Onde ela estava... C Marilia Brandt Acordara ali, naquele lugar...cheio de latas e garrafas quebradas -Droga onde é que eu estava...-ela se perguntava. Só lhe vinha flash da festa ou da tal balada para qual ela fora misteriosamente convidada...um endereço um telefone um cartão em sua porta e mais nada A festa era pomposa e bem cuidada...copos de vidro, Dj e mulheres, serviço aprimorado...lembrou-se que conheceu um cara...é dele essa casa! Mas porque diabos ela estava ali amarrada. O jantar Fernan D'Antonio A esposa estava de cabeça baixa sem comer. O marido mastigava suinamente. Ele perguntou se ela não ia comer nada e ela respondeu que estava sem fome. A dieta ia lhe fazer bem, precisava mesmo perder peso, ele disse à ela. O corpo dela já não era mais toda aquela gostosura que fazia seus amigos terem inveja dele como quando eles namoravam, lembrou o marido. A esposa ficou em silêncio e permaneceu cabisbaixa O marido continuou jantando e sentiu raiva porque a mulher havia exagerado no tempero da comida que descia queimando goela abaixo. Pontadas como um enxame de abelhas no estômago. De repente, tontura, suor frio, vistas turvas. Sentiu que ia apagar. Pela primeira vez desde que sentaram à mesa, a mulher levantou a cabeça e olhou diretamente ao marido. A última coisa que ele viu antes de morrer foi o sorriso de sua esposa e o olho roxo que lhe dera ontem. Um artista do trapézio Franz Kafka – como se sabe, esta arte que se pratica no alto das cúpulas dos grandes circos é uma das mais difíceis entre todas as exequíveis ao homem – tinha organizado sua vida de tal maneira – primeiro por afã profissional de perfeição, depois por costume que se tornara tirânico – que, enquanto trabalhava na mesma empresa, permanecia dia e noite no trapézio. Todas as suas necessidades – por outro lado muito pequenas – eram satisfeitas por criados que se revezavam em intervalos e vigiavam em baixo. Tudo o que se precisava em cima subiam e baixavam em cestinhos construídos por acaso. Desta maneira de viver não se deduziam para o trapezista dificuldades especiais com o resto do mundo. Apenas era um tanto incomodo durante os outros números do programa, porque como não se podia esconder que ele permanecera lá em cima, ainda que permanecesse quieto, sempre algum olhar do publico se desviava para ele. Mas os diretores perdoavam-no, porque era um artista extraordinário, insubstituível. Além disso era sabido que não vivia assim por capricho e de que apenas daquela maneira podia estar sempre treinando e conservar a extrema perfeição de sua arte. Além do mais, lá em cima estava muito bem. Quando nos dias quentes de verão, se abriam as janelas laterais que corriam ao redor da cúpula e o sol e o ar irrompiam no âmbito crepuscular do circo, era até belo. Seu trato humano estava muito limitado, naturalmente. Alguma vez subia pela corda de ascensão algum colega de exibições, sentava-se ao seu lado do trapézio, apoiado um na corda da direita, outra na da esquerda, e conversavam longamente, ou então os operários que reparavam o teto trocavam com ele algumas palavras por uma das clarabóias ou o eletricista que comprovava as ligações de luz na galeria mais alta, lhe gritava algumas palavras respeitosas, se bem que pouco compreensíveis. A não ser nessas oportunidades, estava sempre solitário. Alguma vez um empregado transitava cansadamente nas horas de sesta pelo circo vazio, erguia seu olhar à quase atraente altura, onde o trapezista descansava ou se exercitava em sua arte sem saber que era observado. Assim teria podido viver tranquilo o artista do trapézio, a não ser, pelas inevitáveis viagens de um certo lugar para outro que o molestavam sumamente. Certo é que o empresário cuidava de que este sofrimento não se prolongasse demasiado. O trapezista saía para a estação em um automóvel de corridas que corria, pela madrugada, pelas ruas desertas, com máxima velocidade; muito lenta, contudo para sua nostalgia do trapézio. No trem, estava preparado um apartamento somente para ele, onde encontrava, em cima, na redezinha das equipagens, uma substituição mesquinha – mas de algum modo equivalente – de sua maneira de viver. No local de destino já estava arrumado o trapézio, muito antes de sua chegada, quando ainda não se tinham fechado as taboas nem colocado as portas. Mas para o empresário era o instante mais agradável aquele em que o trapezista se apoiava na corda e subia e em um átimo se encarapitava de novo sobre o seu trapézio. Apesar de todas as precauções, as viagens perturbavam gravemente os nervos do trapezista, de modo que por muitos felizes que fossem economicamente para o empresário, sempre lhe eram penosas. Uma vez em que viajavam, o artista na redezinha como sonhando, e o empresário recostado no canto da janela, lendo um livro, o homem do trapézio apostrofou-o suavemente. E lhe disse, mordendo os lábios, que dali em diante, necessitava para o seu viver, não de um trapézio, como até então, mas dois, dois trapézios, um em frente ao outro. O empresário concordou logo. Mas o trapezista, como se quisesse mostrar que a aceitação do empresário não tinha mais importância do que a sua oposição, acrescentou que nunca mais, em nenhuma ocasião, trabalharia unicamente sobre um trapézio. Parecia horrorizar-se ante a ideia de que isso pudesse vir acontecer-lhe alguma vez. O empresário, detendose e observando o seu artista, declarou novamente sua absoluta concordância. Dois trapézios são melhor do que um só. Além disso, os novos trapézios seriam mais variados e vistosos. Mas o artista, de súbito, se pôs a chorar. O empresário, profundamente comovido, ergueu-se de um salto e perguntou-lhe o que lhe acontecia, e como não recebesse nenhuma resposta, subiu ao acento, acariciou e abraçou e estreitou seu rosto contra o seu, até sentir as lagrimas em sua pele. Depois de muitas perguntas e palavras carinhosas, o trapezista exclamou, soluçando: - Apenas com uma barra nas mãos como poderia eu viver! Então, foi muito fácil ao empresário consolá-lo. Prometeu-lhe que na primeira estação, na primeira parada e hospedaria, telegrafaria para que instalassem o segundo trapézio. Enfim, deu-lhe os agradecimentos por terlhe feito observar por fim aquela omissão imperdoável. Desse modo, pode o empresário tranquilizar o artista e tornar a seu canto. Em troca, ele não estava tranquilo, com grave preocupação espiava, às furtadelas, por cima do livro, ao trapezista. se semelhantes pensamentos tinham começado a atormentá-lo, poderiam já cessar por completo? Não continuariam aumentando dia por dia? Não ameaçariam sua existência? E o empresário alarmado, acreditou ver naquele sono aparentemente tranquilo, em que tinha terminado os choros, começar a desenhar a primeira ruga na lisa fronte infantil do artista do trapézio. Tradução: Torrieri Guimarães. Através Pe Fábio Costa Um horizonte se abre quando olho através dela. Estática, mas instrumento nobre. Permite a entrada dos ares rejuvenecedores. Guarda histórias infinitas em seus desbotados frontões. Janela de minh'alma. Abertura do meu ser. Reencosto em seu parapeito em dias de sol. Na chuva, sinto o frio que insiste adentrar a sala aquecida pelos beijos de quem muito amo. A vida não seria a mesma sem você. Divisória do meu antes e depois. Janela de minh'alma. Janela do meu ser. Bem no fundo PAULO LEMINSKI No fundo, no fundo, bem lá no fundo, a gente gostaria de ver nossos problemas resolvidos por decreto a partir desta data, aquela mágoa sem remédio é considerada nula e sobre ela — silêncio perpétuo extinto por lei todo o remorso, maldito seja quem olhar pra trás, lá pra trás não há nada, e nada mais mas problemas não se resolvem, problemas têm família grande, e aos domingos saem todos a passear o problema, sua senhora e outros pequenos probleminhas. Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d’água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcaloide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada. Soneto da Desorientação Jady Tariane versada nos hieroglifos dos quereres cedi ao impulso tórpido do mal, a heresia da paixão de um mortal pelo eco de um reflexo dos deuses! navego agora o triste mar dos desalentos enviados do profundo tormento do umbral e a sombra moribunda na víscera primordial castiga a delicadeza desses sentimentos no balanço cíclico dos acontecimentos nauseei o veneno suculento dos alimentos do sacro pomar ilícito celestial adoeci a mais vil de todas as chagas desbalancei a aerodinâmica das asas ao fitar um único feixe do prisma universal Link: http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=123580 “Ser feliz é encontrar força no perdão, esperanças nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. É agradecer a Deus a cada minuto pelo milagre da vida.” ― Fernando Pessoa “A minha pátria é o mundo, e a minha religião a prática do bem.” Thomas Paine Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.” [João 15, 18] ― Jesus Cristo Os homens nunca dizem: 'Já não gosto.' Dizem: 'O problema não está em ti, está em mim. Preciso de pensar, preciso de espaço...'. As mulheres são muito mais diretas: 'Deixei de gostar de ti.' E pronto. Os homens nunca o dizem porque querem que a mulher fique de reserva.” ― António Lobo Antunes “O segredo da nossa vida moral não reside na etérea consciência, mas nas profundas da inconsciência, onde rastejam a dissimulação, a crueldade, o medo e outras virtudes adquiridas nos combates.” ― Teixeira de Pascoaes O matuto e a câmara O matuto viajou para o Rio de Janeiro e três meses depois voltou pra ver a família. Trouxe da viagem uma câmera moderna, dessas que programa e pra dar tempo de sair na foto precisa sair correndo. Aí ele reuniu a família perto de uma cerca. Quando toda a família estava na posição certa ele programou a câmera e correu pra sair na foto. Os parentes saíram correndo, gritando e pulando a cerca... E o matuto gritou: -Ei, vocês vão pra onde? O pai respondeu:- Se você que conhece o bicho está correndo imagina a gente. Joãozinho inteligente Piadas do Joãozinho Joãozinho chega em casa e diz: – Mãe, eu descobri que sou mais inteligente que a professora. E a mãe diz: - Por que você acha isso? – Porque eu passei de ano e ela continuou no mesmo. Conversa de casal Um casal se conhece num bar e ela, muita vaidosa, depois de alguns drinks e conversa, pergunta: - Que idade você me dá? - Bem - responde o cara - pelos cabelos, dou-lhe uns vinte anos, pelo olhar, dezenove, pela sua pele, dezoito, e pelo seu corpo, dezessete anos ! - Hummm, mas como você é lisonjeador, e sabe mesmo cortejar uma mulher! - Nada disso, sou muito sincero... Agora espere, que vou fazer a soma. A morte da freira Uma freira na hora da morte, pediu para escreverem no seu túmulo: "Nasci virgem Vivi virgem Morri virgem" O coveiro achou que eram muitas palavras e escreveu: "Devolvida sem uso" Humor negro Um ladrão com uma arma entra em um banco e exige o dinheiro ao Caixa. Uma vez com o dinheiro na mão ele se volta para um cliente e pergunta: - Você me viu roubar este banco? – Sim, eu vi. –O ladrão atira nele, matando-o instantaneamente. Depois se volta para um casal parado a seu lado e pergunta ao homem: - Você me viu roubar este banco? – Não, mas minha mulher viu.- – Serapião – - Serapião! Andou sumido, tá com uma carinha de doente, o que foi? – - Tou carente – - Que é isso.... – - Eu fui no banco, conversar com aquela moça do caixa, sacou? – - Aquela! Saquei! –Então você sacou primeiro! – - Ei, fala sério... – - Pois é, eu tentei, falei muita coisa sobre minha vida atual, mas não teve jeito, ela não cedeu, não consegui retirar a grana, ela disse que eu tava carente de recursos financeiros na instituição! – - E aí voltou pra casa ver a seção da tarde... o que passou ontem? – - Longa metragem: "O Poderoso Chefão e a Sogra Múmia Vestida para Casar em Setembro Negro" – mas no caminho vi outra faixa daquela igreja nova: – "Venha participar desse novo Ministério" – entrei na igreja para ver se arrumava uma boquinha no novo ministério, – mas cheguei tarde... –Serapião consegue emprego E la vai Serapião, rumo a terras desconhecidas, ganhar seu pão... – Ponto final da linha, todos devem desembarcar aqui. – Serapião desce do busão e observa o novo ambiente: - Que legal, deve ser carnaval ou algo parecido, todos de máscaras! - Né não, é que tem um surto de H1N1 aqui, as vacinas acabaram, já anteciparam as férias escolares, etc, etc... - Não tem vacina? De jeito nenhum? - Só se atravessar a fronteira e tomar a vacina no Paraguai - Vacina Paraguaia? - É, mas é fabricada na Bolívia. - Sei. Tava achando que esse emprego "caiu do céu", era muita sorte... E esse endereço, como faço pra chegar na "firma" - É fácil, é bem ali, atrás do velório... FLIPALMA Contato [email protected]