Depressão pós-parto e fatores associados: prevalência em dois hospitais da cidade de São Paulo Luiz Augusto Marcondes Fonseca LIM 38-Departamento de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo Maria de Lima Salum e Morais Instituto de Saúde, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo Emma Otta Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo Prevalência • Prevalência da depressão pós-parto (DPP) varia amplamente em diferentes populações. • Dados publicados vão de 3,4% na Alemanha a 34,7% na África do Sul. • Estudos brasileiros revelam prevalências entre 12 e 36%, dependendo da cidade ou estado. • Vários estudos têm encontrado associação entre DPP e grau de apoio social. • Em estudo que incluiu 4332 puérperas Segre et al. encontraram prevalência de 40% de DPP em mulheres de baixa renda em contraste com 13% entre mulheres de renda alta. • Comparações da prevalência de DPP entre mulheres de diferentes níveis sócioeconômicos, mas vivendo na mesma cidade ainda não foram feitas, ao menos no Brasil. Objetivo • Este estudo procurou avaliar a prevalência de DPP entre mulheres de perfis sócioeconômicos bastante distintos, cujos partos ocorreram em dois hospitais da cidade de São Paulo nos últimos 2 a 5 anos. Métodos • Questionários padronizados foram aplicados por entrevistadores treinados a mulheres cujos partos ocorreram em dois hospitais da cidade de São Paulo, um deles, privado, servindo a uma clientela de alta renda, e o outro, público e universitário, cuja clientela é composta majoritariamente de pessoas de renda baixa ou média baixa. • Períodos em estudo: 2008 a 2009 no hospital privado e 2006 a 2007 no hospital público. Análise estatística • As características sócio-demográficas, circunstâncias do pré-natal e do parto, peso do RN ao nascer, Apgar no 5º.minuto, número prévio de filhos e escores de apoio social ás mães cujos partos ocorreram nos dois hospitais foram comparadas por meio de testes de proporções ou de médias, conforme apropriado. Métodos • As informações coletadas incluíram características sócio-demográficas, atenção prénatal e ao parto e características do recémnascido. • Questões sobre circunstâncias relacionadas ao apoio social à mãe permitiram a aplicação de uma escala validada de apoio social. • Com base nessa escala a cada mãe foi atribuído um escore. • O diagnóstico de DPP foi feito de acordo com os critérios de Edimburgo. Resultados Tabela 1. Características sócio-demográficas, da atenção pré-natal e do parto, e do recém-nascido, mulheres cujos partos ocorreram em dois hospitais de São Paulo, entre 2006 e 2009 Características sóciodemográficas, do pré-natal, do parto e do RN Hospital público Hospital privado Valor de p Número 212 257 Idade em anos, média (dp) 25.2 (6.1) 33 (5.3) Escolaridade em anos, média 10 14 % empregada 39 77 Número de visitas de pré-natal, média 7 7 Prevalência de cesarianas (%) 34 75 <0.001 Peso do RN ao nascer em g, média (dp) 3253 (442) 3222(403) >0.1 Escore de Apgar no 5º.minuto, média 9.5 9.3 >0.1 <0.001 <0.001 Tabela 2. Prevalência de DPP e escores de apoio social, mulheres cujo parto ocorreu em dois hospitais de São Paulo, 2006 a 2009 Hospital público Hospital privado Valor de p 78.9 (15.5) 90 (7.4) <0.001 Prevalência de DPP (%) 55 (25.9) 22 (8.5) <0.001 Número de mulheres 212 257 Escore de apoio social, média (dp) Resultados da regressão logística multivariada • As variáveis que se associaram ao desfecho (DPP) na análise bivariada, ao nível de significância de 0,2, foram idade da mãe, escolaridade, estar desempregada, hospital, tipo de parto, número prévio de filhos e escore de apoio social. • As variáveis acima foram incluídas em modelo de regressão logística multivariada e após ajustes, as associações com DPP desapareceram, exceto apoio social, cuja associação permaneceu significante (OR ajustado 0,96, p<0,001) Discussão • A prevalência de DPP entre as mulheres cujo parto ocorreu no hospital público foi mais de três vezes aquela das mulheres cujo parto se deu no hospital privado. • O próprio hospital de ocorrência do parto serviu como “proxy” para condição sócio-econômica. • Variáveis como idade, estar ou não empregada, prevalência de cesariana e apoio social eram significantemente diferentes entre os dois grupos de mulheres, enquanto as características dos recémnascidos eram semelhantes. • Ajustadas em modelo de análise multivariada para controlar possível confundimento, a única variável que permaneceu associada à DPP foi apoio social. • Isto indica que a marcante diferença de prevalência de DPP entre os dois grupos de mulheres deve estar ligada ao apoio social. • Uma série de estudos tem relatado associação entre baixo apoio social e DPP em distintas populações e situações, como mães de RN pré-termo, adolescentes, primíparas brancas e Afroamericanas de baixa renda(Logsdon et al.),canadenses (Dennis et al.) e chinesas (Leung et al., Wang et al. e Heh et al.) • O presente estudo é o primeiro a encontrar associação entre baixo apoio social e alta prevalência de DPP ao comparar duas populações de características sócio-econômicas distintas de uma mesma cidade do Brasil. • Outros achados dignos de menção foram a alta prevalência de cesarianas e a idade significativamente mais alta ao primeiro parto, entre as mães atendidas no hospital privado.