inovação Paula Magalhães* O s avanços e as descobertas na área das neurociências têm contribuído bastante para o universo educacional, especialmente linhas de pesquisas e estudos ligados ao processo de aprendizagem e compreensão da relação entre cognição e comportamento, em que a neuropsicologia se aplica. Neurociências e educação: uma perspectiva neuropsicológica No contexto escolar, o educador deve estar sempre atento ao processo de aprendizagem e à dificuldade relacionada ao campo da saúde, quando não da dinâmica familiar. O aprendiz que não aprende gera hipóteses de comprometimentos entre a aprendizagem e o cérebro, órgão responsável pelas funções mentais de pensamento abstrato, inteligência, linguagem, memória, atenção, função executiva, raciocínio lógico-matemático, leitura e escrita, comportamento motor, cognição social, reconhecimento de emoções e habilidades sociais. Esse cenário revela uma relação entre educação e saúde que tem sido, portanto, mediada principalmente pela neurociência, campo do saber que estuda o sistema nervoso sob diversas perspectivas, em que o neuropsicólogo investiga e avalia a interface entre cérebro e comportamento. © Alina Isakovich/PhotoXpress A mente é o cérebro em funcionamento. Nesse contexto, bases de estudos como a neurobiologia orientam as limitações e potencialidades do sistema nervoso, permitindo aos profissionais da educação aperfeiço ar sua prática diária com reflexos no desempenho e na evolução dos alunos, compreendendo como crianças e jovens aprendem, Revista Linha Direta © Alina Isakovich/PhotoXpress pedagógicas adequadas ao desenvolvimento do potencial cognitivo, evitando restringi-lo às limitações impostas pelas características cerebrais do sujeito. como se desenvolvem, como o nosso corpo pode ser influenciado pelo que sentimos a partir do mundo e por que os estímulos são tão relevantes para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social do indivíduo. Isto é, possibilitando interferência efetiva nos processos que permitem o ensinar e o aprender. Esses processos ocorrem por meio de redes neurais que se estabelecem e neurônios que se conectam e originam novas sinapses, permitindo que a informação seja consolidada na memória e evocada posteriormente. A aprendizagem está relacionada à capacidade de armazenamento, consolidação, evocação e amplitude da atenção, sendo a característica humana da plasticidade neuronal a capacidade que o sistema nervoso possui de formar essas infinitas cadeias neuronais. É nesse contexto que a avaliação neuropsicológica apresenta sua relevante contribuição para a educação. Ela possibilita investigar, dentro dos limites impostos pelo que a neurociência conhece, como o cérebro do sujeito funciona e, assim, orientar para a utilização de estratégias pedagógicas ou intervenções terapêuticas mais adequadas Revista Linha Direta e potencialmente eficientes para a adaptação do indivíduo aos diversos contextos de vida. O grande desafio para as crianças do ensino básico é compreender a relação entre a forma visual de uma letra, que é tratada pelo córtex visual, e os sons correspondentes, que são tratados pelas zonas auditivas. Para facilitar essa associação, pode-se adicionar o sistema tátil, melhorando assim a relação entre a forma visual da letra e o som correspondente. Outra estratégia também possível de ser utilizada entre os educadores é promover uma emoção positiva, pois, ao senti-la, o cérebro libera dopamina, conhecida como o hormônio do prazer, que nos desperta o desejo de aprender. Por outro lado, se emoções negativas como o estresse ou o medo se acumulam no sistema límbico, o cérebro bloqueia a informação e esta não circula em direção ao córtex pré-frontal, onde residem a memória de longo prazo e a capacidade de pensar propriamente dita. Dessa forma, o foco da avaliação neuropsicológica é estabelecer quais são as funções cognitivas preservadas e aquelas que apresentam algum tipo de comprometimento, para, assim, possibilitar a proposição de estratégias terapêuticas ou O desenvolvimento das neurociências nas últimas décadas permitiu uma abordagem mais científica do processo de ensino-aprendizagem, fundamentada pela compreensão dos processos cognitivos. Porém, devemos sempre considerar os aspectos afetivos e emocionais envolvidos, com o cuidado de olhar o sujeito como um ser dinâmico e passível de transformação a partir do investimento que lhe é direcionado. Os conhecimentos agregados pelas neurociências, que trazem contribuições importantes para questões relativas à educação, poderão contribuir para um novo salto da educação em busca de melhor qualidade e de resultados mais eficientes para a qualidade de vida do sujeito e da sociedade. Assim, a visão transdisciplinar da educação inclui as neurociências e a ética, colocando em pauta a grande contribuição da neuropsicologia para os profissionais de educação, orientando-os sobre como proceder com esses indivíduos. Em última instância, a neuropsicologia fornece subsídios para que os profissionais da educação possam compreender como os processos internos e externos da aprendizagem podem auxiliá-los, a fim de que seu trabalho alcance os objetivos pedagógicos. A partir do mapeamento cognitivo das áreas cerebrais envolvidas em determinadas ações, é possível desenvolver, no universo educacional, programas de estimulação (ações pedagógicas) que promovam o desenvolvimento cognitivo saudável de crianças e adolescentes. *Psicóloga, neuropsicóloga e psicanalista www.portalsas.com.br