Argemiro Aluísio Karling Maringá 2021 Copyrigt © 2021 para os autores Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, dos autores. Revisão textual e gramatical: Cleide Durante Normalização textual e de referência: Geciane Mascarenhas Capa – imagem: ONIRIA. Disponível em: https://oniria.com.br/wpcontent/uploads/2016/06/neurociencia2.jpg Acesso: 09 de junho de 2021. Versão on-line Instituto para o Desenvolvimento da Educação e da Cidadania (IEC) (FAINSEP – IEC, Maringá – PR., Brasil) _____________________________________________ Neuropedagogia e Neurodidática / Argemiro Aluísio Karling (Org.). Maringá: IEC, 2021. 300 p.: il. grafs., fotos (algumas color). 1. Princípios de aprendizagem; 2. Neuropedagogia 3. Neurodidática. 4.Técnicas de aprendizagem. I. Karling, Argemiro Aluísio, Org. ______________________________________________ Av. Cerro Azul, 1411, Jardim Novo Horizonte - CNPJ – 02.684.150/0001-97 CEP: 87.010-055 - Maringá – PR – Fones: (44) 3225-1197/(44) 30344488 e-mail: [email protected] Sumário Apresentação .......................................................................... 9 CAPÍTULO I ........................................................................... 15 Princípios neuropsicológicos........................................... 15 Introdução .............................................................................. 15 Ciência e Tecnologia ........................................................... 15 Para pôr em prática ............................................................. 19 O cérebro e os neurônios .................................................. 20 Para pôr em prática ............................................................. 21 Alguns princípios da neurociência ................................. 21 O cérebro e a velocidade ................................................... 23 O cérebro e a tecnologia de aprendizagem .................. 25 Para pôr em prática ............................................................. 31 Princípios Neuropedagógicos da aprendizagem ........ 32 Fundamentos Didáticos (do livro A Didática Necessária) ............................................................................ 43 Princípios da didática ......................................................... 55 Motivos que levam uma pessoa a agir ........................... 75 O que faz o aluno gostar de estudar? ............................ 80 Por que o professor não deve motivar os alunos?..... 83 Fontes de incentivo ............................................................. 84 Síntese..................................................................................... 88 Saiba mais .............................................................................. 89 CAPÍTULO II ........................................................................... 90 Neurociências, neuroeducação e neuropedagogia..... 90 Introdução .............................................................................. 90 Neurociências........................................................................ 91 Para pôr em prática.............................................................. 97 Neurociência e neuroeducação – reflexões necessárias ............................................................................ 98 Neuropedagogia ................................................................. 106 Para pôr em prática............................................................ 112 Neuroeducação ................................................................... 112 Importância da neuroeducação: cérebros em plena ação ........................................................................................ 116 Neurociência: um novo olhar educacional .................. 118 Por dentro do cérebro ....................................................... 132 Neurociência cognitiva e a nossa realidade ............... 135 Para pôr em prática............................................................ 140 A escola sem significado ................................................. 141 Escolas preparam futuros desempregados ................ 148 Emoções, sentimento, afeto ............................................ 150 O papel pedagógico dos neurônios-espelho .............. 153 O cérebro e o processo de aprendizagem em rede .. 155 Emoções............................................................................... 160 Para pôr em prática ........................................................... 166 O cérebro e a linguagem .................................................. 166 Síntese .................................................................................. 170 Saiba mais............................................................................ 171 CAPÍTULO III ....................................................................... 172 Neurodidática ...................................................................... 172 Introdução ............................................................................ 172 Fundamentos da didática ................................................ 177 Filosofia da educação ....................................................... 178 Diageutico das necessidades de cada aluno ............. 189 Currículo ............................................................................... 193 Formas de elaboração de currículo .............................. 194 Currículo centrado na aprendizagem significativa ... 208 Métodos e técnicas de aprendizagem .......................... 214 Métodos e técnicas socializados ................................... 235 Os métodos socioindividualizados ............................... 240 A tecnologia na educação ............................................... 269 Tecnologia aplicada à educação ................................... 273 A integração da internet na aprendizagem: o presente e o futuro do ensino .......................................................... 277 O método Salman Khan e a rede .................................... 279 Aula de ponta-cabeça........................................................ 280 A neuroeducação e a EaD ................................................ 283 Avaliação da aprendizagem............................................. 287 Formas e instrumentos de avaliação ............................ 289 Metodologia ......................................................................... 293 Síntese................................................................................... 298 Saiba mais ............................................................................ 299 Considerações finais ......................................................... 300 Referências .......................................................................... 301 9 Apresentação Você já tem bastante conhecimento sobre a Neurociência, relacionado à anatomia do cérebro, às funções de cada uma de suas partes, os distúrbios neurológicos e cognitivos e a outros. Neste livro, vamos aprender como aproveitar esses fundamentos na prática e no fazer acontecer para que a pessoa se eduque e aprenda. Não vamos estudar o que cada parte do cérebro faz, mas fazer com que as partes se integrem no processo de aprender. Quais estímulos e como apresentá-los para que o cérebro seja ativado e acelerado. Antes da neurociência, pais e professores tinham como fundamentos para educar a Psicologia, a Biologia, a Didática e a Metodologia. O objeto de pesquisa era o comportamento das crianças e dos aprendizes. Com computadorizada, a tecnologia, podemos ver tomografia o cérebro funcionando em tempo real. A cor e a intensidade das imagens nos indicam o grau de atenção e o 10 envolvimento do cérebro em relação ao estímulo apresentado. Podemos comparar o cérebro com uma fogueira. Quanto mais lenha maior será o fogo. Mas não basta ser só lenha. Se eu amontoarmos os paus de lenha e riscarmos um palito de fósforo, não haverá fogo. Primeiramente é necessário pegar palha e gravetos que é material mais suscetível a aquecimento. Por quê? Porque o fogo precisa de oxigênio. Entre a palha e os gravetos, o oxigênio está bem próximo do palito. O fogo iniciado aquece os paus grossos para que possam ajudar na combustão provocando um fogo mais duradouro. Também não adianta amontoar os paus em linha horizontal. É necessário cruzá-los ou colocá-los de forma a ficarem próximos uns dos outros para entrar facilmente o oxigênio. Por que próximos? Para um ajudar o outro no calor, o fogo tem que ser colocado embaixo do monte de lenha. Isso é necessário para atender ao princípio da Física: o frio desce e o calor sobe. Subindo ele vai soltando gás 11 quente para esquentar os paus que estão acima e aumentar o fogo mais rapidamente. O exemplo acima pode ser comparado à educação bancária. Hoje, o professor vai jogando lenha (informações) no cérebro do aprendiz, de forma linear (em linha horizontal), sem se importar se o aluno já tem palha, gravetos e oxigênio (pré-requisitos: experiências anteriores) para entender essas informações, para que a aprendizagem tenha algum significado para o aluno. Por essa razão, o livro foi elaborado com pragmática, fundamentos linguagem contextualizando da educação, simples, e com visão integrando currículo, os métodos, técnicas e tecnologia da educação. Boa parte deste livro foi extraída do livro “A Didática Necessária”, de minha autoria, publicado pela editora IBRASA, em 1992. A segunda edição está online, gratuitamente. Naquela época, os princípios que fundamentavam a Didática vinham da Biologia, da Psicologia e da Pedagogia. Quase todos esses princípios foram confirmados recentemente pelas 12 neurociências, em suas mais variadas subdivisões: neuroeducação, neuropedagogia, neurodidática, neurometodologia, neuropsicoplogia, neurolinguística. As neurociências trouxeram mais segurança em termos de conclusões científicas para aplicação em várias discussões: nas emoções, no currículo, nas diferenças individuais, no comportamento das pessoas e no relacionamento humano. De pouco adianta conhecer a teoria da neuropedagogia e da neurodidática, se não aprendermos como aplicar os princípios produzidos por elas. Daí a razão de serem apresentados vários exemplos práticos, que são de fácil aplicação. Espero que os conteúdos apresentados cumpram seu papel de provocar interesse pelo aprofundamento destas ciências, que ainda está engatinhando em suas descobertas, mas que nos fascinam cada vez mais com as possibilidades que se avistam, rumo ao avanço das pesquisas científicas que se vislumbram e que se pretende que contribuam 13 para a melhoria da educação e da vida e de todo ser humano. É essencial que você compreenda diferentes temas que aqui serão abordados. Para mais fácil compreensão e aproveitamento do livro, fiz subdivisões por assunto. Nos Capítulos II e III, que tratam especificamente de Neuropedagogia e Neurodidática, não fiz separações, pois o cérebro é unitário, uma vez que, no processo de aprendizagem, todas as partes do cérebro trabalham de forma integrada. Além disso, quando os textos sobre o mesmo assunto estão próximos, é mais fácil compreendê-los. Nestes dois capítulos, fiz muitas citações de cientistas. Porque eu teria que interpretar e reescrever, o que os especialistas já escreveram? Os itens extraídos do livro “A didática necessária” são os seguintes: 1.7 a 1.9.1; 1.9.3 a 1.9.5.5; 3.4 a 3.4.2.3; 3.4.2.4 a 3.13.4.2; e 3.14 a 3.14.4. Esses itens foram revisados e atualizados, com alguns acréscimos. Fiz, apenas, seleção e catalogação de parágrafos e textos sobre cada 14 assunto. A ciência evolui tão rapidamente, que um livro escrito por mim, se torna obsoleto em pouco tempo. O papel do professor é se atualizar continuamente, para selecionar o que existe de mais atual e conhecer os diversos suportes para divulgar as novidades. A ciência é o caminho para quem almeja a transformação. 15 CAPÍTULO I Princípios neuropsicológicos Introdução Cada vez mais, a sociedade requer habilidades que somente a educação formal pode desenvolver, contudo, ainda temos muito a caminhar no processo educacional formal, uma vez que seus mecanismos estão fundamentados na educação tradicional. Neste capítulo, vamos discorrer sobre as teorias que podem auxiliar na transformação dessa formação. Vamos lá? Ciência e Tecnologia A ciência é produzida por meio de pesquisas rigorosamente planejadas passíveis de comprovação mediante repetição. 16 A ciência teve uma longa caminhada para chegar ao estágio atual. As pesquisas científicas apresentam suas conclusões em teorias. Das teorias, podemos extrair princípios. Princípio é o resumo do que pode ser concluído e aproveitado das pesquisas científicas e das teorias para utilizar na vida prática. Tecnologia é a aplicação de princípios científicos para a execução mais eficiente de técnicas, procedimentos e estratégias para obtenção de maior eficácia nos resultados de qualquer ação. O homem, no decorrer da história, descobriu uma imensidade de princípios. Graças a eles, alcançamos o conforto que temos hoje. O homem, que existe há mais de quatro milhões de anos, foi descobrindo novas formas de comunicação. Inicialmente, as inscrições de imagens eram feitas em rochas; posteriormente, ele utilizou pele de animais e fogo para escrever. Recentemente, inventou-se o papel jornal, bastante poroso. Há menos tempo, descobriu-se uma 17 cola especial para tornar o papel bem fino e liso, comumente utilizado por revistas e livros. As pesquisas geraram teorias. Das teorias saíram os princípios. Com o conhecimento e aplicação dos princípios consegue-se descobrir e criar tecnologia. Dentre as que revolucionaram o mundo temos a descoberta da eletricidade, do telégrafo, do rádio, da TV, do computador, da eletrônica, suportes os mais diversos (CD, do DVD, pen drive, chips), controle remoto, Internet, robôs, microscópios, satélite, naves espaciais e muitas outras coisas. Temos, hoje, até tecnologia que gera ciência; exemplo disso é a tomografia computadorizada que gera as neurociências. Tudo isso nos assusta, mas aconteceu, está em constante expansão e muito ainda virá. Mas, o que deve assustar mesmo é o nosso desconhecimento sobre o cérebro e o desconhecimento sobre como utilizá-lo corretamente. Precisamos, portanto, 18 conhecer profundamente sobre a ciências que tratam do cérebro. A ciência vai descobrindo novos princípios que, quando aplicados para o benefício do homem, transformam-se em tecnologia. Com o acúmulo das descobertas científicas e aplicações de princípios de física, química, eletricidade, eletrônica, é possível, hoje, produzir imagens de raios-X, ultrassom e ressonância magnética do cérebro. Esta evolução da ciência e da tecnologia tem potencializado as investigações sobre o cérebro e, consequentemente, sobre a educação. 19 Para pôr em prática Leia mais sobre esse conteúdo: HOMERO, Vilma. Neurociências: uma contribuição para a educação. Disponível em: http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=8298 LEITE, Suely de Fátima Brito de Souza Calabri. Neurociência: Um novo olhar educacional. Disponível em: http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2012/09/ne urociencia-um-novo-olhar-educacional.html> OLIVEIRA, Tory. Por dentro do cérebro. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/carta-fundamental-arquivo/por-dentrodo-cerebro SABBATINI, Renato. Neuroeducação. In: Uma ponte entre a neurociência e a educação. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Neuroeduca%C3%A7%C3%A3o SILVA, Divina Salvador. A importância da Tecnologia na Educação. Disponível em: http://portal.sipeb.com.br/wp- content/uploads/2010/08/Artigo_004_A-Import%C3%A2ncia-daTecnologia-da-Educa%C3%A7%C3%A3o_Profa-Divina-SalvadorSilva.pdf 20 O cérebro e os neurônios Os neurônios são pequenas células nervosas que compõem o cérebro e o resto do sistema. O neurônio é a estrutura básica do sistema nervoso. O cérebro humano possui cerca de 10 a 100 bilhões de neurônios. Milhares de neurônios entram em contato com outros pelas sinapses. O número de conexões entre eles pode variar de 100 trilhões a 1quatrilhão. Essas conexões são feitas e ampliadas pela estimulação do cérebro, pelas atividades e pela educação. Até pouco tempo, as pesquisas sobre o que acontecia na mente eram feitas pela manifestação do comportamento das pessoas. A Psicologia chegou aos princípios da aprendizagem, observando o que emanava da mente pela fala, pelos hábitos e pelas atitudes. Hoje, temos comprovação de muitas das teorias e princípios da Psicologia por meio da tomografia computadorizada, que mostra a atividade do cérebro de forma animada, que são gravadas. Muitas pesquisas foram feitas, colocando as pessoas 21 em diferentes situações de aprendizagem e desenvolvimento. Para pôr em prática Leia mais sobre esse conteúdo: ALVES, Eliane. O que é Neuropedagogia e qual seu reflexo na educação? Disponível em: http://educaneuro.blogspot.com/2010/04/o-que-e-neuropedagogiae-qual-seu.html INSTITUTO CONSCIÊNCIA. Neuropedagogia: entenda como o “cérebro aprende”. Disponível em: http://www.institutoconscienciago.com.br/blog/neuropedagogiaentendo-como-o-cerebro-aprende/ Alguns princípios da neurociência O cérebro tem alta plasticidade: capacidade de mudança. Os fatores de saúde do cérebro são: “os pensamentos, as emoções e os atos”. As funções do cérebro são construídas e ampliadas pelo exercício, 22 que ativa neurônios importante construir e fortalece conexões. “representações É mentais sofisticadas para manter o acesso a informações relevantes” e raciocínio extenso e flexível (RESTAK, 2006). Para a máxima eficiência, na aprendizagem, é necessário concentração absoluta, esquecendo todo o resto. É necessário, também, trabalhar os aspectos ou pontos mais fracos da aprendizagem do aluno. Praticar o que se faz bem dá prazer, mas não progresso. É preciso concentrar-se na tarefa, e não no ego; no difícil e no complexo e não repetir o fácil. Grandes façanhas requerem pelo menos dez anos de treinamento intensivo. Qualquer pessoa pode alcançar prodígios, mesmo os medíocres. O pesquisador Ericsson (RESTAK, 2006), concluiu que, para chegar ao nível de desempenho de gênio em menos de 10 anos, “a chave é aumentar o controle sobre cada componente do desempenho”. Os melhores têm intensa capacidade de concentração, 23 assim têm mais consciência de vários componentes. Por percebê-los, tornam-se mais detalhistas. O treino na infância, de 3 a 5 anos, é fundamental para formar o músico, mas essa idade vale para todas as atividades. Não é o talento herdado que faz o sucesso, mas a disposição para fazer horas de exercício. Thomas Edison dizia: “a genialidade é 99% transpiração e 1% inspiração”. O cérebro, quando executa grande atividade, aumenta o vermelho e o laranja na imagem codificada por cores na tomografia. Quando a atividade é menor, aparecem as cores verde e azul. O cérebro e a velocidade A tecnologia nos empurra para ter velocidade em toda parte: na produção de nossos conhecimentos, em ter que aprender, na inovação, na competitividade, nas imagens e na produção de novas tecnologias de mídia para dar informações. 24 Para isso é necessário um novo cérebro. Um cérebro que seja capaz de dar conta dessa velocidade aqui e em outro lugar, de rever o passado em imagens e vislumbrar o futuro. O mundo empurra-nos a fazer várias coisas ao mesmo tempo. Mudar de tarefa exige alterações no processo cerebral; exige mudanças de objetivo e ativação de novas regras de funcionamento em locais diferentes do cérebro. Isso provoca perda de tempo, menos eficiência e estresse. Mudar de tarefa pode ser até perigoso. Usar o celular ao dirigir é um exemplo, pois a distração reduz a eficiência. Por que isso? Porque o cérebro só consegue trabalhar uma coisa de cada vez. A sua eficiência é máxima, quando se dedica a uma única tarefa e em períodos contínuos. A tecnologia e as neurociências oferecem-nos os alertas, mas a realidade nos leva a outros rumos. 25 O cérebro e a tecnologia de aprendizagem A neurociência, em suas ramificações em neuroeducação, neuropedagogia, neurodidática, neurometodologia, neurolinguística, entre outras, tem muitas aplicações na aprendizagem, as quais, também, podem ser chamadas de tecnologia educacional e tecnologia da aprendizagem. Vejamos alguns exemplos da sua aplicação. Os técnicos em informática têm dificuldade em se tornar educadores. Por quê? Porque utilizaram muitos de seus neurônios de reserva para produzir conexões na área de informática. Passaram muito tempo pensando e se preocupando apenas com uma área do conhecimento. Em decorrência disso, foi utilizada, predominantemente, apenas uma parte e uma função do cérebro. A maioria dos artistas morre pobre, pelas mesmas razões mencionadas anteriormente. A preocupação central deles era o desempenho na 26 profissão, na arte. Não produziram estruturas mentais para saber se organizar na vida. “Dize-me o que lês e eu te direi quem és”. Quem lê muito sobre um determinado assunto tende a ser competente naquilo. Suas emoções estão voltadas àquilo. Suas conexões neurônicas formam uma sólida rede de conhecimentos sobre uma referida área, envolvendo conhecimentos, emoções e aplicação. “Dize-me o que assistes e eu te direi quem és”. Se você, e mais ainda uma criança ou adolescente, assistir a filmes de violência, pode desenvolver comportamentos violentos. Se assiste a filmes românticos, você é ou se torna mais romântico, assim por diante. Filmes “paz e amor”, pornográficos, de corrupção, de roubo, policiais etc., estruturam o cérebro com atitudes e comportamentos correspondentes. Li em jornal, tempos atrás, que, na Argentina, um senhor idoso, com visão fraca, pediu a um auxiliar da biblioteca que fosse a sua casa, à noite, para ler 27 livros para ele. Por muitos anos, o auxiliar fez isso, cerca de duas vezes por dia. Tornou-se embaixador e é um dos escritores mais importantes do mundo. Infelizmente, não me lembro o nome dele. Um pensador disse certa vez: ”Tenho medo de um homem de um livro só”, ou seja, de um homem que lê apenas um mesmo assunto. Por quê? Porque ele só conhece aquilo. Utilizou seus neurônios para construir e reconstruir sempre ideias iguais e semelhantes. Pessoas que construíram seu cérebro assim têm dificuldade de compreender e aceitar ideias diferentes, de inovar. Diz-se que têm mente fechada. Normalmente são radicais. As pessoas que leem muito sobre um mesmo assunto, uma mesma teoria e linha de pensamento se tornam fanáticas. E suas posições, frente à sociedade, são ideológicas. O perigo é maior, quando assumem o poder, pois são autoritárias. Podem, inclusive, impor sua ideologia para a população governada, pois desconhecem outras alternativas. 28 A TV, que mostra diariamente em seus noticiários constrói morte, uma violência, mente sangue, trágica, sem corrupção, esperança, insensível. A TV poderia colocar em 2/3 de sua programação fatos positivos, boas coisas que foram feitas, entusiasmo e otimismo. A TV e os filmes têm enorme poder de modelagem. O que é bom constrói, e o que é ruim destrói. Assim, as pessoas vão construindo seu cérebro e, como decorrência, seu caráter e personalidade. Se examinarmos, por exemplo, alguns programas infantis, poderemos concluir que a criança vai construir um cérebro repleto de futilidades. É preciso que os pais saibam escolher programas construtivos para os filhos assistirem. A gravidez na adolescência também é decorrente de modelagem de filmes e novelas. Cenas de estimulação de namoro e sexo levam a isso. Existem, também, outras formas de construção do cérebro. 29 A fofoqueira construiu um cérebro a partir dos primeiros estímulos de reforço que teve. Contou uma fofoca para vizinha. A vizinha gostou e achou graça. E ela se sentiu importante. No dia seguinte, contou a outras. Assim continuou, até ser conhecida como tal. Assim, pode ser construído um cérebro de futilidades, de raiva e de ódio, de alcoolismo, de delinquência, de violência, de agressividade e de outras infinitas possibilidades. Avô rico, pai nobre, filho pobre. O pai trabalhando 12 horas por dia. O filho, recebendo seu dinheirinho “pra gandaia”, dormindo até duas horas da tarde. Não se sente valorizado, não recebe atenção e amor, não tem obrigações. Não constrói cérebro para a responsabilidade, para o trabalho, para pensar e administrar. Além disso, seus neurônios vão morrendo, por falta de uso. Vai torrar o que o avô e o pai construíram, pois não sabe fazer outra coisa. Precisamos, para nós mesmos, para nossos filhos e alunos, criar ambientes saudáveis, de alta estimulação cerebral para emoções positivas, que 30 aumentem nossa autoestima, nossa alegria, satisfação, vontade de ajudar, de servir e de melhorar a nossa comcapítulo, o país e o mundo. Mas, lembre-se, a aula expositiva ativa minimamente o cérebro. Ao contrário de outras atividades, estratégias e meios, tais como: leituras, pesquisas, projetos, discussão, solução de problemas, Internet, filmes, documentários. Sem a ativação do cérebro ou sem malhação cerebral, não há aprendizagem. Nesta parte introdutória, foram apresentados alguns princípios neuropedagógicos, com exemplos. Estes são a base para refletirmos sobre as nossas ações educativas e os processos de aprendizagem. 31 Para pôr em prática Leia mais sobre esse conteúdo: D’ECA, Teresa Almeida. A integração da internet na aprendizagem. In: Net aprendizagem: a internet na educação. Porto: porto Editora, 1998. p. 57 e 58. SENGUPTA, Somini. Trad. MIGLIACCI, Paulo. Professor popular pelo YouTube inspira negócio de cursos on-line. IN: Jornal NEW YORK TIMES. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/13436-professorpopular-pelo-youtube-inspira-negocio-de-cursos-online.shtml. SILVA, Divina Salvador. A importância da Tecnologia na Educação. Disponível em: http://portal.sipeb.com.br/wp- content/uploads/2010/08/Artigo_004_A-Import%C3%A2nciada-Tecnologia-da-Educa%C3%A7%C3%A3o_Profa-DivinaSalvador-Silva.pdf. 32 Princípios Neuropedagógicos da aprendizagem Por princípio da aprendizagem entende-se uma regra, um enunciado sintético decorrente de pesquisa ou teoria sobre aprendizagem. São pressupostos que, se forem seguidos, tornarão a educação mais eficaz. Os princípios abaixo foram selecionados e classificados para qualquer situação de aprendizagem. Primeiramente, os objetivos são relacionados e classificados por categoria. Em seguida, há uma breve explicação de como os mesmos podem ser aplicados no processo de educação e na aprendizagem. Vejamos os objetivos mais relevantes para o trabalho que propomos: Princípios relativos ao agente e sua ação O agente da aprendizagem é o aluno (e não o professor). O aluno deve estar em atividade para aprender. Os conceitos se formam pela ação – pelo fazer. 33 A inteligência da criança se forma pela ação. A inteligência da criança se desenvolve ao organizar o real. É a atividade que leva à reflexão. A pessoa tem sede de descobrir, de conhecer, de resolver os problemas. Toda pessoa é curiosa, tem sede de saber. É a ação do aluno que provoca o raciocínio. Nunca se aprende uma coisa só. É a dificuldade que provoca o pensamento e a ação. A atividade intelectual aparece e se desenvolve quando há um fim a atingir. O esforço é proporcional aos motivos que impulsionam o aluno. Antes de começar a aprender, o aluno deve querer aprender. O homem é movido pela emoção e vontade. 34 Aplicação Sendo o aluno o agente da aprendizagem, é ele que precisa fazer esforço. São suas ações, seu interesse, sua vontade que o levam a aprender. É por essa razão que o material impresso contém orientações de estudo que propõe atividades, ações para o aluno executar, física ou apenas mentalmente. Estratégias adequadas para isso são os problemas, obstáculos, projetos a partir de conteúdos que o aluno seja capaz de entender, relacionados a seus problemas, a seus interesses e experiências. São colocados desafios que o intriguem, que provoquem desejo de descobrir, de buscar, de pesquisar. Isso pode provocá-lo a pensar. Refletir, construir conhecimento próprio é o objetivo de uma aprendizagem mais eficaz. Princípios relativos à aprendizagem Continuando e reforçando os princípios já citados acima, temos: A aprendizagem deve estar relacionada aos problemas da vida real. 35 A aprendizagem ocorre, com mais intensidade, quando envolve sentimentos e significados pessoais. A aprendizagem significativa ou experimental traz envolvimento pessoal. Não se deve ensinar nada que o aluno não seja capaz de aprender. A aprendizagem parte do ponto em que os alunos se encontram. A aprendizagem se dá melhor do todo para as partes. A aprendizagem é progressiva, se dá passo a passo. Deve-se ir do simples para o complexo, do concreto para o abstrato, do próximo para o remoto. Deve-se ir do conhecido para o desconhecido. Aprende-se a fazer, fazendo. O erro faz parte do processo de aprendizagem e deve ser encarado como construção de hipóteses. 36 A problematização auxilia na busca de resposta e na construção do conhecimento. Toda aprendizagem nova deve ter ao menos alguma semelhança com a aprendizagem antiga. No processo de aprendizagem, o aluno deve estar ciente de como e por que está aprendendo. Aprender primeiro as coisas, só depois, as palavras. Formar a inteligência antes da língua. Aplicação Primeiramente, descobrir quais as precisaríamos sondar e necessidades, problemas, interesses e expectativas dos estudantes. Em segundo lugar é conveniente saber quais são suas experiências e nível de conhecimento sobre o assunto ou sobre as atividades e práticas. O conteúdo deve atender às considerando necessidades as experiências dos que aprendizes possuem, colocando questões e problemas que envolvam ação, 37 sentimentos, vontade de solução e perspectiva de aplicação prática. Princípios relativos ao relacionamento professor x aluno Os alunos se sentem bem em clima de confiança e de calor humano. O aluno busca prestígio, reconhecimento, atenção e respeito. O entusiasmo do professor é um forte estimulante. O professor precisa acreditar na capacidade do aluno, oportunizando, assim a construção do conhecimento. A relação professor/aluno deve ser harmônica, visando ao bom relacionamento e a afetividade. Aplicação O entusiasmo tem por objetivo contagiar o aluno para o estudo, para a disciplina e a solução de problemas sociais e saber resolver seus problemas pessoais. Sobre este item, você verá mais 38 informações nos textos seguintes, que tratam das emoções e da motivação. Princípios relativos ao prazer e à estética A pessoa gosta de atividades que deem prazer. Atividades prazerosas estimulam a participação e são realizadas com maior entusiasmo. A pessoa gosta de coisas atraentes e novidades. As novidades e conteúdos atraentes instigam a curiosidade e a vontade de aprender. O conteúdo e as atividades propostas devem apresentar novidades ao estudante e provocar satisfação, prazer e ampliação do conhecimento. Primeiramente, é necessário saber quais são as possíveis atividades que dariam prazer. Em termos gerais, podemos dizer que são as lúdicas, as que envolvem atividades em grupo, as que levam à descoberta ou à realização pessoal, as que propiciam exploração do mundo, fora da sala de aula, as que envolvem multimídia e animação. De qualquer forma, é necessário que a pessoa sinta satisfação pelo que faz e que o esforço seja recompensado. 39 O próprio saber, a construção de conhecimento, pode ser motivo de prazer. Para muitos, a perspectiva de se graduar torna-se, também, um aspecto motivacional. Em termos práticos, podemos propor atividades tais como: jogos das mais variadas formas, não esquecendo os eletrônicos, dinâmicas de grupo em geral, excursões, visitas a ambientes diversos, filmes, vídeos, documentários e outros. Problemas desafiantes que o aluno consiga resolver, também podem ser causa de prazer. Princípios relativos ao reforço O sucesso de uma descoberta pessoal é altamente reforçador. Atividades bem-sucedidas, tendem a ser repetidas. O mundo é um grande reforçador natural. Toda pessoa gosta de recompensa e reconhecimento. O estudante precisa ter liberdade para poder descobrir. 40 Aplicação O material didático e as atividades propostas devem possibilitar amplo espaço de autonomia para as ações. Pode-se utilizar conteúdo e estratégias que propiciem condições de fazer descobertas pessoais, que provoquem espanto, satisfação e vontade de pesquisar, experimentar e descobrir mais. O aluno deve sentir que está progredindo, ser elogiado pelo resultado de cada atividade e pelo sucesso que vem obtendo. Daí a importância do currículo e do atendimento individualizado ou personalizado. Princípios relativos à natureza humana A pessoa aprende melhor se estiver atenta. Devem ser apresentados estímulos fortes para se obter a atenção dos alunos. O que é intrigante deixa a pessoa aguçada para prestar atenção. As necessidades são um forte impulsionante para a pessoa agir. O ensino deve ser centrado nos problemas e sentimentos dos alunos. 41 A aprendizagem, ou o conteúdo, deve ser desafiante. Quem tem autoconfiança aprende melhor. O aluno aprende melhor quando sua vontade está envolvida. Todas as pessoas são diferentes umas das outras. Toda pessoa tem motivos, desejos, interesses, necessidades e emoções diferentes. Toda pessoa tem ritmo próprio de aprender. Aplicação Respeitar a natureza é condição para o sucesso em qualquer área. Em educação, o objeto é o aprendiz. Ele tem sentimentos e emoções que são o combustível que o faz agir. Assim, o material deve envolver as emoções dos estudantes, respeitando seus sentimentos, provocando emoções através de colocação de problemas, obstáculos e desafios, tomando cuidado para que nunca percam a autoconfiança. Na cobrança da execução das atividades, não exigir que todos executem as atividades no mesmo ritmo. Nas avaliações, não exigir que todos deem 42 respostas iguais, pois o que importa é que demonstrem capacidade de estudar, de aprender, de pensar, de correlacionar, de analisar, de questionar e de criticar, incentivando o desenvolvimento da autonomia. É necessário respeitar os limites e o potencial de cada aprendiz. Princípios relativos à metodologia Dar exemplos antes de ensinar as regras. Deve-se ir do todo para as partes. Aplicação Podemos apresentar modelos que servirão de parâmetros para o trabalho: exemplos de projetos, de textos, de esquemas, de problemas, de resenhas, de análise, de citações e referências e inúmeros outros. Depois disso, apresentar as regras. De certa forma, esse princípio atende também o “do concreto para o abstrato”. 43 Fundamentos Didáticos (do livro A Didática Necessária) A Didática tem seus fundamentos em várias ciências. Dentre elas, podemos citar a Filosofia, especialmente a Filosofia da Educação, a Biologia, a Psicologia, a Sociologia, a Metodologia Científica, a História e as Neurociências. A Filosofia levanta várias questões que levam o educador a refletir, entre as quais: o que é o homem? Por que existe? Donde veio? Qual a sua natureza? De que ele é capaz? O que ele deve ou não fazer? Quais seus direitos? Quais seus deveres? A partir da resposta a essas questões, o homem forma a sua própria filosofia de vida. A maioria das correntes filosóficas afirma que o homem é um ser especial, educável, livre; mas, inquieto. O homem é um ser capaz de buscar incessantemente a perfeição. Ora, se é capaz, ele deve se aperfeiçoar. Daí a importância da educação. 44 A Biologia, por sua vez, indica a natureza biológica do homem, que precisa de alimentação, água, repouso e temperatura adequada para sobreviver. Sem isso, ele também não tem condições de aprender. consideração A Didática a tem hereditariedade que do levar aluno, em o temperamento, a saúde, a fadiga e seu sistema nervoso, entre outros fatores biológicos. A Sociologia estuda as formas e condições de vida social. Indica os valores, os costumes e os problemas sociais. O homem deve viver bem em seu ambiente. Para isso, precisa conhecê-lo e atuar positiva e cooperativamente para melhorá-lo. Numa sociedade democrática, é preciso que o homem participe ativa e responsavelmente para seu desenvolvimento. O homem é um ser gregário e comunitário. O relacionamento do aluno com o seu meio e as influências deste sobre o aluno precisam também ser consideradas para haver um bom “ensino”. Ajudar a solucionar os problemas sociais e tornar o homem mais feliz é uma das importantes funções da Didática. 45 A Didática vale-se também da Metodologia Científica. Esta indica os métodos e técnicas para se fazer ciência. Os fundamentos, os métodos e as técnicas da Didática foram testados, experimentados e comprovados como válidos cientificamente. A ciência da Didática nos diz quais as técnicas que deram certo e quais são as mais eficientes para se alcançar os objetivos do ensino. Isso evita que cada professor tenha que começar tudo de novo, com o risco de não dar certo. O próprio tratamento que se atribui à educação deve ser científico. O planejamento do ensino, a sua execução, a elaboração dos currículos, a seleção das técnicas, dos conteúdos e a avaliação devem ter procedimentos científicos. A História informa-nos sobre o passado do homem, sua evolução, suas descobertas, sua forma de viver e sobreviver. A História exerce enorme influência sobre a criança, pois reflete todo o passado do homem sobre ela mesma. A criança assimila, consciente ou inconscientemente, o meio em que ela 46 vive, os costumes, as atitudes, as habilidades, enfim a cultura que a cerca ou que chega até ela. Os mais importantes fundamentos da Didática, porém, são podemos encontrados aprender que na Psicologia. Dela, o educando tem características distintas em cada fase da vida. Em cada fase, ele tem necessidades, motivos e capacidades diferentes para aprender. A Psicologia da Educação define como é a natureza da pessoa humana e, sobretudo, da criança. Explica a importância dos motivos, dos desejos, dos impulsos, das emoções e dos interesses dos alunos. Orienta-nosquanto às influências das tensões, das angústias, das frustrações e dos desajustamentos na aprendizagem. Diz-nos que a criança é essencialmente irrequieta e ativa e que é incapaz de ficar parada. Há várias teorias que pretendem explicar os fenômenos da motivação, da natureza e do processo da aprendizagem para tornar essa mais consciente, mais duradoura e mais dinâmica. Vejamos, a seguir, 47 algumas ideias e conceitos de educadores e teorias psicológicas. Kerschensteiner deu ênfase à atividade do aluno. Os conceitos, segundo ele, formam-se pela ação e não pela abstração da realidade ambiental. Pelo fazer do aluno, é que ele aprende, e não pelas informações passadas por outros e pelos livros. O aluno deve ter oportcapítulo de observar, tocar, fazer e experimentar. A observação exige processo mental intenso. Isso leva o aluno a formular hipóteses e a experimentar o que gera saber de experiência, e não de informações verbalistas. O conhecimento está na atividade do aluno, e não no do professor. Dewey teve ideias parecidas, mas com a ação voltada para a sociedade. Segundo ele, é a atividade que leva à reflexão. A observação e o pensamento seriam instrumentos de adaptação. A criança estaria constantemente se adaptando às situações que surgem, ao grupo e ao meio. Para fazer isso, a criança estaria sempre atenta, prestando atenção. Muita 48 coisa, ela não sabe. Mas, ela é curiosa e pensa em alternativas de resposta, de solução para os problemas desconhecidos. Ela vai experimentando as alternativas ou hipóteses mais prováveis para satisfazer sua curiosidade, até que as encontre. Tais situações sucedem-se continuamente. Cada resposta é analisada pela criança, é ligada com as que ela já conhece e é generalizada para resolver os problemas sociais. Segundo Dewey, isso ocorre mais facilmente quando os alunos têm condições de discutir os problemas e conviver em grupos, como se fosse numa sociedade em miniatura. Claparède teve ideias semelhantes às de Kerschensteiner e Dewey. Segundo Claparède, é o ato e a reflexão que readaptam o indivíduo que constantemente estaria encontrando dificuldades. Dificuldades estas que passariam a ser necessidades. Necessidades que provocariam o pensamento e a ação. 49 Essas situações levam a pessoa a buscar dados, informações, conceitos e meios para satisfazer às necessidades. E essa busca de dados leva o indivíduo à aprendizagem, sem sentir e sem saber que está aprendendo. Piaget foi um psicólogo e educador que maiores contribuições trouxeram para a Didática. Ele admitia uma pedagogia científica, baseada na genética da atividade intelectual. Afirmou que há níveis de atividades intelectuais que vão dos mais simples para os mais complexos e que neles, os alunos ampliam as concepções de espaço, tempo, quantidade, qualidade, entre outras. A inteligência é constituída por uma estrutura. Constrói-se a estrutura ao organizar o real. A inteligência é formada pela ação, pelo fazer, pelo resumir, pelo debater, pelo pesquisar e pela solução de problemas. O conhecimento, assim, resulta da ação. No exterior, lida-se com objetos; no intelecto, com ideias. 50 É com ideias que criamos estruturas mentais operatórias superiores. Falamos em estruturas, mas o que vem a ser isso em psicologia? É a ligação de neurônios que permitem percepções e formam associações; é a ligação de ideia com ideia, que se transforma em pensamento e raciocínio. A concepção behaviorista defende que o conhecimento é cópia da realidade por meio dos sentidos. A concepção piagetiana é a interiorização das ações, que leva ao pensamento operatório. Não somos recipientes vazios, nos quais podem ser derramadas ideias. Estas precisam ser captadas por um intelecto ativo, com estruturas próprias, capazes de reelaborá-las. Quando uma pessoa se expressa de forma elegante, estética e criativa, é porque tem uma estrutura mental operatória bem desenvolvida. E isso é conseguido pela atividade intelectual graduada, na qual sempre atua a ação mental do aluno. 51 Bruner, por sua vez, preocupa-se com a captação da estrutura de um assunto que facilite o relacionamento com outras coisas de maneira a dominá-lo. A aprendizagem deve ser progressista. A pessoa pode aprender as mesmas coisas em todas as etapas de sua vida, mas, cada vez, de forma mais complexa e profunda. Inicialmente, a criança deve deduzir intuitivamente as ideias e aplicá-las. Depois, passa ao pensamento lógico-dedutivo. A intuição leva à perspicácia, à formulação de hipóteses e a conclusões. A intuição descobre novos fatos; é uma captação imediata do problema ou da solução. Brunerapela para que didatas e especialistas encontrem meios para estimular a intuição, que é a base da criatividade. Ele preocupa-se também com a motivação. Um filme pode ser boa incentivação, mas é passageira. O que importa mesmo é desenvolver, no aluno, o amor e a paixão pelo saber. Isso fará com que ele prossiga na busca pelo saber durante toda a vida. 52 O ambiente de onde a criança procede tem grande influência sobre o processo. Por isso, a escola deve criar um ambiente que desenvolva, no aluno, a prontidão para aprender coisas, mais cedo do que na idade considerada como própria. A criança deve aprender tudo o que for possível e aprender o mais cedo que puder. Carl Rogers foi outro psicólogo que estudou com profundidade a questão da aprendizagem e trouxe várias inovações interessantes para a educação. Segundo Rogers, toda pessoa deve chegar a compreender-se e a resolver seus problemas. O educador criaria, portanto, uma atmosfera de segurança e de calor que possibilitaria ao aluno alcançar a compreensão e a encontrar, por si mesmo, a solução para o seu problema. Usar-se-ia a empatia, por comunicação verbal ou não verbal, e a compreensão e a aceitação do aprendiz. O ensino deveria ser centrado nos problemas e nos 53 sentimentos do aluno. Assim, o aluno sentir-se-ia livre para elaborar suas experiências. A liberdade que o autor prega é apenas quanto à representação mental e à expressão dos dados de experiência e não por atos antissociais. Isso quer dizer liberdade de pensar e produzir, e não de fazer o que se quer. A concepção aplicada ao ensino, defendida por ele, visa estimular a iniciativa, a responsabilidade, o espírito crítico, a cooperação, a criatividade, a adaptabilidade e a socialização. O educador estimula e dá condições, mas quem aprende é o aluno. Devemos, portanto, deslocar o eixo da matéria do ensino para a pessoa que vai aprender e dar toda atenção ao aluno, pois a matéria a aprender é objeto dele e não do professor; os próprios objetivos seriam estabelecidos pelos alunos em função de seus interesses e necessidades. Para ser possível a Didática não-diretiva de Rogers, é necessário que as turmas sejam reduzidas; que os professores tenham sólida base psicológica; e que os critérios de avaliação sejam elásticos. 54 Allport foi outro grande psicólogo que abordou a questão da educação. Ele preocupou-se muito com o estudo do “eu” da pessoa. Toda pessoa se preocupa consigo mesma, com sua autoimagem e se autovaloriza. Às vezes, a pessoa retrai-se, fica na rotina para garantir segurança, evitar angústia e ansiedade. Outras vezes, busca a aventura e a novidade. Tudo está em função do seu “eu”, mas qualquer atitude vem acompanhada de tensão psíquica. Qualquer sinal para aliviá-la se torna fator de motivação. O que move, com mais intensidade, uma pessoa é o seu desejo de autorrealização. Esta é motivação de alto nível. É fonte de ideias. Allport preocupou-se muito com a felicidade do aluno. Disse que a descrença, em si e o desânimo com relação à sociedade são problemas relacionados à educação e podem, portanto, ser evitados por ela. Segundo ele, o homem tem que ser educado para o futuro. Formar o homem não é ensinar matéria 55 específica, mas abrir sua mente, fazer com que ele tenha abertura e flexibilidade mental. Mais importante que métodos, técnicas, procedimentos e recursos é a visão global do processo de educação e do que se pretende alcançar. Quando nos preocupamos com os problemas educacionais e amamos nossos alunos, descobrimos a melhor maneira de trabalhar. É uma didática da liberdade. Vejamos, a seguir, alguns princípios da aprendizagem que expressam, resumidamente, os fundamentos da Didática. Princípios da didática O que se entende por princípio Princípio é quase o mesmo que norma, lei. Em se tratando de educação, os princípios são extraídos das ciências que fundamentam a Didática, especialmente da Psicologia da Educação e das Neurociências. Elas dizem, sinteticamente, o que deve ser respeitado ou feito para que a aprendizagem 56 seja mais eficiente e científica. Os princípios da Didática podem também ser chamados de princípios da aprendizagem. Por que o professor deve conhecer os princípios da didática? É comum os professores terem problemas em sua sala de aula. Entre estes, destacam-se a falta de interesse dos alunos, a indisciplina e a falta de participação. Muitos alunos, mesmo interessados e prestando atenção, não aprendem, ou, no sistema tradicional, tiram notas baixas e os professores ficam sem saber o que fazer. Há professores que se desesperam com isso e sofrem muito. Outros perdem todo o ânimo e se tornam professores relapsos. Por quê? A causa principal é, seguramente, o não-conhecimento dos princípios da aprendizagem ou a não-aplicação deles na prática. O professor, conhecendo os princípios, pode, ele mesmo, inventar estratégias ou técnicas que levem os alunos a participar mais e entender melhor. 57 Estará, assim, respeitando a natureza do educando e a Didática como ciência. Pobre é o professor que utiliza técnicas e não sabe por que as usa e nem prevê os resultados que pode alcançar com elas. Este é um professor que não tem mentalidade científica e não conhece as teorias da educação ou da aprendizagem. Vejamos, a seguir, algumas situações que envolvem princípios de Didática. Todo aluno quer ser livre, autônomo e independente. É a própria natureza da pessoa humana que determina que ele queira ser assim. Se o professor os respeita, está agindo cientificamente. Às vezes, veem-se crianças pequenas, de um ano ou dois, reagirem aos nossos pedidos. Não aceitam nem ser beijadas, sem sorrir para elas ou agradá-las antes. O aluno é um ser de vontade. Ele só faz alguma coisa, se quiser fazer. Só aprende, se quiser aprender. Obrigá-lo a aprender por meio de ameaças e castigos, de nada adiantará. Ele até pode aprender, mas vai 58 ficar revoltado e com ódio de estudar, da escola, do professor ou da matéria. Viver é aprender. E aprender deve ser viver. O aluno deve aprender o que tem relação com a vida dele, com o que ele gosta e que tem sentido para ele. O aluno precisa ter oportunidade e liberdade para viver a sua vida intensamente. Por isso, o professor precisa criar, na escola, ambiente de liberdade e respeitar interesses, necessidades, objetivos e ideais dos alunos. Deve orientá-los e assisti-los para que alcancem a plenitude de seus ideais. Todo aluno quer ter reconhecidas suas qualidades e seu esforço. Pode ser difícil para o professor dar atenção a cada um dos alunos, procurar conhecer suas qualidades e reconhecer o esforço de cada um deles, mas vale a pena. Não é assim que gostaríamos de ser tratados? O homem é sujeito de prazer, isto é, faz aquilo que dá prazer, que é agradável, de que gosta. Cada aluno tem gostos diferentes. Daí o professor ter que procurar conteúdos, experiências e atividades que 59 possam agradar a cada um em particular, ou ao menos à maioria da classe. Cada aluno amadurece e se desenvolve psicológica e intelectualmente em ritmo próprio. Isto quer dizer que alguns alunos se desenvolvem mais rapidamente que outros. Assim, numa mesma sala, temos alunos com os mais diversos níveis de capacidade de aprender, segundo o estágio em que se encontram e segundo as capacidades que têm. Todos os alunos são curiosos. Uns mais, outros menos. Alguns, por umas coisas; outros, por outras. Ligando este princípio com o anterior, percebemos que nem todos os alunos têm as mesmas condições de aprender, e que nem todos querem aprender as mesmas coisas. Mas, é certo que todos têm condições de aprender alguma coisa. Muitos têm curiosidade por poucas coisas, mas há também os que têm curiosidade por muitas coisas. É direito deles aprenderem ao menos o que querem aprender. É dever do professor atender a esse direito. 60 O próprio aluno é o seu agente de aprendizagem. Quem aprende é o aluno. Por melhor que seja o professor e por mais que ele queira, o aluno só aprende se quiser e pelo próprio esforço. Por isso, o professor deve selecionar conteúdos e atividades que sejam do agrado do aluno e deixar o próprio aluno trabalhar, e não trabalhar por ele. O aluno tem sentimentos e emoções. O aluno gosta de fazer amigos, de ser estimado, considerado e amado. O professor deve criar clima de calor humano em que possa ser cultivada a amizade, a camaradagem, a compreensão e o respeito. Deve evitar que possa haver problemas entre colegas e jamais humilhar os alunos. Se pedirmos para os alunos lerem assuntos que não sejam do interesse deles, vão dizer que é tudo a mesma coisa, não vão distinguir entre um assunto e outro, não prestarão atenção. Mas, se apresentarmos assuntos que interessam a eles, perceberão os mínimos detalhes e ficarão atentos a tudo. 61 Exemplos de aplicação de princípios Paulo é encarregado de colocar trilhos para uma estrada de ferro. Para que colocar trilhos? O objetivo é para o trem passar por cima deles. O objetivo imediato é, portanto, propiciar condições para a passagem do trem. Na primeira vez que passou pelos trilhos, o trem tombou. Paulo tinha colocado os trilhos. Mas, o objetivo não foi alcançado. Por quê? Ou melhor, qual a causa do descarrilamento? É que Paulo não conhecia o princípio da dilatação dos corpos: “ferro, quando esquenta, dilata”. Ele colocou os trilhos, com 10 metros de comprimento cada um, com uma ponta encostada na outra, em dia bem frio. No dia em que o trem passou, estava um sol muito forte; os trilhos haviam se dilatado e entortado. Ele devia ter deixado o espaço de uns 3 centímetros entre um trilho e outro, já que no dia em que ele os colocou fazia muito frio. Paulo devia ter aprendido antes que o “ferro, quando aquecido, dilata”. Faltou o conhecimento de 62 um princípio científico para ele fazer o serviço adequadamente. Como não o conhecia, não alcançou o objetivo e provocou um enorme prejuízo. A outra situação se refere a uma moça obesa, que queria emagrecer a todo custo. Onde ela soubesse que poderia conseguir receita de comida para emagrecer, ela ia. Chegou a juntar 70 receitas diferentes. Imaginemos o trabalho que ela teve para colecionar as receitas e depois para as preparar. Em vez de colecionar receitas, ela poderia ter procurado conhecer os princípios científicos para emagrecer. Vejamos alguns exemplos de princípios, de forma bem simples: - evitar frituras e carnes gordas emagrece; - evitar doces, massas e tubérculos emagrece; - comer alimentos fibrosos emagrece; - correr emagrece. Aqui estão quatro princípios. Se for respeitado cada um separadamente, já dá para emagrecer. Mas, 63 se forem atendidos os quatro ao mesmo tempo, a probabilidade disso acontecer aumenta muito. O mesmo pode acontecer em Didática. Um professor pode procurar receitas de técnicas em toda parte e, mesmo assim, não conseguir resolver os problemas de aprendizagem de seus alunos. Todo professor deve conhecer, e muito bem, os princípios de Didática. A História da Educação está cheia de princípios de Didática. Embora não constassem como princípios, eles nortearam a educação no passado. Apenas recentemente, muitos deles foram confirmados como princípios. Santo Agostinho já afirmava, por volta do ano 390, que a criança precisa aprender primeiro o que as coisas são e só depois aprender o nome delas. Hoje, aquela recomendação de Santo Agostinho transformou-se em princípio que pode ter os seguintes termos: Aprende-se primeiro o concreto, depois o abstrato. 64 Outros dois princípios vindos de Santo Agostinho: - A demonstração é melhor que as palavras. - Só se aprende aquilo que é significativo. Até hoje, esses princípios estão sendo pouco respeitados, apesar de serem importantes. Há muitíssimos professores que ainda dão aula e julgam que eles são a causa da aprendizagem do aluno. Sem esforço do aluno, sem que o aluno observe, pense, compreenda, não existe aprendizagem, por mais que o professor se esforce. Isto está amplamente comprovado pela psicologia da aprendizagem e, hoje, confirmado pela neuroeducação. Vejamos, a seguir, uma lista de princípios de didática. Alguns têm redação um pouco diferente, mas o sentido é o mesmo. Motivação e incentivação Motivação e incentivação são assuntos que têm gerado muita discussão e controvérsia. 65 Agora, com as neurociências, tudo isso pode ser dissipado. Motivação é o motivo que leva alguém a agir para satisfazer uma necessidade, um interesse, uma intenção. As necessidades provocam certo grau de tensão na pessoa que a deixa preocupada, inquieta, até conseguir satisfazer à necessidade e alcançar o objetivo. Motivação é, portanto, estado psicológico em que a pessoa sente falta de alguma coisa. Todas as pessoas têm motivação para uma ou para outra coisa. Se o aluno não vê nenhuma perspectiva de satisfazer sua necessidade, ou de aliviar seu grau de tensão, e se isto perdurar por longo tempo, ele entra em estado de angústia, de aflição e até de neurose. Se, porém, notar uma possibilidade de resolver o problema, ele anima-se e passa a agir com mais esforço e até com sacrifício, se necessário. 66 O que é incentivação? Incentivação é o oferecimento dos meios, das condições ou dos objetos que satisfaçam às necessidades das pessoas, para que, assim, consigam diminuir o estado de tensão. É ir ao encontro da motivação das pessoas, com aquilo que corresponde aos motivos delas mesmas. Se alguém tem fome, tem motivação para procurar comida. Indicar onde e como conseguila é incentivação. Se alguém tem sede, deve mostrase como conseguir água. Observe-se bem, mostrar como e onde conseguir comida e água e não simplesmente dar comida e água. Porque, se der comida e água, acaba a motivação. A pessoa acomoda-se. Não age mais. Se alguém tem necessidade de afeto – e todas as pessoas têm – a motivação é procurar afeto. O incentivo que corresponde a esta necessidade é dar afeto. Aqui, sim, o professor pode dar o incentivo diretamente, pois a necessidade de afeto não acaba nunca. 67 Para que o professor possa incentivar corretamente, precisa conhecer bem o aluno: seu meio, sua família, sua saúde, seu temperamento, suas necessidades, suas aspirações, seus hábitos e seus valores. É preciso saber o que o aluno precisa e ir ao encontro dele. É preciso animá-lo, dando esperanças de que ele terá satisfeitas as suas necessidades em breve. A motivação pode ser intrínseca ou extrínseca, tal qual a incentivação. Existe motivação intrínseca no aluno, quando ele estuda o assunto ou a matéria por gostar da matéria em si, por ter visto nela algo que lhe agradou. Um exemplo claro de motivação intrínseca é a resposta de um aluno em depoimento que deu sobre a pergunta: “Por que gosta de estudar?” “Eu gosto de estudar Química e Física, pois a gente estuda os elementos químicos, velocidade, tempo e outros”. O aluno certamente se encontrou com esses assuntos. Ele está motivado intrinsecamente, pela 68 importância, valor ou satisfação que a própria matéria traz para ele. Motivação extrínseca é aquela em que o aluno é impelido a estudar uma matéria para obter alguma vantagem ou benefício com ela. Como exemplo, temos com o mesmo aluno que deu o depoimento acima. Mais adiante, ele diz: “Educação Física eu gosto, porque tenho chance de participar de campeonatos e fazer novas amizades”. Note-se que ele gosta de Educação Física por razões externas à matéria, para satisfazer às necessidades de competir, de vencer, de estar com os outros e fazer novas amizades. Não é a matéria em si que lhe agrada. Quando o aluno estuda só por nota, para passar, para agradar ao professor, agradar aos pais ou ganhar um prêmio prometido, tem apenas motivação extrínseca. Bom seria, se todos os alunos tivessem sempre uma forte motivação intrínseca. Esta pode durar a vida toda; enquanto a extrínseca desaparece com o tempo. 69 Incentivação intrínseca é o uso de estímulos pelo professor para atender a motivos que demonstrem interesse pela matéria, por parte do aluno. Aqui o professor pode apresentar a beleza da matéria por meios auxiliares, por atividades sobre conteúdo significativo e que seja facilmente compreendido pelos alunos. O exame de células ao microscópio pode levar um aluno a se maravilhar pela Biologia ou pela Botânica. É um meio de incentivação intrínseca. Aproveitando também o depoimento de um aluno, que disse: “Quando eu consigo compreender bem a matéria, fica gostoso estudar”, assim, tudo o que o professor utilizar para satisfazer a curiosidade dos alunos sobre a matéria ou para torná-la de fácil compreensão é incentivação intrínseca. Incentivação extrínseca são todos os outros estímulos usados pelo professor para conseguir fazer com que o aluno estude e se esforce. Os estímulos podem ser positivos ou negativos. 70 Temos incentivação extrínseca positiva quando o professor utiliza elogios, promete recompensas, dá notas altas, utiliza técnicas atraentes, apresenta os benefícios que o aluno poderá obter com o conhecimento da matéria na vida dele. O próprio professor, sua maneira de ser e seu entusiasmo, pode ser incentivação extrínseca positiva. Estes procedimentos podem ser utilizados pelo professor. Em si, não há inconveniente. Pode até mesmo ser o ponto de partida para que o aluno, estudando, passe a gostar da matéria, chegando a ter motivação intrínseca, que é o ideal. A incentivação extrínseca negativa caracterizase por ameaças. Ameaças de reprovação, de notas baixas, de castigo, de chamar os pais. Não deve ser usada. Ela só faz os alunos se aborrecerem com a escola; ficar com ódio do estudo e do professor. Certa vez, um aluno de 4ª série, que sempre tirava notas nove e dez, tirou uma nota dois. Ficou três dias sem falar com ninguém. Imagine o choque que levou, a revolta que tomou conta dele e o ódio que 71 deve ter sentido pelo professor. Considerando-se que a melhor nota da classe foi cinco, conclui-se que o erro foi do professor. Cabe observar, nesse caso, que o aluno tinha o hábito de levar tudo a sério, de ser caprichoso, de estudar. Ele tinha convicção de que sabia bem a matéria e, no entanto, tirou nota dois. Estragou seu boletim, magoou seu ego, sua autoestima. Enfim, ficou arrasado. É por isso que o professor precisa conhecer também os hábitos dos alunos para não provocar desincentivos absurdos como esse. Fundamentos da motivação É importante estudarmos os fundamentos da motivação, porque eles nos dão as bases científicas das razões pelas quais a pessoa age, uma vez que ela não é capaz de ficar parada. Muitos estudiosos fizeram pesquisas sobre o assunto, principalmente psicólogos e educadores. Assim, teremos algum conhecimento sobre a natureza humana. 72 Motivação vem de motivo para a ação. E os motivos para a ação vêm de dentro da pessoa. É fruto ou consequência de suas necessidades, interesses, desejos, aspirações e intenções. De forma que, se quisermos saber quais são os motivos que levam um aluno a agir, precisamos, basicamente, conhecer suas necessidades e interesses. Analisemos um pouco a questão das necessidades. As necessidades mais fortes são relacionadas à sobrevivência, são as biológicas. A pessoa faz toda força possível para se manter viva e não sentir dor. A fome e o frio é uma ameaça para a vida ou fazem sofrer. Se, por exemplo, um aluno está passando fome, o primeiro motivo que o leva a fazer alguma coisa é para saciar essa fome. Se tem sede, ele age para matar a sede. Se tem frio, ele procura agasalho. A ele, não importa escola, nem matéria, nem professor, nem reprovação, nem ameaças e nem punições. A satisfação das necessidades biológicas vem em primeiro lugar. 73 Suponhamos que essas necessidades estejam satisfeitas e que não sejam mais problema. Outras aparecerão. Ainda no nível biológico, ele poderá querer segurança, prazer, conforto e bem-estar. Ele age para ter onde morar, para não ter ameaça física, para não sofrer punições e maus tratos. Qualquer sintoma, neste sentido, coloca-o tenso e disposto a fazer algo para evitar esses perigos. Ele pode procurar, também, fazer esforço para ter uma vida melhor. Dependendo da idade do aluno, a segurança pode implicar também estar com seus pais ou com quem o ame, apoie-o e proteja-o. Satisfeitas às necessidades biológicas, passam a ter destaque as necessidades sociais. O aluno precisa sentir que é amado. Isso dá a ele tranquilidade e gera bem-estar. Ele gosta de estar com outras pessoas, pais, amigos, colegas. Ficar sozinho faz com que ele se sinta mal. Ele age e esforça-se para ser amado, estimado, compreendido e para poder estar com outros. 74 No grupo das necessidades sociais, está ainda o prestígio. O aluno quer e precisa sentir que tem aceitação ou posição relevante no grupo ou na sociedade. Ele sente-se bem, quando é elogiado pelo professor, aplaudido ou bajulado pelos colegas. Ele quer vencer, aparecer, ser alguém. Ele precisa, de uma forma ou de outra, chamar atenção sobre si, ou com notas boas, ou com desordem, ou com agressões ao professor; sobretudo ao professor “chato”. Mais uma vez, tendo o aluno satisfeito às necessidades anteriores, outras surgem. A pessoa humana é eternamente insatisfeita. Está sempre ansiosa. Agora, aparece a necessidade de fazer sucesso e se autorrealizar. Ele quer fazer sucesso nos estudos, o que demonstra pelas notas; quer fazer sucesso no jogo, no esporte ou no trabalho. É por isso que os alunos têm pressa em conhecer sua nota após fazer provas. A autorrealização e a busca do ideal são as necessidades mais elevadas. Como a pessoa nunca 75 alcança o ideal, vai, ao menos, sempre crescendo, aperfeiçoando-se. Logo adiante, veremos com mais detalhes como podem ser aproveitadas as necessidades dos alunos e como manter acesa essa motivação ou fazer com que ela seja aumentada. Motivos que levam uma pessoa a agir Você leu um texto longo sobre motivação e incentivação. O que é que você lembra? Muito pouco. Para facilitar o uso dos princípios biológicos, psicológicos e das neurociências, fiz uma lista bem sintética dos principais motivos que levam uma pessoa a agir. Quando planejar ações pedagógicas, ou de aprendizagem é interessante consultar a lista abaixo. Quanto mais motivos você descobrir em cada aluno e quanto mais incentivos você encontrar para atendêlos, mais envolvimento e resultados você conseguirá. 76 Os motivos podem ser inatos ou desenvolvidos pelo meio ou combinação destes dois fatores. São eles: Buscar e ter alimento; Ter água; Ter segurança; Ter agasalho; Ter moradia; Ser amada, querida e benquista; Sentir-se acolhida; Estar com os outros; Ser feliz; Aparecer, ser notada, exibir-se; Fazer sucesso; Vencer; Conquistar; Persuadir; Mexer e se mexer; Buscar paz, tranquilidade e sossego; Agir; Servir, ajudar, proteger; Satisfazer a curiosidade; 77 Aprender; Agredir, ofender, provocar; Conhecer; Descobrir; Ser alguém; Ter um ganho; Sentir-se realizada; Ter benefício imediato ou em longo prazo; Sentir satisfação; Fazer o que gosta; Comer o que gosta; Ler o que gosta; Ser melhor que os outros; Ver sentido no que tem que fazer; Ver utilidade no resultado; Ser livre; Fazer a coisa bem feita; Organizar; Ser mais forte; Fazer aventuras, adrenalina. agito, provocar 78 Em todas as ações acima estão envolvidas as emoções. As emoções são o combustível para o homem agir. Uma das funções do professor, ou de qualquer educador ou líder é ligar o motor. Para fazer isso, o professor deve ter e usar a chave do carro, ou seja, os incentivos adequados para cada educando ou aprendiz. O nosso cérebro é seletivo. Seleciona o que interessa a ele. Ou seja, o que interessa e tem semelhança com as estruturas mentais já formadas em seu cérebro. Por isso, o professor precisa saber quais os itens acima que movem ou atendem os motivos de cada pessoa. Incentivos são recursos, meios ou estratégias que o professor utiliza para ativar os motivos que a pessoa já tem. Saber escolher os incentivos é o segredo para conseguir disciplina, envolvimento e aprendizagem. Mas os incentivos devem ser bem planejados. Devem atender aos princípios gerais da natureza humana: satisfazer necessidade ou gerar prazer. 79 Devem visar ao alcance de objetivos educacionais previstos no projeto pedagógico da escola ou do curso. Citamos alguns exemplos: Eu me criei no sítio onde tinha um gato para eliminar os ratos. O que ele tinha que aprender? Desenvolver habilidade e agilidade para pegar e matar o rato. É da natureza dele. Para desenvolver essa habilidade podemos deixar no chão uma bolinha do tamanho de uma de pingue-pongue. O gato fica treinando por horas com ela. Ele brinca, gosta e nós previmos a utilidade. Se nós dermos ou disponibilizarmos brinquedos para as crianças elas ficam horas brincando. Mas quais brinquedos dar? Os que são compatíveis com a idade da criança. Que tenham utilidade educativa: discriminar cores, desenvolver a sensibilidade tátil, habilidade de montar, a criatividade. A criança faz, erra, tenta novamente e repete até acertar. Teve êxito, vitória, deu prazer. Os motivos negativos, porém, devem estratégias adequadas. ser reprimidos com 80 O que faz o aluno gostar de estudar? Fiz uma abordagem entre alunos da 5ª à 8ª séries do Ensino Fundamental e do Ensino Médio para verificar o que os leva a gostar de estudar. A pergunta colocada para eles foi: “você gosta de estudar? Em caso afirmativo, o que faz você gostar de estudar?”. Vejamos algumas respostas, com a redação melhorada por eu: “O que me faz gostar de estudar são as matérias mais práticas, movimentadas e que tenham interesse para mim.” “A maneira de o professor se expressar; o dinamismo com que é dada a matéria e a compreensão da mesma.” “Se consigo resolver os exercícios, gosto da matéria.” “Se o professor é animado, a aula também é interessante.” “Gosto de estudar para ser alguém no futuro, para ter uma colocação melhor e para aprender a falar certo.” 81 “Se a matéria me agrada... eu vou bem. Mas se o professor é legal, também ajuda.” “Quando eu consigo compreender bem a matéria, fica gostoso estudar.” “Existem matérias que eu gosto de estudar, devido à facilidade, clareza e objetividade do professor; devido à concretização e ao bom relacionamento entre o professor e o aluno. Existem matérias com as quais não tenho muita afinidade devido ao alto número de teorias e pouca prática.” “As matérias preferidas são as da área de exatas, devido à facilidade e por estarem ligadas ao ramo da tecnologia. Não gosto de literatura, pois para mim não há nenhuma utilidade.” “Eu sempre fui uma pessoa muito curiosa. Portanto, gosto de estudar para satisfazer as minhas curiosidades e também porque somente através de estudo terei maiores conhecimentos e oportcapítulos de trabalho.” 82 “Eu gosto de estudar Química e Física, pois a gente estuda os elementos químicos, velocidade, tempo e outros. Educação Física eu gosto, porque tenho chance de participar de campeonatos e fazer novas amizades.” “Eu gosto de estudar para estar por dentro de tudo o que me diz, ou não, respeito. Porque estou sempre me testando. Também porque faço muitas amizades.” “Para ter uma profissão.” “Porque aprendo coisas novas e diferentes.” “Para ter uma vida melhor.” “Gosto de estudar, tendo preferência por algumas matérias, por causa dos professores que são mais legais.” “Porque o professor transmite segurança, objetividade e carinho pelo principalmente pelos alunos”. que faz e 83 Por que o professor não deve motivar os alunos? Simplesmente porque os alunos estão cheios de motivos. Se o professor conseguir satisfazer esses que o aluno já tem, conseguirá alunos atentos, estudiosos, disciplinados e esforçados. Motivar, aqui, assume o sentido de reforçar motivos ou criar novos motivos. Isso não deve ser feito, pois seriam artificiais e pouco fortes. Se uma pessoa acabou de almoçar, ele faria o mesmo esforço para buscar comida do que quem está com fome? Adianta querer despertar nela motivo para comer mais? Pode ser provocada a fome ou intensificada a vontade de comer naquele instante? O que deve ser feito é descobrir os outros motivos que a pessoa tem para agir que ainda não foram satisfeitos, e descobrir os incentivos correspondentes para atendê-los. Ao professor, cabe incentivar e não motivar. A motivação será reforçada pelo próprio aluno, à medida que estiver recebendo os 84 incentivos em dose correta e estiver despertando, em si mesmo, novas necessidades e intenções. Fontes de incentivo As fontes de incentivação podem facilmente ser notadas nos próprios depoimentos dos alunos, num dos itens anteriores, no início do capítulo. Eles falam que o que os faz gostar de estudar é o conteúdo, o professor, os métodos, os seus próprios objetivos. São estas, portanto, as fontes de incentivação. É delas que vêm todos os incentivos que atendem aos motivos dos alunos e que os fazem gostar de estudar. a) O conteúdo O conteúdo trabalhado deve ser significativo. Deve ir ao encontro dos motivos dos alunos e estar ligado às suas experiências, ao seu nível de entendimento, e ser de fácil compreensão. Eles não admitem estudar matéria em que não veem sentido e utilidade. 85 b) O professor O professor é, sem dúvida, a mais importante fonte de incentivação. Ele dá afeto, carinho, segurança e atenção ao aluno. Ele o apoia, elogia-o e ajuda-o a conseguir prestígio. É ele que analisa o aluno e o meio social e ajuda a selecionar os objetivos, o conteúdo, as técnicas. Ele avalia o aluno, informa sobre o progresso e sobre o alcance dos objetivos do mesmo. É ele ainda que dinamiza a aula, facilita a compreensão e torna o estudo agradável. c) Os métodos Os alunos têm necessidade de atividade. Eles gostam de métodos ativos de que possam participar. Eles não gostam de ficar parados. Se as técnicas usadas forem para trabalhar em grupo, ou em forma de jogo, melhor ainda. Aí terão oportcapítulo de estar com os outros, obter prestígio, reconhecimento. De qualquer forma, porém, os métodos devem também ser agradáveis, facilitar a compreensão e ser adequado para o alcance dos objetivos. 86 d) Os objetivos O aluno quer a satisfação de suas necessidades e de suas intenções. Os objetivos deveriam ser traçados de forma a ficar embutida a satisfação daquelas. Os alunos querem, também, alcançar os objetivos educacionais. Querem compreender, fazer progresso e ser alguém no futuro. Se os objetivos forem traçados de acordo com isso, serão fonte de prazer e, ao mesmo tempo, de esforço. Serão incentivos adequados para a dedicação e o empenho dos alunos. e) O prazer A maioria das pessoas gosta das coisas que deem prazer. É próprio da natureza humana. A criança e o jovem gostam de agito, de ação. Não aceitam ficar parados. A comida tem que ser gostosa. Você escolhe o que gosta de comer. Um livro tem que ser gostoso de ler, tem que ser fácil de entender, tem que mexer com as emoções, provocar adrenalina. 87 Na escola, o professor tem que ser legal, ser amigo. O conteúdo tem que ser fácil de ser entendido, tem que provocar curiosidade, ter utilidade, trazer novidade e estar atualizado. O que se aprende na escola deve servir para a vida toda e não para alguns dias. Temos que aprender da mesma forma que se aprende a andar de bicicleta. Uma vez aprendido, não se esquece mais. Quando se faz o que se gosta, o tempo passa sem sentir. A teoria de recursos humanos insiste em afirmar que a pessoa deve ser orientada e colocada no serviço que ela mais gosta de fazer. Por que na escola não se faz o mesmo? Deveríamos deixar o estudante estudar o que ele quisesse para se preparar para aquilo que gosta de fazer. Estudar na hora e no local que quiser, com a metodologia com a qual melhor aprender. Cerca de 20% dos estudantes desiste do curso superior que faz porque não gosta do curso, do professor ou da metodologia. O professor, em vez de impor, deveria ouvir o estudante para saber qual é seu 88 sonho e orientá-lo para alcançá-lo. Colocar objetivos, traçar metas com ele e estratégias. Alcançá-los é desafio para o estudante. O desafio deve ser do estudante e por esforço dele. A metodologia utilizada e toda meta alcançada lhe trará satisfação e sensação de realização pessoal. O reconhecimento do professor e recompensa adequada ao estudante são o reforço para continuar com afinco seus estudos. Síntese Cada vez mais, é necessário desenvolver habilidades que levem o indivíduo a aprender a aprender, a aprender a pensar, a aprender a estudar, a aprender a se comunicar, e não apenas reproduzir e memorizar informações, mas, sim, desenvolver competências de resolução de problemas. E como vimos neste capítulo, diferentes áreas científicas evidenciam que é um processo complexo, mas que é possível transformar a educação formal. 89 Saiba mais SOCIEDADE DE NEUROCIÊNCIA. Disponível: http://www.sbneurociencia.com.br/html/indice_artigos.htm ; MEMÓRIAS. Disponível em: http://neurociencia.tripod.com/ 90 CAPÍTULO II Neurociências, neuroeducação e neuropedagogia Introdução Como vimos no capítulo 1, precisamos cada vez mais, ter habilidades que nos permitam conviver socialmente, e a educação formal é o caminho para tais habilidades. Contudo, se nós quisermos ser educadores competentes, precisamos acreditar na ciência, descontruir os condicionamentos, desenvolver habilidades e criatividade para aplicar os princípios científicos no processo de aprendizagem. Neste capítulo, vamos falar das ciências que devem estar presentes no ensino desenvolvimento de habilidades. formal para o 91 Neurociências As neurociências contribuíram significativamente para compreender o cérebro e o processo de descobertas aprendizagem científicas, tecnologias e feitas educação. por computadorizadas: meio As das tomografia, ressonância magnética, entre outras. Com elas podemos saber como funciona o cérebro, diante dos mais variados estímulos e finalidades. Quando a finalidade é educar crianças, utilizamos a neuropedagogia. Para a educação, em todos os contextos, é aplicada a neuroeducação. A neuroeducação, por sua vez, é subdividida em neuropsicologia, neuroaprendizagem, neurodidática, neurometodologia, neurolinguística e neurociência cognitiva. As neurociências estudam, ainda, como funciona o cérebro diante de estímulos que têm a finalidade de neuromarketing. propaganda. A esta chama-se 92 A neuropolítica apresenta conclusões de como os eleitores reagem às propagandas feitas pelos políticos. Aqui há interessantes conclusões. Os eleitores levam em conta, por exemplo: a postura do candidato, se fala "bonito", se têm propostas concretas, se não critica os outros candidatos, se atende aos interesses imediatos dos eleitores, se as propostas são condizentes com as atribuições do cargo. A neurobiologia estuda as funções de cada parte do cérebro. Já, a neurofisiologia estuda e indica os nutrientes necessários para o regular funcionamento de todas as partes do cérebro. Neste capítulo, vamos apresentar considerável número de conclusões científicas das neurociências, em especial da neuropedagogia e da neurodidática. A neuropedagogia trata mais especificamente de crianças, pois pedagogia é a ciência que trata da educação de crianças. Não vou fazer muita redação e análise sobre o assunto. Vou citar e comentar 93 brevemente o que os cientistas e outros estudiosos já escreveram. Merecem destaque os itens: sensação; percepção; emoções; motivação; sentimento, afeto; imitação; neurônios; atenção; compreensão; ação; memória e aprendizagem; ambiente e cultura; currículo; métodos e técnicas; tecnologia e jogos; cognição e avaliação. Tudo envolve psicologia, biologia, fisiologia, didática, ambiente e cultura. Vejamos algumas considerações de autores famosos e especialistas no assunto. Primeiramente, vamos apresentar alguns excertos do livro de Vilma Homero: “Neurociências: uma contribuição para a educação”. Para dar um maior suporte a esses docentes, o projeto mantém quatro Núcleos de Divulgação Científica e Ensino de Neurociências (CeC-NuDCEN), que atuam na formação continuada em neurociências para profissionais do ensino básico – um na UFRJ, outro na Universidade Federal Fluminense (UFF), e 94 outros dois em escolas da rede pública, o Colégio Estadual Maria Justiniano Fernandes e o Ciep 178 João Saldanha – no projeto que conta com recursos do edital de Apoio à Melhoria do Ensino nas Escolas da Rede Pública, da FAPERJ (HOMERO, 2012, p. 1). Nos cursos, abordam-se alguns tópicos importantes de neurociências com aplicação na educação, com ênfase para as bases neurobiológicas do desenvolvimento, aprendizagem, memória, linguagem e sono, para que os docentes tenham melhor compreensão sobre os processos de ensinoaprendizagem, e sobre a relação professor-aluno. Para isso, a equipe, que é multidisciplinar, envolve especialistas de várias áreas diferentes, como artes, pedagogia, fonoaudiologia, educação física e neurociências. "Mostramos as bases neurobiológicas relacionadas às diferentes fases do desenvolvimento físico e mental, e reforçamos a importância das artes e mesmo de atividades físicas para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social dos alunos. Ao entender melhor tudo isso, os docentes podem explorar mais o potencial do processo de ensino-aprendizagem, 95 independente da matéria ou conteúdo que estiver sendo ministrado" (HOMERO, 2012, p. 1). Tudo isso é demonstrado tanto em aulas práticas quanto teóricas, em que os participantes do grupo aprendem sobre a morfologia do sistema nervoso – sua microscopia e macroscópica –, corporeidade, percepção, movimento, aprendizagem, linguagem, inteligência e distúrbios de aprendizagem, sempre com uma visão que promova a interação com a educação. "Também organizamos oficinas sobre temáticas, como linguagem e memória, nas quais mostramos, por exemplo, como funciona a memória operacional e o raciocínio ao lidarmos com informações novas, associando-as com aquelas que já temos armazenadas pelo sistema", explica. No caso das oficinas de linguagem, jogos e imagens são empregados para se tratar de dificuldades de linguagem e de aprendizado. "Com atividades lúdicas, também podemos desenvolver um olhar mais crítico, mais aprofundado, e observar algumas das características dessas diferentes dificuldades de aprendizado", afirma (HOMERO, 2012, p. 1). 96 O que se trabalha no curso com os professores termina sendo aplicado por eles com seus próprios alunos. "Eles também trazem suas experiências pessoais, contam como lidam com certas situações em sala de aula. Essa troca de experiências ajuda a todos os demais", relata Sholl. Ele acrescenta ainda que o projeto procura promover uma reflexão sobre as mudanças de paradigma que a sociedade vem enfrentando. "Além dessa adolescência prolongada, o professor tem que lidar com um aluno que está envolvido com múltiplas mídias, o que ele nem sempre consegue acompanhar" (HOMERO, 2012, p. 1). 97 Para pôr em prática Leia mais sobre esse conteúdo: Funções cognitivas e operações mentais. In: GOMES, Cristiano M.A.C. Feuerstein e a construção mediada do conhecimento. Artmed, 2002, p.109. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4415114/mod_resource/conten t/1/TextoBase%20Fun%C3%A7%C3%B5es%20cognitivas%20e%20opera%C3 %A7%C3%B5es%20mentais.pdf. MAIA, Heber (org.). DIAS, Ana Paula Botelho Henrique. COSTA, Celia Regina Carvalho Machado da, et al. Neurociências e desenvolvimento cognitivo. Rio de Janeiro. Wak, 2 ed., vol. 2, 2012. SILVA, Divina Salvador. A importância da Tecnologia na Educação. Disponível em: http://portal.sipeb.com.br/wp- content/uploads/2010/08/Artigo_004_A-Import%C3%A2ncia-daTecnologia-da-Educa%C3%A7%C3%A3o_Profa-Divina-SalvadorSilva.pdf. 98 Neurociência e neuroeducação – reflexões necessárias Com os estudos da neurociência surgiram subáreas, como a neuropsicoplogia, neuroeducação, entre outras. De forma objetiva, para tentar simplificar ao máximo, podemos dizer que a partir das pesquisas da neurociência, surgiram áreas dedicadas exclusivamente à compreensão do funcionamento da mente, com fins específicos, por exemplo: para a neuropsicologia interessa, essencialmente, o estudo da mente quanto ao comportamento humano. Já a neuroeducação é um termo utilizado para abordar os estudos da neurociência e da neuropsicologia, que fazem referência aos processos de aprendizagem. Essa linha de estudo, a neuroeducação, surgiu para favorecer a compreensão de como se dá a aprendizagem humana e para isso utiliza-se das pesquisas da neurociência e, consequentemente, da neuropsicologia (PIMENTEL, 2012, p. 1). 99 O Neuropsicólogo é o profissional com competência para fazer diageutico, acompanhamento, tratamento e realizar pesquisa da cognição, das emoções, da personalidade e do comportamento sob o enfoque da relação entre estes aspectos e o funcionamento cerebral. Tem suporte baseado pelos conhecimentos teóricos e práticos científicos validados das neurociências e pela prática clínica, com metodologia estabelecida de forma experimental e clínica (PIMENTEL, 2012, p. 1). Com os avanços da neuropsicologia, professores(as) e psicopedagogos(as) passaram a se interessar entusiasticamente pelo tema, uma vez que seus estudos têm sido de grande valia para o entendimento de como ocorre a multitarefa do aprender (PIMENTEL, 2012, p. 1). As relações entre o cérebro e a aprendizagem se aproximam cada vez mais. Gosto de fazer a seguinte comparação: o cirurgião cardíaco precisa entender tudo sobre o funcionamento do coração para poder realizar sua prática clínica e os professores, a 100 meu ver, precisam entender do cérebro, pois não há aprendizagem sem cérebro. Ele é o centro da aprendizagem (PIMENTEL, 2012, p. 1). Cada vez mais me encanto com os estudos da neurociência devido suas contribuições para a compreensão da aprendizagem humana. Minha atuação com complementando a psicopedagogia por meio da vem se neurociência (PIMENTEL, 2012, p. 1). O desenvolvimento das técnicas de imageamento do cérebro permitiu examinar uma pessoa enquanto executa uma tarefa; investigar o local onde as ações são registradas e ainda como as áreas cerebrais responsáveis pela linguagem se relacionam desde a vida pré-natal. Por exemplo, para saber onde fica a área da sintaxe (construção de frases); a semântica (significado das palavras) e a prosódia (melodia do discurso), estudiosos recorreram à ressonância magnética funcional que registra a atividade dos neurônios e as alterações de concentração de 101 oxigênio no cérebro. Foi medida a atividade cerebral de voluntários enquanto ouviam frases corretas e outras que continham palavras com significado absurdo ou frase com erro sintático ou gramatical. Observaram-se então as áreas que registravam o significado das palavras em que nas frases incorretas e frases absurdas havia mudanças na atividade neuronal. Ao ouvirmos a língua falada o cérebro desempenha a análise acústico-fonética das palavras (o que é; parece com que?; qual o significado?; qual a imagem? etc.). Depois ele separa as informações no hemisfério esquerdo, nas partes superficiais do lobo temporal e as regiões profundas do lobo frontal analisam primeiro as categorias de palavras (leitura). O sistema de reconhecimento da linguagem assimila a estrutura sintática e em seguida veem a informações semânticas em frases (escrita). 102 No hemisfério direito é elaborada a informação prosódica sobre a sequência dos sons: todo esse processo demanda no máximo 600 milissegundos por palavra e também foi constatado que as áreas do cérebro amadurecem em ritmos diferentes, desde a fase pré-natal (Revista Mente e Cérebro, nº181, p. 25. In: FIORAVANTE, 2013, p. 10). Então, cada vez fica mais claro que o cérebro funciona em rede e que os dois hemisférios se comunicam desde as percepções e ações motoras às sensações internas e externas e as funções cognitivas (atenção, memória, raciocínio e todas as operações mentais). Elas se integram continuamente nas áreas de interpretação, sejam motoras, perceptivas ou ideativas e produzem a compreensão do mundo, a aprendizagem de conceitos, habilidades ou atitudes. Por outro lado, as descobertas sobre os neurônios-espelho e neurônios-grade mostram que este processo se baseia nas percepções visoauditivo-motoras de tempo e espaço. Ou seja, a 103 aprendizagem se funda na imitação, na repetição e na rotina das ações, atitudes, hábitos e da linguagem ouvida, falada ou lida. Por isso, a importância da ação educativa pela imitação, afetividade e a estimulação visual, auditiva e psicomotora para fortalecer o amadurecimento e integração das áreas do cérebro. Então, as funções superiores da lógica da matemática e da linguagem seriam tão importantes nos currículos escolares quanto às atividades lúdicas e artísticas predominantes no hemisfério direito. Essa é a Educação Integral que desde os primeiros anos podem favorecer o amadurecimento dos neurônios aumentando as sinapses os dendritos e as conexões que se complexificam quanto mais sejam adequadas e ricas às situações e vivencias psicomotoras afetivas e sociais. Daí, a necessidade da estimulação das áreas do cérebro com atividades integradoras, envolvendo ritmo, linguagem, música, jogos e todas as formas significativas de aprendizagem, trabalhando os 104 conhecimentos físicos, lógico-matemática e socioculturais segundo propõe Jean Piaget. Essa integração permitirá a criança e ao adolescente a pensar de modo vasto e complexo desde os anos iniciais de sua vida, ou seja, devemos ensinar-lhes por relações e não por categorias; por sistemas e não por partes. É preciso trabalhar desde cedo os processos mentais necessários a percepção das relações entre atributos e qualidades memorizadas, compreendidas e expressas, sobretudo pela linguagem – instrumento essencial da aprendizagem. É importante, pois, que o pensamento sistêmico seja desenvolvido no educando e no educador, para que se criem as condições para as elaborações mentais de que o cérebro é capaz e cada vez mais ampliá-las no desenvolvimento das 100 trilhões de conexões estimadas entre os neurônios do cérebro adulto e que espero ser exploradas. Quanto mais conexões, mais memória, mais aprendizagem, melhor a organização das ideias e dos pensamentos. 105 Nesta perspectiva, a aprendizagem é a criação dos significados – um processo complexo de relações onde as experiências são preservadas a partir do significado que o Homem lhes atribui. A experiência que ocorre em nível do “vivido” é simbolizada e armazenada por meio da linguagem. (Então, os mecanismos básicos da linguagem são: 1º) o interesse (ou o motivo): somente se aprende aquilo que se considera útil na sobrevivência física, social ou psíquica; (2º) a memória – permite a retenção dos valores atribuídos ao que é experimentado ou aprendido; (3ª) generalização e transferência – permitem interpretar e agir em novas situações com base nos significados e valores aprendidos e vivenciados. Focalizando sua atenção sobre o que sente (o significado), suas relações, causa e consequências, o indivíduo pode encontrar novos significados, novos símbolos e novas formas de expressão. Isto é um exercício de metacognição e de autoconsciência – a razão de ser do processo de humanização e de 106 transformação do mundo (Revista Mente e Cérebro, nº181, p. 25. In: FIORAVANTE, 2013, p. 11 e 12). Neuropedagogia Se eu quisermos ser educadores competentes, precisamos acreditar na ciência, descontruir os condicionamentos, desenvolver habilidades e criatividade para aplicar os princípios científicos no processo de aprendizagem. Na educação especial é obrigatório que se faça diageutico de cada criança. Isso é necessário, também, para cada pessoa que apresente sintomas de distúrbios emocionais e psicológicos, biológicos e com dificuldades de aprendizagem. Sabemos que todas as pessoas são capazes de aprender. Mas precisamos descobrir o que cada criança ou pessoa é capaz de aprender. Vygotsky com suas pesquisas diz que precisamos diagnosticar a zona proximal de cada aprendiz. Ou seja, saber o nível de aprendizagem que o aprendiz tem e o potencial limite em que pode 107 chegar. Quais são os critérios e as medidas para fazer isso? É muito complicado. Aprendizagem não tem medida nem limite. Precisamos é abrir caminho, dar os incentivos adequados e liberdade para que cada um se desenvolva e cresça no seu ritmo e potencial. Para fazer isso e conseguir eficácia basta respeitar a natureza da criança e da pessoa em suas diferentes fases e níveis de aprendizagem. Vilma Homero, citando Eliane Alves (2010), diz que, A maior parte das transformações no cérebro ocorre nos primeiros 6 anos de vida. Como a criança nasce com mais neurônios do que vai precisar na vida adulta, nesse período ocorre o que é chamado de “poda” cerebral, pelos neurocientistas, nesta fase as sinapses mais integradas ao sistema sobrevivem enquanto as menos utilizadas são eliminadas. Do primeiro ao quinto ano de vida, são eliminadas cerca de 100 mil conexões por segundo (ALVES, 2010, p. 01). Esta porém, não é a única revolução que se passa no cérebro, nessa época. Abrem-se também as “janelas” de oportcapítulos, que é um período fértil 108 de aprendizado de certas habilidades, levando em consideração a faixa etária de cada indivíduo é claro. Tudo tem uma idade e uma medida certa para ocorrer. A criança de 2 anos por exemplo, está na fase sensório motora que é a melhor fase para se desenvolver os sentidos e os movimentos e não a lógica da abstração de símbolos gráficos (ALVES, 2010, p. 01). O neuropedagogo é responsável pelo aproveitamento das descobertas científicas para consolidar as bases da Educação Infantil, conforme Andersen´s (2011, neuropedagogia importantes para é p. 1), um as “O dos profissional elementos instituições que de mais desejam desenvolver um verdadeiro e harmonioso processo ensino-aprendizagem”, uma vez que: O prazer é uma das molas propulsoras do homem. O prazer das crianças é brincar. Buscar conhecimento pelo brincar, também, dá prazer. Vejamos o que diz Eliane Alves e Carlos Alberto Jiménez: Ensinar requer compreensão de como fazê-lo e vai muito além do incansável 109 bla-bla-bla de sala de aula. Poderíamos acrescentar que a capacidade de aprender, de ser inteligente está ligada ao prazer que a conquista do conhecimento pode proporcionar, principalmente quando este conhecimento é produzido pelo próprio educando. Isto nos leva a supor que o nível de emoção no momento do aprender interferiria no resultado do processo. O cérebro é o órgão por excelência da inteligência. Neste caso se queremos compreender como ocorrem os processos intelectivos, precisamos compreender os mecanismos cerebrais responsáveis pela aprendizagem. O cérebro está dividido em três partes fundamentais: o hipotálamo, o sistema límbico e o córtex (ALVES, 2010, p. 1). Conclui-se, assim, que a neuropedagogia, por ser uma ciência abrangente, oferece as melhores considerações da aprendizagem humana. Como assinala Alves (2010, p. 2), “[...] suas intervenções são de grande valia não só para estímulos em crianças em desenvolvimento "normal", mas principalmente para aquelas com transtornos diversos [...]”. Sobre neurobiologia, Marta Pires Relvas (2013, p. 1) afirma que ouviu “professores dizendo que não tem tempo para saber o que cada aluno está sentindo 110 e muito menos entender da parte biológica”. Todavia, conhecer o aluno, suas expectativas e interesses e, assim, estabelecer uma relação de aprendizagem colaborativa, é fundamental, pois as conexões afetivas e emocionais, ativadas no cérebro de recompensa, precisam ser preservadas e respeitadas, já que “[...] são centelhas energéticas que provocam a liberação de substâncias naturais, os mensageiros químicos conhecidos como serotonina e dopamina, que estão relacionados à satisfação, ao prazer e ao humor” (RELVAS, 2013, p. 1). Importa, assim, respeitar a individualidade de cada estudante, superando processos educativos homogeneizadores, a fim de desenvolver estratégias pedagógicas que qualifiquem o processo de ensinoaprendizagem, lembrando que não compete ao professor mensurar capacidades e competências que devem ser desenvolvidas em maior ou menor grau, pois isso é subjetivo, ou seja, varia de pessoa para pessoa. 111 É o que concluíram pesquisadores do Instituto Ayrton Senna, ao aplicarem um teste de avaliação de traços de personalidade, intitulado Instrumento SENNA, pesquisadores do Instituto Ayrton Senna, com o objetivo de aprofundar a compreensão sobre competências socioemocionais e o impacto que elas têm sobre o desempenho dos estudantes, além de mecanismos para desenvolvê-las. Considerando os aspectos estudados, os pesquisadores afirmam que o incentivo dos pais ao estudo dos filhos tem maior impacto para estimular na criança a consciência, o autocontrole, a amabilidade e a abertura a novas experiências, Os dados indicaram que as crianças cujas mães têm maior grau de escolaridade e melhor nível socioeconômico parecem ser menos conscienciosas, ou seja, ter menor tendência a serem organizadas, esforçadas e responsáveis. Esse fato chama atenção para o potencial da abordagem socioemocional para alavancar o desempenho educacional dos alunos mais economicamente vulneráveis, uma vez que pais com menor escolaridade e recursos econômicos não parecem estar em desvantagem em relação aos pais mais 112 economicamente favorecidos, pelo contrário. De maneira geral, mantendose constantes as características familiares e da escola, foi possível estimar, por exemplo, que com mais Conscienciosidade, o aprendizado de um estudante em matemática teria ganho equivalente a um terço do ano letivo. Já para elevar o desempenho de português também em um terço do ano letivo, a variação no Lócus de Controle e na Abertura a novas experiências é que causaria mais impacto. (Disponível em: http://www.profemarli.com/index.php? pagina=1584520722) Para pôr em prática Leia mais sobre esse conteúdo: SILVEIRA, N. A importância da atividade criadora na educação. Disponível em: http://filhosbrilhantes.blogspot.com.br/search?updated-min=201001-01T00:00:00-08:00&updated-max=2011-01-01T00:00:0008:00&max-results=17. SILVA, Divina Salvador. A importância da Tecnologia na Educação. Disponível em: http://portal.sipeb.com.br/wp- content/uploads/2010/08/Artigo_004_A-Import%C3%A2ncia-daTecnologia-da-Educa%C3%A7%C3%A3o_Profa-Divina-SalvadorSilva.pdf. Neuroeducação 113 Neuroeducação, conceito e funções: sobre isso, vejamos algumas referências de autores importantes que tratam do assunto. Neuroeducação é um modelo sistêmico de intervenções evolutivas desenhado para atuar nas matrizes de inteligências do sistema mental e estruturar o caminho de manifestação do potencial inteligente da consciência. A Neuroeducação atua no campo da educação desenvolvendo ferramentas holográficas capazes de corrigir as dificuldades de aprendizagem escolar oferecendo instrumentos de inclusão social capaz de extrair o máximo do potencial funcional de cada indivíduo ao transformá-lo em todas as capacidades independentemente de sua origem social, qualidade de ensino escolar ao qual está submetido ou grau de desenvolvimento pessoal (LEITE, 2012, p. 16). A neurociência pedagógica é um ramo da ciência que compatibiliza o cognitivo (técnica de ensino) e o cérebro humano, adequando o funcionamento do cérebro para melhor entender a forma como este recebe, seleciona, transforma, memoriza, arquiva, processa e elabora todos as sensações captadas pelos diversos elementos sensoriais para a partir deste entendimento poder adaptar as metodologias e técnicas educacionais a todas as crianças e principalmente aquelas com as características 114 cognitivas emocionais diferenciadas (LEITE, 2012, p. 16). Segundo a Neuropedagoga ADRIANA Peruzo, "apostar nos estudos da neurociência pedagógica é apostar numa evolução crescente e segura, é vincular o educador a idéias, a comportamentos e a pensamentos complexos, é levar ao educando a noção do sujeito do processo da aquisição e da produção do conhecimento" (LEITE, 2012, p. 16). A NEUROEDUCAÇÃO foi desenvolvida pensando em tornar mais fácil e prazeroso o ato de aprender, de eliminar incapacidades e expandir conhecimentos. Tem como objetivo dignificar o ser humano, reorganizando as matrizes de inteligência do seu sistema mental com ferramentas do modelo de intervenção, desenvolvido para este fim (BERNARDES, s.d., p.1). A Neuroeducação entre várias funções torna o ato de estudar, frequentar a escola, ler, enfim aprender, interessante, prazeroso e fácil, as pessoas vêm sendo trabalhadas com esta ciência tanto para eliminar incapacidades de aprendizagem como para expandir conhecimentos específicos, é uma ferramenta moderna e eficiente na construção e transformação do aprendente (LEITE, 2012, p. 17). A união entre a neurociência e a pedagogia, está dando origem a estratégias educacionais inovadoras, a plasticidade cerebral, a aquisição da linguagem e a formação da mente simbólica, são analisadas em 115 profundidade, é um extenso e fascinante universo de potencialidades que cada um de nós tem, o nosso cérebro (LEITE, 2012, p. 17). O cérebro se modifica aos poucos fisiológica e estruturalmente como resultado da experiência, a aprendizagem, a memória e emoções ficam interligadas quando ativadas pelo processo de aprendizagem. Entre os modos e oportcapítulos em que o cérebro se modifica e desenvolve a sua estrutura para atender as novas exigências de desempenho, uma delas está em aprender. Estas modificações também são extensivamente estudadas pela neurociência sob vários aspectos tidos como plasticidade cerebral (LEITE, 2012, p. 17). A característica plástica de uma estrutura pode ser definida utilizandose como ponto de partida a possibilidade de alteração estrutural, adaptabilidade a nova morfologia ou funcionabilidade ou ainda capacidade de transformação (LEITE, 2012, p. 17). A NEUROAPRENDIZAGEM é um ato normal que o cérebro pratica toda a vez que recebe uma nova informação/experiência, formando assim o Mapa Holográfico de cada indivíduo. O Mapa Holográfico nada mais é que a representação interna da realidade de cada um de nós, pois cada ser é único em suas experiências, em suas vivências, desta forma não existe um Mapa igual ao outro (BERNARDES, s.d., p.1). 116 Podemos dizer que somos compostos por partes, uma identidade que nasce quando se forma um circuito neural. Os circuitos neurais se formam a partir de uma experiência de referência, que somatizam quando acionadas (BERNARDES, s.d., p.1). Portanto, o trabalho do Neuroeducador é atuar no mapa holográfico cerebral do cliente, modificando a programação dos decodificadores, ajustando-os para funcionarem “em excelência”, expandindo o nível de compreensão da realidade e a expressão de suas capacidades em talentos naturais (BERNARDES, s.d., p.1). Importância da neuroeducação: cérebros em plena ação “Os Neuroeducadores baseiam a suas técnicas de ensino no conhecimento da mente e na conduta humana” (GRABNER, 2012, p. 1). Uma das metas mais sensíveis dos Neuroeducadores é conseguir que os estudantes conheçam como funciona o cérebro, compreendam as complexidades da conduta humana e consigam fazer uma boa gestão das suas próprias atitudes (GRABNER, 2012, p. 1). 117 Para os Neuroeducadores compreender o funcionamento da mente conduz a uma melhor convivência, onde predomine a tolerância, a justiça, a igualdade de oportcapítulos e a aceitação das diferenças interculturais. Logatt Grabner explica que em todas as pessoas há uma predisposição genética que os hábitos culturais podem ou não fazer com que se expressem: “Com a mente passa-se algo parecido: uma criança pode ter aptidão para pintar, mas se nunca for estimulada não a conseguirá desenvolver”, exemplifica (GRABNER, 2012, p. 1). Os Neuroeducadores acreditam que quando uma criança percebe como funciona o cérebro, compreende o sentido das coisas que se passam com ela e os motivos dos outros. “Entende que as pessoas não são más, mas ignorantes; e que fazem o que fazem porque não aprenderam que deviam de fazê-lo de outra forma” (Pray Gay) (GRABNER, 2012, p. 1 e 2). A Escola, um trauma!? Quem nunca ouviu dizer que “ a escola pode traumatizar” que o professor ou o sistema escolar “exclui”? Ouvem-se várias manifestações de descontentamento de alguns alunos que tiveram ou têm uma experiência negativa na escola (GRABNER, 2012, p. 2). A Neuroeducação pretende mudar este sentimento em relação à escola a partir de uma forma diferente de educar, onde sustenta que na escola pode-se 118 alcançar o que se chama de, eficácia percebida: conhecer as próprias potencialidades e limitações, e estar disposto a melhorá-las (GRABNER, 2012, p. 2). “Se um cérebro aprende que pode superar-se é possível que essa pessoa o consiga, mas se terminou a escola a pensar que não o conseguia, os seus neurónios irão registar isso e provavelmente não o conseguirá, até ao fim da sua vida (GRABNER, 2012, p. 2). Neurociência: um novo olhar educacional A neurociência é uma grande aliada do professor que o ajuda a identificar o indivíduo como um ser único, pensante e que aprende a sua maneira. Ao analisar o processo de aprendizagem, deve-se perceber um múltiplo enfoque, explanando propriedades psicológicas, neurológicas e sociais do indivíduo, já que a construção da aprendizagem considera aspectos biológicos, cognitivos, emocionais e do meio que constroem o ser e embasei-a a sua evolução. A Neuropedagogia desvenda os mistérios que envolvem o cérebro na hora da aprendizagem, como se processam: a linguagem, a memória, o esquecimento, o humor, o sono, a atenção e o medo; como é incorporado o conhecimento e os 119 processos de desenvolvimento que estão envolvidos na aprendizagem acadêmica (LEITE, 2012, p. 2). A aprendizagem com o olhar da neurociência Esquecem-se ambos de que existem os direitos e deveres do profissional Professor, descritos no seu estatuto; existem os direitos e deveres da criança e do adolescente, recém garantidos pela nossa constituição. Para além deles existem os interesses dos professores que podem querer formar em seus alunos este ou aquele tipo de consciência, deste ou daquele modo, seja apenas informando os alunos, seja orientando experiências participativas para este aprendizado. Existem os interesses dos alunos, próprios de suas idades e do momento de seu processo de maturação, e que os faz vibrar, se envolverem, se empolgarem e aprenderem muito mais, quando são sujeitos ativos e participativos do que quando são apenas leitores ou ouvintes (LEITE, 2012, p. 7). Portanto o desenvolvimento da cidadania, a formação da consciência do eu tem na escola um local adequado para sua realização através de um ensino ativo e participativo, capaz de superar os impasses e insatisfações vividas de modo geral pela escola na atualidade, calcado em modos tradicionais (LEITE, 2012, p. 7). 120 É preciso usar o conhecimento que o professor já dispõe sobre o trabalho escolar com a informação baseada no livro que atesta a importância que as informações da neurociência traz a educação. Vivemos em uma sociedade em que o conteúdo está em baixa, temos muitas informações, mas pouco conteúdo, sutilmente estamos sempre defasados ao que acontece no mundo, as informações são muitas, pouco se apreende. É a neurociência que seria este norteador para nos mostrar as possíveis falhas do sistema Educacional. O princípio básico desse profissional é a compreensão das respostas cerebrais aos estímulos externos e assim, o desenvolvimento das potencialidades. Em geral, o neurocientista é responsável por investigar a integração do indivíduo com o meio ambiente, detectando os processos físicos e químicos, que desencadeiam respostas musculares e glandulares (LEITE, 2012, p. 7 E 8). Dentre as mais diversas formas de investigação, um dos principais objetivos do neurocientista é interpretar as mais variadas mudanças que possa ocorrer no comportamento fixo ou variante e, através da análise, contribuir para modificar esse comportamento. Essa mudança chama-se: aprendizado. Ela ocorre no sistema nervoso e pode ser chamada de plasticidade cerebral (LEITE, 2012, p. 8). Fundamentalmente a neurociência possibilita um aprofundamento do estudo dos processos da percepção, 121 da consciência e da cognição. Em sua máxima, consciência é o atributo pelo qual o indivíduo se integra ao mundo. É a percepção dos fenômenos internos, afetivos, volitivos, intelectuais e das realizações externas (LEITE, 2012, p. 8). “Nas últimas décadas a neurociência tem se tornado uma ciência amplamente pesquisada e bastante reconhecida, contribuindo de maneira significativa para o desenvolvimento de soluções de diversas doenças e transtornos, sobretudo educacionais” (LEITE, 2012, p. 8). O profissional em Neuropedagogia tem como princípio compreender as respostas cerebrais que surgem através dos estímulos externos. É responsável pela investigação e integração deste indivíduo com o meio onde ele está inserido, observando seu processo físico e químico e as respostas que emanam deste sujeito. O Neurocientista deve interpretar as mais variadas mudanças que ocorre em todo processo em volta do indivíduo desde seu comportamento fixo há suas variantes (LEITE, 2012, p. 8). Em suma o neuropedagogo através de seu olhar visa observar: Processo interno: - A Cognição; - A Decisão; - O Fazer; 122 - O Aprender; Processo externo: - A Adaptação; - A forma de adequação ao novo ambiente - Habilidades de adaptação; - Alterações no processo de interação (LEITE, 2012, p. 8 E 9). A neurociência sob novos olhares: vejamos alguns extratos de textos que explicam a relação da neurociência com a educação, inteligência e aprendizagem. O corpo, emoção e razão são indivisíveis e inseparáveis, é uma visão íntegra e holística, a razão de ser nos últimos tempos as investigações da neurociência revelou dados surpreendentes sobre o funcionamento do cérebro, o crescimento de novos neurônios, outra afirmativa é que a inteligência não é única e nem fixa e muito menos reside em um local determinado no cérebro como se afirmava no passado, a inteligência é concebida como uma função do cérebro e várias partes dele estão envolvidas em qualquer ação inteligente (LEITE, 2012, p. 9 e 10). O cérebro é único não existindo outro igual, cada indivíduo tem o seu de forma distinta resultando na interação dinâmica entre natureza e ambiente, respectivamente genética e 123 estimulação onde tudo que o sujeito realiza acontece a partir de uma comunicação entre os neurônios. As pessoas aprendem de forma diferentes onde um único método não é o ideal para todos os alunos, necessário se faz, várias estratégias diferentes de ensinar daí, permitir ao educando sempre que possível a escolha, não é uma proposta revolucionária, necessita de professores preparados, sintonizados e comprometidos com a educação e com o método a aplicar ao desenvolver um ensino diversificado e diferenciado, capaz de identificar, respeitar e aproveitar o estilo de aprendizagem preferencialmente mais adequado para seus alunos (LEITE, 2012, p.10). A experiência escolar permite concluir que um dos grandes diferenciais do processo educativo é o vínculo estabelecido entre educadores e educandos. O ideal é trabalhar com a premissa de que havendo vinculo é mais fácil que o professor desenvolva a capacidade de escuta do que o aluno pretende transmitir e possibilite a ele que se sinta compreendido e entendido em seu sofrimento mesmo porque indisciplina e incompreensão caminham juntas (LEITE, 2012, p.10). Intervenções neuroeducacionais “Esta colaboração mútua, [...] cientistas cognitivos [...] educadores [...]. A Neurociência tem um 124 papel fundamental de íntima ligação com a prática pedagógica. Ela investiga o processo de como o cérebro aprende e lembra, [...]”(LEITE, 2012, p.11). Desenvolver pessoas não é apenas dar-lhes informação para que elas aprendam novos conhecimentos, habilidades e destrezas e se tornem mais eficientes naquilo que fazem. É sobretudo, dar-lhes a formação básica para que elas aprendam novas atitudes, soluções, ideias, conceitos e que modifiquem seus hábitos e comportamentos e se tornem mais eficazes naquilo que fazem. Formar é muito mais do que simplesmente informar, pois representa um enriquecimento da personalidade humana" (LEITE, 2012, p.11 in: Chiavenato, 1999). O aprender e o lembrar do estudante ocorre no seu cérebro, conhecer como este cérebro funciona não é a mesma coisa do que saber qual é a melhor maneira de ajudar os alunos a aprender. A aprendizagem, a neurociência e a educação estão intimamente ligadas ao desenvolvimento cerebral o qual se molda aos estímulos do ambiente, o ensino bem sucedido provoca alterações significativas na taxa de conexões sinápticas (LEITE, 2012, p.11, grifo nosso). É fundamental que professores entendam que os sentimentos que impulsionam a aprendizagem positiva ou negativamente, devem 125 compreender que o ser humano é um ser emocional, que pensa coerente com esta nova visão, é primordial que os educadores aprendam a ler e entender as emoções, alegria, tristeza, raiva, medo de seus alunos e principalmente a lidar adequadamente de forma competente com elas (LEITE, 2012, p.11 e 12). Sob este aspecto considera-se como importante em primeiro lugar criar um ambiente seguro e convidativo para a aprendizagem, livre de desrespeito, ofensas e humilhações. Em ambiente de medo e insegurança, o aluno tornase passivo além de perturbar a disciplina naturalmente indesejáveis em sala de aula além de que caso uma criança seja ridicularizada por erro, irá se sentir em perigo logo, o cérebro desta criança reagirá imediatamente adotando uma postura de fuga ou ataque, ao contrário de que quando o erro é aceito e tratado de forma natural como parte do processo de crescimento, o estudante aprende com ele, deve-se incrementar um clima emocional positivo dentro da escola e da sala de aula com alegria, respeito mútuo, elogios e brincadeiras sadias (LEITE, 2012, p.12). Neste aspecto, vários fatores influenciam a ação do professor em sala de aula e suas ações dificultando o processo ensino\aprendizagem, o uso de metodologia inadequada, a falta de recursos didáticos, as condições insatisfatórias de trabalho, sem contar a dinâmica emocional do ser humano soma-se a isto, os desajustes 126 familiares na vida do aluno, a violência hoje presente tanto fora como dentro da escola e o lugar do fracasso ocupado apenas pelo aluno, quando deveriam lá estar, o professor, o aluno e a escola (LEITE, 2012, p.12). Uma nova concepção educacional propõe montagem de ambientes enriquecidos centrados no desabrochar da criatividade e da inteligência de cada um dos jovens e crianças os quais motivados possam mais e com melhor qualidade e, ao fazerem isto, possam desenvolver ao máximo o seu talento dispostos a estudar e felizes (LEITE, 2012, p.12). A motivação nada mais é que criar motivos, causar entusiasmo e ânimo, entusiasmar o indivíduo fazendo-o chegar até a eficácia do conhecimento. E mais ainda, cabe criar nestes indivíduos a vontade de aprender através de estratégias e estímulos a fim de que estes indivíduos se sintam motivados em aprender, naturalmente a realização dos objetivos propostos, implica que sejam praticados sempre uma vez que não se desenvolve uma capacidade sem exercê-la ás vezes exaustivamente (LEITE, 2012, p.13). Na busca do conhecimento, estabelecemos relações com objetivos físicos, concepções ou outros indivíduos. Afeto e cognição se constituem em aspectos inseparáveis, estando presentes em qualquer atividade a ser desenvolvida, variando apenas as suas proporções (LEITE, 2012, p.13(LAJONQUIERE, 1998). 127 O afeto e a inteligência se estruturam nas ações e pelas ações dos indivíduos, tanto a inteligência quanto a afetividade são mecanismos de adaptação, permitindo ao indivíduo construir noções sobre os objetivos, as pessoas e as situações, conferindolhes atributos, qualidade e valores (LEITE, 2012, p.13). As questões pedagógicas estão relacionadas à transformação e modificação do indivíduo através da teoria e da prática educacional tendo de um lado o aluno e do outro a ação neuropedagógica onde o professor é o agente representante que detém o domínio pedagógico que tem como função, guiar o aluno ao saber (LEITE, 2012, p.13). As manifestações da cultura mostram que as áreas do conhecimento são de vital importância uma vez que influencia na vida de todos desde os primeiros anos de vida até a velhice tendo a escola como elemento central onde projeta, planeja e executa todos os procedimentos educacionais (LEITE, 2012, p.13 e 14). Nos adolescentes e jovens, exerce um enorme fascínio e influência ao despertar não só o seu lado curioso como além da disponibilidade de vários equipamentos, o contato com o novo, a facilidade de aquisição e os resultados imediatos. O uso da tecnologia é um recurso bastante significativo ao desenvolver conhecimentos, porém, deve ser usada de forma correta, tornando-se um auxílio fabuloso na aprendizagem ao proporcionar aos 128 estudantes a oportcapítulo de desenvolver habilidades tecnológicas básicas do mundo de hoje (LEITE, 2012, p. 14). As competências escolares de formar ao longo da história, não significa que elas mudam a cada ano letivo, é preciso compreender de que maneira elas afetam o ensino e entender até que ponto aquilo que orientava professores de uma geração continua útil ou não para a geração seguinte. É preciso analisar, refletir e se necessário intervir neste contexto, pois o cérebro existe para pensar e não a máquina pensar por ele (LEITE, 2012, p. 14). A tarefa de educar implica necessariamente o diálogo crítico e livre entre educadores e educandos, como forma de se permitir que o conhecimento surja e seja construído a partir de interações coerentes vivendo o outro com diferentes modos de pensar, agir com suas múltiplas expectativas exercitando a autonomia do indivíduo, a liberdade de pensar seus sentimentos sua imaginação a fim de que possa desenvolver talentos e que ele possa tanto quanto possível ser dono do seu próprio destino (LEITE, 2012, p. 14). No mundo de mudanças constantes, não devemos ensinar o que os outros pensam ou pensaram, devemos desenvolver técnicas e métodos que possam municiar nossos docentes a formação da consciência de que o aprendizado é permanente e o conhecimento na sociedade 129 contemporânea é volátil (LEITE, 2012, p. 14). O cérebro humano é uma maravilhosa máquina que transforma uma simples sensação em pensamento, é um órgão complexo, desvendado parcialmente pela ciência, composto por células nervosas e glândulas. Dentro desta complexidade é importante ressaltar as funções do encéfalo e dos neurotransmissores, o encéfalo diferente do cérebro, é um conjunto de estruturas que estão anatomicamente e fisiologicamente ligadas, são estruturas especializadas que funcionam de forma integradas, para assegurar, unidade ao comportamento humano. Possui uma constituição elaborada ao receber mensagens que informam ao homem a respeito do mundo que o cerca além de receber um permanente fluxo de sinais de outros órgãos que o capacita a controlar os procedimentos vitais do indivíduo, batimento cardíaco, a fome e a sede, as emoções, o medo, a ira, o ódio e o amor tudo iniciando no encéfalo tendo o cérebro, a parte maior e mais importante (LEITE, 2012, p. 15). Neuroeducação x neuropedagogia, tudo é educação. Tudo é aprendizado. O termo aprendizagem não é falar somente o que acontece entre paredes de sala de aula, sob o ponto de vista da neurociência, é entender que cada um de nós é único em seu conjunto e ao 130 mesmo tempo peculiar no quadro de suas capacidades e de atributos que suas múltiplas inteligências podem lhes trazer (LEITE, 2012, p. 18). Não se pode afirmar categoricamente que tal método e tal tendência é melhor ou pior, o mais importante é conhecer qual o público alvo a se atingir, suas necessidades, suas carências, o meio em que vive, sua situação econômica e social, é preciso buscar formas e métodos que possam se adequar a estes alunos uma vez que as dificuldades por eles enfrentadas os tem colocados a margem do conhecimento (LEITE, 2012, p. 19). Libâneo cita com muita propriedade que a educação antes de ser um processo de formação cultural, é um fenômeno social. A educação é um processo através do qual o indivíduo toma a história em suas próprias mãos a fim de mudar o rumo da mesma, como, acreditando no educando, na sua capacidade de aprender, descobrir, criar soluções, desafiar, enfrentar, propor, escolher e assumir as consequências de sua escolha (LEITE, 2012, p. 19). “O destino do cérebro depende de estímulos, da escola, da família e do meio ambiente, além de elementos essenciais que influenciam na aprendizagem, ambiente, idade, genética, nutrição, 131 psicológico, áreas corticais e principalmente motivação” (LEITE, 2012, p. 19). É fundamental que educadores professores, escolas, universidades, entendam que são os sentimentos que impulsionam a aprendizagem positiva ou negativamente, compreendendo que o aluno é um ser emocional que pensa, coerente com esta nova visão é importante que os mestres aprendam a "ler e entender" as emoções de seus alunos procurando lidar de forma adequada, com elas o aluno constrói através de diálogo, conhecimentos com colegas, professores e pessoas desenvolvendo competências e valores essenciais a fim de que possa viver junto à família, a sociedade e no futuro ao exigente mundo do trabalho (LEITE, 2012, p. 19 e 20). A neurociência pedagógica busca apoiar junto a outras disciplinas, o educando na direção do conhecimento pleno, a importância das atividades neuroeducacionais onde ao apontar transformação no sistema, ressalta os vínculos dos fenômenos plásticos cerebrais com o desenvolvimento do sistema nervoso (LEITE, 2012, p. 20). Ela traz em sua bagagem, mecanismos que despertam nos profissionais da educação uma motivação no desafio de ensinar, é preciso que se conheça a anatomia e a fisiologia da aprendizagem tendo no educador a função onde o encorajamento e os 132 estímulos positivos possam proporcionar sensação de segurança, otimismo e confiança ao aprendente (LEITE, 2012, p. 20). O cérebro foi evolutivamente concebido para perceber e gerar padrões quando testa hipóteses e a aprendizagem sendo uma atividade social, os alunos precisam de oportcapítulos para discutir tópicos, o professor deve propor situações em que aceite aproximações e tentativas ao gerar hipóteses e junto com a família o ambiente de estudo deve ser tranquilo, o que encoraja o estudante a expor seus sentimentos e ideias (LEITE, 2012, p. 20 e 21). Por dentro do cérebro Vejamos, a seguir, trechos de uma entrevista que a revista “Carta Fundamental” (CF) fez com Alfred Sholl-Franco, famoso pesquisador de neurociência da Universidade Federal Fluminense. CF: O que é neuroeducação? Alfred Sholl-Franco: A neuroeducação é uma área de estudo que trabalha com a interação entre a ciência cognitiva, a neurociência e a educação. Desde 2004, a sociedade internacional, que é 133 chamada de International Mind, Brain, and Education Society (Imbes), tenta entender melhor como essas grandes áreas podem contribuir para melhorar a educação. O que muitos acreditam ser apenas a neurociência ajudando a educação é na verdade um trabalho conjunto, multidisciplinar, que visa promover um melhor desenvolvimento dos recursos educacionais, tanto no que diz respeito aos processos do desenvolvimento normal quanto daqueles relacionados às falhas do desenvolvimento, problemas ou patologias. Aí se incluem também quadros patológicos que afetam o ensino-aprendizagem e a própria relação aluno-ambiente, como autismo, distúrbios de aprendizagem. O interesse maior da neuroeducação é proporcionar um melhor entendimento dos processos de ensino e de aprendizagem. Conhecendo esses processos, é possível promover sua melhora e facilitar não só o processo de aprendizagem para os alunos, mas também o processo DE ENSINO PARA OS DOCENTES. É uma coisa que não deve ficar restrita à comcapítulo acadêmica (OLIVEIRA, 2013, p. 1). CF: Então o conhecimento desses processos favorece o professor? ASF: Não só o professor, mas também o coordenador pedagógico, o diretor, todos que estão relacionados com o processo de ensino-aprendizagem. O ato de aprender está relacionado às 134 modificações no sistema nervoso decorrentes de sua exposição a novas informações e ao modo como trabalhamos o conhecimento que já possuímos, o que fazemos não apenas no ambiente escolar (OLIVEIRA, 2013, p. 2). CF: Quais avanços ou descobertas da neurociência estão ligados ao processo de ensino-aprendizagem? ASF: Atualmente existem vários estudos que ampliam o conhecimento de dificuldades de aprendizagem como discalculia, a dislexia e outros processos englobados dentro dos distúrbios de aprendizagem, como também o autismo e o TDAH. No caso do TDAH em particular, eu tenho um aluno que faz um estudo entre exergames, jogos como o Wii e o Kinect, que trabalham com o movimento corporal. Existem estudos que mostram que o trabalho físico coordenado com o trabalho mental leva a uma melhora cognitiva, uma melhora de aprendizado. Na verdade, no caso desse estudo em particular, como a criança tem de fazer uma relação entre o trabalho de corpo e tarefas exigidas, dados preliminares mostram que há uma melhora no tempo de reação, que bé o tempo que a pessoa leva para apresentar uma resposta a um estímulo sensorial. A criança com TDAH tende a se dispersar mais e a não se concentrar no objeto que ela está observando. A prática regular desses 135 jogos mostrou uma melhora no desempenho do tempo de reação e da atenção. Essa é uma maneira de você aplicar esse conhecimento como um coadjuvante na melhora atencional dessas crianças (OLIVEIRA, 2013, p. 2). Neurociência cognitiva e a nossa realidade Sobre esse tema, é interessante ver alguns parágrafos do que escreveu Roberto Muller, em artigo na revista Sociedade Brasileira de Neurociência. Uma das subdivisões do estudo da neurociência é a neurociência cognitiva que aborda os campos de pensamento, aprendizado e memória. O estudo do planejamento, do uso da linguagem e das diferenças entre a memória para eventos específicos, e a memória para a execução de habilidades motoras, são exemplos da análise ao nível cognitivo. Para Kandel, E. R., ganhador do Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina em 2000, a neurociência atual é a neurociência cognitiva, um misto de neurofisiologia, anatomia, biologia desenvolvimentalista, biologia celular e molecular e psicologia cognitiva (MULLER, s.d., p. 1). 136 A SENSAÇÃO e a PERCEPÇÃO são o ponto de partida para a pesquisa moderna dos processos mentais. John Locke e cols. sustentaram que todo conhecimento é obtido por meio da experiência sensória – daquilo que nós vemos, ouvimos, sentimos, degustamos e cheiramos. Ele propôs que, ao nascimento, a mente humana seria como uma tabula rasa, uma folha vazia onde a experiência deixaria suas marcas (MULLER, s.d., P. 1). As experiências que passamos em nossas vidas são informações que chegam ao sistema nervoso central na forma de ESTÍMULOS SENSORIAIS. O encéfalo processa essas informações procurando compará-las com outras que já estejam previamente guardadas, reconhecendo-as ou não. Esse mecanismo não envolve apenas os aspectos físicos dessa informação (cor, forma, tamanho), mas também as relacionando com os aspectos diretamente ligados aos sentimentos e emoções. Após seu processamento, um conjunto de sensações é memorizado com a informação recebida que pode ser agradável ou não (MULLER, s.d., P. 1). Cores, sons, sabores e odores são criações mentais construídas pelo encéfalo a partir da experiência sensória. Elas não existem, como tal, fora do encéfalo (MULLER, s.d., P. 2). A realidade existente ao nosso redor, no mundo exterior, é filtrada por diversos mecanismos, muitas vezes, distorcendo-os. Somente as informações que chegam a ser 137 processadas pelo nosso encéfalo é que constroem uma realidade própria, dentro da interpretação de nosso próprio sistema nervoso, sempre baseado em nossas capacidades cognitivas (MULLER, s.d., P. 2). A Realidade Objetiva é aquela intangível pela restrição perceptiva de nossos cinco sentidos. A Realidade Subjetiva é aquela resultante da assimilação dos estímulos externos filtrados pela nossa capacidade cognitiva que nem sempre corresponde à realidade objetiva e na qual orientamos nossa vida em função da mesma, tornando-se assim, plenamente mutável (MULLER, s.d., P. 3). Neurociência cognitiva: a ciência da aprendizagem e da educação José Roberto Marques explica, com clareza, qual é o objeto de estudo da neurociência cognitiva e sua relação com a aprendizagem e a educação. A Neurociência Cognitiva estuda nossa memória, os pensamentos e as formas de aprendizado. Neste processo de aquisição de conhecimentos está envolvido todo o nosso sistema sensorial, que é um dos principais responsáveis por captar todas as 138 informações do ambiente e levá-las ao nosso cérebro (MARQUES, s.d. p. 1). A Neurociência Cognitiva tem como objeto de estudo, a compreensão, na prática, sobre como a nossa mente processa as informações, como isso possibilita aprender, desenvolver e acumular conhecimentos e aperfeiçoar as múltiplas inteligências. Essa consciência dos pontos fortes e de limitação é fundamental no processo de ensino, uma vez que possibilita desenvolver modelos de aprendizado que levem em conta o processo cognitivo de cada um e com soluções adequadas a cada pessoa (MARQUES, s.d. p. 1). Dastre (2012) reforça as explicações anteriores em relação ao cérebro, às emoções e às experiências, Para a neurociência a aprendizagem é a aquisição de informações, o resultado de modificações funcionais no Sistema Nervoso Central (SNC), das conexões entre os neurônios por conta da utilização do cérebro, ou seja, a experiência é a base da aprendizagem, pois a cada experiência o cérebro responde diferentemente com relação à experiência anterior (DASTRE, 2012, p. 1). Para aprender o indivíduo conta com as suas estruturas física, psicológica e cognitiva e é preciso que haja uma integração dos fatores emocionais, 139 neurológicos, relacionais (ambiente social) e ambientais. Qualquer outro fator que influencie negativamente um dos anteriores afetará o processo de aprendizagem (DASTRE, 2012, p. 1). Atualmente a ênfase educacional está centrada na aprendizagem. O professor, antes transmissor do conhecimento, agora é um co-autor do processo de aprendizagem dos alunos, pois o conhecimento é construído e reconstruído continuamente na relação professor aluno (DASTRE, 2012, p. 1). Para que possamos aprender algo precisamos ter atenção (pré-requisito) e memória, processos fundamentais para a aprendizagem, já que ocorrem antes do processo de aprender (DASTRE, 2012, p. 1). Segundo Pantano (2009, p.23): O processo de aprendizagem necessariamente envolve compreensão, assimilação (memória), atribuição de significado e estabelecimento de relações entre o conteúdo a ser aprendido e os conteúdos a ele relacionados e já armazenados. Nessa visão cognitiva, a aprendizagem é um processamento resultante de processos cognitivos que envolvem sensação, percepção, atenção e memórias (operacional e de longo prazo). Aprendizagem e memória são as habilidades de aquisição e 140 manutenção das informações e a aprendizagem precisa se dá no momento exato em que ocorre a captação de uma informação pelas vias sensoriais, pela sua retenção e fixação pelas áreas da memória, função executada pelo córtex cerebral (DASTRE, 2012, p. 1). Para pôr em prática Leia mais sobre esse conteúdo: DASTRE, Norita M. APRENDIZAGEM SEGUNDO A NEUROCIÊNCIA COGNITIVA. Disponível em: http://lumiar- psicopedagogia.blogspot.com.br/2012/04/aprendizagem-segundoneurociencia.html. KALENA, Fernanda; KLIX, Tatiana. Atitude melhora nota em português e matemática. Disponível em: http://porvir.org/porcriar/carater-melhora-nota-em-portuguesmatematica/20140325. MARQUES, José Roberto. Neurociência Cognitiva: A Ciência da Aprendizagem e da Educação. Disponível http://www.ibccoaching.com.br/tudo-sobre-coaching/coaching-epsicologia/neurociencia-cognitiva-a-ciencia-da-aprendizagem-e-daeducacao/. em: 141 A escola sem significado Este é um dos maiores problemas da educação brasileira. pedagógicos, Implica em métodos, currículos, técnicas, projetos metodologia, formação de professores e avaliação. Vejamos alguns comentários de autores sobre este problema: As queixas são conhecidas: o aluno não tem interesse pela aula, não quer saber da escola, agride - física ou psicologicamente - o professor. O resultado é um docente estressado, que só pensa em sobreviver até o final do dia. O cenário, realidade em muitas escolas, é sintoma de uma mesma causa, na avaliação do professor e pesquisador Fábio Villela: a escola deixou de ser significativa para professores e alunos (HOLANDA, 2013, p. 1). [...] Fábio acredita que nenhuma teoria cognitivista ajudou "a salvar a educação nacional" porque as respostas não estão todas no cognitivismo. "Eu acho que, para fazer com que a cabeça cognitiva do aluno funcione, são mais importantes 142 vínculo, empatia e relação (HOLANDA, 2013, p. 1). [...] juntamente com a professora de psicologia da Faculdade de Educação da Unicamp, Ana Archangelo, estão estabelecidas as bases de uma escola que seja "por um lado, extremamente importante para o aluno, e que por outro o ajude a ampliar o campo de significação das suas experiências" (HOLANDA, 2013, p. 1). Há vários outros artigos que tratam da aprendizagem significativa. Entre os grandes pesquisadores desse assunto é David Ausubel. A seguir excertos do artigo “Aprendizagem significativa: um conceito subjacente” extraído do site http://www.if.ufrgs.br/~moreira/apsigsubport.pdf. Atualmente, as palavras de ordem são aprendizagem significativa, mudança conceitual e construtivismo. Um bom ensino deve ser construtivista, promover a mudança conceitual e facilitar a aprendizagem significativa. É provável que a prática docente ainda tenha muito do behaviorismo, mas o discurso é cognitivista/construtivista/significativo. Quer dizer, pode não ter havido, ainda, uma verdadeira mudança conceitual 143 nesse sentido, mas parece que se está caminhando em direção a ela. Segundo Ausubel, Aprendizagem significativa é o processo através do qual uma nova informação (um novo conhecimento) se relaciona de maneira não arbitrária e substantiva (não - literal) à estrutura cognitiva do aprendiz. É no curso da aprendizagem significativa que o significado lógico do material de aprendizagem se transforma em significado psicológico para o sujeito. Para Ausubel (1963, p. 58), a aprendizagem significativa é o mecanismo humano, por 1. Em Moreira, M.A., Caballero, M.C. e Rodríguez, M.L. (orgs.) (1997). Actas del Encuentro Internacional sobre el Aprendizaje Significativo. Burgos, España. pp. 19 - 44. excelência, para adquirir e armazenar a vasta quantidade de ideias e informações representadas em qualquer campo de conhecimento. Não - arbitrariedade e substantividade são as características básicas da aprendizagem significativa. Não – arbitrariedade quer dizer que o material potencialmente significativo se relaciona de maneira não - arbitrária com o conhecimento já existente na estrutura cognitiva do aprendiz. Ou seja, o relacionamento não é com qualquer aspecto da estrutura 144 cognitiva, mas sim com conhecimentos especificamente relevantes, os quais Ausubel chama subsunçores. O conhecimento prévio serve de matriz ideacional e organizacional para a incorporação, compreensão e fixação de novos conhecimentos quando estes “se ancoram” em conhecimentos especificamente relevantes (subsunçores) preexistentes na estrutura cognitiva. Novas ideias, conceitos, proposições, podem ser aprendidos significativamente (e retidos) na medida em que outras ideias, conceitos, proposições, especificamente relevantes e inclusivos estejam adequadamente claros e disponíveis na estrutura cognitiva do sujeito e funcionem como pontos de “ancoragem” aos primeiros. Substantividade significa que o que é incorporado à estrutura cognitiva é a substância do novo conhecimento, das novas ideias, não as palavras precisas usadas para expressá-las. O mesmo conceito ou a mesma proposição podem ser expressos de diferentes maneiras, através de distintos signos ou grupos de signos, equivalentes em termos de significados. Assim, uma aprendizagem significativa não pode depender do uso exclusivo de determinados signos em particular (op. cit. p. 41). Aprendizagem significativa é aquela relacionada às necessidades de conhecimento e 145 necessidades afetivas dos estudantes. As atividades propostas aos estudantes devem ser possíveis de serem executadas por eles. Como cada aluno é diferente um do outro, é necessário programar atividades personalizadas, para atender o que cada um gosta de aprender, tem necessidade de aprender e é capaz de aprender. Vejamos o que concluíram alguns pesquisadores de renome sobre o assunto: O ensino significativo tende a ser pensado como aquele que se ajusta às necessidades cognitivas e afetivas do aluno. Tal ensino seria uma das precondições para o aprendizado efetivo, consistente e amplo do aluno, ou seja, um ensino com determinadas características poderia efetivar aquilo que se propõe: a realização plena de seu comportamento, o aprendizado do aluno. Nesse sentido, o ensino significativo seria entendido como aquele que promove a aprendizagem significativa, em oposição à aprendizagem mecânica, desarticulada, sem sentido ou mesmo descartável (VILELA; ARCHANGELO, 2014, p. 65). Para muito educadores inspirados nesse autor (Piaget), a ideia de que é 146 necessário partir da realidade da criança é entendida aqui em termos cognitivos: não se devem oferecer à criança matérias, exercícios, e desafios para os quais ela não esteja preparada do ponto de vista do desenvolvimento do seu pensamento. Nesse sentido, o ensino deve ser progressivo, ou ao menos aberto, permitindo que crianças em diferentes momentos do desenvolvimento do seu pensamento possam tirar proveito daquilo que lhes é ensinado ou daquelas situações amplas que lhes são propostas, a partir da estrutura cognitiva que já teriam sido capazes de desenvolver (VILELA; ARCHANGELO, 2014, p. 66). Para alguns autores, como David Ausubel (1978), a aprendizagem significativa depende de um vínculo entre o conteúdo que a escola apresenta ou ensina à criança e o conjunto de referências conceituais que a criança já possui. Contrariamente, seria não significativo o ensino cujo conteúdo não se vincula aos conceitos constituídos pela criança em suas experiências prévias – ou que se vincula muito precária ou indiretamente a elas. Aqui, como na abordagem anterior, há uma ideia de estrutura, na qual as diversas informações e as sínteses sobre ela se articulam. Tais articulações são possíveis porque uma informação ou um conceito já incorporado tem alguma proximidade lógica com uma informação ou conceito novo, servindolhe de “sustentáculo” interno. Assim, 147 formam-se blocos ou redes de significado que interligam e articulam conceitos. (VILELA; ARCHANGELO, 2014, p. 67). O modelo de David Ausubel (Novak, 1981) pensa a estrutura com base na articulação de conteúdos e conceitos, e não em formas lógicas gerais. Justamente por não atribuir esse caráter geral à estrutura cognitiva, não encontra dificuldades em explicar por que a forma de pensar de uma criança pode ser tão diversa em domínios diversos, bem como por que a criança pode apresentar grandes dificuldades de aprendizagem em certos domínios e não em outros. Isso, contudo, não encerra o debate sobre tais questões complexas e controversas (VILELA; ARCHANGELO, 2014, p. 68). Nessa abordagem a ideia de que o ensino deve partir da realidade da criança é entendida, portanto, como “o ensino deve partir do que a criança já sabe”, em termos de conteúdos e experiências previamente incorporados pela criança e que podem ser interligados, de alguma forma, ao conhecimento novo apresentado ou vivenciado por ela (VILELA; ARCHANGELO, 2014, p. 68). 148 Escolas preparam futuros desempregados Este é o título de uma entrevista feita pela repórter Paula Costa Bonini com o pedagogo Hamilton Werneck publicado na Folha de Londrina em 24 de setembro de 2009. Hamilton Werneck é escritor, autor de 26 livros, entre os quais o intitulado: “Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo”. Fiz um extrato das afirmações mais importantes de sua entrevista. As ideias dele, apresentadas no jornal, são bem claras. Portanto, deixo de fazer as ligações e comentários sobre elas. Para Hamilton Werneck, que é pedagogo, conferencista e escritor, o papel da escola não deve se limitar a aprovar aluno. É preciso ir além, oferecendo meios para desenvolver a criatividade e aguçar o senso crítico. Ele defende a escola empreendedora e a interdisciplinaridade, e afirma que atualmente os estudantes são meros repetidores, não sendo preparados para o mercado de trabalho. 149 Ele afirma que: “[...] Em grego, escola é o lugar do sonho, da criatividade, onde você pode imaginar. Não existe nenhum empreendimento sem imaginação. [...]” “O modelo atual da escola prepara futuros desempregados. O aluno não movimenta a imaginação. Muitas vezes o que eles aprendem não tem significado. [..]” “Se o aluno não enxergar o significado ele não aprende. [...]” As propostas de mudança vêm há muito tempo. Antes da década de 1960, um canadense propôs o aprendizado significativo. O ser humano só guarda as coisas que têm significado para ele. Sendo assim, se o ensino não tem significado não serve para nada. O aluno pode até guardar algo em sua memória para fazer a prova e passar de ano, mas não para utilizar na vida. Uma pessoa que passa pela escola e não leva nada dela terá dificuldades para construir a sua vida profissional. Existe uma segmentação. O mundo do trabalho é uma coisa e o da escola é outra. [...] É preciso quebrar a visão cartesiana de que são mundos diferentes e procurar fazer com que as 150 pessoas aprendam na escola o conteúdo de maneira que tenha significado e seja contextualizado. Não é uma coisa difícil de fazer. O professor precisa ter em mente que o aluno só aprende quando encontra significado no conteúdo ensinado. Sim, pois vai ser uma pessoa que pensa, reflete, projeta, imagina. Apenas repetir o que está no quadro e na apostila não aguça o senso crítico dos alunos. [...] A Lei de Ensino de 1996 já propõe que é necessário desenvolver temas transversais. A interdisciplinaridade é necessária. Emoções, sentimento, afeto Os neurônios–espelho É ainda Fioravante (2013) que expõe, com muita clareza, a conceituação das emoções, como elas funcionam, a importância e como estimular os neurônios-espelho. Vejamos o que ela escreve, I – O que são? Um tipo especial de neurônio que reflete o mundo exterior e interioriza as ações percebidas e imitadas pela visão; pela audição, por gestos ou pela intenção do observado. Os neurôniosespelho fornecem uma experiência interna direta – a compreensão dos atos, intenção, emoção de outra 151 pessoa. São responsáveis pela capacidade de imitação e pela incorporação de hábitos e comportamentos, desde o nascimento. IMPORTANTE: Os autistas apresentam distúrbios nos neurôniosespelho, conforme pesquisas da Neurociência, embora não se saiba a causa (Revista Mente e Cérebro, nº181, p. 25. In: FIORAVANTE, 2013, p. 1). II – Como funcionam? Existem em todo o cérebro e são mais bem acionados diante de uma situação ou atividades significativas. Ex: Os neurônios-espelho são mais ativados, quando vê alguém colocar alimentos na boca, do que se vê colocando em uma vasilha. Daí, eles são estimulados pelas necessidades básicas, pelo nível de desenvolvimento ou pela motivação - a imitação é um processo de internalização nas ações vitais ao ser humano (comer, dormir, sorrir, falar, andar, etc.) – compreensão do objetivo e da intenção. · A ação é representada no cérebro como se a própria pessoa realizasse a comunicação. Isto acontece por empatia e é fator da reversibilidade. Ex: Ver alguém apanhar uma flor e cheirá-la produz estimulação das áreas motoras; do olfato; do apanhar e cheirar, juntamente com a compreensão do prazer e da alegria da pessoa observada. Também ver alguém chorar estimula as lágrimas; o 152 aperto no coração; produz a compreensão da dor, a empatia, a cooperação, etc. III – A importância da imitação no processo de humanização É o meio mais direto para aprender, bem como transmitir hábitos, habilidades, a linguagem e a cultura: a genética só dá a estrutura; o meio é que determina o desenvolvimento humano em sua maior parte. É mais eficaz quanto mais significativa, clara, bem realizada. dosada. É necessário integrar os sentidos, os movimentos e a interpretação das ações, a memorização, produzindo o aprendizado e generalização pelo desenvolvimento dos processos mentais básicos e os superiores. IV – Como estimulá-los: Desde o nascimento (e, sobretudo de 0 – 6 anos) é necessário: observar e estimular situações de imitações e de repetições (pegar, ativar, soltar, manipular, puxar, colocar, buscar, etc.). Observar a compreensão de intenções (sorriso, desaprovação, fala alimento, estimular, banho e brinquedo). Possibilitar desde o primeiro ano situações de imitações pelo faz de conta, histórias, dramatizações, cantigas de roda, poesias com fatos simples, pequenas frases lógicas e emoções, relacionadas com o que se 153 deseja ensinar – paridade de significações para o professor e o aluno. Garantir as conexões entre ação, intenção, compreensão do comportamento humano, ou seja, pensar sobre os outros e sobre si mesmo. (Nos autistas, há distúrbios na atuação dos neurônios-espelho na imitação, no comando motor das ações, na apreensão das visões dos outros, na falta da comunicação das emoções e compreensão de ações ou intenções – pela falta de percepção do rosto humano, segundo a Neurociência). É preciso que haja um trabalho de integração dos sentidos com linguagem (várias áreas diferentes) e estas com as áreas de interpretação (motora, sensoriais, da linguagem) utilizando atividades manipulativas de acordo com interesses, buscando a integração visual, auditiva, motora, fala leitura, etc. através de informações sensoriais, compreensão da linguagem, movimentos, percepções e emoções (Revista Mente e Cérebro, nº181, p. 25. In: FIORAVANTE, 2013, p. 1 e 2). O papel pedagógico dos neurôniosespelho Segundo os pesquisadores, os neurônios-espelho são essenciais na 154 vida humana para realizar atividades diárias através da imitação. Também os neurônios-espelho estão relacionados a capacidade de sentir o que o outro sente e de perceber a intencionalidade do outro. É necessária, desde o nascimento, a formação de hábitos, higiene, regularidades no dia a dia, além da imitação sistematizada, o brinquedo, o faz-de-conta pode ser estimulação para os neurônios-espelho, desde o andar até o lidar com objetos e pessoas. Ao portador de TDAH é necessário um trabalho mais intenso e sistematizado de ações positivas de outrem, de avaliações de seus atos; das regras estabelecidas, para que ele consiga espelhar-se no outro e começar a repensar e agir de uma forma mais positiva o que irá estimulá-lo a repetir esse comportamento. Os neurônios-espelho são células especializada, distribuídas por todo o cérebro, cuja função é determinar a outros neurônios e os órgãos que realizam as ações como os músculos e o coração; as mãos enfim o corpo para repetir comportamentos (Revista Mente e Cérebro, nº181, p. 25. In: FIORAVANTE, 2013, p. 6 e 7). Em consequência do processamento de uma fantástica quantidade de informações, a atividade integrada dos neurônios determina e modula o comportamento dos indivíduos e isto ocorre pela repetição de atos e situações agradáveis e necessárias à sobrevivência. Por outro lado, os 155 neurônios-espelho contribuem na estruturação da memória, que sem dúvida, guarda o que é mais significativo. Na medida em que haja atividades organizadas de acordo com a idade da criança, com jogos educativos, dramatizações, danças etc, como parte do currículo escolar, será possível estimular os neurônios-espelho de modo positivo, o que normalmente, não ocorre no ambiente escolar (Revista Mente e Cérebro, nº181, p. 25. In: FIORAVANTE, 2013, p. 7). O cérebro e o processo de aprendizagem em rede O texto da Flávia Fioravante (2013) é tão interessante que não podemos deixar de aproveitá-lo ao máximo. Abaixo, ela faz a relação entre o cérebro e a aprendizagem. Vejamos: Segundo a neurociência, o cérebro é uma rede complexa de 100 bilhões de neurônios com cerca de 100 trilhões de conexões que desencadeia todas as ações humanas, físicas, sejam emocionais, mentais e espirituais. O período de maturação dos neurônios ocorre entre 0 -3 anos e amadurecem sobretudo até os 10 anos, aumentando as sinapses até a adolescência. Até os 156 30 anos, essas sinapses se desenvolvem em ritmo mais lento, de acordo com as condições e a estimulação dos neurônios até o final da vida. Assim, o cérebro se altera quando aprende algo, ou seja, quando compreende e sabe fazer. É importante que os pais e professores saibam que o cérebro funciona em rede, com áreas e funções responsáveis pelas percepções e sensações, pela memória, pelas emoções, pela linguagem e todas as ações internas e externas. Essas conexões serão mais eficientes e duradoras se forem compreendidas e relacionadas às experiências e aos conhecimentos de quem aprende, ou seja, de acordo com os interesses e a condição do aprendiz. Quanto mais a criança experimentar, manipular, realizar ações concretas, melhor serão construídos os conceitos necessários à compreensão e expressão de ideias, sequência lógica, relações de causa e feitos, de lugar; tempo; finalidade etc. (Revista Mente e Cérebro, nº181, p. 25. In: FIORAVANTE, 2013, p. 2). E isto se comprova nas cartografias cerebrais produzidas por Wilder Penfield. Ele mostra que nos 2 hemisférios do cérebro predominam as áreas das mãos, pés, boca: a manipulação e as atividades psicomotoras são imprescindíveis no desenvolvimento do cérebro e para a aquisição da língua, dos conceitos e conteúdos a serem aprendidos . 157 As descobertas sobre neurônios espelho e os neurônios grade confirmam que a imitação de modelos e a compreensão do espaço-tempo são as bases da aprendizagem. Por isso, desde a infância de acordo com o amadurecimento psicofísico da criança, devem ser priorizadas as imitações de hábitos da vida diária, de descobertas com jogos, estórias, dramatizações etc. Pela imitação a criança estabelece as semelhanças e diferenças em si, nos objetos e no mundo; assimila os hábitos de higiene, as atividades de vida diária ( sono, repouso, alimentação etc) e incorpora regras de comportamento. Isto é essencial para a formação de sua identidade e o desenvolvimento socioemocional harmonioso. A imitação regular e adequada; as atividades de localizações, a organização do espaço, favorecem a memória significativa e o desenvolvimento mental: não há uma verdadeira aprendizagem sem uma boa memória. Para isto, é necessária uma estimulação integrada, regular e motivadora das percepções, sensações, da memória e da linguagem, pois estas funções do cérebro estão em áreas e locais diferentes e ainda são pouco conhecidos. Por exemplo: a linguagem apresenta várias áreas nos 2 hemisférios,( mais ou menos 60 ) e há áreas específicas para a fala; para a leitura; para a prosódia ( correspondência/fala); para a sintática ( organização das frases); para a 158 escrita ( correspondência fonema/grafema); para a morfologia e para a ortografia ( escolha da letra certa) e para a semântica (significado das palavras). Nas pesquisas, ficou demonstrado que a função semântica preside as outras, ou seja, é preciso compreender para falar, escrever, ler ou realizar com sucesso qualquer operação cognitiva e comportamento. Sistematicamente devem ser estimuladas as conexões entre os neurônios onde os estímulos elétricos facilitados pelo interesse e ação motivadora de quem aprende. Segundo a neurociência o interesse desencadeia vários neurotransmissores que mantêm e estimula a aprendizagem os mais importantes são: - Serotonina – produz a sensação de prazer e interesse e mantém o esforço necessário para aprender cada vez mais. - Dopamina – mantém a atenção e a concentração. - Endorfinas – mantém a alegria e o bem-estar proporcionado pela aprendizagem, além de ajudar na superação das frustrações e sofrimentos. Para que tais conexões ocorram com sucesso é necessário que o cérebro possa ser alimentado pelo oxigênio (respiração) e a glicose (nível físico).. O alimento cognitivo se constitui na disciplina da atenção e concentração estimulando e mantendo a percepção, memória e raciocínio Este é o trabalho pedagógico do Ioga Integral na 159 Educação - a essência do Projeto MELP. Os Centros de Interesse são projetos que oferecem desafios, problemas e conhecimentos adequados à idade e interesse do aprendiz. De acordo com a neurociência o Ensino Básico deveria se estruturar em 2 eixos: 1º- Desenvolver na criança a capacidade de representação, recreação e manutenção do que aprendeu, pela educação dos sentidos, da memória, percepção, atenção etc., pelo uso de várias linguagens e pela integração das atividades. 2º- Desenvolver a capacidade de abstração (formar conceitos) e desenvolver as funções cognitivas, tais como: compreensão / discriminação / reconhecimento / simbolização / generalização /transferência / adaptação /a modificação / substituição / criação /, etc. - um processo de construção da aprendizagem por estruturas. A ação pedagógica deverá, pois, articular estruturalmente as áreas essenciais do desenvolvimento humano dosando a psicomotricidade ( mais de 1 a 6 anos); a linguagem (+ de 6 a 8 anos); a representação (de 8 a 11 anos) e a conceituação (de 11 a 15 anos). Isto que é realizar a verdadeira educação de qualidade, abrindo todas as potencialidades de um Ser Humano livre e feliz (Revista Mente e Cérebro, nº181, p. 25. In: FIORAVANTE, 2013, p. 2 e 3). 160 Emoções Sobre as emoções, muitas pesquisas estão sendo feitas atualmente. Elas estão revolucionando a educação. Um dos renomados pesquisadores dessa área é Daniel Goleman que escreveu um livro intitulado “Inteligência Emocional: por que ela pode ser mais importante que o QI”. Como eu havia dito, anteriormente, as emoções é o combustível do homem. Sem elas, não haverá ações significativas. Vejamos alguns trechos do livro aqui citado: Em nosso repertório emocional, cada emoção desempenha uma função específica, como revelam suas distintas assinaturas biológicas (ver detalhes sobre emoções “básicas” no Apêndice A). Diante das novas tecnologias que permitem perscrutar o cérebro e o corpo como um todo, os pesquisadores estão descobrindo detalhes fisiológicos que permitem a verificação de como diferentes tipos de emoção preparam o corpo para diferentes tipos de resposta: Na raiva, o sangue flui para as mãos, tornando mais fácil sacar da arma ou golpear o inimigo; os batimentos cardíacos aceleram-se e uma onda de hormônios, a adrenalina, entre outros, 161 gera uma pulsação, energia suficientemente forte para uma atuação vigorosa. No medo, o sangue corre para os músculos do esqueleto, como o das pernas, facilitando a fuga; o rosto fica lívido, já que o sangue lhe é subtraído (daí dizer-se que alguém ficou “gélido”). Ao mesmo tempo, o corpo imobiliza-se, ainda que por um breve momento, talvez para permitir que a pessoa considere a possibilidade de, em vez de agir, fugir e se esconder. Circuitos existentes nos centros emocionais do cérebro disparam a torrente de hormônios que põe o corpo em alerta geral, tornando-o inquieto e pronto para agir. A atenção se fixa na ameaça imediata, para melhor calcular a resposta a ser dada. A sensação de felicidade causa uma das principais alterações biológicas. A atividade do centro cerebral é incrementada, o que inibe sentimentos negativos e favorece o aumento da energia existente, silenciando aqueles que geram pensamentos de preocupação. Mas não ocorre nenhuma mudança particular na fisiologia, a não ser uma tranquilidade, que faz com que o corpo se recupere rapidamente do estímulo causado por emoções perturbadoras. Essa configuração dá ao corpo um total relaxamento, assim como disposição e entusiasmo para a execução de qualquer tarefa que surja e para seguir em direção a uma grande variedade de metas. 162 O amor, os sentimentos de afeição e a satisfação sexual implicam estimulação parassimpática, o que se constitui no oposto fisiológico que mobiliza para “lutar-ou-fugir” que ocorre quando o sentimento é de medo ou ira. O padrão parassimpático, chamado de “resposta de relaxamento”, é um conjunto de reações que percorre todo o corpo, provocando um estado geral de calma e satisfação, facilitando a cooperação. O erguer das sobrancelhas, na surpresa, proporciona uma varredura visual mais ampla, e também mais luz para a retina. Isso permite que obtenhamos mais informação sobre um acontecimento que se deu de forma inesperada, tornando mais fácil perceber exatamente o que está acontecendo e conceber o melhor plano de ação. Em todo o mundo, a expressão de repugnância se assemelha e envia a mesma mensagem: alguma coisa desagradou ao gosto ou ao olfato, real ou metaforicamente. A expressão facial de repugnância – o lábio superior se retorcendo para o lado e o nariz se enrugando ligeiramente – sugere, como observou Darwin, uma tentativa primeva de tapar as narinas para evitar um odor nocivo ou cuspir fora uma comida estragada. Uma das principais funções da tristeza é a de propiciar um ajustamento a uma grande perda, como a morte de alguém ou uma decepção significativa. A tristeza acarreta uma perda de energia 163 e de entusiasmo pelas atividades da vida, em particular por diversões e prazeres. Quando a tristeza é profunda, aproximando-se da depressão, a velocidade metabólica do corpo fica reduzida. Esse retraimento introspectivo cria a oportcapítulo para que seja lamentada uma perda ou frustração, para captar suas consequências para a vida e para planejar um recomeço quando a energia retorna. É possível que essa perda de energia tenha tido como objetivo manter os seres humanos vulneráveis em estado de tristeza para que permanecessem perto de casa, onde estariam em maior segurança (GOLEMAN, 2007, p. 32 e 33). “Que é Emoção?” “[...] Alguns teóricos propõem famílias básicas, embora nem todos concordem com elas. Principais candidatas e alguns dos membros de suas famílias: Ira: fúria, revolta, ressentimento, raiva, exasperação, indignação, vexame, acrimônia, animosidade, aborrecimento, irritabilidade, hostilidade e, talvez no extremo, ódio e violência patológicos. Tristeza: sofrimento, mágoa, desânimo, desalento, melancolia, autopiedade, solidão, desamparo, desespero e, quando patológica, severa depressão. Medo: ansiedade, apreensão, nervosismo, preocupação, consternação, cautela, escrúpulo, 164 inquietação, pavor, susto, terror e, como psicopatologia, fobia e pânico. Prazer: felicidade, alegria, alívio, contentamento, deleite, diversão, orgulho, prazer sensual, emoção, arrebatamento, gratificação, satisfação, bom humor, euforia, êxtase e, no extremo, mania. Amor: aceitação, amizade, confiança, afinidade, dedicação, adoração, paixão, ágape. Surpresa: choque, espanto, pasmo, maravilha. Nojo: desprezo, desdém, antipatia, aversão, repugnância, repulsa. Vergonha: culpa, vexame, mágoa, remorso, humilhação, arrependimento, mortificação e contrição” (GOLEMAN, 2007, p. 303). Estas são as características das emoções: A mente emocional é muito mais rápida que a racional, agindo irrefletidamente, sem parar para pensar. Essa rapidez exclui a reflexão deliberada, analítica, que caracteriza a mente racional. No curso da evolução humana, essa agilidade, muito provavelmente, teve como objetivo exclusivo à mais básica decisão: o que merecia a nossa atenção e, uma vez vigilantes, quando, por exemplo, ao enfrentarmos um animal, decidir, em frações de segundos: eu como isso ou isso me come? As espécies que não foram capazes de uma reação imediata tiveram pouca probabilidade de deixar 165 uma progênie que passasse adiante seus lentos genes de atuação (GOLEMAN, 2007, p. 305). As ações desencadeadas pela mente emocional carregam uma forte sensação de certeza, que é um subproduto de um tipo de comportamento bastante simplificado, de encarar determinadas coisas que, para a mente racional, são intrigantes. Quando a poeira assenta, ou mesmo durante a reação, aí pensamos: “Por que fiz isso?” – este é o sinal de que a mente racional percebeu o que aconteceu, mas não com a agilidade da mente emocional (GOLEMAN, 2007, p. 305). A mente emocional possui uma lógica associativa; elementos que simbolizam uma realidade ou que de alguma forma lembrem essa realidade são, para a mente emocional, a própria realidade. É por isso que símiles, metáforas e imagens têm comunicação direta com a mente emocional, e também a arte – romances, filmes, poesia, música, teatro, ópera. Grandes mestres espirituais, como Buda e Jesus, falaram ao coração de seus discípulos através da linguagem da emoção, ensinando por parábolas, fábulas e contos. Na realidade, o símbolo e o rito não fazem muito sentido do ponto de vista racional; são representações vernaculares de acesso ao coração (GOLEMAN, 2007, p. 307 e 308). 166 Para pôr em prática Leia mais sobre esse conteúdo: GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional: A teoria revolucionária que define o que é ser inteligente. Rio de Janeiro. Objetiva, 2007. KALENA, Fernanda. Rede canadense insere socioemocionais no currículo. Disponível em: http://porvir.org/porfazer/rede-canadense-inseresocioemocionais-curriculo/20140402. O cérebro e a linguagem Temos imensidade de formas de linguagem: são as palavras (faladas e escritas), movimentos, símbolos, sinais, pinturas e imagens (estáticas e dinâmicas). As palavras escritas pela humanidade foram surgindo aos poucos. O número de palavras para representar objetos, fatos, situações, emoções e formar conceitos foi se ampliando no decorrer da história. 167 A escrita, muito recentemente, está sendo substituída por imagens estáticas e dinâmicas (pinturas, fotos, cinema, vídeos e outras). Imagine, nós nos comunicarmos sem palavras. O estudo sobre a linguagem se chama linguística. É uma ciência que os pedagogos e educadores devem conhecer bem, para poder exercer melhor sua função. Vejamos rapidamente alguma coisa sobre o cérebro e a formação da linguagem. “A linguagem e a formação de conceitos: Como pensamos?” O pensamento e a linguagem se formam e se desenvolvem basicamente pela articulação das áreas e funções do cérebro integradas às áreas de linguagem: tudo o que é pensável depende do uso de uma linguagem, em suas diversas formas de expressão: é isto que caracteriza uma determinada cultura e sua evolução. Daí, a importância do trabalho educacional para estimular tais conexões que se dão em rede e tem uma complexidade, ainda não desvendada pela ciência atual. Entretanto, podemos dizer que no ensino da língua como suporte para este desenvolvimento é essencial: quanto melhor a aprendizagem da língua maior será a riqueza vocabular e conceitual, maior o desenvolvimento 168 cognitivo e consequentemente, melhor aprendizagem. Ora, a aprendizagem da língua é complexa e depende de diversas áreas/funções do cérebro que resultam na organização lógica do pensamento. Assim, a linguagem é elaborada por associação/estruturação dinâmica dos símbolos logicamente ordenados e socialmente compartilhados pela linguagem oral e escrita, verbal ou não verbal. Por isso é necessário que haja um trabalho sistematizado e regular no ensino da língua para desenvolver as estruturas neuronais das áreas do cérebro que coordenam , integram , compensam, combinam, guardam ou excluem progressivamente várias redes de percepções, reações e ações de acordo com o maior ou menor significado (aspecto semântico); maiores e melhores lembranças. Desse modo qualquer aprendizagem significativa dinamiza uma rede de neurônios em funções (linguagem, audição, tato , olfato, visão , movimentos, sensações etc) que se integram em áreas de associações de interpretação que produzem comportamentos, garantem a compreensão , e consequentemente, a memorização ativa e a aprendizagem. É necessário a estimulação integrada, regular e motivadora, com vários recursos concretos e atividades lúdicas na fase inicial, + ou – até os 7 anos, dosando aos poucos recursos semi concretos e representativos, de acordo com os interesses da criança. 169 Assim, as conexões amadurecem e desenvolvem mais nos primeiros anos até a adolescência. Quanto mais situações concretas e sistematizadas ocorram, utilizando o corpo, mais efetiva será a aprendizagem: os mapas cerebrais mostram no cérebro, a predominância relevante das áreas das mãos, pés e boca nos 2 hemisférios : o aprender a fazer ativa ainda mais o cérebro – é ele quem vê, fala, ouve, movimenta-se, compreende e faz. Segundo a neurociência, a estrutura genética fornece apenas o equipamento básico do corpo e da mente – as interações com o meio é que desenvolvem e mudam a configuração do cérebro. Isso será mais intenso nos primeiros anos até a adolescência e continua por toda a vida, desde que haja uma regularidade na educação dos sentidos, na respiração consciente. Assim, as atividades de percepção visual, auditiva, tátil e olfativa, com música, ritmo e todas as formas de expressão artística, devem constituir um programa para formar hábitos saudáveis de vida e de estudo pois melhora a aprendizagem e a auto estima, facilitando a assimilação de conceitos; a generalização e a aplicação dos conhecimentos pelo uso competente da linguagem e de outras formas de expressão (Revista Mente e Cérebro, nº181, p. 25. In: FIORAVANTE, 2013, p. 4). 170 Outras informações sobre cérebro e linguagem você já viu anteriormente e verá adiante. Você pode pesquisar no Google, colocando como palavras-chave os próprios itens da ementa. Síntese Vimos neste capítulo, que o processo de aprendizagem é complexo porque envolve vários fatores internos e externos, mas ciências como a Neurociência mostram que a ação pedagógica deverá articular estruturalmente as áreas essenciais do desenvolvimento humano dosando a psicomotricidade ; a linguagem ; a representação e a conceituação para que o processo de aprendizagem ocorra, desenvolvendo, assim, habilidades requeridas para os diferentes contextos sociais. 171 Saiba mais Leia mais sobre esse conteúdo: BONINI, Paula Costa. Escolas preparam futuros desempregados. Folha de Londrina, 24 de setembro de 2009. LEÂO, Silvana. Os alunos são do século 21 e o modelo é do século 19. Folha de Londrina, 13 de julho de 2014, p. 3. FARIAS, Antônio Carlos de. Abordagem Neurológica dos Distúrbios Comportamentais na Infância. Disponível em: http://www.neuropediatria.org.br/index.php?option=com_content&vi ew=article&id=106:abordagem-neurologica-dos-disturbioscomportamentais-na-infancia-&catid=62:disturbio-decomportamento&Itemid=147. MULLER, Roberto. In: KANDEL, E.R. et al.- Principles of Neural Science. 4ª ed. Neurociência cognitiva e a nossa realidade. Disponível em: http://www.sbneurociencia.com.br/drrobertomuller/artigo1.htm. BLOG DO LUCA. Henri Wallon, psicólogo para o século XXI. Disponível em: http://blogdoluca.com/psicologia/2012/artigo-henriwallon-psicologo-para-o-seculo-xxi/. SANTAFÉ, Martinho. Administrar a emoção é mais difícil que gerenciar uma grande empresa. Disponível em: http://www.visaosocioambiental.com.br/site/index.php?option=com_ content&task=view&id=62&Itemid=66 172 CAPÍTULO III Neurodidática Introdução A neurodidática nada mais é do que didática que respeita as novas descobertas sobre o processo de aprendizagem. É uma variante das neurociências que investiga como ocorre o processo de aprendizagem, observando-se os princípios das neurociências. Já sabemos que o professor não deve mais “dar aula”, pois o agente da aprendizagem é o estudante. A neurodidática está, também, recebendo o nome de neuroaprendizagem, ou neurociência cognitiva. Maria Irene Maluf apresenta alguns fundamentos para essa ciência, A cognição é um processo mental que não depende da hereditariedade ou idade, é extremante flexível e tem por base os processos envolvidos na atenção e memória, processos perceptivos, simbólicos e conceptuais 173 que nos permitem formar conceitos, resolver problemas, raciocinar, expressar pensamentos, de maior ou menor complexidade e ainda criar, entre outras habilidades que só o Homem é capaz, já que é dotado de um sistema nervoso passível de captar, extrair, integrar, armazenar, combinar, elaborar, planificar e comunicar a informação e ainda revelar tudo isso na forma de novos comportamentos (MALUF, 2013, p. 1). Entretanto, para se desenvolver, a cognição não prescinde das experiências constantes da criança com o meio que a cerca. E quanto mais cedo e melhor for a qualidade dessas trocas ambientais, melhor será a cognição e portanto, a aprendizagem. A falta de estimulação das funções cognitivas nos primeiros anos de vida determina inúmeros e comprovados prejuízos no aprender (MALUF, 2013, p. 1). Sobre isso, ANDERSEN’S comenta: O neuropedagogo é o profissional que vai integrar à sua formação pedagógica o conhecimento adequado do funcionamento do cérebro, para melhor entender a forma como esse cérebro recebe, seleciona, transforma, memoriza, arquiva, processa e elabora todas as sensações captadas pelos diversos elementos sensores para, a partir desse entendimento, poder adaptar as metodologias e técnicas 174 educacionais a todas as crianças e, principalmente, àquelas com características cognitivas e emocionais diferenciadas (ANDERSEN´S, 2011, p. 1). Este capítulo vai apresentar, em termos bem práticos, os fundamentos, os métodos, as técnicas e as estratégias princípios da para serem neurodidática implementados os no de processo aprendizagem. Os métodos e as técnicas é o ponto fundamental para a melhoria da qualidade da educação. É o que mais fácil e rapidamente pode ser mudado e melhorado. Para isso, basta que os professores consigam fazer alterações em seu cérebro para desaprender o que está superado em termos científicos. Desaprender deve ser um objetivo estratégico para que se possa inovar. Sobre isso, é interessante conhecer os resultados de uma pesquisa concluída recentemente por um pesquisador brasileiro, comentada pelo Dr. Claudio de Moura Castro, na Revista Veja de 24 de 175 maio de 2014, p. 24, Edição: 2375, ano 47, nº 22, com o título “Mexíveis e imexíveis”. No artigo, ele faz uma análise dos problemas da educação brasileira, apontando causas e soluções. Ele comenta que a saída mais rápida que ele encontra para resolver os problemas da educação brasileira é melhorar os métodos e técnicas da educação. As demais só seriam possíveis em médio e longo prazo. Entre estas, a mais estratégica e urgente é a formação de bons professores. Diz ele: “[...] Primeiro há que traduzir: professor bom é aquele cujos alunos aprendem mais. Portanto, o caminho das luzes consiste em perguntar que características dos professores estão associadas ao maior aprendizado dos alunos” (CASTRO, 2014, p. 24). “Seja no Brasil, seja alhures, sabemos o que não explica quanto os alunos aprendem: a experiência do professor, sua idade e nível de escolaridade – mesmo mestrado. Nada disso se correlaciona com a qualidade do ensino. [...]” (CASTRO, 2014, p. 24). 176 Maurício M. Fernandes e Cláudio Ferraz (da USP e PUC-RJ) realizaram uma pesquisa econométrica muito cuidadosa, [...] buscaram testar o impacto de duas variáveis críticas sobre o ensino na 8ª. Série: 1) o domínio da matéria ensinada (usando as provas da Secretaria de Educação, aplicadas aos professores) e 2) as práticas adotadas em sala de aula. Ambas são “mexíveis”, pois é possível aperfeiçoar o conhecimento dos mestres e, ainda mais factível, melhorara suas técnicas de ensino (CASTRO, 2014, p. 24). Contudo, a análise demonstra que as práticas de sala de aula têm impacto bem maior do que o conhecimento da matéria. Ou seja, qualquer professor que adotar práticas hoje recomendadas terá alunos que vão aprender muito mais. São técnicas simples, que não requerem equipamentos nem malabarismos metodológicos (CASTRO, 2014, p. 24). “[...] as técnicas de sala de aula passaram à frente de todas as outras varáveis lá despejadas. E são práticas fáceis de aprender e adotar” (CASTRO, 2014, p. 24). Portanto, a notícia não poderia ser mais bem-vinda. Trata-se de uma pesquisa brasileira, conduzida por autores de bom pedigree e cujos 177 resultados são difíceis de ser contestados. Os procedimentos são de fácil incorporação em sala de aula e seu impacto é maior do que tudo o mais que conhecemos. Pode ser difícil convencer alguns professores a mudar suas práticas. Mas, pelo menos, isso está no campo do possível, em contaste coma as alternativas imexíveis (CASTRO, 2014, p. 24). Fundamentos da didática A didática tem seus fundamentos na biologia, na psicologia, na sociologia, na antropologia, na filosofia da educação e, mais recentemente, nas neurociências e nas suas ramificações. Outro fundamento importante e, em muitos aspectos obrigatório, é a legislação. Entre esta, temos a Constituição Federal, a LDB, resoluções do CNE, diretrizes curriculares, deliberações dos conselhos estaduais, projetos pedagógicos das instituições de ensino, dos cursos, dos planos de ensino e outros. 178 Filosofia da educação A filosofia da educação faz análise da sociedade para adaptar a educação às necessidades de seu tempo. Hoje, é necessário levar em consideração a globalização, fruto do conhecimento e da tecnologia. Para o bem-estar da humanidade, foi criada a ONU (Organização das Nações Unidas). Dentro dela, temos a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). A UNESCO escreveu um relatório intitulado Educação, um Tesouro a Descobrir (1996), em que se exploram os quatro Pilares da Educação, elaborados pela Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. Os quatro pilares para o desenvolvimento humano e a promoção da verdadeira educação são: Aprender a ser. Aprender a conviver. Aprender a fazer. 179 A o método da descoberta pode satisfazer Aprender a conhecer. Estes são os objetivos para a educação mundial. Os objetivos básicos da educação brasileira estão na legislação mencionada anteriormente. Feita a reflexão sobre as necessidades e a realidade mundial e do Brasil, devemos refletir sobre as necessidades regionais, sobre a natureza, as necessidades humanas e as necessidades de cada educando. Vejamos o que escreve Fernanda Kalena a respeito desse aspecto. Os valores e os objetivos a serem buscados devem estar previstos no projeto pedagógico da escola. Sobre como definir esses objetivos, Fernanda Kalena dá um exemplo: [...] Em um primeiro momento, diretores e gestores fizeram uma reflexão sobre quais habilidades gostariam que os estudantes tivessem desenvolvidas quando deixassem a escola. Já com esse pensamento aguçado, fizeram uma grande consulta pública, envolvendo professores, estudantes, funcionários das escolas, membros da 180 comcapítulo e empresários locais no debate (KALENA, 2014, p. 1). Mas, para a determinação dos valores, deve ser considerado o desenvolvimento do mundo. Eliane Alves acentua alguns desses motivos e como alcançálos: A noção de educação como desenvolvimento humano define o objetivo maior da educação como a construção, pelas pessoas, de competências e habilidades que lhes permitam alcançar seu desenvolvimento pleno e integral. Os Quatro Pilares servem, em seu conjunto, como princípio organizador nesse processo de construção de competências e habilidades (ALVES, 2010, p. 02). “[...] existem outros processos e estratégias de ensino que aliadas favorecem o contexto, como a apresentação de conteúdos significativos, a relevância dos conhecimentos prévios desse aprendiz, a participação da vivência nas atividades e a oportcapítulo de rever os conceitos ensinados de maneiras diferenciadas” (ALVES, 2010, p. 02). "Ainda temos muito a caminhar no processo educacional. A Educação 181 Formal precisa ser revista e sair do mecanicismo, conforme Fonseca (2007)¹ é preciso “ensinar o indivíduo a aprender a aprender, a aprender a pensar, a aprender a estudar, a aprender a se comunicar, e não apenas reproduzir e memorizar informações, mas, sim, desenvolver competências de resolução de problemas”. Seguindo no mesmo pensamento, Taricano (2009)² ressalta a importância do ensino da lógica e do conhecimento de técnicas apropriadas de acordo com o funcionamento cerebral para tornar a aprendizagem mais eficaz." (ALVES, 2010, p. 02). Quando pensamos na natureza humana, precisamos levar em consideração primeiramente as necessidades do homem e, depois, a tendência dele em busca de prazer. As neurociências explicam e comprovam que o processo de aprendizagem deve respeitar a natureza humana. Marta Pires Relvas, reforça estas concepções. Diz ela: Sob o ponto de vista da Neuropsicologia, conhecer o processo de aprendizagem se tornou um novo desafio para os professores, e o ambiente desta especificidade é a sala de aula”. O professor, ao estabelecer 182 as estratégias de ensino em relação ao seu conteúdo em seus planejamentos, deve estar ciente de que suas turmas constituem uma biologia cerebral, tal qual uma verdadeira ecologia cognitiva (RELVAS, 2013, p. 1). Para uma aprendizagem significativa, a aula tem de ser prazerosa, bem humorada, elaborada e organizada estrategicamente a fim de atender aos movimentos neuroquímicos e neuroelétricos do estudante. O professor que não instiga seus alunos à dúvida e à curiosidade, inibe o potencial de inteligência e afetividade no processo de aprender (RELVAS, 2013, p. 1). Fernanda Kalena diz ainda: Curiosidade, persistência, responsabilidade e espírito colaborativo são características cada vez mais valorizadas e muito se fala em ensiná-las para desenvolver competências para o século 21. Graças a um estudo realizado pelo Instituto Ayrton Senna, agora se sabe que elas também melhoram o desempenho dos alunos em português e matemática. Segundo a pesquisa divulgada nesta terça-feira (25), o desenvolvimento dessas características ao longo da vida escolar impacta diretamente no aprendizado dessas disciplinas (KALENA; KLIX, 2014, p. 1). 183 O desenvolvimento de habilidades socioemocionais é algo revolucionário em termos de objetivos da educação. É interessante conhecer bem esse assunto para saber como o ensino socioemocional pode mudar a escola (Google). Para poderem relacionar os dados levantados pelo Senna com o desempenho dos alunos nas disciplinas regulares, foi usado o resultado do sistema de avaliação de português e matemática da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro. Assim, foi possível cruzar os resultados e entender, dentro dessa amostragem, quais as habilidades socioemocionais mais presentes nos resultados dos alunos com melhor desempenho nessas disciplinas (KALENA; KLIX, 2014, p. 1). Com base nesses dados, o relatório aponta que, se um estudante que tenha nota de conscienciosidade no pior quartil de resultado – aquele que desiste fácil de seus objetivos, sem foco e pouco organizado – for estimulado e chegar ao maior nível dessa habilidade, ele melhora seu desempenho em matemática o equivalente a 4,5 meses de aprendizado (KALENA; KLIX, 2014, p. 1). Em português, as habilidades socioemocionais que trouxeram mais benefícios para o aprendizado da 184 disciplina foram a abertura a novas experiências, que engloba a criatividade e imaginação, por exemplo, e motivação, precisamente sobre o quanto o indivíduo relaciona suas decisões pessoais com acontecimentos externos (KALENA; KLIX, 2014, p. 1). “Ainda em português, a pesquisa também relata que, levando em conta apenas os alunos do 5o ano do fundamental, a conscienciosidade também tem um papel importante. [...]” (KALENA; KLIX, 2014, p. 1). O que leva o aluno de rede pública a assumir compromisso de estudar todo dia, das 7h às 17h? É aí que entram as competências socioemocionais. Ele não faz esse esforço se não tiver determinação e abertura a novas experiências”, afirmou o secretário estadual de Educação do Rio de Janeiro, Wilson Risolia. [...] (BRASIL, s.d., p. 1). Os resultados preliminares da aplicação do questionário atestam que jovens com competências socioemocionais mais desenvolvidas tendem a ter melhor desempenho escolar, e que é possível estimular essas competências com ações intencionais, por meio de políticas públicas (BRASIL, s.d., p. 1) 185 Essas competências, como perseverança e curiosidade, complementam o papel das competências cognitivas (como raciocínio) para o desempenho escolar e para superar desafios da vida. “O desenvolvimento das socioemocionais é uma questão de atitude, não de situação socioeconômica, ou seja, pobreza não é uma sentença: é possível ajudar escolas de regiões pobres a conseguir ótimos resultados”, Afirmou Tatiana (BRASIL, s.d., p. 1) Desenvolver a conscienciosidade e as competências socioemocionais é a essência da educação. É a base para formação da personalidade para a vida toda. Para alcançar objetivos cognitivos, utilizamos como princípio da educação aqueles que têm base nas emoções. Para alcançar os objetivos de concienciosidade, utilizamos as emoções para educar as emoções. Para conhecer bem esse assunto e ser excelente professor, leia o livro: “Inteligência Emocional: porque ela pode ser mais importante que o QI”, de Daniel Goleman. Este assunto é tão 186 importante que mereceu um livro de 365 páginas, só sobre emoções. Veja algumas citações do livro: O fato é muito chocante. Mas é também mais um indicador, à nossa disposição, para que tomemos consciência da necessidade, urgente, de ensinamentos que objetivem o controle das emoções, as resoluções de desentendimentos de forma pacífica e, enfim, a boa convivência entre as pessoas. Os educadores, há muito preocupados com as notas baixas dos alunos em matemática e leitura, começam a constatar que existe um outro tipo de deficiência e que é mais alarmante: o analfabetismo emocional.1 apesar dos louváveis esforços que visam melhorar o desempenho acadêmico, esse novo tipo de deficiência ainda não ganhou espaço no currículo escolar. Como disse um professor do Brooklyn, a atual ênfase do ensino parece sugerir que “nos preocupamos mais com a qualidade da leitura e escrita dos alunos do que em saber se eles vão estar vivos na semana que vem (GOLEMAN, 2007, p. 249). Nas páginas 319 a 323, constam várias pesquisas sobre os resultados do aprendizado social 187 e emocional. Uma delas, feita em escolas da Califórnia, nas séries do jardim-de-infância-6, constatou como resultados que o aluno se tornou: mais responsável mais assertivo mais popular e aberto mais pró-social e prestativo mais compreensão dos outros mais atencioso, interessado mais harmonioso mais “democrático” melhores aptidões na solução de conflitos (GOLEMAN, 2007, p. 319). Outra pesquisa feita pela Universidade de Illinóis em Chicago, em escolas de 5ª à 8ª séries, aponta que a competência social em alunos resultou em: Melhores aptidões para solução de problemas Mais envolvimento com os colegas Melhor controle de impulsos Melhor comportamento Melhor efetividade e popularidade interpessoal Melhores aptidões para enfrentar situações Mais aptidão para lidar com problemas interpessoais Melhor no enfrentar ansiedades 188 Comportamentos menos delinqüentes Melhores aptidões para solução de conflitos” (GOLEMAN, 2007, p. 322). Em outra pesquisa, na Universidade Rutgers, sobre consciência social em séries de jardim-deinfância-6, foram constatados os seguintes resultados: Mais sensível aos sentimentos dos outros Melhor compreensão das consequências de seu comportamento Maior capacidade de “medir” situações interpessoais e planejar ações adequadas Maior autoestima Melhor comportamento prósocial Procurando por colegas para ajudar Lida melhor com a transição para a escola média Comportamento menos antissocial, autodestrutivo e socialmente perturbado, mesmo quando acompanhado até o ginásio Melhores aptidões para “aprender a aprender” Mais autocontrole, consciência social e tomadas de decisão sociais dentro e fora da sala de aula (GOLEMAN, 2007, p. 323). 189 Diageutico das necessidades de cada aluno Conhecidas as tendências e necessidades mundiais, consideradas exigências legais e as necessidades e problemas do país, do estado e da região, tem-se que fazer o diageutico de cada aluno para poder atender as suas necessidades, interesses, emoções e possibilidades. Isto está previsto na LDB, em diretrizes curriculares e que agora também consta na estratégia 2.3 do PNE: Estratégias: criar mecanismos para o acompanhamento individualizado dos (as) alunos (as) do ensino fundamental. Vejamos algumas citações que tratam do assunto: Escolhida a criança, o registro de todo o acompanhamento deve ser feito desde o início, com uma anamnese a mais completa possível. Isso deve ser efetuado por meio de entrevista com a criança ou: por observação própria; por exame de relatório de professores e 190 coordenadores; pela leitura de laudos médicos; por entrevistas com os familiares e todos os que com ela convivem e todos os demais meios que estiveram à sua disposição (ANDERSEN´S, 2011, p. 1). Com a criança portadora de necessidades especiais é feito minucioso diageutico. Por que não ocorre o mesmo com as demais? “Cópias dos laudos médicos devem fazer parte dessa pasta. Entre os detalhes a observar estão as suas características cognitivas, emocionais, psíquicas e comportamentais” (ANDERSEN´S, 2011, p. 1). A segunda etapa consiste na análise de todas as habilidades e possibilidades já desenvolvidas pela criança. Para essa etapa há necessidade de se preparar os pais, familiares, professores e todas as pessoas que lidam com a criança, incluindo os médicos, para o que chamamos de observação positiva (ANDERSEN´S, 2011, p. 1). Normalmente observamos que todos comentam apenas as deficiências e as dificuldades da criança, fazendo comparações com as crianças consideradas normais. Para o trabalho neuropedagógico precisamos apenas 191 dos aspectos positivos de seu comportamento e habilidades, já que todo trabalho se baseia no desenvolvimento dessas habilidades do estado em que estiverem (ANDERSEN´S, 2011, p. 1). “Assim sendo todos os entrevistados devem ser orientados a relatar apenas todas as habilidades que já foram observadas nessa criança, ignorando suas deficiências ou inabilidades” (ANDERSEN´S, 2011, p. 1). O processo de acompanhamento neuropedagógico só leva em consideração as possibilidades e habilidades da criança, já que todo o trabalho parte da identificação e desenvolvimento dessas habilidades para que, a partir delas, tenha início o caminho de sua recuperação plena e integração ao grupo social de forma produtiva (ANDERSEN´S, 2011, p. 1). O questionário foi batizado de Senna, abreviação invertida de Avaliação Nacional das Não Cognitivas e Socioemocionais, e levou em conta, primeiro, cinco grandes domínios da personalidade: abertura a novas experiências, conscienciosidade, extroversão, neuroticismo e amabilidade. E acrescentou um sexto: motivação e crenças (veja a explicação 192 de cada um no infográfico abaixo)” (KALENA; KLIX, 2014, p. 1). Daniel Goleman (2007) apresenta algumas características de personalidade que devem ser levadas em consideração para atendimento individualizado: Retraimento ou problemas de relacionamento social: preferir ficar só; ser cheio de segredos; amuar-se muito; falta de energia; sentir-se infeliz; ser muito dependente. Ansioso e deprimido: ser solitário; ter muitos medos e preocupações; autoexigência exacerbada; não se sentir amado; sentir-se nervoso, triste e deprimido. Problemas de atenção ou de raciocínio: dificuldade de concentração; devaneio; agir impulsivamente; nervoso demais para concentrar-se; mau desempenho escolar; incapacidade de afastar pensamentos. Delinquente ou agressivo: andar com garotos que se metem em encrencas; mentir e trapacear; discutir muito; ser mal com os outros; chamar atenção para si; destruir as coisas dos outros; desobedecer em casa e na escola; ser teimoso e macambúzio; falar demais; provocar demais; ter pavio curto (GOLEMAN, 2007, p. 251). Diz mais este autor: 193 Não há, claro, uma única via para a violência e a criminalidade. Há outros fatores, como a criança nascer em um bairro de alta criminalidade, onde ficam expostas a mais tentações ao crime e à violência, vir de uma família que vive sob grande tensão, ou viver na pobreza. Mas nenhum desses fatores é determinante para uma vida criminal. Tudo mais sendo igual, as forças psicológicas que atuam em crianças agressivas aumentam muito a probabilidade de virem a ser criminosos violentos. Como diz Gerald Patterson, um psicólogo que seguiu de perto as carreiras de centenas de meninos até a idade adulta: - Os atos antissociais de um menino de 5 anos podem ser protótipos dos atos do adolescente delinquente.20 (GOLEMAN, 2007, p. 255). Currículo Currículo são todas as experiências e atividades que o aluno executa sob a orientação da escola, com vistas ao alcance dos objetivos. Currículo é o processo escolar, é a caminhada escolar do aluno. Nele, insere-se tudo o que possa interessar para a aprendizagem do aluno: conteúdo, experiências, atividades, estratégias, técnicas, recursos didáticos e tecnológicos, meios auxiliares, cultura ambiental, 194 sociedade, valores e avaliação. Até mesmo o exemplo, os conselhos e as atitudes do professor fazem parte do currículo. Este é o conceito mais amplo de currículo. Formas de elaboração de currículo Currículo centrado nos problemas do aluno e nos sociais Há pouco tempo, chegou a um pequeno distrito do interior do Paraná uma jovem professora recémnomeada pelo governo do Estado. A professora apresentou-se à diretora da escola para assumir suas funções. Coube a ela uma terceira série do Ensino Fundamental. Aliás, a escola possui apenas seis salas de aula. Havia, para aquele ano letivo, duas turmas de 1ª, duas de 2ª, uma de 3ª e uma de 4ª série. A professora ficou sabendo que, na escola, não havia material didático, que a biblioteca era bem pobre de livros, que os alunos, em sua maioria, eram filhos de “boias-frias” e que tinham muitos problemas de saúde. 195 Faltavam dez dias para o início das aulas. A professora aproveitou para conhecer um pouco sobre a realidade da população do distrito. Saiu para a rua e, alguns metros adiante, deparou-se com uma menina de aproximadamente 7 anos, varrendo o pátio. Chegou perto dela e começou a conversar. Depois de certo tempo, apareceu a mãe da garota. A professora apresentou-se e a conversa continuou. A professora saiu dali, com uma porção de informações e de dados que julgava importantes para si, como professora. Notou que a menina andava de pés descalços, tinha muitos dentes bem escuros e cariados. Descobriu que a família comia apenas feijão e arroz, ou só polenta, e de vez em quando uma “gordura” de boi ou sopa de osso; chupava, também, cana-deaçúcar, que na família não se usava escovar os dentes, que não havia banheiro e nem “casinha”, e que faziam as necessidades na capoeira, no fundo do terreno, que lavavam as mãos e os pés na panela de 196 fazer polenta e que tomavam banho uma vez por semana. No dia seguinte, como era quinta-feira, foi fazer uma visita ao médico no “postinho”. Aliás, às quintasfeiras eram os únicos dias em que ele vinha ao distrito. Dali, saiu pasmada pelo que ouviu. O médico contou a ela que cerca de 90% das crianças tinham vermes e que cerca de 80% eram subnutridas. Descobriu, também, que muitas crianças estavam cheias de bichos-de-pé, que a dor de barriga e os vômitos eram frequentes entre elas. Visitou, também, o cerealista do distrito. Descobriu, ali, o que era produzido na localidade: feijão, milho, arroz, algodão, pipoca e amendoim. A certa altura, entraram dois senhores no armazém do cerealista, oferecendo feijão. O cerealista propôs pagar R$30,00 a saca. Um deles disse: “mas o preço mínimo que o Banco do Brasil paga é R$60,00. Respondeu o cerealista: “mas eu só posso pagar R$30,00. Se não concordar, leve o seu feijão para o Banco do Brasil e espere 50 ou 60 dias para receber”. 197 Os dois senhores fecharam negócio ao preço proposto. A professora, a partir desses dados, passou a elaborar o currículo para a sua turma. Ela destacou como princípio, para isso, a solução dos problemas das crianças e a utilidade do conteúdo. Selecionou uma série de temas sobre higiene, nutrição e saúde. Ela própria elaborou textos bem simples e claros sobre os assuntos, envolvendo ciências, matemática e estudos sociais. Nos procedimentos de aprendizagem, trabalhou com centros de interesse em torno de alimentação, higiene e saúde. Trabalhou com projetos, com apoio da prefeitura, para construção de patentes para as famílias das crianças e para acabar com os vermes nas famílias da população. As próprias crianças ajudaram na construção das “casinhas”. Conseguiu o tratamento dentário de graça, pela Secretaria da Saúde, para todas as crianças da escola. 198 Formou uma cooperativa com os alunos para fazer uma horta e vender os produtos ali cultivados. Um dos pais vizinhos da escola cedeu um hectare para a horta. Os próprios alunos cortaram bambu e cercaram o terreno. Em dois meses, começaram as primeiras vendas. Enquanto se formava a cooperativa dos alunos, a professora trabalhou também com os pais. Após meio ano, estes também organizaram sua cooperativa. Era uma cooperativa informal, sem registro, mas que valeu muito para eles. Juntaram a mercadoria num lugar só e passaram a vender os produtos para comerciantes da cidade e para o Banco do Brasil, em vez de serem explorados pelo cerealista da localidade. Ao final do ano, a professora havia recuperado a saúde das crianças e formado atitudes e hábitos de grande importância para a vida delas. Desenvolveu o espírito de união, de solidariedade e cooperação entre as crianças e também entre os membros da comcapítulo. 199 A professora elaborou um currículo centrado nos problemas sociais e dos alunos e, à medida do possível, avançava para o domínio das técnicas sociais. Currículo centrado em necessidades Esta é outra forma de organizar o currículo, cuja importância consiste em se basear em motivos fortes do próprio aluno. Há crianças que nunca tiveram a fome saciada completamente. A busca de alimento chega a ser obsessão para elas. Segundo as estatísticas, 40% das crianças brasileiras são subnutridas. Organizar um currículo em função desta necessidade é até questão de humanidade e de justiça. Como se faz isso? O professor pode selecionar conteúdos, experiências e atividades que envolvam a produção de alimentos, ou, então, a aprendizagem de um ofício para poder comprá-los. 200 Se for possível, pode ser conseguida uma área de terras próxima à escola para essa aprendizagem. O professor convida um agricultor experiente ou um técnico agrícola para ajudá-lo nessa tarefa. Começa-se preparando o terreno: tombando-o, adubando-o e fazendo a necessária limpeza. Depois, faz-se a plantação. Tomam-se os cuidados necessários para o bom desenvolvimento das plantas. Por fim, os alimentos são colhidos para ser consumidos ou comercializados. Os alunos participam em tudo: no preparo do solo, na escolha dos produtos a serem cultivados, na aquisição das sementes ou mudas, no cuidado com as plantas, na colheita e na comercialização. Em todas as atividades, os alunos têm que ler para seguir instruções; fazer cálculos de quantidade de semente, área, distância, porcentagem de adubação e de mistura de defensivos. Aprendem noções de peso e medida: centímetro, metro, metro quadrado, milímetro, quilo etc. 201 Podem e devem aprender como preparar os alimentos. Aí se deve envolver o nutricionista e a cozinheira. O professor e o nutricionista estudam, com os alunos, o valor nutritivo de cada alimento e as necessidades do corpo humano. São feitas leituras, cálculos de quantos gramas de cada alimento a pessoa precisa por semana para estar bem nutrida. Destacam-se, também, os cuidados higiênicos a serem tomados com relação ao preparo dos alimentos, com relação à alimentação e ao corpo. O professor pode aproveitar as oportcapítulos para fazer trabalhos em grupo e discussões. Para as discussões, pode sugerir temas sociais e políticos: O que é que o governo deveria fazer para eliminar a fome? O que é que nós podemos fazer para não passarmos fome? Assim, vimos mais um exemplo de organização de currículo. Certamente, pode-se notar que conteúdo, atividades, experiências, meios auxiliares ficaram fundidos. É assim mesmo que o conteúdo tem 202 que funcionar. As coisas têm que ser estruturadas em função dos objetivos. Matéria separada, estática, apenas para ser estudada, não tem sentido. Tudo foi selecionado em função dos objetivos; satisfazer à necessidade de alimentação, desenvolver habilidades de produção de alimentos, gerar hábitos de higiene, identificar os alimentos necessários à alimentação humana, melhorar a habilidade de preparo dos alimentos. Observe-se que leitura, estudos sociais e cálculo vieram como meios e não como objetivos em si. Currículo centrado em interesses O ser humano é tremendamente complexo. É um verdadeiro mistério! Há alunos que não querem saber de estudar. E muitos professores se irritam com isso. É que esses professores estão acostumados a ver tudo pelo lado tradicional: que o aluno teria que estudar, estudar todas as “matérias” de forma igual e tirar nota mínima em cada uma. 203 É bom lembrar que adolescente, tem inteligência diferentes, temperamento cada criança, diferente, diferente, ou gostos enfim, personalidade diferente. Não existe uma criança igual à outra. Há algumas que são tão nervosas que não têm paciência de estudar. Outras simplesmente dizem: isso não me interessa. E por mais que o professor se esforce, nada consegue. O que fazer com esses alunos? Se reprovados, desistem da escola. Isso não é a solução. Uma coisa a ser feita seria organizar um currículo especial para cada aluno ou para cada grupo de alunos com interesses semelhantes. Do contrário, podem ser desperdiçadas muitas inteligências. Até gênios são colocados para fora do sistema escolar pelo currículo tradicional por matérias. Há poucos dias um professor universitário contou um fato que podemos aproveitar para ilustrar, a situação. Diz ele que conheceu um senhor que, na escola, nunca conseguia aprovação. Ficava o tempo todo desenhando. Ele desistiu de estudar. Depois de 204 adulto, desenhou um lindo castelo e o construiu. É verdadeira obra de arte. Mas, ficou apenas nisso. Pergunta-se: se a escola tivesse criado um currículo especial para essa pessoa, o que ela poderia ser hoje? Em Ouro Preto, cidade histórica de Minas Gerais, de dia veem-se meninos com violino ou violão debaixo do braço, certamente indo ou vindo de uma escola de música. À noite, ouve-se, em todos os cantos da cidade, o som de violino, acordeão, piano, violão. Cada menino faz o seu currículo e procura os meios para alcançar seus objetivos, mas só pode fazer isso quem tem condições financeiras. O pobre não tem essa liberdade. As ciências da educação há muito tempo, já concluíram que cada criança é diferente uma da outra. É por isso que a escola deveria dar oportcapítulo de opções, ter currículos diversificados para atender às diferenças individuais e dar condições de autorrealização para todos. É, aliás, o que manda 205 a legislação brasileira: atender às diferenças individuais. Fiquei surpreso que isso fosse previsto no PNE (Plano Nacional de Educação, 2014/2023), aprovado no mês passado (6/2014). Na Meta 2, o Plano prevê: [...] universalizar o ensino fundamental de 9 (nove) anos para toda a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos e garantir que pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência deste PNE. Estratégias: 2.3) criar mecanismos para o acompanhamento individualizado dos (as) alunos (as) do ensino fundamental; É um desafio para todos os educadores. Precisamos ser criativos para solucionar esse problema. Nas estratégias da Meta 3, há outras determinações inovadoras: [...] institucionalizar programa nacional de renovação do ensino médio, a fim de incentivar práticas pedagógicas com abordagens interdisciplinares estruturadas pela relação entre teoria e 206 prática, por meio de currículos escolares que organizem, de maneira flexível e diversificada, conteúdos obrigatórios e eletivos articulados em dimensões como ciência, trabalho, linguagens, tecnologia, cultura e esporte, garantindo-se a aquisição de equipamentos e laboratórios, a produção de material didático específico, a formação continuada de professores e a articulação com instituições acadêmicas, esportivas e culturais; No Ensino Médio, temos evasão de 18%, ou seja, mais de 2 milhões de jovens, entre 15 e 17 anos, estão fora da escola. “Estratégias da Meta 19: favorecer processos de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira nos estabelecimentos de ensino;” Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: 207 III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimento escolar pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a sequência do currículo, observadas as normas do respectivo sistema de ensino; IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou outros componentes curriculares; Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes: II - consideração das condições de escolaridade dos alunos em cada estabelecimento; Art. 28. Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006) § 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem adotar no ensino fundamental o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensinoaprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino. 208 Currículo centrado na aprendizagem significativa Esta forma de organização de currículo envolve principalmente a postura e a formação pedagógica do professor. O centro em torno do qual vai girar a aprendizagem são assuntos, temas ou experiências bem próximos aos que os alunos já conhecem e gostam. O professor dá liberdade para que os alunos ajudem a organizar o currículo, e também relaciona o conteúdo e as atividades, de forma a que os alunos sintam utilidade ou possibilidade de aplicar aquilo que estão aprendendo. Em que consiste a aprendizagem significativa Aprendizagem significativa é aquela que tem significado para o aluno, que tem algum interesse ou importância para ele; que vem atender a uma necessidade ou ajudar o aluno a resolver um problema. Aprendizagem significativa é aquela que o aluno sente a utilidade do que aprendeu para a vida e que vem ao encontro de suas curiosidades. É aquela 209 aprendizagem que o aluno tem gosto de estudar, que ele compreende e que provoca alguma reação nele mesmo. É a aprendizagem em que o aluno liga as experiências anteriores às ideias que está aprendendo. É a aprendizagem que parte da base que o aluno já possui. Do contrário, ele vai ligar o que com o quê? Aprendizagem significativa é a aprendizagem semelhante à vida, aplicável à vida e relacionada com as experiências que ela proporciona à pessoa. É a aprendizagem ligada às aspirações e à realidade do aluno. É a aprendizagem que parte da vida deste para melhorá-la. É a aprendizagem que satisfaz o “eu” do aluno. Segundo David F. Ausubel, a aprendizagem significativa pode ser receptiva ou por descoberta. Na aprendizagem significativa receptiva, o aluno recebe tudo pronto. É a aprendizagem preparada pelo professor, mas organizada em função dos interesses, desejos, necessidades e aspirações dos alunos. Ela é válida nas séries mais avançadas, 210 quando os alunos se tornam mais homogêneos em desenvolvimento intelectual. O professor, para trabalhar com esse tipo de aprendizagem, deve conhecer muito bem os alunos, ou mesmo cada um dos alunos, para poder apresentar conteúdo, ou estruturas, que os alunos possam entender. Aqui se enquadra a aula expositiva clara e a leitura de fácil compreensão. Já, a aprendizagem por descoberta é a que o próprio aluno elabora. Ele levanta hipóteses, faz experiências, realiza pesquisas, tenta solucionar problemas e chega a conclusões. Importância da aprendizagem significativa A aprendizagem por descoberta é sempre significativa. Quando a pessoa tem um problema, busca a solução deste, pesquisando as informações de que precisa para solucioná-lo. Ela busca, sabendo o que quer. Cabe ao professor, no caso, auxiliar o aluno na busca das informações. Ninguém procura informações que não entende e de que não precisa. Essas informações compreendidas são ligadas às 211 experiências que o aluno já possui e usadas para solucionar o problema. A grande vantagem da aprendizagem significativa por descoberta é que, nesta, o aluno quer aprender, ele precisa aprender e passa a gostar de aprender. Assim, o esforço que precisa fazer para ajeitar as ideias não se torna um peso, pois ele descobre o que interessa a ele mesmo e pensa sobre o que entende. O material a ser aprendido será tanto mais significativo, quanto maiores forem as experiências do aluno, sua prontidão, interesses e necessidades. A nova aprendizagem é mais fácil, quando as ideias são agrupadas e organizadas. O professor deve ajudar o aluno a organizar as ideias de forma compreensiva. Se não houver compreensão, não haverá aprendizagem significativa. Sem aprendizagem significativa, não há aprendizagem verdadeira. Muitas vezes, ouvimos os alunos dizerem que sabem, mas não sabem explicar. Isto quer dizer que 212 eles não têm o significado, sabem o que é, mas não sabem falar ou escrever, pois certamente falta experiência, leitura, compreensão e melhor estruturação do assunto. Esses significados devem ser adquiridos pela atividade, a partir do concreto, e não apenas pelos livros. As experiências concretas facilitam a aquisição de significados. Os termos transacionais, para ligar uma ideia à outra, podem ser adquiridos pela leitura. E quanto mais o aluno ler, mais facilidade terá de expressar os significados. Mas, se o aluno não ler, terá dificuldade de comunicar suas ideias, seus significados. O Ensino Médio e o Ensino Superior tornam-se fáceis, quando os conceitos foram bem desenvolvidos por meio de atividades concretas. Mas, a maioria dos alunos aprendeu de forma muito abstrata, com poucas experiências concretas. É por isso que eles sentem tanta dificuldade com relação à aprendizagem, às vezes, até simples. A ligação das novas ideias com as que a pessoa já possui se faz pela análise, reflexão e 213 solução de problemas. As novas ideias deveriam ligarse a uma porção de ideias velhas e não a uma só. Isso faz com que a aprendizagem se torne mais rica. Se os alunos souberem resolver um problema criativamente, fica comprovada a compreensão significativa. Na aprendizagem por descoberta, é o próprio aluno quem elabora o seu conhecimento. Passa a ter um conhecimento elaborado, estruturado pela compreensão, pelo raciocínio, e não o conhecimento mecânico. A aprendizagem significativa provoca alguma reação no aluno, pois tem importância para ele. Pode provocar euforia, curiosidade, preocupação, ansiedade e levá-lo a fazer muitas experiências. Quanto mais experiências o aluno tiver, maior será sua capacidade para adquirir novas aprendizagens e elaborar novas estruturas mentais. O próprio aluno quer e pode construir a sua personalidade, “costurando” as ideias que for selecionando como úteis e importantes. Se o aluno 214 sentir, perceber que aquilo que estiver aprendendo o ajuda a sentir-se melhor, que o ajuda a construir sua vida, então aquilo se torna significativo. A aprendizagem significativa é importante também porque o aluno aprende compreendendo e não decorando. Aprende o sentido e não apenas as palavras. Uma aprendizagem compreendida pode ser usada para formar novas ideias e para resolver problemas. Quando o aluno compreende o que faz, o que lê, estuda ou ouve, sente satisfação, porém, se não compreender, ele se distrai, aborrece-se e até “bagunça” pode fazer. Se o aluno não notar semelhança entre o conteúdo novo e suas experiências e a vida, não sentirá utilidade no que vai estudar. Não sentindo utilidade, não terá interesse e não fará esforço. Métodos e aprendizagem técnicas Métodos e técnicas individualizados de 215 Alguns métodos e técnicas são chamados de individualizados porque, neles, os alunos trabalham quase sempre sozinhos, ou então é o professor que trabalha sozinho, mas tentando fazer com que cada aluno participe mentalmente e de forma individual. Eles são importantes, pois devem atender às diferenças individuais, possibilitando a cada aluno crescer segundo o próprio ritmo e às aspirações particulares de cada um. Grande parte das atividades, a pessoa as faz individualmente. É preciso, individualmente. Nestes pois, casos, aprendê-las estão: estudar, pesquisar, sintetizar, investigar, raciocinar, criticar, resolver problemas, criar, entre outras. Vejamos, a seguir, alguns métodos e técnicas que atendem a essas características. a) O método do estudo dirigido O estudo dirigido consiste num estudo orientado pelo professor. Também poderia ser chamado de estudo 216 orientado, em vez de estudo dirigido. Nele, o professor atua como um técnico e como um especialista em aprendizagem de uma determinada área de estudos, matéria ou disciplina. O professor planeja objetivos, sozinho ou com os alunos e, em seguida, sugere atividades, visando alcançar aqueles objetivos, que podem ser gerais ou específicos. O estudo dirigido é chamado de método, e não de técnica, devido a sua amplitude. Ele pode ser desenvolvido por meio das mais variadas formas, chamadas de técnicas de estudo dirigido. De acordo com os objetivos que se pretende alcançar, escolhese esta ou aquela técnica. Técnicas de estudo dirigido: O professor escolherá as técnicas mais adequadas para alcançar os objetivos que pretende. Vejamos algumas técnicas do estudo dirigido a serem executadas pelos alunos: • Ler um assunto e explicá-lo para a classe, sem olhar o texto ou apontamentos; • Ler um texto para dizer do que este trata; 217 • Ler um texto, fechar o livro e reescrevê-lo com as próprias palavras; • Ler um texto e extrair detalhes, pormenores ou aquilo que ainda era desconhecido; • Extrair do texto o que é mais importante, útil ou prático; • Ler um texto e criticar seu conteúdo, forma, estilo, validade, atualidade, profundidade; • Ler um texto e escrever as dúvidas para serem respondidas pelo professor; • Ler um texto e elaborar questões ou problemas sobre o mesmo e cujas respostas possam ser encontradas no próprio texto, sem, porém, respondêlas; • Extrair os termos técnicos de um texto e procurar o significado deles; • Comparar dois textos, colocando as ideias principais de cada um em colunas, uma ao lado da outra; • Dar exemplos concretos sobre textos lidos; 218 • Procurar em dicionário o significado de palavras desconhecidas; • Localizar países, cidades ou acidentes geográficos em mapas; • Responder às perguntas: o que é? onde? quando? como? qual? quanto? por quê? • Fazer chaves, esquemas ou organogramas; • Resolver problemas colocados pelo professor que exijam reflexão; • Fazer perguntas que iniciem com por quê? como? quando? quanto? qual? o que é? Sem, contudo, respondê-las. b) O método científico Aos 3 e 4 anos de idade, a criança pergunta sobre tudo o que vê e ouve, quer explicações para os fatos e experiências. Mas, ela pergunta exatamente porque vê, ouve e experimenta. A curiosidade faz parte da natureza da criança. 219 Na escola, o professor pode aproveitar essa mesma curiosidade para que a própria criança aprenda a satisfazê-la, utilizando o método científico: observar, levantar hipóteses, testá-las, concluir e generalizar. A criança aprende que ela própria pode descobrir a verdade e que nem tudo precisa estar escrito ou ser falado pelo professor. Passa a perceber, também, que todo fato tem uma explicação, e que a explicação das causas de um efeito se dá pelo método científico; que a teoria é a explicação de um fato, mesmo que seja bem simples. Imensidade de fatos podem ser apresentados aos alunos para que eles os expliquem. Eis alguns exemplos: - o gelo colocado na água flutua; - um fio de arame, quando aquecido, fica mais comprido; - um peixe num vidro fechado morre; - uma semente na terra seca não germina. 220 Com semente, podemos fazer um grande número de experiências combinando variáveis diferentes. Plantemos feijão em vasos, ou copinhos, alterando algumas variáveis. No 1º vaso, planta-se o feijão em terra seca e põe-se no sol: não germina. No 2º vaso, planta-se a semente em terra úmida, adubada, e põe-se no sol: germina, a planta fica verde e vigorosa. No 3º vaso, planta-se a semente em terra úmida, não adubada, e põe-se no sol: germina, fica verde, mas franzina. No 4º vaso, planta-se a semente em terra úmida, adubada, e deixa-se na sombra: germina, o caule fica comprido, branco e inclinado. No 5º vaso, planta-se a semente em terra úmida e põe-se na geladeira: não germina. Explica-se para as crianças que, se essas experiências forem repetidas centenas de vezes e 221 tendo-se sempre os mesmos resultados, tem-se uma conclusão científica. E assim podemos continuar combinando as mais diversas variáveis: sombra, sol, terra adubada, não adubada, água, calor, frio, cal etc. Podemos, ainda, levar os alunos a um lago e pedir para que joguem na água pedaços de pau seco e pau verde. Os próprios alunos concluirão que pau seco boia e pau verde afunda. Por quê? Podemos agora voltar à escola e fazer experiências: pesar paus do mesmo tamanho e o volume de água igual ao do pau. Conclusão: pau seco é mais leve que a água, por isso fica por cima; pau verde é mais pesado que a água, por isso afunda. São experiências simples, mas que servem para os alunos compreenderem e conhecer o método científico. Pode-se pensar que isso seja perda de tempo; que seria mais rápido passar o “conhecimento” para o aluno, sem realizar as experiências. Mas, de que adianta esse conhecimento seco, aprendido pela leitura ou verbalmente? 222 O aluno precisa ver para crer, fazer para sentir e participar para se envolver. Pelo uso do método científico, o aluno, além de descobrir os resultados, aprende também o processo de se produzir conhecimentos, de se fazer ciência, e não apenas reproduzir o que os outros descobriram ou escreveram. É muito importante que ele saiba que ele próprio é capaz de produzir conhecimentos. Além de aprender a produzir conhecimentos, os alunos passam a ter uma mentalidade científica. Passam a questionar fenômenos, fatos e ideias, e a exigir provas objetivas de sua validade. Com isso, tenta-se eliminar as crendices, a mentalidade ingênua, e prepara-se o aluno para solucionar os problemas e as situações imprevisíveis com mais facilidade. c) O método da investigação Método da investigação consiste em busca, em pesquisa, em realização de experiências para se obter uma resposta, satisfazer uma curiosidade ou resolver um problema. A pesquisa, aqui, é apenas uma pesquisa didática, não científica. 223 Importância: A teoria prega que se deve atender às diferenças individuais dos alunos – seus interesses, necessidades, desejos e propósitos. Mas, é difícil saber quais são os interesses e necessidades de um único aluno. Então, como o professor poderá conhecer e atender 30 ou 40 alunos de uma sala? O método da investigação é uma das formas de melhor se atender às diferenças individuais. Cada aluno pode atender às suas curiosidades individuais, investigar segundo sua capacidade, possibilidade e ritmo, sem pressão e sem atropelamentos. Cada aluno tem experiências diferentes, formas diferentes de aprender, de pensar, que devem ser respeitadas. O aluno que é deixado livre para pesquisar entrará em atividade com prazer, automotivado. A própria ação motiva o aluno. Com os resultados que obtém da pesquisa, essa motivação é aumentada, pois o seu esforço foi recompensado. Investigando, ele aprende a estudar, a buscar as informações de que precisa. Aprende a ser 224 independente, autônomo e a ter confiança em si mesmo. Só o aluno sabe o que já sabe e o que falta saber. Ele busca aquilo que quer saber e o que precisa saber para satisfazer suas necessidades intelectuais ou ambientais. Assim, fica livre de ouvir do professor o que ele já sabe, o que não entende e o que não quer saber. Na investigação, o aluno reflete sobre tudo o que sabe para descobrir coisas novas ou resolver um problema. As informações novas, que ele vai buscando, já são pensadas, integradas e estruturadas na mente dele em função do objetivo que ele quer alcançar. Com isso, a aprendizagem torna-se mais fácil e consistente. d) O aluno e o professor na investigação A criança tem necessidade inata de investigar. Quando tem entre um e três anos, ela mexe em tudo que pode. Para quê? Para descobrir o que é, o que tem e quais os efeitos de sua ação. Aos 3 e 4 anos, ela pergunta, questiona, quer obter respostas verbais 225 para sua curiosidade. Já está madura para isso. É uma característica dessa fase evolutiva. Aos 5 e 6 anos, ela investiga o meio social, seus amiguinhos, seus vizinhos da mesma idade e analisa as consequências das próprias atitudes. A criança, enquanto é pequena, explora o mundo por conta própria, sem orientação de ninguém. E quanta coisa aprende! Na idade escolar, deveria fazer o mesmo, continuar investigando. Cabe à escola e ao professor propiciar o ambiente e os meios para que o aluno possa realizar as investigações que tiver vontade de fazer. O que investigar pode e deve ser sugerido pelo aluno. Ao professor, cabe assisti-lo no processo de investigar. O professor deve criar ambiente e condições para que seja possível a investigação e a realização de experiências. Deve, também, deixar o aluno bastante livre para que ele próprio aprenda como pesquisar. Nada de regras fixas. Ele próprio deve investigar, coletar os dados e organizar seus conceitos. Nem sempre o aluno sabe exatamente o 226 que está procurando, qual é sua meta. Mas, tem em mente um conjunto de preocupações, uma ideia vaga do que quer saber. Passa a ler, estudar e a pesquisar sobre o assunto. Enquanto tiver interesse e motivação por aquilo, o professor deve deixá-lo livre. Essa pesquisa vai provocar, no aluno, novos motivos, novas curiosidades. E, assim, sucessivamente. É essa corrente que mantém viva a motivação e o desejo constante de aprender. Não se deve dizer para o aluno o que deve investigar e nem como deve fazê-lo. Ninguém diz para uma criança de 2 a 5 anos que objetos ela deve manipular ou que perguntas ela deve fazer para os adultos. É a idade dela, é a sua natureza, é o seu grau de maturação que determinam os assuntos e a maneira de investigar. Só quando estiver acabando o embalo dos alunos é que o professor deve entrar. Para estimular a investigação, o professor pode usar demonstrações, realizar experiências rápidas e apresentar filmes sobre determinados assuntos. O professor deve tomar o necessário cuidado para que estas apresentações sejam dramáticas e que deixem 227 interrogações na mente dos alunos para provocar pesquisas. Depois disso, as crianças começam novamente a investigar. A investigação pode ser feita em grupos e individualmente. Começar pelo grupo talvez seja mais interessante para estimular os alunos menos curiosos e envolvê-los na pesquisa. Para que o método de investigação seja possível e dê bons resultados, o professor precisa acreditar nele e criar as condições necessárias para que os alunos tenham fartura de material e liberdade para pesquisar. O professor deve manter clima animador durante a investigação. Deve responder às perguntas dos alunos, sem, porém, dar as respostas ou as conclusões. Deve, discretamente, fazer perguntas para aguçar mais ainda a curiosidade dos alunos. É preferível que os alunos fiquem com perguntas sem resposta a vida toda que o professor responder a todas elas. As técnicas, as formas ou maneiras de investigar são as mais diversas possíveis. Cabe a 228 cada professor imaginar e escolher as mais adequadas para a turma, em função da disciplina ou da área em que atua. Funções do professor no método da descoberta: Uma das funções do professor, neste método, é treinar os alunos à observação. O professor poderá chamar a atenção para os detalhes do fenômeno, para as características especiais, fazer perguntas sobre as causas ou consequências. O professor deverá criar condições necessárias para que haja o que observar e clima favorável para a observação e posterior pesquisa para esclarecer as dúvidas ou hipóteses sobre aquilo que se observou. O aluno pode encaminhar-se em questões complexas e dificilmente chegará à descoberta correta. É o momento de o professor apresentar os conceitos ou explicações para que o aluno se reencontre, ou poderá mesmo apresentar a resposta. Toda descoberta traz satisfação, anima, motiva. 229 O professor, percebendo que o aluno tem dificuldades de realizar descobertas, poderá expor conceitos auxiliares. Estes seriam pré-requisitos ou noções que o aluno deveria adquirir antes, para que possa fazer as descobertas que está tentando fazer. O professor faz exposições, explica, demonstra exatamente aquilo que o aluno está querendo saber. O professor vê quais são as dificuldades dos alunos e vai em seu auxílio. É bem diferente da aula tradicional, na qual a exposição não considera o que o aluno quer saber e está desvinculada de seus motivos. A criança de dois anos, ao se falar de caixa, pode fazer ideia talvez de apenas uma caixa, concretizada, que é a caixa de sapato. Ela não teve contato, ou nunca viu outro tipo de caixa. Ela precisa ter contato com outras caixas para poder fazer a apresentação abstrata, genérica. Situações semelhantes podem ocorrer na escola. Ao professor, caberia apresentar vários tipos de caixas e deixar que o próprio aluno descobrisse o conceito de caixa. 230 Há os professores que defendem com insistência a necessidade de ensinar o conteúdo. Que conteúdo? Para quê? Interessa para o aluno? O aluno tem experiências anteriores sobre o assunto para poder compreendê-lo? Esse conteúdo é válido por quanto tempo? O aluno vai usá-lo? Se não for usá-lo, que vantagens há em ser aprendido? Se não for usado imediatamente na prática, não vai se perder no tempo até ser usado? No método de descoberta, o aluno vai aprender, sobretudo, o processo de aprender. O conteúdo também será aprendido, mas como subproduto e com uma vantagem: será aprendido com sentido, com utilidade e de forma integrada. e) O método da leitura de livros É viável esse método? Certamente, sim. Vale a pena experimentá-lo. A criança e o adolescente, desde cedo, querem imitar os adultos. Isso ocorre em qualquer meio, em qualquer cultura. Se os adultos leem muito, as crianças tendem a fazer o mesmo. 231 A leitura de livros não deve ser uma imposição, mas uma atividade espontânea. O professor pode e deve estimular a leitura e elogiar os alunos pela aprendizagem que obtiverem por meio dela. A importância deste método: Com ele, o aluno desenvolve o hábito e o gosto pela leitura, pois o mesmo o leva a descobrir que tudo que ele quer saber está nos livros. Ele passa a sentir-se livre para aprender como, onde e quando ele quiser. Com leitura, o aluno enriquece normalmente seu vocabulário; aprende uma imensidade de expressões; aprende ortografia, concordância, enfim, aprende gramática, sem sentir e sem fazer esforço. Isso facilita especialmente a redação. Aprende conteúdo, ideias, conceitos, princípios e teorias. Dizse que a leitura forma a personalidade da pessoa. Se não tanto, ao menos influencia enormemente. Existe um ditado popular que diz: “diga-me o que lês que eu te direi o que és”. Um outro diz: “existem três regras para te tornares um sábio: a primeira é ler: a segunda é ler, e a terceira é ler”. 232 Todo cidadão deveria participar ativa e criticamente nas decisões comunitárias em nível local, estadual e nacional. Ninguém pode fazer isso, se não tiver muitas ideias e se não estiver bem inteirado do que ocorre em seu país em termos sociais, econômicos e políticos. Para isso, é preciso ler, e quanto mais, melhor. Até mesmo para pensar ou para raciocinar, se a pessoa não tiver lido muito e não tiver muita matériaprima em sua mente, terá raciocínio pobre, sem muitos elementos para combinar. Quanto mais “matéria-prima” tiver, mais recursos terá para formular novas ideias. Quanto mais malhação cerebral fizer, mais ampla será sua estrutura ou rede neural. f) O método da demonstração Exemplos de demonstração: De área: É comum encontrar-se alunos de último ano de curso superior que não têm a necessária 233 compreensão do que seja área. Alguns nem sequer sabem o que é metro quadrado. Certo dia, solicitamos a um aluno, de curso superior, que explicasse o que é metro quadrado. Ele foi ao quadro e escreveu m2. Outro foi e desenhou um quadradinho no quadro e disse, indicando cada um dos lados do quadrado: “é um metro aqui, outro aqui, outro aqui e outro aqui”. Pedir que explicasse melhor. Ele simplesmente mostrou: “É um metro de cada lado”. Teoricamente, ele estava certo. Nada melhor, porém, do que demonstrar concretamente um metro quadrado. Pegamos uma chapa de compensado com essa medida e a colocamos no chão. Em seguida, fiz um risco com giz em seu contorno. Tiramos a chapa e hachuriamos a área toda com giz. Mostramos, assim, para a turma que metro quadrado é essa área e não aquele metro por metro explicado no quadro pelo aluno. 234 De cubagem Para demonstração de m3, apresentamos um m3 concreto, com seis chapas de 1 m2. Em seguida, apresentamos um dcm3. Aquele cubo de material dourado; um cm3; medidas de ml e gramas. Fiz, ainda, demonstração de densidade. Para as atividades anteriores, utilizamos como material didático: copo com indicação de ml, balança, cubos de dcm3, litro de água e material dourado. Antes de cada demonstração, pedia aos alunos que respondessem, mostrassem e explicassem cada uma das perguntas a seguir: Indagações: 1. Desenhe no chão meio metro quadrado. 2. Um pintor cobra R$2,50 por metro quadrado. Quanto fica para pintar as paredes desta sala? 3. Qual é a cubagem deste cubo? Por quê? 4. Qual é a medida ou volume de líquido que cabe neste cubo? 235 5. Quanto ele pesa? 6. Qual é o volume de 1 grama de água? 7. Um grama de água pesa quanto? 8. Qual é o volume de uma tonelada de água? 9. Quantos litros têm uma tonelada de água? 10. O que veio antes: o litro, o quilo ou o dcm3? Veja, no Youtube, o vídeo “Lições sobre: metro quadrado e metro cúbico – Argemiro” Métodos e técnicas socializados a) O método da dinâmica de grupo Neste método, há imensidade de técnicas que podem ser utilizadas. Esse método tem como fundamento a Psicologia, a Sociologia a Filosofia e a neuroeducação. Ele visa reforçar a vivência do homem no grupo, atendendo a sua natureza e, ao mesmo tempo, às exigências da sociedade moderna. O aluno gosta de estar e viver em grupo. No grupo, ele fala, participa, reage, critica e também 236 obedece. É no grupo que ele amadurece para a sociedade. Sejam lá os motivos que forem, a verdade é que todas as crianças têm defeitos, fraquezas e tendências que precisam ser aproveitadas ou corrigidas por meio das diversas técnicas do método da dinâmica de grupo. Para termos uma rápida ideia, vejamos alguns desses defeitos ou fraquezas: medroso, egoísta, agressivo, retraído, áspero, falador, calado, teimoso, inquieto, impulsivo, falso, fingido, mentiroso, convencido, inseguro, antipático. Pela dinâmica de grupo, podemos alcançar vários objetivos educacionais, corrigindo um pouco os defeitos apontados anteriormente, ou seja, podemos desenvolver muitas qualidades no aluno. Essas qualidades são, dentre outras: que o aluno seja sincero, leal, simpático, altruísta, criativo, livre, seguro, meigo, ativo, participante, corajoso, ponderado, colaborador, conciliador, desinibido e até falador, quando necessário. Estas qualidades são úteis para o aluno e muito necessárias à sociedade. 237 O método da dinâmica de grupo pode, também, trazer enormes benefícios para a cura das pessoas. As crianças que se sentem desprezadas pelos colegas, as tímidas, as que têm problemas com a família, as que não se sentem amadas podem se tornar alegres e normais. Elas passam a sentir que o mundo não é constituído só de coisas ruins. A dinâmica de grupo desenvolve habilidades no próprio grupo, que passa a ter mais condições de melhorar a sociedade, em termos de criatividade, originalidade, união, solidariedade e força grupal. Aqui se encaixam os ditados: “A união faz a força”; “Um por todos e todos por um”. Mas, sem serem desenvolvidas as qualidades individuais e sem que haja treino em grupo, isso se torna impossível. Além disso, a dinâmica de grupo aproveita e soma todas as experiências, as ideias e a imaginação dos membros do grupo para a solução de problemas. É o desenvolvimento do raciocínio do aluno e de sua criatividade para melhorar a própria sociedade. 238 b) A técnica da discussão A discussão consiste na troca de ideias entre as pessoas de um grupo, em que cada um deles reflete sobre a questão ou problema para encontrar soluções ou respostas. É a cooperação mental entre os membros de um grupo para a compreensão de uma questão ou elaboração de alternativas para resolver um problema. A discussão envolve emocionalmente os alunos e pressiona-os para buscar na estrutura mental, as informações e experiências que já possuem sobre o assunto para organizar logicamente o próprio pensamento. Analisam, sistematizam e selecionam o que é mais válido para ser falado. Na discussão, o aluno ouve as ideias dos outros, compara estas ideias com as próprias experiências, leitura e convicções, aciona o seu pensamento criativo, elabora ideia nova e a comunica ao grupo. As ideias são formadas por palavras, mas para as palavras serem bem usadas, precisam ser 239 compreendidas e precisam ter seu significado conhecido. E o que faz com que as pessoas procurem o significado das palavras? É a necessidade que sentem de usá-las para se comunicar ou para entender o que os outros querem dizer, ao falar. São as situações em que são colocadas que as obrigam a aprender as palavras. E é na discussão que ele as liga, que as associa para formar ideias, formar pensamentos coerentes e com sentido. A ideia é a forma mais fácil e precisa de nos expressarmos. A formação de ideias deve ser bem treinada para que o aluno possa se expressar da forma mais rica possível. Esse treino pode ser feito por meio da discussão. O grupo de discussão é um laboratório de ideias. Nele, as ideias chocam-se, cruzam-se e combinam-se para formar novas ideias. A discussão traz luz aos assuntos em discussão. A discussão provoca emoções, adrenalina e ativa sensivelmente os neurônios. Gera uma enorme 240 fogueira no cérebro para a busca de ideias e solução ao problema em discussão. Os métodos socioindividualizados a) Método de projetos Consiste na elaboração de um projeto para ser executado pelos próprios alunos de uma determinada turma. Implica ação real, com objetos e fatos concretos, e coordenação de várias atividades em vista de um fim único. O método do projeto desenvolve a iniciativa, a responsabilidade, a criatividade e o espírito prático. Com ele, os alunos aprendem a solucionar os problemas e não somente criticar. Desenvolvem a capacidade de cooperar, a solidariedade, o espírito comunitário e a união. Aprendem a viver em grupo, a tolerar os defeitos dos colegas e a se respeitarem entre si mesmos. 241 É aprendizagem verdadeira por toda a vida, porque nela não existe aprendizagem mecânica, “decoreba”, e, sim, observação, análise, reflexão, compreensão, ação e solução de problemas. Atende às mais diferentes aptidões dos alunos, tais como: desenhar, fazer cartazes, fazer cálculos, liderar, coordenar, pesquisar, entrevistar, falar em público e redigir. Várias disciplinas podem colaborar ou tirar proveito da execução de um projeto. A aprendizagem feita assim será mais significativa, mais envolvente, pois se relaciona com a prática, com a vida real. Faz com que os conteúdos das diferentes disciplinas sejam integrados e fundidos em situações reais. Desenvolve o gosto pelo estudo, pois os alunos estudam para produzir o projeto, para resolver uma situação concreta, que tenha sentido. A aprendizagem, assim, torna-se agradável. Dá oportcapítulo para o surgimento de líderes. Os alunos trabalham livres, sem pressão por parte do professor. Cada um dá o que pode para que tudo dê 242 certo. É uma aprendizagem para a democracia, visto que os alunos assumem responsabilidades, tomam decisões, cooperam e executam-nas. Um exemplo de projeto: combate ao pernilongo, em área residencial O pernilongo – o mosquito – é um problema que perturba grande parte dos habitantes das cidades. Os alunos e os pais destes ficariam muito satisfeitos, se pudessem eliminá-lo. Esse exemplo pode ser aplicado, da mesma forma, para o mosquito da dengue, o temido “Aedes aegypte”. Como surgiu o tema: Certo dia, um aluno perguntou ao professor de biologia: “Professor, donde vem o pernilongo?” O professor deu a resposta. Em seguida, perguntou ao aluno se na casa dele tinha muito pernilongo. O aluno respondeu que sim. Outros alunos também disseram ter muito pernilongo em suas casas. O professor aproveitou e disse: 243 “Vamos acabar com o pernilongo aqui do nosso bairro?” Os alunos fizeram várias perguntas de como isso poderia ser feito. Ficaram entusiasmados com a ideia e aceitaram a proposta do projeto feita pelo professor. Foi assim que nasceu o projeto. O professor sugeriu as seguintes atividades preparatórias: a – Identificar o tipo de pernilongo; b – Descobrir e estudar como ele se reproduz; c – Verificar onde ele se cria. O professor indicou a bibliografia na qual os alunos foram pesquisar os vários tipos de pernilongos, como e onde se reproduzem, de que se alimentam, as doenças que podem transmitir etc. Os alunos trouxeram algumas espécies de pernilongo de casa. Com a ajuda do professor, identificaram o tipo de cada um dos pernilongos. Um dos alunos disse que, no quintal da casa dele, há um pneu velho, cheio de pernilongos. Como esse aluno morava perto do colégio, o professor 244 aproveitou e levou a turma toda para observar a água parada, poluída e cheia de larvas de pernilongo. De volta à escola, o professor dividiu a turma em 3 equipes para fazer um bombardeamento mental, cujo objetivo foi o de encontrar alternativas para combater o pernilongo, e, assim, ter pistas de como encaminhar o projeto. Surgiram ideias muito interessantes por parte dos alunos as quais foram aproveitadas para o projeto. O professor pediu também a colaboração dos outros professores da turma para o planejamento e a execução do projeto. b) Unidade de experiências Consiste em atividades relacionadas às experiências dos alunos sobre determinado assunto do conhecimento destes. Unidade de experiências são experiências que, relacionadas entre si, formam uma unidade, um todo. Uma experiência ajuda a compreender outra e, todas juntas, a compreender o todo. Elas devem ser tiradas da própria realidade vivida pelo aluno em seu meio sociocultural. 245 Na unidade de experiências, não se fala em matérias, disciplinas. O conteúdo trabalhado é psicológico e não lógico. Isto quer dizer que o conteúdo nasce dos interesses e experiências dos alunos e não da cabeça dos adultos. É conteúdo vivo, com sentido, e não morto e desligado da realidade. Quando os alunos não conseguem resolver alguma dúvida ou questão, aí, sim, buscam socorro nas diversas áreas ou disciplinas do conhecimento humano, nas quais passam a buscar informações das mais diversas formas e fontes. Informações de que eles precisam e não que os professores querem que eles aprendam. imediatamente Essas organizadas informações para servirem são à experiência em questão. A unidade de experiências provoca muito entusiasmo e esforço nos alunos. Eles vão descobrindo que o que aprendem tem uso na vida, tem sentido. Satisfazem a curiosidade e aprendem conversando, brincando e praticamente sem estudar. Sem estudar, aqui, está no sentido de fazer aquele 246 esforço desagradável de aprender, decorar matéria, sem interesse e sem sentido. As atividades e as experiências são reais ou sobre coisas reais. Os alunos pensam sobre algo concreto e não fictício e abstrato. O material que usam é concreto. São situações da própria vida e não distanciadas dela. As informações que buscam são usadas para satisfazer as curiosidades e as necessidades do próprio aluno. Elas formam um todo orgânico e estruturado igual à vida ou ligado a ela. É o processo de educação, associado ao processo de informação. Os alunos conhecem e se educam ao mesmo tempo. Com a unidade de experiências, o aluno estará altamente motivado. Observará tudo com mais atenção. A aprendizagem ocorre globalmente, sem ser engavetada em compartimentos estanques por disciplina. Isso facilita a transferência e o uso da aprendizagem. Faz com que a aprendizagem se torne útil para a vida do aluno e para a sociedade. Isso torna o conteúdo também prático e significativo. 247 O conteúdo a ser aprendido é aquele necessário ao desenvolvimento das experiências. Será um conteúdo fundido ou integrado à situação real de vida; é usado na prática e não fica na cabeça do aluno, sem este saber o que fazer com ele. A matéria a ser aprendida será subproduto do processo de aprender e das experiências que forem sendo realizadas. As disciplinas ou matérias entram em jogo para ajudar a realizar as experiências, para dar a eles fundamento ou base teórica. A grande vantagem disso é que as informações obtidas são imediatamente compreendidas, estruturadas e utilizadas. A aprendizagem feita assim dificilmente será esquecida e estará pronta para ser utilizada em outras situações. Os alunos têm oportcapítulo de atender à própria curiosidade. Eles podem falar, participar, fazer e não precisam ficar quietos e parados como nas aulas tradicionais. Eles têm oportcapítulo de aparecer, de se exibir, sem prejudicar a classe. Os alunos têm oportcapítulo de realizar as próprias experiências e, 248 com isso, passam a ter conteúdo para falar e redigir textos. As experiências dão oportcapítulo ao desenvolvimento de objetivos educacionais que são mais importantes que os objetivos instrucionais, ou de simples aprendizagem de informações. c) Centro de interesse Este método consiste num conjunto de atividades, girando em torno de um assunto que seja significativo e de interesse dos alunos. O assunto possibilita pesquisas e estudos variados, mas não é apropriado para realização de projeto e nem de experiências sobre ele. Por isso, chama-se centro de interesse. O centro de interesse, se o tema for bem escolhido, vai ao encontro dos interesses, necessidades e curiosidades dos alunos. São assuntos relacionados à vida deles, ao seu meio, ao seu mundo. São, portanto, úteis e significativos para eles. 249 Dá oportcapítulo para os alunos desenvolver muitas atividades em perfeita liberdade, podendo ler, pesquisar, discutir e satisfazer curiosidades, sem interferência ou pressão do professor. Os diversos aspectos do assunto são estudados de forma globalizada, em que não aparecem as matérias. Eles tudo fazem como se estivessem apenas vivendo. É uma aprendizagem gostosa, agradável, que acontece sem muito esforço e que faz com que os alunos gostem de estudar. Se algum aluno se interessar por um determinado assunto especial, ou livro, o professor deve estimulálo para que continue estudando e se interessando por aquele conteúdo. d) O método de solução de problemas Este método consiste na identificação e delimitação de problemas reais para serem solucionados por meio de estudos e pesquisa. Esses problemas podem estar relacionados a sociedade, a um campo profissional ou mesmo a assuntos escolares. 250 Escolhe-se um problema que esteja afligindo a população para ser estudado em todos os seus aspectos como, por exemplo, a fome, a poluição ambiental, a erosão, o desmatamento, entre outros. Em cursos de formação de professores, podemos selecionar como problemas: a repetência, a falta de higiene, a desnutrição, entre outros. Destaquemos como exemplo, a poluição ambiental. É um tema que pode ser tratado desde o Ensino Fundamental à Educação Superior e que está afligindo a maioria das grandes cidades. No Ensino Fundamental, o problema pode ser trabalhado pelo professor da classe. Daí em diante, todos os professores da série podem se envolver, de uma forma ou de outra. Trabalhemos com uma 6ª série, em que vários professores possam participar. Suponhamos que a escola esteja situada em São Paulo, próxima a uma indústria. O dia está “pesado”, ameaçando chuva. O ar está todo 251 esfumaçado e um mau cheiro forte perturba os alunos. Alguns deles se queixam que as vistas estão ardendo. O professor de ciências aproveita e faz alguns comentários sobre as formas de poluição e os prejuízos que ela causa à saúde. Em seguida, convida os alunos a irem à biblioteca para fazer uma pesquisa sobre o assunto. Seleciona os livros e sugere os itens a serem lidos. No dia seguinte, o professor solicita que os alunos se reúnam em grupos de seis para listar as fontes de poluição que conhecem no bairro onde moram. Os grupos apresentam, também, sugestão de se fazer uma visita a esses locais para observar de perto o problema e como este poderia ser resolvido. O professor de ciências convida os demais professores da classe e cada um se responsabiliza por uma equipe de alunos para a realização das visitas. As equipes visitam fábricas, observam a fumaça das chaminés, as águas poluídas e o mau cheiro que exalam no ar, a poluição nos córregos e nos rios, e vão anotando tudo. Conversam ou fazem 252 entrevistas com responsáveis, com relações públicas ou com o gerente das fábricas. Todos esses profissionais apresentam explicações e justificativas. Alguns chegam a afirmar que a fumaça da fábrica não faz mal à saúde. Os alunos observam, também, a fumaça que os carros e caminhões soltam pelos canos de escape. Alguns, com fumaça intensa e bem escura. Para certificar-se do mal que a poluição pode causar, convida-se um médico, especialista em doenças do pulmão, para fazer uma palestra. Este aborda os vários tipos de doenças que a poluição pode provocar. Apresenta tabelas com os tipos e graus de poluição e a tolerância do organismo humano a cada um. Os alunos anotam o que podem. Os alunos querem saber como se descobre e se mede o tipo e o grau de poluição da atmosfera e do ar. O médico sugere que seja convidado um químico para explicar isso. É convidado um químico especialista em meio ambiente. Ele traz vários aparelhos e convida os 253 alunos a acompanharem-no na análise do ar e da água. Vão ao laboratório e fazem várias análises. O resultado é discutido em sala de aula com o professor de ciências e de geografia. Embora os alunos nada entendessem de química, viram e sentiram a importância prática dos conhecimentos desta ciência para o bem do homem. O professor de estudos sociais organiza uma sessão de bombardeamento mental para que os alunos apresentem propostas de solução ao problema. Muitas alternativas são apresentadas. Entre estas, destacam-se: - publicar em jornais os resultados das análises feitas no laboratório; - solicitar ajuda das demais turmas da escola; - encaminhar ofício ao governador, ao prefeito e aos responsáveis pela saúde pública do Estado e do Município, solicitando providências; - mandar carta a todas as escolas da Grande São Paulo, pedindo reforço para a campanha; 254 - elaborar cartazes com as tabelas dos níveis de poluição constatados nas análises e afixá-los no metrô e nos ônibus urbanos. A partir daí, os alunos organizam-se em equipes para executar as alternativas propostas. Fazem tudo o que foi previsto. Conseguem a adesão das outras escolas e executam uma bela campanha. O professor de estudos sociais estuda com os alunos os direitos do cidadão: à vida, à saúde. Estuda a evolução econômica do Brasil, o crescimento industrial e a legislação que proíbe a poluição e que manda aplicar multas às indústrias poluidoras. O professor de matemática ajuda a elaborar as tabelas, após terem feito os cálculos dos índices de poluição e as porcentagens. Meio ano transcorre e nada foi resolvido. Os alunos decidem envolver os pais e a comcapítulo no projeto. Redigem circulares às outras escolas, aos pais e aos comerciantes. Organizam manifestação numa praça, no centro da cidade. uma 255 Mais três meses transcorrem e apenas algumas indústrias acabam com a poluição. Os estudantes voltam a se reunir para tomar novas decisões. Várias alternativas são colocadas e executadas. Mais um tempo se passa e organizam uma greve geral dos estudantes da Grande São Paulo. Aqui, mais uma vez entra a assistência dos professores de estudos sociais. Numa das escolas, o diretor encaminha comunicado aos pais, pedindo para que os alunos não participem da greve. Ele entende que greve é só para trabalhadores e que o assunto é de competência das autoridades do Município e do Estado. Os estudantes organizam-se e preparam um folheto para rebater e fundamentar a necessidade da paralisação das aulas (greve). Entre outras razões, destacam a omissão das autoridades com relação ao assunto, necessidade de conscientização geral da população sobre os males causados pela poluição e que todos são responsáveis pela defesa dos direitos dos cidadãos. Fazem um histórico das várias 256 tentativas e movimentos já feitos, sem êxito. Chamam atenção para que o bem da maioria, no caso, a saúde da população que está acima dos interesses econômicos de uma minoria que não quer ter gastos para sanar o problema. Em face disso, entendem que a greve é medida válida, legítima e certamente eficaz. Conseguem, também, a adesão dos colegas daquela escola e o apoio dos pais. A greve foi um sucesso total, como também os seus resultados. Em poucos dias, o Estado lançou pesadas multas às indústrias, e vários gerentes encaminharam ofícios ao comando de greve, informando que, em três ou quatro meses, teriam solucionado o problema. Esse exemplo foi imaginado. É, porém, possível ser implementado após adaptado para a localidade em que está inserida a escola. e) O método da excursão O método da excursão é mais um que pode ser trabalhado com ações integradoras ou de forma interdisciplinar ou transdisciplinar. Para onde fazer excursão? 257 Isso vai depender do nível dos alunos, dos objetivos que se têm em vista, da distância, das condições dos alunos e, principalmente, da importância do local a ser visitado. Locais que podem ser aproveitados são, por exemplo, horta, bosque, sítio, fazenda, indústria, estação de tratamento d´água, vertedouros, lagos, riachos, zoológico, prefeitura, correio, serra, praia, mar, pantanal, lugares turísticos, museus, posto ou centro de saúde, entre outros. Uma excursão pode ter início, com perguntas formuladas pelo professor, em sala de aula: - “Serginho, onde você lavou as mãos?” - “Na torneira, professor”. - “A água da torneira dá para beber?” - “Dá, sim, professor”. - “Como é que você sabe?” - “Todo mundo bebe”. 258 - “Muito bem. Quem já viu donde vem a água que tomamos aqui na escola? Onde é que a água entra nos canos? Um dia, vamos lá ver”. Com esse diálogo, foi lançado o convite para a ação. A partir desse instante, as crianças ficam ansiosas em querer ver a estação de tratamento d´água, mas o professor nada deve prometer a elas ainda. Primeiramente, ele próprio deve fazer uma visita à estação para solicitar autorização para a visita e levantar todos os objetivos que podem ser alcançados com o referido método. Deve observar tudo o que possa aproveitar para mostrar e explicar às crianças. Deve também entrevistar os encarregados, que poderão dar muitas orientações a ele e até dar palestras e responder às perguntas dos alunos no dia da excursão. Com esse método, o aluno vê, observa, pergunta e analisa a realidade. Aprende a observar, a anotar e descobre muitas coisas novas. Amplia a curiosidade e comenta as perguntas. Permite aprendizagem em clima de liberdade e prazeroso. O 259 aluno tem oportcapítulo de adquirir muitas experiências novas. Terá assunto concreto para a elaboração de relatório e outros textos. Poderá levantar muitas questões sobre assuntos diversos que podem ser objetos de pesquisa bibliográfica e discussões em sala de aula. O professor não deve esquecer de observar os locais que possam oferecer perigo às crianças, para evitar acidentes, e pedir autorização dos pais, com antecedência. Antes do dia da excursão, o professor deve ter feito um bom planejamento. Assim, ele poderá assegurar melhor aproveitamento, maior segurança para os alunos e evitar atropelos e aborrecimentos. Para uma excursão, o professor deve definir, claramente, os objetivos que pretende alcançar. Se possível, deve estabelecê-los junto com os próprios alunos, ou então fazer com que eles saibam exatamente o que se pretende alcançar com a excursão. 260 Para uma excursão à estação de tratamento d´água, podem-se buscar os seguintes objetivos: - identificar e descrever a água antes do tratamento; - caracterizar a água depois do tratamento; - relacionar os elementos químicos usados no processo de tratamento; - relacionar os diferentes processos pelos quais passa o tratamento; - justificar o tratamento da água; - desenvolver senso de responsabilidade de cada aluno e dos grupos. Exemplo de plano de excursão Título: Plano Paranaguá Série: 4º ano Duração: 5 dias de viagem de estudos a 261 Período: a acertar A turma será dividida em 5 grupos. Cada grupo deverá elaborar o seu plano. Entre as recomendações a serem observadas pelo grupo, constam: - o uso do caminho mais curto, utilizando o menos possível a BR 376 e BR 277; - o cálculo do percurso e da distância, utilizando régua, mapas, cronômetro e hodômetro; - a leitura e o estudo sobre história e geografia do Paraná: rodovias, rios, serras, montes, cidades litorâneas, portos, fundação de Paranaguá, baía, ilhas, formas de vida, transformações, meio ambiente, cultura, arte, costumes, alimentação, religiões; - a previsão de tudo o que poderá ser observado no caminho e como isso será registrado. Os alunos deverão trazer livros, revistas, jornais; analisar mapas; fazer cálculos; discutir e trocar ideias e escrever seus planos, que serão transformados em um plano único. 262 Será fretado um ônibus para a viagem. Cada aluno terá o seu bloco de anotações, no qual será anotado tudo que observar sobre os itens que estão no plano. De volta à escola, cada um, e também cada grupo, apresentará seu relato. Ao final, será elaborado, em português caprichado, um livrinho: Nossa Viagem a Paranaguá. Um plano executado com essa metodologia garante uma aprendizagem contextualizada, concreta, interdisciplinar, sociointerativo que e problematizadora, privilegia atende significativa, aos um trabalho princípios da entende-se os neurodidática. f) Recursos didáticos Por recursos didáticos profissionais envolvidos na ação docente e os recursos materiais e tecnológicos que o professor utiliza para auxiliar e facilitar a aprendizagem dos alunos. São também chamados recursos didáticos os meios auxiliares, meios didáticos, material didático, 263 recursos audiovisuais, instrucional. multimeios Preferimos, porém, ou material denominá-los simplesmente de “recursos didáticos”, por ser mais abrangente. Os recursos didáticos atendem, em parte, à afirmação de Aristóteles: “Nada está na inteligência que antes não tenha passado pelos sentidos”. Os sentidos são, sem dúvida, as portas de entrada das sensações que se transformam em percepções estruturadas, e que, uma vez constituem-se em organizadas e aprendizagem. Assim, os recursos didáticos levam as imagens, os fatos, as situações, as experiências, as demonstrações até o campo de consciência do aluno. Na consciência do aluno, estes são transformados em representações, abstrações, em ideias. Vendo concretamente, é mais fácil para o aluno transformar a realidade e os fatos em ideias. No cérebro, não temos objetos ou recursos concretos; temos representações deles, ou seja, 264 abstrações. Teremos um laboratório de percepções, com uma infinidade de itens. Por mais que queiramos, por exemplo, descrever o bicho barbeiro, será difícil distingui-lo de outros insetos apenas por palavras. É fundamental que a pessoa veja o bichinho e, com ele à vista, o professor chame a atenção para as características deste inseto. É por isso que existe o ditado: uma imagem vale por dez mil palavras. A imagem, a visão real, não só economiza palavras, mas permite sentir algo tal como é, sem ter que imaginar a partir das palavras do professor. Quanto mais experiências concretas o aluno tiver vivido, mais ideias ele terá. Quanto mais ideias ele tiver, mais condições ele terá para pensar, raciocinar, inventar e resolver problemas. Mais lenha para a fogueira cerebral ele terá. Alguns recursos didáticos servem, também, para levar para a sala de aula fatos, experiências ou imagens que seriam difíceis ou impossíveis de serem 265 vividas em primeira mão, ou seja, diretamente pelo aluno. Além disso, os recursos didáticos são estimuladores, incentivadores. O aluno que vê, que toca, que manipula os objetos, que realiza as experiências, que age sobre os objetos tem mais facilidade de compreender. Desta forma, a aprendizagem torna-se mais real, mais concreta, mais significativa. Os recursos podem estar na escola, ou fora dela. Estes só podem ser usados, se levarmos o aluno até eles, ao local em que se encontram. Os recursos didáticos, bem utilizados, podem provocar impacto, suspense e, com isso, deixar os alunos mais atentos para as atividades ou para o estudo. Eles levam os alunos a observar e a prestar mais atenção e mesmo a tentar distinguir melhor as coisas. A partir disso, fazem perguntas, levantam hipóteses e realizam pesquisas. Os recursos de ensino podem mostrar a forma, a sequência de fenômenos, a posição, o tamanho, a 266 estrutura, o funcionamento de equipamentos, o movimento. Facilitam o reconhecimento de semelhanças e de diferenças: de animais, de plantas, de sexos, de insetos, de objetos. Imaginemos explicar a diferença entre abóbora e moranga. Por mais que tentemos, é difícil fazê-lo com êxito. Os recursos de ensino ajudam enormemente na comunicação, compreensão e na estruturação da aprendizagem cognitiva. Eles têm função importante, também, no incentivo e no alcance de objetivos afetivos: fazer o aluno gostar de estudar, gostar de uma disciplina ou de um assunto. Um aluno que vê uma célula de planta pode-se encantar por botânica, e mesmo por biologia, e passar a gostar da matéria para o resto da vida. Exemplos de uso de recursos didáticos Se o objetivo for estabelecer o conceito de ilha, o melhor a ser feito é verificar se existe, perto da escola, alguma lagoa ou rio que tenha ilha. Ir com os alunos até lá e, se possível, pisar na ilha. Depois 267 disso, porém, seria interessante utilizar mapas, mostrando outras ilhas no mar ou em rios mais próximos à escola. Se o objetivo for identificar ou caracterizar água potável, podemos utilizar vários meios. Levar os alunos para observar uma vertente (de preferência forte), um poço fundo, e explicar por que aquela água é pura. Observar também uma cacimba, chamando a atenção para as possíveis fontes de contaminação desta água. Em seguida, analisar um poço artesiano. Observá-lo concretamente e também por cartazes, mostrando as camadas de solo e as razões da pureza da água por ele fornecida. Depois, pode ser visitada uma estação de tratamento de água, desde a captação até o tratamento final. Por fim, podem ser realizadas observações e experiências de purificação da água, na própria sala de aula. Para isso, podem ser utilizados os seguintes materiais: microscópio, água parada e meio esverdeada, coletada em uma das visitas a rio ou lago, fogareiro, chaleira, balde, cal, flúor, mangueira, gelo, 268 carvão mineral, areia, garrafão claro sem fundo e arame. Com esses meios auxiliares, podem-se fazer quatro experiências ou demonstrações de como transformar água suja, ou água com microorganismos, em água potável. Antes disso, porém, é necessário demonstrar para os alunos que a água coletada contém “bichinhos”, microorganismos. Para isso, utiliza-se o microscópio. Todos os alunos devem ver os “bichinhos” no microscópio. Em seguida, passa-se às experiências. Pega-se uma parte da água suja do balde e põe-se para ferver na chaleira durante seis minutos e, após isso, deixa-se esfriá-la. Em seguida, pega-se um pouquinho dessa água para que os alunos a observem no microscópio. Não irão mais ver “bichinhos” vivos. É o momento de se fazer a segunda experiência. Toma-se o garrafão sem fundo, de bico para baixo, amarra-se nele um arame e acha-se um lugar apara dependurá-lo. Coloca-se primeiro o 269 carvão mineral, 1Kg mais ou menos, em seguida 1 ou 2 Kg de areia e, depois, água suja por cima. Embaixo, coloca-se uma vasilha para receber a água que vai saindo limpa e cristalina. Outra experiência é colocar água suja numa vasilha, de mais ou menos 1 litro, e jogar dentro dela uns 50 g de cal, com um pouco de sulfato de alumínio. A sujeira deposita-se no fundo e a água fica cristalina. Essa água precisa receber ainda um pouco de flúor e cloro, para se tornar potável. A última experiência é ferver a água na chaleira. Coloca-se no bico de saída da chaleira uma mangueira, que deve fazer uma curva para o alto. A parte que desce coloca-se entre duas barras de gelo ou faz-se passar por dentro de água gelada. O vapor de água vai sair na outra ponta da mangueira novamente como água. É a água destilada. A tecnologia na educação Tecnologia educacional é a aplicação dos princípios e das descobertas científicas das diversas 270 disciplinas do campo da educação na educação. É aplicar ciência na educação. A tecnologia educacional tem seus fundamentos na Psicologia da Educação, na Biologia Educacional, na Sociologia e nas neurociências. Todas estudam a natureza da criança e apresentam os princípios que devem ser seguidos pelo educador para que tenha êxito na sua função de educar. Tecnologia educacional é compreensão e respeito à natureza do aluno. A tecnologia educacional pode e deve utilizar a tecnologia aplicada à educação. Tecnologia aplicada à educação são os recursos hoje disponíveis como suporte dos conteúdos, das imagens, dos jogos e os meios de comunicação: rádio, TV, Internet. Por si só, essa tecnologia de nada serve. Seria o mesmo que puxar uma planta para ela crescer mais depressa a qual pode se quebrar ou ficar deformada por não ter sido respeitada sua natureza. A força da planta vem de dentro dela. 271 O mesmo acontece com os alunos. A força para sua educação vem de dentro deles, de suas necessidades, interesses, aspirações e, principalmente, de sua vontade. A ciência agrícola descobriu que cada planta só cresce bem em determinados tipos de solo. Coletou amostras desse solo e as examinou em laboratórios especiais. Após muitos estudos, foram elaboradas tabelas, contendo os elementos minerais e as respectivas porcentagens que o solo deve ter para cada tipo de planta. A cenoura, a beterraba, o repolho, cada uma necessita de elementos e/ou porcentagens diferentes. Hoje, o agricultor não precisa mais escolher o solo para fazer suas plantações. Faz a análise do solo e corrige-o, acrescentando os minerais que faltam para cada tipo de planta que pretende cultivar. A isso, chama-se tecnologia agrícola. De forma semelhante, deve trabalhar o professor: conhecer os fundamentos da educação para poder trabalhar cientificamente com seus alunos. 272 O que vem antes, a teoria ou a prática? Em educação, a prática veio antes. Foi da prática que surgiram as teorias. Mas, hoje, a teoria deve vir antes, pois já foi feita muita prática e têm-se muitos princípios decorrentes dela. Todo aprendizagem, professor embora tem nem sua teoria sempre de tenha consciência disso ou não a saiba fundamentar. Ele pode também se guiar por teorias ultrapassadas e até empregar mal estas teorias. O professor precisa estar atualizado quanto ao que existe de mais recente sobre os fundamentos da educação e sobre Didática e Neurodidática. Precisa conhecer as várias teorias, analisá-las e extrair o que cada uma tem de bom e de útil. A ação do professor deveria ser consciente e bem fundamentada. De Dewey, podemos aproveitar o princípio de que o aluno aprende solucionando problemas; que ele observa, levanta hipóteses, experimenta e conclui; que o problema o faz pensar, raciocinar. Dá um bom fundamento quanto aos métodos de aprendizagem. 273 Da teoria de Piaget, conclui-se que é a necessidade de respeitar os alunos; que se monta a estrutura da inteligência pela ação sobre o real. Traz base para a organização do currículo e para os métodos também. E, assim, podemos ir longe, analisando as teorias, uma a uma, para fundamentarmos o nosso trabalho com os alunos. Tecnologia aplicada à educação Tecnologia aplicada à educação é a busca e a aplicação da tecnologia dos vários campos do conhecimento humano na educação. Assim, a tecnologia elétrica, a tecnologia eletrônica, a tecnologia da comunicação, quando usadas na educação ou pela educação, são tecnologias aplicadas à educação. Aqui, incluem-se o computador e a Internet, o celular e seus aplicativos, a TV, o videocassete, o gravador, o rádio, o retroprojetor, vídeos, filmes comunicação. e, ainda, a própria teoria da 274 A maior parte dessa tecnologia é rica em recursos didáticos. Alguns são até bem sofisticados. À medida que se desenvolve essa tecnologia, deve o professor acompanhá-la e aperfeiçoar sua aplicação. No futuro, seguramente, serão muito usadas as facilidades que poderão trazer para o desenvolvimento da educação. Dos princípios acima comprovados pela neurociência, cabe aos professores aplicá-los na tecnologia educacional. Para isso, é necessário que os professores desconstruam os condicionamentos a que foram submetidos a vida toda como alunos e como professores de “dar aula”. Os termos “transmitir matéria, dar conteúdo, informações verbais” devem ser eliminados da linguagem didática. Estão ultrapassados há tempo O professor sempre deve ter em mente os fins e objetivos que pretende que seus alunos alcancem e fazer um trabalho coerente com eles. 275 Para haver aprendizagem eficiente, o professor pode lançar mão de uma infinidade de meios. Podemos relacionar os seguintes: - apresentar situações que levem os alunos a acionar o processo de operações mentais, analisando, comparando, concluindo e organizando as informações e experiências em sua mente; - solicitar pesquisas, fazendo o próprio aluno buscar as informações de que precisa; - trabalhar com o concreto e a partir da realidade do aluno; - orientar os alunos a eles próprios para formular objetivos, definir e tornar claro o que e por que querem aprender; - sugerir ou apresentar temas e atividades interessantes e significativas para os alunos fazerem ou estudar; - criar situações em que os alunos possam aplicar as informações teóricas; 276 - provocar os alunos a falar, a discutir e a dar a sua opinião; - o professor deve ser como aquele pai que toma a frente nas brincadeiras com seus filhos. Pula, fica alegre, entusiasma-se e contempla seu filho aprendendo a brincar. O mesmo deve acontecer com o professor. O aluno imita-o, compraz-se com o entusiasmo contagiante do professor. Imita o professor em suas qualidades, no estudo, na pesquisa, em sua ânsia de buscar a verdade e o saber; - de que adianta alguém ter sua casa cheia de móveis, artigos, eletrodomésticos e não saber utilizálos? O mesmo ocorre com o estudante cheio de conteúdo, mas que não sabe utilizá-lo quando necessário. Observe quantas formas de atividades podem ser usadas, em vez de “dar aula”. E essas atividades são, seguramente, mais importantes para se alcançar objetivos úteis ou se chegar à aprendizagem. O 277 professor deve deixar de “dar aula”, sofrer menos e fazer os alunos aprenderem mais. A integração da internet na aprendizagem: o presente e o futuro do ensino Que fatores contribuirão para distinguir o presente e o futuro do ensino? Analisemos esta questão em quatro planos diferentes – a escola, a aprendizagem, o aluno e o professor. Enquanto a escola de hoje está praticamente limitada às quatro paredes de sala de aula, a de amanhã abrirá as portas ao mundo exterior e estará em permanente interação e colaboração com outras escolas; está ainda bastante desligada da família e da comcapítulo, a de amanhã abrir-se-á a estas duas instituições; se rege por períodos letivos de 50 minutos, a de amanhã reger-se-á por períodos letivos de duração diversa (D’ECA, 1998, p. 57). No que se refere à aprendizagem, enquanto a de hoje se centra no professor, a de amanhã centrar-se-á no aluno; é massificada, a de amanhã será muito mais individualizada; é essencialmente unidisciplinar, a de amanhã será multi e interdisciplinar; 278 é igual para todos, independentemente dos anseios, capacidades e ritmos individuais, a de amanhã permitirá contemplar os interesses, as necessidades, as aptidões e os ritmos de cada aluno; se baseia ainda em parte de memorização, a de amanhã incidirá no raciocínio através da análise e resolução de problemas e situações reais, concretas (D’ECA, 1998, p. 57). No que diz respeito ao aluno, enquanto o de hoje é ainda em grande parte um receptor passivo de informação, o de amanhã contribuirá ativamente para a construção de seu conhecimento; trabalha a maior parte do tempo isoladamente, o de amanhã trabalhará fundamentalmente em colaboração; se encontra desmotivado porque não vê relação entre o que aprende e a sua vida, o mundo que o rodeia, o de amanhã, sentir-se-á motivado porque terá de enfrentar e resolver problemas autênticos do mundo real (D’ECA, 1998, p. 57 e 58). Relativamente ao professor, enquanto que o de hoje passa grande parte do seu tempo a transmitir conhecimentos (‘the sage on the stage’), o de amanhã será muito mais um facilitador, um orientador que um guia a aprendizagem (‘a guide on the side’); está mais ou menos preso a um programa e a um manual, o de amanhã 279 basear-se-á em interesses, necessidades e aspiraçõesdos alunos, e recorrerá a informação actualizada, em cima do acontecimento; se encontra bastante isolado e confinado à sala de aula, o de amanhã romperá com esse isolamento, partilhando ideias, estimulando e colaborando com colegas, onde quer que se encontrem (D’ECA, 1998, p. 58). O método Salman Khan e a rede Método criado por Salman Khan, celebridade da rede, ganha escolas e populariza tecnologia. Vídeos do autor com lições de matemática e ciências na internet atraem mais de 3,5 mi de acessos por mês “Os críticos de Khan afirmam que seu modelo é na realidade um retorno à decoreba do passado, sob uma fachada de alta tecnologia, e que seria muito melhor ajudar as crianças a deduzir um conceito do que forçá-las a memorizá-lo” (SENGUPTA, 2011, p. 1, Trad. Paulo Migliacci). 280 "O que Khan representa é um modelo que aproveitou o desejo generalizado de uma experiência de aprendizado personalizada, mas também barata e rápida", disse Jim Shelton, responsável por inovação e aprimoramento no Departamento da Educação, em Washington (SENGUPTA, 2011, p. 1, Trad. Paulo Migliacci). Neste semestre, (2/2011), pelo menos 36 escolas dos Estados Unidos estão testando a ideia de Khan: dividir o trabalho de ensino entre o homem e a máquina e combinar aulas dadas por professores a dicas e exercícios via computador (SENGUPTA, 2011, p. 1, Trad. Paulo Migliacci). Diane Tavenner, que dirige a Summit, diz acreditar que os computadores não poderão substituir os professores. Mas o computador, reconhece, pode fazer algumas coisas de que um professor não é capaz. Pode oferecer retorno personalizado a todos os alunos e oferece ao professor tempo adicional para um ensino mais criativo (SENGUPTA, 2011, p. 1, Trad. Paulo Migliacci). Aula de ponta-cabeça Claudio de Moura Castro, em artigo publicado na revista Veja, em 14 de dezembro de 2011, faz uma 281 análise sobre a metodologia, o uso da tecnologia e recursos didáticos na escola. Veja os comentários dele nas citações abaixo, De dois ou três séculos para cá, o jeito das aulas se fixou em uma fórmula clássica: o professor explica e depois, em casa, os alunos fazem o "dever", exercitando o que aprenderam. As variações sobre o tema têm sido mínimas, longe de, serem revoluções. Mas eis que pipoca uma novidade: quem sabe virar a rotina da aula de ponta-cabeça? O aluno aprende em casa e depois vai à aula. Nela, com a ajuda do professor, vai se exercitar no que estudou. Essa possibilidade e suas muitas variantes sempre existiram, pois nada impede os alunos de abrir seus livros para aprender a lição em casa. Na prática, por ser bem mais árdua, jamais foi uma solução adotada amplamente (CASTRO, 2011, p. 24). Mas eis que um jovem graduado do MIT, Salman Khan, recebe um pedido de primos, para que explique passagens mais complicadas da matemática. Se estivessem pertinho; ele explicaria pessoalmente, mas, como moravam longe, usou o YouTube para gravar a preleção. Deu certo [...] (CASTRO, 2011, p. 24). [...] No YouTube, ou onde quer que seja, pode morar uma aula expositiva, mostrando a matéria, tal como 282 apresentada por um bom professor. Mas, como está gravada, não depende do humor do mestre naquele dia ou da preparação, na véspera, além de poupá-lo da enfadonha repetição, dia após dia. Alguém no mundo deve ser o campeão de ensinar, por exemplo, regra de três. Por que contentar-se com uma aula pior? Faça um experimento. Faça um aluno de boa escola. Assistir a uma aula do Telecurso sobre algum assunto que ele já viu ao vivo do próprio professor. Aposto que ele achará melhor e mais clara a do vídeo. Aliás, a fórmula do Telecurso tem essa peculiaridade, pois os alunos olham o vídeo e depois interagem com o professor da telessala (CASTRO, 2011, p. 24). “[...] Ou seja, a tecnologia serve para congelar a melhor aula possível, sobre qualquer assunto. Quando precisar, está lá, para ser instantaneamente descongelada, na tela do computador[...]” (CASTRO, 2011, p. 24). [...] na aula expositiva o aluno acha que entendeu. Só descobre que não havia entendido quando precisa aplicar o conhecimento. Sendo assim, se - o exercício vai ser feito na aula a dificuldade emerge justamente no momento em que o professor está 283 presente para ajudá-lo e com amplo tempo para tal. De fato, a graça da fórmula é que o professor passa todo o tempo interagindo com os alunos onde é insubstituível, em vez de desperdiçar a aula repetindo uma preleção estacionada no YouTube, com direito a bis (CASTRO, 2011, p. 24). Capitaliza-se na existência de comunicadores brilhantes e dispostos a gravar aulas, na conveniência e ubiquidade do YouTube, somando-se a isso a velha e insubstituível interação pessoal entre mestre e aprendiz, na hora de aplicar os conhecimentos (CASTRO, 2011, p. 24). A neuroeducação e a EaD No mundo moderno onde o tempo é escasso e as pessoas necessitam de praticidade, a EaD aparece como aliada, pois, ao mesmo tempo que facilita a vida dos estudantes, garante a qualidade da aprendizagem. Mas a fala nem sempre é corretamente pensada e emitida. Nas aulas presenciais, o “conteúdo” é pensado por uma pessoa só. No material impresso ele é pensado por muitas pessoas; é 284 elaborado, democrática e industrialmente, por uma equipe de especialistas. A possibilidade de erro é menor do que na exposição oral. Afinal a escrita estrutura a fala. A apostila com o conteúdo pré-estabelecido e revisado, evita perda de tempo anotações incorretas e ao mesmo tempo possibilita que o estudante estude em seu ritmo e nos horários disponíveis. Afinal, já entramos na era de Gutemberg, há 500 anos. É necessário acompanhar a evolução e deixar os métodos arcaicos para trás. O ensino tradicional é bancário, pois o professor deposita conhecimentos e o aluno os guarda em gavetas isoladas. Não há contextualização nem construção do conhecimento. É um ensino que não tem nenhuma sustentação nas teorias e princípios atuais da aprendizagem. Nesse sentido é que o material didático para EaD procura, necessariamente, considerar os fundamentos psicológicos e didáticos para que o 285 aluno tenha satisfação em estudar e execute as operações mentais sugeridas pelo material. Quais são os objetivos dessas operações mentais? Aprender a construir, a interrelacionar experiências, conhecimentos, aprender a fazer, aprender a pensar e a desenvolver as demais habilidades e competências previstas na BNCC, nos PCNs e nos projetos dos cursos, bem como acompanhar os quatro pilares da educação, proposto pela UNESCO. Com boa teoria da aprendizagem, a prática docente será melhor. Os professores argumentam que teoria na prática não funciona. O que ocorre é que nem sempre ela é compreendida ou adaptada para a realidade em que é aplicada. Cabe aos professores, na produção de material, traduzir a teoria para uma linguagem objetiva, clara, e acessível com sugestões de como a mesma poderá ser aplicada em sala de aula. Sabemos que o acesso ao material de fundamentação científica é um tanto restrito. Isso 286 acarreta dificuldades na leitura e interpretação de texto. Precisamos começar, portanto, com material de fácil compreensão, e progressivamente oferecer maior diversidade textual. Esse livro deve contribuir, para que os professores se tornem mais seguros, mais autoconfiantes, sejam mais ousados e mesmo empreendedores em sua escola e, sobretudo, em sua sala de aula, bem como em sua comcapítulo. Há ainda a considerar que grande número de professores devido aos afazeres e compromissos diários não possui o hábito de ler, outros por sua vez não têm acesso a jornais e revistas, que os impedem de ser profissionais mais atualizados e competentes. Olhando por este prisma sabemos que o material impresso e as orientações de estudo devem propiciar oportcapítulo para que os estudantes (professores em exercício ou não) aprimorem o ato de ler, interpretar, produzir textos, construir, buscar informações, e sejam capazes de estudo 287 independente, tendo confiança em si e sendo ousados. Avaliação da aprendizagem Avaliação é a busca da certeza de que o aluno aprendeu, de que alcançou os objetivos. É juntar todas as informações possíveis para se conhecer as atitudes, as habilidades, as competências, os hábitos, os conceitos que o aluno desenvolveu. É fazer um julgamento das qualidades que o aluno já possui. Podemos, ainda, analisar e interpretar os efeitos que a aprendizagem exerce nos hábitos, habilidades, atitudes, comportamentos e competências. Avaliar é julgar, é apreciar o progresso do aluno, do ponto de vista quantitativo e qualitativo. Deve ser avaliado tudo o que o aluno já sabe, aprendeu e está aprendendo. Devem ser avaliadas suas atitudes, seu comportamento, suas maneiras de agir. 288 As atitudes que podem ser avaliadas são, por exemplo, honestidade, cooperação, responsabilidade, coragem, respeito, consideração, solidariedade, espírito crítico, interesse e vontade de trabalhar e de estudar; seu ajustamento pessoal e integração social. Os hábitos do aluno também devem ser avaliados: hábitos de questionar, de trabalhar, de ler, de estudar, de pesquisar; hábitos de limpeza, de higiene, de ordem, de organização. Em termos de habilidades, devemos avaliar o que o aluno sabe fazer, como ele pensa, sua maneira de estudar, de pesquisar, de ler, de resumir, de analisar, de trabalhar em grupo; se ele sabe analisar situações, pesquisar, tirar conclusões e resolver problemas; se é capaz de criar e inovar. O professor deve conhecer, também, as potencialidades de cada um dos alunos. O que ele é capaz ou não de fazer e as condições que ele tem para aprender. É preciso descobrir, também, tudo o que possa atrapalhar a aprendizagem do aluno. 289 Avaliar conhecimento e quantidade de informação é o que menos interessa. Infelizmente, é o que mais se faz. As informações somente são úteis, se ajudar os alunos a ser melhores, a desenvolver suas qualidades. Informações que ficam armazenadas na memória do aluno, sem que este as saiba usar, de nada adiantam. Por isso, precisamos avaliar o efeito que elas produzem no aluno e como o aluno as utiliza. Só assim a avaliação terá realmente sentido. Deve-se avaliar sempre. Do início ao fim da aula, o professor pode dificuldades, atitudes, observar nos alunos: habilidades, hábitos e conceitos. Pode observar os alunos no recreio, ou na biblioteca. Pode falar com os pais dos alunos para avaliá-los no comportamento destes em casa. O professor deve avaliar o aluno a todo instante, o dia todo, durante o mês todo e durante o ano todo. Formas e instrumentos de avaliação 290 a. Observação A observação é a forma mais correta de avaliar o aluno. Ela é mais flexível, abrangente, informal e mesmo mais justa. Pela observação, podemos verificar o alcance de quase todos os objetivos. O que pode ser observado: - as atitudes do aluno: responsabilidade, honestidade, lealdade, sinceridade, cooperação, solidariedade, coragem, persistência, tolerância. - o comportamento do aluno: seu relacionamento; sua disposição de cooperar, de ajudar os colegas nas dificuldades; se ele demonstra ser uma pessoa livre, crítica, independente ou, ao contrário, submissa, pacata e subserviente. - as habilidades: se sabe ler com compreensão; se sabe interpretar e analisar um texto com espírito crítico; se sabe estudar; se tem facilidade de compreender, em perceber relações; se sabe realizar as experiências e atividades que forem solicitadas a ele; se sabe trabalhar em equipe; se tem originalidade, 291 criatividade; se sabe falar corretamente; se sabe argumentar. - os interesses: as perguntas que faz; os assuntos ou livros que lê e que retira da biblioteca; o que gosta de fazer; pelo que demonstra mais curiosidade; se ele se interessa por fatos sociais, por certas notícias em televisão, jornais e revistas. - as atividades, exercícios e tarefas: se o aluno faz as tarefas; se ele acerta; se tem zelo; se é pontual no cumprimento dos prazos; se mostrou que compreendeu e é capaz de aplicar os conhecimentos na solução de exercícios ou problemas práticos. - conhecimento: se o aluno demonstra conhecimento quando fala, discute, ou faz suas atividades. Certamente, pode-se notar que, pela observação, é possível avaliar quase tudo sobre a personalidade do aluno. Será que precisamos usar provas para avaliar a aprendizagem do aluno? Será que o professor não poderia dispensá-las? 292 b. Trabalhos Por meio dos trabalhos, o professor poderá constatar a capacidade de análise, de síntese, de crítica e de organização das ideias dos alunos, bem como suas dificuldades. Os trabalhos não devem ser solicitados para que o aluno faça cópias volumosas. Ele deve elaborar, e o professor cobrar ideias pessoais sobre o assunto; deve fazer pesquisas em várias fontes, comparação das ideias de uma fonte com outra e análise crítica. Os trabalhos têm grande inconveniente, pois podem ser feitos por outras pessoas. Para evitar isso, o professor deverá valorizar a aprendizagem do aluno, elogiando-o pelos seus progressos, analisando o trabalho com cada aluno e desprezando o aspecto nota. Se quiser dar nota, deve ser com peso baixo, não significativo para a aprovação. c. Entrevistas Na entrevista, o professor questiona o aluno sobre tudo o que possa interessar para um bom entendimento entre os dois e o crescimento do aluno. 293 As entrevistas são ótimas para uma aproximação entre professor e aluno. O professor deve deixá-lo bem à vontade para que ele extroverta todas as suas mágoas, angústias e dificuldades. Assim, o professor poderá descobrir as limitações, bem como os interesses, as necessidades, as atividades e os conteúdos preferidos do aluno. d. Situação-problema e estudo de caso O professor apresenta a situação-problema, ou o caso. A avaliação será feita, observando se os alunos localizam as fontes onde obter as informações necessárias para resolvê-la e se já sabem usá-las. Observa se os alunos usam a imaginação, se sabem relacionar as variáveis e resolver o problema. Enfim, o professor observa como o aluno age e se este usa a metodologia adequada para resolver o caso. Metodologia Você já viu métodos e técnicas que podem ser utilizados para atender aos princípios da neurociência e da neurodidática. 294 Mas, em cada nível ou etapa de educação e ainda em áreas ou disciplinas diferentes, podem ou devem ser usadas metodologias apropriadas. Em todas as orientações de estudo, as questões, os problemas e os projetos devem provocar o estudante a: • observar, analisar fatos e fenômenos, comparar, deduzir, integrar, construir, pensar, refletir, concluir e aplicar; • ter ideias, discuti-las, defendê-las, e apresentá-las a grupos e para a sala; • aprender a estudar, a interpretar, a pesquisar, inferir, a produzir ideias próprias a partir do que leu, escrevê-las, chegando a produzir textos e artigos; • ser curioso, a querer descobrir, investigar; • querer ser honesto, ético, responsável, enfim a ter valores morais e sociais. 295 Toda aprendizagem ocorre por sinapses, ligando um neurônio a outro, por operações mentais. O comando para operações se dá por verbos e complementos que são usados nos métodos, técnicas e estratégias de aprendizagem. O cérebro é constituído de várias partes. Como vimos anteriormente, o cérebro todo tem cerca de 100 bilhões de neurônios. Toda operação mental gera sinapses que ligam os neurônios entre si, formando uma rede. Para uma pessoa ter mais habilidades, melhores atitudes e comportamentos e competências, é necessário integrar, também, cada parte do cérebro com as demais partes. A parte básica que vai fornecer o combustível para a ação é o hipocampo e a amígdala. Essas duas partes são responsáveis pelas emoções. Mas, a parte que comanda as operações mentais é o córtex. É no córtex que são operadas as principais funções do cérebro, tais como: memória, atenção, consciência, linguagem, percepção e pensamento. 296 Para uma verdadeira aprendizagem, o ideal é desenvolver cada parte do cérebro por atividades específicas e integrando as partes por atividades transdisciplinares, utilizando os métodos, as técnicas e as estratégias apropriadas vistas neste capítulo. Veja na figura abaixo: Fonte: Revista Mente FIORAVANTE, 2013, p. 10. e Cérebro, nº181, p. 25. In: Vygotsky, em seus livros, usa, com frequência, os termos “operações mentais”. Fiquei curioso e fui anotando todos os verbos que encontrava nas leituras e imaginava ser úteis para operações mentais, que poderiam, ao mesmo tempo, servir como objetivos a 297 serem buscados e, também, como estratégias para desenvolver habilidades e competências. Veja a imensidade de verbos que podem ser usados no processo de aprendizagem para fazer sinapses entre os neurônios e integrar as partes do cérebro entre si: Sugira, aplique, comente, pratique, interprete, identifique, elabore, participe, dê exemplos de, monte, selecione, serie, anote, sintetize, estabeleça relações entre, ordene, classifique, categorize, arranje, organize, construa, reconstrua, estude, experimente, investigue, pesquise, resolva o seguinte problema ou quebra-cabeça, crie, sistematize, estruture, aplique, associe, compare, distinga, discrimine, abstraia, pense, reflita, raciocine, reconheça , aprecie, imagine, calcule, solucione, integre, generalize, invente, produza, contraponha, questione, conclua, renomeie, mude, descubra, pergunte, entreviste, reagrupe, reconstrua, destaque, reorganize, simplifique, analise, deduza, explique, substitua, conclua, aponte, colete, combine, defina, descreva, diferencie, discrimine, 298 distinga, escolha, isole, liste, investigue, ordene, selecione, separe, assinale, cite, diga, compile, escreva, localize, transfira, resolva, sublinhe, traduza, gradue, transforme, meça, peça, visite, ouça, utilize. Embora os verbos para orientação de estudos estejam no imperativo podem ser utilizados em outro modo, de acordo com a conveniência. Quanto mais cedo a criança iniciar operações mentais com os verbos aqui citados, maiores habilidades e competências ela terá para enfrentar a vida e fazer sucesso. Síntese Neste capítulo, ilustrei em termos bem práticos, os fundamentos, os métodos, as técnicas e as estratégias para serem implementados os princípios da neurodidática no processo de aprendizagem, que cada vez mais precisa desenvolver habilidades essenciais ao convívio social. Lembre-se de que tais métodos e técnicas é o ponto fundamental para a melhoria da qualidade da educação. Pense nisso! 299 Saiba mais Leia mais sobre os conteúdos deste capítulo. Acesse: BERNARDES, Raquel Stumpf. Neuroeducação. Disponível em: http://neuroeducacao.blogspot.com.br/. GRABNER, Carlos Logatt. Neuroeducação: Cérebros em plena ação. In: Revista de neurociências y ciências afines: Descubriendo el Cérebro y la Mente. Asociación Educar. Disponível em: <http://selfgifted.blogspot.com.br/2012/02/neuroeducacaocerebros-em-plena-acao.html>. PIMENTEL, Roberta Leal. Neurociência e neuroeducação – reflexões necessárias. Disponível em: http://www.robertapimentel.com.br/2012/04/05/neurociencia-eneuroeducacao-reflexoes-necessarias/. SABBATINI, Renato. Neuroeducação. In: Uma ponte entre a neurociência e a educação. Disponível http://pt.wikipedia.org/wiki/Neuroeduca%C3%A7%C3%A3o. em: 300 Considerações finais Espero que você tenha compreendido o que discorremos sobre os caminhos científicos que a educação formal precisa trilhar para sair da base tradicional e se adequar às necessidades da sociedade que, cada vez mais, requer habilidades que levem o indivíduo a aprender a aprender, a aprender a pensar, a aprender a estudar, a aprender a se comunicar, e não apenas reproduzir e memorizar informações, mas sim, desenvolver competências de resolução de problemas. E como vimos neste livro, diferentes áreas científicas evidenciam que é um processo complexo, mas que é possível transformar a educação formal. Portanto, almejo que você consiga aplicar a sua prática todos os conhecimentos desenvolvidos com as informações deste livro. 301 Referências ALVES, Eliane. O que é a Neuropedagogia? E qual seu reflexo na educação? 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Disponível em: http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s& source=web&cd=1&ved=0CBwQFjAA&url=http%3A% 2F%2Fwww.fafich.ufmg.br%2Fcoloquio%2Ffiles%2F Glaucia%2520Yoshida%2520%255B84.1%255D.doc &ei=0sHOU_WrJYbyATr1ICQDA&usg=AFQjCNE3huiJ6jIwjOKHSSaXO QSZYFvubQ&bvm=bv.71198958,d.aWw. ZACHARIAS, Vera Lúcia Camara. A escola pode ser aqui ou ali: A Internet. Disponível em: http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s& source=web&cd=1&ved=0CBwQFjAA&url=http%3A% 2F%2Fwww.profdamasco.site.br.com%2FAInternetT exto.doc&ei=v7C2UzANILNsQSxqoDYCQ&usg=AFQjCNHyB_SrN3Bt6L Oe1ubKDLGxLZM1YQ&bvm=bv.70138588,d.cWc. 308 Argemiro Aluísio Karling, graduado em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná-UFPR e mestre em Educação, Área de concentração: Administração de Sistemas Educacionais, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1979). É pesquisador, autor de outros dois livros, entre eles: “A didática necessária” e “Autonomia: condição para uma gestão democrática”, disponíveis online. Fui o fundador do Instituto para o Desenvolvimento da Educação e da Cidadania – IEC e Diretor-presidente (1998 - ), atual. Diretor geral da FAINSEP, por 15 anos. É Diretor-presidente do IEC e Diretor pedagógico da FAINSEP. Tenho 55 anos de experiência em educação; 22 anos como professor em Escola Normal de Nível Médio; 50 anos, em Magistério Superior e 22 anos como diretor de IES. Fui professor de Psicologia da Aprendizagem, Currículo Escolar, Legislação da Educação, Neuropedagogia e Neurodidática. Exerceu dezenas de encargos administrativos e pedagógicos. Fui o elaborador da estrutura administrativa da Universidade Estadual de Maringá, em 1974 e 1975. Recebi troféu da ABED por relevantes serviços prestados à EAD no Brasil e pela qualidade do projeto pedagógico de criação da Faculdade, hoje denominada Faculdade Instituto Superior de Educação do Paraná – FAINSEP, que foi a primeira e é a única instituição credenciada e recredenciada exclusivamente para EAD no Brasil. Currículo completo disponível em: https://fainsep.edu.br/2021/02/05/ariqueza-do-conhecimento/