Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – João Pessoa - PB – 15 a 17/05/2014 O ‘alfabeto do pensamento humano’ em forma de conteúdos colaborativos1 Cláudia Maria Arantes de ASSIS 2 Universidade Federal do Amapá, Macapá, AP. Resumo O presente artigo busca mostrar um breve panorama de alguns canais colaborativos e como eles estão sendo usados. Visa também mostrar os veículos de comunicação em rede com uma perspectiva do que Leibniz denominou de ‘ alfabeto do pensamento humano’. Para tanto a pesquisa bibliográfica foi empregada no sentido de mostrar como a temática pode ser aprofundada dando maior sentido a conteúdos interdisciplinares. Palavras-chave: veículos colaborativos; interagentes3; rede; informação. Introdução Diferentes teorias surgiram a partir dos séculos na tentativa de explicar de onde viemos ou como surgiu o universo. Uma explicação não científica bem conhecida é referendada no livro bíblico Gênesis. Esses mitos cosmogônicos4 ganham força também com descrições como a Enuma Elish babilônico em que um ou mais deuses coordenam o caos através da separação de objetos que posteriormente ganham nome. Nessa visão, no caos, toda matéria era ordenada por ação divina. Contudo, os gregos, a partir do século V a.C começaram uma experiência um pouco mais filosófica acerca do universo, no qual esse era construído a partir de um elemento primordial, o ‘arché’, que para alguns filósofos tinha denominações distintas. Segundo Châtelet (1981), pensadores como Anaxímenes acreditavam que o arché poderia ser o ar; enquanto que para Thales, o arché poderia ser a água; já Empédocles propunha que o arché eram os quatro elementos fundamentais, ou seja, terra, água, ar e fogo. Para Empédocles, esses quatro elementos, geradores de tudo o que existe no 1 Trabalho apresentado no DT 6 – Interfaces comunicacionais do XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste realizado de 15 a 17 de maio de 2014. 2 Professora efetiva da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) no curso de Jornalismo. Doutoranda do Programa POSCOM da UMESP, São Bernardo do Campo - SP. E-mail: [email protected]. 3 Termo criado por Alex Primo (2007) para designar a pessoa que colabora com informação, sendo esse um processo de interação mútua sem pretensão de obter resultados já esperados 4 Termo que abrange diversos mitos e lendas acerca da criação do universo. 1 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – João Pessoa - PB – 15 a 17/05/2014 universo, apenas poderiam ser transformados por duas forças: o amor e o ódio. Essa visão maniqueísta pode ser também conhecida pelo que entendemos ser o bem e o mal. Em outra perspectiva, pensadores como Parmênides e Heráclito discorriam que a variedade e poder de mudança de tudo o que há no universo pode ser explicado através de elementos invariáveis e indivisíveis. Assim, para os gregos, esse é o princípio daquilo que é indestrutível. Para eles apenas o que é imutável poderia representar algo divino, e o que é divino jamais muda. A partir daí aparece a premissa de que a matemática é algo divino, pela qual o Criador fez uso para construir nosso universo, como fez Galileu ao afirmar que a matemática é a chave para compreendermos o universo e que a característica da linguagem matemática é formulada por figuras geométricas (GAUER, 1996). Em se tratando de universo, no século XVII d.C., período renascentistas caracterizado por mudanças e grandes descobertas, cientistas como Galileu, Copérnico, Kepler, dentre outros, formularam leis e conceitos que permitiram uma mudança de pensamento estruturado tanto na parte técnica quanto científica. Segundo Brito (2005), a humanidade aos poucos começou a questionar a não relação direta entre Deus e o universo, e também a questionar a filosofia medieval baseada nos pensamentos de Aristóteles e a autoridade da igreja. Sendo assim, o prestígio do Estado e da igreja foi abalado por guerras e pelo movimento da Reforma. [...] o conhecimento, na Europa, durante a Idade Média, era entendido como o caminho de reconciliação do homem com o mundo, na Idade Moderna, o conhecimento é visto como um meio de dominar a natureza, extraindo dela a riqueza material (BRITO, 1995, p.73). Contudo, durante séculos, desde Aristóteles até os Escolásticos, a noção de verdade era enveredada na lógica e não na matemática. Apenas no século XVII retomase a ideia que Platão já havia descrito que a verdade está relacionada ao conhecimento e a matemática (Paty, 1998). Essa filosofia sobre o uso universal da matemática auxiliou na produção de muitos trabalhos de estudiosos do período, dos quais podemos destacar Spinoza, Descartes, Newton e Leibniz. Em se tratando de pensadores que influenciaram a era moderna, Leibniz se destaca no sentido de apresentar propostas mais profundas acerca de tecnologias que 2 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – João Pessoa - PB – 15 a 17/05/2014 possuímos atualmente. Gottfried Wilhelm Leibniz5 nasceu em Leipzig em 1 de julho de 1646 e faleceu em Hanover em 14 de novembro de 1716. Ele era filósofo, matemática, político, diplomata, bibliotecário e historiador alemão. Leibniz é considerado um dos maiores pensadores de século XVII. No campo da filosofia, Leibniz construiu sua maneira própria de pensamento, exemplo disso é embutir a metafísica no processo de concepção do universo, ou seja, para Leibniz era necessário introduzir vontade, esforço e alma para que o universo fosse criado. Leibniz foi um universalgenie (gênio universal) como é tratado pelos alemães. Sua ideia original era colocar a lógica centrada na filosofia, mas seu trabalho final foi sobre lógica formal englobando a filosofia como área derivada. Leibniz foi o primeiro teórico a tratar sobre o átomo como força de matéria e também como uma espécie de átomo espiritualizado, o que ele chama de “teoria das mônadas6”. Outro ponto crucial do pensamento de Leibniz foi a ideia de um método universal de conhecimento científico, o qual foi denominado de characteristicagenerallis também conhecido por ‘alfabeto do pensamento humano’. Segundo Struik (1989, p.181), “a procura de um método universal através do qual pudesse obter conhecimentos, fazer invenções e compreender a unidade essencial do universo foi o principal objetivo de sua vida”. A ideia sobre o ‘alfabeto do pensamento humano’ foi publicado em 1666 no trabalho intitulado ‘Dissertatio de arte combinatória’, apresentado na Faculdade de Filosofia de Leipzig e depois foi defendida em cartas enviadas a Oldenburg, secretário da Royal Society, que era uma organização científica de Londres. Contudo, buscando esse conceito que Leibniz defendia em sua época e transportando-os para o presente, o que Leibniz pregava como ‘alfabeto do pensamento humano’ é uma reunião de conhecimentos e características que dá a toda pessoa o poder de identifica-lo e compreende-lo. Hoje em dia podemos analisar a internet como sendo esse mecanismo descrito por Leibniz, pois ela é um aglomerado de informações e conhecimento disponível às pessoas que conhecessem seu código e as ferramentas de utilização para usufruir dessa ‘biblioteca de pensamento humano’. 5 Informações retiradas de http://www.consciencia.org/leibniz.shtml e http://www.cobra.pages.nom.br/fmp-leibnizI.html> acesso em 17 de maio de 2012. 6 A monadologia pregava que cada indivíduo é um universo a parte, embora completos, são incapazes de estabelecer relação com outro indivíduo. Informação retirada de http://scholar.google.com.br/scholar?hl=ptBR&q=teoria+das+m%C3%B4nadas&btnG=&lr= > acesso em 13 de março de 2013. 3 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – João Pessoa - PB – 15 a 17/05/2014 É na internet que muitas pessoas buscam informações, conhecimentos, fazem pesquisas, colocam suas dúvidas e angústias, dentre outros pontos. Mas esse fato se tornou possível graças aos avanços tecnológicos e às novas perspectivas comunicacionais. Nesse sentido, a internet se transforma num universo informacional em constante expansão, haja vista o grande acesso das pessoas a essa ferramenta e a utilização de diversos recursos disponíveis em rede. Em se tratando de rede, Paul Baran já em 1964 descrevia três tipos distintos de rede: centralizada, descentralizada e distribuída. Essa última mostra a fragmentação da rede, quebrando barreiras de comunicação e evitando que a mensagem se perca (Franco, 2008), potencializando assim a circulação de informação de maneira mais eficaz, embora a informação recebida possa não ser estruturada. Dessa forma, dentro do universo da internet, estão surgindo novas vertentes que dão voz e vez às pessoas que desejam participar ativamente da construção informacional na internet. Assim, a comunicação está se transformando rapidamente, fazendo com que os referidos sistemas informativos dividissem a atenção dos leitores e usuários da web. Embora possa ser analisada como uma forma de estratégia com objetivos comerciais no sentido de que a seção colaborativa possa servir para grandes oligopólios da comunicação que perderam o ‘furo’, essa nova vertente informacional também pode ser analisada com um marco na produção de conteúdo informacional por qualquer indivíduo, demostrando ser uma mudança na produção rotineira da notícia, pois ela pode estar em qualquer lugar e ser mostrada por qualquer pessoa, através de canais que possibilitem essa dinâmica, como afirmam Palacio e Munhoz (2005, p.57) quando dizem que, Efeitos da participação do cidadão na produção de imagens com valor jornalístico [...] detectáveis tanto no que se refere à criação e consolidação de circuitos alternativos de circulação de informação, quanto no que diz respeito às transformações da mídia tradicional em sua convivência forçada com os novos circuitos. Assim, o prestígio mercadológico que grandes conglomerados tinham sobre a notícia agora parece estar dividido com amadores, mas isso graças as, [...] práticas ligadas a uma combinação de técnicas informáticas (serviços Web, linguagem Ajax, Web syndication etc.), a um momento histórico, a um conjunto de novas estratégias mercadológicas para o 4 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – João Pessoa - PB – 15 a 17/05/2014 comércio eletrônico e a processos de interação social mediados pelo computador (PRIMO, 2006, p.1). Contudo, Schmitt e Fialho (2007, p.3) acreditam que “hoje os meios de comunicação social não competem mais entre si: a Folha de São Paulo não concorre só com os jornais de São Paulo e de outros lugares”. Complementando essa informação, Anderson (2006) acredita que a “sabedoria coletiva” é uma concorrência direta aos grandes oligopólios da comunicação, pois através da “sabedoria coletiva” acredita-se que as informações postadas por interagentes atraiam leitores que buscam novas opções para se informarem. Dessa forma, Gillmor (2005) enfatiza que essa mudança acontece graças as mudanças que ocorrem na rede, principalmente em seu sistema comunicacional. Pela primeira vez, a Internet permite-nos dispor de comunicações de muitos para muitos e de alguns para alguns, o que tem vastas implicações para os antigos receptores e para os produtores de notícias, na medida em que a diferença entre as duas categorias começa a tornar-se difícil de estabelecer. Dada a natureza relativamente aberta das ferramentas, que podem ser usadas de formas que não estavam contempladas nos desígnios de quem as descobriu, não deve constituir qualquer surpresa que tal possa ter acontecido nos media. Nos meios de comunicação tem sido sempre assim; de uma forma ou de outra, cada novo meio acaba por surpreender os seus inventores. (GILLMOR, 2005, p.43). Por meio das palavras de Gilmor, podemos perceber que os canais de comunicação, aos poucos, são apropriados pelas pessoas. “O melhor exemplo disso é o computador pessoal, que pôs todas as coisas, desde as máquinas de impressão até os estúdios de produção de filmes e de músicas, nas mãos de todos” (ANDERSON, 2006, p.52). Como exemplo, retomemos a história recente, em que é possível constatar essa apropriação de tecnologia partindo da Milnet, criada para fins militares e que posteriormente foi revalidada para usos acadêmicos e que agora está à disposição de grande parte da população. Hoje a rede é usada para trabalho, comunicação, entretenimento dentre diversas outras utilizações e seu universo de criações e possibilidades parece não se esgotar. E para reforçar essa ideia, Träsel (2007, p.177), complementa dizendo que “essa ampliação do papel do público é importante, porque permite a pluralização das perspectivas sobre os fatos na Web”. 5 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – João Pessoa - PB – 15 a 17/05/2014 Nesse sentido não podemos desconectar a pluralidade da informação em rede da cauda longa informacional proposta por Anderson (2006), que busca atender tanto a interesses de públicos específicos quanto a de grandes massas. Esse fenômeno também é percebido nas notícias na rede, pois o que antes era publicado apenas por grandes oligopólios da comunicação agora se vê publicado também por amadores 7. Para Anderson (2006) esse movimento embalado por profissionais e amadores refere-se ao movimento Pro-Am, no qual Belocchio (2007) analisa como sendo a produção de notícias por parte das pessoas e postadas em sistemas colaborativos e também a absorção desse conteúdo criado pelos interagentes por parte dos jornalistas profissionais. A cauda longa da informação possui curvas que demandam em seu topo o hit ou produto mais visto pela grande massa. Nesse caso, podemos entender que os veículos de comunicação mais tradicionais normalmente estão no hit, graças a credibilidade que conquistaram com os anos. Já a cauda encontra-se os meios alternativos e diferentes de comunicação, no qual fazem parte os sistemas colaborativos, também conhecidos por jornalismo participativo. Frente a essa tendência da informação, supostamente mais democrática, Träsel (2007, p.76) diz que, [...] as intervenções do público são capazes de adicionar diferentes perspectivas a determinado material jornalístico, tornando-o mais plural - embora não necessariamente melhor sob critérios profissionais -, o que pode contribuir para o debate de idéias em uma sociedade democrática. Contudo, os veículos de comunicação tradicionais entraram nesse contexto colaborativo com a estratégia de apropriação das informações dos interagentes. Esse fato possui algumas explicações no sentido de que o jornalista não consegue estar presente em todos os acontecimentos, outro ponto é que a constante circulação e produção de informação é uma maneira pela qual o veículo de comunicação consegue receber informações de diversos locais e com um custo baixo ou custo zero. Assim, em tempos digitais, qualquer pessoa que tenha acesso a rede e a tecnologias pode ser tornar um interagente. Usando as palavras de Träsel (2007, p.177), “essa ampliação do papel do público é importante, porque permite a pluralização das perspectivas sobre os fatos na Web”. Dessa forma, é possível perceber que os veículos tradicionais aos poucos 7 Entende-se a palavra amadores como ‘interagentes’, termo criado por Alex Primo. 6 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – João Pessoa - PB – 15 a 17/05/2014 estão se adaptando a novas realidades, criando canais participativos e muitas vezes reavaliando suas estratégias institucionais. Para Bolter e Grusin (2000, p.15) “o que há de novo sobre a nova mídia vem de particularidades específicas que remodelam a velha mídia e de como a velha mídia remodela a si mesma para responder aos desafios das novas mídias 8" Esse fenômeno pode ser referendado segundo as palavras de Saad (2003, p.43), que afirma que essa é a “primeira etapa do processo de construção de um novo paradigma estratégico”. Esse processo de mudança se deu principalmente com a aquisição e implantação de recursos digitais, o que hoje parece ser ubíquo à grande parte da população. Mas, segundo Saad (2003, p.44), com essa prática ficou claro a “necessidade de um reposicionamento estratégico”, rompendo com paradigmas e características antigas dos veículos de comunicação. E dentro dessa perspectiva veremos alguns sites que aceitam conteúdos colaborativos: Vc Repórter9 (Portal Terra) – Esse site permite que o interagente envie texto, foto, vídeo e áudio. Além do mais, permite que o envio seja feito através de e-mail ou mesmo do celular, mas para que o envio seja concretizado é necessário fazer um cadastro. Assim, uma equipe editorial fica responsável por receber e avaliar o material. O site para colaboração dá umas dicas de redação jornalística como responder as seguintes perguntas: Quem? Quando? Onde? Como? O quê? E Por quê? Além de sugerir que o interagente busque objetividade e imparcialidade Vc no G110 (Portal G1) – Esse site recebe textos, fotos, vídeos e áudios. Há também uma equipe editorial que analisa o material enviado, embora só consiga enviar mediante preenchimento de cadastro. Esse site também dá sugestões de como fazer a matéria, como, enviar textos claros, objetivos com base na realidade local ou nacional. Contudo, a estrutura do texto poderá ser alterada pela equipe editorial, caso julguem necessário. Eu Repórter11 (O Globo) – Site que publica textos, fotos e vídeos encaminhados pelo interagente. O material é avaliado por uma comissão editorial após a concordância do interagente com as regras de publicação do site. Para tanto, é necessário fazer um 8 “what is new about new media comes from the particular ways in which they refashion older media and the ways in which older media refashion themselves to answer the challenges of new media” – tradução nossa. 9 http://vcreporter.terra.com.br/. http://g1.globo.com/vc-no-g1/. 11 http://oglobo.globo.com/eu-reporter/. 10 7 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – João Pessoa - PB – 15 a 17/05/2014 cadastro e aceitar o termo de compromisso. Para a redação da notícia, pede-se que não contenha opinião de quem a escreve. No entanto, as matérias enviadas podem ou não ser publicadas. As que são publicadas podem inclusive ser aproveitadas no Diário de São Paulo, Extra, Expresso, O Globo, mas sem remuneração para o interagente que fez a matéria. Além do mais, o cadastro dá ao interagente duas possibilidades, entrar na categoria premium ou básico. A primeira é um cadastro mais completo, dando possibilidades de, além de enviar matérias, receber a newslatter, alertas de promoções do site e benefícios de assinantes de O Globo. Já o cadastro básico dá acesso a conteúdos gerais, embora destacados como benefícios. Foto Repórter12 (Estadão) – Esse site aceita fotos a partir de máquinas digitais ou celulares. As imagens enviadas poderão ser comercializadas pela Agência Estado e/ou publicadas no Estadão – jornal ou site. Apenas as fotos publicadas nesses jornais ou sites são pagas a ao interagente. Sendo assim, uma equipe editorial é encarregada de avaliar e escolher se a foto será ou não publicada. Esses são apenas exemplos de como os veículos estão se adaptando as novas realidades e dando abertura para que interagentes participem com informações. Contudo, essa participação não é solta de amarras editoriais visto que existe o interesse de que as informações se adequem as normas do veículo de comunicação que possui cunho colaborativo. Considerações finais Embora exista uma grande possibilidade de uso de ferramentas tecnológicas para disseminar informações na rede, como os exemplos de sites que possibilitam conteúdo colaborativo, é possível notar que existe uma barreira, um referencial criterioso que analisa as informações enviadas pelos interagentes e que as publicam ou não. Fazendo uma analogia, a equipe editorial que seleciona as informações pertinentes de publicação aos veículos colaborativos pode ser comparada com o Enuma Elish babilônico, que era formado deuses que coordenavam o caos. Assim como os editores separam as informações consideradas importantes, os deuses separam objetos no caos, e 12 http://www.estadao.com.br/fotoreporter/comoparticipar.shtm. 8 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – João Pessoa - PB – 15 a 17/05/2014 dessa maneira tudo ganha ordem e formato. O mesmo que acontece nos sites que postam informações de cunho colaborativo. Contudo, uma evidência consistente no sentido de informação publicável ou não se faz presente em praticamente todos os sites que possibilitam essa colaboração informativa, pois há normas que orientam o interagente a seguir para que tenha a informação publicada. Assim, as editorias buscam padrões de redação jornalística que se adequem a realidade do canal de informação. Dessa forma, podemos analisar que esses critérios, ou elementos essenciais da redação jornalística estão para o jornalismo assim como o arché, elemento primordial, está para os antigos gregos. Ou seja, a empresa jornalística que disponibiliza informações de cunho colaborativo busca ao máximo adequar as informações dos interagentes ao estilo jornalístico de redação. Dessa forma, as empresas jornalísticas que disponibilizam canais colaborativos buscam a excelência da informação. Assim, esses fenômenos não tão recentes são “detectáveis tanto no que se refere à criação e consolidação de circuitos alternativos de circulação de informação, quanto no que diz respeito às transformações da mídia tradicional em sua convivência forçada com os novos circuitos” (PALACIOS e MUNHOZ, 2005, p.57). Contudo, essa versão estratégica das empresas possui efeito parcial no que diz respeito à democratização da informação, afinal, qualquer pessoa de qualquer lugar pode enviar matérias, embora possa não ser publicada. Todavia, mesmo com a barreira editorial e ser ultrapassada pelos interagentes é possível pensar que estamos cada vez mais próximos do que Leibniz chamou de ‘alfabeto do pensamento humano’ ou ‘characteristicagenerallis’ haja vista a pluralidade de informações e conhecimentos que podem ser adquiridos na rede. Contudo, resta-nos observar os usos e utilidades dessas novas ferramentas colaborativas que, assim como acreditava Empédocles no que diz respeito as duas forças transformadoras do universo, os canais colaborativos podem ter bom ou mal uso. Mas isso depende exclusivamente dos emissores e receptores das informações, afinal, segundo Anderson (2006, p.52), “o fato de qualquer um ser capaz de produzir conteúdo só é significativo se outros puderem desfrutá-lo. O PC transformou todas as pessoas em produtores e editores, mas foi a Internet que converteu todo o mundo em distribuidores”. 9 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – João Pessoa - PB – 15 a 17/05/2014 Referências: ANDERSON, C. A Cauda Longa: do mercado de massa para o mercado de nicho. Tradução Afonso Celso da Cunha Serra. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier: 2006. BELOCHIO, V. Jornalismo Colaborativo em Redes Digitais: Estratégia Comunicacional no Ciberespaço. O caso de Zero Hora.com. Dissertação de Mestrado na UFSM. Santa MariaRS, 2009. BOLTER, J. D.; GRUSIN, R. Remediation: Understanding New Media. Cambridge: The MIT Press: 2000. BRITO, A. J. Geometrias não-euclidianas: um estudo histórico-pedagógico. Dissertação de Mestrado. Campinas-SP: Universidade Estadual de Campinas, 1995. CHÂTELET, F. A Filosofia pagã: do século VI a.C. ao século III d.C. 2 ed. 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