Balanço hidroeletrolítico Francisca Luzia Araújo Água e eletrólitos em cirurgia O trauma cirúrgico determina modificações consideráveis na fisiologia dos líquidos orgânicos, e deste modo a assistência ao doente inclui cuidado constante com o setor hidroeletrolítico. TRAUMA CIRÚRGICO TRAUMA CIRÚRGICO FERIDA CIRÚRGICA SEQUESTRO INTRACELULAR REDUÇÃO DO VOLUME EXTRACELULAR As alterações hidroeletrolíticas iniciam-se sempre no compartimento extracelular e podem ou não repercutir em alterações do intracelular TRAUMA CIRÚRGICO redução do volume extracelular aumento produção de ADH liberação de renina (córtex renal) reabsorção de água formação de angiotensina vasoconstricção arteriolar estimula produção de aldosterona elevação PA retenção de água e sódio Alterações hidroeletrolíticas da cirurgia E agora? A cirurgia apresenta: . oligúria - diminuição do clearence de água . retenção urinária de Na⁺ . aumento da excreção urinária de K⁺ . aumento da concentração plasmática de K⁺ . diminuição da concentração plasmática de Na⁺ A reposição hidroeletrolítica do paciente cirúrgico dependerá: . necessidades básicas . perdas acessórias . déficits anteriores Necessidades diárias de fluídos cálculo da água Média - 35 mL/kg/dia adulto jovem observar estado de hidratação Idosos – 20mL/kg/dia + perdas Insuficiência renal, hepática e cardíaca Necessitam reposição e ressuscitação .15 a 20 mL/kg/dia ou 500 mL + perdas .2g ClNa/dia .ClK ( observar diurese) Gestantes – grande perda para o interstício evitar soluções hipotônicas Necessidades diárias homem 70kg 10 kg x 100 ml/kg = 1000 ml 10 kg x 50 ml/kg = 500 ml 50 kg x 20 ml/kg = 1000 ml 2500 ml / dia VCT = 1500 + (P – 20) 20 Cálculo da reposição Necessidades basais + perdas acessórias Necessidades basais SG 5% + eletrólitos:ClNa⁺ + ClK⁺ (2 a 4g/dia) Perdas acessórias Digestivas – RL ou SG 5% + eletrólitos Respiratórias – SG 5% Hipovolemia aguda – colóide (3.1) Necessidades diárias de eletrólitos Sódio: 1-2 mEq/kg/dia Potássio : 0.5 -1 mEq/kg/dia Cálcio: 800 - 1200 mg/dia Magnésio: 300 - 400 mg/dia Fósforo: 800 - 1200 mg/dia Regra prática: 2 a 4g ClNa e 2 a 4g ClK / dia Uso prático Os eletrólitos mais usados são Na⁺ e K ⁺ (Cl) .ClNa⁺ 10 ou 20 % (1 ou 2g) amp 10ml / 17mEq .ClK⁺ 10% (1g) amp 10ml / 13mEq Cálcio – pancreatite aguda, IRA .Gluconato de Ca⁺⁺ 10% (1g) amp 10ml /4.7mEq Bicarbonato de Na⁺ – PCR, perdas digestivas altas, acidoses prévias .Amp 10 ml a 8.4% (1mEq/ml) Principais órgãos envolvidos no equilíbrio hidroeletrolítico 2100 ml ingestão 300 ml Produção endógena insensível 100 ml suor 300 ml insensível 1500 ml urina 100 ml fezes Balanço hídrico diário Paciente: + líquidos EV - diarréia, LIC vômitos, drenos, LEC sondas (SNG), fístulas, 28L 14L peritoniostomia, queimaduras, 3º espaço Ingesta líquida 1300ml Alimentos sólidos 800ml Água endógena 400ml Pele Pulmões 500ml 400ml Perdas insensíveis Urina Fezes 500ml 100ml Cálculo da água endógena 100ml – 15 kcal (ml) Cálculo das perdas insensíveis 100ml – 45 kcal (ml) Ganhos endovenosos - não entram no balanço: ST, albumina, aminoácidos - entram: CH, plasma (1/3), colóides sintéticos ÁGUA TRANSCELULAR é a contida em cavidades naturais como espaço liquórico, pleura, peritônio, articulações, trato digestivo e corresponde a 1 a 3% do peso corporal – indisponível para trocas Importante no paciente cirúrgico: perda de água, eletrólitos e proteínas “TERCEIRO ESPAÇO“ edema na área traumática, cirúrgica ou não, edema do peritônio e mesentério, derrame pleural, ascite ou fluidos digestivos estagnados nas alças intestinais (obstrução intestinal) Perda provisória inicialmente Secreções orgânicas (mEq/l) Saliva Suco gástrico ácido normal Bile Pancreática Intestino Delgado Volume Na+ K+ 1500ml 1500ml 10 26 10 30 45 30 100 140 140 140 45 5 5 5 120 115 100 75 100 25 30 40 115 30 1000ml 700ml 3000ml Cl- HCO3- Perdas – vômitos, diarreia, SNG, fístulas, íleo, obstrução intestinal Tipos de fluidos • Cristalóides – SF 0,9 % e hipertônico (7,5 %) ringer lactato, ringer simples Colóides – naturais : albumina, plasma humano, plasma fresco, concentrado de hemácias - sintéticos : starches, gelatinas, dextrans 1 colóide = 3 cristalóide Controle do manuseio hídrico Cateter vesical - 0,5 ml/kg/h Linha Arterial Cateter de pressão venosa central Cateter arterial pulmonar Monitorização adequada à gravidade do paciente Racional para fluidoterapia Preservar oferta de oxigênio aos tecidos • Corrigir hipovolemia Colóides + CH • Manter débito cardíaco • Otimizar troca gasosa • Repor eletrólitos e água Cristalóides • Manter débito urinário Identifique o objetivo Resumindo ... • Avalie e reavalie • Use soluções salinas para ressuscitação • Use água mais Na⁺ e K⁺ para manutenção • Sangue se houver hemorragia ativa ou anemia • Cuidado com hiponatremia dilucional! • Observe casos especiais - comorbidezes Campbell D. Perioperative fluid management,2003 João das Couves , 34 anos, sofreu queda da goiabeira fraturando a perna direita.Dá entrada na urgência com pico hipertensivo (160x90mmHg), dores na perna e agitado. Após RX é encaminhado ao CC. Calcule a hidratação inicial. - Como deve ser a reposição no POI? - O pico hipertensivo exige alguma conduta especial ? Dona Maria Gomes, 64 anos, foi submetida à colecistectomia sem intercorrências. Calcule a hidratação inicial sabendo-se : peso 54kg, sem comorbidezes. No PO1 evolui com dores abdominais em cólica, peristalse débil e desconforto geral. Avaliada pelo R1 de plantão foi colocada SNG com débito inicial de 1000 mL de líquido de estase e dieta zero. Calcule a reposição. Diurese – 700ml, afebril, PA= 120x80mmHg 54kg EV – 2000 ml SNG – 1000 ml D – 700 ml Ganhos EV – 2000 AE - 300 2300 ml Perdas PI – 900 D700 SNG – 1000 2600 ml NB = SG 5% + 4g ClNa + 4g ClK 1) SG 5% 500 ml ClNa 10% - 10 ml ClK 10% - 10 ml Correr EV 28gts/min 4 etapas iguais 2) Ringer lactato – 500 ml EV em Y com HV 2 etapas 20gts/min SG 5% 3000 ml ClNa – 4g + 2,5 = 6,5 g ClK – 4g + 2,0 = 6,0 g 1) SG5% - 500 ml ClNa 10% - 10 ml ClK 10% - 10ml Correr EV 6 etapas iguais 40 gts/min Eufrázia Santos, costureira, 73 anos, história de hepatopatia crônica compensada. Desenvolve quadro de hérnia estrangulada necessitando cirurgia de urgência.Emagrecida, 48kg, ascite 1+/4+, edema maleolar bilateral, PA= 110x60mmHg. Uso crônico de espironalactona (100mg 2x/dia). Calcule a reposição hidroeletrolítica pré-operatória inicial. - Quais os cuidados especiais requeridos no pós-operatório? obrigada