL=%2FENSAIOS%2FCRONISTASDO-DESCOBRIMENTO%2F894022.HTML&FROM=ESSAY CRONISTAS DO DESCOBRIMENTO Organizadores Antonio Carlos Olivieri e Marco Antonio Villa A ESCOLA LITERÁRIA Quinhentismo - Século XVI Literatura de informação Ano de Publicação: Século XVI Gênero: Informativo Divisão da Obra: 11 partes - Coletânea de relatos de 11 autores A Carnavalização do Brasil Pensando sobre a imagem que temos de vários povos do mundo, facilmente elencamos qualidades positivas, como a pontualidade britânica, a inteligência e capacidade de trabalho dos japoneses, e assim por diante... E quanto a nós, brasileiros? Muitos se referem à malandragem, ao popular jeitinho brasileiro (e olha que trabalhamos 4 ou 5 meses dos 12 do ano só para pagar impostos). Mas sem dúvida, a tríade samba, mulher e futebol é a nossa autoimagem campeã. Em suma, não produzimos, mas podemos entreter o resto do mundo com nossa "alegria". Afinal, onde começa essa história? Durante séculos, a literatura foi exclusiva na formação de nossa subjetividade, de nosso inconsciente coletivo. Um grande repositório de nossas ideias, inclusive sobre aquilo que nós somos ou julgamos ser. E o primeiro capítulo dessa história é o que alguns chamam de "certidão de nascimento do Brasil". (http://literatura-edir.blogspot.com.br/2009/03/carta-de-caminha-e-carnavalizacao-do.html < ACESSO EM : 28/08/2014) O Quinhentismo O Quinhentismo foi vivido no Brasil em meio ao “descobrimento” e aos interesses da exploração de riquezas materiais. Não se pode falar, propriamente, em Literatura Brasileira, uma vez que os textos da época somente atendem ao ponto de vista do colonizador, pois todos os autores (e potenciais leitores) são europeus. Além disso, predominam na época os relatos de viagem, textos informativos, de caráter documental e, portanto, com maior valor histórico do que literário. Mesmo assim, esses textos são chamados de Literatura de Informação. Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil A famosa Carta de Pero Vaz de Caminha, escrita entre 26 de abril e 1º de maio de 1500, tinha como objetivo informar ao rei de Portugal o descobrimento e relatar-lhe as peculiaridades do novo território. É tida como uma espécie de “certidão de nascimento” do Brasil (expressão que adere ao ponto de vista do colonizador). Na verdade, é o primeiro retrato de nossa terra e, mesmo passados mais de quinhentos anos, ainda é bastante revelador de marcas profundas na formação de nossa identidade enquanto povo. Aspectos importantes: Descritivismo Tudo na Carta é descrito nos mínimos detalhes. Repare como o índio é analisado como mais um elemento integrante da natureza exótica do local: “A feição deles é parda, algo avermelhada; de bons rostos e bons narizes. Em geral, são bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de cobrir ou mostrar suas vergonhas, e nisso são tão inocentes como quando mostram o rosto. Ambos traziam os beiço de baixo furado e metido nele um osso branco, do comprimento de uma mão travessa e da grossura de um fuso de algodão.” Choque cultural e Origens do estigma da sensualidade brasileira O trecho anterior revela o choque entre os tabus religiosos do europeu e a nudez dos nativos. Na verdade, a atmosfera edênica fascina os portugueses, e esse registro na Carta começa a forjar uma imagem do Brasil associada à liberdade sexual. Observe o excerto abaixo: “Ali andavam entre eles três ou quatro moças, muito novas e muito gentis, com cabelos muito pretos e compridos, caídos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha.” Visão paradisíaca, Concepção mercantilista e colonizadora e Ideal salvacionista Corroborando a ideia de que o Brasil seria o "eldorado", paraíso perdido na América, a natureza exuberante, exótica e inexplorada é vista com fascínio. “A terra por cima é toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é tudo praia redonda, muito chã e muito formosa. [...]” Visão paradisíaca, Concepção mercantilista e colonizadora e Ideal salvacionista Sem dúvida, a serviço da Coroa, Caminha não poderia deixar de registrar a preocupação em encontrar metais preciosos. Não logrando êxito nesse intento num primeiro instante (o surto aurífero só vai ocorrer no século XVIII, em Minas Gerais), o escrivão sugere insistentemente as potencialidades naturais do local e sugere sua colonização: “Nela até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem o vimos. Porém, a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá. As águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la, tudo dará nela, por causa das águas que tem. Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deverá ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.” A Herança Literária da Carta Além desses caracteres que analisamos, a literatura informativa emprestou muitos de seus temas e formas para períodos literários posteriores, em especial para o Romantismo (indianismo, fundação da nacionalidade) e para o Modernismo (revisão crítica da identidade nacional). O poeta modernista Oswald de Andrade realizou apropriações em forma de paródias da carta, subvertendo seu sentido ao recortar as frases do texto original, dispondo-as de outra maneira. As Meninas da Gare Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis Com cabelos mui pretos pelas espáduas E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas Que de nós as muito olharmos Não tínhamos nenhuma vergonha (OSWALD DE ANDRADE, em Pau-Brasil) Cena do filme Caramuru, a Invenção do Brasil. “Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha.”(CAMINHA) Intertextualidade Confrontando-se os textos de Oswald e Caminha, a sensação inicial é de estranhamento. O poeta modernista teria plagiado a "Carta"? Certamente não. Esse texto de Oswald é muito mais genial do que parece. O texto modernista se apropria de um fragmento da carta, disposto em verso. E... ? Até aqui nada de novo. Mas preste atenção no título: "As meninas da Gare", ou seja, as meninas da estação (de trem). Com a simples colocação desse título, Oswald empurra o texto de Caminha por mais de 400 anos, atualizando e subvertendo seu significado. O viajante, ao desembarcar na estação, encontra nossas mulheres com o corpo à mostra, disponíveis para a exploração. Trata-se de uma metáfora da prostituição do país ao longo dos séculos! A Carnavalização do Brasil A Carta de Caminha é apenas o primeiro capítulo de nossa viagem pela formação cultural do Brasil, mas certamente suas marcas podem ser percebidas até hoje. A ESCOLA LITERÁRIA Quinhentismo - Século XVI O Quinhentismo abrange as obras escritas no século XVI. Nessa época não tivemos nenhum autor brasileiro, eram todos estrangeiros que por aqui passavam e faziam seus relatos, sejam eles navegadores, escrivães ou até mesmo padres. É comum a crítica dividir o Quinhentismo em duas partes: 1. Literatura de Informação 2. Literatura dos Jesuítas 1. Literatura de Informação Também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, pois é o reflexo das Grandes Navegações, tem como objetivo fazer uma descrição da "terra nova": sua fauna, sua flora e seus habitantes. O valor literário dessas obras é muito pequeno, já que trabalha praticamente com descrição; daí a ausência de figuras de linguagem e da conotação. No entanto, o valor histórico desses textos é inquestionável, pois são a fonte de informação sobre o Brasil do século XVI. A literatura de informação tem como característica a exaltação à terra, resultado do deslumbramento que o europeu tinha diante de um mundo tropical, de clima agradável, bem diferente do que via na Europa. A linguagem é repleta de adjetivos usados, em sua maioria, com grande exagero. 1. Literatura de Informação O primeiro autor desse período da literatura foi Pero Vaz de Caminha, o escrivão-mor da esquadra de Pedro Álvares Cabral. Caminha escreveu uma carta endereçada ao rei D. Manuel, datada de maio de 1500, dando conta das descrições da terra achada, a qual eles denominaram inicialmente de "Ilha de Vera Cruz". A carta de Caminha é considerada a "certidão de nascimento" do Brasil, por ter sido o primeiro documento escrito sobre a "terra nova". 2. Literatura dos Jesuítas Esse tipo de literatura, de cunho pedagógico, voltado ao trabalho da catequese (reflexo do movimento da Contrarreforma) é, sem dúvidas, a melhor produção literária do Quinhentismo. Cultivavam, principalmente, os gêneros do teatro (baseado em textos bíblicos) e da poesia (de devoção, com traços da cultura medieval). Também escreviam cartas que informavam aos seus superiores na Europa o andamento dos trabalhos na Colônia e, também, aos outros membros da Companhia de Jesus, informações sobre a língua, os costumes e a catequese. Os principais autores do período foram o padre José de Anchieta e Manuel da Nóbrega. Cronistas do descobrimento traz escritores dessas duas partes do Quinhentismo. 1. Pero Vaz de Caminha - Carta do achamento do Brasil (1500) 2. Piloto Anônimo (não se sabe o nome, por isso é assim designado) - Relação da viagem de Pedro Álvares Cabral (1500) 3. Pero Lopes de Sousa - Diário da navegação (1532) 4. Manuel da Nóbrega - Carta (1.549) e Diálogo sobre a conversão do gentio (1556-1557) 5. André Thevet - As singularidades da França Antártica (1557) 6. Jean de Léry - Viagem à terra do Brasil (1578) 7. Hans Staden - Viagem ao Brasil (1557) 8. José de Anchieta - "A Santa Inês" e Carta (10) 9. Pero de Magalhães Gândavo - História da Província de Santa Cruz (1576) 10. Fernão Cardim - Tratados da terra e gente do Brasil (1605) 11. Gabriel Soares de Sousa - Tratado descritivo do Brasil em 1587 (1587) SÍNTESE DA OBRA 1: PERO VAZ DE CAMINHA PERO VAZ DE CAMINHA: A CERTIDÃO DE NASCIMENTO DO PAIS Pero Vaz de Caminha - Nasceu em Porto, Portugal, em 1450 e morreu em Calicute, na índia, em 1500, em combate. Foi nomeado escrivão oficial da frota de Pedro Álvares Cabral em 1500. É autor da "Carta de Achamento do Brasil", também conhecida como nossa certidão de nascimento. A carta compõe-se de impressões e relatos de Caminha escritos ao rei de Portugal, D. Manuel I. Os fatos são narrados cronologicamente desde o dia 09 de março (início da viagem) até o dia 02 de maio, dia em que partiram do Brasil. Consta que a Carta de Caminha sumiu por muitos anos. Somente em 1793 foi encontrada por Juan Batista Munoz e está arquivada na Torre do Tombo, em Lisboa. Sua publicação se deu apenas em 1817, no Rio de Janeiro, pelo padre Manuel Aires do Casal, em seu livro "Corografia Brasílica". PERO VAZ DE CAMINHA Carta do Achamento do Brasil: Relatando ao rei de Portugal o descobrimento, o escrivão da armada de Cabral descreve, deslumbrado, a terra e seus habitantes, registrando as emoções do primeiro contato com os índios. Os autores trabalham com os seguintes fragmentos: a) o começo da viagem e a chegada ao Brasil; b) um momento de confraternização entre índios e portugueses; c) trocas de presentes e hábitos indígenas; d) a primeira tentativa de cristianização dos nativos. SÍNTESE DA OBRA 2: PILOTO ANÔNIMO O relato de autoria desconhecida reconstitui a viagem de Pedro Álvares Cabral e oferece outro ponto de vista para a história contada por Caminha. Há contradições importantes entre os dois textos, como a data do descobrimento (para o piloto anônimo seria 25 de abril de 1500), o local onde ocorrera a primeira missa (na praia segundo o desconhecido) e a forma como se deu o abandono de dois degredados na terra (o relato de Caminha parece suavizar os fatos). RELAÇÃO DA VIAGEM DE PEDRO ÁLVARES CABRAL De autoria desconhecida, este relato reconstitui a travessia do oceano Atlântico pela frota de Cabral. FONTE A PARTIR DA PRÓXIMA ANÁLISE A FONTE É: mundoliterarioo.blogspot.com/. SÍNTESE DA OBRA 3: PEDRO LOPES DE SOUSA – A CONQUISTA E A POSSE Sobre o autor: Irmão mais novo de Martim Afonso de Sousa (responsável por comandar a 1ª expedição de colonização no Brasil. Ele recebeu a capitania do Rio de Janeiro e de São Vicente após a divisão do país em capitanias hereditárias. ) veio ao Brasil em 1530. Sua expedição tinha o objetivo de defender o território e dar o primeiro passo à colonização. Em 1539 quando voltava a Portugal, seu navio naufragou perto da ilha de Madagascar. A carta: Escrita como diário de navegação, a carta relata os acontecimentos da expedição de Martim Afonso de Sousa, as aventuras que enfrentaram ao longo da viagem, as lutas contra os franceses para proteger o território e a exploração da terra. Pero Lopes de Sousa não deixou de ressaltar a beleza das mulheres indígenas e a disposição dos homens, e ainda as suas crenças e a sua cultura, como o canibalismo e as cerimônias. Enfim, esse texto documenta o dia-a-dia da expedição de Martim Afonso de Sousa que tinha por objetivo a posse do território. SÍNTESE DA OBRA 4: MANUEL DA NÓBREGA - EM DEFESA DAS ALMAS INDÍGENAS Sobre o autor: Manuel da Nóbrega nasceu em 18 de outubro de 1517. Tinha o título de bacharel em Direito Canônico. Era membro da companhia de Jesus, foi enviado pelo provincial dos jesuítas de Portugal, para acompanhar a expedição de Tomé de Sousa e desenvolveu um trabalho missionário para a evangelização dos indígenas. Morreu em 18 de outubro de 1570 no Rio de Janeiro. As cartas: A primeira carta de Nóbrega foi escrita no início do mês de abril de 1549 e é titulada "Carta ao padre mestre Simão Rodrigues de Azevedo". A carta relata a imposição da religião aos indígenas, começaram pregando, ensinando as crianças a ler e escrever. Para essa evangelização os jesuítas também aprendendo a língua indígena. Vale lembrar que eles pregavam também contra as crenças daquele povo, como o canibalismo. Os jesuítas buscaram ajuda dos brancos que já viviam na Bahia, como Diogo Álvares, conhecido pelos índios como Caramuru. A outra carta de Nóbrega se chama "Diálogo sobre a conversão do gentio", é escrita em forma de diálogo no qual discute os aspectos morais e religiosos da relação entre portugueses e índios, defendendo a ideia de que o índio não deveria ser escravizado, já que esse tem alma como os cristãos e todos são iguais perante a Deus. SÍNTESE DA OBRA 5: ANDRÉ THEVET- A VISÃO SINGULAR DE UM CATÓLICO FRANCÊS Sobre o autor: Nasceu em Angoulême em 1502, formou-se como frade, e em 1555 embarcou para o Brasil para tentar estabelecer uma colônia francesa, que ficou conhecida como França Antártica, morreu em 1590 em Paris. A carta: França Antártica foi uma colônia francesa no Brasil, André Thevet descreve na carta o que aconteceu durante sua viagem, e o que mais chamou a sua atenção, que foram os índios e a flora brasileira. Na verdade a carta tem 83 capítulos e a grande maioria se refere ao Brasil. A carta apresenta a viagem do autor, desde a partida da França, até o retorno ao país. Em cronistas do descobrimento, são contadas três capítulos desta carta, que traz informações importantes sobre a cultura indígena, destacando a "barbaridade" dos índios. "(...) Esta terra foi e é ainda habitado por gente prodigiosamente estranha e selvagem, sem fé, sem lei, sem religião, sem civilidade nenhuma, que vive como animais irracionais (...)". Além de falar sobre a cultura indígena, Thevet ressalta com muito interesse a flora brasileira, tendo um grande interesse na árvore chamada pacoveira Bananeira. SÍNTESE DA OBRA 6: JEAN DE LÉRY - UM PIONEIRO DA ANTROPOLOGIA Sobre o autor: O francês Jean de Léry, artesão e estudante de teologia viajou ao Brasil para estabelecer na colônia francesa fundada por Villegagnon. Permaneceu no Brasil por dois anos, onde conviveu com os índios, observando e estudando seu estilo de vida. A carta: Título original "Narrativa de uma viagem feita do Brasil". O documento foi escrito 18 anos após a passagem de Jean no Brasil e publicada em 1578, foi traduzida para o holandês, alemão e o latim. Na carta, Jean relata os costumes, crenças e modo de vida dos "estranhos" habitantes da terra (índios), trazendo informações valiosas. Jean, se infiltrou na aldeia dos índios, tornando-se assim amigo dos mesmos, e relatou nesta carta tudo que ele viveu e aprendeu com eles. Além de relatar sobre os índios, ele fala sobre animais e plantas que havia no Brasil. França Antártica A França Antártica foi uma colônia criada pelos franceses, no Rio de Janeiro. Ela existiu de 1555 a 1560, quando o restante dos franceses foram derrotados pelos portugueses. Em novembro de 1555 uma expedição comandada por Villegagnon chegou à Baía de Guanabara e implantou uma colônia francesa, a França Antártica. Os franceses acabaram por construir um forte na Baía de Guanabara, região ainda não colonizada pelos portugueses, que ficou conhecido como Forte Coligny. O objetivo do forte era garantir a exploração do pau-Brasil, que tinha alto valor no mercado europeu. A reação da coroa portuguesa aconteceu em 1559, quando o Governador Geral do Brasil, Mem de Sá, recebeu ordens da coroa portuguesa para que expulsasse os franceses do local. Os portugueses chegaram à Baía de Guanabara e Men de Sá mandou um ultimato aos franceses, o qual não foi atendido, e foi o motivo utilizado para que os portugueses invadisses e dominassem o Forte Coligny. Muitos franceses conseguiram fugir entrando nas matas, e continuaram o comércio com os nativos. No dia 1º de março de 1565, após algumas batalhas contra os franceses, Estácio de Sá desembarca na praia, entre o morro do Pão-de-Açúcar e o morro Cara de Cão, iniciando a construção da atual Fortaleza de São João, e fundando a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. SÍNTESE DA OBRA 7: HANS STADEN - A COLÔNIA EM RITMO DE AVENTURA Sobre o autor: Nasceu em Hessen, Alemanha. Viajou duas vezes ao Brasil, a primeira em 1547 e a segunda em 1550. Na segunda viagem, pretendia fundar um povoado na Costa da Ilha de Santa Catarina e outra na Costa do Rio da Prata. Seu navio naufragou em Itanhaém, mas sobreviveu. Em 1553, Hans foi nomeado condestável da fortaleza de Bertiogo (o primeiro dignitário do Reino, chefe do exército.) por Tomé de Sousa. Um ano depois foi aprisionado pelos tupinambás ameaçado de morte e de ser devorado num ritual da tribo, conseguiu adiar sua morte e depois de dois meses de aprisionamento foi resgatado por um navio francês e voltou para a Alemanha. A obra: Hans Standen em viagem ao Brasil faz uma fantástica descrição sobre o canibalismo e o casamento indígena. Ele foi mantido preso, engordado para ser comido, porém foi salvo por um navio francês. Enquanto estava aprisionado Standen presenciou cerimônias onde os índios matavam e comiam seus inimigos e relata em detalhes as etapas da cerimônia. Na carta Standen, também conta como eles o trataram quando chegou. Diz Standen que foi espancado por mulheres logo quando chegouà aldeia. Além disso, ele fala da vida dos índios com suas mulheres e filhos. SÍNTESE DA OBRA 8: JOSÉ DE ANCHIETA - A PROSA E O VERSO DO " APÓSTOLO DO BRASIL" Sobre o autor: José de Anchieta nasceu Tenerife, Ilhas Canárias, 1534. Em 1553, na condição de noviço veio trabalhar no Brasil com o segundo governador geral, Duarte da Costa. Foi beatificado pelo papa João Paulo II em 1980. Por sua sensibilidade humana e dedicação religiosa Anchieta tornou-se exemplo de vida. Em Piratininga junto com Manuel de Nóbrega abriu um colégio para indígenas e afirmou acordos de paz com eles. Além do trabalho religioso, Anchieta escreveu muitos autos teatrais com finalidade catequética. A carta: A Santa Inês é um poema de José de Anchieta, recurso didático que teve função que catequização. As poesias de Anchieta foram uma forma de poder transmitir a fé adotada por ele. O poema fala de Santa Inês que era uma jovem romana que foi decapitada por ter se recusado a perder a virgindade, ela é considerada o símbolo e a guardiã da castidade cristã. A segunda carta: Na carta do padre geral, Anchieta relata o trabalho dos jesuítas no Brasil, descrevendo a imposição da religião aos indígenas, do esforço e do trabalho de levar a palavra aos enfermos de várias povoações tanto de índios como de portugueses, além de batizar e trazer a palavra aos enfermos, os jesuítas com frequência atuavam como enfermeiros ou médicos. Anchieta conta sobre a dificuldade de chegar a essas vilas e fala um pouco também de seus pacientes indígenas. Durante toda a crônica ele fala sobre as aventuras da catequização e as dificuldades enfrentadas, principalmente com os índios do sertão. SÍNTESE DA OBRA 9: PERO DE MAGALHÃES GÂNDAVO - A PRIMEIRA OBRA HISTORIAGRÁFICA Sobre o autor: Filho de pais flamengos oriundos da cidade de Gand, daí o seu apelido Gândavo, nasceu em Braga em data incerta, provavelmente por volta de 1540. Foi professor de Latim e Protuguês no norte de Portugal e secretário na Torre do Tombo. Gândavo esteve no Brasil, talvez entre 1558 e 1572, para trabalhar na Fazenda do governo da Bahia A obra: Autor do famoso livro "História da Província Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil", editado em Lisboa, por Antônio Gonçalves, 1576 em que fala de uma série de aspectos locais como os animais, que eram em boa parte desconhecidos dos europeus: o papa-formigas, o tatu, uma série de aves, insetos e peixes exóticos são descritos com espanto, estranheza e maravilha. Chega mesmo a descrever um suposto monstro marinho que teria aparecido na capitania de S. Vicente, e que fora morto pelos portugueses da localidade. As plantas da colônia merecem também a sua atenção. A que descreve com maior cuidado é a mandioca, assinalando as suas utilidades, assim como as características de cada parte da planta. Além da fauna e flora relata a descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral, assim como os primórdios da colonização, as diversas tribos indígenas, e descreve ainda as diversas capitanias em que se dividia o território brasileiro. SÍNTESE DA OBRA 10: PERO DE MAGALHÃES GÂN DAVO A PRIMEIRA OBRA HISTORIAGRÁFICA Traça, por fim, um retrato das potencialidades que nossa terra reservava aos portugueses, tal como a vastidão do território e dos seus recursos econômicos. Diz Capistrano de Abreu que o projeto de Gândavo era: "mostrar as riquezas da terra, os recursos naturais e sociais nela existentes, para excitar as pessoas pobres a virem povoá-la: seus livros são uma propaganda de imigração.“ Na obra de Gândavo, o Brasil é descrito a região costeira desde Itamaracá até São Vicente e se estendia pouco do interior. Gândavo cita Olinda como o local mais rico do Brasil e Salvador o mais populoso, o que evidencia que naquela altura o Brasil se concentrava na costa nordestina. Na época de Gândavo, a produção de açúcar se dava mais no engenho hidráulico que no engenho a tração animal. E a principal mão de obra era a indígena. Pernambuco tinha tanto excedente de escravos indígenas que os exportavam para capitanias mais meridionais. Escreveu ainda o "Tratado da província do Brasil". Gândavo fora também gramático e junto a Belchior Rodrigues e João Ocanha escreveu as 'Regras que ensinam a maneira de escrever a orthographia da língua portuguesa(1574) SÍNTESE DA OBRA 10: FERNÃO CARDIM - O BRASIL EM TÓPICOS Sobre o autor: O padre Jesuíta Fernão Cardim nasceu em Viana de Alierto, Portugal, em 1548 ou 1549. Em 1583 acompanhou o padre Cristóvão Gouveio na viagem ao Brasil. Em 1598 partiu para a Europa após ter sido eleito procurador da província do Brasil. Em 1604, Cardim voltou ao Brasil e permaneceu muitos anos em Salvador, morreu em 1625 em Abrantes. A carta: Em “Tratados da terra e gente do Brasil” Cardim traz valiosas informações dobre a flora e fauna brasileira. Sobre a fauna ele fala sobre: As árvores de frutos como mangaba, acajú, macuoé, araçá, ombu, jaça, uvucaja, araticu, pequeá, jabuticaba; as árvores que tem água que ficam nos campos e o sertão do Brasil; das árvores que servem para madeira como pau brasil, pau santo, paus de cheiro e outros de muita estima; das ervas que são frutos e se comem como mandioca, mamá, pacoba, maracujá. Sobre os animais, ele fala sobre os cavalos, vacas, porcos, ovelhas, galinhas, perus, cães. SÍNTESE DA OBRA 11: GABRIEL SOARES DE SOUSA UMA PEQUENA ENCICLOPÉDIA SOBRE O BRASIL Sobre o autor: Gabriel Soares de Sousa, integrou a expedição de Francisco Barreto que tinha a África como destino e tinha escala pela Bahia, mas se apaixonou pelo Brasil e nele permaneceu, não continuou a expedição. Tornou-se senhor de engenho e vereador, em 1584 voltou à Europa e permaneceu durante seis anos, regressou à Bahia em 1591 nomeado capitão-mor do Rio São Francisco, organizou então uma bandeira que partiu para o sertão onde morreu. A carta: Tratado descritivo do Brasil em 1587, tem o objetivo de informar o rei de Portugal sobre as possibilidades econômicas da colônia. O autor fala sobre os aspectos políticos, a natureza e principalmente os índios, dos índios fala um pouco sobre seus costumes. Como a relação do piloto anônimo, Gabriel aponta como data do descobrimento 25 de Abril de 1500. ANÁLISE DA OBRA O livro Cronistas do descobrimento é uma antologia composta por onze escritores, organizada por Antonio Carlos Olivieri e Marco Antonio VilIa, que registraram a "terra nova" para o povo do velho mundo. São cartas, diários, tratados ou crônicas e poema que traçam um retrato do Brasil, com objetivos diversos: justificar a viagem a um superior, preparar a terra para ser colonizada, catequizar os índios, enfim, motivos não faltaram para colocar no papel as primeiras impressões acerca do Brasil, sua fauna, flora e habitantes. ANÁLISE DA OBRA Esses relatos são as únicas fontes de informação que se tem acerca do nascimento do nosso país, daí seu valor histórico. É muito prazeroso ouvir as histórias, que parecem ser mais uma aventura a qual não se sabe o que vai acontecer em seguida, se um índio canibal irá matar alguém, se o "selvagem" irá guerrear, se haverá entendimento da língua etc. Também prazeroso é ouvir os estrangeiros elogiarem tanto nossa terra e descreverem-na com tanta admiração. No entanto causa-nos estranheza a forma como, principalmente, o português muitas vezes se refere ao índio, o verdadeiro "dono" da terra, como aquele que se mostra "rebelde", aquele que não quer se submeter à escravidão ou às vontades dos estrangeiros. ANÁLISE DA OBRA Veja um exemplo dessa pretensa rebeldia, na narrativa de Pero de Magalhães Gândavo: "Junto dela havia muitos índios quando os portugueses começaram de as povoar: mas porque os mesmos índios se levantavam contra eles e faziam-lhes muitas traições, os governadores e capitães da terra destruíram-nos pouco a pouco e mataram muitos deles: outros fugiram para o sertão, e assim ficou a terra desocupada de gentio ao longo das povoações." Na verdade, o que houve foi um massacre das tribos do litoral o qual o narrador não menciona diretamente. ANÁLISE DA OBRA A imposição da cultura portuguesa (ou até mesmo francesa ou espanhola) é um assunto muito interessante e que merece reflexão. Nos textos dos cronistas, é perceptível a falta de respeito às tradições indígenas: pelo fato de o estrangeiro julgar que o índio não tinha religião, tradição cultural e nem sabia ler, via-o como um "selvagem", como alguém destituído de conhecimento, de leis e de organização. O texto de Gabriel Soares de Souza, por exemplo, evidencia que a língua indígena (nheengatu, por exemplo) não tinha três letras: F,L,R. Assim, para este autor, se não têm a letra "F" é porque não têm fé; se não têm a letra "L" é porque não têm lei; e se não têm a letra "R" é porque não tem rei, portanto, vivem de qualquer jeito, sem ninguém para colocar-lhes ordens. O processo de aculturação indígena Os textos escolhidos em Cronistas do descobrimento nos mostram relatos que descrevem os hábitos dos índios e as riquezas naturais aqui existentes no século XVI. São constantes as descrições acerca da fauna e da flora que encontraram por aqui (e nessas descrições não podemos deixar de observar a admiração com elementos nunca vistos na Europa). Isso, certamente, despertou o interesse e a curiosidade de conhecer melhor as terras brasileiras. A partir daí, iniciou-se um processo de exploração intenso, retirando do Brasil suas riquezas e negociando-as com os indígenas por meio da troca de objetos sem valor. Assim, tudo aquilo que era admiração, passa a ser objeto de conquista e ambição. O que acabou "exterminando" a cultura indígena, fazendo com que o índio abandonasse seus hábitos e costumes e passasse a incorporar a cultura europeia imposta pelo dominador. Assim se deu o processo de aculturação indígena. O nacionalismo literário brasileiro Como já sabemos, a literatura do século XVI não se preocupou com a "literatura em si", ou seja, em usar metáforas ou adotar uma linguagem conotativa em seus textos; apesar das manifestações de criatividade e cuidado com a forma e com o estilo, a literatura dessa época teve um caráter informativo/utilitário. No entanto ela serviu de inspiração e de tema para alguns momentos da literatura brasileira, como o Barroco e Arcadismo e, em especial, o Romantismo e Modernismo. O nacionalismo literário brasileiro O nacionalismo na literatura brasileira surge como uma forma de recusar a cultura da colonização e da importação de modelos estrangeiros (foi o caso do Romantismo e do Modernismo). Em busca de uma "identidade própria", surgiram textos em que percebemos alguns equívocos, pois a cultura brasileira é híbrida, ou seja, ela não é única; antes, é formada de uma série de elementos que a compõem. Assim, percebemos exagero e certo extremismo quando vemos um índio alto, forte, musculoso, gentil e religioso (cristão) descrito nos romances de José de Alencar, por exemplo. Não nos compete julgar, e sim entender por que os autores fizeram isso - e lembrar que o momento histórico é muito importante: estamos na fase da Independência em que todos querem ser brasileiros (e não portugueses!), precisávamos de idealizações de pátria e de homens: "Ou ficar a Pátria livre, ou morrer pelo Brasil!". O nacionalismo literário brasileiro Com a proclamação da Independência, em 1822, houve, de certa forma, uma nova "versão" do Brasil criada pelos intelectuais (diferente da europeia, imposta pelos portugueses), os quais a expuseram em sua literatura. Assim, o nacionalismo literário tornou-se um dos temas mais destacados no Romantismo, dando ênfase à idealização da pátria, da natureza brasileira e do habitante natural, isto é, o índio. Um dos temas que mais ilustra esse sentimento nacionalista é o indianismo. Apresentado como herói, valente e nobre e símbolo de nossa Pátria, temos em Gonçalves Dias e em José de Alencar as maiores manifestações dessa temática (é só lembrar os romances Iracema, O Guarani, de Alencar e das diversas poesias de Gonçalves Dias que exaltam a pátria "Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá.." e o Índio, em Primeiros Cantos). O nacionalismo literário brasileiro Já no século XIX, surge um movimento, não só artístico, mas também político e social, que foi o Modernismo. Os modernistas, com seu "espírito destruidor" tinham em comum a busca das origens, daí o sentimento de nacionalismo que volta à valorização do índio, mas não o índio idealizado. Eles queriam, na verdade, reconstruir a cultura brasileira sobre bases nacionais. Para isso, propuseram uma revisão crítica de nossa história e de nossas tradições culturais, bem como a eliminação por completo da cultura estrangeira. Assim, a primeira fase modernista é marcada por manifestos nacionalistas: "Pau-Brasil"; "Antropofagia"; "Verde-Amarelo" e "Escola da Anta". O que pudemos verificar como resultado dessa manifestação literária, foi a composição de duas posturas nacionalistas distintas: de um lado o nacionalismo crítico, consciente, e de outro um nacionalismo ufanista, utópico, exagerado. O nacionalismo literário brasileiro Os principais escritores que trabalharam a temática nacionalista no Modernismo foram Mário de Andrade e Oswald de Andrade, os quais trabalharam muito com a língua falada pelo povo. Com folclore, misturando fantasia, lógica e absurdo. Além de procurarem no índio e no negro os elementos primordiais da cultura brasileira (veja os romances Macunaíma, de Mário de Andrade, e As meninas da Gare e Poesia PauBrasil, de Oswald de Andrade).