Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01 CONDIÇÃO DE SAÚDE BUCAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS EM ARAGUAÍNA/TO Oral health status of institucionalized elderly in Araguaína/TO Briza Letícia Almeida Silva1, Julia Acker Bonini1, Fabiana de Andrade Bringel2. ¹ Acadêmicas do curso de Odontologia da FAHESA/ITPAC ² Doutora em Ciências pela USP e professora da FAHESA/ITPAC Recebimento: 30/10/14 - Correção: 20/01/15 - Aceite: 24/02/15 RESUMO O objetivo deste estudo epidemiológico foi caracterizar a condição de saúde bucal de idosos institucionalizados na cidade de Araguaína/TO, durante o ano de 2013. Foram realizados entrevistas e exames intrabucais em 38 indivíduos para determinação do perfil de idosos quanto à idade; tempo de institucionalização; uso de fumo; tempo decorrido da última visita ao dentista; utilização de fio dental; uso de medicamentos; uso de prótese dentária; frequência de escovação; fluxo salivar; índice de placa (IP); índice de sangramento gengival (ISG); profundidade de sondagem (PS); índice de recessão gengival (IRG) e índice CPO-D. Os pacientes entrevistados possuíam idades entre 65 e 101 anos; 65,79% estavam institucionalizados há três anos ou mais; 28,95% utilizavam o fumo; o tempo médio da última visita ao dentista foi de 12,48 anos; nenhum utilizava fio dental; 97,37% faziam uso de medicamentos; 63,16% eram edêntulos e apenas 26,31% utilizavam prótese dentária e 36,84% dos idosos não realizavam escovação. Da amostra, 50% apresentava hipossalivação. Dentre os idosos que possuíam dentes (n = 12), o IP variou de 69% a 100% e o ISG, de 0% até 65,60%; a condição mais severa de PS (de 4 até 5mm) foi observada em 41,67% da amostra e de IRG (de 6 até 8mm), em 41,67%, o índice CPO-D apresentou uma média de 30,53. Os resultados observados sugerem que para o grupo estudado fatores como a falta ou inadequada higienização, uso de medicamentos e fumo podem comprometer a saúde bucal desencadeando impactos negativos para a saúde. UNITERMOS: Epidemiologia, Odontologia geriátrica, Serviços de Saúde para Idosos. R Periodontia 2015; 25: 07-13. INTRODUÇÃO A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica cronologicamente como idosos, nos países em desenvolvimento, como o Brasil, pessoas com mais de 60 anos (Estado de São Paulo, Cartilha do idoso, 2007). Com o envelhecimento, o corpo sofre transformações que reproduzem as condições de vida e trabalho que as pessoas perpassaram durante toda uma vida (Dias, 2006). No tocante à saúde bucal do idoso, esta também é uma produção sócio histórica e expressa os agravos e cuidados que os corpos vividos foram submetidos ao longo da existência. Nesse sentido, a boca é, geralmente, o espelho que reflete, na velhice, as condições em que as pessoas An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 Revista Perio Março 2015 - 27-04-15 66pags.indd 7 viveram, trabalharam, cuidaram-se e foram cuidadas (Dias, 2006). Tais condições apresentam-se geralmente por alterações na cavidade bucal, dentre as quais: cáries, doença periodontal, edentulismo, redução do fluxo salivar (que pode também estar relacionada ao uso de medicamentos) e acúmulo de biofilme dental. Essas alterações apresentamse acentuadas em idosos devido à diminuição de sua capacidade motora, dificultando assim, a realização de uma eficaz higiene oral (Silva et al., 2008). Os idosos institucionalizados normalmente apresentam condição oral diferente da população idosa em geral, devido à associação de diversas doenças sistêmicas, além de precários cuidados de saúde bucal (Silva et al., 2008). 7 27/04/2015 14:49:23 Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01 - 25(1):07-13 Esse estudo transversal foi realizado sob aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Humanas, Econômicas e de Saúde de Araguaína / Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Ltda. (FAHESA/ ITPAC) (parecer n˚ 371.893/2013). A pesquisa foi realizada nos dois asilos do município de Araguaína, no decorrer do ano de 2013. Dos 55 internos, somente 38 foram incluídos na pesquisa. Foram excluídos aqueles que apresentavam alterações fisiológicas e mentais que impediam a realização do exame ou que não correspondiam às orientações, os que se recusaram a participar dos exames clínicos, bem como os que não se classificavam como idosos de acordo com a OMS. Todos os idosos ou seus responsáveis assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, autorizando os procedimentos que foram efetuados posteriormente. Foi feita a calibração, na Clínica Odontológica Francisco Esteves da FAHESA/ITPAC, de todos os envolvidos na coleta dos dados, a fim de garantir parâmetros homogêneos. Primeiramente foi preenchido o prontuário odontológico, constituído de perguntas referentes à idade; tempo de institucionalização; uso de fumo; última visita ao dentista; uso de fio dental; uso de medicamentos; uso de prótese dentária e frequência de escovação. Posteriormente foram efetuados os exames intrabucais, sob luz natural, em cadeira comum ou cama, de acordo com o grau de dependência do indivíduo. Foram avaliados: fluxo salivar; índice de placa bacteriana; índice de sangramento; profundidade de sondagem; recessão gengival e índice de dentes cariados, perdidos e restaurados (CPO-D). Para a medição do fluxo salivar, o método adotado foi o de sialometria total estimulada preconizado por Sreebny (1988), no qual os idosos mastigaram um pedaço de borracha, preso por fio dental, por seis minutos, sendo a saliva produzida no primeiro minuto desprezada e a produzida nos cinco minutos seguintes, coletada, a cada um minuto, em um recipiente graduado. A classificação de Krasse (1988) foi utilizada para determinação da velocidade do fluxo salivar estimulado, sendo os valores analisados da seguinte forma: fluxo normal de 1,0 a 3mL de saliva/minuto; baixo fluxo, de 0,7 a 1,0mL/minuto; hipossalivação, menos de 0,7mL/minuto. Realizou-se a leitura do volume da saliva no tubo graduado após acrescentar 3mL de soro fisiológico, com o auxílio de uma pipeta de Pasteur, a fim de coletar as gotas de saliva nas paredes do tubo, sendo que este volume foi descontado do volume total, para se chegar a medida do volume salivar. O Índice de Sangramento Gengival (ISG), como descrito por Ainamo & Bay (1975), foi realizado por meio da introdução da sonda periodontal milimetrada e seu deslizamento suave na margem gengival (faces vestibular, lingual/palatina, mesial e distal), em pacientes dentados. Aguardou-se dez segundos para verificar a presença de sangramento. Seu percentual foi representado pela soma das superfícies sangrantes, dividido pelo número de superfícies examinadas e multiplicado por cem. O método empregado para mensurar a quantidade de placa bacteriana foi o Índice de O´Leary Modificado (1967). O procedimento consistiu em orientar o idoso a realizar um bochecho com água, então foi aplicada uma solução evidenciadora (fucsina) em todas as superfícies dentárias supragengivais (mesial, distal, vestibular, palatina/ lingual) com exceção da superfície oclusal/incisal, com o auxílio de um cotonete. Após a aplicação desta, o idoso fez um segundo bochecho com água a fim de eliminar o excesso da solução, realizou-se então a inspeção das faces dentárias com o auxílio de espelho clínico para verificar a presença ou ausência de pigmentação pela solução, que indicou respectivamente se houve ou não presença de placa bacteriana. Considerou-se a presença da mesma na superfície dentária qualquer ponto evidenciado pela solução. O cálculo baseou-se em se dividir o número de superfícies coradas pelo número total de dentes vezes quatro; o resultado obtido foi multiplicado por cem para chegar à porcentagem das superfícies com presença de placa bacteriana. As áreas de recessão gengival foram mensuradas da junção cemento-esmalte à margem gengival no centro da distância mésio-distal das faces vestibular e lingual/palatina do dente com a sonda milimetrada. A profundidade de sondagem foi quantificada pela medida em milímetros da margem gengival ao fundo do sulco ou bolsa periodontal. Para tanto, a sonda milimetrada foi utilizada e este procedimento constou em inseri-la em três pontos da face vestibular (mesio-vestibular, vestibular e disto-vestibular) e em outros três da face lingual / palatina (mesio-lingual / palatina, lingual / palatina e disto-lingual / palatina). A profundidade de sondagem foi considerada dentro dos padrões de normalidade com valores ≤ 3mm. Na avaliação do CPO-D foram levados em consideração os seguintes aspectos: os dentes com cavidades visíveis ou com raízes residuais foram considerados cariados, todas 8 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 O objetivo do presente estudo foi avaliar a condição de saúde bucal de idosos residentes em duas instituições da cidade de Araguaína, Tocantins, no ano de 2013. MATERIAIS E MÉTODOS Revista Perio Março 2015 - 27-04-15 66pags.indd 8 27/04/2015 14:49:23 Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01 - 25(1):07-13 as ausências dentárias foram assinaladas como dentes perdidos e aqueles com restaurações de material definitivo, considerados restaurados (obturados). A quantidade de dentes que apresentaram qualquer uma dessas condições foi somada e dividida pelo total de indivíduos. Para análise estatística dos dados foi utilizado o programa GraphPad Prism 5. RESULTADOS A porcentagem de residentes que se enquadravam na classificação da OMS e que concordaram em participar de todas as etapas desse estudo foi de 69,09% (38). A idade desses residentes de ambas as instituições estava entre 65 e 101 anos, com uma média de 81,38 anos. Dos 38 idosos que participaram, a maioria (21) era do gênero masculino. Da amostra total, 65,79% (25) estavam institucionalizados há três anos ou mais. A prevalência do hábito de fumar na população estudada foi de 28,95% (11), sendo a maioria (7), do gênero masculino. O tempo médio de exposição ao fumo foi maior que 37 anos e a frequência foi de dois a dez cigarros por dia. A média do tempo decorrido da última visita ao dentista foi de 12,48 anos. Todos afirmaram não fazer uso de fio dental, entretanto dois idosos disseram utilizar palito. Dos residentes, 97,37% faziam uso de algum tipo de medicamento. Entre as drogas utilizadas, os antihipertensivos, antidepressivos, anti-inflamatórios, diuréticos e analgésicos foram os mais comuns nessa população. Os valores encontrados referentes a uso de prótese, edentulismo, frequência de escovação, fluxo salivar, índices de placa e sangramento, bem como profundidade de sondagem, recessão gengival e índice CPO-D encontram-se nas tabelas de 1 a 6. Observou-se que dos pacientes edêntulos 63,16% (24), somente 20,83% (5) usavam algum tipo de prótese dentária (Tabela 1). Notou-se que 36,84% dos idosos institucionalizados não realizavam escovação e que 34,21% a faziam somente uma vez ao dia (Tabela 2). Em relação ao fluxo salivar, não há diferença estatisticamente significativa (ANOVA, p<0,05) entre as faixas etárias, embora os pacientes mais idosos apresentem uma tendência à redução do fluxo salivar. O dado mais representativo é que 19 pacientes apresentaram hipossalivação (Tabela 3). Tabela 01. Uso de prótese correlacionado com o edentulismo entre os idosos residentes. Uso de prótese Edêntulo Total Sim Não Sim 5 19 24 Não 5 9 14 10 28 Total Tabela 02. Frequência de escovação diária. Frequência escovação/dia n (%) Nenhuma vez 14 (36,84%) Uma vez 13 (34,21%) Duas vezes 07 (18,42%) Três vezes 04 (10,52%) Total 38 (100%) Tabela 03. Condição salivar de acordo com a faixa etária dos idosos. Saliva Faixa etária Total 65 a 75 anos 76 a 85 anos 86 a 95 anos Mais 95 anos Normal 6 4 1 1 Baixo 1 4 2 Hipossalivação 5 5 7 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 Revista Perio Março 2015 - 27-04-15 66pags.indd 9 12 7 2 19 9 27/04/2015 14:49:23 Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01 - 25(1):07-13 Quanto ao índice de placa (IP) e índice de sangramento (IS), dentre os idosos que possuíam dentes (n = 12), o IP variou de 69% a 100% (média 91,30%) e o ISG variou de 0% a 65,60% (média 22,15%) (Tabela 4). A condição mais severa de profundidade de sondagem (de 4 até 5mm) foi observada em 41,67% da amostra e de recessão (de 6 até 8mm), em 41,67% (Tabela 5). Tabela 04. Índices de placa e de sangramento. Condição Média (n = 12) Índice de placa 91,30% Índice de sangramento 22,15% Tabela 05. Profundidade de sondagem e recessão gengival, segundo o maior grau de condição observada por indivíduo. Profundidade de sondagem Recessão gengival Condição N % n % 0-3mm 7 58,33% 4 33,33% 4-5mm 5 41,67% 3 25% 6-8mm - - 5 41,67% Total 12 100% 12 100% Os resultados obtidos mostram que o índice “perdido” do CPO-D apresenta valor mais elevado (88,06%) que os demais (Tabela 6). Tabela 06. Componentes cariados, perdidos e restaurados e índice CPO-D. Condição Dentes perdidos Dentes cariados Dentes restaurados CPO-D Média 28,19 2,13 0,21 30,53 % 88,06% 6,67% 0,67% 95,40% Com o avanço da idade e as alterações fisiológicas que o corpo sofre, fatores como maus cuidados que tiveram ou até mesmo redução da coordenação motora dos idosos refletem na precária condição de saúde bucal que apresentam. Tal condição pode ser verificada nos dados obtidos neste estudo, no que tange ao alto grau de edentulismo (63,16%). Silva & Valsecki Júnior (2000) encontraram resultado semelhante, onde a falta de dentes foi observada em 72% das pessoas institucionalizadas em Araraquara/SP. Em contraste a essa realidade encontrada em municípios brasileiros, Cornejo et al. (2013) mencionaram o índice de 34,53% de idosos institucionalizados edêntulos em Barcelona (Espanha) e no estudo realizado por Gaszynska et al. (2014) em Lodz (Polônia), esse índice foi de 46%. Apesar da quantidade de fumantes encontrada não ser tão representativa (28,95% dos idosos), o valor é próximo ao encontrado por Silva et al. (2008) em Passo Fundo/RS (26,2%), o alarmante em relação ao tabagismo foi o tempo do hábito (mais de 37 anos). O tempo decorrido desde a última visita ao dentista foi relevante para todos os residentes (média de 12,48 anos). A falta de acesso ou a pouca procura ao atendimento 10 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 DISCUSSÃO Revista Perio Março 2015 - 27-04-15 66pags.indd 10 27/04/2015 14:49:23 Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01 - 25(1):07-13 odontológico reflete nos baixos índices do componente “restaurado” (0,67%), que foi próximo ao encontrado em Goiânia/GO (1,02%) no trabalho realizado por Reis et al. (2005) e diferente daquele de Araraquara/SP (2,34%) de Silva & Valsecki Júnior (2000). Tal diferença é resultante do tipo de serviço odontológico prestado a essa população, no qual o tratamento restaurador não é prioridade, como já citado por Colussi et al. (2004) sobre a prática mutiladora. Os resultados obtidos no presente estudo mostraram que 97,37% dos residentes faziam uso de algum tipo de medicamento, porcentagem superior à encontrada em Passo Fundo/RS (81,3%) no estudo de Silva et al. (2008) e no trabalho feito por Hopcraft et al. (2012) em Victoria, na Austrália (37,98%). Entre as drogas mais utilizadas estão os anti-hipertensivos, antidepressivos, anti-inflamatórios, diuréticos e analgésicos. Do total de idosos, 26,31% utilizavam algum tipo de prótese, realidade diferente da encontrada em Araraquara/SP, onde o percentual foi de 63% na pesquisa desenvolvida por Silva & Valsecki Júnior (2000) e da observada em Barcelona, na Espanha (80,92%), no estudo de Cornejo et al. (2013) e da observada por Gaszynska et al. (2014) em Lodz, na Polônia (40,30%). Essa diferença significante encontrada no Brasil e na Polônia em comparação com a Espanha, possivelmente, está relacionada à barreira econômica que inviabiliza o atendimento odontológico aos idosos institucionalizados. A alta prevalência da cárie pode ser justificada, sobretudo pela baixa frequência de escovação entre os residentes, com maiores índices verificados em “nenhuma” (36,84%) ou “uma vez ao dia” (34,21%). Tal negligência da higiene bucal pode estar relacionada às limitações motoras, aos problemas visuais, à baixa autoestima e à falta de cuidados dos idosos institucionalizados. Condição diferente foi encontrada por Hopcraft et al. (2012) em Victoria (Austrália), onde a maior frequência de escovação foi no grupo que a realizava “uma vez ao dia” (52,24%) enquanto a menor foi em “nenhuma” (0,83%) e por Gaszynska et al. (2014) em Lodz (Polônia), onde a maior frequência foi no grupo que realizava a escovação “uma vez ao dia” (41,70%), enquanto a menor foi em “menos do que uma vez ao dia” (23,60%). No tocante à condição salivar, 50% dos idosos residentes apresentaram hipossalivação, o que pode estar associado à realidade de que, com a exceção de um institucionalizado, todos faziam uso de algum tipo de medicamento, somado às alterações fisiológicas nas glândulas salivares inerentes ao envelhecimento. A média do acúmulo de placa bacteriana encontrado (91,30%) foi maior do que a de Belo Horizonte/MG (76%) no trabalho desenvolvido por Ferreira et al. (2009). A visão de que é natural a perda de todos os dentes com o envelhecimento pode levar os idosos a negligenciarem medidas de controle de placa. A falta de controle adequado da mesma pode aumentar o risco de desenvolvimento de cárie dentária e doença periodontal. Quanto ao índice de sangramento, somente um idoso não apresentou faces sangrantes. A média desse índice foi de 22,15%. Em Barcelona, o resultado encontrado por Cornejo et al. (2013) foi de 3,10%. A recessão gengival e a profundidade de sondagem maior que 3mm estavam presentes em todos os idosos que possuíam dentes. A condição mais severa de profundidade de sondagem (de 4 até 5mm) foi observada em 41,67% da amostra. Esse resultado provavelmente se correlaciona a uma escovação inadequada ou inexistente pela maioria dos idosos e ao não uso de fio dental. Condição semelhante a encontrada por Hopcraft et al. (2012) em Victoria (Austrália), onde esse percentual foi de 35,75%. Confrontando os resultados mencionados, em Barcelona, no estudo desenvolvido por Cornejo et al. (2013), esse percentual foi de 18,50%. A média do índice CPO-D verificado (30,53) aproximouse do encontrado por Silva & Valsecki Júnior (2000) em Araraquara (30,91), por Reis et al. (2005) em Goiânia (30,17) e por Ferreira et al. (2009) em Belo Horizonte (30,80). Sendo diferente do encontrado por Cornejo et al. (2013) em Barcelona, na Espanha (22,80) e por Gaszynska et al. (2014) em Lodz, na Polônia (27,60). O índice “perdido” foi o mais representativo (88,06%), dado este verificado também em outras cidades do Brasil, como em Araraquara (90,16%) por Silva & Valsecki Júnior (2000), em Belo Horizonte (94,2%) por Ferreira et al. (2009) e em Goiânia (95,38%) por Reis et al. (2005). Segundo Ferreira et al. (2009), a perda dentária nos idosos pode refletir o efeito da prática odontológica mutiladora ao longo da vida desses indivíduos, bem como o descaso com que este grupo foi e ainda é tratado, reflexo de uma visão estática da odontologia, onde esta não preconizava a prevenção e que segundo Colussi et al. (2004) as pessoas iam ao dentista para extrair os dentes mesmo que ainda pudessem ser recuperados. Os índices “cariados” e “restaurados” mostraram percentuais menores, entretanto, a doença cárie estava presente em 100% dos idosos, o que também foi encontrado em estudo realizado em Goiânia por Reis et al. (2005). Os resultados apresentados nesse trabalho retratam um processo irreversível e cumulativo, refletindo a desigualdade e o sofrimento apresentados pelos idosos, devido à falta de uma prática preventiva por parte dos cirurgiões-dentistas ao longo do tempo, condição ainda mais agravada no interior do país. An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 11 Revista Perio Março 2015 - 27-04-15 66pags.indd 11 27/04/2015 14:49:23 Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01 - 25(1):07-13 CONCLUSÃO Os resultados mostram que a falta ou inadequada higienização, uso de medicamentos e o uso de fumo, podem comprometer a saúde bucal do idoso institucionalizado, desencadeando impactos desfavoráveis a saúde. AGRADECIMENTOS Agradecemos à Coordenação de Pós-graduação, Pesquisa, e Extensão (CoPPEx) da FAHESA / ITPAC pelo apoio científico e financeiro fornecidos por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (ProBIC) para a realização desse estudo. ABSTRACT The aim of this epidemiological study was to characterize the oral health status of institutionalized elderly in Araguaína/ TO, during 2013. Interviews and intraoral examinations were performed in 38 subjects to determine the profile of the elderly regarding the age, duration of institutionalization, use of tobacco, time since last visit to the dentist, utilization of dental floss, use of medications, denture use, frequency of brushing, salivary flow (SF), plaque index (PI), gum bleeding index (GBI), probing depth (PD), gum recession index (GRI) and DMFT index. The patients interviewed were between 65 and 101 years old, 65.79% were institutionalized for three years or more, 28.95% used tobacco, the average time since the last visit to the dentist was 12.48 years, none used dental floss, 97.37% used medications, 63.16% were edentulous and only 26.31% used dentures, and 36.84% of seniors did not perform brushing, 50% of the sample had hyposalivation. Among the subjects who possessed teeth (n = 12), PI ranged from 69% to 100% and GBI, from 0% to 65.60%, the most severe condition of PD (4 to 5mm) was observed in 41.67% and GRI (6 to 8mm) in 41.67% of the sample and the DMFT index showed an average of 30.53. The results observed suggest that for the group studied, factors such as the lack or inadequate hygienization, use of medications and tobacco can compromise the oral health triggering negative impacts on health. UNITERMS: Epidemiology. Geriatric Dentistry. Health Services for the Aged. 12 Revista Perio Março 2015 - 27-04-15 66pags.indd 12 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 27/04/2015 14:49:23 Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01 - 25(1):07-13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Estado de São Paulo. Ministério Público do Estado de São Paulo – Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Cartilha do idoso; 2007. [citado 2014 Nov 17]. 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