A definição de empowerment dá-nos a conhecer o entendimento dos especialistas da área, mas para sermos congruentes temos que incluir a voz das pessoas vulneráveis, com as quais lidamos através dos diversos projetos que se associam nesta iniciativa. Também a este nível as populações dos diversos projetos parceiros foram chamadas a participar, às quais propusemos algumas questões sobre as suas vivências e perceções. Procuramos saber em que situações, ou momentos, as pessoas sentem que têm o controlo sobre as suas vidas, e inversamente que não o têm; pedimos que nos descrevessem imagens associadas a uma e a outra situação. Também perguntamos a quem dirigem os seus pedidos de apoio, quando necessário, e qual a sua reação perante situações de desrespeito pelos seus direitos. As respostas dão a entender posições muito diferentes, desde as pessoas que sentem que as suas decisões são, na generalidade, relevantes para o curso das suas vidas até situações em que se sentem completamente impotentes. Aqui estão alguns desses testemunhos. 1. Áreas ou momentos em que se sente empoderado “When I feel normal/good – I don’t change my methadone dose, I am pharmacologically stable. When I have a place to live, enough money to buy food, someone by my side.” Agata, 35 anos, Varsóvia, Polónia “Enquanto trabalhadora do sexo (independente), tenho controle e ou poder de decisão com clientes em relação a tempos, critérios ou premissas de práticas, preço a cobrar, horários de atendimento, aceitar ou recusar clientes, entre outros.” Alexandra Lourenço, 33 anos, Matosinhos, Portugal “At home with my male partner and/or family. As a gay man I feel empowered and in control when in a group with gay or lesbian people.” Don, 37 anos, Liverpool, Reino Unido “When I am on drugs, the very entry is the only moment when I feel I have control over my life. I feel then I am really able to make a choice, to stick to a plan. But it is an illusion, which I always treat as the truth.” Ewa, 32 anos, Varsóvia, Polónia “I am about to become a father. This is my greatest motivation to really change my life. I feel empowered when there is a priority – now it is a baby. When I am motivated and I know what’s crucial, more important that myself, it gives me the feeling of being strong enough to take actions.” Jan, 38 anos, Varsóvia, Polónia “When I am helping people sort out their problems and looking after family.” Lisa Campbell, 54 anos, Liverpool, UK “Tenho fraco poder de decisão, certo foi o meu ponto mais fraco. Sinto mais poder quando estou fora das drogas e estou a trabalhar. Tinha orgulho antes de ir para as drogas, fui porque não tinha medo…” Manuel, 48 anos, Barcelos, Portugal “When I have a job, place to live, money. This is crucial and a basis to be able to feel control. I need to be in contact with people, not to be alone.” Slawek, 37 anos, Varsóvia, Polónia “When I am on drugs, cut off from the reality, when I don’t have to think about my life.” Michal, 39 anos, Varsóvia, Polónia “Quando estou a trabalhar num projecto que estou a desenvolver, quando estou na escola e quando faço compras. Igualmente quando falo do meu trabalho a outras pessoas.” Xavier, 40 anos, Lisboa, Portugal 2. Áreas ou momentos em que se sente desempoderado “When I am overwhelmed with things in everyday life. The harder I try the worse it gets. I am totally stressed, I loose my temper. There are so many things I need to do and at the same time I am unable to plan action, to calm myself.” Jan, 38 anos, Varsóvia, Polónia “When I’m stuck at home – sometimes I don’t feel motivated to do anything” Lucy Snow, 22 anos, Liverpool, UK “With hospitals and medical staff. They are experts but they don’t listen. They tell you what to do. Doctors are worse. It’s snobbery. They are professional and rich, I’m just me and I’m poor. It’s hard to argue with them.” Bert, 25 anos, Liverpool, UK) “When I realize how my life really looks like – where I live, what I do. Being around other drug users makes me sick, I hate them, I hate myself, they are constantly reminding me of who I am. I feel helpless cause I am sometimes positive there is no other way to live or no other people to hang out with.” Ewa, 32 anos, Varsóvia, Polónia “Quando estou a ressacar, necessito de tudo e todos.” Manuel, 48 anos, Barcelos, Portugal “When I experience withdrawal symptoms, I feel like I’m dying, I cannot sit still for a moment, there is nothing there except for the hunger and pain.” Michal, 39 anos, Varsóvia, Polónia “Embora existam áreas que afetam a minha vida e sobre as quais o meu poder de decisão é muito limitado, por exemplo, eu não posso decidir os preços dos combustíveis mas, posso decidir andar mais a pé ou de bicicleta. Assim, procuro sempre ver o espaço de decisão que tenho em cada área.” João, 39 anos, Viseu, Portugal “Quando abro a porta e não queria atender, porque não gosto do aspeto, eles podem escolher a mulher que querem e nós não.” Paula, 19 anos, Porto, Portugal “No âmbito familiar para ajuda das pessoas” Xavier, 40 anos, Lisboa, Portugal 3. A quem pede ajuda “My partner, sometimes other people, but I am never sure if they are unselfish, what are their motivations.” Anna, 31 anos, Varsóvia, Polónia “Converso muito com meu marido. Somos grandes amigos. Eu o entendo e ele a mim. E acabamos por tranquilizar um ao outro quando nos sentimos impotentes diante de alguma dificuldade e tudo acaba ficando bem!” Cláudio, 37 anos, Porto, Portugal “I used to ask my parents when they were alive. I now have no one to ask and have to go on with it” Lisa Campbell, 54 anos, Liverpool, UK “I have never asked for help or support, I don’t really know how to do it, what to expect. These days I talk with my partner when something wrong is happening.” Jan, 38 anos, Varsóvia, Polónia “There is no one, I trust no one. I was betrayed so many times there is no way I could be able to count on anyone.” Ewa, 32 anos, Varsóvia, Polónia “Para obter dinheiro imediato, peço a toda a gente. Aceito a ajuda de toda a gente se a pessoa tiver vontade de ajudar sinceramente.” Manuel, 48 anos, Barcelos, Portugal “There is no one, I feel totally alone” Michal, 39 anos, Varsóvia, Polónia 4. Reacção perante o desrespeito pelos seus direitos “I don’t always know my rights or responsibilities. It’s complicated. I ask staff at the Armisted and at OUTreach. OUTreach are very practical, Armisted are very reassuring. I need both.” Don, 37 anos, Liverpool, Reino Unido “I don’t know my rights, I do nothing.” Slawek, 37 anos, Varsóvia, Polónia “I get angry, I do stupid things, shout.” Ewa, 32 anos, Varsóvia, Polónia “Sinto-me revoltado, penso que não é possível que estas coisas ainda possam acontecer nos dias de hoje… e, dependendo da situação, uma conversa mais calma ou o livro de reclamações, e, no caso da situação ser grave e não se resolver, uma queixa no tribunal.” João, 39 anos, Viseu, Portugal “I do nothing, it’s not that I accept it, I just don’t care.” Michal, 39 anos, Varsóvia, Polónia “Vou até ao último grau, só se não tiver solução. Luto até conseguir o que quero, só desisto quando não tem jeito.” Paula, 19 anos, Porto, Portugal 5. Imagens associados ao sentimento de empoderamento “Home of my parents, pictures of carefree times when being a child, not knowing what I know now.” Anna, 31 anos, Varsóvia, Polónia “Sun. A rainbow. Blue sky.” Bert, 25 anos, Liverpool, Reino Unido “A house, a tree next to it, sunshine, blue sky.” Jan, 38 anos, Varsóvia, Polónia “I see myself dressed well and looking smart and tidy.” Lucy Snow, 22 anos, Liverpool, UK “ De um homem num veleiro em alto mar (com ondas). E também de ver o dia a nascer de um ponto que tenha vista panorâmica.” Pedro, 40 anos, Lisboa “I picture a vine leaf with shoots and flowers – there are no clouds in the sky and the sun is in the distance” Mary Barton, 40 anos, Liverpool, Reino Unido “Associo diferentes imagens e sensações… sinto que as coisas todas estão a fluir em harmonia, como se não existisse atrito…” João, 39 anos, Viseu, Portugal 6. Imagens associados ao sentimento de desempoderamento “Emptiness, a hole with no bottom.” Agata, 35 anos, Varsóvia, Polónia “A burned land, destroyed house, bare bricks, trees without leaves, the beginning of winter.” Jan, 38 anos, Varsóvia, Polónia “Tempestade, um céu negro, chuvoso e opressivo. O tempo parece não passar e tudo requer um grande esforço.” Rui, 39 anos, Viseu, Portugal “É como se não existisse ninguém, e eu estivesse completamente só no mundo.” Manuel, 48 anos, Barcelos, Portugal “I see myself as just sitting, staring into space and not doing anything” Lucy Snow, 22 anos, Liverpool, UK “There is someone there with an axe to cut the vine leaf down. I’m stuck in an overgrown garden with long grasses and weeds.” Mary Barton, 40 anos, Liverpool, UK “Rain. Cloud. Greyness. Death – a skeleton.” Bert, 25 anos, Liverpool, UK “A picture made in hell – fire, monsters, blood.” Michal, 39 anos, Varsóvia, Polónia “As séries italianas de polícias e mafiosos, que via em criança. O polícia de forma repetida acabava por não chegar ao mais importante, não resolvendo os casos. Passando de problema em problema.” Xavier, 40 anos, Lisboa, Portugal