FOTOS: JANAÍNA MACIEL/AAN I magine o duelo criado ao colocar, na ponta de uma mesa, um sommelier de vinhos e, no lado oposto, um de cervejas. No meio desta batalha, a plateia experimenta a harmonização de diversos pratos tanto com uma quanto com a outra bebida. As farpas são constantes: “Falar sobre vinho é muito tranquilo. O vinho fala por si em termos de harmonização. A cerveja precisa de argumentos.” A réplica vem na mesma intensidade: “A cerveja não precisa de argumentos. Ela fala por números”. Diego Arrebola, sommelier de vinhos, e Túlio Rodrigues, sommelier de cervejas, defenderam de maneira descontraída — e com pontadas de provocação branca — o favoritismo das bebidas às quais se dedicam para serem chamados de especialistas. Fato é que a cerveja já está consagrada como uma paixão nacional, enquanto o vinho – que também tem sua grande parcela no gosto popular – ainda esbarra no conceito do “enochato”, ao qual muitas pessoas associam aqueles que balançam a taça, sentem o aroma do vinho, tomam um gole e fazem um movimento com a boca que lembra um suave bochecho com enxaguante bucal. “O nosso desafio é fazer com que algumas pessoas desçam desse pedestal”, afirmou Arrebola, ao se referir ao aspecto esnobe que muitos admiradores de vinho passaram a ter. Ou receber. “O vinho é uma bebida do dia a dia”. Por sua vez, a cerveja também tem seus rituais de análise e aprovação, que incluem o balançar do copo. E que muitos desconhecem. De acordo com o sommelier Túlio Rodrigues, as características em uma cerveja a serem observadas são aparência, aroma e amargor. “Na análise visual, observamos a espuma, sua qualidade e persistência, e a cor da cerveja, se é turva ou não”, explicou Rodrigues. Segundo o sommelier, o amargor é uma das principais avaliações e esta característica é gerada pelo lúpulo. “O amargor da cerveja é identificado no fundo da língua e é necessário engolir. Isso é o que chamamos de retrogosto.” Assim como o vinho, a cerveja também pode ser harmonizada com um prato. A isso se dá o nome de zitogastronomia. “O fundamental da harmonização é o terceiro sabor que ela produz. Já que um deles é o sabor da bebida em si e o segundo é o da comida. Os dois juntos são responsáveis por um novo sabor”, explicou Túlio Rodrigues. “A harmonização se dá por aspectos de semelhança entre a comida e a bebida ou por sua oposição, para balancear aqueles sabores”, completou Arrebola. 4 campinas 14/10/12 metrópole 37