Práticas de pesquisa no Ensino Médio... Como uma das formas para desenvolvermos os conteúdos escolares em conhecimentos resultantes da praxes da vida escolar. Práticas de pesquisa no Ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia Conhecimentos não posicionado como prontos, acabados e verdadeiros em si, mas, respostas; aprendendo a argumentar e a defesa de posições e, também, as ouvir, a fim de compor ideias. Assim, apresentamos um conjunto de textos de forma a expormos a apreciação do leitor algumas das produções dos Autores (as) que aceiraram o desafio de pensar o ensino através da pesquisa e a questão da inclusão dos(as) estudantes na produção do conhecimento, como nova prática pedagógica no Ensino Médio. Práticas de pesquisa no Ensino Médio questionados... na busca por possíveis Organizador Marco Antonio Pagel 1 2 Nada é fixo para quem alternadamente pensa e sonha Gaston Bachelard 3 CIP – CATALAGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO P133p Pagel, Marco Antonio (org.) Práticas de pesquisa no Ensino Médio: cultura, ambiente e tecnologia./Marco Antonio Pagel. - Cáceres/MT: Print, 2016. Apoio: Secretaria de Estado de Educação do Estado de Mato Grosso - SEDUC Inclui bibliografia ISBN: 9788586422591 1. Ensino Médio – estudo e ensino. 2. Prática de ensino. 3. Cultura – estudo e ensino. 4. Ambiente – estudo e ensino. 5. Tecnologia – estudo e ensino. I. Secretaria de Estado de Educação do Estado de Mato Grosso/SEDUC. II. Título. CDU: 371.133(817.2) Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Tereza A. Longo Job CRB11252 Índices para catálogo sistemático: 1. Ensino Médio – estudo ensino – 373.5 2. Prática de ensino – 371.133 3. Cultura – estudo e ensino – 008 4. Ambiente – estudo ensino – 504 5. Tecnologia – estudo ensino – 371.3 4 Práticas de pesquisa no Ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia Marco Antonio Pagel (org.) Cáceres-MT 2016 5 C 2016 dos autores Práticas de pesquisa no Ensino Médio... é uma produção de pesquisa com ensino de um grupo de professores(as) da Escola Estadual Onze de Março. Cáceres, MT. Outubro de 2016. Coordenador Marco Antonio Pagel Revisão de texto Os autores Editoração Eletrônica Marco Antonio Pagel Capa Luahn Galvão Menacho de Oliveira Direção Escolar José Maria de Sousa Comissão Editorial Enilce Pereira de Souza Gil José Maria de Sousa Wellington de Almeida Cícero Elivaldo Gonçalves Impressão: Escola Estadual Onze de Março Rua Tiradentes 732, Centro. Cáceres-MT. Tel. (65) 3223 6326 6 SUMÁRIO PERCEPÇÃO DE ALGUNS MORADORES AO PROCESSO DE USO E OCUPAÇÃO NO ENTORNO DA IGREJA MATRIZ SÃO LUIZ EM CÁCERES/MT IGOR MATHEUS PEREIRA DOS SANTOS MAURICÉLIA MEDEIROS SILVA 13 A FESTA DA CAVALHADA EM CÁCERES ISNAYRA MICHELLE CRISTINE DELMONDES VALENTIN MAGDA PEREIRA OGLIARI MAURICÉLIA MEDEIROS SILVA MARCO ANTONIO PAGEL POUTERIA GLOMERATA (LARANINHA DE PACÚ): ELEMENTO BIOCULTURAL DA CIDADE DE CÁCERES, M ATO GROSSO DRIELLY MONISE CARVALHO MESSIAS KEYSON LUIS DE SOUZA AGUINEL MESSIAS DE LIMA 23 AS MUDANÇAS NA AVENIDA SETE DE SETEMBRO EM CÁCERES-MT AMANDA VIERA LEANDRO DE ALMEIDA QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS DECORRENTES DOS SEPULTAMENTOS DO CEMITÉRIO SÃO JOÃO B ATISTA, C ÁCERES-MT RENAN NASCIMENTO DE MOURA JOHNY DIAS MARINHO JOSÉ CARLOS SOARES VEGETAÇÃO ARBÓREA DA MATA CILIAR, BAIRRO JARDIM PARAISO, CÁCERES-MT EBER CAMILO PAZ DUARTE AGUINEL MESSIAS DE LIMA 41 FESTIVAL LITERÁRIO NA ESCOLA ONZE DE M ARÇO LUISY GONZAGA HÉLIO INÁCIO SANTANA 83 33 57 75 7 8 APRESENTAÇÃO No presente trabalho, selecionamos alguns trabalhos produzidos mediante incentivo ao desenvolvimento, pelos estudantes, de projetos de pesquisa no Ensino Médio. Neste intuito, buscamos introduzir nas atividades de ensino, a pesquisa como prática de ensino. Para sua realização, foi constituído um grupo de estudo envolvendo docentes da Escola Estadual Onze de Março-EEOM, em 2012, formatando o projeto Construindo conhecimentos através da cultura local. Grupo que realizou nos anos seguintes reuniões semanais a fim de produzir estudos bibliográficos e debates. À realização do Projeto contou com contribuições de parceiros, dentre eles, a Secretaria de Estado de Educação do Estado de Mato Grosso-SEDUC, financiado parcela considerável do Projeto; da Universidade do Estado de Mato Grosso-UNEMAT, através dos Departamentos de História, de Geografia e de Pedagogia; e de profissionais liberais e demais instituições presentes no município de Cáceres. Na Escola envolveram-se na execução do Projeto inúmeros docentes de diferentes áreas do conhecimento, participando ativamente nos encontros e produções. A ideia inicial, dos trabalhosa a serem realizados em sala de aula, seria provocar situações desafiadoras aos estudantes a medida que fossem apresentados os conteúdos escolares multidisciplinares. Assim, buscamos apresentar os conteúdos por seus respectivos conceitos, situando-os na prática, tendo o locus de vivência, o lugar, enquanto categoria temática de abordagem de fenômenos culturais, ambientais e tecnológicos. Deste modo o lugar (a ambiência) do estudante, conteria princípio motivador e de estímulo aos estudantes (e docentes) pesquisadores, buscando encontrar nele as relações que o torne integrante do global. Assim, os pesquisadores carentes pela aprendizagem, nutridos pela investigação do meio em que vivem, mutuamente auxiliados, os impulsionariam na jornada da iniciação científica. Propósitos afinados com a perspectiva de se eliminar: a passividade dos estudantes, a metodologia centrada nos modelos prontos de ensino, a Apresentação reprodução ou transmissão passiva de conhecimentos, dentre outras formas opostas a pedagogia da Autonomia proposta por Paulo Freire. Nesta jornada, propusemos além de pensar o lugar e seus atores com diferentes concepções, na qual inclui a ampla revisão bibliográfica, e a produção escrita. As atividades de escrita, tida como mola propulsora de fixação da aprendizagem, mediante reflexão apurada da ação, aspecto indispensável da construção do conhecimento. Alimentou-nos também, o propósito do construir o saber, pautado no princípio do acreditar nas diversas potencialidades dos sujeitos em aprendizagem, os estudantes (categoria que também envolve os docentes), vale lembrar o mestre Paulo Freire ao afirmar que os professores aprendem enquanto ensinam bem como os estudantes, quanto aprendem. Potencialidades de aprendizagem que a EEOM experimenta há anos através de projetos inspirados na metodologia dos temas geradores. Nos temas geradores, sendo realizado em aproximadamente dez anos (entre 2002 à 2011), sendo que as questões ambientais estiveram no topo das preocupações, mantendo-se o tema gerador rio Paraguai. Ao refletirmos sobre as seguidas proposições de tema gerador, identificamos inúmeras possibilidades pedagógicas de serem viabilizadas as atividades de ensino, sendo que em grande parte delas, exigia a transposição pedagógica do conteúdo a ser ensinado; ou seja, na tradução prática de conteúdos teóricos, além disso, contextualizada ao locus de vivência dos estudantes (o rio Paraguai). Neste sentido, o Rio não seria apenas um curso d’água, mas uma porção do espaço humanizado, foco de abordagem por diferentes disciplinas e conteúdos próprios do currículo escolarizado. Inspirados no Tema Gerador, o projeto Cultura buscou trabalhar os conteúdos escolares, não os posicionando como prontos, acabados e verdadeiros em si, mas, questioná-los, gerindo discussões na busca por possíveis respostas; aprendendo a argumentar defesa de posições e, também as ouvir, a fim de compor ideias. A efeito de publicidade, reunimos algumas Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 10 Apresentação das produções escritas neste volume, apresentando a seguir, uma breve caracterização. No primeiro texto apresenta o estudo sobre a percepção dos moradores ao processo de uso e ocupação do entorno da igreja matriz São Luiz em Cáceres-MT, buscando caracterizar algumas das transformações culturais ocorridas do referido espaço. No segundo texto tematiza os sentidos das Cavalhadas na cidade de Cáceres buscando identificar suas influências históricas e significado cultural das festividades na organização do espaço local. O estudo além de apresentar uma breve constituição histórica da Cidade e descrição das Cavalhadas, buscando traçar hipóteses que levaram ao seu declínio na cidade de Cáceres. No terceiro texto busca o levantamento da presença marcante da laranjinha de pacú nas ruas e quintais de bairros da cidade de Cáceres-MT, a partir de um bairro da Cidade. A pesquisa demonstra a importância do seu cultivo doméstico em quintais por moradores pescadores e não pescadores. No quarto texto, a questão urbanística da cidade de Cáceres ganha destaque. A Avenida Sete de Setembro torna-se objeto no sentido de mapear mudanças e transformações em seu traçado e em sua organização e, sobretudo, nos usos que os moradores da cidade fazem dela. A pesquisa demonstra que o dimensionamento do seu traçado socioambiental vai além de sua expressão material, estando intimamente ligado a traços culturais e econômicos construídos e reconstruídos ao longo de sua história. No quinto texto, o estudo busca interpretar as questões socioambientais decorrentes de sepultamento em espaço urbano da cidade de Cáceres. Dedica-se em identificar riscos ambientais e à saúde dos moradores que residem no entorno do Cemitério, além de indicar a necessidade de se cumprir às exigências fitossanitárias previstas na legislação Estadual e Federal. No sexto texto, o estudo pautou-se no objetivo identificar as espécies Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 11 Apresentação arbóreas existentes no interior da Área de Preservação Permanente – APP, espaço destinado à Escola pelo Ministério Público para que sejam realizados estudos socioambientais. Neste sentido, buscou-se identificar diversidade arbóreas pelos estudantes, a fim de disponibilizar informações aos transeuntes da área, cursos de Educação Ambiental, dentre outros, de forma a reverter a pressão socioambiental. No sétimo texto, Festival Literário na Escola Onze de Março – FLEOM apresenta uma de suas produções. Pensado com o propósito de incentivar o envolvimento da produção de textos, poemas ou poesias e movimentar a escola com atividades culturais, artísticos e educacionais. Nutre a inciativa, o acreditar em potencialidades dos estudantes, oportunizando-os a produção e expressão do pensamento. Neste sentido, apresenta a produção de um dos estudantes participantes. Agradecemos os(as) autores(as) e demais parceiros(as) que contribuíram para a realização do Projeto, quais acreditaram na importância da produção de educação no Ensino Médio. Os(as) que aceiraram o desafio de pensar o ensino através da pesquisa e a questão da inclusão dos(as) estudantes na produção do conhecimento, como nova prática pedagógica. Marco Antonio Pagel Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 12 PERCEPÇÃO DE ALGUNS MORADORES AO PROCESSO DE USO E OCUPAÇÃO NO ENTORNO DA IGREJA MATRIZ SÃO LUIZ EM CÁCERES/MT 1 Igor Matheus Pereira dos Santos 2 Esp. Mauricélia Medeiros Silva Esse trabalho tem como objetivo apresentar um breve estudo sobre a percepção de alguns moradores do entorno da Igreja Matriz “São Luiz” em Cáceres-MT, refletindo sobre o processo de uso e ocupação do entorno da igreja matriz, observando as principais transformações culturais ocorridas do referido espaço. A relevância deste estudo está na necessidade de se pensar o acelerado processo de crescimento da cidade de Cáceres-MT, buscando identificar as distintas formas de usos sociais no entorno da catedral São Luiz, além de compreender os problemas gerados pelo planejamento de Villa Maria do Paraguay e quanto ao avanço do processo da urbanização para Cáceres. Na atualidade podemos frequentemente encontrar imóveis históricos na cidade de Cáceres, desde calçamento de ruas, construções comerciais e residenciais, por vezes cedendo lugar às edificações contemporâneas, perdendo-se nesse contexto, uma gama de informações e conhecimentos da história de um povo e até de uma nação. Desse modo, criam-se algumas indagações: Existem conhecimentos da história de Cáceres que ainda encontram-se ocultados? Como tornar pública tantas informações e conhecimentos natos dos moradores mais antigos? Como os moradores do entorno da Catedral São Luiz analisam o avanço do processo de uso e ocupação do respectivo espaço? A partir dos resultados poderão ser respondidos aos questionamentos e norteadas ações aos órgãos gestores da infraestrutura da cidade (Prefeitura Municipal), no sentido de contribuir com a criação ou reformulação de leis que 1 Estudante do curso Técnico em Meio Ambiente da Escola Estadual Onze de Março. Professora de História da Escola Estadual Onze de Março. [email protected] . 2 Percepção de alguns moradores ao processo de uso ... ISBN 978-85-86422-59-1 melhore o aspecto visual, de circulação, conservação ambiental, ainda, resgatando e conservando fatos históricos do entorno da Catedral São Luiz. O processo de ocupação da área de estudo iniciou com a fundação da cidade de Cáceres em 06 de outubro de 1778. As primeiras construções iniciaram concentradas no entorno da Praça Barão do Rio Branco, caracterizando o centro da Cidade. Centralidade que acompanhou o fluxo econômico originado pelo porto fluvial existente na baía do Malheiros, conhecido atualmente como Porto Mário Corrêa, inaugurado em 1928, popularmente denominado com o Caís da Praça Barão. Ao longo do seu processo de expansão econômica, foram incorporados espaços rurais à Cidade, a medida da sua utilização econômica. Além da questão econômico-urbanístico pode-se destacar a questão culturais e arquitetônicas, impondo tarefas difíceis e desafiadoras para pesquisadores, arquitetos e planejadores urbanos, haja vista a complexidade no traçado das ruas, das construções históricas apontam questões etnoculturais únicas, dado a particularidade dos grupos sociais e suas culturas de impressas no espaço do local. Para Maricato (2002, p. 15) é necessário valorizar o conhecimento da realidade empírica e das culturas de um povo de um determinado lugar, para que, respaldado pelas informações científicas sobre o ambiente construído, possa evitar a formulação das “idéias fora do lugar”, fato comum nas características urbanas em muitas cidades brasileiras. De modo geral, a partir do século XIX em pleno desenvolvimento industrial, iniciaram as reformas urbanas atendendo as demandas impostas pelo capitalismo emergente. As cidades passaram por um rápido processo de transformação marcado pela realização de obras orientadas por uma nova arquitetura e paisagismo, tais como: abertura de vias amplas, reformas nas edificações, retirada de cortiços das áreas centrais, exclusão da classe pobre, etc., buscando o embelezamento da cidade (MOURA, 2011). Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 14 Percepção de alguns moradores ao processo de uso ... ISBN 978-85-86422-59-1 FORMAS DE USO E OCUPAÇÃO POR INSTITUIÇÕES, IMÓVEIS E MONUMENTO NO ENTORNO DA CATEDRAL Atualmente podemos identificar formas diversas formas de ocupação e de uso do espaço do entorno da Catedral, seja durante o dia, seja durante a noite. Durante o dia a ocupação e uso do espaço se dão em torno de sua exploração econômica pelo comércio de mercadoria e de serviços através do Banco Sicredi e da Caixa Econômica Federal, de sorveterias, de óticas, de cartórios, de clínicas odontológicas entre outros. Durante a noite o espaço é utilizado em atividades de entretenimento, de religiosidade, de ensino, dentre outros. De entretenimento e alimentação em bares, em colégio, em trailers de lanche, em lojas de conveniência cinema, em bares, em sorveterias, em restaurantes, em boate e na Catedral São Luiz. Encontramos poucas residências no espaço, que ali se encontravam desde os primórdios de colonização do espaço. O entorno do espaço aparenta ser preenchido contendo ao centro a Catedral São Luz, Esta com portas abertas no período diurno e noturno, chama a população a participar de suas missas ao entardecer sendo-as frequentadas por cacerenses e turistas. Posicionado a sua frente desde 1883, a Barão do Rio Branco e o Marco do Jauru, tombado em 1978 pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), compondo heranças históricas do processo de ocupação da região Centro Oeste e de disputas entre a coroa portuguesa e espanhola no século XVIII. Para o povo cacerense e até mesmo para os turistas, dois monumentos históricos são considerados como os principais pontos turísticos da cidade, a Catedral São Luís e o Marco do Jauru, fazendo parte do que se designou de turismo cultural pelo Ministério de Turismo brasileiro. O entorno da Matriz são traçados por ruas estreitas, margeadas por edificações que apresentam arquiteturas de diferentes épocas, sejam desde o inicio a fundação de Villa Maria do Paraguay (Cáceres), seja dos dias atuais. Assim misturando-se com edificações contemporâneas, onde são utilizadas como residências e pontos comerciais: bancos, bares, restaurantes, boates, Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 15 Percepção de alguns moradores ao processo de uso ... ISBN 978-85-86422-59-1 instituições e ensino, cinema, sorveterias e a Praça Barão do Rio Branco que agrega à comunidade, sendo utilizada como espaço de lazer desde a fundação de Villa Maria do Paraguay, nesse momento como largo da Matriz e em 1912, tornando-se Praça Barão. A IGREJA MATRIZ “SÃO LUIZ” A construção da Igreja “São Luiz” foi iniciada em 06 de outubro de 1919 em frente à Praça Barão do Rio Branco, concluída somente em 25 de agosto 1965. Tornou-se um monumento de orgulho para Cáceres, constituindo-se um atrativo turístico de visitação e contemplação quase que “obrigatória”. No início do século XIX era apenas uma pequena igrejinha freqüentada pelos moradores de Villa Maria do Paraguay, nome dado a “cidade” na época (Mendes, 2011), figura 01. Figura 01- Primeira igreja construída na Praça Barão do Rio Branco. Fonte: Eng. Adilson Reis.SD. Descrevendo em seu livro Efemérides Cacerenses, o poeta e memorialista Natalino Ferreira Mendes, diz a respeito da Catedral São Luiz de forma bastante interessante, narrando que é uma obra dos missionários da TOR (Terceira Ordem Regular) de São Francisco de Assis, entre os quais quatro bispos (Dom Galibert, Dom Máximo, Dom José Afonso e Dom José Vieira de Lima); as Irmãs Azuis pioneiras; os freis holandeses e muitos (as) outros (as) religiosos (as) e da cidade cacerense que contribuíram Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 16 Percepção de alguns moradores ao processo de uso ... ISBN 978-85-86422-59-1 voluntariamente com esforços para a construção da igreja Matiz (MENDES, 2011). Neste contexto, podem ser observadas nos bancos encontrados atualmente no interior da igreja, algumas plaquinhas de metal com os nomes das pessoas e de familiares dos que fizeram doações para a construção da igreja. Sua arquitetura gótica foi inspirada na catedral Notredame edificada em Paris. A definição dos detalhes de acordo com as características locais e a arte final da planta foi do francês Bossay Félix, enquanto a execução do projeto e o fomento para a execução da obra foi do engenheiro civil Leon Joseph Louis Mounier. Em função das dificuldades na execução do projeto, tais como: a morte do engenheiro idealizador do projeto; falta de mão de obra qualificada (braçais e engenheiros); condições físicas do terreno; readaptação do gótico em estilo neogótico, o período de construção foi de 46 anos (ARRUDA, et al., 2010). Em 23 de fevereiro de 1949, a estrutura interna desmoronou, juntamente com 30 anos de serviço, prejudicando o andamento da construção. Somente concluída e inaugurada no dia 25 de agosto de 1965. Figura 02: Igreja Matriz de São Luiz desmoronada. Fonte: Eng. Adilson Reis. SD. Devido à falta de estrutura física da obra e do terreno, as duas torres Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 17 Percepção de alguns moradores ao processo de uso ... ISBN 978-85-86422-59-1 laterais ainda estão inacabadas (MENDES, 1992), mostrado na figura 04. Figura 03: Igreja Matriz concluída sem as torres laterais. Fonte: Matheus, Nov/2013. Em função do desmoronamento da estrutura interna fez com que o imaginário de muitas pessoas criasse a lenda da Serpente ou do Minhocão. Até os dias de hoje a Lenda é contada e admirada por crianças e por adultos, inclusive por turistas, compondo o repertório folclórico e cultural do povo cacerense. Assim se configura a história da Catedral de São Luiz permeia a vida social de seu povo, acompanhando os avanços políticos, econômicos e culturais. A PERCEPÇÃO DO PROCESSO DE OCUPAÇÃO E USO Através das entrevistas foram adquiridas muitas informações e externadas opiniões e conhecimentos não só de moradores, mas de comerciantes e profissionais liberais. Assim, tornaram possível compreender a atuação de alguns agentes modeladores do espaço urbano, detectando as principais transformações/evoluções, bem como, alguns impactos causados pela ocupação, quais traremos a seguir, em síntese, segundo as fontes orais entrevistadas. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 18 Percepção de alguns moradores ao processo de uso ... ISBN 978-85-86422-59-1 Dentre as mudanças presentes no entorno da Matriz São Luiz foi citado a canalização do esgoto. Anteriormente, o esgoto, que corria a céu aberto nas ruas do centro, até desaguar na baía dos Malheiros (rio Paraguai). Entretanto, pela falta de fiscalização da Prefeitura, após a canalização muitos moradores fizeram ligações de esgoto direto nas galerias, sem passar pelo processo da fossa séptica e do sumidouro, iniciando o processo de poluição e contaminação da água do rio Paraguai, aspecto que persiste até os dias atuais. Em um dos relatos nos revelou que a revitalização da orla do cais na margem esquerda da baía do Malheiro, onde se edificou o Porto Mário Corrêa, composto por escadaria e cais, implementando edificações nas imediações da Praça Barão do Rio Branco. O Porto tratava-se de uma “rampa” de acesso a baia do Malheiro (rio Paraguai), sendo utilizada para o embarque de mercadorias importadas e exportadas através de via fluvial, sendo, portanto, muito importante para descarga e carga de embarcações de mercadorias e pessoas em terra. Com as obras de revitalização houve também a pavimentação das ruas em torno da Praça com bloquetes de concreto, que ao longo do tempo têm sido deteriorados. Entre os entrevistados, o Engenheiro civil, menciona da importância para a Cidade das obras de infraestrutura no entorno da Praça Barão, relatando os benefícios da pavimentação com bloquetes e a canalização do esgoto que corria a céu aberto, assim, melhorando a qualidade de vida dos moradores. Bem como, ele relatou a importância da chegada da energia elétrica (permitindo a substituição dos lampiões a querosene e do motor a diesel), da instalação de telefonia, de redes de água encanada, do sinal de TV, entre outras. Junto com as inovações infra-estruturais, segundo o entrevistado, além de conferir melhoria de qualidade de vida da população, com consequente crescimento da cidade, inclusive o número de ladrões. Que antes não havia tantos roubos, que podia dormir de portas abertas sem que fosse oferecido algum perigo; implicando na ampliação dos muros e proteção nas residências e comércio da ampliação do sentimento de insegurança pela Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 19 Percepção de alguns moradores ao processo de uso ... ISBN 978-85-86422-59-1 população. Justifica o entrevistado, o quadro de insegurança e violências, ocorreu em função da desigualdade social, do distanciamento entre os ricos e os pobres, da falta de oportunidades de emprego, da deficiência no sistema educacional, entre outros fatores. A residente à 40 anos, nas proximidades da Catedral São Luiz, relatou sobre a fonte de água e o coreto que existiam no centro da Praça Barão, que eram muito bonitos. A juventude de antes se reunia para conversar, brincar, dar risadas nesse local. Não existiam tantas bebedeiras, drogas, som alto, que todos se divertiam sem violência. Que as pessoas podiam dormir de portas abertas sem se preocupar com roubos. Enfatizou que a prefeitura Municipal não cuidou das coisas bonitas que faziam parte da história da cidade, como exemplo a ponte branca que era um atrativo turístico. Mendes (1998) diz que a Ponte Branca foi construída sob o estilo romano, que passou por Portugal, chegando a Cáceres. A ponte foi construída na época dos carros de bois e, fortemente suportou o peso dos veículos motorizados modernos, todavia não suportou o descaso municipal, sendo demolido na década de 1990. Mencionou o jardim de rosas da Praça Barão feito pelas mulheres que moravam ao redor da praça, que não acontece mais. Que uma das preocupações no momento das construções das casas naquele local e época era com a altura dos alicerces, pois todos tinham medo das cheias do rio Paraguai, que chegava até próximo da rua. Além das cheias, havia certa competição nas construções das casas. Quando um morador construía uma casa com certo modelo, o outro que construísse depois sempre queria superar no tamanho da área construída e nos detalhes da arquitetura. Competição que resultou em complexo urbanístico único. As características dos imóveis e ruas resultaram em tombamentos pelo património histórico cultural de ruas e de imóveis urbanos de Cáceres. Todavia, para outro entrevistado, o tombamento, não está resolvendo nada. Que as casas têm que ter boa aparência, mais bonita, pois, o abandono, a falta de zelo de muitas casas está prejudicando os moradores. Destaca também a questão da insegurança, ao relatar sobre o perigo em sentar do lado de fora da casa logo Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 20 Percepção de alguns moradores ao processo de uso ... ISBN 978-85-86422-59-1 no início da noite, bem como das crianças brincarem na rua. Bem como de questões ambientais ao citar o córrego Sangradouro era limpo, pescava-se nele, hoje não sendo mais possível. CONSIDERAÇÕES FINAIS No trabalho podemos constatar transformações significativas no espaço do entorno da catedral São Luiz, ocorridas pelo uso e ocupação nas últimas seis décadas. Transformações com prejuízos ambientais gerados pelo calçamento das ruas, na arquitetura das edificações já construídas para as contemporâneas, na movimentação de pessoas, comércios, instituições bancárias, entre outras. Sendo-nos relatando alguns aspectos negativos, tais como: contaminação do rio Paraguai com esgotos residências e comerciais, aumento da violência e a gestão ineficiente nos tombamentos históricos. Neste contexto, torna-se necessário a implantação de políticas públicas que possam minimizar os impactos do processo de uso e ocupação, permitindo a conservação da história contada nos imóveis tombados, nas ruas estreitas, através de registros científicos, preservando o conhecimento de pessoas que vivenciaram toda a conjuntura de evolução e que estão percebendo as perdas por falta de oportunidade e de vontade de órgãos gestores. BIBLIOGRAFIA ARRUDA, R. F.; NEVES, S. M. A. S.; NEVES, R. J. Espacialização de elementos do centro histórico de Cáceres, MT e seu entorno: subsídios para o desenvolvimento de atividades educacionais e turísticas. . In: Anais 3º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Cáceres- MT. 2010. p. 962 – 972. BIENNÈS, T.O.R., Dom Máximo. Uma Igreja na Fronteira. São Paulo, Edições Loyola, 1987. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. LEITE, M. S. S. Falando de sociabilidades – A cidade de São Luís de Cáceres a partir das suas sociabilidades festivas (1874 – 1930). Monografia (Pós-Graduação lato sensu: Historiografia e Metodologia do Ensino e da Pesquisa da Historia: Memória e Identidades na Historiografia Brasileira). Universidade do Estado de Mato Grosso – Departamento de História. 2007. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 21 Percepção de alguns moradores ao processo de uso ... ISBN 978-85-86422-59-1 51f. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2007. MARICATO, E. Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. MENDES, N. F. Efemérides Cacerenses: Cáceres – Mato Grosso. Vol. I. Cáceres, 1992. 173p. MENDES, N. F. Memórias Cacerenses. Ed. Carlini e Caniato. Cáceres/MT, 1998. 218p. MENDES, N. F. Histórias de Cáceres. Brasília, Centro Gráfico do Senado Federal, 2011. MOURA, I. H. O processo de ocupação irregular com a atuação dos agentes modeladores do espaço e seus impactos ambientais: um estudo de Juiz de Fora-MG. Monografia (Bacharelado em Geografia) Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora-MG. 2011. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 22 A FESTA DA CAVALHADA EM CÁCERES 1 ISNAYRA MICHELLE CRISTINE DELMONDES VALENTIN 2 MAGDA PEREIRA OGLIARI ESP. MAURICÉLIA MEDEIROS SILVA 3 MSC. MARCO ANTONIO PAGEL4 No sudoeste do estado de Mato Grosso, posiciona-se o município de Cáceres apresentando feições de cidade pequena com traços culturais europeus e indígenas entrelaçadas desde o século XVII. Traços edificados por tradições culturais e arquitetônicas singulares observado nas paisagens do lugar. Singularidade que nos despertou interesse em compreender sua composição. Interesse principalmente em observar formação da paisagem (bairros e praça) denominada localmente de Cavalhada, que compõem o espaço urbano da Cidade; por sua vez, não raramente, os jovens que aqui moram desconhecem suas influências históricas e organização do espaço. Por se tratar de um trabalho de iniciação de pesquisa em atividade do ensino médio, não aprofundaremos em implicações históricas e geográficas, mas em breve reflexão sobre a Cavalhada. Assim, dedicando esforços ao objetivo de identificar os sentidos do nome do lugar (toponímia), e seu significado na composição de porções do espaço geográfico urbano de Cáceres. Para a realização do trabalho realizamos pesquisas na biblioteca do Museu Histórico de Cáceres com leitura de memorialistas e historiadores da Cidade, e posteriormente realizamos entrevistas com habitantes do bairro Cavalhada. De forma a expor o trabalho realizado, em um primeiro momento apresentamos brevemente a constituição histórica da Cidade, no segundo momento a descrição das Cavalhadas e, por último, os motivos que podem ter 1 Estudante do curso Técnico em Meio Ambiente da Escola Estadual Onze de Março. [email protected] 2 Estudante do curso Técnico em Meio Ambiente da Escola Estadual Onze de Março. [email protected] 3 Professora de História da Escola Estadual Onze de Março. [email protected] 4 Professor de Geografia da Escola Estadual Onze de Março. [email protected] A festa da Cavalhada em Cáceres ISBN 978-85-86422-59-1 levado ao seu declínio. CÁCERES A origem da cidade de Cáceres remonta a 1778, ano em que o governador e capitão-general Luiz Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres veio para essa região com o intuito de definir as fronteiras entre as colônias de Portugal e Espanha (LEITE, 1978). Com o objetivo de garantir o domínio português, o Governador funda várias povoações na Capitania. Dentre as povoações, Vila Maria do Paraguai (Cáceres), motivado pela localização estratégica entre duas importantes cidades da província de Mato Grosso, ou seja, entre Cuiabá e Vila Bela da Santíssima Trindade (capital). Fundada com o importante papel de proteger as fronteiras entre as colônias das coroas de Portugal e de Espanha. Outro aspecto marcante, situa a composição a religiosidade cristã pela presença marcante de religiosos católicos do século XVIII em Vila Maria, dedicando-se a catequização indígena. Presença que pode ser observada na arquitetura urbana os vestígios da herança religiosa; e nos traços étnicos indígenas em seu povo. Dentre os povos que contribuíram na construção da Cidade, conforme Leite (1978) destaca-se, inicialmente, indígenas da província de Chiquitos (vindos de missões jesuítas), e por levas sucessivas de migrantes portugueses, dentre outros, que encontraram neste lugar a acolhida para viverem. Deste modo, seus cidadãos, carregam consigo fortes traços religiosos, construídos e firmados ao longo de sua história, influindo até o presente. Religiosidade que compuseram manifestações materiais e imateriais. Materiais, compondo e destinando espaços arquitetônicos específicos para grandiosas festividades, dentre as quais, a da Cavalhada e a do Divino Espirito Santo (ocasionalmente realizadas juntas). Imateriais pelas inúmeras práticas sociais quais destacamos as festas religiosas contribuindo, significativamente no reforço de sociabilidades, compondo traços presente em manifestações culturais que perpassam gerações através de suas práticas. Práticas Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 24 A festa da Cavalhada em Cáceres ISBN 978-85-86422-59-1 perpetuadas por costumes cotidianos, ora se “extingue” e ou adquirem complexidade por receberem novas influências e representações. Assim, a “complexidade aumenta à medida que a festa é efetivamente popular, ou seja, abrange todos os estratos da sociedade local, ocasionando trocas harmoniosas e alegres, mas também momentos de tensão ou conflito” (SPINELLI, p. 61, 2010). Dentre as manifestações culturais que influíram na espacialidade cacerense, destacamos a Cavalhada, da qual descreveremos algumas feições a seguir. AS CAVALHADAS As cavalhadas são descritas como torneios hípicos que encenavam a batalha entre mouros e cristãos, durando cerca de três dias, contando com muita dança e comida, desenvolvida com relativa simetria desde o Brasil colonial como teatro equestre a céu aberto. Neste sentido, a “cavalhada corresponde a uma sequência ritual prescrita, anualmente repetida. Ao longo de três tardes, os cavaleiros põem em cena a representação de uma luta que remete às históricas batalhas medievais entre mouros e cristãos, seguida de provas de habilidades” (SPINELLI, 2010, p. 62). A sequência prescrita de ritualidades presentes no interior do Brasil ainda se pode ver dramatização da luta entre mouros e cristãos. O evento costuma ocorrer por ocasião das festas juninas ou da Festa do Divino, é precedido de missa e procissão, e concluído com jogos de equitação, confraternização e fogos de artifício. Às vezes recebe o nome de “chegança” ou “mourama”, e em geral participa do que se convencionou chamar de “cavalhadas”. O ritual participa das tradições folclóricas de todas as áreas rurais, menos a Amazônica. Há registros a seu respeito em Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e, sobretudo, nos Estados do Nordeste (MACEDO, p. 1. 2000). Precedia a realização da Cavalhada em Cáceres com os seus preparativos. Com aproximadamente dois meses de antecedência, os era iniciado pelo patrônomo da festa, recolhendo donativos e coordenando o Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 25 A festa da Cavalhada em Cáceres ISBN 978-85-86422-59-1 treinamento dos cavaleiros. Assim, a Cavalhada era uma festa religiosa, que acontecia a cavalo. Os treinamentos a cavalo eram realizados vários dias antes da festa. Os cavalos eram todos ornamentados. Na Cavalhada havia a rainha da festa que durante a festa era roubada pelos mouros. A festa acontecia aqui na praça [Barão do rio Branco] e no final da praça tinha um coreto, um palanquinho, onde as rainhas se escondiam (JOSÉ DA LAPA, 2012). De acordo com Marta Baptista (2005, p. 81), em Cáceres a ampliação de participação nas festividades da Cavalhada, fez com fosse transferido da 5 praza Barão do Rio Branco para o Largo da Cavalhada, assim, nomeando o bairro e o local de realização (a praça). O largo da Cavalhada, no início do século XX, encontrava-se em extensa área desocupada de atividades agropostoris, compondo a planície do rio Paraguai, alagadiça anualmente, e que para se chegar lá, teriam que atravessar o córrego Sangradouro, que até a década de 60, era fundo e caudaloso, impondo alguma dificuldade aos transeuntes. Figura 1 - Treinamento para a realização da Cavalhada. Fonte Museu Histórico 5 Segundo a interpretação local, seria espaço sem dono, de uso comum. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 26 A festa da Cavalhada em Cáceres ISBN 978-85-86422-59-1 de Cáceres. Datação desconhecida. Para Mendes (apud BAPTISTA, 2005) as festas até 1940 eram mais fácies de se produzir, pois Cáceres “era uma grande família”, então todos se ajudavam anualmente realizar e, durante os três dias havia muita dança e comida. Ajuda que se estendida na sua preparação, sendo o largo enfeitado, na rua de chegada era colocado palanques nas laterais e no meio era tracejada uma linha pintada de cal, onde aconteceriam as batalhas a cavalo. Participavam da festa “pessoas das melhores famílias cacerenses” (SENATORE, 2002), ou seja, uma festa da elite com participação popular. Figura 02 – Rainha da Cavalhada. Fonte Museu Histórico de Cáceres. Datação desconhecida Os cavaleiros eram divididos entre mouros, que usavam roupas de cetim azul, e cristãos, que usavam roupas de cetim vermelho, ambos com chapéus ornamentados com plumas, e nas cintas iam-se as espadas e lanças (JOSE DA LAPA, 2012). De modo em geral a encenação da Cavalhada assemelha ao descrito por Spinelli, da seguinte forma, a cavalhada corresponde a uma sequência ritual prescrita, anualmente repetida. Ao longo de três tardes, os cavaleiros põem em cena a representação de uma luta que remete às históricas batalhas medievais entre mouros e cristãos, seguida de provas de habilidades. A Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 27 A festa da Cavalhada em Cáceres ISBN 978-85-86422-59-1 dramatização da luta ocorre nos dois primeiros dias, que são considerados “de guerra” e convergem para a invariável vitória cristã, com o batismo dos mouros. No terceiro dia, realiza-se um conjunto de provas de destreza, momento de “confraternização” entre os cavaleiros (SPINELLI, p. 62, 2010). A confraternização entre os cavaleiros no ritual das Cavalhadas foi confirmada por José da Lapa (2012), declarando que participara da Festa desde seus 12 anos e, presente no jogo das argolinhas, onde todos os cavaleiros participavam (mouros e cristãos) mostrando suas habilidades hípicas ao retirar a argolinha (geralmente de prata) com a ponta de sua lança, montado a cavalo e a galope. A argolinha era posicionada no trajeto de corrida a cavalo, suspensa por um arame (de cerca). A realização de tal atividade exigia grande habilidade do cavaleiro e da sua montaria, tornando assim, uma prova de difícil realização, que segundo José da Lapa (2012), eram poucos cavaleiros que conseguiam realizar tal feito. Os cavaleiros que conseguiam realizar a prova da argolinha além do reconhecimento de sua destreza pelo público presente, eram homenageados com o recebimento de presentes entregue por autoridades patrocinadoras da Festa. Figura 03 – Lanceiros e seus escudeiros. Fonte Museu Histórico de Cáceres. Datação desconhecida. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 28 A festa da Cavalhada em Cáceres ISBN 978-85-86422-59-1 A intensa influência dos patrocinadores, significou às cavalhadas, [...] o processo de degenerescência da instituição da cavalaria. Esta teria perdido sua função social primordial, de cunho militar, para manter apenas certos traços visuais em espetáculos de caráter popular, como o jogo de argolinhas, o jogo de canas e jogos de alcanzias, geralmente incluídos nas cavalhadas. Quanto ao Brasil, admite a transferência de dois modelos diferenciados. O primeiro seria resultante da transplantação de práticas da nobreza e das classes sociais elevadas, correspondendo ao tipo de diversões, recreações e jogos habitualmente praticado por aqueles grupos em Portugal. O segundo modelo de transmissão, no qual está inserido o tema dos mouros e cristãos, teria sido introduzido ‘pelas populações de menor nível cultural, e, portanto, apresentam características menos evoluídas, tendo-se fixado em diversas áreas especialmente adaptadas à criação de gado e à prática de exercícios hípicos’. Este constituiria um tipo de cavalhadas caracteristicamente medieval que se mantém através dos tempos sem grandes alterações, pelo menos em sua essência. Deste modo Cavalhada podem ser compreendidos como rito privilegiado de socialização, de trocas, de exposição pública (ALVES, p. 19, 2000). Deste modo, o rito tece diferentes planos de significação, que se sobrepõem ao longo dos três dias de encenação, constituindo um complexo e polifônico sistema comunicativo. No universo simbólico evocado destaca-se o reforço ao catolicismo. Trata-se de um rito integrador: no plano das relações interpessoais, reencontra-se na arena amigos e conhecidos de longa data; no plano ideológico, encena-se a supressão da alteridade e a harmonia entre iguais, que se supõe resultante do teatro e cuja obtenção legitima a própria “guerra”. Através do batismo, a dominação belicosa é ressignificada sob o viés de uma vitória coletiva, capaz de positivar a derrota dos mouros: ao fim, entende-se que todos são vitoriosos porque todos são cristãos (SPINELLI, p. 63, 2010). A vitória coletiva poderia ser traduzida como um rito integrador entre as pessoas: no plano das relações interpessoais entre amigos e conhecidos tendendo a expandir a harmonia entre iguais, produzida pela vitória coletiva, onde todos são vitoriosos uma vez que todos são cristãos. Todavia, as ritualidades das Cavalhadas foram suspensas até o instante, aspecto que nos deteremos a seguir. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 29 A festa da Cavalhada em Cáceres ISBN 978-85-86422-59-1 ‘DECLÍNIO’ DAS CAVALHADAS Há muitas versões em relação ao término desta grandiosa Festa em Cáceres. Dentre elas assinalamos influências de circunstâncias financeiras e de violência. Ambas situações parecem influir na realização das festividades em diversos municípios brasileiros, apresentaremos a seguir uma breve caracterização que parecem coincidir com os relatos orais de nossos entrevistados. Segundo José da Lapa (2012), no início da década de 1940 a população da cidade cresceu e, a festa tornou-se muito cara e, a elite (aristocrática) não quisera arcar com as despesas. Ao que pode ser notado, é que os encarregados e financiadores da festividade integrarem a aristocracia local, ceifando a participação popular e; a eles reservando espaço participativo entre os mouros ora os restringindo a plateia. Schipanski (2009) relaciona a suspenção da Festa a situação de crise econômica: a última cavalhada realizada e vinculada à programação dos festejos em louvor à Padroeira da cidade. De 1942 até 1966, as cavalhadas não forma realizadas, tendo em vista a crise econômica gerada pela segunda guerra mundial e também pelas transformações políticas e econômicas que Guarapuava estava passando. As fazendas de criação de gado e a lida do cavaleiro começaram a entrar em declínio, dando início as atividades de extração da erva mate e da madeira (2009, p.176). Para Baptista (2005) atribui o declino das festividades da Cavalhada a perca de espaço para as touradas. A Autora argumenta que as touradas tratavam-se de festas profanas e, mais empolgantes, com cenas violetas de batalhas entre homens e touros, ganhando, assim, muitos espectadores. Implicava as Cavalhadas, a presença marcante de bêbados, quais produziam desordem e tornavam difícil o controle dos seus atos de violência, levando a Administração municipal em não autorizar a realização das festividades (BAPTISTA, 2005). Com o declínio das Cavalhadas em Cáceres, torna hoje, vaga Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 30 A festa da Cavalhada em Cáceres ISBN 978-85-86422-59-1 lembrança do que outrora significou. O largo que abrigara a Festa, posteriormente foi urbanizado seguindo o modelo rural de ordenamento contendo quadra com desenhos geométricos não uniformes, bem diferenciado do centro da Cidade, a região próxima da Catedral São Luis (formatado em quadras retangulares, conforme os padrões romanos de urbanização). A festa da Cavalhada imprimiu seu nome, seja a Praça, sejam em Bairros da cidade (Cavalhada I, II e III), sendo todos originários de locais destinados ao pastoreio e confinamento dos animais durante as festividades da Cavalhada. FONTE ORAL José da Lapa. 2012. Adilson Reis. 2013. BIBLIOGRAFIA ALVES, Francisco das Neves (org). Brasil 2000 - anos do processo colonizatório: continuidades e rupturas. Rio Grande, RS: Fundação Universidade Federal do Rio Grande - FURG, 2000. BAPTISTA, Marta. Cantos de amor e Saudade: a história de Cáceres contada através das lembranças da vó Estella. Cuiabá-MT: Entrelinhas, 2005. LEITE, Luis-Philippe Pereira. Vila Maria dos meus maiores. Histórico e Geográfico de Mato Grosso, 1978. Do Instituto MENDES, Natalino Ferreira. Memória Cacerense. Cáceres-MT, 1998. SENATORE, Antônio Miguel F. Transcrição e compilação do material sobre a Cavalhada. Cáceres, 2002. SCHIPANSKI, Carlos Eduardo. Cavalhadas de Guarapuava: história e morfologia de uma festa campeira. Tese de doutorado. Rio de Janeiro: UFF – 2009. CONTINS, Marcia & GONÇALVES, José Reginaldo Santos. Entre o Divino e os homens: a arte nas festas do Divino Espírito Santo. Horizontes Antropológicos, nº 29: 67-94. 2008. SPINELLI, Céline. Cavalhadas em Pirenópolis: tradições e sociabilidade no interior de Goiás. Relig. soc. [online]. 2010, vol.30, n.2. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 31 POUTERIA GLOMERATA (LARANINHA DE PACÚ): ELEMENTO BIOCULTURAL DA CIDADE DE CÁCERES, M ATO GROSSO 1 Drielly Monise Carvalho Messias 2 Keyson Luis de Souza Dr. Aguinel Messias de Lima3 A presença marcante da laranjinha de pacú nas ruas e quintais de bairros da cidade de Cáceres-MT, demonstrando a importância da planta, levando o seu cultivo doméstico em quintais por moradores, apesar encontrarse na mata ciliar do rio Paraguai, em extensão do Pantanal. Neste sentido despontou a iniciativa de pesquisa, com o objetivo de investigar o motivo e a finalidade do cultivo da espécie fora do ambiente natural. Para investigação desta pesquisa, fazem-se os seguintes questionamentos: quais os bairros ou pontos da cidade em que se encontram a laranjinha de pacu? Porque estas foram e está sendo cultivadas nos determinados locais? Quem cultiva? Como e quando é realizado o manejo? Quando florescem? Os objetivos da pesquisa foram mapear a localização e a distribuição geográfica da laranjinha de pacú (A P. glomerata) nos quintais dos bairros; descrever parte do conhecimento biocultural dos moradores em relação às formas de uso, do cultivo e do manejo e reprodução da espécie nos quintais do perímetro urbano de Cáceres. A P. glomerata possui uma ampla distribuição nas Américas. No Brasil está presente na região de habitat nativo do Cerrado, do Pantanal e da Amazônia (POTT el al. (2009); LOPES, (2014). Geralmente encontrada em locais de solos úmidos ou argilosos, nas margens de rio, característico na mata ciliar. Para Pott; Pott (1994, p. 264), o nome científico Pouteria significa “árvore” na Guiana; glomerata denomina “aglomerada” que designa inflorescência. O arbusto varia de 1 a 8 metros de altura, ramificada até o solo, 1 2 3 Estudante do curso Técnico em Meio Ambiente da Escola Estadual Onze de Março. Estudante do curso Técnico em Meio Ambiente da Escola Estadual Onze de Março. Professor de Biologia da Escola Estadual Onze de Março.. [email protected] Pouteria glomerata (laraninha de pacú): elemento biocultural... ISBN 978-85-86422-59-1 floresce entre setembro a dezembro, frutifica entre janeiro e agosto. A espécie é abundante na mata ciliar e mata alagável, em solos argilosos ou siltosos. É pioneira no avanço da mata ciliar sobre o campo e não são invasoras porque não avança longe do rio. O nome da etnoespécie “laranjinha de pacú” originou-se pelas semelhanças de químicas (sabor azedo) e a destinação do fruto na pescaria. Assim, a denominação popular deu-se em função do fruto ter aparência de sabor azedo ao da laranja, e por este ser o de preferência alimentar do peixe do pacú. Em outras regiões é conhecida como “moranguinha” ou “parada”. A planta tem fisionomia parecida com frutos (laranja, poncã ou tangerina), a diferença é que o fruto não contém o formato tão arredondado e sua polpa não dividida em gomos. (LOPES, 2014). Para Morais & Silva (2009, p.199), a P. glomerata é conhecida popularmente como “parada” pelos moradores da região de Estirão Comprido Barão de Melgaço, Mato Grosso. O fruto é comestível e utilizado no preparo de sucos e geleias, e geralmente é utilizado pela população local nas atividades de pesca pelo fato do pacu ser um peixe de preferência dos pescadores. Para Pott; Pott (1994, p. 264) e Castrillon et al (2003), o fruto serve para alimentar peixes e apreciado como isca de pacú. Os pescadores procuram esta isca por ser um dos alimentos preferido do pacú do rio Paraguai e seus afluentes da região. Este peixe é um dos principais alimentos da preferência da população cacerense usado no preparo de comidas típicas da região. O fruto possui um sabor azedo acentuado, com baixa percepção de açúcar, sendo comparado ao fruto do tamarindo. O odor é agradável e de suave (BATISTA, 2013). Para Batista (2013), o fruto possui uma atividade antioxidante muito forte, rico em diversos nutrientes minerais (ferro, cobre) e vitamina C, dentre outros. A espécie chega a ter mais ferro do que um pedaço de bife de fígado bovino, e possui uma concentração maior em vitamina C do que frutas como goiaba, kiwi, caju. De acordo com POTT et al ( 1994 ) foi encontrado no fruto uma Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 34 Pouteria glomerata (laraninha de pacú): elemento biocultural... ISBN 978-85-86422-59-1 grande concentração em tanino que ressecam queimaduras e tecidos da derme (pele) de feridos. Para BATISTA (2013, p. 20), o tanino atua em “processo de cura de feridas, de queimaduras e inflamações”. Para Queirós e Carneiro (pg. 36), a espécie floresce e frutifica o ano todo. A época da floração ocorre entre setembro a dezembro, e da frutificação da espécie é no período de maio à junho ou de janeiro a agosto, mas dependendo da frequência da chuva pode se estender sua produção. Em algumas regiões chega a reproduzirem grande quantidade de janeiro à agosto. MATERIAL E MÉTODO DE PESQUISA Esta pesquisa foi realizada na cidade de Cáceres e está localizada na mesorregião Centro-Sul do Estado de Mato Grosso. O município possui mais de 87.942 habitantes (IBGE, 2010). A principal atividade econômica da cidade é a pecuária, as atrações turísticas e históricas, a pescaria esportiva e profissional, o Festival Internacional de Pesca (FIP). No primeiro momento, entre os dias 14/04/2015 e 04/05/2015, foram identificados 18 alunos distribuídos entre 6 turmas (04 alunos do 1º ano do curso técnico em informática (TI), 05 alunos do 1º e 2º anos , e do 7º semestre do curso Técnico em Meio Ambiente (TeMA); 04 alunos do 3º ano e 05 alunos do 2º ano do Ensino Médio Inovador (EMI) da Escola Estadual “Onze de Março” . Nesta ocasião, foi exibida a todos os estudantes em cada sala de aula, uma fotografia da planta inteira, de amostra de parte da planta (ramos e frutos in natura verdes e maduros), em seguida, foram realizadas explicações aos estudantes sobre as características anatômicas do objeto de estudo em questão. Após o reconhecimento do objeto, o pesquisador indagou-se quais os estudantes possuem a referida planta em sua residência, ou se, os mesmos tem informações da e conhecem a existência da mesma em outros locais ou ponto do bairro cidade para localização geográfica na cidade. Esta primeira coleta de dados foram necessárias para identificação de 19 pontos (17 com moradores e 2 terreno sem residência) distribuídos entre 12 bairros que Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 35 Pouteria glomerata (laraninha de pacú): elemento biocultural... ISBN 978-85-86422-59-1 cultivam a laranjinha. Estas informações foram anotadas no caderno de campo para serem utilizados na segunda fase de coleta de dados (observação e entrevistas in loco). Posteriormente, entre os dias 11/05/2015 e 20/05/2015, foram feitas observações in loco em 19 pontos (17 com moradores e 2 sem residências) e 17 entrevistas, com uso de roteiro de perguntas abertas e fechadas, aos moradores de 12 bairros que foram indicados pelos estudantes no primeiro momento. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com os entrevistados, 9 são mães, 5 pais e 3 são filhos (as), perfazendo um total de 17 entrevistados, sendo uma pessoa de cada residência (pai ou mãe ou filho) e em maioria mulheres. A idade dos entrevistados variou entre 14 e 80 anos e com predominância de 31 a 40 anos. Os entrevistados exercem diferentes atividades profissionais na cidade e pratica a pesca amadora (ribeirinha) para alimentação. Somente um exerce o pesca profissional filiado à colônia de pescadores (Z 2) de Cáceres. Os dados revelaram que os parentescos dos familiares (mãe, marido, irmãos, cunhados, genro, filho (a), tio, sogro) possuem uma relação com a planta e com prática da pesca no rio da cidade. Os parentescos dos entrevistados exercem a atividade pesqueira e utilizam o fruto da laranjinha para este fim. E, isto possivelmente é a justificativa para necessidade de cultivo da espécie nos quintais das residências identificados na pesquisa. Os pais, mães e filhos fizeram o plantio em seus quintais. Seus avôs e tios (dos entrevistados) obtiveram o conhecimento sobre o fruto e optaram pelo plantio em sua nova residência. Os moradores, anteriores aos dos entrevistados, encontraram a planta no quintal e deram continuidade ao cultivo. A cidade de Cáceres é banhada pelo rio Paraguai e ainda preserva a prática cultural da pesca profissional e para subsistência, em razão da mesma, ser reconhecida pelo evento “Festival Internacional de Pesca- FIP”. Estes utilizam diversas iscas, desde origem vegetal e animal. Frutos são usados em Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 36 Pouteria glomerata (laraninha de pacú): elemento biocultural... ISBN 978-85-86422-59-1 grande medida para a pescaria, para comercialização com os pescadores locais e com turistas que praticam a pesca no local. A prática cultural da atividade pesqueira ribeirinha justifica afeição pelo cultiva da etnoespécie em seus respectivos quintais. Foram identificadas e observadas setenta (70) plantas distribuídas em 19 pontos distribuídos entre doze (12) bairros da cidade. Os bairros identificados com maior número de indivíduos: o Maracanãzinho e Jardim Paraíso, com 12 indivíduos em cada; Cavalhada I, com 11; Jardim Cidade Nova, com 10; e Marajoara, com 09. Os principais locais de maior predominância de plantio de indivíduos ocupa espaço geográfico situado à frente do lote da residência. Porém, pode observar na lateral esquerdo e direito, no fundo do quintal e nas calçadas, defronte às ruas e difuso nos quintais sem moradores. Os dados biométricos (a idade e a altura) da espécie foram de 2, 2; 3,0; 4,0; 5,0 e 6,0 metros de altura aproximadamente. A idade e tempo de cultivo dos indivíduos variaram entre 3 a 20 anos, com predominância entre 6 a 7 anos. Alguns dos entrevistados (as) não souberam estimar a biometria pelo fato da planta ser cultivada pelo morador anterior, e por estarem residindo no local há pouco tempo. A época de floração (fenologia do vegetal) ocorre em torno de novembro a maio do ano subsequente, ou seja, entre o período do início até final do período chuvoso. A presença da planta na mata ciliar é dependente das condições do ciclo das cheias para seu crescimento, floração e frutificação. Estima-se que a produção do fruto inicia a partir de 03 anos do plantio. O crescimento, a floração e a frutificação do vegetal está adaptação as condições fisiológicas, de umidade e tipo de solo, da quantidade de luz solar e água e forma manejo das espécies. Esta sobrevive em áreas inundáveis da mata ciliar de transição ambiente terrestre e alagável e requer maior demanda da chuva para sobrevivência. O manejo da planta ocorre por meio da poda (corte dos galhos ou Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 37 Pouteria glomerata (laraninha de pacú): elemento biocultural... ISBN 978-85-86422-59-1 ramos), da irrigação e da adubação do solo. A prática da irrigação acontece nas primeiras semanas de plantio, até que a mesma se adapte ao solo e proporciona o seu crescimento. A planta é mais bem adaptada em locais com solo úmidos, o que justifica a sua presença nestes ambientes. Estas práticas de manejo são realizadas como garantia do crescimento, da floração e produção de frutos e sementes. Há presença de inseto, espécie de “abelha” amarela, que perfura e deposita os ovos no interior da polpa da laranjinha, e que posteriormente, desenvolvem larvas que nutrem da polpa, e assim destroem o fruto. Há dois métodos para destruição ou controle das larvas parasitas e proteção: a pulverização de produto (barragem) ou uso de armadilha confeccionada pela garrafa PET. A sua semente necessita de cerca de 6 a 7 meses para germinação. Para plantio, as mudas são adquiridas diretamente de outras plantas cultivadas. Para participante, há necessidade do cultivo em quintais a fim de garantir a preservação, e, por conseguinte, manter a produtividade do fruto para iscas utilizada na pescaria e da alimentação do peixe pacú no rio ambiente natural, e bem como, para comercialização e sombreamento em quintais. Os entrevistados destacaram os motivos pelos quais os moradores cultivam a etnoespécie nos quintais, dente eles, a redução do número de indivíduos causados pela existência de queimadas e de falta de cuidados das pessoas que transitam e usam determinados locais do rio e ambiente. Outra razão foi justificada pelo fato de que produção de frutos em ambiente natural (na mata) ocorrem, exclusivamente, no período das chuvaradas (das águas), o que venha dificultar a coleta ao longo do ano. Relatavam que os cuidados com o plantio no quintal através da irrigação pela manhã e final da tarde garante a produção do fruto anual. O fruto contém a casca externa que libera uma substancia líquida de cor branca semelhante a uma cola, e no seu interior, apresenta uma polpa ácida e azeda (com massa de cor laranja) e a semente. E destacam que a espécime produz fruto o ano todo quanto é cultivado e Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 38 Pouteria glomerata (laraninha de pacú): elemento biocultural... ISBN 978-85-86422-59-1 manejado nos quintais das residências. Enquanto, na mata ciliar, a produtividade fica dependente do ciclo das cheias no período das chuvas. Os moradores que cultivam a planta alimentam-se da polpa do fruto in natura presente nos quintais, ou por pescadores nas margens do rio. O suco do fruto é pouco utilizado para suco em razão da acidez apresentado na fruta. CONSIDERAÇÕES FINAIS O nome do popular da etnoespécie é justificado pelas semelhanças do paladar azedo do fruto da laranja (citrus), e pela finalidade de uso para pesca do peixe pacú. O cultivo da P. glomerata em diferentes bairros foram motivados pela função sociocultural e ecológica da planta entre moradores pescadores. Foram identificados moradores que possuem hábito do cultivo da laranjinha em quintais de suas residências. Esta experiência dos moradores com o uso e prática do manejo da planta nas residências e com a pescaria no rio, poderá contribuir para aquisição e transmissão do conhecimento dos aspectos culturais, sociais e ecológicas. Os moradores que cultivam a planta e residem um tempo mais duradouro, nestes quintais, poderão ter maior afeição com a laranjinha, e, por conseguinte, demonstram maior preocupação com a conservação da planta, tanto na residência, bem como, na mata ciliar ou ambiente natural. Há necessidade de outras pesquisas para identificação de novos moradores e pontos de cultivos, de novas formas de uso e manejo, e inclusive, da indagação sobre a continuidade do conhecimento cultural da pesca e do cultivo da planta de modo intrafamiliar e transgeracional entre dos pais e avôs aos filhos. BIBLIOGRAFIA BATISTA, L. C. L. Laranjinha de pacu: Qualidade nutricional e atividade antioxidante da laranjinha de pacu. MS: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 2013. LOPES, L. Receita da nutricionista. São Paulo: EDUSP, 2014. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 39 Pouteria glomerata (laraninha de pacú): elemento biocultural... ISBN 978-85-86422-59-1 MORAIS, F. F. & SILVA, C. J. Conhecimento ecológico tradicional sobre fruteiras para pesca na Comunidade de Estirão Comprido, Barão de Melgaço Pantanal Mato-grossense. Biotaneotropica, 2009. POTT, A; POTT, V.J. Plantas do Pantanal: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Centro de Agropecuária do Pantanal. Corumbá: Embrapa, 1994. POTT, A.; POTT, V. J.; DAMASCENO JUNIOR, G. A. Fitogeografia do Pantanal. III CLAE e IXCEB, 10 a 17 de Setembro de 2009, São Lourenço – MG, 2009. QUEIROZ, C. A. C e CARNEIRO, C. E. Estudos Taxonômicos de Pouteria Aublet (Sapotaceae) para o Estado da Bahia, Brasil. Universidade Federal de Feira de Santana. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 40 AS MUDANÇAS NA AVENIDA SETE DE SETEMBRO EM CÁCERES-MT 1 Amanda Viera 2 Msc. Leandro de Almeida Nas últimas décadas o estudo das cidades tem se tornado um dos principais interesses de pesquisadores principalmente no tocante aos usos que os moradores fazem destes espaços. Nesta perspectiva a cidade é um espaço privilegiado de pesquisa, pois a mesma apresenta em suas ruas, prédios públicos, lojas, repartições, ou seja, uma infinidade de memórias marcadas por acontecimentos que a constitui historicamente. Utiliza-se como meio para compreensão de transformações ocorridas no espaço mato-grossense, especificamente, na cidade de Cáceres, reportagens, revistas, bibliografia, monografias que tratam especificamente dessas mudanças ocorridas na cidade. Assim nos utilizamos das fontes escritas, iconográficas e orais de alguns personagens que vivenciaram de forma mais direta esta parte da cidade. Dentre as fontes escritas podemos destacar a revista do Bicentenário da cidade ocorrido no ano de 1978 na qual apresenta alguns indicativos do desenvolvimento da cidade no final desta década e que foi muito importante para as reflexões deste artigo. Quanto às fontes Iconográficas, estas foram muito importantes para mostrar ao leitor alguns dos principais pontos comerciais da avenida ao mesmo tempo em que serviram de suporte para muitas de nossas reflexões. Assim na busca pela compreensão deste objeto encontra-se algumas questões que estão relacionadas à ideia de progresso, porém vou me limitar apenas em tentar reproduzir as transformações ocorridas nesse espaço tão frequentadas por usuários na cidade de Cáceres, buscaremos apresentar como essas mudanças influenciaram o imaginário da população cacerense da época. 1 Aluna do curso técnico em meio ambiente da Escola Onze de Março. Professor orientador, mestre e articulador de projetos da Escola Onze de Março. [email protected] . 2 As mudanças na Avenida Sete de Setembro... ISBN 978-85-86422-59-1 Partindo desta ideia, Cáceres, em seus 235 anos, apresenta alguns espaços no seu traçado urbano que vão além de sua materialidade exterior como a Avenida Sete de Setembro. Esta, ao longo de sua existência sofreu inúmeras transformações em seu traçado e em sua organização e, sobretudo, nos usos que os moradores da cidade fazem dela. O que era um antigo caminho que levava os moradores ao Cemitério São João Batista, da segunda metade do século XIX aos dias de hoje, transformou-se em movimentada avenida com lojas, postos de gasolina, um hospital e até a antiga rodoviária da cidade. Essas mudanças ocorridas neste espaço constituem o tema deste trabalho. O objetivo é mapear estas transformações ligando-as a outros acontecimentos que, em nossa interpretação, foram fundamentais para que tais mudanças ocorressem. Adjacente a esta preocupação, faremos um percurso pelas principais transformações que ocorreram na avenida, concentrando nossas atenções na questão da arborização que se tem ao longo de toda a Avenida. O presente artigo está desenvolvido em dois momentos. No primeiro, destacamos o surgimento e desenvolvimento da avenida como um espaço social e econômico da cidade. Nesse sentido, historicizamos a constituição deste espaço desde as primeiras referências documentais até os estabelecimentos da avenida como parte integrante da zona comercial da cidade, além de importante elo de ligação entre as zonas Leste-Oeste da Cidade. Como isso, procuramos estabelecer um paralelo entre um lugar de referência comercial e o próprio desenvolvimento da cidade. Uma importante referência para esta reflexão foi a dissertação de mestrado de Arruda (2003) e Carlos (2004) Novos escritos sobre a Cidade. Os trabalhos que analisamos trabalham a questão das cidades nos quais procuram percebê-las como espaços constituídos por seus habitantes. No segundo momento abordamos as mudanças ocorridas ao longo do seu traçado, investigando como os seus “frequentadores” imaginam o lugar. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 42 As mudanças na Avenida Sete de Setembro... ISBN 978-85-86422-59-1 Cabe destaque inicial ao fato de que a atual Avenida Sete de Setembro há muito tempo tem sido um espaço de comercialização de produtos, sobretudo, dos pequenos produtores da região que se estabeleciam sazonalmente na avenida para comercializar os seus produtos e que atraíam inclusive pessoas de outras localidades próximas para comprarem víveres e outras necessidades. AVENIDA SETE DE SETEMBRO EM CÁCERES: DIVERSOS OLHARES Para falarmos da Avenida Sete de Setembro, com seu traçado retilíneo e espaçoso, é importante ressaltar que desde a fundação da cidade de Cáceres, quando Capitão General da Capitania de Mato Grosso, Luiz Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, em 1778, ordenou a edificação da cidade, que recebeu o nome de Vila Maria do Paraguai, em homenagem à rainha de Portugal D. Maria I, na qual foram colocados todos os preceitos racionais de construção de cidades portuguesas da época. Ou seja, privilegiouse formas retilíneas às ruas principais (sentido norte-sul) e às secundárias (sentido leste-oeste), tendo como centro uma praça onde se localizaria o centro religioso (igreja Matriz) e prefeitura Municipal, centro do poder espiritual e político. Segundo Adson de Arruda: Ao elegermos a cidade como objeto de estudo, nos aproximamos da historiografia especializada que afirma serem as cidades ‘espaços’ que ligam os indivíduos e os grupos e em suas práticas sociais. Esses ‘espaços’, por sua vez, não podem ser concebidos apenas a partir de conceitos urbanísticos ou políticos, mas como o lugar da pluralidade das diferenças sociais (ARRUDA, p. 124, 1998) . Dessa forma, o nosso estudo pretende percorrer esses “espaços” da cidade, mas exclusivamente os espaços da Avenida Sete de Setembro e observar as transformações e a pluralidade das diferenças sociais na cidade. Ainda, segundo o mesmo autor: As relações sociais desenvolvidas nas cidades são historicamente determinadas, capazes de fornecer elementos para a compreensão das atitudes, desejos e projetos de homens e mulheres em épocas distintas. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 43 As mudanças na Avenida Sete de Setembro... ISBN 978-85-86422-59-1 Captar e investigar as práticas sociais e comportamentos dos moradores de uma cidade implica em dar visibilidade aos vários projetos que colocam em curso, tais como os modos de viver, de morar, de lutar, de trabalhar e se divertir dos moradores (ARRUDA, 1998). Isso quer dizer que através das relações desenvolvidas na avenida, sejam elas sociais, culturais e até mesmo estruturais, é possível fornecer elementos para a compreensão das atitudes das pessoas que se interligam com a avenida. A cidade e suas transformações fornecem elementos para a compreensão do cotidiano e das transformações e práticas que são uma constante nesses espaços. Figura 1- Pavimentação com bloquetes na Avenida Sete de Setembro. Fonte Museu Municipal de Cáceres-MT. SD. Através de uma entrevista realizada no mês de maio, deste ano de 2013, com Miguel Samattore, um senhor de 63 anos, morador há mais de 50 anos na cidade de Cáceres, argumenta que que participou do processo de urbanização da cidade de Cáceres e, que a o espaço da Avenida Sete de Setembro teve grande papel para o crescimento e fortalecimento da economia de Cáceres. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 44 As mudanças na Avenida Sete de Setembro... ISBN 978-85-86422-59-1 Figura 2- A Avenida Sete de Setembro na Década de 70 – Cáceres/MT, Fonte: Adilson Reis. SD. Samattore nos informou que as pistas laterais não existiam. Havia somente uma espécie de pátio, onde possuia um mínimo de acessos aos pouquíssimos prédios que eram percorridos através de passagens de pontes e 3 tijolos sobre as valas e pinguelas (sobre as valas maiores). Com a pavimentação da avenida, houve um incremento nas práticas comerciais de produtos. Os principais produtos comercializados na década de 70 eram oriundos da agricultura na região da grande Cáceres. Na avenida, os comerciantes comercializavam produtos como: arroz, feijão, carne, milho, galinhas entre outros. O que era produzido na zona rural, os agricultores traziam para vender ou trocar na cidade. Cáceres, com o tempo, passou a ser considerada um polo comercial para as regiões vizinhas. Os municípios desmembrados: Mirassol D´Oeste, São José dos Quatro Marcos, Rio Branco entre outros, recorriam a cidade de Cáceres para fazerem suas compras e procurarem recursos médicos. O senhor Rosalvo Carneiro (2013), outro entrevistado afirma que “naquela época as compras eram feitas em sua grande maioria aqui mesmo no município de Cáceres. Deste modo, as atividades mercantis, tornaram o fluxo comercial 3 Ponte improvisada utilizada por pedestres, geralmente composta de um tronco de madeira, apoiada nas extremidades da depressão a ser transposta. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 45 As mudanças na Avenida Sete de Setembro... ISBN 978-85-86422-59-1 mais intenso e bem mais concorrido na década de 1980 que atualmente” . Em 1950, no lado direito da avenida já existia a igreja Perpétuo Socorro e os salões utilizados por atividades escolares e, também a residência do pecuarista Nestor Silva. No lado esquerdo da Avenida o hospital São Luís. O Hospital pode ser considerado o prédio mais antigo da avenida e de grande importância para cidade em si. Atualmente o hospital é um prédio imponente 4 no coração da Cidade . No ano de 1940, a área que dera lugar ao Hospital São Luiz, foi ocupado por duas casas de adobes (tijolo de barro não queimado) e o único posto de gasolina da cidade (pertencente ao senhor Jair de Oliveira Garcia). As dependências do posto consistia por um casebre, uma bomba de gasolina e quase sempre filas de uns dez a quinze tambores de aço, latas, aguardando o combustível que dificilmente chegava em Cáceres. Pela Avenida, na década de 1940, era pequeno o movimento de veículos, apesar de ser a saída para a capital. Frequentemente via-se transitar carros de bois ou carros de burros, conduzidos por pessoas que traziam produtos tais como: arroz, feijão, milho, galinha, carne de boi, vindo da Morraria. 4 Faz frente com as lojas Destak Confecções, Casa do Alumínio e Brasil América. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 46 As mudanças na Avenida Sete de Setembro... ISBN 978-85-86422-59-1 Figura 3 - Meios de transporte urbano na cidade de Cáceres. Fonte: Museu Municipal de Cáceres-MT. SD. O pecuarista Nestor Silva nos informou que na década de 60, era muito difícil a comercialização de produtos na cidade de Cáceres, pois a sua economia encontrava-se em fase inicial de crescimento. Os produtos agropecuários consumidos na cidade eram trazidos da região de Morraria, sendo-os em parte considerável eram trocados por mercadorias industrializadas e outras vendidas ao comércio varejista. Um dos exemplos que podemos destacar dessa relação é dos produtores de arroz que trocavam seus produtos por outros alimentos de sua necessidade. Na maioria das vezes esses produtos eram trazidos de carroça, um dos principais meios de locomoção utilizados pelos comerciantes da época. Com a pavimentação da Avenida Sete de Setembro produtores e comerciantes de produtos agrícolas ampliaram suas vendas, com maior fluxo de circulação de produtos. Na porção esquerda da Avenida, foi posicionado o cemitério São João Batista, desde o início daquele século. Em sua fase inicial, tratava-se de apenas um caminho que ligava a área urbana da cidade ao Cemitério. Com o tempo e crescimento da Cidade, o Cemitério foi incorporado ao perímetro urbano, e o caminho ganha status de avenida dado a crescente práticas comerciais em seu trajeto. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 47 As mudanças na Avenida Sete de Setembro... ISBN 978-85-86422-59-1 Nas décadas sucessivas à 1980, a Cidade experimentou o crescimento populacional, através de migrações internas vindas das regiões sudeste do país. Contribuíram também para o crescimento da Cidade a construção e mudança da capital nacional para a região Centro Oeste do país (Brasília), bem como a construção da ponte Marechal Rondon (sobre o rio Paraguai, na década de 50). Crescimento que implicou em melhorias no aeroporto Manoel Cuiabano, a construção do Terminal Rodoviário no Centro. Melhorias que podem ter influenciados positivamente na reorganização de práticas e relações comerciais na Avenida Sete de Setembro. Mudanças incrementadas no centro urbano de Cáceres, implicando em um novo visual, inspirada no planejamento urbano de Brasília, a configuração da avenida, e posicionada com duas pistas duplicadas (e largas), pavimentadas com asfalto, jardinadas e arborizada com palmeiras imperiais, simbolizando o progresso. Utilizando-se das representações que Chartier discorre sobre as cidades, segundo Arruda, da seguinte forma: Os vários discursos sobre a cidade, portanto, não podem ser pensados como referências verdadeiras que se impõem de forma natural, porque são ‘produtos das relações sociais desenvolvidas na cidade que em última análise, acabam por definir e delinear a paisagem urbana, a imagem da cidade’. Desse modo, as relações sociais desenvolvidas nas cidades são historicamente determinadas, capazes de fornecer elementos para a compreensão das atitudes, desejos e projetos de homens e mulheres em épocas distintas. Captar e investigar as práticas sociais e comportamentos dos moradores de uma cidade implica em dar visibilidade aos vários projetos que colocam em curso, tais como os modos de viver, de morar, de lutar, de trabalhar e se divertir dos moradores (ARRUDA, p. 6, 1998). Ao observar esses espaços urbanos, nas multiplicidades das relações sociais que são desenvolvidas na cidade, podemos pensar a avenida em destaque como um local de práticas e comportamentos distintos. A avenida, não por acaso, é localizada nas proximidades do centro de poder político, a qual serve de suporte ao projeto capital de segmentos da sociedade local. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 48 As mudanças na Avenida Sete de Setembro... ISBN 978-85-86422-59-1 Implementar o projeto capital, significou considerar inovações nas práticas de comércio ao longo da Avenida. Implemento que considerou os avanços tecnológicos utilizados pelas lojas comerciais, além de ampliar os gêneros e serviços comercializados, também significou a ampliação dos estabelecimentos comerciais; iniciou-se uma nova fase de relações comerciais no município de Cáceres, incorporando outras práticas no quotidiano dos empresários locais. Quanto aos consumidores estes tiveram que se adaptar ao novo sistema de compra e venda em que, segundo Sibília (2003), predomina uma tendência generalizada de abstração e virtualização dos valores. O novo lugar agora com traços de modernidade simboliza, para a população de Cáceres, um importante local para as suas compras, pois o comércio da atual Avenida Sete de Setembro é constituído de farmácias, supermercado, posto de gasolina, lojas de móveis, lojas de roupas, entre outros ramos de atividades comerciais. Assim, ao longo da Avenida pode ser localizando inúmeros produtos e servidos que adenda a população local e da região circunvizinha. Deste modo, o fluxo de pessoas é contagiante nos dias de semana quando as pessoas estão em horários de trabalho e compras. A agitação toma conta dos comércios, que circulam pelas margens da avenida. A construção e/ou reformulação dos prédios é bastante acentuado, assim como a adoção de espaços, onde os comerciantes vêm cuidando e ganhando direito de fixar placas luminosas de seu comércio, tornando-a mais bela, inclusive a maior concentração popular da cidade são realizadas ali, através de eventos políticos e culturais. Como exemplo, podemos citar as realizações de comemorações cívicas do calendário nacional e municipal, como outras manifestações públicas. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 49 As mudanças na Avenida Sete de Setembro... ISBN 978-85-86422-59-1 Figura 4 - Reestruturação do comércio em torno da Avenida. Fonte: Vieira, 2013. As mudanças ocorridas no espaço social da Avenida Sete de Setembro é um cenário das modificações socioculturais ocorridas no município de Cáceres. As atividades comerciais ganham outro modelo, com vistas agora a atender as necessidades do mercado, com novas relações entre os trabalhadores e as novas tecnologias exigidas pelo mundo atual. Observamos ao longo da avenida em um dia de semana a agitação que os transeuntes ocupam cada espaço do coração financeiro da cidade. Transeuntes dos mais diferentes transitam pelas calçadas, observam as lojas, procuram informações e estabelecem relações que desafiam a capacidade de penetrar esse universo envolto em cada espaço dessa parte importante da cidade. A AVENIDA SETE DE SETEMBRO: COMÉRCIO E CONSUMIDORES A partir da Revolução Industrial do século XIX, com a produção em série, o consumo de mercadorias no mundo inteiro cresce exponencialmente. Nas últimas décadas, como nos alerta Sibília, o capitalismo cumpriu seu destino já previsto por Karl Marx em O Capital sobre a mercantilização geral da sociedade. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 50 As mudanças na Avenida Sete de Setembro... ISBN 978-85-86422-59-1 Há mais de um século depois da sua formulação, nesta época de ágeis mudanças o diagnóstico de Karl Marx a respeito do capitalismo parece estar atingindo o seu ápice, numa era em que o consumo rege todos os hábitos sócio-culturais (SIBILIA, p. 36, 2003). Cremos que a Avenida Sete de Setembro reflete bem esta afirmação, pois se nós olharmos em traçado retilíneo perceberemos que o seu entorno está completamente tomado por empresas comerciais. Sendo assim, nesse capítulo tenho como objetivo analisar as mudanças que favoreceram a instalação destas empresas no referido local. Em cada época o comércio, segundo uma lógica própria, se concentra nos lugares onde as pessoas transitam no seu dia-a-dia. No início do século XX, por exemplo, se situavam nos espaços compreendidos em torno da atual Praça Barão do Rio Branco e ao longo da margem do Rio Paraguai. Conforme Arruda, nas três primeiras décadas do século XX: percebe-se que as ruas, a praça e seus arredores não era apenas um lugar publico, cuja função era a circulação e o lazer dos habitantes da cidade, ou seja, os usuários não se limitavam apenas em cumprir o papel de passantes, ao desempenharem os rituais diários de deslocamentos em direção aos armazéns, ao porto, ou outros lugares menos “formais”, construíam uma espacialidade marcada por uma tensão entre normas e desvios (ARRUDA, p. 89, 2002). Com o crescimento da cidade nas décadas de 1970 e 1980, a Sete de Setembro passou a fazer o papel de elo de ligação entre a “Grande Cavalhada” e bairros adjacentes – zona norte da cidade – e a região sul, constituindo-se assim num importante ponto de passagem de trabalhadores, estudantes, viajantes, etc. Outro evento importante foi a pavimentação da avenida na década de 1970 o que propiciou um espaço importante para a instalação de lojas. 5 Conforme João Batista (2003) vendedor de “churrasquinho” há mais de vinte anos na avenida relata: 5 Entrevista realizada em março de 2013. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 51 As mudanças na Avenida Sete de Setembro... ISBN 978-85-86422-59-1 Desde que comecei vender espetinho aqui nessa área da Avenida, me lembro de quando as pessoas vinham das regiões vizinhas para efetuarem suas compras reclamavam da distancia que tinham que percorrer até o centro, onde se encontrava quase todo o comercio da cidade achavam muito longe. Segundo ele com os avanços que tivemos com relação ao asfaltamento, fizeram com que outros comércios se deslocasse para a avenida. As modificações que presenciamos na cidade de Cáceres na década de 1970, representam todo um envolvimento de ações que contribuíram para o crescimento e fortalecimento da economia local, não obstante, podemos destacar que nesse período vamos ter também a construção da rodoviária no centro da cidade, na rua lateral esquerda à avenida. Destarte foi possível, perceber que com o passar do tempo a construção e/ou reformulação dos prédios foi bastante acentuado, assim como a adoção de espaços, onde os comerciantes vêm cuidando e ganhando direito de fixar placas luminosas de seu comércio. Vale ressaltar que inclusive a maior concentração popular da cidade são realizadas na Avenida, segundo Adilson Reis (2003), destaca que os principais eventos políticos e culturais da cidade são realizados no traçado da avenida, como exemplo, podemos citar as realizações de comemorações cívicas do calendário nacional e municipal, como outras manifestações públicas. Com o conjunto de prédios erguidos as margens da Avenida Sete de Setembro, encontramos diferentes pontos comerciais. Dentre os quais podemos destacar: Hospital, lojas de confecções, drogarias, lojas de calçados, postos de combustíveis e vendedores ambulantes camelôs. O corre-corre das pessoas pelas calçadas da avenida se mistura a correria do comércio e das atividades de um mundo marcado pela agitação das pessoas. Jacques Le Goff fazendo um estudo sobre a cidade medieval apontou alguns elementos que julgamos interessantes para nossa reflexão. Trata-se dos chamados de “pontos quentes”. Para ele “o que estrutura a cidade é um certo número de lugares (...) que determinam até certo ponto (...) a circulação” (LE GOFF, p. 34, 1992). Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 52 As mudanças na Avenida Sete de Setembro... ISBN 978-85-86422-59-1 Ao observar esses espaços urbanos bem como as multiplicidades das relações sociais que são desenvolvidas na Cidade, podemos pensar a avenida em destaque como o local de práticas e comportamentos distintos. A avenida, não por acaso, é localizada no centro da cidade podendo ser considerada como um ponto de referência comercial. Um dado interessante que se pode constatar é a utilização maciça de upgrade tecnológico que grande parte das lojas tiveram que fazer para, ao mesmo tempo, racionalizar o tempo dos trabalhadores e atrair mais clientes. Segundo Ana Maria de Moraes6 trabalhadora há mais de vinte anos no comércio, salienta que a loja de confecções “Casa São Paulo” fez um investimento na área da informática, no layout da empresa, nas placas luminosas com o objetivo de torná-la mais atraente para o público. A entrevistada argumenta que a loja teve que se enquadrar nos avanços tecnológicos utilizados pelas lojas comerciais de grandes centros. Portanto iniciou-se assim uma nova etapa na concorrência entre as empresas comerciais no município de Cáceres, incorporando outras praticas no cotidiano dos empresário locais. Quanto aos consumidores, estes tiveram acesso ao novo sistema de compra e venda da loja em que os cartões de credito e debito. Segundo 7 Marisol Melgar dos Santos (2003) estas novas tecnologias que tem por objetivo facilitar as transações comerciais e proporcionar maior segurança ao empresário terminam por estabelecer um novo aparelho de controle do qual é difícil escapar. Podemos constatar que o comércio em Cáceres-MT, atualmente está na malha desse capitalismo moderno ou pós-industrial a qual alude Sibilia 8 onde predomina a virtualização dos valores Capitalismo este que, conforme já afirmamos anteriormente, atingiu seu ápice na sociedade atual em que o consumo rege todos os hábitos socioculturais, com o domínio absoluto do 6 7 8 Entrevista realizada em abril de 2013 Santos, Marisol Melgar dos, Op. Cit. Capitulo Primeiro SIBÍLIA, Paula.Op.cit. p. 25. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 53 As mudanças na Avenida Sete de Setembro... ISBN 978-85-86422-59-1 mercado em todas as esferas da sociedade. Durante a pesquisa sobre a movimentação comercial da Avenida Sete de Setembro um dos entrevistados, proprietário de três lojas de confecções, nos relatou que atualmente o comércio da avenida está estagnado. Segundo ele seria preciso fazer uma parceria entre o poder publico e o privado para o fortalecimento do comércio da avenida, pois segundo o mesmo Cáceres precisa de parceira entre esses dois órgãos para consolidar a sua economia local crescente. Pensar nessa parceria dos órgãos públicos com o comércio na Avenida Sete de Setembro em Cáceres é pensar o modelo capitalista e sua relação com o Estado. Historicamente a burguesia por mais que aderisse em massa ao liberalismo, prescindiu da ajuda estatal para criar mecanismos legais, institucionais e logísticos para ampliar a acumulação de capital. Por outro lado, a inserção dos trabalhadores nesse capitalismo a que referimos anteriormente, é bastante problemática. Este tende a ser cada vez mais como uma peça descartável. Como qualquer outra mercadoria e isto atinge de uma maneira ou de outra praticamente todas as camadas sociais. Sobre esse ponto Sibília afirma que As modalidades de trabalho também mudam e se expandem, tanto no espaço quanto no tempo. Abandonando o esquema dos horários fixos e das jornadas de trabalho estritamente delimitadas em rígidas coordenadas espaço-temporais, hoje surgem novos hábitos com ênfase nos contratos a curto prazo, na execução de projetos e na flexibilidade (SIBILIA, p. 36, 2003). Quando perguntamos sobre o aperfeiçoamento deles para trabalharem no comércio, é visível a cobrança para constantemente estarem buscando cada vez mais esse aperfeiçoamento através de cursos de capacitação. Sennet (2006) aponta, da mesma forma que Sibília (2003), que há uma tendência ao trabalho temporário, de curto prazo, superar o trabalhador fixo, sobretudo no comércio varejista. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 54 As mudanças na Avenida Sete de Setembro... ISBN 978-85-86422-59-1 Vale lembrar que encontramos casos de comerciários que dedicam boa parte do seu tempo para satisfazer às necessidades desse capitalismo abordado por Sibília. A dedicação quase que integral às demandas exigidas pelo constante aperfeiçoamento transformam estes indivíduos em frequentadores assíduos de cursos de capacitação e, o que é mais interessante é que eles acreditam integralmente que este é o caminho correto. Porém, nem mesmo diante desta possibilidade o trabalhador não está seguro, uma vez que a concorrência é muito acirrada. A Avenida Sete de Setembro nesse contexto transforma-se em uma grande referência para o estudo das relações que envolvem a sociedade atual. Por meio das novas tecnologias de comunicação e informação nada escapa de um controle intenso sobre o consumidor e, ainda mais sobre o trabalhador. Vale ressaltar que devido a esses fatos, a avenida tornou-se hoje, um dos espaços, no meio urbano, mais usados pelos moradores da cidade, pois ali se encontra uma grande quantidade de prédios, que em sua maioria, é comercial, nos mais variados ramos de atividades. O fluxo de pedestres é contagiante nos dias de semana quando as pessoas estão em horários de trabalho e compras. O movimento toma conta dos comércios, agora em grande número pelas margens da avenida. CONSIDERAÇÕES FINAIS Interpretar como as cidades criam espaços saturados de significações acumuladas através do tempo (BRESCIANNI, 2001) significou a realização de pesquisa, com foco na Avenida Sete de Setembro, significou o olhar diferente para as relações que permeiam as pessoas e os lugares desse espaço no centro da Cidade. O olhar sobre os acontecimentos e transformações ao longo do tempo nesse espaço urbano de modo a identificar as mudanças na sua estrutura física e social. O desejo pela pesquisa surgiu através das discussões realizadas em sala de aula, e também pelo interesse de conhecer mais sobre essas Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 55 As mudanças na Avenida Sete de Setembro... ISBN 978-85-86422-59-1 transformações no espaço da Avenida. A reconstrução dos fatos que marcaram o desenvolvimento da Avenida Sete de Setembro nos possibilitou uma reflexão sobre a mesma, por isso ao olharmos essas mudanças não podemos deixar de refletir sobre o modo como vive a sociedade que a construiu, e assim discutir as novas formas de organização social que surgem com o avanço tecnológico. Nesse sentido o comércio da Avenida Sete de Setembro atualmente possui essas características de modernidade que, ao longo do trabalho, e com as leituras dos autores consultados, pudemos os identificar e os relatar. O que há alguns anos era um caminho que levava ao cemitério e que poderia ser visualizado como um caminho para uma outra vida, hoje já não se é contemplada dessa forma. Na atualidade o que se nota é uma agitação que revela uma sociedade compenetrada em seus afazeres. A avenida tem as suas histórias e seus trajetos cheios de acontecimentos que podem ser problematizados de diferentes olhares. A intenção do trabalho foi identificar algumas das transformações que aconteceram ao longo da história da avenida pela apropriação social, econômico e cultural. Transformações continuaram a acontecer e deverão ser problematizadas com outros olhares e em outras situações. REFERÊNCIAS FONTES ORAIS Adilson Reis Ana Maria de Moraes Miguel Senatore BIBLIOGRAFIA ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo: Anti-Semitismo, imperialismo e totalitarismo: Tradução Roberto Raposo. – São Paulo: Companhia das Letras. 1989 ARRUDA, Adson de. Imprensa, vida e fronteira: A cidade de Cáceres nas primeiras décadas do século XX (1900-1930). Dissertação de Mestrado. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 56 As mudanças na Avenida Sete de Setembro... ISBN 978-85-86422-59-1 Cuiabá, MT. UFMT. 2002. BRESCIANI, Maria Stella. História e historiografia das cidades, um percurso. Historiografia brasileira em perspectivas. (org) Marcos Cezar de Freitas. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2001. p. 237-258. CARLOS, Ana Fani Alessandri. O espaço urbano: Novos escritos sobre a cidade. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2004. CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano – Artes de Fazer. 12. ed. ,Rio de Janeiro: Vozes, 1994. DELEUZE, Gilles. Controle e devir; Post-Scriptum sobre as sociedades de controle. Conversações. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992. LE GOFF, Jacques. O apogeu da cidade medieval - São Paulo: Martins Fontes, 1992. Mendes, Natalino Ferreira. Efemérides Cacerenses. Vol I E II. Brasília: Gráfica do Senado, 1992. 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Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia e 57 QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS DECORRENTES DOS SEPULTAMENTOS DO CEMITÉRIO SÃO JOÃO B ATISTA, C ÁCERES-MT 1 Renan Nascimento de Moura 2 Esp. Johny Dias Marinho 3 Dr. José Carlos Soares Os cemitérios antigos em atividade, podem conter histórico questionável diante de possíveis danos socioambientais. O estudo tem como objetivo verificar como o cemitério São João Batista afeta o meio ambiente e possíveis riscos à saúde dos moradores que residem ao seu entorno. Do ponto de vista metodológico, o estudo foi realizado mediante revisões literárias, observações in loco no cemitério (e proximidades) e entrevistas com moradores. Observa-se que os 47,14% dos moradores, afirmam que o cemitério pode causar danos ao ambiente e as pessoas, tais como: infecção de pele com bactérias e fungos, odor juntamente com problemas gastrointestinais; e que 30,76% dos entrevistados afirmam que é possível prever estes riscos, e os mesmos optam pela desativação do cemitério. Neste sentido, o presente estudo aborda a questão da decomposição de cadáveres humano, denominada necrochorume, sendo-os capazes de produzir perigo poluente ao meio ambiente de contato (solo, lençol freático dentre outros). O cemitério São João Batista, localizado no município de Cáceres-MT, fundado no século XIX, na época foi construído em área mais afastada da populacional e hoje encontra-se circulado por grande número de residências (vide fig. 01). Diante disso este trabalho aborda uma analise de resultados preliminares referente à percepção ambiental dos moradores ao entorno do cemitério São João Batista em Cáceres, Mato Grosso. Neste sentido avalia também uma possível contaminação ambiental causada pelas sepulturas 1 Estudante do curso Técnico em Meio Ambiente da Escola Estadual Onze de Março. [email protected] 2 Professor Orientador, Especialista em Gestão Ambiental Graduado em Ciências Biológicas, pela Universidade do Estado de Mato Grosso UNEMAT, Campos de Cáceres – MT, e-mail de contato: [email protected]. 3 Professor Co-orientador e Dr. em Geografia pela Universidade Federal Fluminense – Rio de Janeiro, e-mail de contato: [email protected] Questões socioambientais decorrentes dos sepultamentos... ISBN 978-85-86422-59-1 existente no cemitério. O município de Cáceres situa-se a sudoeste do Estado de Mato Grosso, na microrregião do Alto Pantanal e mesorregião do centro-sul matogrossense, com uma área territorial de 24.796,8 km² (IBGE, 2000). A cidade de Cáceres (sede do município) encontra-se a 215 km da capital do Estado (Cuiabá). De acordo com Santos et al (2012), a área urbana da cidade de Cáceres se encontra à margem esquerda do Rio Paraguai. Entre as coordenadas geográficas entre 16º 00’ 50”- 16º 07’ 50” latitude Sul e, 57º 37’ 10”- 57º 43’ 10”, longitude Oeste. Figura 01 - Mapa de Localização da Área de Estudo. Fonte: Rosestolato Filho (2006, apud SANTOS 2011). O cemitério São João Batista está localizado mais precisamente no centro dentro da cidade de Cáceres-MT, limitando-se ao Sul com as ruas Marechal Deodoro, ao Norte com a Avenida 07 de setembro com o bairro Cidade Alta e a Oeste com a Praça da Bíblia (também conhecida como Praça da Polícia Militar). Deste modo, a área de estudo está inserida em área totalmente urbanizada, determinada por um retângulo aproximado de 800 m² de área. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 60 Questões socioambientais decorrentes dos sepultamentos... ISBN 978-85-86422-59-1 O termo cemitério originou-se da palavra grega koumetèrian, que significa dormitório; e a palavra cadáver, de origem latina, significa “carne dada aos vermes”. A partir no século XVIII, o cemitério começou a ter o sentido atual, sendo que no ano de 1737, uma comissão de médicos Franceses recomendou mais cuidado nos sepultamentos dos corpos. Na ocasião, o príncipe regente D. João VI proibiu os sepultamentos nas igrejas incluindo todas as colônias de Portugal, como Brasil (WILLIAN, 2009), Os sepultamentos vêm desde a idade média, algumas civilizações cristãs acreditavam que o solo da igreja era sagrado então sepultavam os seus mortos em suas mediações para que os maus espíritos não apoderarem-se dos das almas dos mortos, (WILLIAN, 2009). Os cadáveres, dependendo das condições do ambiente, podem sofrer processos destrutivos, como autólise e putrefação. Na autólise, as células do corpo são dissolvidas por enzimas do próprio corpo; e na putrefação ocorre a decomposição dos órgãos e tecidos por microrganismos, ocorrendo liberação de gás sulfídrico, dióxido de carbono, metano, amônia, enxofre, fosfina, cadaverina e putrescina, responsáveis pelo cheiro de carne podre. Se a umidade do solo for alta, pode ocorrer a saponificação, que é um processo que retarda a decomposição do cadáver (MORAES, 2014). Observando o necrochorume e os riscos dos cemitérios, Silva & Crisipin (2006), assinala a existência no Brasil mais de 600 cemitérios em situação de irregularidade. Assinala, ainda, que em entorno de 75% dos cemitérios públicos apresentam problemas de contaminação ambiental, enquanto que nos particulares o índice é de 25%. Estes fatos ocorrem pela falta de cuidado com o sepultamento dos cadáveres e localização em terrenos inapropriados. Os cemitérios mais antigos correspondem a maior parte dos cemitérios públicos que foram construídos sem um planejamento de impacto ambiental, esses cemitérios tradicionais favorecem a contaminação das águas subterrâneas e do solo. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 61 Questões socioambientais decorrentes dos sepultamentos... ISBN 978-85-86422-59-1 Segundo Almeida & Macedo (2005 apud CARNEIRO, 2014), a decomposição das substâncias orgânicas do corpo pode produzir diaminas, como a cadaverina (C5H14N2) e a putrescina (C4H12N2), que ao serem 4+ degradados geram amônio NH , substância que apresenta toxicidade em altas concentrações. A cadaverina e putrescina são danosas também por serem responsáveis pela transmissão de doenças infectocontagiosas, como a hepatite e a febre tifóide. Essas substâncias podem proliferar-se em um raio superior a 400 metros de distância do cemitério, a depender da geologia da região (CARNEIRO, 2014). Neste mesmo sentido, a Organização Mundial da Saúde - OMS (WHO, 1998), menciona que a composição média do corpo de um adulto de 70 kg costuma ter 16.000g de carbono, 1.800g de nitrogênio, 1.100g de cálcio, 500g de fósforo, 140g de enxofre, 140g de potássio, 100g de sódio, 95g de cloreto (CARNEIRO, 2014). Conforme Klein (1998), a decomposição dos corpos resulta em uma substância liquida viscosa de cor castanho-acinzentada, com 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de matéria orgânica degradáveis. Sob tais condições, apresenta auto poder de transmissão de doenças patogênica devido à possibilidades de presença de bactérias, vírus e outros. A questão se agrava, de acordo com Morais (2014), quando o necrochorume apresenta formaldeído e metanol, usados no embalsamento dos corpos, metais pesados (nos adereços dos caixões) e resíduos hospitalares, como medicamentos. De modo geral, para o Autor, para cada quilo de massa corporal, é gerado em torno de 0,6 litros de necrochorume e, ainda, para cada 70 kg de massa corporal, é gerado em torno de 6 litros de necrochorume. (MORAIS, 2014). Substância gerada no processo final de decomposição dos corpos surge a substancia liquida viscosa de cor castanho-acizentada que é composta por 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substancia orgânica degradáveis denominada de Necrochorume (COSTA & MALAGUTTI, 2012). Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 62 Questões socioambientais decorrentes dos sepultamentos... ISBN 978-85-86422-59-1 Segundo Silva & Crispin (2006), os cemitérios podem atuar como fontes geradoras de impactos ambientais quando sua localização e manejo são inadequados. Podendo, ainda, provocar a contaminação dos solos e mananciais hídricos por micro-organismos. Micro-organismos que se proliferam no processo de decomposição dos corpos sepultados. Dentre os elementos que produzem danos ambientais mediante a contaminação do solo e das águas subterrâneas destacam-se a falta de projetos geoambientais e hidrogeográficos reforçados pela falta de políticas de manutenção e fiscalização nestes locais. ANAPPAS (2006), afirma que, Os cemitérios podem ser comparados a aterros controlados para lixos domésticos (composto basicamente por matéria orgânica) mais com um agravante, é um “aterro” com muito “lixo hospitalar” misturado e a maioria das “matérias orgânicas” enterradas carregam consigo bactérias e vírus de todas as espécies e que foram, provavelmente, a causa mortis. Além disso, é importante considerar que metais pesados, advindo de próteses, materiais das urnas e outros, vão dar também, sua contribuição poluidora, visto que os ácidos orgânicos gerados na composição cadavérica irão reagir com esses metais (p. 11, 2006). Smith & Andahl (1957 apud SOARES 2009), ilustra que as unidades de solo não ocorrem ao acaso na paisagem, mas possuem um padrão de distribuição relacionado à forma do terreno, à influência da vegetação, ao tempo e à maneira pela qual o homem as tem utilizado. Neste sentido, sobressai ainda que o tipo e a composição do solo podem influenciar também diretamente na intensidade de drenagem e forma de percolação da água em um terreno. O instrumento legal que disciplina a instalação e funcionamento de cemitérios estão presentes nos planos diretores ou nos códigos de postura do município. No âmbito Federativo a legislação explicitada na Resolução do CONAMA nº 335 de 03 de abril de 2003, que dispõe sobre o licenciamento ambiental de cemitérios (BRASIL, 2003). No âmbito do Estado de Mato Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 63 Questões socioambientais decorrentes dos sepultamentos... ISBN 978-85-86422-59-1 Grosso, a instalação de cemitérios requer o licenciamento ambiental, sendo regulamentado pela Lei Estadual nº 7007 do ano de 2007, diz que todas as entidades, e estabelecimento que podem gerar poluições ambientais necessitam de licenciamento ambiental. Neste sentido, para a construção e a instalação de cemitério exige licenciamento ambienta. Ao observar a constituição histórica de nosso objeto de estudo, de acordo com Mendes (2009), o município de Cáceres por nome de Vila Maria do Paraguai foi fundado em 06 de outubro de 1778, pelo governador e capitãogeneral Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres. Albuquerque passa à ação. Incumbe o tenente de Dragões Antonio pinto do Rego e Carvalho, de oficializar o Arraial já existente á margem esquerda do rio Paraguai, entre Vila Bela e Cuiabá, fundando nesse ponto “uma povoação civilizada aonde se congregasse todo o maior número de moradores possível...” (1), dando-lhe a denominação de VILA MARIA do Paraguai, “em obsequio ao real nome de Sua Majestade a Rainha de Portugal”, D. Maria I. (MENDES, p. 30, 2009). Assim, Cáceres foi fundado pela visão do estadista de Albuquerque. Fundação atribuída ás riquezas naturais e a questões geopolíticas da época; e, o nome do povoado Vila Maria do Paraguai, em homenagem a Rainha de Portugal (MENDES, 2009). Sobre contexto da formação sócio espacial da cidade de Cáceres, Ferreira (2001) descreve que além dos fatores de ordem geopolíticos, as riquezas naturais da região, dentre as quais a fertilidade do solo, as pastagens naturais e a rede hidrográfica oportunizada pelos afluentes do rio Paraguai (estradas fluviais) influíram significativamente no processo de povoamento, de ocupação econômica e de constituição territorial do Município. No contexto específico do cemitério São João Batista, Mendes (2009) afirma que este é sem dúvida um dos monumentos mais antigos de todo o município e cidade de Cáceres, sendo iniciado no ano de 1860. Por ocasião do delineamento cemitério, realizado mediante despacho de representante da Igreja Católica local, o Bispo. Assim, o despachado da Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 64 Questões socioambientais decorrentes dos sepultamentos... ISBN 978-85-86422-59-1 solicitação de autorização, emitida em 1881, é direcionada à Câmara Municipal de vereadores; sendo naquela data aprovada a doação da érea do cemitério ao poder público pela família Pereira Leite, com ressalva de que uma parte de sua área ficasse reservada a aquela família. Assim, Mendes (1998) descreve o ocorrido: Finalmente, reunida no dia 09 de fevereiro de 1881, a Câmara de Vereadores da já cidade de São Luiz de Cáceres, declara aceita a doação do cemitério de São João Batista feita através do ofício do 1º testamenteiro do Major João Carlos Pereira Leite, que falecera em 1880 com a reserva da área, que se constitui em privilégio da família, e assim é respeitada até hoje (1998, p.77). É pertinente lembrar que na época, essa escolha de local próprio estava mais relacionada a parâmetros estabelecidos pela Igreja Católica (e oligarquia local), uma vez que a sua administração era da responsabilidade da igreja Católica. Nesse sentido, a preocupação com as questões ambientais e problemas relacionados ao necrochorume, por exemplo, não era a causa determinante da escolha. Assim, é possível deduzir que a escolha do local se deu mais por fatores relacionados à distância em relação ao centro da cidade e possibilidade de acesso, do que por preocupações ambientais. Bem como, por ocasião da escolha do local, pois a área não se posicionava no perímetro urbano da Vila, sendo esta incorporada na medida de sua expansão nos anos seguintes, como demonstrado no mapa seguinte (figura 02). Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 65 Questões socioambientais decorrentes dos sepultamentos... ISBN 978-85-86422-59-1 Figura 02 - Desenvolvimento Urbano de Cáceres/MT de 1953 a 1989. Organização: Prefeitura Municipal de Cáceres (2004). O Clima da região ocorre em sazonais bem definidas na distribuição do volume pluviométrico. No local, os meses mais chuvosos são dezembro, janeiro e fevereiro, apresentando totais acima de 300 mm mensais e totais mínimos e máximos variam entre 1200 a 1400 mm anual. Os quatro meses mais secos compreendem os meses de junho, julho, agosto e setembro (SOARES, 2009) e (CAMARGO, 2011). Deve-se observar ainda que, geologicamente, a formação pantanal definida por OLIVEIRA & LEONARDOS (1943 in SCHOBBNHAUS, 1984), é constituída por arenitos e argilas de formação geológica recente, e correspondem a terraços constituídos por sedimentos argilo-arenosos com algum cascalho disperso. Brasil (1982) indica a formação de solo arenoso no Local. Solo formado, principalmente, a partir de sedimentos sendo então caracterizados pela alta relação textural, acompanhada de alta relação silte/argila e baixo grau de floculação e presença de areias quartzosas, hidromórficas. Este tipo de solo está localizado nas áreas mais próximas do leito de rio Paraguai, influenciado Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 66 Questões socioambientais decorrentes dos sepultamentos... ISBN 978-85-86422-59-1 pela acumulação de sedimentos do período Cenozóico. A vegetação de acordo com o, o aspecto fitogeográfico do lugar varia de floresta aluvial, de região de floresta estacional semidecidual, a savana arbórea aberta sem floresta de galeria, típica de região de cerrado. No local, à margem de um dos afluentes do Córrego Sangradouro, ocorrem pequenas manchas remanescentes de vegetação aluvial. Esta vegetação, segundo caracterização do RADAMBRASIL (1982), é uma formação florestal ribeirinha que ocupa as acumulações fluviais quaternárias. Assemelha-se à Floresta Ciliar de todos os rios, diferindo apenas no seu aspecto florístico. Assim, suas principais características variam de acordo com a posição geográfica em que está inserida. No entanto, as árvores caducifólias são os exemplos marcantes dessa formação, pois obedecem ao ritmo climático da região caracterizado por uma estação de seca e outra com chuvas concentradas. Influiu na transformação do meio ambiente o modo com que as realidades ambientais foram compostas pelo modo que as percepções de realidades ambientais foram se moldando. Percepções compostas a partir de olhares das pessoas que vivenciam o local no dia a dia (NASCIMENTO et al., 2011). Para Tuan (apud NASCIMENTO et al, 2011), a compreensão da preferência ambiental de uma pessoa depende de sua herança biológica, criação, educação, trabalho e os arredores físicos. Assim, entendemos que a percepção ambiental depende das experiências cultuais, sendo-as biológicas e sociais. Neste mesmo sentido, a Percepção é tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos, como a atividade proposital, na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros retrocedem para a sombra ou são bloqueados. Muito do que percebemos tem valor para nós, para a sobrevivência biológica, e para propiciar algumas satisfações que estão enraizadas na cultura (TUAN, 1980, p. 4). Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 67 Questões socioambientais decorrentes dos sepultamentos... ISBN 978-85-86422-59-1 Portanto, torna-se indispensável averiguar com os moradores do entorno do Cemitério com maior tempo de residência. MATERIAL E MÉTODO DE PESQUISA Para a efetivação da pesquisa, contou-se com revisões literárias sobre a temática, com observações in loco no cemitério São João Batista e em suas proximidades. Foram feitas entrevistas de maneira aleatória com os moradores que moram em seu entorno, realizando entrevistas com residentes a rua Marechal Teodoro, travessa Jose Wilson, rua Seis de Outubro, travessa entre as ruas Marechal Teodoro e a Sete de Setembro (não existente no mapa urbano do Município). As visitas informais ocorrem antes da realização das entrevistas, com máximo de moradores do entorno da área de estudo, sendo realizadas 13 entrevistas, conforme demostramos na imagem a seguir. Figura 03 - Imagem de satélite demonstrando a área do entorno do Cemitério. Fonte: Google Earth, em 27/01/2014. Para analise dos resultados aplicamos estatística básica. Demonstrou que a média de idade dos entrevistados é de 47 anos e, que o tempo de Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 68 Questões socioambientais decorrentes dos sepultamentos... ISBN 978-85-86422-59-1 moradia foi agrupado em 6 classes [de 0 a 5 anos; de 5 a 10 anos, de 15 a 20, de 20 a 25 e acima de 25 anos], tendo uma maior ocorrência de 69,23% para a classe acima de 25 anos (vide quadro n° 01). RESULTADO E DISCUSSÃO A análise preliminar dos dados demonstram situações quanto aos motivos que levaram a ocupação do entorno do Cemitério e, dos efeitos socioambientais decorrentes de suas condições atuais no meio urbano, quais serão demonstrado em síntese a seguir. Diante das indagações: [O que levou a morar neste local?] e o [quais os motivos que levaram o senhor (a) a continuar morando neste local?]. As respostas demonstraram: Herança familiar 61,52%; e, facilidade de acesso ao centro da cidade 30,76%. Entendendo-se assim que, mais da metade moram no local por transferência hereditária. Vejamos dados ampliados apresentados no quadro a seguir. Questionamento Nº médio de pessoas por residência Tempo de residência no local Motivo de residência no local Resultado e ou / respostas frequentes 4,8 pessoas por residência Até 05 anos 05 a 10 anos 15,38 % 7,69 % Herança de família e não tinha outra opção 53,84 % Motivos de permanência no local A cidade é hospitaleira Local desprestigiado imobiliariamente e fácil aquisição na época 15,38 % Boa localização 10 a 20 anos 7,69% Necessidade de residência urbana e fácil aquisição do local por ser local desprestigiado imobiliariamente na época 15,38 % Tranquilidade, boa localização e sentese bem no local. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia Acima de 25 anos 69,23% Facilidade de acesso ao centro da cidade 15,38% Proximidade da família e relação de afetividade ao local 69 Questões socioambientais decorrentes dos sepultamentos... 7,69% 38,45 % ISBN 978-85-86422-59-1 23, 07% 30,76% Quadro 01 – Situação dos residentes. Quando os indagamos [na época da chuva sente algum odor diferente?], obtivemos afirmativas, bem como a confirmada em observações in loco, nos revelando que em época da seca à ocorrência de um odor forte, que pode estar assoada a matéria orgânica em decomposição de cadáveres e ou de esgoto doméstico nas proximidades do Cemitério. Ao observarmos em bibliográficas consultadas, em que os cemitérios são considerados como fonte confirmada de risco para a saúde da população tais como as seguintes enfermidades por veiculação hídrica: hepatite, leptospirose, febre tifóide e cólera entre outras, levou-nos a seguinte pergunta aos entrevistados [conhece os riscos de viver perto de um cemitério?]. Os dados revelaram a frequência de 46,14% para as seguintes respostas: bactérias (indefinidas), doenças de pele (indefinidas), odor e problemas no estômago. Outra resposta dada aos tipos de riscos existentes foi no sentido dos alagamentos nos períodos de chuva intensas chuvas, onde uma parte dos entrevistados apontou esse fato como “incômodo”. No tocante a questão dos alagamentos, estudos do solo e clima do Município ajudam-nos a um melhor entendimento. No geral, os solos como das proximidades do cemitério (próximos de um córrego) são: sedimentos do cenozóico, a cerosidade está ausente, sendo então caracterizados pela alta relação textural, acompanhada de alta relação silte/argila e baixo grau de floculação (...) O Glei solo pouco Húmico Eutrófico, associa-se aos terrenos com argila de baixa atividade e textura indiscriminada e presença de areia quartzosas, hidromórficas (RADAMBRASIL (1982), folha Cuiabá SD.21). Os solos, expostos a condições dos alagamentos sazonais, ocorrem em função de estarem posicionados em área plana e aluvial do rio Paraguai (Pantanal Matogrossense), aspecto que traz sérias complicações ao Cemitério, principalmente nas ocasiões de enchentes (aspecto comum ao ambiente citado). Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 70 Questões socioambientais decorrentes dos sepultamentos... ISBN 978-85-86422-59-1 Percebe-se, ainda, que os solos do local contem baixa concentração de silte/argila e, alta concentração de areia (deposição aluvial do rio Paraguai), fator que pode facilitar a dispersão do necrochorume, atingindo-se então o lençol freático e cursos de água nas proximidades. Ao indagarmos os entrevistados no tocante a questões relacionadas aos ricos à saúde e enfermidades, identificamos que: 15,38% positivas, 84,59% para as respostas negativas, da pergunta [você ou alguém da sua família já vivenciou algum tipo de riscos (males) á saúde, pelo fato de viver nas proximidades do cemitério?] e 99.97% responderam negativamente para [você ou alguém da sua família sofre de alguma enfermidade (doença)?]. Vejamos: Quadro 2 – Riscos à saúde e enfermidades. Obtivemos respostas afirmativas sobre os riscos de morar próximos ao cemitério perguntamos também [no seu entendimento, é possível prevenir estes riscos?], 30,76% responderam que sim 69,21% que não, sendo que perante as respostas afirmativas 100% delas foram ao tocante de desativação do cemitério. Nas últimas décadas, com a expansão da malha urbana o Cemitério passou a localizar-se praticamente na área central da cidade. Esse fato alterou o cenário e, juntamente com o fato de muitos moradores já ter habituado ao local por convivência familiar, a proximidade com o centro da cidade e o acesso aos serviços urbanos influencia na opinião das pessoas no sentido da fixação. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 71 Questões socioambientais decorrentes dos sepultamentos... ISBN 978-85-86422-59-1 CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se no estudo pelo tipo de solo e pela proximidade de corpo de água próximo e o lençol freático aflorar durante o período de chuva e permanecer baixo no período de seca, e pela dinâmica de acomodação dos corpos nos túmulos danificados por meio de comparação referencial bibliográfico, há possibilidades de contaminação do solo e da água. Verificou-se em visitas em locus que o cemitério São João Batista não atende as legislações atuais vigentes, os moradores afirmam que sentem odores oriundos do cemitério e que os mesmo em 46,14% entendem que o cemitério é um risco para a sua saúde. Constatamos também que o cemitério não possuem poços de monitoramento do lençol freático (apesar da exigência da legislação atual). Ainda que, em duas das casas visitadas, seus residentes alegaram que possuíam cisternas de água, as quais encontravam-se desativadas por ocorrência de odor desagradável na água. Com dados preliminares, é preciso aprofundar mais o estudo com base em exames laboratoriais físico-químicos de graxas, gorduras, demanda química de oxigênio DQO, demanda biológica de oxigênio DBO e coliformes fecais e demais patológicos correlacionados com os parâmetros determinados pela CONAMA. Sabe-se que os cemitérios são fontes potenciais de contaminação, sendo assim, torna-se preciso continuar o estudo verificando os níveis de contaminação do solo e do lençol freático, e a origem real dos odores, se esse pode ser um risco a saúde. Sendo preciso ainda um olhar mais atento para os animais considerados “pragas urbanas” que podem ter trânsito entre residências e cemitério, tornando assim um possível vetor de doenças. Elementos que sugerem estudos posteriores. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 72 Questões socioambientais decorrentes dos sepultamentos... ISBN 978-85-86422-59-1 BIBLIOGRAFIA ALGRAVE B., Porque o defunto deixou a igreja: origem dos cemitérios no século XVII. 2014. disponível em: <http://www.umbraum.com/origem_cemiterios.htm> acessado em 11de julho.2014. BRASIL. Resolução CONAMA nº 335 de 3 de abril de 2003. Dispõe sobre o licenciamento de cemitérios. Brasília, 2003. BRASIL. 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Nas áreas naturais dos biomas, com matas ciliares, área de proteção ambiental (APP), devem ser mantidas intactas, no sentido de garantir a preservação dos recursos hídricos (nascentes, córregos, lagoas, baias, rios), da estabilidade geológica e da biodiversidade, assim como, o fornecimento do oxigênio, procedente do processo da fotossíntese, e o bem-estar das populações humanas. As plantas são recursos naturais utilizados no cotidiano pelos humanos para melhorar a qualidade de vida. Deste modo, as interações dos humanos, com os vegetais, são importantes para diversas culturas e manifestadas pelas formas de uso na alimentação, medicinal, construção de civil, fabricação de roupas, outros. Para Fernandes (1998), as árvores são vegetais lenhosos dotados de tronco robusto, em regra com um sistema de ramos diversificados de primeira ordem, a partir de um determinado nível, de onde se dispõem as ramificações da copa, atingindo todo o corpo vegetativo. Para esse autor, as arbóreas são classificadas como: grande, acima de 20m de altura; medianas entre 10-20m; e as pequenas ou arvoretas, entre 5-10m. 1 Estudante do curso Técnico em Meio Ambiente da Escola Estadual Onze de Março. [email protected] 2 Professor de Biologia da Escola Estadual Onze de Março. [email protected] Vegetação arbórea da mata ciliar... ISBN 978-85-86422-59-1 Para Maciel (2005), nos “grandes centros urbanos, as árvores são de caráter indispensável para a manutenção da qualidade de vida, pois, proporcionam inúmeros benefícios para a comunidade existente”, como: melhoria da qualidade do ar, fornecimento de sombra e amenizam as altas temperaturas, servem como barreiras acústicas urbanas; de habitats, abrigos e para produção de alimento aos animais; para melhoria das condições do solo, para valorização de imóveis do ponto de vista estético e ambiental proporcionada pelas belezas naturais nas cidades, representam valores culturais da memória histórica das cidades. Esta pesquisa surgiu em função das constantes visitas ao local e da curiosidade de conhecer as plantas de grande porte. Deste modo, surgiu a necessidade em adquirir maiores conhecimentos a respeito da diversidade de arbóreas encontrado no local de estudo. Nesse sentido, o estudo disponibilizará novos conhecimentos aos transeuntes da área da APP. E ainda, subsidiarão as futuras pesquisas a serem realizadas pelos professores e estudantes do Ensino Médio Integrado da Educação Profissional (EMIEP) e do Ensino Médio Inovador (EMI) da escola “Onze de Março”. O estudo teve como objetivo identificar as espécies arbóreas existentes no interior da APP. Posteriormente, descrever um banco de dados sobre as informações das características das plantas arbóreas para melhor conhecimento da mesma na referida área do estudo. A presente pesquisa foi realizada em 2011, na Área de Preservação (APP), situada no bairro Jardins das Oliveiras (antigo EMPA). Este local foi doado para Escola Estadual “Onze de Março” pela a Prefeitura Municipal de Cáceres-Mato Grosso. O local é margeado pelo rio Paraguai com coordenadas geográficas Sul 16°05`54.76” e Oeste 57°43`01.71”, tendo 116 metros de altitude. A área é constituída de vegetação com espécies arbóreas (grande porte), arbustivas (médio porte) e gramíneas (vegetação rasteiras) em ambientes terrestres e aquáticos (aguapés). A pesquisa é do tipo qualitativo, realizando interpretação de dados Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 76 Vegetação arbórea da mata ciliar... ISBN 978-85-86422-59-1 descritivos componentes da botânica. O local selecionado para observações in loco das arbóreas de grande porte (figura 01) estão localizadas no interior da mata ciliar, e que aconteceram em 05 incursões no entorno das trilhas usadas pelos transeuntes na área da APP. Cada coleta de dados durou em média 5 horas no período matutino. A identificação das arbóreas foi realizada com auxilio de um especialista da botânica, e que consistiu em observação direta dos aspectos morfológicos (caule, folhas, floração, frutos, sementes) e odoríferos das plantas, e uso de um guia de identificação “árvores brasileiras”. As plantas foram identificadas por meio de nomes populares (etnoespécies) e científicos, e bem como, a descrição das características botânicas e importância para o humano e o ambiente. Figura 01: Delimitação da APP e, no seu interior, trilha para pedestres (indicado pela linha pontilhada). Fonte: Google Earth, 2012. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram destacados 20 etnoespécies arbóreas com os nomes populares no interior da mata, porém, somente 10 espécies foram identificadas pela nomenclatura científica, conforme o quadro 01: Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 77 Vegetação arbórea da mata ciliar... ISBN 978-85-86422-59-1 Nome popular Nome científico Características Importância econômica e ecológica Angico Anadenanth era macrocarpa (Benth) Brenan. Altura de 8-20 metros, folha caducifólia, floração de junho a novembro, madeira, dura, resistente, durável; mata seca Construção de móveis, curral e carrocerias; uso para lenha; uso medicinal. Combretum leprosum Mart. 3-10m de altura, copa larga; Flor odorosa e floração de agosto e dezembro, de mata ciliar alagável, capões e mata não alagáveis, solos argilosos e siltosos. Potencial ornamental e apícola. Colonizadora de beira de estrada. Spondias mombin L. 5-20m de altura, caducifólia. Flor creme de outubro a novembro fruta de fevereiro a abril; madeira leve, branca, macia. Alimentação (refresco, geléia, doce, sorvete, suco licor); apícola; confecção de canoas. Medicinal (diurética e contra diarreia). Guazuma ulmifolia Lam. 5-10m de altura, flor perfumada de maio a outubro; folha forrageira; frutificação frequente; presente na mata não inundável e solos arenosos. Medicinal (emagrecimento, resfriado, asma, queda de cabelo e piolho); alimentação (gado, bugio); apícola; confecção de caixa e barriu. Carne-devaca Cajá Chico Magro Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 78 Vegetação arbórea da mata ciliar... Salacia elliptica (Mart) Peyr. 3-8 m de altura, flor de maio a outubro; frutifica de agosto a janeiro; presente na mata ciliar inundável; beira de rio e corixos, solos arenosos ou argilosos. Alimentação (peixe pacú humano) Cecropia pachystachy a Trec. Ereta, de 5-15 m de altura, madeira leve, copa aberta, ramos horizontais, caule ocos; presença de formigas; raízes-escora; floração e fruto quase o ano todo; reprodução de sexos separados. Presente no Pantanal Medicinal (tosse e asma, diabete, diarreia e corrimento); apícola (pólen); fabricação de lápis, brinquedos, palito de fósforo e pólvoras; indicadoras de água. Sapindus saponaria L. Tronco reto, de 3-12m de altura, flores de junho a julho e fruto de setembro a dezembro. Aumenta em áreas mexidas Medicinal (hemorragia uterina, sarna, tosse, reumatismo, picadas de cobra; ferroadas de arraia); fabricação de sabão; inseticida (semente); construção. Seputá Embaúba Sabonetei ra ISBN 978-85-86422-59-1 e Frutificação entre agosto e janeiro, beira de rios e corixos. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 79 Vegetação arbórea da mata ciliar... Pitomba Pente-deMacaco Carijó ISBN 978-85-86422-59-1 Talisia esculenta (St. Hill) Radik. 6-12m de altura; fruto drupa, globosa amarela, poupa carnosa e doce; madeira pesada e dura. Alimentação; medicinal (folha erisipela), construção civil (forro, assoalho); carpintaria e caixotarias. Apeiba tibourbou Aubl. 10-15m de altura, folhas ásperas, flores solitárias, fruto (espinhos moles); madeira leve, macia e baixa durabilidade natural. Ornamental; reflorestamemto, matériaprima para confecção de cordas; Physocalym ma scaberrimu m Pohl. 5-10m de altura; copa alongada; madeira pesada e dura; textura grossa e resistente. Construção civil e externa (postes, moirões, estacas, carrocerias); ornamental; reflorestamento. Quadro 01: Arbóreas da mata ciliar e área de APP no bairro Jardim das Oliveiras, Cáceres, MT, 2012. A maioria das arbóreas identificadas de hábitats de não-alagável, e outras de região alagável. Estas plantas são nativas de área da mata ciliar próxima a baia do rio Paraguai. A oferta da madeira e dos frutos proporcionada pelo grande porte destas arbóreas constitui nos valores econômicos para sociedade local. As partes usadas foram à raiz, o caule, as folhas, frutos e semente. As vegetações possuem valores ecológicos como: componente da cadeia alimentar de herbívoros/frugívoros (aves, de peixes e mamíferos, outros animais); pastagens apícolas para abelhas, reflorestamento para recuperação de áreas degradadas outros; e valores sociais e econômicos, como: uso Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 80 Vegetação arbórea da mata ciliar... ISBN 978-85-86422-59-1 medicinal para tratamento de doenças humanas, o uso para construção civil de casas, na confecção de estrutura rural (curral, cerca, barracões), de produtos e utensílios domésticos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A catalogação da flora da APP significou além da composição de banco de dados sobre as espécies vegetais a serem utilizadas em atividades de ensino, também contribuíram para a fixação de placas de identificação como nome popular e cientifico (gênero espécies) das 10 arbóreas, trazendo informações taxionômicas destas espécies botânicas direcionadas às pessoas transeuntes e estudantes em visita de estudos, e bem como, aos interessados que busca o conhecimento da vegetação da área, podendo assim contribuir com as futuras gerações em relação à conservação do ambiente local. BIBLIOGRAFIA FERNANDES, A. Fitogeografia Brasileira. Fortaleza: Multigraf, 1998. 340p. LORENZE, H. Árvores Brasileiras: Manual de Identificação e cultivo de plantas arbóreas do Brasil, Vol. 2.2. Ed. SP: Instituto Plantarum, 2002. MACIEL, J. L. Trilhas Ecológicas como Ferramenta para Educação Ambiental nas Praças e Parques de Porto Alegre. RS, 2005. MARIANA GIRALDI; NATALIA HANAZAKI. Uso e conhecimento tradicional de plantas medicinais no Sertão do Ribeirão, Florianópolis, SC, Brasil. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010233062010000200010. acesso (19/04/2012). ARAÚJO, S. M. V. G.. GREENPEACE. EcoDesenvolvimento. Portal Eco D. Disponível em: www.ecodesenvolvimento.org.br/posts/2011/abril/ecod-basicoarea-de-preservacao-permanente-app#ixzz1eMunnkys acesso (20/11/2011). SALIS, S. M.; MATTOS, P.P. Compreendendo a dinâmica das árvores no Pantanal. Corumbá: Embrapa Pantanal, 2010. Disponível em: www.cpap.embrapa.br/publicacoes/online/DOC110.pdf acesso (19/04/2012). Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 81 FESTIVAL LITERÁRIO NA ESCOLA ONZE DE M ARÇO 1 Luisy Gonzaga Msc. Hélio Inácio Santana2 FAÇA ALGUMA COISA Se é pra sonhar Que sonhe com o futuro Entenda o passado E correndo atrás, sem olhar pra trás. Fazendo grandes descobertas Tendo grandes perspectivas Estudando ate o fim do dia, Enchendo a mente de positividade. Buscando uma nova vida, Lendo um novo livro, Plantando uma semente, Dando para o mundo uma árvore. Cuide da sua mente, Cuide do seu ambiente, Ame o ensinamento, E tudo aquilo que traz conhecimento. Não precisa fazer sentido, Se você entender, tá valendo. Use sua inteligência, Pra salvar o futuro das novas gerações. O projeto Festival Literário na Escola Onze de Março – FLEOM é fruto da iniciativa dos professores em estimular os estudantes ao envolvimento da produção de textos, poemas ou poesias e movimentar a escola com atividades culturais, artísticos e educacionais. Nutre a inciativa, o acreditar em potencialidades dos estudantes, oportunizando-os a produção e expressão do 1 Estudante do curso Técnico em Meio Ambiente da Escola Estadual Onze de Março. Professor de Filosofia, Mestrado em Educação. Artista e Educador. [email protected] 2 Festival Literário na Escola ... ISBN 978-85-86422-59-1 pensamento, aspectos indispensáveis à autonomia dos sujeitos. Neste sentido, buscamos oportunizar a manifestação e a criação literária em prol do desenvolvimento intelectual e cultural dos estudantes. Desenvolvimento pautado em atividades educacionais que sensibilizem e estimulem o sentimento de pertencimento socioambiental, cuidados e responsabilidades com a escola, com a cidade, com a cultura e o planeta. Assim, indagando-nos: Qual é a escola que queremos? Qual a sociedade que queremos? Que cultura estamos produzindo? Onde moro realmente? Qual a importância do Planeta Terra em minha Vida? Como eu quero que seja minha cidade? Na intenção de promover reflexões e discussão sobre o ‘lugar’ do ser humano no planeta, a ideia desse projeto é ser uma ocasião de manifestação artística, no intuito de envolver os estudantes na busca da compreensão da condição humana em suas multiplicidades de relações. Assim, o trabalho foi produzido em experiências de sala de aula, mediante leituras e produções de ideias com os alunos, nas aulas de Filosofia e Língua Portuguesa, realizada na Escola Estadual Onze de Março, em Cáceres, Mato Grosso, vale ressaltar que os educadores desta instituição de ensino, prestam serviço a sociedade cacerense há mais de 66 anos, trazendo a esperança de mantermos espaços dedicados às artes no currículo escolar. Em síntese, acreditamos que, para construirmos um mundo melhor, tem necessariamente de haver uma transformação individual. E essa transformação pessoal, depende em grande parte, do trabalho que a leitura e a escrita desempenham na vida de cada estudante cidadão e cidadã dessa Pátria Terra. Despertar o prazer da leitura é um dos maiores bens que podemos fazer para a atual geração de crianças, adolescentes e jovens do nosso tempo. Por fim, fica a dica do grande escritor Monteiro Lobato: “Um país se faz com gente e com livros”. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 84 Agradecimentos Adilson Reis Ana Maria de Moraes Antonio Miguel Senatore Antonio Eustâquio de Moura José da Lapa (in memoriam) José Carlos Soares Luciano Pereira da Silva Luzeni de Oliveira Pinheiro Tereza A. Longo Job COMO CITAR OS TRABALHOS NESTA OBRA Texto 01: SANTOS, Igor Matheus Pereira dos & SILVA, Mauricélia Medeiros Silva. Percepção de alguns moradores ao processo de uso e ocupação no entorno da igreja matriz São Luiz em Cáceres/MT. In PAGEL, Marco Antonio (org.). Práticas de pesquisa no Ensino Médio: cultura, ambiente e tecnologia. Cáceres/MT: Print, 2016. Texto 02: VALENTIN, Isnayra Michelle Cristine Delmondes (et all). A festa da Cavalhada em Cáceres. In PAGEL, Marco Antonio (org.). Práticas de pesquisa no Ensino Médio: cultura, ambiente e tecnologia. Cáceres/MT: Print, 2016. PAGEL, Marco Antonio (org.). Práticas de pesquisa no Ensino Médio: cultura, ambiente e tecnologia. Cáceres/MT: Print, 2016. Texto 03: MESSIAS, Drielly Monise Carvalho (et all). Pouteria glomerata (laraninha de pacú): elemento biocultural da cidade de Cáceres, Mato Grosso. In PAGEL, Marco Antonio (org.). Práticas de pesquisa no Ensino Médio: cultura, ambiente e tecnologia. Cáceres/MT: Print, 2016. Texto 04: VIERA, Amanda & ALMEIDA, Leandro de. As mudanças na Avenida Sete de Setembro em Cáceres-MT. In PAGEL, Marco Antonio (org.). Práticas de pesquisa no Ensino Médio: cultura, ambiente e tecnologia. Cáceres/MT: Print, 2016. Texto 05: MOURA, Renan Nascimento de (et all). Questões socioambientais decorrentes dos sepultamentos do cemitério São João Batista, Cáceres-MT. In PAGEL, Marco Antonio (org.). Práticas de pesquisa no Ensino Médio: cultura, ambiente e tecnologia. Cáceres/MT: Print, 2016. Texto 06: DUARTE, Eber Camilo Paz & LIMA, Aguinel Messias de. Vegetação arbórea da mata ciliar, bairro Jardim Paraiso, Cáceres-MT. In PAGEL, Marco Antonio (org.). Práticas de pesquisa no Ensino Médio: cultura, ambiente e tecnologia. Cáceres/MT: Print, 2016. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 87 Texto 07: GONZAGA, Luisy & SANTANA, Hélio Inácio. Faça alguma coisa. Festival Literário na Escola Onze de Março. In PAGEL, Marco Antonio (org.). Práticas de pesquisa no Ensino Médio: cultura, ambiente e tecnologia. Cáceres/MT: Print, 2016. Práticas de Pesquisa no ensino Médio: Cultura, Ambiente e Tecnologia 88