Geografia Rural I – Início e diversificação. Registo de acreditação: CCPFC/ACC-77763/14 Componente Teórica Conteúdos do Curso de Formação: • Introdução: A Ruralidade, da produção material ao consumo do imaterial. • 1. Principais centros de difusão e diversidade dos sistemas produtivos agrícolas, pastoris e agro-pastoris na apropriação dos territórios no mundo Antigo. • 2. A génese do mercado mundial de produtos agrícolas e a diversificação de culturas. Objectivos do Curso de Formação: 1. Obter formação complementar para a compreensão das dinâmicas dos territórios da ruralidade - percurso e principais transformações no espaço rural no mundo antigo. 2. Desenvolver a disponibilidade permanente para a reconstrução crítica do próprio saber. 1.Conteúdos: (Introdução:) A Ruralidade, da produção material ao consumo do imaterial. 2.Objectivos da sessão: - Avaliar a importância do estudo da organização do espaço em tempos recuados para a compreensão plena do presente. - Reconhecer a necessidade de procurar as raízes dos problemas actuais noutros locais, para além das paisagens observáveis. .Organizador prévio: Será preciso desprezar o passado para se ser geógrafo ou negligenciar a utilização do solo para se ser historiador? Entender a inexistência de motivos, para que a ciência geográfica determine como fim último o conhecimento do tempo presente. É útil o procedimento de análise retrospectivo para o conhecimento das estruturas agrárias actuais bem como das correspondentes paisagens rurais. É no estudo da geografia rural que o peso da história surge como mais decisivo. Reconstituição, por estudo regressivo, da génese das paisagens rurais actuais e dos quadros de utilização de solo em tempos recuados. A agricultura: • objecto ecológico e económico complicado, • composta de várias categorias de unidades de produção • exploração de diferentes tipos de terrenos, diversas espécies de culturas e de animais. As formas de agricultura observáveis variam de acordo com o lugar: orizicultura aquática, criação de gado pastoril, culturas associadas, arboricultura. A herança agrária da humanidade. • Transformação permanente dos sistemas agrários. - A Agricultura Moderna, última aquisição, poderá substituir os sistemas de campesinato? - Poderá generalizar-se a agricultura moderna? Teoria das transformações históricas e diferenciação geográfica dos sistemas agrários. ( “instrumento intelectual que nos permitiu apreender a complexidade e apercebermonos, grosso modo, das transformações históricas e da diversidade geográfica das agriculturas do mundo” MAZOYER et ROUDART) Sistemas agrários • Origens, transformações e papel em diferentes épocas. • Organização, funcionamento e dinâmica das diferentes agriculturas. • Transformações Históricas e diversidade geográfica. Com o tempo, toda a cultura se transforma, e numa determinada região do mundo podem suceder-se espécies de Agriculturas completamente distintas, (etapas de uma «serie evolutiva» • Elas (etapas) sairão da auto-transformação de alguns sistemas de depredação muito variados que reinavam então no conjunto do mundo habitado. Na Europa, por exemplo, sucederam-se: • as culturas manuais em terrenos desflorestadosqueimados dos tempos pré-históricos; • a cerealicultura com o arado da Antiguidade; • a cerealicultura com a charrua da Idade Media; • a policultura-criação de gado sem o alqueive da época moderna; • as culturas motorizadas e mecanizadas de hoje. ..). • Trabalho, artificialização do meio, agricultura e criação de gado. • O neolítico e o aparecimento da agricultura e da criação de gado A agricultura e a história - Geografia Histórica • de tradição Anglo-saxónica, década de 70 • empenhada na análise documental e determinação de laços entre o presente e o passado. • estatuto ambíguo: • a) o estatuto era-lhe negado pela crítica, de a sua produção se resumir a um inventário de sub-divisões administrativas • b) e ainda porque a sua produção tendia a veicular ideias deterministas em relação ao desenvolvimento dos territórios (ex: o seus estudo transformaram a Alemanha em inimiga hereditária da França) Diálogo com a História - a geografia entre as civilizações que visam “interpretar a natureza e agir sobre ela” P. Vidal de la Blache. - a geografia é o “estudo da sociedade no espaço” F. Braudel Estas concepções permitem o diálogo com a história, e a construção de uma visão total da evolução da humanidade. • «Pôr os problemas humanos tal como os vemos expostos no espaço e, se possível, cartografados, uma geografia humana inteligente: (...) pô-los no passado tendo em conta o seu tempo; • libertar a geografia da perseguição das realidades actuais às quais ela se dedica exclusivamente ou quase, obrigá-la a repensar as realidades passadas, servindo-se dos seus métodos e do seu espírito. • Transformar a geografia histórica (...) numa verdadeira geografia humana retrospectiva; obrigar os geógrafos (o que seria relativamente fácil) a prestarem mais atenção ao tempo e aos historiadores (o que seria mais difícil), a preocuparemse com o espaço e com o que ele engendra, facilita e dificulta - numa palavra, levá-los a terem em consideração o seu poderoso carácter de permanência.». F. Braudel (programa da Geo-história). Posicionamento do objecto no Tempo • o “tempo longo” –diferente- de eternidade (só na medida em que permite explicar o presente) • a) O recente (Geógrafo) • b) O atual (jornalistas e economistas) Viragem no objecto da Geografia (início sec. XX) Ciência do espaço Vs Ciência das paisagens (para haver paisagem tem que ser actual) “Opera-se uma viragem na definição do objecto da geografia: «ciência do espaço», ela tende a tornar-se ciência das paisagens; ciência do homem no espaço, tende a concentrarse nos vivos, a não ver os mortos senão através da herança que deixaram. …. • Na verdade, a geografia tem o dever para consigo própria de ser o estudo do modo como os fenómenos se distribuem no espaço e se ordenam num dado enquadramento espacial, o estudo da combinação destes sistemas espaciais entre si e da evolução das suas relações, assim como da sua articulação com sistemas organizados em diferentes escalas. Nada encontramos em tudo isto que obrigue a fixar como fim último o conhecimento do tempo presente. • Sem dúvida que razões de comodismo também levam a isso, porque a análise espacial pressupõe o conhecimento de numerosos factores, acerca de um número de lugares tão grande quanto possível. Mas, comodidade não é lei, e o estudo de um sistema de culturas ou de uma rede urbana tanto se concebe no século XII como no século XXI. “O estudo da evolução dos sistemas espaciais no tempo, valorizado com menos clareza por F. Braudel, mas elemento incontestável da geografia histórica, é também ele plenamente geográfico, quer vá ou não dar ao tempo presente, quer procure ou não, de modo explícito, compreendê-lo.” J.P Raison. Pós-Guerra • consciência do contributo da geografia para a definição de uma organização mais harmónica do espaço (saber técnico) • geografia aplicada ou activa, tendo como objecto prioritário a participação na organização do território, obra voluntarista onde o estudo das potencialidades e das necessidades presentes ocupou mais os geógrafos que a reflexão sobre as evoluções passadas. Foram também mais discutidas as técnicas que os princípios, o que esteve na base de alguns fracassos. as relações no espaço têm muito de subjectivo, de vivido O Recurso à história (caminhando do presente para o passado) • A paisagem é decomposta em elementos (povoamento, trama das estruturas agrárias e seus elementos) que são pouco a pouco explicados, retrospectivamente, até serem reconstruídos. • - a história é analisada em função das marcas que deixou na estruturação do espaço. (importante na compreensão actual das estruturas agrárias e paisagens rurais) • - “as relações do homem com o meio têm como intermediário as civilizações, prismas através dos quais se entrevêem as potencialidades do espaço ”. P. Gourou • - o estudo da repartição no espaço estende-se até ao conjunto dos factos sociais e só uma análise no tempo permite apreendê-los e coordená-los. “as relações do homem com o meio têm como intermediário as civilizações, prismas através dos quais se entrevêem as potencialidades do espaço ”. P. Gourou CRÍTICA: “Traçar um quadro geográfico dos inícios da história rural, por muito engenhoso e matizado que seja, o quadro não pode senão, focar os traços gerais e permanentes em detrimento dos dinamismos de todos os tipos, efémeros ou duradoiros que formam a essência da história rural.” G. Bertrand (Usar a figura do desenho animado) O Quadro natural: • a) dado de partida, concebido como imutável, determinante. Apenas um «armazém» de recursos. Ou • b) Onde o jogo complexo de escolha humanas se confronta com os reais determinismos naturais. Meio físico mutável. Métodos usados: • foto-interpretação (habitates, utensílios, formas agrárias enterradas) • Etno-botânica (reconstituição de campos de domesticação de plantas cultivadas, itinerários da sua dispersão, mutações na utilização, análises polínicas) • Agronomia histórica (análise das técnicas agrícolas) • Antropologia (relação da sociedade com o espaço, local de trabalho, constituição de unidades sociais) Reconstituição por estudo regressivo: - da génese das paisagens rurais - dos quadros de utilização do solo