Agrotóxicos, saúde e ambiente Alice Pequeno Marinho Brasil 2008: campeão mundial de consumo de agrotóxicos • 673.862 toneladas • US$ 7,125 bilhões Agrotóxicos no Brasil – algumas considerações • 470 ingredientes ativos de agrotóxicos • 572 produtos técnicos e • 1.079 produtos formulados no mercado nacional • Sendo 45% de herbicidas 27% de inseticidas 28% de fungicidas. Meirelles, 2005 Agrotóxicos no Brasil – algumas considerações • Cada produto: características toxicológicas próprias. • A grande maioria destes produtos possui impurezas e veículos toxicologicamente significativos. • Agricultura: mistura de produtos Alguns Agrotóxicos proibidos em outros países e permitidos no Brasil Aldicarb (Temik) Aldrin Benomyl Captafol Dimetoato Dodecacloro (Mirex) Endosufan (Thiodon) Folpet Mancozeb, Maneb, Zineb e Metiram (Dithane) Paraquat (Gramoxone) Paration etílico (Rhodiotox ) Paration metílico (Folidol) 3.2. CLASSIFICAÇÃO TOXICOLÓGICA DOS AGROTÓXICOS CADASTRADOS NA SEMACE Classe toxicológica Nº de produtos % I Extremamente Tóxico 214 24,68 II Altamente Tóxico 180 20,76 III Tóxico 316 36,45 IV Pouco Tóxico 157 18,11 Total 867 100 3.3. ESTABELECIMENTOS COMERCIALIZADORES DE AGROTÓXICOS REGISTRADOS JUNTO À SEMACE, POR MUNICÍPIO NO ESTADO DO CEARÁ MUNICÍPIO Nº Est MUNICÍPIO Nº Est MUNICÍPIO Nº Est ABAIARA 1 CAMOCIM 2 GUARAMIRANGA 1 ACARAÚ 4 CAMPOS SALES 4 HORIZONTE 1 ACOPIARA 8 CANINDÉ 5 IBIAPINA 6 ALCÂNTARA 3 CAPISTRANO 2 IBICUITINGA 1 ALTO SANTO 2 CARIDADE 1 ICÓ 8 AMONTADA 3 CARIRIAÇU 3 IGUATU AQUIRAZ 3 CARIRÉ 2 INDEPENDÊNCIA 1 ARACATI 8 CARIÚS 4 IPAUMIRIM 1 ARACOIABA 3 CASCAVEL 2 IPU 5 ASSARÉ 1 CATARINA 1 IPUEIRAS 2 AURORA 5 CAUCAIA 3 IRACEMA 2 BANABUIÚ 3 CEDRO 6 IRAUÇUBA 3 BARREIRA 2 COREAÚ 3 ITAIÇABA 1 BARRO 2 CRATEÚS 3 ITAPAJÉ 4 BATURITÉ 8 CRATO 7 ITAPIPOCA 6 BEBERIBE 2 CRUZ 3 ITAPIÚNA 1 BOA VIAGEM 1 ERERÊ 2 ITAREMA 1 BOA VIAGEM 4 EUSÉBIO 6 JAGUARETAMA 1 BREJO SANTO 8 FORTALEZA JAGUARIBARA 1 64 FORTIM 1 GRANJA 1 GROAÍRAS 2 GUARACIABA DO NORTE 13 18 3.3. ESTABELECIMENTOS COMERCIALIZADORES DE AGROTÓXICOS REGISTRADOS JUNTO À SEMACE, POR MUNICÍPIO NO ESTADO DO CEARÁ MUNICÍPIO Nº Est MUNICÍPIO MUNICÍPIO Nº Est Nº Est QUIXERAMOBIM 8 JAGUARIBE 5 MORAÚJO 2 REDENÇÃO 3 JAGUARUANA 4 MORRINHOS 2 RERIUTABA 2 JARDIM 1 MUCAMBO 1 RUSSAS 6 11 MULUNGU 2 S G DO AMARANTE 2 JUAZEIRO DO NORTE JUCÁS 3 NOVA RUSSAS 2 SANTA QUITÉRIA 5 LAVRAS DA MANGAB. 3 ORÓS 2 SANTANA DO ACARAÚ 3 PACAJUS 4 SÃO BENEDITO 4 LIMOEIRO DO NORTE 12 MADALENA 1 PACOTI 2 SENADOR SÁ 1 MARACANAÚ 9 PACUJÁ 2 SENADOR POMPEU 5 MARANGUAPE 4 PAJUÇARA 1 SOBRAL MARCO 2 PALHANO 1 SOLONÓPOLE 1 MASSAPÊ 4 PALMÁCIA 1 TABULEIRO DO NOR. 5 MAURITI 2 PARACURU 1 TAUÁ 6 MILAGRES 3 PARAIPABA 4 TIANGUÁ MILHÃ 1 PARAMBU 2 TRAIRI 3 MISSÃO VELHA 5 PEDRA BRANCA 3 UBAJARA 9 MOMBAÇA 2 PENAFORTE 1 VARJOTA 2 MONSENHOR TABOSA 2 PEREIRO 2 VÁRZEA ALEGRE 5 PINDORETAMA 1 VIÇOSA DO CEARÁ 3 PORTEIRAS 1 POTENGI 1 QUIXADÁ 6 QUIXELÔ 6 MORADA NOVA 10 14 17 Total Est.: 361 Onde foram parar os milhões de litros de agrotóxicos usados nas lavouras ? • 1 – Parte ínfima foi absorvida pela pele, pulmões e sistema gastro intestinal dos trabalhadores, sua família e população do entorno; • 2 - Parte ficou retido nas plantas e parte deste foi parar nos frutos; • 3 – Outra parte ficou retida no capim dos pastos e parte deste foi parar na carne, vísceras e gordura dos animais; • 4 – Parte evaporou e foi se juntar às nuvens que através da chuva poluiu outras plantações, o ar , as vilas rurais , a cidade e/ou cidades nas vizinhanças; • 5 – Parte foi carreada pelo vento que poluiu outras plantações do entorno, o ar das casas das vilas rurais e da cidade que ficam nas vizinhanças; • 5 – Outra parte foi degradada pelo sol, solo e água; • 6 – Parte ficou retida no solo sem se degradar, persistindo ali, por meses ou anos; • 7 – Outra parte foi lixiviada pelas águas da chuva e foi parar nos rios, Pignati - UFMT, 2009 DIAGRAMA DO USO DE AGROTÓXICOS E EXTERNALIDADES NA SAÚDE E AMBIENTE Agrotóxicos em alimentos • Das 3.130 amostras - 907 (29,0%) insatisfatórias, correspondendo a 15 das 20 culturas monitoradas. - identificados agrotóxicos que estão em processo de reavaliação - em culturas para os quais não estão autorizados, o que aumenta o risco tanto para a saúde dos trabalhadores rurais como para a dos consumidores. • Principais irregularidades : • • presença de agrotóxicos em níveis acima do Limite Máximo de Resíduos (LMR) em 88 amostras, representando 2,8% do total; • • utilização de agrotóxicos não autorizados (NA) para a cultura em 744 amostras, representando 23,8% do total e • • resíduos acima do LMR e NA na mesma amostra em 75 amostras, representando 2,4% do total. A poluição das águas subterrâneas (GL), (CB), (CR), (PR), (EP), (EN), (AB) (CR), (PR), (FN), (FL), (CB), (AZ) (CR), (PR), (FN), ( TP), (TB), (FL), (CB) (CM), (GL), (CR), (FN), (PR), (TP), (CL), (TF), (AB) (GL), (CB), (CR), (PR), (FN), (TE) (CB), (CR), (PR), (FN), (TP), (EP), (TB), (CL) (FS), (CB), (PR), (TB), (CL) (CR), (PR), (CB) (CB), (PR), (CL) (IM), (PR), (FM) (CR), (PR) (CR), (PR), (CB), (FN) (CR), (PR), (TP), (CB), (DF) (CM), (CB), (CR),(PR), (FN), (TB) (CR), (PR), (FN), (CB) (PR), (DF), (CB) (FS), (TP), (PR), (FL), (CB) (IM), (PR), (TP), (CB), (AZ) (CR), (PF), (FN), (CB) (CR), (CB),(PR), (FN),(TB), ( Cl), (ED) Poluição intencional pois o ambiente de trabalho é o próprio meio ambiente e atinge o trabalhador, a produção e o ambiente. A legalização da poluição. (Pignati, 2007). 14 Vias de contaminação humana por agrotóxicos: • 1 – PULMONAR; • 2 – DÉRMICA; • 3 – ORAL. Em circunstância: • Ocupacional (armazenamento, venda, transporte, diluição, aplicação/pulverização, lavagem de EPI); • Ambiental (morar no entorno água, ar, solo,”deriva”); • Acidental (suicídio, homicídio, descuido/criança); • Alimentos com resíduos. Agrotóxicos X Doenças humanas • Agrotóxicos X defensivo agrícola X pesticida X praguicida X agroquímico, mas na Lei 7.802/89 e Decreto 4.074/02 = Agrotóxico • Agravos agudos: gastro-intestinais, dérmicos, hepáticos, renais, neurológicos, pulmonares, deficiências no sist. imunológico, quadros clínicos psiquiátricos, ... • Agravos crônicos: • Psiquiátricos (depressão, irritabil,..); distúrbios do desenvolv. cognitivo • neurológicos (neurites periféricas, surdez, doença de parkinson,...) • Desreguladores endócrinos (diabet, hipotiroid, infertilid, abôrtos,..) • Teratogênicos (anencefalia, esp. bífida, malf.card/intest, abôrtos,.) • Mutagênicos (induz defeitos no DNA dos espermat., óvulos,...) • Carcinogênicos (mama, ovário, próstata, testículo, esof/esto, wilms...) • Resíduos contaminantes nos alimentos, água, solo, ar, chuva, toda biota Agrotóxicos X Danos ambientais Intoxicação • 2006 - agrotóxicos de uso agrícola e doméstico foram a segunda e terceira causa de intoxicação humana no país – 9.600 casos (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas) • Para cada caso de intoxicação notificado há 50 não comunicados Causas • • • • • Causas: Elevada toxicidade dos produtos Vendas irresponsáveis Falta de orientação adequada Baixo nível de informação e treinamento dos agricultores (código de cores utilizados para classificar o nível de toxicidade e significado dos pictogramas) Câncer e Agrotóxicos A literatura sobre câncer e agrotóxicos: Agricultores: experimentam risco aumentado para alguns tipos de câncer sarcoma de partes moles, linfoma nãoHodgkin, Doença de Hodgkin, leucemias, mieloma múltiplo e cânceres de pele e próstata. Aumento freqüentemente associado a exposições a substâncias químicas utilizadas na agricultura, especialmente os agrotóxicos. Câncer e Agrotóxicos Stoppelli (2005), em sua tese de doutoramento, abordou as relações entre agricultura moderna, altamente dependente dos agroquímicos, problemas ambientais e possíveis reflexos sobre a saúde humana. Concluiu, entre outros pontos, que o agricultor, comparado a outras ocupações, tem uma chance maior, da ordem de 60%, de desenvolver câncer. DIFICULDADES NA CARACTERIZAÇÃO DE AGRAVOS À SAÚDE RELACIONADOS AOS AGROTÓXICOS • composição do produto (variedade de princípios ativos, formulações comerciais variadas, presença de contaminantes) • limitações do conhecimento da nocividade de cada substância • exposição (múltipla e a vários produtos) e desconhecimento de interações com ambiente e saúde; • desinformação dos trabalhadores sobre o uso e danos dos produtos; • precariedade da implantação do Receituário Agronômico; DIFICULDADES NA CARACTERIZAÇÃO DE AGRAVOS À SAÚDE RELACIONADOS AOS AGROTÓXICOS • inespecificidade de alguns sintomas agudos • diferentes possibilidades de etiologias dos quadros crônicos; • pouca disponibilidade de biomarcadores e sua controversa utilidade • medo do trabalhador em reconhecer em si sintomas de intoxicação • estratégias empresariais de ocultamento dos agravos; • dificuldade de acesso à assistência médica • falta de preparo dos profissionais de saúde para incorporar o contexto ocupacional e ambiental durante o atendimento • desconhecimento sobre exposição e danos relacionados aos agrotóxicos; DIFICULDADES NA CARACTERIZAÇÃO DE AGRAVOS À SAÚDE RELACIONADOS AOS AGROTÓXICOS • fragilidades da política de saúde do trabalhador • inexistência de políticas de saúde ambiental neste campo; • precariedade dos sistemas de informação • dificuldades epistemológicas da epidemiologia em correlacionar e afirmar perfis de agravos. “Cantiga” de quem vende • • • • Será mais lucrativo financeiramente aplicar o agrotóxico do que pagar a mão de obra humana ou usar o cultivador (mas nunca repassa informações sobre os danos causados ao meio ambiente e a própria saúde humana, nem muito menos ler as indicações do rótulo)! O seu tempo destinado aos cuidados com a lavoura será reduzido pela metade! As pragas e o mato não interromperão o crescimento da lavoura que produzirá melhor! E você não se arrependerá de fazer este investimento! Vulnerabilidade Institucional • Legislação que “abona” impostos para o comércio de agrotóxicos no Estado. • Fiscalização frágil • Receituário Agronômico – “facilitação da venda” • Agrotóxicos em “domicílio” • Vigilância frágil: da saúde e do trabalhador, incluindo capacitação técnica • Sistemas de Informação • Aporte laboratorial • Falta de investimentos em Educação para o camponês Uso seguro? • Baixa escolaridade em mais de 80% dos produtores rurais. Culpabilização das vítimas. • Dificuldades na assistência ao camponês pelo Estado. • EPI´s: garantem mesmo a proteção? aprendizados • O contexto de risco delineado pela modernização agrícola conservadora amplia a vulnerabilidade dos trabalhadores, induzindo o uso de múltiplos produtos. • A população exposta vai além dos trabalhadores que aplicam o agrotóxico. • A que nos leva a busca de agravos à saúde? A prevenção deve partir do contexto de risco. aprendizados • É necessário desenvolver estratégias de prevenção distintas para cada segmento social • O diálogo com os movimentos sociais é fundamental para compreender os problemas e identificar caminhos de prevenção • O uso seguro é possível? A retórica postergadora X as práticas efetivadas • Educação e informação: qual a contribuição da mídia? E da escola? Dos Sindicatos? aprendizados • A fragilidade das políticas públicas responsáveis pela prevenção/regulação amplia o risco, aumenta a vulnerabilidade e agrava o quadro. • São necessários investimentos maciços no SUS/SRT/SISNAMA para chegar aos territórios em transformação. • A ciência e seus limites: princípio da precaução. 29 Agroecologia pode dobrar produção de alimentos em 10 anos • São citados pela ONU países como Indonésia, Vietnã e Bangladesh, que reduziram em até 92% o uso de agrotóxicos na produção de arroz, que é o alimento básico das populações camponesas desses países. • Segundo a ONU, essa transição já tirou da extrema pobreza 1,3 milhões de pessoas, além de aumentar o rendimento das lavouras de milho do país de uma para três toneladas por hectare. “O conhecimento substituiu os pesticidas e fertilizantes”.