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Por
Antônio Schimeneck
VIDA E OBRA DE SIMÕES LOPES
NETO
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Nasceu no dia 9 de
março de 1865 em
Pelotas.
Filho
de
Catão
Bonifácio
Simões
Lopes e de Teresa de
Freitas Ramos.
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Era neto do Visconde da Graça, nasceu
na estância situada nos arredores de
Pelotas;
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Aos onze anos encontra-se no núcleo
urbano de Pelotas, cidade avançada,
graças à prosperidade econômica
assegurada pela exploração do charque
e por uma indústria nascente;
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A formação escolar de Simões Lopes
completou-se no Rio de Janeiro, onde
esteve matriculado, a partir de 1878;
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Envolveu –se em uma série de
iniciativas de negócios, chegou
a ser dono de uma fábrica de
vidros e de uma destilaria, mas
todos fracassaram;
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No dia 5 de maio de 1892
casou-se com Francisca de
Paula Meireles Leite. Ele com
27 anos de idade e ela com
19. Não tiveram filhos.
Obras Publicadas
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Cancioneiro
Guasca ( 1910)
Contos
Gauchescos (1912)
Lendas do Sul
(1913)
Casos do
Romualdo (1914)
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Sua literatura teatral, quase toda dedicada ao gênero
cômico, teve pouquíssimos textos editados à época,
embora haja indicações de que foi bem acolhida no
gosto do público.
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Alguns livros anunciados por Simões Lopes Neto não
foram publicados e os originais permanecem ainda
hoje desconhecidos: Peona e dona (romance
regional), Jango Jorge (romance regional), Prata do
Taió (notas de uma comitiva exploradora) e Palavras
viajantes (conferências).
Em certa fase de sua vida, já
empobrecido, sobreviveu como jornalista
em Pelotas;
 Morreu aos 52 anos de uma Úlcera
perfurada em 1926.
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Contos Gauchescos
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Seleção de contos lançados
em 1912, aniversário de 100
anos de Pelotas, a maior
parte deles já lançados em
jornais naquele ano.
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Publicação
autônoma
de
1913, Lendas do Sul, a partir
da morte do autor, passa a
integrar o mesmo volume de
Contos Gauchescos.
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Referências
para
nova
edição: obra original e textos
do autor
Ausência de comentários
Desorganização do autor
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Com o lançamento de Cancioneiro
Guasca (cultura popular e oral), em
1910,
inicia-se
a
fase
que
desencadearia em suas obras máximas:
Contos Gauchescos (1912) e Lendas do
Sul (1913)
Inovação de Contos Gauchescos: Um
narrador em 1ª pessoa que dava voz ao
povo local (Blau Nunes).
Na literatura, até então, havia apenas
representação da voz do povo.
“Não vou? oce sabi?
pois mió. Da cá mais
uma derrubada ai
modi u friu, genti. Um
dos
vaqueiros
passou-lhe o copo e
Mandovi bebeu com
gosto, esticando a
língua para lamber
os
bigodes.
Te
aminhã, genti”.
Do conto: Mandovi
de Coelho Neto.
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Guimarães Rosa leu Contos Gauchescos, fato que
provavelmente influencia a escrita regional de Grande
sertão veredas (Lopes Neto, 2012, p. 53).
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Conquista literária de Simões: uniu a fala rudimentar do
povo gaúcho com uma sintaxe exemplar (Lopes Neto,
2012, p. 53).
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A que escola literária poderíamos encaixar Contos
Gauchescos?
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Pontuação e efeitos de suspense com forte tendência
teatral:
“Quando houve a carreira grande, do picaço do major
Terêncio e o tordilho do Nadico (filho do Antunes gordo,
um que era rengo), quando houve a carreira, digo, foi que
o negro mostrou mesmo pra o que prestava...; mas foi
caipora.
Escuite.” (Lopes Neto, 2012, p. 90).
Dois questionamentos:
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O caso dos travessões
(Lopes Neto, 2012, p. 54).
“- Eu tropeava, nesse tempo. Duma feita que viajava de escoteiro, com a guaiaca
empanzinada de onças...” (excerto de: Trezentas onças)
“O velho Lessa era um homem assinzinho...” (excerto de: Deve um queijo!...)
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O narrador presente na apresentação
(Lopes Neto, 2012, p. 54).
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Narrador apresenta Blau Nunes;
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Nos 5 parágrafos seguintes há uma tomada de palavra iniciada por
travessão, que aponta para um outro narrador: Blau Nunes;
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Depois desta fala de Blau, o narrador do primeiro parágrafo
retoma a fala;
Estrutura da obra:
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Apresentação;
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18 contos (13 haviam sido
publicados em jornais e revistas
antes de saírem no livro);
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Somente a partir da 3ª edição
(Editora Globo), em 1949, aparece
o 19º conto: “ O ‘menininho’ do
presépio”;
Trezentas onças
Aspectos que chamam
a atenção:
Imbuído da missão de comprar rezes para o patrão, o
personagem acaba parando para descansar e
esquece o dinheiro na beira da sanga.
Cachorro tenta chamar a atenção para o fato.
Ao voltar em busca das onças de ouro, encontra um
grupo de cavaleiros.
Não encontra a guaiaca e pensa em se matar.
Faz o caminho de volta e alivia-se ao ver que lhe
pregaram uma peça.
Fato acontecido com o
próprio Blau Nunes;
Descrição da paisagem;
Amor e confiança nos
animais;
Proteção divina;
Heroísmo do gaúcho;
Negro Bonifácio
Blau Nunes conta a história do Negro
Bonifácio, que apareceu para umas
carreiras;
Tudinha, moça muito bonita, foi com a
mãe, Dona Fermina;
A china possuía muitos pretendentes,
entre eles estava Nadico, de quem ela
gostava;
Negro Bonifácio configurase como um dos contos
mais violentos da literatura
gaúcha (Lopes Neto, 2008).
Elementos da natureza para
descrever Tudinha:
O negro aposta carreira com Nadico e
perde, ao tentar pagar 1 libra de doces à
moça, acontece o desentendimento.
“Face cor de pêssego
maduro; os dentes brancos
e lustrosos como dente de
cachorro novo”
(Lopes Neto, 2012, p. 91)
Inicia uma briga feia, e é preciso um
povoado inteiro para conter a ira do
“muçum”;
O conto possui muitas marcas de oralidade
e diálogo com o interlocutor, por ex:
“Escuite”, “Vancê compreende?”
Bonifácio mata Nadico e Fermina;
Tudinha vinga-se do negro preso por
boleadeiras e atingido por um tiro na
cabeça;
Mais tarde, Blau descobre que o negro
fora o primeiro homem de Tudinha;
Tragédia que tem como pano de fundo a
disputa pelo amor de uma mulher;
O feminino apresenta-se com uma força
muito
grande,
num
universo
tremendamente machista;
No manantial
Maria Altina é moça muito bonita, de bom
caráter, que pretende casar-se com um
jovem militar chamado André;
Chicão, filho de Chico Triste, também se
apaixona por ela. Ao saber do noivado,
invade a casa de Mariano, mata a avó da
moça, e investe contra ela, que foge a
cavalo;
Os dois acabam caindo no manantial dos
fundos da casa;
Mariano é avisado, mas não consegue
salvar a filha, avista apenas a rosa vermelha
boiando no lodo. Num acesso de raiva entra
no sumidouro e luta com Chicão;
A avó de Maria Altina é sepultada ao lado do
manantial;
No meio do barro brota uma roseira e o local
fica mal assombrado;
Um dos contos mais dramáticos da obra: Tragédia envolvendo o amor de uma mulher;
Blau Nunes foi testemunha dos acontecimentos;
Novamente a obstinação das mulheres personificada em Maria Altina;
O comportamento de Chicão aponta para a competitividade masculina e a predisposição para a
batalha em busca de seus interesses;
Os animais mutilados mostram o desequilíbrio de Chicão;
Presença do elemento sobrenatural;
O mate do João Cardoso
Enquanto esperam uma fritada que
demora cerca de três horas para ser
servida, Blau Nunes lembra de um tal
João Cardoso que ficou famoso por
seus mates demorados;
Na ânsia por saber notícias, quem
passasse desavisado e parava para
um mate, logo percebia que algo não
ia bem.
A todo momento João Caetano
gritava
para
dentro
de
casa:
“crioulo?!...”
Horas depois, o vivente montava em
seu cavalo e saía desesperado,
enquanto o velho dizia: “Quando
passar, apeie-se!”
O quarto conto de Contos Gauchescos dá
um descanso para o leitor, depois das fortes
emoções presentes nos contos anteriores;
Blau Nunes utiliza o anedotário local para
ilustrar o atraso da comida que pediram,
sempre numa atitude dialogal com seu
interlocutor;
“Luís Augusto Fischer nos lembra que na
edição da Globo, de 1949, Aurélio Buarque de
Hollanda sugere que existam outras versões
de
histórias
semelhantes,
abrindo
a
possibilidade de ela ter cunho amplamente
folclórico.” (Lopes Neto, 2008, p. 55)
Deve um queijo!...
O velho Lessa era um homem
tranquilo e bondoso, mas não
menos corajoso;
Andava de escoteiro certa feita,
quando seu caminho cruza com o
de um castelhano provocador
que lhe cobra um queijo;
Lessa manda vir o maior, o
castelhano se regozija, mas ao
agradecer é obrigado a comer
todo o queijo abaixo de facão;
O anedotário local ganha novamente
espaço neste conto;
Ausência de travessão, indicador de
que Blau Nunes não estava presente
quando o fato aconteceu, apenas é
mais caso que ele ouviu contar.
Descrição das características do
gaúcho: bonachão, sério, mas ao ser
desafiado ou desrespeitado lava sua
honra pela força;
Indicação de local onde o fato
aconteceu: Passo do Centurião (Rio
Jaguarão limite entre Brasil e
Uruguai)
Comparação entre o gaúcho e o
castelhano, sendo que este, apresenta
um temperamento leviano, fanfarrão e
debochado.
O boi velho
Blau Nunes relembra o caso
da família Silva na estância
do Lagoões;
Possuíam dois bois mansos:
Cabiúna e Dourado;
Com o tempo, os bois foram
ficando velhos, um deles
morre e o outro foi deixado
de lado;
Tempos depois, Cabiúna
aparece no terreiro e é
recebido pela criançada;
Blau utiliza a interjeição: cuê-pucha,
que significa espanto, indignação
diante da maldade humana;
A interação entre animais e humanos é
perfeita, até que aqueles não “sirvam”
mais;
A inocência das crianças contrasta
com a falta de sentimento dos adultos
que matam o boi, que lhes serviu
tanto, por causa de um simples couro;
Correr eguada
Blau Nunes descreve o esporte de correr
eguada, animais que viviam soltos e
chucros pelos campos do Rio Grande do
Sul;
Blau lembra com saudade dos tempos
em que estas atividades aconteciam;
Através do diálogo com seu interlocutor,
Blau revela que o “patrãozinho” é bem
mais jovem que ele e não conhece quase
nada da vida;
Chasque do Imperador
Durante o cerco de Uruguaina, em
1865,
Blau
Nunes
torna-se
ajudante de D. Pedro II;
Ao ser apresentado a Caxias, este
fica apreensivo e Blau faz uma
retrospectiva até 1845, quando
esteve ao lado dele durante o
tratado de paz dos farroupilhas em
Poncho Verde;
Acaba ouvindo muitas histórias
junto do Imperador que se tornam
anedotas e presencia o famoso
caso dos docinhos:
Hospedado em uma residência, o
imperador acaba comendo durante
dias apenas doces finos e chá,
pois o dono da casa pensava que
essa era a comida que se servia na
corte;
O conto possui vários elementos da história do
RS, a visita do Imperador realmente aconteceu.
Blau Nunes é personagem nesta narrativa,
tendo convivido com os altos escalões da
política nacional;
Diferentemente da maioria dos contos, este não
tem sangue nem disputas amorosas;
Duas características do gaúcho
aparecem aqui: uma rudeza no falar,
e uma delicadeza no trato com o
Imperador, deixando entrever até um
certo servilismo do povo mais
simples:
“Seu imperador, na volta, venha pousar no
rancho da nhã Tuca; é de gente pobre, mas
tudo é limpo com a graça de Deus... e sempre
há de haver uma terneira gorda pra um
costilharl... Passar bem! Boa viagem... Deus os
leve, Deus os traga!...
O imperador — esse era meio maricas, era! —
abraçou a velha, prometendo voltar, por ali, e
quando ela saiu, disse:
— Como é agradável esta rudeza tão franca!”
Os cabelos da china
Blau Nunes revela ao seu interlocutor que possuiu um
buçal e um cabresto de cabelos de mulher;
Foi amigo de Juca Picumã, gaúcho competente em seu
trabalho mas muito maltrapilho, tudo que recebia mandava
para a filha Rosa;
Certa feita acabam lutando lado a lado na Revolução
Farroupilha e são escolhidos para uma missão: infiltrar-se
no acampamento imperialista a fim de distraí-los;
O interesse do capitão era dar uma lição no comandante
inimigo que havia lhe roubado a china;
Picumã esconde o rosto ao ver a moça; inicia-se o ataque;
o legalista foge, mas Picumã prende a mulher pelo braço,
que o reconhece;
O capitão farrapo tenta degolar Rosa, mas é impedido por
Picumã que lhe desfere um golpe de facão, ficando apenas
com a longa trança de cabelos apertada na mão;
A trança é cortada por Picumã, Rosa foge;
Picumã dá um cabresto e um buçal feitos de cabelos a
Blau;
Ao morrer, Picumã revela que os cabelos eram da filha
Rosa;
Blau Nunes coloca as peças junto ao caixão de Rosa,
muito tempo depois.
Tragédia tendo como
pano de fundo o
amor de uma mulher
Narrativa recheada de elementos históricos,
com características documentais de como
era a rotina dos acampamentos de guerra, os
ataques, as estratégias;
Novamente a figura do gaúcho como
andarilho, agregado nas estâncias, entregue
às lides campeiras, pronto para pegar em
armas;
Blau Nunes é participante ativo da história,
contando fatos acontecidos durante a
infância, a adolescência e a fase adulta;
Embora com a honra afrontada, Picumã tem
uma postura de pai diferente, por ex, de
Miguelão do conto: O “menininho” do
presépio;
Melancia - Coco verde
Blau Nunes encontra-se com o índio Reduzo, ao voltar a
falar com seu interlocutor, conta-lhe o causo;
Reduzo é criado na casa dos Costas; fiel amigo de
Costinha, que na sua juventude vira Cadete e apresenta-se
para lutar contra os castelhanos;
Costinha é apaixonado por Talapa, filha do velho Severo, e
é correspondido. O pai dela a promete em casamento para
um sobrinho.
Talapa e Costinha fazem uma combinação em segredo,
apelidam-se de melancia e coco verde; ele vai para a
guerra;
O velho Severo aproveita para fazer o casamento com o
primo ilhéu, para desgosto da moça;
Costinha fica sabendo e tenta desertar, mas explode o
conflito, Reduzo é incumbido de dar recado para Talapa
não casar;
Blau não estava no casamento, mas
conhece bem o caso, nota-se atitude
dialogal com o interlocutor durante o
relato;
História de amor em tempos de
guerra: conflito entre gaúchos e
uruguaios;
Noivo é descrito como tudo aquilo que
o gaúcho não pode ser: “um ilhéu, mui
comedor de verduras” (Lopes Neto,
2012, p. 155);
Na fala de Blau apresenta-se o
sentimento antilusitano e de forte
identidade local, muito comum à
época;
Há registros de outras vertentes
deste conto na literatura nacional;
O anjo da vitória
Blau Nunes relata um acontecimento que ele
presenciou ainda menino, ao acompanhar um
padrinho;
É a batalha do Ituzaingó, no Passo do Rosário
onde os brasileiros foram derrotados e o valente
gaúcho General José de Abreu, pereceu aos ser
atingidos pelos aliados por engano em 20 de
fevereiro de 1827;
Presente ao
Gonçalves;
grupo
estava
o
jovem
Bento
Conto elaborado com profundo
conhecimento histórico, nesta
batalha morreram em torno de
1,6 mil homens;
O narrador apresenta o motivo da mal
sucedida investida: a indisciplina “o meu
padrinho dizia que nós estávamos mal
acampados, e estransilhados, (...) não havia
bombeiros nem ordem, que o exército vinha
num berzabum” (Lopes Neto, 2012, p.167);
Há uma elevação do caráter e da coragem
dos comandantes (Abreu e Gonçalves);
Adjetivos remetem a elementos da
natureza: “dormia como quero-quero,
farejava como cervo e rastreava como índio”
(Lopes Neto, 2012, p.169);
Passagem de Blau Nunes da infância para
um ambiente adulto, sob forte pressão
psicológica, diante da morte do padrinho é
obrigado a sair campo a fora sozinho, como
o gaúcho;
Elemento sobrenatural: Abreu, depois de
morto, fala: “Viva o Imperador! Carrega!”;
Carchear: Roubar despojos de guerra:
Filme – Anahy de las Misiones;
Contrabandista
Jango Jorge foi contrabandista nas bandas do
Ibirocai (Uruguaiana), era muito valente,
insolente e mão aberta; gostava de jogar
moedas no ar para a gurizada pegar; dava
laçaços nos cachorros; puxava as toalhas dos
jantares que patrocinava;
Blau o reencontra às vésperas do casamento da
filha e acaba ficando para a festa;
Jango Jorge demora para chegar com o vestido;
A filha já está inconsolável quando é anunciada
a chegada do contrabandista;
Fora atacado pela polícia, mas antes de morrer
amarrara um embrulho no peito embaixo do
pala;
Ao examinarem-no encontraram o vestido
branco da filha manchado com plastras de
sangue;
Elementos da natureza e o uso dos sentidos
marcam o conhecimento do personagem:
“conhecia as querências pelo faro” (Lopes Neto,
2012, )p. 174
Em determinado momento da narrativa, Blau
faz um corte na história e retoma a história
do contrabando no RS, bem como das
divisões das sesmarias, do funcionamento
do governo e de algumas guerras locais;
Comportamento de Jango possuía algo de
reprovável na ética gaúcha: batia em
cachorros;
Duas características fortes em Jango: Fora
da lei, mas sociável e inofensivo na vida
social;
Jogo do osso
A vendola do Arranhão, um pouco retirada da
vila, era onde se davam jogos, carreiras e
danças;
Arranhão era tido como espertalhão, negociante,
rezador e levava vantagem em tudo;
O jogo: “O jogo é só de culo ou suerte. Culo é
quando a taba cai com o lado arredondado pra baixo:
quem atira assim perde logo a parada. Suerte é
quando o lado chato fica embaixo: ganha logo e
sempre” (Lopes Neto, 2012, p. 184);
Osoro e Chico Ruivo começam a jogar taba no
lado de fora da venda. Chico começa a perder e
acaba apostando Lalica;
Perdendo a mulher no jogo, entregou a china
que, durante três rodadas de dança, provocoulhe ciúmes;
Não aguentando vê-la aos beijos com o outro,
puxou do facão e matou os dois no meio do
salão;
Fugiu sem pagar a conta;
Tragédia tendo a mulher como pivô;
Lalica, mesmo humilhada por servir como
moeda de troca, mostra o poder de sedução
e a força que possuía ao provocar ciúmes em
Chico Ruivo;
O conto é bem ilustrativo ao mostrar como
se davam as festas, jogos e costumes
campeiros;
O homem apresenta-se como um ser dual, de
um lado cheio de camaradagens, para no
instante seguinte, cego de ódio, matar a
facão a mulher e o amigo;
Arranhão está mais
preocupado com a
conta do que com o
acontecido;
Duelo de farrapos
Blau Nunes foi testemunha de um duelo
entre dois comandantes farroupilhas, de um
lado Bento Gonçalves, de outro Onofre Pires;
Vários
foram
os
motivos
de
desentendimentos entre os comandantes,
entre eles está a visita de uma mulher, certo
dia, ao acampamento certamente a mando de
Oribe ou Rivera (inimigos políticos da Banda
Oriental;
Onofre Pires responsabiliza Bento pela morte
de Paulino Fontoura, esse foi o motivo do
duelo;
O
narrador
apresenta
vários
fatos
comprovadamente
históricos, revelando uma
certa intenção documental;
O duelo entre Bento e Onofre realmente
aconteceu, mas por outros motivos, sendo que a
historiografia registra a morte deste;
Blau Nunes omitindo a morte de Onofre eleva a
honra e o heroísmo dos farrapos, fato este que se
apresenta outras vezes, quando os duelistas
tiveram oportunidade de abater o oponente
desarmado e não o fizeram: “Prá um que quisesse
aproveitar... Mas qual... aqueles não eram gente
disso, não!” (Lopes Neto, 2012, p. 195)
Em pleno duelo, Blau ouve um sabiá cantar
acima de sua cabeça e relata: “fiquei, sem saber
como, com os olhos nos peleadores, os ouvidos no
sabiá, mas o pensamento andejando... nos pagos,
no meu padrinho, no Jesu-Cristo do oratório da
minha mãe” (Lopes Neto, 2012, p. 195)
Elementos da natureza que reportam o gaúcho
para um sentimentalismo e a religiosidade;
Penar de velhos
Binga Cruz, garoto de 12 anos, sai para
catar ovos de passarinho e vê um bando
de avestruzes;
Volta para casa, os pais estão sesteando,
encilha o cavalo, toma um laço e vai em
busca de suas presas;
O cavalo acaba morrendo durante a noite;
Ao saber que Binga foi o responsável,
resolve punir o piá, que sai campo a fora e
nunca mais aparece;
Os pais acabam morrendo de tristeza;
A herança ficou para a Igreja;
Forte tom melancólico;
Pela segunda vez Blau utiliza a
interjeição: cuê-pucha, que significa
espanto, indignação, ao saber que a
herança de Binga ficou com o padre
local;
Características
do
gaúcho
no
pequeno Binga: ousadia, destemido e
sem lar “tudo era várzea lisa para
aquela alminha de gaúcho” (Lopes
Neto, 2012, p. 199);
Juca Guerra
Blau Nunes conta que um sujeito joga-se ao mar
para salvar outro que se afogava e acaba sendo
condecorado;
Mais valentia tem Juca Guerra, que num rodeio
de touros bravos, na estância do Pavão, joga-se a
cavalo em frente a um animal que iria esmagar
Tandão Lopes;
Acabam tendo de sacrificar o cavalo;
Blau Nunes faz um questionamento: Quem tem
mais valor: o homem da beira da praia ou Juca
Guerra?
Tandão Lopes era o nome do pai de
Simões, que tinha problemas numa
perna em caso semelhante ao
relatado no conto;
Heroísmo do gaúcho apresenta-se à
toda prova;
Sacrificar o cavalo, para o gaúcho, é
o mesmo que sacrificar uma parte de
si mesmo;
Como deve ser a morte de um
gaúcho? Na cama ou na coxilha?
“Vancê leu ontem no jornal” este
excerto aponta para certa intimidade
entre Blau e seu interlocutor e
companheiro de viagem, que em
alguns momentos é designado como
“patrãozinho”;
Artigos de fé do gaúcho
Série de ditos de Blau Nunes
que descrevem como deve
ser um gaúcho;
Tudo está presente nos seus
provérbios: gente, animais,
mulheres e coisas pessoais;
Blau
dialoga
com
seu
interlocutor no início e no
final do conto, de certa forma
ironizando os doutores e
letrados;
Recurso diferente utilizado
até agora pelo autor;
Batendo orelha!...
A trajetória de um menino e um cavalo
desde o nascimento;
Em dado momento, no exército, seus
destinos acabam se cruzando, e ao
separarem-se
seguem
caminhos
parecidos;
O conto apresenta uma intercalação
que justifica o título: Batendo orelha
ou, como o termo é utilizado nas
corridas de cavalo: disputando lado a
lado;
O “menininho” do presépio
Blau conta a história do Major
Vieira que, quando moço, era
cadete e vivia pelos rincões da
estância;
Apaixonou-se
pela
filha
de
Miguelão (peão do pai) que fora
obrigada a casar com um homem
mais velho;
Na noite de Natal houve festa na
estância e Nha Velinda e Vieira
acabaram se beijando;
Miguelão vê a cena e avisa o
genro, que fica de olho nos dois;
Na hora do terço, o cadete não tira
os olhos de Velinda, o marido
desta, num acesso de loucura,
entra com o facão porta adentro;
O menino Jesus cai do presépio
justamente entre os seios da
moça;
O esposo vira as costas e vai
embora;
Situação de diálogo entre Blau e o
“patrãozinho”;
Publicado em jornal em 1913,
somente foi inserido na coletânea
de contos em 1949;
Descrição do que acontecia nos
ranchos
de
agregados
das
estâncias;
Comparação com elementos da
natureza: “Assim era aquele casal: ele
como o jerivá velho, ela como um cacho
de flor”. (Lopes Neto, 2012, p. 219)
Presença do fantástico: o milagre
do menino Jesus;
Mais um caso de amor que quase
termina em tragédia;
Bibliografia:

Lopes Neto, João Simões. Contos gauchescos e Lendas do
Sul. Porto Alegre: L&PM, 2012.

Lopes Neto, João Simões. Contos gauchescos e Lendas do
Sul. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2008.
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Simões Lopes Neto