ESTUDOS PARA ADEQUAR A REMEDIAÇÃO DE SOLOS CONTAMINADOS COM ÓLEO MINERAL ISOLANTE Luiz Alfredo Pavanin(1) Bacharel e Licenciado em Química (1979) pela Universidade de São Paulo (FFCLRPUSP). Mestre em Química (1982) pela Universidade Júlio de Mesquita Filho (UNESPAraraquara-SP). Doutor em Química (1988) pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP-SP). Pós-doutorado (1995) pela Università Degli Studi di Ferrara – Itália. Professor Associado do Instituto de Química da Universidade Federal de Uberlândia. Flavio da Costa Santos Graduado em Biologia (1996) e Química (1999) pela Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG-Campus Ituiutaba-MG). Especialista em Química (2000) e Biologia (1999) pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). Mestre (2007) em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atualmente é Gestor Ambiental da CEMIG D no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Carlos Eduardo Lopes Freitas Graduando do 5o período do Curso de Química Industrial do Instituto de Química da Universidade Federal de Uberlândia. Luiz Nishiyama Bacharel em Geologia (1981) pela UNESP de Rio Claro-SP. Mestre em Geotecnia (1991) pela Escola de Engenharia de São Carlos-USP. Doutor em Geotecnia (1998) pela Escola de Engenharia de São Carlos-USP. Professor Associado do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia RESUMO O presente trabalho relata o estudo de solos contaminados com óleo mineral isolante com o objetivo de propor processos de remediação que sejam mais adequados aos mesmos. Os processos de tratamento do solo englobam métodos físicos, químicos e biológicos, sendo em muitos casos necessária a combinação dos mesmos. O estudo adequado dos efeitos que podem ser desencadeados pela contaminação do solo precede de uma classificação contemplando aspectos como forma de adsorção e dessorção, processos de lixiviação, solubilização entre outros. Foram utilizados solos contaminados da região do Triângulo Mineiro, sendo a classificação realizada seguindo procedimentos descritos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), NBR 10004, NBR 10005, NBR 10006 e NBR 10007. Pelos resultados obtidos pode ser verificado que a extensão da contaminação se restringe a área necessária para saturar o solo pelo óleo. Nas condições experimentais determinadas pelas normas brasileiras a contaminação se restringe a esta área, não havendo processos de lixiviação e solubilização significativos. Tais resultados ensejam uma grande possibilidade de que a remediação para estes solos contaminados possam ser executadas no próprio local contaminado sem comprometimento de processos de lixiviação e solubilização que levem ao comprometimento ambiental. PALAVRAS-CHAVE: Remediação. Óleo Mineral Isolante, Solos Contaminados, CARACTERÍSTICAS DO ÓLEO MINERAL ISOLANTE Obtenção: refino do petróleo. Composição: mistura complexa de hidrocarbonetos (parafínico, naftênico ou aromático). Propriedades e características: líquido, não inflamável à temperatura ambiente, não produzindo fogo por fricção, absorção de umidade ou por alterações químicas espontâneas. Aplicações: Isolamento entre partes energizadas e entre partes energizadas e a terra; agente refrigerante para transferência de calor (transformador); agente extintor de arcos elétricos (disjuntor, religador); proteção aos componentes dos equipamentos elétricos em: transformadores, chaves elétricas, reatores, disjuntores, religadores; meio de informação sobre as condições de operação dos equipamentos que os contêm; influencia a vida útil máxima a ser obtida dos equipamentos que o contém. EFEITOS DE DERRAMENTO Alterações da composição original, por combinação de processos físicos, químicos e biológicos chamados conjuntamente de intemperismo. O grau de impacto ambiental e persistência do óleo no ambiente dependem de fatores como o habitat atingido, tipo e quantidade derramada, espécies de organismos atingidos, época do ano (que afeta o ciclo de vida das espécies), condições hidrográficas e meteorológicas (que afeta a dispersão), clima, freqüência e duração da exposição e práticas utilizadas na tentativa de contenção e descontaminação. Os processos físico-químicos de espalhamento, volatilização, dispersão, emulsificação e dissolução ocorrem nos períodos iniciais de um derrame, enquanto que oxidação, sedimentação e biodegradação ocorrem a longo-prazo. Com o passar do tempo, o óleo no ambiente mudará suas características iniciais. OBJETIVO DO TRABALHO O objetivo neste trabalho é buscar formas adequadas para a remediação dos solos contaminados por óleo mineral isolante. Para tanto foram realizados estudos sobre a extensão de contaminação passando pela caracterização dos solos contaminados na região do Triângulo Mineiro. METODOLOGIA OU MÉTODOS UTILIZADOS Definição do Parâmetro Químico de Controle Óleos e graxas: Procedimento de simples execução e se mostrou adequada como controle de degradação dos contaminantes no solo. Extração por Soxhlet com n-hexano por 6 horas. Secagem a 105ºC. Pesagem até peso constante. Classificação do Material de Estudo Segundo a NBR 10004 A classificação do tipo de resíduo em estudo foi realizada utilizando as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), NBR10004, NBR-10005, NBR-10006 e NBR-10007 de 2004 (ABNT-2004). Tabela 1 - Valores do parâmetro “óleos e graxas”. AMOSTRA PARÂMETRO “ÓLEOS E GRAXAS” (%) Resíduo Bruto 3,04 Branco não significativo Extrato lixiviado 0,15 Extrato solubilizado 0,03 ################ Decisão de diretoria número 195/2005-E de 23/11/2005 da CETESB Amostra de solo bruta Etilbenzeno <0,06 Tolueno <0,06 Antraceno 621,91 (acima nível intervenção agrícola) Benzo(k)fluoranteno 40,25 (acima nível intervenção agrícola) Fenantreno 158,74 (acima nível intervenção agrícola) ################### Ressalta-se que neste caso, sob condições de lixiviação e de solubilização, o resíduo se mostrou praticamente inerte. Análise dos resultados ( NBR 10004) - Resíduo solo contaminado com óleos mineral isolante não é encontrado nos Anexos A e B. Resíduo bruto - Consta do Anexo C, substâncias que conferem periculosidade aos resíduos, o benzo(k)fluoranteno. Resíduo Classe I–Perigoso - deve apresentar: I–risco à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou acentuando seus índices; II–riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada (características genéricas). Outras características: A – apresentar inflamabilidade; B – apresentar corrosividade; C – apresentar reatividade; D – apresentar toxicidade. resíduo tóxico: (a) quando o extrato lixiviado tiver qualquer um dos contaminantes em concentrações superiores aos valores constantes no Anexo F (não subst. Lixiviado). (b) possuir uma ou mais substâncias constantes no Anexo C e apresentar toxicidade. Importante para toxicidade: (i) potencial que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua degradação, tem para migrar do resíduo para o ambiente, sob condições impróprias de manuseio (lixiviação e solubilização pratica/ inerte); ii) efeito nocivo pela presença de agente teratogênico, mutagênico, carcinogênico ou ecotóxico, associados a substâncias isoladamente ou decorrente do sinergismo entre as substâncias constituintes do resíduo. Segundo a International Agency for Research on Câncer (IARC), seis HPAs são provavelmente carcinogênicos e mutagênicos: benzo(a)antraceno, benzo(b)fluoranteno, benzo(k)fluoranteno, benzo(a)pireno, dibenzo(a,h)antraceno e indeno(1,2,3-c,d)pireno. Devido à composição e complexidade das misturas de HPAs em função dos diferentes processos de geração, não foi possível, até o momento, o seu detalhamento, o que justifica o crescente aporte nos estudos em relação a esses compostos liberados no meio ambiente. A existência da probabilidade dos HPAs, neste caso o benzo(k)fluoranteno ser carcinogênico caracterizaria a toxicidade associada ao resíduo em questão. CONCLUSÃO Pelo exposto, trata-se de um resíduo com toxicidade, porém com risco de contaminação por migração de qualquer de seus constituintes para o ambiente muito baixo. O solo adsorve o óleo até um ponto de saturação, ficando o mesmo, praticamente, confinado na porção de solo que o adsorve não sofrendo processos de lixiviação e solubilização. Tal situação possibilita com segurança o tratamento local do resíduo por meio de métodos de biorremediação, fitorremediação, processos oxidativos, sem a necessidade de retirada e deslocamento do mesmo, pois o risco de espalhar a contaminação e atingir outros meios é remota. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 10.004/10005/10006/10007: 2004. Resíduos Sólidos – Classificação/Lixiviação/Solubilização/ Amostragem. Rio de Janeiro, 2004. CETESB. Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Decisão Diretoria n. 195Disponível em: E/2005. <http://www.cetesb.sp.gov.br/Solo/relatorios/tabela_valores_2005.pdf>. Acesso em 19 de jan. de 2010. PAIXÃO, L. A. Avaliação da Qualidade do Óleo Isolante em Transformadores com o emprego da função discriminante quadrática. Dissertação de Mestrado. UFPR, Curitiba 2006. ROSA, G. S. Avaliação do Potencial de Espécies Vegetais na Fitorremediação de Solos Contaminados por Petróleo. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) UERJ, Rio de Janeiro, 2006. Apoio: Aneel/Cemig – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)