DA CIÊNCIA À FILOSOFIA
DA INFORMAÇÃO
“Não explicar por mais, o que se vai explicando
por menos...”
Armando Malheiro da Silva
Professor Associado FLUP
[email protected]
Aula inaugural PPGCI UFBA
17. Março.2010
SUMÁRIO
Razões de uma escolha...
 Filosofia da Informação vs. Epistemologia
da Ciência da Informação
 Questões
 Reflexões

RAZÕES DE UMA ESCOLHA...



Convite pela Organização do I Simpósio
Brasileiro de Ética da Informação
Não querer repetir o tema a apresentar no SBEI,
18 e 19 de Março, mas sem fugir ao registro
filosófico em pauta
A “Filosofia da Informação” do italiano e
professor em Inglaterra, Luciano Floridi, está na
moda e o seu “criador” tem sido premiado no
“universo” anglo-americano. No Brasil não está
ainda tão vulgarizado quanto Rafael Capurro
FILOSOFIA DA INFORMAÇÃO


Versus Epistemologia da Ciência da
Informação
Convém deixar claro que são projectos
diferentes e que NÃO SE DEVE RECORRER À
FILOSOFIA DA INFORMAÇÃO PARA
FUNDAMENTAR TEORICAMENTE, POR
EXEMPLO, UM ESTUDO DE CASO - O
Comportamento Informacional de cientistas que
trabalham num determinado Laboratório de
Física
QUESTÕES
Sobre o binómio fenómeno - objecto
 Pressupostos filosóficos:
 Realismo mitigado vs. Relativismo
 “Neo-cientismo” (pensamento sistémico e
construtivismo) aplicado às Ciências
Sociais - ver artigo na Prisma.Com sobre
Ciência da Informação e Sistemas de
Informação

QUESTÕES


Importa, por isso, identificar que fenómeno é
esse, o que não parece fácil e muito menos
consensual.
Muito mais fácil tem sido afirmar que os
documentos, as Bibliotecas, os Arquivos, desde
há muito (e o recuo que se faz é longo, indo
parar, por exemplo, à “lendária” Biblioteca de
Alexandria), são a realidade palpável e
funcional da Biblioteconomia, da Arquivística,
da Documentação
QUESTÕES
A definição de informação que propomos
desde 2002 - uma definição
eminentemente operatória - foi elaborada
tendo subjacente esse esforço de
identificação fenomenológica.
 Proponho uma breve análise
“desconstrutiva”:

QUESTÕES
Informação [é]
 conjunto estruturado de representações
mentais e emocionais codificadas (signos e
símbolos) socialmente modeladas 
fenómeno psicossocial

e passíveis de serem registadas num
qualquer suporte material (papel, filme,
banda magnética, disco compacto, etc.)
documento (epifenómeno)
QUESTÕES


e/ou comunicadas em tempos e em
espaços diferentes”  fenómeno
Fenómeno info-comunicacional que radica
na capacidade simbólica (cognitiva e
emocional) e socializadora do ser humano
(linguagem, conhecimento, sabedoria,
inteligência... são designações/conceitos
que remetem para o mesmo fenómeno)
QUESTÕES

Posto isto, a (re)construção do objecto da
C.I. assenta numa ruptura epistémica: ela
tem de fundar-se no fenómeno e não
mais no epifenómeno, fundamento
(empírico e próprio do senso comum) das
disciplinas “práticas” - Arquivística e
Biblioteconomia.
QUESTÕES

O objecto da C.I. é construído a partir do
primado do mentefacto (representações
mentais e emocionais) sobre o artefacto
comunicacional (documento), ou seja, o
que a C.I. visa pesquisar, tendo em vista
a actividade dos profissionais
academicamente formados por ela, não é
o DOCUMENTO, mas sim a INFOCOMUNICAÇÃO.
QUESTÕES
 Sobre o binómio ciência - profissão
 Recusa da tese extrema de Boaventura Sousa
Santos de que a Ciência Pós-Moderna não só
revaloriza o Conhecimento baseado no Senso
Comum (premissa que aceito) como admite
uma quase indistinção entre Senso Comum e
Ciência (exagero que rejeito)
QUESTÕES


Se o Paradigma Emergente (Boaventura Sousa
Santos) conduz à confusão entre Ciência e
Profissão (Senso Comum), então esse
Paradigma traz em si um equívoco original.
Equívoco, porque não responde, com clareza,
ao desafio da complexidade, e esta não pode
ser equacionada sem o contributo testado
(ainda que limitado e sujeito a revisão) da
Ciência.
QUESTÕES

Permanece, pois, válida a distinção
operatória entre Senso Comum e Ciência
(Social), ao mesmo tempo que se torna
necessário postular uma forte
interdependência dos dois “pólos” – o
Senso Comum pode evoluir para o
estado científico, e a Ciência “alimentase” da matéria-prima do Senso Comum.
QUESTÕES


Dentro do Senso Comum nasceram e
continuam radicadas a Arquivística e a
Biblioteconomia. Quando elas são sujeitas a
processos de evolução e transformação ocorre
o início de um salto epistémico rumo à Ciência
(ou às Ciências???) da Informação.
A Information Science (nascida nos EUA)
impôs-se a partir dos anos 60, como uma
Tecnologia (a Informatika soviética).
QUESTÕES
Como pensar e explicar esse processo de
transição paradigmática?
Através de conceitos-chave – e desde logo o de
paradigma – como o de interdisciplinaridade e
o de transdisciplinaridade (Olga Pombo).
 Interdisciplinaridade – problemas comuns ou
que suscitam interesse comum congregam
ciências e disciplinas autónomas.

QUESTÕES

Uma Interdisciplina será, pois, um campo
de convergência de disciplinas “práticas”,
de tecnologias e de ciências várias,
marcado pela pluralidade babélica de
contribuições específicas e distintas – o
que não sendo mau em si, pode revelarse crítico e perverso do ponto de vista
epistemológico.
QUESTÕES

Este posicionamento epistemológico
convém a todos os que se mantêm
influenciados pelos excessos do
Paradigma Emergente (Boaventura
Sousa Santos) e que não distinguem
profissão de ciência, nem aceitam que
cada disciplina pode evoluir e diluir-se
num campo novo e muito mais unitário.
QUESTÕES
Sobre uma C.I. transdisciplinar
 A transdisciplinaridade responde
plenamente aos que fazem uma leitura
(re)fundacional da definição que Harold
Borko retomou e retocou num artigo
famoso de 1968:
QUESTÕES

A C.I. é a disciplina que investiga as
propriedades e o comportamento da
informação, as forças que regem o fluxo
informacional e os meios de processamento da
informação para a optimização do acesso e
uso. Está relacionada com um corpo de
conhecimento que abrange a origem, colecta,
organização, armazenamento, recuperação,
interpretação, transmissão, transformação e
utilização da informação.
QUESTÕES
Dessa configuração da C.I. deriva esta proposta
definitória:
 A C.I. é uma ciência social que investiga os problemas,
temas e casos relacionados com o fenómeno infocomunicacional, perceptível e cognoscível, através da
confirmação ou não das propriedades inerentes à
génese do fluxo, organização e comportamento
informacionais (origem, organização, armazenamento,
recuperação, interpretação, transmissão, transformação
e uso da informação) [SILVA, 2006].
QUESTÕES
 Campo em construção – as C.I.C
 Para a fundamentação do campo das CIC é
incontornável a obra de Robert Escarpit
Information et Communication theorie generale
(1991). por algumas razões:
a) parte da Teoria Matemática da Comunicação,
de Shannon e Weaver, embora aponte as suas
limitações;
b) reequaciona o conceito de documento
acrescentando-lhe o de semi-documento;
c) a ênfase na relação cultura-comunicação.
QUESTÕES


O contributo de Escarpit foi sendo trabalhado e
preservado em várias Universidades francesas,
nomeadamente Bordéus onde Escaroit foi
professor emérito
Radica na sua teoria geral a constituição do
movimento académico que tem como
expressao associativa a Societé Francaise des
Sciences de l’Information et Communication
QUESTÕES
 É oportuno evocar o programa de trabalho
para as C.I.C., proposto em 1995 por Bernard
Miège:
 a articulação entre os dispositivos tecnológicos
da comunicação e a produção das mensagens
e do sentido;
 a "inserção social" das tecnologias e,
particularmente, a atividade dos usuáriosconsumidores no aperfeiçoamento dos
dispositivos;
QUESTÕES


a atenção aos "procedimentos" de escrita das
mensagens (icônicas, sonoras, gráficas...) e
das condições que presidem sua concepção e
realização;
a dimensão sociológica, política e econômica
das atividades informacionais e
comunicacionais que dão lugar a inovações e
experimentações de novos suportes;
QUESTÕES

o estudo das mudanças ocorridas nos
processos de mediação que, segundo é
lembrado por Bernard Lamizet, "tem como
papel desencadear, no campo dos
intercâmbios comunicacionais, relações e
formas de comunicação que não se reduzam a
formas intersubjetivas, mas que sejam formas
acessíveis e abertas a todos". Em suma, a
mediação tem por função evitar que, no campo
social, se instaure uma lógica de relações de
força.
QUESTÕES


A proposta de Miège, publicada em 1995,
continua a fazer todo o sentido e a dar sentido
ao campo das Ciências da Comunicação com a
C.I., exercendo aí seu papel.
Não custa, aliás, identificar, no programa
proposto, os pontos mais fortes que
correspondem ao objecto (re)formulado pela
C.I. e consignado na definição programática de
Borko, a saber:
QUESTÕES



a articulação entre os meios tecnológicos de
comunicação/interacção e a produção de
sentido (mensagens, conteúdos...);
a actividade dos utilizadores ou consumidores
e sua interferência e modelagem dos
dispositivos tecnológicos de
interacção/comunicação; e
o contexto de produção da informação (escrita
icónica, musical, gráfica, geométrica, etc.).
QUESTÕES

Através desses e de outros pontos mais
específicos, a C.I. pode e deve desenvolver e
consolidar um contributo positivo e
imprescindível ao desiderato de Miège.
É, portanto, em torno dessas importantes
orientações que as Ciências da Informação e
da Comunicação terão de se organizar - e,
talvez, de se reunir - no futuro imediato
REFLEXÕES

Pensar a actividade formativa e científica
através da identificação de paradigmas
Rafael Capurro, em 2003, na lição inaugural
proferida no ENANCIB de Belo Horizonte, MG,
denominada Epistemologia de la Ciencia de la
Información, propôs quatro paradigmas e
suscitou na comunidade científica brasileira (e
portuguesa) um enorme interesse e replicação
desse esquema reflexivo e explicativo.
REFLEXÕES

Mais recentemente, em entrevista a um
investigador brasileiro, publicada em
artigo da revista Perspectivas em Ciência
da Informação, Capurro alertou para o
facto de que esses paradigmas deveriam
ser aplicados com cuidado e submetidos
a uma melhor compreensão do conceito
que ele tinha em mente ao criá-los.
REFLEXÕES
Em contraponto à proposta de Capurro,
comecei a trabalhar, com a colega
Fernanda Ribeiro, uma proposta
alternativa que recupera o conceito de
Paradigma, na acepção mais próxima da
usada por Thomas Khun, e que afirma a
existência de dois paradigmas, desde o
final do séc XVIII.
REFLEXÕES


Paradigma Custodial, Patrimonialista,
Historicista e Tecnicista até meados do séc
XX;
Pós-Custodial, Informacional e Científico
paradigma emergente, que coincide com a
convergência de dois grandes Paradigmas:
 o da Complexidade (E. Morin);
 o Tecnológico (M. Castells); e com a
expansão da Era da Informação/Galáxia
Internet.
REFLEXÕES
A cientificidade da pesquisa sobre o objecto infocomunicacional
 O ponto epistemológico de partida, aqui, é indagar sobre a
natureza do conhecimento produzido pela C.I., enquanto ciência
social aplicada – é um conhecimento verdadeiro porque é
aplicado e é objectivado em acções concretas do quotidiano
(Mundo 3 de Karl Popper)?
 Ou é um conhecimento construído a partir da descoberta da
verdade, através da compreensão dos problemas e dos casos que
emanam do fenómeno info-comunicacional?
 Remeto para o neo-cientismo (Revista Prisma) evocado no início
desta apresentação.
REFLEXÕES
Metodológicas ou a oportuna recuperação
do Método Quadripolar
 A proposta de investigação quadripolar de De
Bruyne, Herman e De Schoutheete,
apresentada em 1974, surgiu como uma
tentativa ousada e consistente de superação do
positivismo redutor e a afirmação de uma
cientificidade necessária para as Ciências
Sociais, mas, estranhamente, ela não teve o
devido acolhimento pela Sociologia e pelas
demais C.S. E, no entanto, parece-me fazer
pleno sentido e actualidade a sua recuperação.
REFLEXÕES
pólo
epistemológico
pólo
teórico
DISPOSITIVO
METODOLÓGICO
pólo
morfológico
pólo
técnico
REFLEXÕES
Pólo Epistemológico
Assunção do paradigma emergente
em CI:
o paradigma pós-custodial,
informacional e científico
Pólo Teórico
Escolha e delimitação do problema
ínsito à temática geral dos
Recursos de Informação,
Serviços e utilizadores:
formulação da hipótese ou da
teoria, ou do modelo aplicável, sua
confirmação ou refutação
Pólo Técnico
Pólo Morfológico
Utilização ajustada das operações e
técnicas requeridas pelo tipo de
problema em estudo: análise
orgânico-funcional, avaliação (de
desempenho do Serviço e de
recuperação de termos), inquéritos e
entrevistas...
Formalização e apresentação
pública dos resultados da pesquisa,
que resulta do processo em que os
pólos anteriores intervêm
interactivamente e os resultados
deste quarto pólo impulsionam
novas pesquisas
Método quadripolar de investigação: interacções entre os pólos
OBRIGADO PELA ATENÇÃO
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DA CIÊNCIA À FILOSOFIA DA INFORMAÇÃO “Não explicar