Caso P-36 GRUPO: Denise Pereira Érika Farias Contexto Na madrugada do dia 15 de março de 2001 ocorreram duas explosões em uma das colunas da plataforma P-36, a primeira às 00h22min e a segunda às 00h39min. Segundo a Petrobras, 175 pessoas estavam no local no momento do acidente das quais 11 morreram, todas integrantes da equipe de emergência da plataforma. A P-36, maior plataforma de produção semi-submersível do mundo, afundou no dia 20 de março, em uma profundidade de 1.200 metros e com estimados 1.500 toneladas de óleo ainda a bordo causando também danos ambientais. Segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP) do Brasil, o acidente foi causado por "não-conformidades quanto a procedimentos operacionais, de manutenção e de projeto". Acertos: RAPIDEZ NA NOTA OFICIAL – Às 4h, a primeira matéria on line já continha as informações prestadas pela assessoria de comunicação (dados do acidente, providências tomadas, número de pessoas no local, número de feridos). CENTRAL DE ATENDIMENTO – No dia 16 é montada a Central de Atendimento na unidade de negócios da Bacia de Campos, no RJ, e outros estados como SP, BA e ES para atendimento por psicólogos e assistentes sociais e recebimento de alimentação e vestuário enquanto os parentes dos funcionários aguardam notícias. PUBLICAÇÃO DA LISTA DE DESAPARECIDOS – É essencial a divulgação da lista de desaparecidos. VISITA ÀS FAMÍLIAS – Presidente visita família de funcionários envolvidos no acidente. DIAGNÓSTICO DO ACIDENTE – Em março de 2001, a Petrobras divulga a criação de uma comissão para investigar as causas das explosões. MUDANÇA DE ESTRATÉGIA APÓS O ACIDENTE – A partir do trabalho da comissão, em 2002 é divulgado o Programa de Excelência Operacional das Unidades Marítimas criado após o acidente da P-36. Nele consta a análise feita sobre as causas do acidente e as novas ações como Revisão das Diretrizes de projeto da Unidade; revisão da organização do trabalho das Unidades Marítimas de Produção; Divulgação interna e externa de todas as causas e ações subseqüentes ao acidente; a Aperfeiçoamento dos profissionais de controle de estabilidade e lastro. Erros: DEMORA NA REALIZAÇÃO DA PRIMEIRA ENTREVISTA COLETIVA – A entrevista coletiva só foi concedida na parte da tarde. Primeira matéria com a publicação foi às 16h17. EXCESSO DE PORTA-VOZES – Embora o presidente da Petrobras (Philippe Reichstul), foi quem concedeu as entrevistas coletivas, mas também deram entrevistas o diretor de exploração da Petrobras, Carlos Tadeu, e o gerente-executivo da área de segurança, meio ambiente e saúde da Petrobras, Irani Varella. Eles acabaram prestando informações desencontradas. Poderia haver o presidente e mais um técnico para ser um discurso unificado,. Além disso, o técnico falaria apenas a parte técnica. FALTA DE MEDIA TRAINNING – DESPREPARO DO PRESIDENTE - Em entrevista, o presidente da Petrobras afirma que o acidente não põe em risco o meio ambiente e mais tarde acaba tendo que admitir o risco de vazamento de óleo. Deveria ter informado que ainda estava sendo verificado esse risco. Na mesma entrevista, o presidente diz que foi “uma surpresa” o acidente, sendo depois desmentindo por técnicos e outras instituições. Depois diz que um funcionário que está em estado gravíssimo tem poucas chances de sobreviver, quando ele poderia ter dito que o estado é grave e que os médicos estão realizando todos os procedimentos e que a Petrobras está acompanhando o estado de todos os funcionários. Disse também que ainda não havia iniciado às investigações do acidente e que somente seria na sexta-feira. Em outra entrevista mostra completo despreparo: “Questionado se os sucessivos acidentes que vêm ocorrendo em instalações da empresa provocaram algum tipo de constrangimento que o impedisse de continuar no cargo, Reichstul afirmou que não havia parado para pensar no assunto”. Por conta disso, percebe-se que o porta-voz não estava preparado e não havia passado por um media training, pois negar uma informação que é possível num equipamento conhecido da empresa e dizer que foi “uma surpresa” mostra desconhecimento da situação dos equipamentos da empresa ou ,ainda pior, negligência por não corrigir o problema. Deu um diagnóstico que não lhe compete, quando fala que o funcionários tem poucas chances de sobreviver. FALTA DE MONITORAMENTO DE NOTÍCIAS (CLIPPING) – Matérias questionando o procedimento da Petrobras foram publicadas sem a resposta da assessoria de comunicação. Exemplos são as entrevistas com integrantes de associações de profissionais e técnicos dando relatos de despreparo dos funcionários sem a resposta da assessoria de comunicação ao caso. Lembrando que no incêndio do prédio da Eletrobrás no RJ, a assessoria solicitou à empresa de monitoramento que o clipping fosse encaminhado, quase que em tempo real. FALTA DE INFORMAÇÃO – Famílias reclamam da falta de informação por parte da Petrobras, mesmo com a Central tendo sido montada. Além disso, famílias reclamam do atendimento como uma mulher que diz não ter tido autorização para sobrevoar a região. Depois sobrevôo é realizado – dia 21 de março. PRECIPTAÇÃO NA DIVULGAÇÃO DA LISTA DE DESAPARECIDOS – A lista foi publicada, mas algumas famílias ainda não haviam sido contatadas pela Petrobras. FALTA DE BOM RELACIONAMENTO COM PÚBLICO INTERNO – Funcionários dão entrevistas questionando segurança, inclusive trabalhadores de outra região (Presidente Bernardes, em Cubatão – SP) interrompem atividades por duas horas reivindicando mais segurança e melhores condições de trabalho. Isso desencadeia greve por parte dos trabalhadores da Petrobras de outras plataformas e localidades. FALTA DE BOM RELACIONAMENTO COM PÚBLICO EXTERNO – Sindicatos e associações dos trabalhadores reclamam das condições de trabalho, diz que já havia riscos. A Agência Nacional de Petróleo questionou procedimentos adotados. Na ocasião, Governador Anthony Garotinho, em viagem a Cuba disse que acidente da P-36 está mal explicado. Câmara e Senado também pressionam exigindo explicações. Discursos pesados. A imprensa também tem má vontade com o caso devido à falta de Goodwill ou Mindshare, na época. Conclusão: A empresa não estava preparada para lidar com as crises mais óbvias - o afundamento de plataforma e desastre ambiental – no ramo que atua e, consequentemente, por isso, também foram desastrosas as ações de comunicação da empresa durante o acidente. A empresa precisava lidar com três vertentes fundamentais: a questão monetária (perda de um patrimônio estimado em R$ 1 bilhão de reais), mais os custos com a compra de petróleo para repor o que deixava de ser extraído; as vítimas fatais e seus familiares; e o perigo de um desastre ambiental. Os problemas enfrentados com o afundamento da P-36 levaram a Petrobras a desenvolver Programa de Excelência Operacional das Unidades Marítimas, que permitiu diversas mudanças no comportamento da empresa. Ao analisar a história da Petrobras, o vazamento na Baía de Guanabara destaca-se como um marco, descrito dessa maneira pela própria organização em seu relatório anual. A partir desse incidente crítico, a empresa demonstra mudanças em sua missão e visão, projetos sociais, valor da organização e imagem, sistema de gestão ambiental e volume de acidentes ambientais que juntos apontam para uma mudança na postura da Petrobras como um todo, caracterizando uma mudança de seus padrões culturais. A empresa passou a ter um Plano de Crise que permitia uma comunicação objetiva e ágil com a imprensa. Além disso, a comunicação começou a ser planejada com ações de curto, médio e longo prazos, que permitem hoje uma lembrança positiva da empresa - Goodwill. Depois de aprendida a lição, por mais que ainda ocorram acidentes, o público interno tem orgulho de trabalhar na Petrobras e o público externo vê a empresa como uma instituição responsável e comprometida com as áreas ambiental, social, cultural e que valoriza o funcionário. - De 15 a 28 de março de 2001 foram publicadas 245 matérias na Folha.com diariamente. De 05 de abril até 29 de outubro de 2001 foram publicadas 37 matérias sem regularidade. http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/plataforma.shtml - Site da Petrobras – petrobras.com.br